NO RITMO ATUAL, UTIs PODEM LOTAR NA PRIMEIRA QUINZENA DE MAIO

Ferramenta criada por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) permite aos gestores estaduais e de hospitais envolvidos no combate à Covid-19 fazer simulações realistas sobre a velocidade com que leitos gerais e de UTI serão ocupados nas próximas semanas.

O dispositivo pode ser acessado por qualquer pessoa e usa dados oficiais (como o número de leitos) e premissas baseadas no que ocorre no dia a dia da epidemia (como os novos casos de Covid-19). As novas informações vão ajustando o modelo matemático e aumentam a capacidade de previsão.

Na estimativa dos pesquisadores, haverá falta de leitos de UTI públicos e privados a partir da primeira quinzena de maio, isso considerando que a quantidade de infectados vem duplicando a cada 5,1 dias, o que pode mudar.

A lotação das UTIs duraria mais de dois meses no SUS (onde a maior parte da população é atendida) e cerca de um mês no sistema particular. Em ambos, o tempo de internação de pacientes de Covid-19 vem variando de 15 a 21 dias.

De forma geral, estima-se a falta de leitos de UTI duas semanas antes para a população dependente do SUS em relação aos usuários de plano de saúde.
Já a ausência de leitos gerais poderá ocorrer na segunda quinzena de maio. A duração desse déficit seria de em torno de duas a três semanas, pois os pacientes ocupam esse tipo de leito por menos tempo.

A equipe tem trabalhado ainda para estimar as necessidades de leitos de UTI públicos e privados separadamente, dada a decisão do STF de não intervir na criação de uma "fila única" de pacientes, por gravidade, como estão propondo algumas entidades de sanitaristas.

A ferramenta considera o percentual de pessoas que têm apresentado sintomas que as levam a algum tipo de internação, a velocidade de propagação do vírus, a taxa de ocupação das UTIs antes do início da epidemia e o perfil ajustado, por estado, de idosos com 65 anos ou mais.

Ela permite ainda que, depois de baixada em planilha Excel, o usuário possa fazer as suas próprias simulações ou mudar os critérios adotados inicialmente, como o percentual de pessoas afetadas à medida que a epidemia evolui.

"O objetivo é propor um modelo matemático para previsão da disponibilidade de leitos durante a pandemia e calcular os momentos de ruptura dos sistemas. As premissas podem ser mudadas e validadas pelos gestores e profissionais da saúde", diz João Flávio de Freitas Almeida, professor adjunto do Departamento de Engenharia de Produção da UFMG.

A ferramenta está disponível no site do Laboratório de Tecnologias de Apoio à Decisão em Saúde (Labdec) e traz todas as notas técnicas e critérios adotados pelo Departamento de Engenharia de Produção e pelo Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon), órgão de ensino e pesquisa da Faculdade de Medicina da UFMG.

Contato: labdec@nescon.medicina.ufmg.br

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CAPRINOCULTURA: FERNANDO BEZERRA PROTOCOLA SOLICITAÇÃO DE RECURSOS PARA AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS DA AGRICULTURA FAMILIAR

O senador Fernando Bezerra Coeho protocolou a solicitação ao Governo Federal, através do Ministério da Cidadania a solicitação para a liberação de recursos par ao Programa aquisição de alimentos da agricultura familiar pernambucana por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Fernando Bezerra justifica que a medida atende principais produtoras de caprinos e ovinos do estado e diante do agravamento da pandemia do Covid-19 que afeta diretamente a agricultura familiar e notadamente a região do semiárido.

De acordo com Fernando Bezerra a liberação dos recursos permitirá o estoque de 500 toneladas de carne, beneficiando cerca de 3,5 mil agricultures familiares, criadores de caprinos e ovinos.

A medida, de acordo com criadores da região, deve ser nos moldes do “PAA do Bode”, como ficou conhecida a aquisição direta de caprinos, em 2012, pela Superintendência da Conab em Pernambuco.
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MEIO AMBIENTE: RIO SÃO FRANCISCO VOLTA A GANHAR VOLUME DE ÁGUA, VAZÃO DAS BARRAGENS SOBEM A PARTIR DESTA QUARTA 8

Em meio ao manto de notícias tristes que marcam os meios de comunicação nos últimos 30 dias desde que foi decretado estado de pandemia, devido o coronavírus, nesta quarta-feira (8), a informação do aumento da vazão da Barragem de Sobradinho, BahiA,  fez os ribeirinhos 'abrir um sorriso" e também ficar alerta. 

Dentre todos os estados por onde passa, é na Bahia que o Rio São Francisco percorre o maior trecho. Juazeiro é um dos municípios que a partir desta quarta-feira (8), começa a sentir o aumento das águas do Opará (Rio que é mar na lingua indígena).

A redação do BLOG NEY VITAL  visitou pescadores e moradores do bairro Angari. A maioria já se prepara para o que eles denominam "a enchente do Velho Chico", o retorno normal de sua correnteza. A dona de casa Anita dos Santos disse que no bairro Angari onde moram, nas margens do Rio todos devem ter a "conscientização de que o controle de cheias exercido pelas barragens e reservatórios, é limitado".

De acordo com Anita "depois de anos de seca a estátua do Nego D'agua vai voltar a ter água em sua volta. Já assistimos outras cheias e os problemas são os mesmo,mas a alegrias são maiores". Dona Anita se refere a baixa do Rio São Francisco, causada por uma das piores estiagens dos últimos 100 anos, em Juazeiro, norte da Bahia, que fez a escultura "Nego D’Água" aparecer na superfície da areia, quando antes ficava sob a água. A estrutura tem 12 metros de altura.

A Chesf informou que a partir desta quarta-feira (08) a defluência na barragem de Sobradinho vai sair dos 800m3 para 1.000m3 e na sequência, já nas primeiras horas da quinta-feira (09), para 1.400m3.  

Na nota a Chesf alertou para riscos de alagamento de áreas ocupadas em trechos considerados como “calha principal”. “É fundamental chamar atenção para o fato de que a depender das condições de atendimento ao SIN, poderá ocorrer a necessidade de aumento de geração da UHE Xingó acima dos valores supracitados. Neste sentido, evidencia-se fortemente a importância da não ocupação de áreas ribeirinhas situadas na calha principal do rio”, alertaram.

A redação do BLOG NEY VITAL  também conversou com o pescador Antonio Gonçalves dos Santos. Aposentado ele é pescador amador, diz que acompanha de perto o dia a dia do rio e agradece a Deus a importância da enchente para o rio, meio ambiente e para os profissionais que dependem do Rio São Francisco.

“Fazia sete anos que não tinha enchente no rio e graças a Deus esse ano deu enchente. Nós que somos pescadores ficamos muito felizes com as chuvas e com essa enchente porque agricultores e pescadores, muita gente depende do rio. Com a cheia, muitos peixes entram e se reproduzem, e isso é muito bom pra nós pescadores”, finalizou.

Na região de Juazeiro e Petrolina a vazão subindo atinge as prainhas situadas nas margens do Rio, além da Ilha do Rodeadouro e Ilha do Fogo.

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CLARISSA LOUREIRO, ÍTALO CALVINO E AS CIDADES INVISÍVEIS

"As cidades invisíveis" de Italo Calvino se destaca por ser um cadinho de narrativas sobre cidades imaginárias que se agrupam nos seguintes grupos temáticos: memória, desejo, símbolos, morte, céu, nomes e delgadas. 

O que as identifica é a sua capacidade de uso da descrição geográfica em função de uma reflexão existencial. Assim, cada cidade é personificada com nomes de mulheres que aproximam seu " corpo" a um lugar feminino de mistério, dor, abandono, morte. Por isso, nessa obra, o espaço é metafórico, preenchendo-se mais pelo que pode ser interpretado pelo leitor do que pela sua função de localizar personagens e as suas, consequentes, ações.

Entre as narrativas, destaco a intrínseca relação entre memória, desejo e morte. Todas essas narrativas levam o leitor a pensar a efemeridade do humano e, ao mesmo tempo, a sua busca por eternizar-se no modo como se relacionam com determinados " lugares" da cidade. Entre as cidades- memória, sublinho a relação entre Kubla e Maurília, enquanto cidades em que o passado é recordado permanentemente, seja na condição de cartão postal, seja na situação de resgate de ações antigas cotidianas em ruas e espaços da cidade. Por outro lado, as cidades-morte reforçam a determinação do passado no processo permanente de presentificação das cidades. É o caso das cidades Eusápia e Andelma. 

A primeira remete a uma duplicação passado-presente numa alimentação recíproca constante, já a segunda envolve a nossa saudade constante dos mortos e a nossa necessidade de os reviver em gestos e ações de estranhos. O que sintetiza a ideia central do livro na seguinte premissa, encontrada na sua primeira narrativa: " os desejos agora são só recordações", metáfora que define a sensação de impermanência comum ao homem que se propõe a assistir e, sobretudo, pensar as cidades. (Fonte: Clarissa Loureiro nasceu em Campina Grande Paraíba. É professa da UPE, mestrado e doutorado em Teoria da Literatura) 
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GOVERNADOR ANUNCIA PRORROGAÇÃO DO FECHAMENTO DAS ESCOLAS NA BAHIA

Durante #PapoCorreria, transmitido ao vivo pela internet nesta terça-feira (7), o governador Rui Costa informou que as escolas públicas e privadas de todo o estado terão o período de fechamento adiado por conta da pandemia do novo coronavírus.

"Vamos prorrogar o fechamento das escolas. Ainda não está no momento de nós pensarmos na abertura. Vamos acompanhar as próximas duas, três semanas, para ver como se comporta a curva de contaminação na Bahia", afirmou. Um decreto estadual publicado em 19 de março suspendia por 30 dias as aulas, mas uma nova data para o fim da medida será definida e anunciada pelo governador nos próximos dias. 

Rui disse ainda que as cidades baianas sem casos registrados de coronavírus por 15 dias, ou seja, até o próximo domingo (12), terão flexibilidade nas regras de isolamento. "É desta forma que vamos conseguir controlar e manter um ponto de equilíbrio entre a vida humana e alguma atividade necessária pra manter emprego e renda na vida das pessoas. É preciso um ajuste fino, um controle muito detalhado de cada região e é isto que estamos fazendo dia e noite para garantir o controle e a vida do ser humano", destacou. 

Atualmente, 62 cidades baianas estão com transporte intermunicipal suspenso até 15 de abril, por determinação do governador. Também até esta data está proibida a circulação, a saída e a chegada de ônibus interestaduais, em todo território do Estado da Bahia.

Esta edição do #PapoCorreria teve participação do secretário estadual da Saúde, Fábio Vilas-Boas, e está disponível, na íntegra, nos perfis oficiais do governador no Youtube, Instagram e Facebook. (Fonte: /GOVBA)
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COVID-19: CONFINAMENTO E DISTANCIAMENTO SOCIAL PREOCUPAM PSICÓLOGAS QUE ATUAM NO VALE DO SÃO FRANCISCO

A situação inédita de confinamento em casa e distanciamento social entre as pessoas por causa de um vírus em pleno século 21 cabe no enredo de romances distópicos ou de filmes apocalípticos de ficção científica. 

Na realidade, entretanto, essa trama pode vir recheada de desconfortos, situação de stress, desequilíbrio emocional e até alguma neurose, alertam psicólogos. Em tempo de novo coronavírus é preciso prestar atenção e cuidar da saúde mental no dia a dia.

A situação vivida em todo o planeta era impensável há poucos meses por causa do domínio absoluto da ciência e da disponibilidade de tecnologia para inclusive deter doenças. “Nossa geração estava muito vaidosa de que não experimentaria riscos de morte em massa, como ocorreu no passado. A natureza, agora, impõe nova realidade.” Para ela, a situação nos desequilibra, “mexe a fundo com o bem-estar e abala as relações entre as pessoas”, enfatiza, Lydiane Streapco, professora de Psicologia, do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo.


A reportagem do BLOG NEY VITAL conversou com profissionais da psicologia para entender melhor como é possível cuidar da saúde mental em tempo de distanciamento social.

A psicóloga e apresentadora do Programa Inteiramente Mulher, Rádio Cidade Am870, Camila Helena, afirma que na atual situação de pandemia da COVID-19 é comum ter sentimentos e emoções negativas, como medo, tristeza, raiva e solidão, além de ansiedade e estresse.

De acordo com Camila Helena o excesso de notícias sobre a pandemia, a mudança de rotina, o distanciamento físico e as consequências econômicas, sociais e políticas relativas ao novo cenário podem aumentar ou prolongar esse desconforto emocional.

Assim, a seguir, estão algumas dicas de como manter o bem estar mental, neste momento de isolamento:
1- Fique em contato com sua rede de amigos e familiares. Apesar da necessidade do isolamento físico, atualmente podemos contar com a tecnologia a nosso fator, realizando vídeo conferência, ou mantendo-se conectado com as pessoas através das redes sociais e telefone. 

2- Preste atenção aos seus sentimentos e busque atividades saudáveis. Exercícios físicos, sono regular e boa alimentação ajudam. Se precisar, você pode buscar informações a respeito desses temas através de tutoriais no YouTube e Instagram.

3- Busque fontes de informações confiáveis e procure se informar também de coisas positivas, dos avanços e das separações. O excesso de informações negativas podem levar ao estresse e à ansiedade.

4- Crie uma rotina prazerosa. Procure criar uma agenda com suas tarefas diárias, alternando as obrigações de trabalho, casa etc, com aquilo que você gosta e que te faz bem... por exemplo, sabe aquele livro que você está a um tempão namorando? Talvez esse seja o momento de ler...

5- Procure ajuda. Saiba que algumas pessoas lidam melhor com algumas situações do que outras e que caso esteja sendo muito difícil lidar com o turbilhão de emoções presentes neste momento de crise, você pode buscar ajudar psicológica. Muitos psicólogos neste momento de pandemia estão atendendo de maneira online.

A psicóloga, psicopedagoga, mestre em educação Adriana Miron, avalia que a pandemia e todos os problemas em torno do tema relacionado à possibilidade de adoecimento e morte em massa é um fenômeno que contribui para o aumento do medo e, consequentemente, da ansiedade.

Adriana ressalta que diante do que estamos vivenciando, está cada vez mais difícil relaxar, porém, é de suma importância considerar que o equilíbrio emocional nesse momento é algo que pode contribuir em larga escala para que outros problemas não prejudiquem ainda mais.

"Estamos vivendo um processo de "luto", seja provocado pelas mortes em massa, seja pela perda da sensação de "liberdade". O luto, por si só, já é algo que gera sofrimento, então é normal que as pessoas se sintam angustiadas. Viver esse sentimento, permitir-se chorar e sentir também nos ajuda no enfrentamento desse problema", revela Adriana.

"Sabemos que estar em casa por vontade própria, por querer descansar, curtir a casa é bem diferente de ter que ficar em casa, ainda mais quando utilizamos o termo "isolamento". Isso faz com que as pessoas sintam-se presas, confinadas, o que é uma obrigatoriedade. Além disso, o distanciamento social, priva e limita o contato físico, tão inerente ao ser humano e isso pode aumentar o estresse e a ansiedade".

Algumas dicas podem ajudar a melhorar a nossa saúde mental durante os desafios da pandemia:

"Inicialmente, é importante lembrar que a auto-cobrança pode nos prejudicar nesse processo. Permita-se sentir e vivenciar os sentimentos sem cobranças. É normal ter oscilação de humor e de sentimentos. Outro ponto já destacado é a importância de organizar a rotina; ideal que isso seja feito de forma escrita, por exemplo, uma vez que o cérebro entende melhor quando visualiza; deixar essa rotina à mostra, ajudará o seu dia fluir melhor. É importante incluir nessa rotina o seu tempo particular para relaxamento, um banho mais longo, meditar, ouvir música, ler um livro, fazer exercício físico... tudo isso pode ajudar a espairecer nesse momento", explica Adriana.

A psicóloga Célia Fernandes, também está se adaptando e atendendo seus pacientes de casa por meio do computador e do celular. As tecnologias que viabilizam o teletrabalho, compras e diversão, não contornam, entretanto, os problemas da interação humana.

Segundo ela, conflitos podem surgir na família, entre pais e filhos e entre os casais. “O conflito é normal. Precisamos trabalhar a comunicação, compreender que temos personalidades diferentes e interesses diferentes.”

Célia recomenda a organização e o estabelecimento de regras sobre a divisão do tempo e do espaço que permitam o trabalho e a rotina de descanso. Para quem tem filhos, é importante dar atenção às crianças e ao lazer infantil. 

Já para adultos, é importante incluir na rotina a realização de atividades de interesse pessoal, como estudo, leitura ou diversão – como assistir filmes e até maratonar diversos episódios das séries preferidas. “Como já ocorria em finais de semana. Precisamos adotar medidas comuns, já que vamos passar mais tempo juntos.”
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O CANTO JOVEM DE LUIZ GONZAGA SEMPRE NA MIRA DOS NOSSOS CORAÇÕES

Porque estamos no mês de abril, vou recontar esse momento sutil. Enquanto descia de Santa Teresa, num tempo bem passado, com o ator Beto Quirino, com o saudosíssimo poeta Chico Salles e com o também poeta Ivamberto Albuquerque, eu procurava na imaginação o disco gonzagueano no qual o Rei do Baião encantara para a eternidade suas versões para canções completamente estranhas ao seu repertório tradicional.

O Canto Jovem de Luiz Gonzaga veio e vem, de certa forma, contrapor-se ao discurso segregador. Procurando um melisma que também avoasse pelo dissonante, a sanfona e a voz do bardo encaixaram-se com certa delicadeza, mastigando mansamente as notas quase deslocadas da bossa nova e do tropicalismo.

Naquele disco não havia arranjos sertanejos, rascantes, severos. Havia, e está lá, um diálogo com o que se chamava, na época, de novo, de jovem. Gonzaga teve coragem, enfrentou. A célebre Caminho de Pedra, de Tom e Vinícius, é um ponto a se prestar bem atenção. Em Asa Branca, com alguma novidade no arranjo, a participação de Gonzaguinha marcará o reencontro de pai e filho.

Seguem-se Nelson Mota, Dori Caymmi, Antonio Carlos e Jocafi, Capinan e Edu Lobo, presentes. Note-se a fotografia de capa tendo como cenário o Edifício Avenida Central, no Largo da Carioca, no Rio de Janeiro. Note-se, ainda, a pose e o figurino atualizado à cidade e à moda bossanovidadosa. As faixas:

Chuculatera (Jocafi – Antônio Carlos)
Procissão (Gilberto Gil)
Morena (Gonzaguinha)
Cirandeiro (Capinan – Edu Lobo)
Caminho de Pedra (Tom Jobim – Vinicius de Moraes)
Asa Branca (Luiz Gonzaga – Humberto Teixeira)
Vida ruim (Catulo de Paula)
O milagre (Nonato Buzar)
No dia que eu vim me embora (Caetano Veloso – Gilberto Gil)
Fica mal com Deus (Geraldo Vandré)
O cantador (Nelson Motta – Dori Caymmi)
Bicho, eu vou voltar (Humberto Teixeira)

O Nordeste continuaria existindo caso Luiz Gonzaga não tivesse aterrissado por lá há cem anos. Teria a mesma paisagem, os mesmos problemas. Seria o mesmo complexo de gentes e regiões. Comportaria os mesmos cenários de pedras e areias, plantas e rios, mares e florestas, caatingas e sertões. Mas faltaria muito para adornar-lhe a alma. Sem Gonzaga quase seríamos sonâmbulos.

Ele, mais que ninguém, brindou-nos com uma moldura indelével, uma corrente sonora diferente, recheada de suspiros, ritmos coronários, estalidos metálicos. A isso resolveu chamar de BAIÃO.

Gonzaga plantou a sanfona entre nós, estampou a zabumba em nossos corpos, trancafiou-nos dentro de um triângulo e imortalizou-nos no registro de sua voz. Dentro do seu matulão convivemos, bichos e coisas, aves e paisagens. Pela manhã, do seu chapéu, saltaram galos anunciando o dia, sabiás acalentando as horas, acauãs premeditando as tristezas, assuns-pretos assobiando as dores, vens-vens prenunciando amores.

O olhar de Gonzaga furou o ventre de todas as coisas e seres, escaneou suas vísceras, revirou seus mistérios, escrutinou suas entranhas. A mão do homem deslizou pelas teclas sensíveis da concertina, seus dedos pressionaram os pinos, procurando os sons baixos e harmônicos. Os pés do homem organizavam o primeiro passo, sentindo o caminho, testando o equilíbrio. A cabeça erguida, o queixo pra frente, a barriga desforrada e o pulmão vertendo cem mil libras de oxigênio, vibrando as cordas vocais: era Lua nascendo.

O peito de Gonzaga abrigava o canto dolente e retorno dos vaqueiros mortos e a pabulagem dos boiadeiros vivos. As ladainhas e os benditos aninhavam-se por ali buscando eternidade. Viva Luiz Gonzaga do Nascimento, sempre na mira de nossos corações. (Fonte: professor doutor em Ciência da Literatura Aderaldo Luciano)
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