GONZAGUINHA 80 ANOS. POR PAULO VANDERLEY

Gonzaguinha chega aos 80 anos neste 22 de setembro. Um dos artistas mais intensos da nossa música. Transformou sentimento em poesia, inquietude em contestação. Filho do Rei do Baião, sim. Mas também filho do morro, da luta, da palavra certeira, do afeto profundo. Viveu com coragem. Cantou o Brasil com firmeza e doçura. Fez da música um jeito de cuidar da gente.

Lembro dele chegando lá em casa, sentando no alpendre para conversar com painho sobre o sonho que carregava como missão: inaugurar o Museu do Gonzagão, em 1989. Eu tinha 9 anos. A gente morava em Exu, cidade natal de Gonzagão, numa época em que a infância seguia o destino do meu pai, gerente do Banco do Brasil.

Depois da partida de seu Luiz, Gonzaguinha vinha sempre a Exu. Se reunia com a comunidade, com a Maçonaria, com a prefeitura. Era toda uma articulação pra tocar o projeto pra frente. E de vez em quando aparecia lá em casa, ou encontrava meu pai no BB, pra conversar, ouvir, construir junto.

Até hoje mainha comenta: “quem me dera se naquele tempo já existisse celular”. Teríamos uma ruma de retratos.

Meses depois, na manhã de 13 de dezembro de 89, o museu foi inaugurado no Parque Aza Branca, ao lado da casa de seu Luiz. Na véspera teve forró arretado, com Dominguinhos, Elba, Fagner, Joquinha, Waldonys menino. O parabéns anunciado por Gonzaguinha foi emocionante. E o único registro em vídeo desse momento foi feito com a filmadora do meu pai, Paulo Marconi, que também gravou a inauguração.

Em 91 ele se foi. Foi muito duro pra todos nós. Cresci mergulhado nas suas canções. Na adolescência, trancado no quarto, ouvia suas lições de cidadania, coragem e afeto.

Em 1997, criei o site gonzaguinha.com.br. Um dos primeiros do Brasil dedicados a um artista. Feito no meu quarto, com todo carinho. Quase 30 anos depois, continuamos cuidando de uma influência que ajudou a formar tantos brasileiros.

Hoje seguimos trabalhando no livro que ele tanto merece, ajudando a manter viva sua memória.

“Eu acredito é na rapaziada, que segue em frente e segura o rojão.”

É mais que lembrar. É reconhecer o que se tornou parte do que sou.

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