ALEMBERG QUINDINS: A IMPORTÂNCIA DA CULTURA DA CHAPADA DO ARARIPE PARA O MUNDO

Domingo 02 de agosto no Programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga e seus Amigos, às 9hs www.radiocidadeam870.com.br, o Café Prosa com Alemberg Quindins. 

Você vai saber o motivo do Estado de Espírito do vento/cariri que sopra com saudade do Mar. Patativa do Assaré. Luiz Gonzaga e Padre Cícero, arqueologia e gestão cultural são temas da conversa.

Alemberg diz que a Chapada do Araripe tem uma influência nesse território desde o período cretáceo. Em torno dela, de um lado tem Luiz Gonzaga, a Pedra do Reino, de Ariano Suassuna e a Missa do Vaqueiro, Padre Cícero, Patativa do Assaré, Espedito Seleiro, toda uma cultura. O Cariri é um oásis em pleno sertão. É o solo cultural por conta de toda essa força que vem da geologia, da paleontologia, da cultura. Você vai entender a importância do contexto da Chapada do Araripe para o mundo.

O Memorial do Homem Kariri teve sua origem a partir das pesquisas de mitologia e etnomusicologia dos pesquisadores, músicos e produtores culturais: Alemberg Quindins e Rosiane Limaverde. 

Atualmente, a Casa Grande se consolida como ponto de memória da ancestralidade, da mitologia e da arqueologia do cariri cearense, utilizando-se da arte como ferramenta capaz de proporcionar uma imersão mais consciente destes assuntos.

Francisco Alemberg de Souza Lima, o Alemberg Quindins, é um dos criadores da Fundação Casa Grande-Memorial do Homem Kariri em 1992 com o intuito de valorizar a história do povo da região, o Vale do Cariri, e ser um centro de memória.

Em conversa com o BLOG NEY VITAL e que no dia 02 de agosto, ser´´a transmitido no programa NAS ASAS DA ASA BRANCA-VIVA LUIZ GONZAGA E SEUS AMIGOS, na Rádio Cidade Am, Alemberg explica que a Chapada do Araripe é uma confluência de quatro Estados: Ceará, Pernambuco, Piauí e Paraíba.

"Um resumo do Nordeste. A Chapada do Araripe tem uma influência nesse território desde o período cretáceo. Em torno dela, de um lado você tem Luiz Gonzaga, a Pedra do Reino, de Ariano Suassuna e a Missa do Vaqueiro, por exemplo; de outro, do lado de cá, temos Padre Cícero, Patativa do Assaré, Espedito Seleiro, toda uma cultura".

Ainda de acordo com Alemberg a Chapada do Araripe é um platô central. "Aqui, era o único lugar onde Lampião se ajoelhava e deixava as armas na porta. Território sagrado. Portanto, o Cariri é um oásis em pleno sertão. É o solo cultural do Ceará por conta de toda essa força que vem da geologia, da paleontologia, da cultura. É onde você entende a importância do contexto da Chapada do Araripe para o mundo. Nosso manancial é esse: a cultura. A maioria dos mestres da cultura popular estão aqui. E, da forma como acontece em solo caririense, essa reunião de tanta coisa, não vamos encontrar em nenhum outro lugar do Estado".

A Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri, é uma instituição sem fins lucrativos, de utilidade pública federal. O local se tornou espaço de vivência em gestão cultural para crianças e jovens do sertão e tem como objetivos constantes no seu estatuto, pesquisar, preservar, coletar, juntar em acervo, comunicar, exibir, para fins científicos, de estudo e recreação, a cultura material e imaterial do Homem Kariri e de seu ambiente".

"Nós resgatamos a cultura local nas áreas de arqueologia, mitologia, artes e comunicação", conta Alemberg. Os alunos mantêm um canal de TV, de rádio, uma editora de gibis e um museu que conta com um rico acervo de 2.600 HQs e 1.600 títulos de clássicos do cinema. A ideia é desenvolver a capacidade de liderança das crianças a partir dos laboratórios de produção.

Arte, cultura, música e TV. Essas são apenas algumas das atividades oferecidas pela Fundação Casa Grande, em Nova Olinda, Cariri do Ceará Francisco Alemberg Quindins, músico e educador social da ONG que forma cidadãos e os transformam em protagonistas da própria história neste período de isolamento social tem participado de lives, transmissões ao vivo que tem contribuindo ainda mais para a divulgação do trabalho desenvolvido com as crianças.

No próximo mês de dezembro a Fundação vai completar 27 anos, o espaço guarda algumas artes indígenas dos primeiros habitantes da região; possui uma rádio; dispõe de uma editora de gibis, com um acervo com mais de 3 mil títulos; tem ainda um teatro; e uma banda de lata, que encanta quem visita a fundação.

Para registrar tanta coisa boa, a fundação conta com um canal virtual, a TV Casa Grande, cujo objetivo é dar voz, mostrar a arte dos moradores da região e documentar a cultura local.

O sucesso da fundação rendeu a ela o título de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e muita visibilidade para cidade de Nova Olinda, que recebe, por ano, mais de 50 mil visitantes.

Alemberg Quindins é investigador do CEAACP, Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Patrimônio da Universidade de Coimbra e, por inerência, Membro do Conselho Científico desta unidade de investigação. que é avaliada e financiada pela Fundação da Ciência e Tecnologia (FCT) do Ministério da Ciência e Ensino Superior de Portugal.

Há vários anos a Fundação Casa Grande é parceira do CEAACP e Alemberg Quindins era colaborador. Agora, transitou em estatuto, o que acontece por reconhecido mérito e por categoria universitária dado o seu Doutoramento Honoris Causa, passando a integrar o grupo de pesquisa em Arqueologia Cidadã e Inclusiva do Centro.

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MOCINHA DE PASSIRA, PATRIMÔNIO VIVO DA CULTURA, A PRESENÇA DA MULHER NA CANTORIA DE VIOLA

Em uma tarde incerta de 1953, depois de muito estranhar a chiadeira insistente no velho rádio do irmão, Maria Alexandrina da Silva, com apenas cinco anos de idade, previu: “um dia vai aparecer um rádio em que o cara vai poder ver as pessoas dentro”. Desde muito cedo, Maria era tomada por premonições e não anteviu apenas a popularização dos aparelhos televisivos, mas também sua própria sina: “cantar, ser a primeira mulher da viola do mundo”. Uma visão que começou a tomar forma aos 12 anos, no sítio em Várzea de Passira, quando ganhou do pai o primeiro instrumento e desembestou a soltar os versos que já não cabiam mais em seus pensamentos de menina, uma moça, Mocinha de Passira.

“Eu memorizava as estrofes, não fazia pra ninguém ouvir, mas um dia disse ao meu pai que eu sabia fazer rima, ele pediu pra eu mostrar, então falei assim não, só mostro quando vier sentar um cabra aqui comigo mais a viola”, lembra a repentista. Seu João Marques da Silva, que não perdia uma cantoria pela região, confiou na obstinação da filha e não tardou a aparecer com uma viola e o cantador Zé Monteiro, com quem Mocinha fez sua primeira apresentação ali mesmo, na sala do sítio que até hoje resiste e onde a repentista Patrimônio Vivo de Pernambuco recebeu a equipe do Portal Cultura.PE.

“Foi nesse chão em que eu me senti, pela primeira vez, uma partícula no universo”, poetiza Mocinha, fazendo questão de mostrar os mandacarus que teimam em crescer sobre o telhado da casa, enfeitando seu “lugar sagrado, onde estão as raízes de tudo”.

À luz das estrofes metrificadas de Raul Ferreira, Zé Ananias, Severino Moreira e Severino Camocim, que costumava ouvir na companhia do pai, Mocinha foi ganhando confiança para também encontrar sua voz própria, traçar seu caminho no universo do repente. Desde a apresentação improvisada – e aplaudida por Zé Monteiro e seu pai – na sala de casa, não parou mais de exercer a função de transformar em verso raro o pensamento ligeiro.

“A primeira cantoria foi numa quarta-feira, no sábado eu já tava me apresentando pelas fazendas e daí não parei mais, meu pai sempre comigo, me acompanhando”, lembra Mocinha.  “Nenhuma outra repentista conseguiu viver da viola como eu. Desde cedo, decidi que se eu quisesse comprar um sapato tinha que ser com o meu repente, nunca trabalhei com outra coisa.” A exceção foi um breve momento, quando aos 10 anos de idade, montou uma escolinha de reforço escolar para os filhos dos fazendeiros da região, “os meninos ricos e burros”, sorri ao lembrar.

Herdou da mãe, Alexandrina Maria da Silva, a busca por independência financeira. Em tempos ainda mais marcados pelo machismo, “a mãe já tinha sua independência, criava uns bezerros ali atrás e se um boiadeiro passasse por aqui querendo comprar, pai falava logo tem que ver com a mulher, é dela, ela que decide”.

Ao contrário de Seu João, Dona Alexandrina não queria que Mocinha aceitasse o convite de ir morar em Caruaru com um dos maiores poetas populares e improvisadores brasileiros, o paraibano Pinto do Monteiro. Não teve outro jeito, aos 15 anos, juntou o que pôde em sua frasqueira amarela – “a coqueluche da época, toda menina tinha uma” -, e fugiu.

PINTO DE MONTEIRO: Dizem que foi desses encontros que mudam para sempre a vida de alguém. Era noite alta quando Mocinha e seu pai adentraram pelo Sítio Tamanduá, em Passira, para conhecer Pinto do Monteiro, que estava de passagem pela região. “Finalmente estou lhe conhecendo, você que é a famosa Mocinha da Passira”, lembra a repentista, com apenas 14 anos à época. Já admirado em todo o Nordeste e presença constante em emissoras como a Rádio Difusora de Caruaru, Pinto reconheceu de imediato o talento de Mocinha, colocando-se à disposição para ajudá-la a seguir carreira. “Eu tinha que ir pra Limoeiro pegar as cartas que ele mandava pra mim; caixa postal 114”, nunca vai esquecer.

Após deixar Passira e ir viver com a família de Pinto em Caruaru, Mocinha pôde mergulhar no circuito da cantoria popular, mas ainda sob os cuidados do pai. “Andei muito tempo com ele, pra tudo que era lugar, só fiquei ‘de maior’ aos 21 anos de idade”, conta.

CULTURA: Uma verdadeira peleja contra o machismo é o que Mocinha tem travado ao longo de sua trajetória no repente. São muitas as situações guardadas na memória em que teve que “sair quebrando todos os preconceitos, passando por cima de cantadas de homem safado”, diz.

Em muitas ocasiões, o drible para situações em que se via desafiada por ser mulher vinha em forma de versos mesmo. Um dos casos mais difundidos foi a resposta que deu ao mote Se você casar comigo/vai ficar de gravidez/vai acabar parindo/três meninos de uma vez, apresentado pelo repentista Jorge Amador. De pronto, Mocinha soltou o que gosta de chamar de “tapa sem mão”: Eu posso ter todos os três / são filhos tudo meu / o primeiro é do padeiro /o segundo do Ricardão / o terceiro de Oliveira / nenhum dos três é teu.

Em 1976, só após quase 20 anos de estrada, Mocinha teve a oportunidade de registrar seus versos em um disco. Foi a única mulher repentista a participar das gravações de um marco importante para a discografia do gênero, o LP Viola, Verso, Viola, do Estúdio Rozenblit. O disco reuniu grandes nomes da tradição oral, como Diniz Vitorino, os irmãos Otacílio, Dimas e Lourival Batista, além de Zé Vicente da Paraíba. Das oito faixas, Mocinha participa de duas, duelando com Diniz Vitorino em Martelo Alagoano e na histórica Desafio em Martelo Agalopado, em que por meio de versos como acabou-se o tempinho em que a mulher / só vivia nas margens dos barreiros / lavando blusinhas e cueiros / dos filhos dos homens sem respeito vai desconstruindo o imaginário da mulher ideal, sempre recatada e do lar, ao passo em que reivindica seu próprio lugar na história do repente.

ARIANO SUASSUNA: Se o Brasil oficial é dos brancos, do presidente e de seus ministros, o Brasil real é o de Antônio Conselheiro e Mocinha de Passira. A sentença, parte integrante do discurso de posse de Ariano Suassuna na Academia Brasileira de Letras (ABL), revela a admiração que o imortal escritor e dramaturgo brasileiro tinha pela repentista.

O primeiro encontro foi em uma das muitas cantorias na Praça do Diário, centro do Recife, organizadas pelo embolador Oliveira. “Eu tava cantando só na época, Ariano me conheceu ali, me deu um mote pra eu cantar e parti, sem montagem nenhuma, esperando que desse certo… Na terceira estrofe, lá vem ele, me deu um abraço, chorou e tudo, se identificou mesmo”, conta Mocinha.

Em 1990, quando foi eleito para a ABL, Ariano fez questão de convidar a repentista para uma cerimônia realizada no Palácio Campo das Princesas, no Recife. Na ocasião, coube à Mocinha entregar-lhe o colar oficial de membro da Academia. “Ele mandou o carro ir me buscar onde eu estivesse, tinha que ser eu a botar esse colar nele, então, fui! Botei o colar e ainda cantei pra ele”, lembra com carinho.

Com hábitos simples, cuidando dos gatos de rua que acolhe ou torcendo por seu Santa Cruz, Mocinha vive hoje com seu filho Marcos em Feira Nova. Quando não está se apresentando pelo Brasil, divide-se entre o cuidar da casa na cidade e o sítio em Várzea de Passira, a 30 minutos dali e onde, vez ou outra, ainda organiza noites de boemia com dominó e duelos de viola.

O pai, seu grande incentivador, morrera no sítio mesmo, em 5 de abril de 1978. Chegou a ver seu sucesso e a ouvir o primeiro disco. “Eu tava em São Paulo, comecei a ter uns sonhos atribulados, sentia que tinha alguma coisa acontecendo, que precisava voltar. Quando cheguei, vi ele doente e o povo jogando dominó na sala, tive tanta raiva que ainda deve ter peça voando por aí. Falei com ele, respondeu bem baixinho, entendendo o que eu tava dizendo porque o último que morre é a árvore da vida, o cérebro”, narra Mocinha, lembrando que foi mesmo Seu João quem lhe abriu os caminhos. “Se ele tivesse ido pelas ideias da minha mãe e do meu irmão, eu teria fugido de casa sem viola, mas pra onde… não sei”.

O título de Patrimônio Vivo de Pernambuco, Mocinha “comemorou sozinha, porque a batalha sempre foi minha mesmo, só depois fui falando para três ou quatro pessoas que considero”.

Dedilhando sua viola, gosta de deixar aberta a parte superior da porta principal do sítio, apreciar o vento que entra e a paisagem à frente. “Nunca quis uma casa que não fosse pro nascente”. 

Além do Diploma de Patrimônio Vivo – exposto em lugar de destaque na parede da sala -, a repentista também guarda em Passira fotografias, recortes de jornais, troféus e outros registros de uma vida inteira dedicada a uma das mais ricas expressões da cultura popular nordestina. A vida que previu ainda menina e construiu na certeza de que “quando a gente tem vocação, não tem fronteira”, como faz questão de ensinar. (Fonte: Seculte - Tiago Montenegro)
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WEBINAR DEBATE OS AVANÇOS E OS DESAFIOS DA AGRICULTURA FAMILIAR NO SEMIÁRIDO

Os avanços e as perspectivas da agricultura familiar no Semiárido brasileiro serão tema de um webinar no canal da Embrapa no YouTube, na próxima sexta-feira (24/7, a partir das 15 horas.

Especialistas da Embrapa e da sociedade civil, gestores públicos e uma agricultora refletirão sobre as conquistas dos últimos 45 anos para o desenvolvimento socioeconômico da região e sobre as lições aprendidas com a seca dos últimos dez anos, que trouxe muitos desafios a serem superados.

O seminário virtual, alusivo ao Dia Internacional da Agricultura Familiar, comemorado em 25 de julho, faz parte do calendário do aniversário de 45 anos da Embrapa Solos e da Embrapa Semiárido.

Estão escalados para o webinar Petula Nascimento, chefe-geral da Embrapa Solos (RJ); Pedro Gama, chefe-geral da Embrapa Semiárido (PE); Maria Sonia Lopes, pesquisadora da Embrapa Solos que atua na Unidade de Execução de Pesquisa e Desenvolvimento de Recife; Paola Cortez Bianchini, pesquisadora da Embrapa Semiárido; Antonio Barbosa, coordenador do Programa Sementes do Semiárido e do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA); e Antônia Maria de Jesus Alves, agricultora da Comunidade Cipó, no Município de Pedro ll (PI). A moderação do bate-papo será de Alexandre de Oliveira Lima, secretário de Desenvolvimento Rural e da Agricultura Familiar do Rio Grande do Norte.

Os especialistas farão uma contextualização sobre o Semiárido e abordarão os avanços alcançados nos últimos 45 anos, mostrando como a pesquisa agropecuária e a sociedade civil contribuíram para o desenvolvimento econômico e social da agricultura familiar da região. Também será dado enfoque nas lições aprendidas com a seca do período de 2009 a 2019, que trouxe inúmeros desafios para pesquisadores, agentes de desenvolvimento rural, gestores públicos e, sobretudo, para quem vive no Semiárido. 

“Faremos uma reflexão sobre as perspectivas de pesquisa e inovação que poderão ser proporcionadas aos agricultores de base familiar, para uma convivência com mais dignidade e resiliência às mudanças do clima semiárido”, revela a pesquisadora Maria Sonia Lopes.

Outro ponto relevante do webinar será a participação da agricultora Antônia Maria de Jesus Alves, do município de Pedro II (PI). Ela trará o seu olhar sobre os impactos na vida das famílias da região causados pelas pesquisas conduzidas pela Embrapa e pelas tecnologias implementadas pela ASA, como as barragens subterrâneas, as cisternas de consumo, o manejo de caatinga e as ações de agrobiodiversidade.

“Falar em agricultura familiar no Semiárido é falar da convivência, do bem viver com esta região, que tem como princípio a cultura da estocagem (estocagem de água, de sementes e de forragens), que associada à diversidade dos sistemas produtivos, permitiu a muitas famílias um patamar elevado na produção de alimentos. Isso possibilita a existência de uma identidade alimentar e nutricional do Semiárido”, reflete Antonio Barbosa, coordenador da ASA.

O papel da biodiversidade e da agrobiodiversidade na resiliência e sustentabilidade da agricultura familiar e dos territórios no Semiárido e os planos para a implantação de tecnologias sociais hídricas na região também serão abordados pelos especialistas, que responderão a perguntas feitas pelos internautas durante a transmissão.

Programe-se:
Webinar Avanços e desafios da agricultura familiar no Semiárido brasileiro
Sexta-feira (24/07/2020)
15h
Canal da Embrapa no YouTube – acesse aqui 



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ANTOLOGIA: VERSOS EM PANDEMIA RETALHOS DE UM TEMPO

Em momentos de crise, há uma extraordinária oportunidade de nos ressignificarmos. 

A partir disso, como resultado de uma experiência de um tempo ímpar em nossas vidas, foi lançado um livro de poemas que tem se tornado um marco literário para a região do Vale do São Francisco. Trata-se da antologia de poemas intitulada VERSOS EM PANDEMIA: Retalhos de um Tempo, idealizada e organizada pelos professores de Literatura Roberto Remígio (do IF Sertão) e Vlader Nobre (da Universidade de Pernambuco).

No dia 16 de julho, o livro foi lançado oficialmente em uma Live no canal PROFVLADERNOBRE, disponível no Youtube.

A ideia inicial era reunir um grupo de pessoas que falassem, poeticamente, sobre seus sentimentos e suas percepções como recorte de um momento de conflito: a maior pandemia da história contemporânea. 

O objetivo do projeto era registrar um olhar sobre um tempo, os convites foram realizados pelas redes sociais, e, imediatamente, centenas de textos foram enviados, advindos de diversas cidades de muitas cidades que compõem o Vale do São Francisco. Em tais escritos, os autores expressaram sua visão a respeito do momento presente, um tempo de incertezas, marcado pela pandemia, pela avalanche de informações, notícias e boatos e, principalmente, pelo isolamento social que desencadeou diversas novas percepções sobre o modo de vida em sociedade.

A obra é uma síntese de vozes e estilos bastante heterogêneos: Poetas já obras publicadas, Professores, Estudantes, Profissionais Liberais, Comerciários, Engenheiros, Jornalistas, Agricultores, Donas de Casa, Enfim, Poetas e Poetisas cidadãos do dia a dia, que, na experiência do isolamento, buscaram o alumbramento poético como refúgio para não no tempo perecer, para não enlouquecer, para continuar sendo e seguindo em frente.

Não é fácil enfrentar o absurdo desses terríveis dias de pandemia: muitas mortes por dia, incertezas políticas, caos socioeconômico, além dos efeitos psicológicos e existenciais (medo, angústia, tensão, ansiedade, depressão, solidão, distúrbio do sono, estresse, isolamento social).

A versão digital do livro (e-book) está disponível gratuitamente para acervos de bibliotecas públicas, escolas, universidades, entidades socioculturais, clubes de leitura e demais interessados. 

Quanto à obra física, o livro está sendo comercializado pelos autores ao preço de R$ 25,00 reais, através de entrega no estilo drive-thu, e os endereços para contato são as redes sociais de Roberto Remígio e Vlader Nobre, pelo Facebook, Instagram, blog etnolinguagens.webnode.com, ou ainda pelo telefone e whatsapp (87) 98853-7110.

Texto: Professores doutores Roberto Remígio e Vlader Nobre
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DEUS ERA UM TOCADOR DE PIFE E FOI NELE, NUM PIFE FEITO DE TABOCA, QUE DEU VIDA AO HOMEM COM SEU SOPRO FIEL

Aderaldo Luciano numa carta endereçada ao cantador cantor Beto Brito, relatou a certeza, "e vai colocar isso em um livro, que Deus era um tocador de pife e foi soprando nele, num pife feito de taboca, que deu vida ao Homem com seu sopro fiel".

Visitei no Crato, Ceará, o mestre da cultura de tocar pife, Raimundo Aniceto, 83 anos, nascido em 14 de fevereiro de 1934. Fui na casa do líder da Banda Cabaçal de Pife dos Irmãos Aniceto.  A Banda de Pífe é Patrimônio Cultural Imaterial.

Formado no século 19 pelo “Véi Anicete”, ou José Lourenço da Silva, que mais tarde se tornaria José Aniceto, um descendente de índios do Kariri, o grupo se encontra na quarta geração — e não deixa de lado a música do sertão. A Banda de Pífe já tem mais de dois séculos de fundação.

Seu Raimundo começou a tocar com 6 anos, ele acompanhou de perto a renovação da banda. A formação atual é composta por  Adriano, Antonio (seu irmão), Jeová e Ciço. Eles têm um sexto integrante, Ugui, escalado em situações especiais.

Durante a visita o mestre Raimundo Aniceto mostrou as fotos e os ollhos marejam com retratos da disposição de outrora. Responsável pela coreografia, ele dançava, pulava e arriscava até um salto mortal na apresentação.

Raimundo Aniceto está se recuperando de um AVC-Acidente Vascular Cerebral. Já não toca! Todavia a mente, alma e corpo falam do Guerreiro Cultural que bem sabe e pede socorro: o pife não pode acabar!

No final da visita fiquei a pensar: o Brasil trata realmente com o maior desprezo a sua verdadeira riqueza cultural. A situação atual de Raimundo Aniceto carece de maior respeito e dedicação por parte do poder público...

Mestre Raimundo Aniceto tem seis filhos e de acordo com Dona Raimunda a esposa pediu para que não deixassem acabar o grupo e manter vivas essa tradição. Preocupada Dona Raimunda sentenciou: "É muito difícil, pois a juventude não está muito ligada na tradição. Mas vamos conseguir".
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EM BRASÍLIA 19 HORAS: PROGRAMA DE RÁDIO A VOZ DO BRASIL COMPLETA 85 ANOS NESTA QUARTA (22)

O programa de rádio A Voz do Brasil completa 85 anos nesta quarta-feira (22). Idade avançada para pessoas e para instituições no Brasil. Uma frase atribuída a Leonardo da Vinci, que morreu idoso para o seu tempo (aos 67 anos), sentencia que “a vida bem preenchida torna-se longa”.

Há 85 anos, em 22 de julho de 1935, entrava no ar, pela primeira vez, o noticiário de rádio considerado o mais antigo do Hemisfério Sul e o segundo mais antigo do mundo. Trata-se de "A Voz do Brasil", à época batizada como Programa Nacional. De lá, pra cá, brasileiros de todos os cantos do País se informam diariamente com as notícias anunciadas pela característica abertura: “Em Brasília, 19 horas”.

A Voz do Brasil é um programa de Estado que divulga políticas públicas, decisões políticas, prestação de contas e dados públicos relacionados à sociedade e seu dia a dia. O programa tem veiculação obrigatória em todas as emissoras de radiodifusão brasileiras, entre 19h e 22h do horário de Brasília.

Com o objetivo de levar informação sobre as ações dos três poderes aos cidadãos dos mais distantes pontos do País, "A Voz do Brasil" é composta por uma hora diária de programação oficial. O programa é exibido de segunda a sexta-feira (com exceção dos feriados).

O Presidente da EBC, Luiz Carlos Pereira Gomes, destaca que a “ A Voz do Brasil” é a informação do Estado, uma vez que o programa apresenta as ações dos três poderes da República para milhões de pessoas. “Todos nós brasileiros nos acostumamos à chamada: “Em Brasília, dezenove horas! Há 85 anos cidadãos de todos os rincões do País reúnem-se em torno de um aparelho de rádio, e mais recentemente de um computador, para ouvirem os principais fatos que marcaram o dia na política, na economia e na vida do brasileiro”.

De acordo com ele, a credibilidade e a qualidade dos conteúdos são suas principais características. “A história de A Voz do Brasil é a história da Comunicação no Brasil. Na data em que se comemora mais um aniversário desse histórico programa, fica o nosso preito àqueles que fizeram e fazem de A Voz do Brasil um dos mais longevos programas do mundo”.

Apresentador da Voz por 13 anos consecutivos, o Gerente Executivo da Rádio Nacional, Luciano Seixas, considera uma alegria poder informar sobre os atos do Governo Federal que interferem diretamente na vida da população. “A Voz do Brasil é, ainda hoje, a única fonte de informação de muitos brasileiros espalhados por este território gigantesco e que têm o rádio como verdadeiro companheiro do seu dia a dia. Não são raros os casos de pessoas que ajustam sua agenda, seu relógio, pelo horário da Voz. É um programa histórico e da mais alta credibilidade”, pontua.

Um total de 25 minutos do programa são dedicados ao poder Executivo e produzidos pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Os outros 35 estão sob a responsabilidade dos poderes Legislativo e Judiciário mas, apesar da produção própria das Casas, são transmitidos pela EBC. São cinco minutos para o Judiciário, dez para o Senado e vinte para a Câmara. Uma vez por semana também são transmitidas notícias sobre as ações do Tribunal de Contas da União (TCU), em um minuto.

Na equipe de produção de "A Voz do Brasil" há 21 anos, inicialmente como repórter e hoje como editora e apresentadora, Alessandra Bastos destaca que, por meio do programa, atos públicos tornam-se conhecidos pela população, garantindo preceitos constitucionais como o da transparência e o da publicidade. 

“O sentimento de integrar a equipe da Voz é o de informar ao cidadão que vive num pequeno município do Norte do País que ele tem direito a receber um auxílio emergencial de R$ 600, de dizer a um pescador como fazer para ter acesso ao Seguro Defeso ou de incentivar, por meio da política governamental, mulheres de todo o país a denunciarem agressões”, define a apresentadora. “É um sentimento maior de amor, de coletividade e de esperança no desenvolvimento desse nosso Brasil”, complementa.

HISTÓRIA: Criado para divulgação dos atos do Estado Novo, na Era Vargas, o Programa Nacional deu lugar à Hora do Brasil, três anos após o seu nascimento, em 1938. No mesmo ano, passou a ter veiculação obrigatória nas rádios do País, com o horário fixo das 19h às 20h. À época, a divulgação se restringia aos atos do Poder Executivo.

Em 1962, com a entrada em vigor do Código Brasileiro de Telecomunicações, o noticiário passou a dividir o tempo de veiculação com o Poder Legislativo, que passou a ocupar a segunda meia hora. Ao longo dos anos, o programa passou por várias reformulações. Inicialmente, foi marcado por um produto com espaço para a arte, execução de músicas, transmissão de radionovelas e até mesmo recados presidenciais.

Em 1975, a Empresa Brasileira de Radiodifusão (Radiobrás) foi criada e passou a ser responsável pela produção da parte do Executivo do programa. Em 1998, o marco foi a inclusão oficial de uma voz feminina na locução.

Desde 2017, por sua vez, com a evolução dos meios de comunicação, "A Voz do Brasil" pode ser acompanhada, ao vivo, também pela internet. O material radiofônico está disponível, gratuitamente, no site da Rede Nacional de Rádio, para emissoras de todo o Brasil e países vizinhos. 

“Para mim é uma honra fazer parte desse programa histórico. Com tanto tempo no ar, "A Voz do Brasil" se adaptou aos novos tempos. Com uma linguagem moderna, traz todas as informações das ações do poder Executivo e das políticas públicas de forma leve e gostosa de ouvir”, avalia Nasi Brum, que apresenta o programa há quatro anos.

O sentimento é compartilhado pelo editor Eduardo Biagini, na Voz há quase sete anos. “É um orgulho trabalhar neste programa histórico, que faz parte do imaginário coletivo dos brasileiros. Com uma audiência grandiosa, é um desafio manter a relevância e informar, com qualidade, todas as ações do governo e o impacto que elas têm na vida de cada brasileiro. É um trabalho duro, puxado, mas feito com muito carinho por toda a equipe, todos os dias”.

A partir de 2018, com a Lei 13.644, a retransmissão do programa foi flexibilizada possibilitando que as rádios possam transmiti-lo entre às 19h e 22h de Brasília.

Em julho de 2010, Prudêncio veio a Brasília para conhecer o estúdio da Voz e seus apresentadores. A partir de lá, anualmente, visita a equipe. As fotos dos encontros estão espalhadas em porta-retratos pela redação. “Acompanhei uma transmissão e não tinha ideia de que funcionava com tanta gente, tanta informação e correria. Percebi que é uma família que trabalha muito pela notícia”, resume. “Amo o rádio e fico muito feliz em poder conhecer um pouco mais do nosso País pela Voz do Brasil”, conclui.

O GUARANI: Criada no século 19 e aclamada em sua estreia, em 1870, em Milão, a ópera O Guarani, de Carlos Gomes, é tema de abertura de A Voz do Brasil. Os primeiros segundos da peça de Gomes foram escolhidos para anunciar a entrada do programa no ar e se tornaram uma das marcas mais conhecidas do programa. A ópera foi exibida no programa em sua versão original por décadas. Posteriormente, releituras foram feitas em diferentes estilos, como samba, axé e capoeira, sempre remetendo à cultura nacional. 


CULTURA ORAL: Na opinião de Alessandra Bastos, A Voz do Brasil é extremamente importante para uma boa fatia da população. “Para muitos, é a única forma de saber o que pensa e o que faz o governo federal. É a única ponte entre o cidadão eleitor e seus representantes eleitos. É preceito constitucional a transparência e publicidade dos atos públicos, de todos e qualquer. Publicidade aqui no sentido de tornar público. E A Voz do Brasil coloca em ação esse direito, que é dado a todos e cada brasileiro.”

“A Voz do Brasil é um excelente momento para ter informações, para receber material, e para que seu ouvinte tenha algum contato com o país que ele vive”, complementa Luiz Artur Ferraretto. Para ele, a veiculação do programa “ainda se justifica em função das pequenas e médias emissoras, que não são totalmente jornalísticas.”

Ferrareto não desconsidera as mudanças que estão ocorrendo no rádio no século 21, por causa da internet, digitalização e do suporte do celular para ouvir notícias. Ele, no entanto, ressalta que o meio de comunicação continua sendo importante. “É sempre bom lembrar que em momentos de crise extrema, quando a gente está vivendo uma enchente ou um ciclone bomba, falta energia elétrica. O único meio que as pessoas têm vai ser o radinho de pilha.”

Na mesma linha, Sonia Virginia Moreira adiciona que o “rádio chega a qualquer lugar. Ainda hoje em ambiente de internet, que muitas pessoas têm pouco acesso ou, quando têm, a velocidade é muito baixa. [Elas] não conseguem ter um acesso de qualidade.”

Em sua opinião, A Voz do Brasil “tem um caráter informativo porque fala o que está acontecendo na capital do país. Fala dos Três Poderes. Muitas vezes as informações veiculadas em A Voz do Brasil, não têm em outros meios de comunicação.”

Além dessa razão, ela descreve que no Brasil “a cultura oral ainda é importante”, haja visto o número expressivo de pessoas que não sabem ler por analfabetismo absoluto ou têm dificuldades de compreensão por causa do analfabetismo funcional.

Como já reportado pela Agência Brasil, em 2018, havia 11,3 milhões de pessoas analfabetas com 15 anos ou mais de idade (dados do IBGE). Se todos residissem na mesma cidade, este lugar só seria menos populoso que São Paulo – a capital paulista tem população estimada de 12,2 milhões.(Fonte: EBC)



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MAURICIO CORDEIRO FERREIRA: PIXITA NÃO PODE MAIS VOAR

O menino, que nasceu Ozael, não se sabe por quê, logo ganhou o apelido de Pixita. Foi criado solto na Rua dos Remédios – que era, na Ouricuri da sua época, um paraíso pra vadiagem. Os arredores se ofereciam pros meninos se espalharem em todo tipo de estripulia. De baladeira em punho reviravam os caminhos da Lagoa de Dentro; Açude Novo; do Bom Jesus; Açude Da Nação; dos “calderões” da Solta...

Seu Joaquim Mariano, o pai de Pixita, já era coveiro da cidade há tanto tempo que já tinha perdido a conta. Ganhava a vida no momento em que outros a perdiam. Não mais assombrava-se com nada, a não ser com a sobrevivência e com os fantasmas que rondavam o destino dos seus filhos.

Pixita cresceu saltando covas e rodeando o mistério sombrio das catacumbas; em meio às algazarras infantis e ao clima soturno dos enterros; entre uma meninice livre e a sombra dos muros do cemitério; com as cores alegres das peraltices e a tristeza desbotada nas mortalhas.

Ainda muito pequeno começou a mostrar sinais de ser engenhoso; de ser dado a tramar com a imaginação; de ser maneiro nos movimentos e criativo na quietude. Tinha o seu jeito; bem dele, de brincar só, ou com outros, nos muros das casas e nas ruas de chão batido e arredores, com os boizinhos de chifre, carrinhos de lata, patinete... ou de bola, de garrafão, de aribusca, de bandeirinha, de peteca, de soltar papagaio...

Atravessava meia cidade e as barreiras que se impunham a um menino negro e de família humilde; pra ir aprender as primeiras letras e adentrar um outro território, no Grupo Escolar Telésforo Siqueira, no centro desta, onde logo se mostrou muito atento e esperto na aprendizagem.

Ainda no “Grupo”, travou uma sensível amizade – que perduraria por toda a vida – com Marcílio de Seu Hercílio, que era do mesmo naipe seu: precoce na curiosidade pro universo do cinema, das revistas em quadrinhos – colecionando, trocando e emprestando uns aos outros...

Já adolescente, seguindo o canto da sereia da propaganda de carreiras, que vinha impressa em revistas, Pixita desenvolveu uma verdadeira obsessão por ingressar na Academia das Agulhas Negras – a elite do Exército brasileira. Foi aí que o mundo começou a rugir à sua volta: “Filho de coveiro não pode sonhar em tirar os pés do chão! ”.

Mas Pixita não ouviu e continuou; como quando era menino, a acreditar que os sonhos estavam aí pra todos; que era só se aboletar neles e brincar de imaginar, que todo voo era possível. E assim desejou; fez finca-pé e tentou se lançar na direção de outros horizontes.

Nunca alcançou o seu intento, pois dificilmente conseguiria superar as adversidades do cruel sistema de seleção: Concorrer em absurda desigualdade de condições de formação escolar e de acesso a material didático, com candidatos do país inteiro; agravada pela garantia de vagas a privilegiados, por critérios político-sociais e da prática de facilitar a hereditariedade na carreira militar.

Ficou Pixita, que já tinha perdido a infância, agora, órfão também dos sonhos, que era o que o diferenciava e movia. Depois de ter as asas ceifadas pela foice cruel da realidade estabelecida, restava-lhe duas opções:

Ficar – como o seu pai – abrindo covas sob os próprios pés e enterrar de vez qualquer aspiração de voo; ou aventurar-se nas armadilhas sorrateiras que o “Sul Maravilha” oferecia aos brasileiros deserdados do seu direito de sonhar e viver com dignidade: Sobreviver numa periferia da vida; estancado na congestionada boca do funil do sistema.

Pixita debandou-se pra São Paulo, trabalhou “feito um condenado”, na construção civil, quando aprendeu ofícios que lhe garantiriam uma sobrevivência semiescrava pelo resto da vida.

De volta à terra natal, já casado, trazia na bagagem mais dissabores e frustrações do que as que tinha levado.

Em Ouricuri enfrentou trabalhos que não preenchiam as lacunas que se acumulavam no seu interior; tendo sido, nesse período, aprovado em vários concursos públicos; sem, no entanto, ser chamado pra assumir nenhum deles. Mantinha o hábito da leitura espontânea e o gosto por poemas de formas fixas. Passou a entregar-se a uma vida largada, bebendo e remoendo os seus traumas.

Os seres sensíveis que, como Pixita nasceram pra grandes voos, vivem como o equilibrista no arame: Qualquer vento ou desvio de olhar podem lhes tirar o prumo e os fazer cair num precipício sem volta.

Têm as vidas tremulando sobre uma linha tênue entre a plenitude da auto-realização e a desventura de ser enterrado vivo – no cemitério da dita civilização.

Pixita nunca mais voltou!
Quem sabe, foi levantar voo em outros planos...

TEXTO: *Maurício Cordeiro Ferreira – Poeta e fundador do Sebo Rebuliço.
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