GRUPO NOVA VIDA DE ALCOOLICOS ANÔNIMOS COMPLETA 37 ANOS EM PETROLINA

Em comemoração ao aniversário da fundação do grupo Nova Vida de Alcoólicos Anônimos (A.A.) de Petrolina (PE), será realizado um evento neste sábado (23) e domingo (24). A programação conta com reuniões abertas ao público e acontecerá na Escola Estadual Gercino Coelho, localizada na Vila Mocó. O Grupo Nova vida foi o primeiro a ser fundado na cidade e comemora 37 anos.

No primeiro dia, às 20h, será realizada uma reunião de informação ao público. Na ocasião, estarão membros da irmandade, que irão relatar suas experiências relacionadas à doença do alcoolismo, representante de Al-Anon, uma associação de parentes e amigos de alcoólicos, e convidados especialistas que irão explicar a doença e suas consequências.

No segundo dia do evento, das 8h às 10h, acontecerá a reunião temática “Tratando a doença emocional”, em seguida serão realizadas as reuniões de recuperação de A.A e de Al-Anon. O encerramento acontece às 13h.

De acordo com a organização do evento, essa ação tem como objetivo apresentar ao público em geral o trabalho da irmandade para que pessoas que sofrem com a doença do alcoolismo possam encontrar ajuda. Outras informações podem ser obtidas através dos telefones: (87)98877-0084 e (87) 99627-2866.

Alcoólicos Anônimos - A.A. é uma irmandade de homens e mulheres que partilham experiências, forças e esperanças a fim de resolver seu problema comum e ajudar outros a se recuperarem do alcoolismo. Para fazer parte, o único pré-requisito é o desejo de parar de beber. As reuniões de recuperação acontecem todos os dias, em oito grupos distribuídos nos bairros da cidade. Os dias e horários estão disponíveis no site de Alcoólicos Anônimos: https://www.aa.org.br/

Confira a programação:

Sábado (23)
16h – Recepção
18h – Jantar
20h às 21h30 – Reunião de informação ao público
22h – Reunião bacurau

Domingo (24)
8h às 10h – Reunião temática: Tratando a doença emocional
10h às 12h – Reunião de recuperação

10h às 12h – Reunião Al-Anon
12h – Almoço
13h – Encerramento

Local: Escola Estadual Gercino Coelho
Rua do Horto Florestal, s/n – Vila Mocó, Petrolina (PE)
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Romeiros festejam aniversário de 175 anos do Padre Cícero Romão

Neste domingo 24, a igreja católica festeja os 175 de nascimento de Padre Cícero. Nascido no Crato, Ceará. Mas é em Juazeiro Ceará onde os romeiros todos os anos festejam o nascimento do "Santo do Povo Meu Padim Ciço", como é conhecido no imaginário.

Conhecida entre os habitantes como "capital da fé", a cidade de Juazeiro do Norte, Ceará, recebe todos os anos mais de 2 milhões de romeiros que viajam de todos os lugares para Juazeiro do Norte e participam de missas e festejos religiosos.

Os romeiros são atraídos principalmente pela figura do Padre Cícero Romão Batista, considerado santo popular pela população e visitantes católicos da cidade. Somente no topo da colina do Horto, onde fica a estátua de 27 metros de Padre Cícero, a estimativa é de que, em média, cerca de cinco mil pessoal visitam o local.

A cidade é um dos maiores centros de romaria do Brasil. E atualmente o túmulo de Padre Cícero é também o mais visitado no país", diz o secretário de Turismo e Romaria da cidade.

No ano de 2015 o Vaticano (Italia) reconciliou o padre Cícero Romão Batista com a igreja católica. Com a reconciliação, não há mais fatores impeditivos para que o "santo popular" do interior do interior do Ceará seja reabilitado, beatificado ou canonizado, segundo o chanceler da diocese do Crato, Armando Lopes Rafael. Leia o resumo da carta do Vaticano à diocese do Crato.

Padre Cícero morreu sem conciliação com a igreja católica. 
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Rio São Francisco foi afetado por contaminação da barragem de Brumadinho, Agência Nacional nega

O que ambientalistas mais temiam foi anunciado dia 22, no Dia Mundial da Água: a contaminação por metais pesados do Rio São Francisco, via Lago de Três Marias, em Felixlândia, na Região Central de Minas. 

De acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica, que monitora o Rio Paraopeba desde o rompimento, em 25 de janeiro, da Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Grande BH, foi constatada turbidez no centro do reservatório acima do aceitável (248 NTU), elevada concentração de metais pesados (manganês, ferro, cobre e cromo), “também muito acima do limite legal”, e diminuição da vida aquática, informou a coordenadora do Projeto Água da entidade, Malu Ribeiro.

“A situação preocupa muito, principalmente por que a temperatura da água do reservatório de Três Maria está acima do normal, pondo em risco a atividade dos criadores de tilápia”, disse Malu, explicando que foi coletada água  para posterior análise em 12 pontos e a dois metros de profundidade, da Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo, entre Curvelo e Pompeu, até Três Marias. 

Em três pontos em Felixlândia, incluindo a Ilha do Mangabal e Porto das Melancias, a situação da água é considerada regular. “Regular é estado de alerta”, destaca Malu.

A coordenadora da entidade explicou que, para evitar interferência de outros córregos, foram feitas as análises de metais pesados constatados no Paraopeba desde Brumadinho, onde foram despejados cerca de 12,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério na bacia hidrográfica, soterrando córregos como o Ferro Carvão.

Nas pesquisas foram detectados rejeitos finos de metais pesados no meio e nas curvas da margem direito do lago, que recebe o Paraopeba. A grande preocupação dos ambientalistas, além da água imprópria para consumo, é o carreamento da chamada pluma ou onda de rejeitos de minério ao longo do leito do São Francisco em direção ao Oceano Atlântico.

Em nota, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam)/Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), responsável pela análise do Governo de Minas, confirmou que os rejeitos chegaram à UH Retiro Baixo. No entanto, o órgão nega que a lama tenha chegado a Três Marias. De acordo com a direção do Igam, os rejeitos já percorreram cerca de 310 quilômetros e estão entre os municípios de Pompeu e Curvelo, no remanso do reservatório da usina de Retiro Baixo.

Ainda de acordo com o Igam, não é possível afirmar o período que a lama chegará ao reservatório de Três Marias. Atualmente, uma consultoria contratada pela Vale, dona da Barragem 1 de Brumadinho, está fazendo um estudo de transporte de sedimentos; a estimativa é que o trabalho fique pronto no início de junho. Enquanto o estudo não é finalizado, o Igam avalia o movimento da lama.

O relatório da Fundação SOS Mata Atlântica mostra que em apenas 6,5% dos rios da bacia da Mata Atlântica, a qualidade da água é considerada boa e própria para o consumo. 

Dos 278 pontos de coleta de água monitorados em um total de 220 rios, 74,5% apresentam qualidade regular, 17,6% são ruins e, em 1,4%, a situação é péssima. Nenhuma amostra foi considerada ótima. Os rios estão perdendo lentamente a capacidade de abrigar vida, de abastecer a população e de promover saúde e lazer para a sociedade, afirmam os técnicos.

A qualidade de água péssima e ruim, obtida em 19% dos pontos monitorados, mostra que 53 rios estão indisponíveis, com água imprópria para usos, devido à poluição e da precária condição ambiental das suas bacias hidrográficas, segundo a fundação.

O relatório traz ainda o balanço das análises feitas nos 220 rios, de 103 municípios dos 17 estados abrangidos pela Mata Atlântica. Nos 278 pontos monitorados, foram feitas 2.066 análises de indicadores internacionais que integram o Índice de Qualidade da Água (IQA), composto por 16 parâmetros físicos, químicos e biológicos na metodologia desenvolvida pela SOS Mata Atlântica.

A SOS Mata Atlântica considera que houve poucos avanços na gestão da água dos rios da bacia. Com o relatório deste ano, foi possível mensurar, pela primeira vez, a evolução dos indicadores de qualidade da água em todos os 17 estados abrangidos pela Mata Atlântica, comparando com o ciclo de monitoramento anterior, no ano passado, quando foram coletadas amostras em 236 pontos. 

Fonte: Jornal Estado de Minas Pedro Lovisi
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Jovens de Juazeiro e Petrolina realizam ato na segunda (25) em busca de emprego, grupo se inspira na atitude de Maryane

Inspirados na atitude de Maryane Nascimento que conseguiu uma vaga de emprego após expor um cartaz no centro de Juazeiro durante a quarta-feira de cinzas e assim garantir uma vaga com carteira assinada na empresa Pará Madeiras, dezenas de jovens farão na segunda-feira (25), um ato semelhante em busca de emprego. 

Em Juazeiro o ato terá concentração na Praça da Catedral a partir das 13hs. No lado esquerdo do rio São Francisco, em Petrolina o grupo fará a ação também às 13hs na Praça da Igreja Catedral.

O ato é denominado "Cartazes Escritos Juazeiro e Petrolina", grupo criado na rede social que já conta com quase 200 participantes. A proposta surgiu com amigas e amigos desempregados que resolveram através da rede social criar um grupo e buscar emprego e trocar idéias.

A proposta de acordo com Itala Nadir, desempregada há 1 ano é sensibilizar o empresariado local e também chamar a atenção das autoridades e políticos que precisam garantir vagas de empregos para os jovens. Itala tem o segundo grau completo e conta que a idéia do ato foi encorajado pela recente atitude de Maryane. 

"Ela nos empoderou mais ainda com a atitude positiva. Antes as pessoas tinham vergonha de mostrar o sentimento de aflição e medo do desemprego e então nosso grupo resolveu ir as ruas e pedir emprego e mostrar a situação que precisa melhorar", diz Itala.

Dados do IBGE revelam o impacto maior do desemprego atinge a população mais jovem. “Hoje em dia não está fácil para ninguém arranjar emprego. Ainda mais para o jovem que não tem experiência nenhuma. Isto tem que mudar", avalia Itala.

O otimismo e a determinação fizeram a diferença para a Maryane e temos certeza que a partir de segunda mudará o rumo da história também para nós", finalizou Itala.

Na sexta-feira (22) o tema desemprego foi um dos assuntos do Programa da TV Globo com Fátima Bernardes. Ela  recebeu a jovem Maryane, nascida em Juazeiro, Bahia que fez muito sucesso na internet com uma imagem em que ela aparece com um cartaz escrito: "Estou precisando de emprego. Você poderia me ajudar?". Cansada de viver sem uma resposta de trabalho, Maryane resolveu ter essa atitude para ver se conseguia ter sua carteira assinada. 

Após contar sua história, Maryane se emocionou no palco do programa, durante a apresentação do cantor Xande de Pilares, que interpretou a música Clareou Gratidão. Maryane foi elogiada pela atitude em busca de dignidade e coragem, determinação. O psicologo Rossandro Klingey avaliou o ato da jovem diante dos desafios impostos com a falta de emprego.

"Nunca trabalhei com carteira assinada. Na verdade, as responsabilidades começaram a cobrar e tive que correr atrás, ainda mais quando se tem um filho. Só os bicos não resolvem."

Foi então que, após ver imagem semelhante na internet, ela foi para um sinal de Juazeiro (BA) e ficou segurando o cartaz por cinco horas. A curiosa atitude deu certo! A jovem foi procurada por empresas, ainda no dia e, segundo ela, apareceu mais de 400 oportunidades.

"Escolhi um lugar bem estratégico. Meus pais e irmãs estavam viajando na hora. Escolhi não falar pra ninguém para dar certo. Acredito que a opinião das pessoas podem influenciar, deixar você fraco e forte ao mesmo tempo. Fiquei no sinal por cinco horas e, ainda no local, meu telefone começou a tocar. Em casa tocou muito mais, peguei um caderno e anotei os nomes das empresas, contei 473 ofertas de emprego".

A jovem não só teve a carteira assinada pela Pará Madeiras, como ainda arrumou emprego para a irmã e a amiga. Maryane está servindo de inspiração para outras pessoas. Por essa razão um grupo de mulheres de Juazeiro vão se reunir numa praça para também pedir emprego com um cartaz.
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Maryane participa do programa rede nacional e recebe elogios em busca da dignidade trabalhista

Um dos assuntos abordados pelo Encontro nesta sexta, 22/3, foi o desemprego que afeta milhões de brasileiros. Fátima Bernardes recebeu a jovem Maryane, nascida em Juazeiro, Bahia que fez muito sucesso na internet com uma imagem em que ela aparece com um cartaz escrito: "Estou precisando de emprego. Você poderia me ajudar?". Cansada de viver sem uma resposta de trabalho, Maryane resolveu ter essa atitude para ver se conseguia ter sua carteira assinada.

Após contar sua história, Maryane se emocionou no palco do programa, durante a apresentação do cantor Xande de Pilares, que interpretou a música Clareou Gratidão

"Nunca trabalhei com carteira assinada. Na verdade, as responsabilidades começaram a cobrar e tive que correr atrás, ainda mais quando se tem um filho. Só os bicos não resolvem."

Foi então que, após ver imagem semelhante na internet, ela foi para um sinal de Juazeiro (BA) e ficou segurando o cartaz por cinco horas. A curiosa atitude deu certo! A jovem foi procurada por empresas, ainda no dia e, segundo ela, apareceu mais de 400 oportunidades.

"Escolhi um lugar bem estratégico. Meus pais e irmãs estavam viajando na hora. Escolhi não falar pra ninguém para dar certo. Acredito que a opinião das pessoas podem influenciar, deixar você fraco e forte ao mesmo tempo. Fiquei no sinal por cinco horas e, ainda no local, meu telefone começou a tocar. Em casa tocou muito mais, peguei um caderno e anotei os nomes das empresas, contei 473 ofertas de emprego".

A jovem não só teve a carteira assinada pela Pará Madeiras, como ainda arrumou emprego para a irmã e a amiga. Maryane está servindo de inspiração para outras pessoas. Um grupo de mulheres de Juazeiro vão se reunir numa praça para também pedir emprego com um cartaz.

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Laurus: o derramamento de um eu em memórias – passado e presente em diálogo

Diz a sabedoria universal que o homem se faz completo quando dá existência a um filho, planta uma árvore e produz um livro. Coerente a asserção, pois aí está o ideal de semente, e, portanto, de perpetuação. Certamente, o filho, a árvore, o livro sobrevivem ao tempo e seguem suas multiplicações.  
      
Recorri ao Dicionário Latino-Português de Airto Coelin Montagner e Amós Coelho da Silva – meus ex-professores. O primeiro, muito próximo, amigo, e hoje, compadre. Tempos da velha Universidade do Estado do Rio de Janeiro – e lá o verbete está vivo, possante, imponente: Laurus. Loureiro. Louro. Coroa de flores. Triunfo. Vitória. 

Loureiro é árvore forte, vital, milenar, arraigada ao solo, firme, majestosa. Da simplicidade de suas folhagens procede a tradição do coroar atribuído aos gregos. Atletas das mais variegadas modalidades, fortes, vencedores, se deixavam aureolar de louro.

Laurus, “filho” das entranhas poéticas de Clarissa Loureiro, tem sustentação na busca pela origem, pela matriz, no sentido mesmo da investigação do “quem sou”, para a continuidade, a afirmação, o enraizamento dos Loureiro, na ânsia do não se perder. A ascendência, o tronco familiar, o passado lá estão como perguntas não somente para encontrar a resposta, mas para encontrá-la e mantê-la. Mantê-la, e não preservá-la, pois preservar denota o que se estar a perder. Constata-se na narrativa a procura pela perenidade que se confirma no ancestral. Prenhe do simbólico, o romance transita por culturas como a grega, a oriental, a judaico-cristã e a brasileira, com incursões em suas mitologias como representação do buscar e do guardar.  

Mircea Eliade assevera: “Toda história mítica que relata a origem de alguma coisa pressupõe e prolonga a cosmogonia. Do ponto de vista da estrutura, os mitos de origem homologam-se ao mito cosmogônico” (p. 25). A cosmogonia tanto explicita a possível busca do universo, do Cosmo e da nossa origem no mundo, naquele sentido mais abrangente, como de nosso universo particular, de nossa família, de nossa casa. Buscar a origem particular é sair à nossa busca, nosso enraizamento. É nesse enraizamento que estão a estrutura, a sustentação, o profundo reconhecimento de nós mesmos. 

Em seu Laurus, Clarissa, esta busca se dá em:
A Casa Grande está começando a acordar com suas vozes e hábitos. E eu e Kanã finalmente nos aproximamos dela num alvorecer suplicado pelos ancestrais Loureiro. Dentro do silêncio de uma terra envelhecida pelo esquecimento, as vozes começam a se misturar dentro de mim. E uma pluma começa a sair vagarosamente de minhas asas, fundindo-se às folhas secas e amareladas que se dispersam ao vento, quando meus pés tocam pela primeira vez o chão sujo daquela varanda da Casa Grande (Laurus, p. 21-22).

Na verdade, com o acordar da casa grande, para a qual se volta não por um caminho, mas por caminhos, há um despertamento das personagens de sono da perda, do esquecimento, que agora se fazem procura em súplica pelos ancestrais. As vozes que se misturam no dentro da personagem são às de outro tempo, àquele de antanho que grita no homem. Voz que é a do passado, mas também do presente. 

Uma voz que grita por e para se guardar memória e outra que grita, apela em nós, para que façamos isto: procurar e guardar, de fato, a memória. Tocar o chão da casa grande é tocar a grande casa que devemos arrastar conosco: nossa ancestralidade que justifica quem somos hoje e até o que seremos. O chão sujo daquela varanda é a marca que não deve apagar. É a impregnação, a marca, a memória.

Kanã, para alguns, bobo, para outros, um alienado, no entanto, tio amado para a personagem que com ele investe na procura, de início representa marcas que não somente remetem à vida quanto ao tempo. Emblemáticas marcas que se dão, a meu ver, por dois vieses, um a reverberar a vida, o outro, o tempo pretérito a que não se deve olvidar:

Atrás dele, o céu desenhava de vermelho e cinza uma coroa de louros, que pousava delicadamente sobre seus cabelos. Baixei os olhos, ainda tonto de tanta cor, e sussurrei: “Por que?”. Ele sorriu com a alegria de uma notícia dada entre crianças: “Sua avó quer” (Laurus, p. 20)

O amálgama vermelho-cinza dá as pistas, com o vermelho a lembrar a vida em seus agoras. O cinza leva ao passado que não apenas o traz, mas referenda a origem. O passado, com apelo na afirmação familiar, traz o tio, (descendência), que se sustenta na avó (ascendência), para a resposta precisa à indagação de quem não continha a gargalhada: Sua avó quer. Neste Sua avó quer está o grito do passado para o presente: guarde. 

O mar, arquétipo de ambientação litorânea, não necessariamente representa a cidade grande, mas quase sempre, a simbologia do moderno, do avanço, do mais contíguo à civilização urbana. O açude, diametralmente oposto, é modelo do interiorano, do afastado, mas pertencente, a uma civilização, a rural. Em carro antigo, partem ao interior, vão para dentro Kanã e o outro.

 O deslocamento do eu de fora (mar) para o eu de dentro (açude), só podia se revelar no paradoxal carro antigo a conduzir os novos ao velho (tradição). A busca por este interior, por este dentro se faz na simbologia do carro antigo e naquela do afastado para o distante: “Entre o mar e o açude, há um universo de cores inusitadas. O carro antigo se deixa levar estrada afora como um barco carregado pela brisa” (p. 21). O carro antigo, moto contínuo, não estagna.

Narrativa bakhtiniana, naquele sentido de que o romance evolui, Laurus pode se enquadrar ainda naquilo a que nos anos de 1970, o francês Serge Doubrovski cunhou de autoficção, lançando mão da estratégia autoficcional baseada na construção polifônica de vozes e nas diferentes perspectivas narrativas (AZEVEDO, 2008, p. 37).

Em Laurus há essa polifonia de vozes, por meio da qual havemos de constatar, tanto o presente da narrativa quanto aquilo que resulta procura do passado por vários ângulos de tempo e espaço: o curral, as botas de Hermes a batucar a cantiga das mulheres com bacias à cabeça, a estrada, pela qual se vai e vem, a casa grande, sua varanda, a figura da avó, (marca de outros tempo e espaço), o velho automóvel, com seus passageiros joviais (outra perspectiva do tempo), como busca por autoconhecimento. 

O contar, no entanto, no romance novo de Clarissa Loureiro, pelo viés do auto-olhar, por mais verdadeiro, é fingimento pessoano, uma vez que aquilo que achamos que somos, não somos, pois nos falta, como nos diz Doubrovski. E nos falta muito. Fingimos a dor, mas esta vai além de nós, fingimos a alegria ou a tristeza, mas estas vão além de nós. 

Serge Doubrovski, citado por (Laouyen, s. d) afirma que autoficção inscreve-se na fenda aberta pela constatação de que todo contar de si, reminiscência ou não, é ficcionalizante, e que todo desejo de ser sincero é uma fraude: “eu me falto, ao longo de mim”, reforça o romancista francês. O desejo de ser sincero é uma fraude não no sentido daquilo que não é verdadeiro, mas naquilo que não completamos, pois não somos completos ao longo de nossa vida. Há muito de nós do complexo de Dédalo, já que criamos nosso labirinto, nos perdemos nele, mas o desafiamos ao criar asas à fuga, e de novo, nos perder no voo. Não nos completamos, precisamos fingir e havemos de fazê-lo para não enlouquecer. 

Matutemos no eu biográfico para percebermos como temos de fingir: 
A autoficção é entendida, então, como um apagamento do eu biográfico, capaz de se constituir apenas nos deslizamentos de seu próprio esforço por contar-se como um eu, por meio da experiência de produzir-se textualmente. Eu descentralizado, eu em falta que preenche os vazios do semioculto com as sinceridades forjadas que escreve (AZEVEDO, p. 36).

Pensemos ainda com Azevedo, que anota:
Aqui, arriscaríamos a dizer que a instabilidade mesma do desmascaramento já provado pela autobiografia é desdobrada na reconciliação com a figura do autor que superou o paradigma da morte: do sujeito, do autor. Nesse sentido, se a desconstrução da ilusão referencial foi necessária, agora podemos fazer as pazes não para restabelecer qualquer centro orientador, mas para investir no jogo de continuar representando (AZEVEDO, p. 38).

Em seu Laurus Clarissa Loureiro/personagem representa muito bem, porque a representação é própria da arte, pela poesia, pelo romance, pelo conto. O autor se mascara por trás do narrador, que aparentemente nos confunde, mas ao leitor atento cabe separar, perceber, observar as entrelinhas, entrever as malícias do texto, limpar “os óculos”, como aconselha o narrador de Brás Cubas, ele próprio. Nas palavras do narrador de Laurus, a constatação: “A serenidade é a máscara dos sábios para ocultar suas dores mais profundas” (p. 29). 

As vozes de um tempo, “daquele tempo, como escrevera Manuel Bandeira, no seu “Profundamente”, estão no ensurdecido silêncio da terra-mãe, daquela que guarda a origem, a ancestralidade: terra envelhecida pelo esquecimento (Laurus, p. 21) e que se vai resgatar, porque vozes assombram, mas assomam de um dentro, de um eu que se avizinha das memórias para buscá-las. Repare-se no que diz o narrador quanto à memória rediviva: “Vó, [...] Lembre-se que eu não sou eu. Sou eu dentro de você. A minha existência está filtrada na sua. Minhas lembranças estão presentificadas nas suas” (pp. 36-37). 

Para quase encerrar, lembremos Carlos Drummond de Andrade com seus “Mortos de sobrecasaca” que dizem bem de Laurus e suas reminiscência, e mais, da vida que há nisto tudo, apesar do passado, apesar da morte, embora o tempo, pois a vida arde quando as memórias vêm á tona. E vêm. Vamos ao poeta de Itabira:
Havia a um canto da sala um álbum de fotografias intoleráveis,
alto de muitos metros e velho de infinitos minutos,
em que todos se debruçavam
na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca.
Um verme principiou a roer as sobrecasacas indiferentes
e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos retratos.
Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava
que rebentava daquelas páginas (Antologia poética, 268).
Os mitos dos primórdios em Laurus “rebentam” como em Manuel Bandeira no seu “Profundamente”:
[...]

Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
- Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente (Estrela da vida inteira, p. 111).

E para encerrar, de verdade, ouso afirmar, Clarissa, que Laurus é, em boa e certa medida, todos nós, leitores, no instante mesmo em que há a identificação leitor-obra. Lançada ao mundo a obra passa a ser também o leitor e este a completa em seus vazios, brechas, entrelinhas. Lamento por sua perda-ganho. 

Não estava errado Gustave Flaubert quando diante de seus juízes-algozes, moralistas. – que o acusavam de ofender a moral e a religião, com sua Emma Bovary –, ao responder altaneiro, sem medo, com a inteligência dos sábios e até a fingir sobre quem lhe inspirara o romance: “Emma Bovary sou eu”. Defendeu-se, foi absolvido pelo tribunal puritano da de sua época. Ganhou a liberdade. 

Eis por que Laurus, em uma de suas ilustrações, é representado com asas, senhora Clarissa Loureiro. Minha senhora Clarissa Loureiro.

Fonte: Professor Simão Pedro dos Santos Petrolina-PE, 16 de março de 2019.

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HILDEBERTO BARBOSA FILHO LANÇA LIVRO E REFLETE SOBRE OBRA POÉTICA

Num espaço onde circulam todas as tribos — o Bar Baiano, nos Bancários — o poeta Hildeberto Barbosa Filho lança seu novo livro de poesias, As Palavras Me Escrevem. O jornalista Suenio Campos de Lucena, da Bahia, também estará em cena, lançando seu primeiro romance: Histórias de Júlia. 

“Sempre gostei de lançar meus livros em bares ou livrarias. Não gosto de ambientes solenes e formais. Detesto mesmo toda convenção social. Gosto de beber, da boemia, de andar de sandálias, roupas velhas e folgadas. Sou contra gravata, paletó e outras baboseiras com que muitos se comprazem. Bar, para mi, é sempre ambiente cultural”, anuncia o poeta.

Os vocábulos que vestem o poeta Hildeberto, não nascem do espanto, sequer da agonia, eles o acordam todos os dias. “Poema é perplexidade maturada no corpo da linguagem. Cada palavra, um estilhaço de sangue palpitando por entre as vértebras da vida”.

Não é hoje que signos do bem e do mal permeiam a poesia de Hildeberto Barbosa Filho. Não que os temas traduzam ou denunciem hecatombes, ou o ataque rotineiro à hipocrisia dos salões. A produção atual avança nesse sentido de desnudar concebida no exato momento em que é plasmada.

“Não concebo o bem sem o mal, e vice e versa, numa dialética da qual a poesia se apropria para gerar os cardumes do poema. Tudo que existe, existe porque existe seu avesso dentro dele. Com o poema não é diferente”, reflete.

‘TODO POEMA É ERÓTICO’: A mulher, os prazeres, a morte, pássaros e cavalos estão sempre inseridos nos seus versos. “São motivos recorrentes em minha trajetória poética, desde A Geometria da Paixão (1986)”. Em As Palavras Me Escrevem, Hildeberto apresenta 55 poemas. “Os poemas não têm título. Aliás, penso o livro como um poema só. Um macrotexto, ou seja, uma pequena sinfonia em que os motivos se tocam, ora num compasso ascendente, ora numa cadência em declínio. Seus atores principais são as palavras, a morte e o amor”, avisa.

O abismo do idioma tem feito do poeta um prisioneiro do amor que ata e desata. “Sou poeta de ímpetos. Grosso modo, o poema me chega nas ocasiões mais diversas. Chega como um relâmpago enfurecido e me vejo, de repente, mergulhado no transe mágico da poesia. É assim que eles brotam. No entanto, também experimento o momento racional. Trabalho muito a linguagem depois, em busca da forma estética, o que imprime a verdade e o valor do poema”.

Afinal, qual é a novidade desse novo livro de Hidelberto? “O poema, em sendo bom poema, é novidade que é sempre novidade, dizia Ezra Pound. Penso, no entanto, que, ao longo desses 50 anos de exercício poético, venho como que escrevendo e reescrevendo o mesmo poema, uma espécie de arquipoema em que os temas, tons e timbres circulam na mesma esfera significativa em variações diferentes, porém, disciplinadas pela mesma tensão estética e pela mesma pavimentação estilística”, responde.

Hildeberto também reflete sobre o quanto há dele em seus poemas, o quanto se desnuda neles. “Um desnudar-se enviesado, oblíquo, ambivalente. Acredito que no poema, eu sou eu, sim, mas sobretudo sou o outro, ou os outros que me habitam na luta feroz da sensibilidade e da imaginação. Se o poema, em certo sentido, é autobiografia, é também, num sentido, diria mais agudo, pura fantasia”.

Nunca pensou em escrever poemas eróticos? “Todo poema, para mim, é erótico”, afirma. “Octavio Paz diz que a poesia é a erotização da linguagem. Por outro lado, penso que o ato amoroso é a verbalização poética por excelência”.

Julia. Suênio Campos de Lucena, que também lança livro hoje, no Bar do Baiano, pela mesma Mondrongo, é jornalista e professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). A história de seu romance é centrada em uma menina de 17 anos apaixonada por livros, mas que tem um choque de realidade quando flagra o prefeito de sua cidadezinha comtevendo assédio contra a própria filha, que é sua amiga.

A trama se passa nos anos 1980 e faz muitas referências a livros e filmes. Ela tenta ajudar a amiga através de uma carta que segue um modelo que está em A Cor Púpura, por exemplo. Mas as coisas não saem como o esperado.

Fonte: Kubitschek Pinheiro Correio da Paraiba
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