O CEGO RABEQUEIRO IN-ÃN-IA

Ele não era dali, mas já mantinha encravada a sua presença na imagem da feira de Ouricuri como a aparente ausência dos olhos na profundidade da sua cavidade ocular. O semblante, os trejeitos e a voz dele já nos eram familiares, como os cheiros de macaúba, coco catolé, pequi, jatobá... como a vibração do calor ardente nos corpos e nas mentes; o aceso burburinho e o vai e vem de gente, interesses, euforias e frustrações – efervescências que movem as feiras de rua.

Os pés de In-ãn-ia já conheciam cada pedra de calçamento daquelas ruas. Já pertenciam, aqueles ares, à intimidade dos seus sentidos; sabia estar em um dos terreiros da sua casa – a estrada musical do Sertão –, do seu universo existencial. Ali, onde ganhou a alcunha que tanto o incomodava, também se sentia distinguido – era conhecido e a sua peleja musical tinha uma inconfundível ressonância.

Logo cedo chegava e se aboletava, como tantas outras daquelas já esperadas e sempre festejadas – especialmente pela meninada – atrações do dia da feira, invariavelmente na sombra da castanhola da esquina de Seu Teófilo Lins com a bodega de Babá, e das calçadas desta até o Grupo Telésforo Siqueira e do açougue municipal. 

Ali, pairava a energia de uma envelhecida e vigorosa corrente de arte curtida e entrelaçada numa travessia que vem de tempos primitivos. In-ãn-ia aparecia como se advindo do abandono de um mundo entranhado muito pra lá das encostas da Serra do Araripe. 

Vinha como que através de elos sanguíneos de um povo em cujos costumes os nobres se vestem com andrajos e perambulam, com passos errantes e melodias incisivas, pelas ondas viscerais da sua música ancestral. 

Nos primeiros tempos, conduzia às costas um surrado violão e, se deslocando de um ponto para outro e, quando da chegada ou da saída, não era perdoado pelos gritos de meninos e gracejadores em geral, sempre de plantão na porta de bares, bodegas e do açougue; em volta das bancas ou numa esquina qualquer: 

– In-ãn-ia, o violão caiu! ...

A partir daí desencadeava-se uma desaforada reação por parte daquele que trazia uma renhida disposição para a autodefesa – comum entre os cegos de rua – e, no seu caso, ampliada pela sensibilidade de artista, resultava num rosário de resmungos de irritação; o que levava os seus fustigadores a um êxtase de sadismo.

In-ãn-ia foi, como muitos outros, um músico de rua no tempo em que estes eram confundidos com e tratados como mendigos. Diferente dos pedintes, que apelavam para a misericórdia dos transeuntes, em função do estado de miséria e ou de deficiências físicas em que se encontravam, In-ãn-ia e seus pares invocavam a paga da assistência que fazia roda em volta deles e apreciava as suas atávicas e arrebatadoras apresentações. 

Do final dos anos 1960 para o início dos anos 70, aquele nosso carismático vate trazia no seu repertório além das cantigas, versos e temas instrumentais da nossa tradição ancestral; canções que foram ou eram sucessos de rádio, naquele período; entre elas, várias guarânias como Índia e Cana Verde – Abra a porta ou a janela – gravada por Tonico e Tinoco (1958). Como fruto da dinâmica cultural, algumas dessas canções ou temas musicais, que foram adaptadas e gravadas, já tinham sido colhidas no manancial da tradição popular – como é o caso da célebre “Asa Branca”.

Pelas feiras do Sertão, numa mambembe peregrinação, vinha uma legião de pedintes, músicos, cordelistas, repentistas e outros artistas itinerantes; entre eles os cegos rabequeiros como In-ãn-ia e o Cego Oliveira. Na nossa região seguiam o espontâneo roteiro do que chamamos de um “circuito de mendicância”, que ia de Juazeiro do Norte (CE) – “a Meca dos pedintes do Sertão” – `a Juazeiro da Bahia; num ciclo que envolvia parte do Cariri cearense, do Araripe pernambucano e do submédio São Francisco.

Trazia, o nosso precioso menestrel, inconfundíveis traços fisionômicos, tendências existenciais – como a necessidade de viver com liberdade de espaço e movimentos e a essência poético-musical dos Índios Cariris; que viveram e sacralizaram, com seus místicos passos, o solo do mesmo território.     

Muito do que In-ãn-ia arrastava no bojo essencial da sua existência ficou nos traços e nos teores mestiços das imagens e dos valores que se fizeram determinantes nas nossas vidas.

Maurício Cordeiro Ferreira. 

*Não havendo grafia exata para a pronúncia da alcunha – que imaginamos ter a sua origem no nome de Inhana, integrante da dupla Cascatinha e Inhana – cantores do rádio e do disco, de grande sucesso nacional nos anos 1950\60 –, aplicamos esta, por acharmos que seja a que mais se aproxima.

PS: – Um dado sugestivo é que o nosso In-ãn-ia tinha no seu repertório várias guarânias; o mesmo gênero que marcou a carreira da dupla Cascatinha e Inhana. 

– Parte substancial da memória e das reflexões sobre In-ãn-ia, que desaguaram neste texto, são reflexos das constantes conversas que mantenho com o amigo e poeta ouricuriense Virgílio Siqueira.

Texto: Mauricio Ferreira-diretor fundado do Sebo Rebuliço

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CAMPANHA EU VIRO CARRANCA PARA DEFENDER O VELHO CHICO É LANÇADA DURANTE COLETIVA DE IMPRENSA

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Foi lançada ontem (1), a campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico”. O objetivo é conscientizar a população sobre a preservação do rio e mobilizar todos pelo uso responsável dos seus recursos hídricos.

O jornalista Ney Vital, representou a REDEGN, e questionou sobre os riscos que o Rio São Francisco sofre com a proposta do Governo Federal de instalar uma Usina Nuclear com o uso das águas do Velho Chico, na localidade de Itacuruba, Pernambuco.

O grande número de esgotos em Juazeiro e Petrolina, jogados diretamente no Velho Chico também teve destaque durante a coletiva de imprensa.

“Não temos o poder de fiscalizar. Mas todo cidadão pode denunciar as prefeituras este crime que e jogar esgoto diretamento no Rio São Francisco. Em relação a instalação da Usina Nuclear é um risco sim e real. Enquanto na Alemanha estão excluindo essa ideia, aqui no Brasil querem investir. Nosso país não possui estrutura para isso e corremos grandes riscos com a possível implantação da usina nuclear. Precisaremos nos aprofundar futuramente sobre esse assunto”.

Este ano de 2021, com o mote VELHO CHICO PARA TODOS, a campanha tem como foco os usos múltiplos do Velho Chico e da necessidade de se concretizar o Pacto das Águas na bacia do São Francisco. 

“As águas do rio São Francisco, bem como seus reservatórios, estão vocacionadas para os usos múltiplos, e não só para a geração de energia. Queremos sinalizar, com essa campanha, que todos aqueles que se beneficiam das águas sanfranciscanas devem ter compromisso com a sua preservação e com a saúde do seu ecossistema” destaca o presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda.

Os usos múltiplos abrangem abastecimento público, agricultura, indústria, geração de energia, navegação, pesca e aquicultura, turismo e recreação, entre outros. A diversidade de setores usuários provoca uma série de impactos – positivos e negativos – entre as diferentes atividades, o que resulta em interações complexas.

Por conta de todas essas diferenças, o múltiplo uso não é uma questão consensual. Divergências e conflitos avançam à medida que aumentam a demanda e a escassez de recursos. O único consenso é que se trata de um tema que merece ser amplamente discutido pelos diferentes setores e a sociedade como um todo. Por isso, o CBH São Francisco vem elaborando estudos e realizando discussões para a concretização de um Pacto das Águas para a bacia do Velho Chico. O Pacto das Águas deve prever ações coordenadas que levem à distribuição harmônica das águas aos seus usos múltiplos, evitando conflitos e garantindo água de qualidade e em quantidade para todos.

O CBHSF continua seguindo as recomendações das autoridades de saúde, e para evitar aglomeração de pessoas, utilizará a mídia para a disseminação da campanha, por meio de podcasts, spots para rádio, VTs para veiculação em televisão e na web, além das redes sociais.

“Este é um momento de conscientização geral para defender o rio de forma muito concreta, lutando pela restauração de suas matas ciliares, pela recarga de aquíferos, pela defesa e proteção das nascentes, contra o processo de contaminação de suas águas por agrotóxicos e pelo lançamento de esgotos“, explica Anivaldo, o presidente do CBHSF. E completa: “Devemos tirar de fato da gaveta o programa de revitalização e mobilizar todos para que os instrumentos de gestão sejam universalizados na bacia do São Francisco.“

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30 MIL ALEVINOS SÃO SOLTOS NO RIO SÃO FRANCISCO, EM HOMENAGEM À SEMANA DO MEIO AMBIENTE

O  rio São Francisco ganhou novos habitantes. Na manhã desta quarta-feira (2), 30 mil alevinos de espécies nativas foram soltos na Orla de Petrolina, no Sertão de Pernambuco, durante uma ação realizada pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), em homenagem à semana do meio ambiente, que começou no último dia 31 e segue até a sexta-feira (5).

A Codevasf realiza o peixamento durante todo o ano. Na ação especial desta quarta-feira, que contou com a presença de representantes da prefeitura e do exército, peixes como Piau, Curimatã e Pacamã foram soltos nas águas do Velho Chico. Esta atividade traz equilíbrio e renovação para o São Francisco. “É uma forma de mostra o cuidado que nós temos com esse tão importante Rio São Francisco”, afirma Aurivalter Cordeiro, superintendente regional da Codevasf.

As três espécies liberadas no rio são frutos de um trabalho de pesquisa da Codevasf, no Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura, que fica no Bebedouro e produz 5 milhões de alevinos. Eles são criados em viveiros, com controle de alimento, temperatura e qualidade da água.

Com o tratamento, os peixes chegam ao Velho Chico com mais resistência para encarar obstáculos como correnteza, contato com outras espécies e a degradação humana. A expectativa é que 90% dos peixes liberados nesta quarta-feira alcancem a fase adulta.

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ORQUESTRA SINFÔNICA DA BAHIA APRESENTA NESTE MÊS DE JUNHO HOMENAGEM A DOMINGUINHOS

A Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA) apresenta neste mês de junho o São João Sinfônico virtual em homenagem a Dominguinhos e fará um especial de memórias juninas com Caetano Veloso.

Pelo quinto ano consecutivo a orquestra integra a esta data tão importante no calendário nordestino e pelo segundo ano, faz o São João Sinfônico na modalidade online.

A edição virtual vai ao ar no canal da OSBA no YouTube, no dia 23 de junho, às 19h. O concerto junino da OSBA homenageia Dominguinhos, que em 2021 completaria 80 anos.

O repertório conta com os grandes sucessos do compositor e instrumentista, "Abri a porta", "De volta pro aconchego" e "Eu só quero um xodó", com participação especial do cantor pernambucano Lenine e da cantora baiana Aiace e dos músicos Mestrinho e Marcelo Caldi.

No dia 24 de junho, a OSBA realiza o vídeo musical "Memórias Juninas", com participação especial de Caetano Veloso, interpretando uma versão junto com músicos da orquestra de "Genipapo Absoluto", música que resgata lembranças que o compositor tem do São João na Bahia, a começar pelo título, que remete ao licor de jenipapo tão tradicional na Bahia.

Este vídeo especial terá ainda participação do público, que será convocado nas redes sociais da OSBA a compartilhar lembranças por escrito, que integrarão o material final que vai ao ar às 20h, também no canal de Youtube da Sinfônica da Bahia.

SERVIÇO: São João Sinfônico virtual em homenagem a Dominguinhos - participação de Lenine, Aiace e dos músicos Mestrinho e Marcelo Caldi.

Data: 23 de junho (quarta-feira) Horário: 19h Transmissão: canal da OSBA no YouTube

Vídeo musical "Memórias Juninas", com participação especial de Caetano Veloso

Data: 24 de junho (quinta-feira) Horário: 20h

Transmissão: canal da OSBA no YouTube

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FESTIVAL DE ECONOMIA SOLIDÁRIA SÃO JOÃO DA MINHA TERRA ACONTECE ENTRE OS DIAS 13 E 30 DE JUNHO

O Governo do Estado, por meio da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre),  realiza, entre os dias 13 e 30 de junho, a segunda edição do Festival de Economia Solidária São João da Minha Terra. O evento integra uma rede de agentes que atuam na economia solidária e agricultura familiar em 15 Territórios de Identidade da Bahia.

Realizado em formato virtual, o Festival agrega a diversidade de produtos de empreendimentos atendidos regionalmente pelas 13 unidades de Centros Públicos de Economia Solidária (Cesols), além de música, cultura, gastronomia e formações gratuitas em lives realizadas nas redes sociais. O evento é executado pela Associação Beneficente Josué de Castro e será exibido ao vivo nas redes sociais @economiasolidariaba.

O festival é uma alternativa de escoamento da produção dos empreendimentos econômicos solidários em meio à pandemia de Covid-19 que há mais de um ano afeta a população mundial. A iniciativa mostra a pujança desse importante setor produtivo na Bahia, que conta com o fomento da Setre, através de programas de capacitação, adoção de novas tecnologias e apoio à comercialização.

Entre os convidados, já estão confirmados os artistas Del Feliz e Zelito Miranda e as chefs de cozinha Cida Pescadora e Rosa Gonçalves.

Cesol Sertão do São Francisco- O Centro Público de Economia Solidária Sertão do São Francisco (Cesol-SSF) realiza assistência técnica para 128 empreendimentos de Economia Solidária e da Agricultura Familiar, em 10 cidades do território Sertão do São Francisco: Campo Alegre de Lourdes, Canudos, Casa Nova, Curaçá, Juazeiro, Pilão Arcado, Remanso, Sento Sé, Sobradinho e Uauá.

Esses empreendimentos recebem assistência técnica da equipe do CESOL, a partir do processo de qualificação dos produtos, análise das embalagens, rotulagens, marketing e publicidade digital e, principalmente, no apoio à comercialização, por meio da inclusão nos mercados convencionais, feiras e eventos realizados no território.

Licores, doces, queijos e artesanatos estão entre os produtos dos empreendimentos, atendidos pelo Cesol-SSF, que serão comercializados durante o festival de Economia Solidária São João da Minha Terra.

SERVIÇO

O QUÊ: Festival de Economia Solidária São João da Minha Terra – 2ª edição

QUANDO: 13 a 30 de junho

ONDE: redes sociais (@economiasolidariaba)

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RESPEITÁVEL PÚBLICO: POR ONDE ANDA O CIRCO EM TEMPOS DE COVID-19?

Na arquibancada seus olhos se encantavam com o equilíbrio do malabarista, a alegria do palhaço, que te arranca gargalhadas, a coragem do trapezista, a magia do mágico e do espetáculo. Mas, hoje a realidade é outra: são lonas guardadas e artistas circenses sem perspectivas de retorno.

Com a pandemia da Covid-19, esses circenses, que emocionam com sua arte, vivem uma crise financeira e precisam o tempo todo se reinventar para driblar a interrupção das atividades culturais como medida para conter a expansão do novo coronavírus, e sentem na pele a ausência do público.

"Nosso maior cachê é o público, o aplauso, o dinheiro faz parte disso tudo, mas nós estamos conseguindo sobreviver sem o dinheiro," comenta o produtor André Felipe, do Núcleo Itinerante Marcos Frota Show, que está localizado em Jacobina-Bahia.

Quem vive de Circo Itinerante, que circula entre cidades, sabe que tem que lidar com as incertezas e a necessidade de adaptação: morar em trailer, viajar constantemente, buscar a recepção das novas cidades, mas os artistas de circos não estão preparados para uma pandemia, que já matou mais de 460 mil pessoas no país. 

Em 30 de Julho do ano passado, a Fundação Nacional de Artes (FUNARTE), vinculada ao Ministério da Cidadania, realizou a pesquisa de Mapeamento dos Circos no Brasil, que identificou que 9.759 pessoas dependem das atividades provenientes do circo, abrangendo 651 unidades em todo o país. Cerca de 80% dos empreendimentos circenses estão concentrados no Sudeste (248) e Nordeste (271), e os 20% restantes nas demais regiões.

O Núcleo Itinerante Marcos Frota Show viajava pela Bahia a fim de realizar apresentações em 28 cidades. Mas foram realizadas em apenas duas,  Juazeiro e  Senhor do Bonfim. Foi quando chegaram em Jacobina e tiveram suas atividades interrompidas em decorrência da Pandemia da Covid-19. Surpreendidos, aportaram há 18 meses na cidade. Atualmente, cerca de 30 famílias dependem da atividade circense desse núcleo, e alguns até retornaram para suas cidades.

Com interrupção das atividades, foi necessário recorrer ao auxílio e políticas públicas para os artistas. A alternativa foi instituir a Lei 14.070/2020, Aldir Blanc, sendo decretado o repasse de R$ 3 bilhões para Municípios e Estados, posteriormente entregues aos artistas para uma renda emergencial, realização de eventos, manter instituições culturais e outras atividades.

Segundo o pesquisador e professor do curso de Teatro da Universidade do Estado da Bahia, Campus Senhor do Bonfim, José Benedito de Andrade, “a Lei Aldir Blanc apontou uma esperança e muitos artistas foram contemplados recebendo um auxílio. O recurso, no entanto, não foi suficiente para atender todos os artistas e linguagens”.

Desenvolvendo estudos sobre a atividade circense, o pesquisador comenta sobre os problemas de gestão entre Governo Federal, Estado e Prefeitura, com relação ao setor cultural, principalmente os profissionais circenses que estavam fora das suas cidades natais e não puderam retornar. Como são artistas itinerantes, as prefeituras devem atender demandas especificas, como, por exemplo, declarar os artistas como cidadãos em registo, para que recebam os auxílios destinados a eles. 

"É necessário construir políticas públicas que garantam com equidade a possibilidade dos itinerantes terem um registro específico, para que possa ser respeitada a sua condição e comprovada sua residência como indica o código civil Art. 72, que considera domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida", esclarece Benedito.

Em Jacobina-BA, os artistas circenses receberam a verba da Lei Aldir Blanc, através da mediação da Prefeitura, e que foi destinada à manutenção do circo, por haver um desgaste natural do material parado. Mas, não é o suficiente para manter todos os custos. O circo conseguiu também junto a administração do Município a disponibilização de um espaço para a instalação do picadeiro, reduzindo a despesa de infraestrutura.

ALTERNATIVAS: Além da beleza do espetáculo circense, há um custo que nem sempre é visto. Para erguer as lonas, o circo precisa pagar taxas de serviços de alvará, custear água, energia elétrica, anotação de responsabilidade técnica (ART), que obrigatoriamente precisa ser outorgado por um profissional de engenharia e entre outras licenças e burocracias que as cidades implementam. Também, precisa ter dinheiro para custear cachês dos artistas, equipe técnica e transporte dos materiais do circo.

Dessa forma, o auxílio é inferior às despesas que há, por isso, muitos artistas circenses foram buscar alternativas de emprego, como: fretes de mudanças, venda de produtos artesanais, biscoitos e doces. E, claro, receberam doações da população e de organizações religiosas.

O Núcleo Itinerante Marcos Frota Show buscou outras alternativas na cidade, os circenses passaram a prestar serviços em parceria com empresas locais. Venderam bolo de pote, salgadinhos, para sanar as necessidades pessoais.

Nesse período de Pandemia, é importante o alinhamento dos Órgãos Públicos para com a comunidade circense, pensando nas políticas públicas e reduzindo os danos. “ É preciso realizar algumas ações imediatas como: auxílio emergencial para alimentação, água, remédios se for o caso e infraestrutura como energia elétrica, água e esgoto para instalação dos banheiros. Conferir o público estudantil e matricular crianças e jovens em idade escolar, garantindo auxílio a merenda escolar e tecnologia para as aulas remotas", explica José Benedito.

Em Jacobina, o circo conseguiu apoio através de parcerias com colégios locais e têm todas as crianças e adolescentes matriculadas e estudando de forma remota.

É nesse cenário que as relações interpessoais fazem a diferença. Em Jacobina-BA, a comunidade circense teve um enorme acolhimento do público: "As pessoas receberam a gente de uma forma muito bacana, muito solidária, é gratificante", diz André Felipe. Além do apoio da prefeitura e negociações feitas com as empresas, as doações da população são constantes. O produtor admira a solidariedade das pessoas, pois a pandemia atinge a todos, mas ainda há esse olhar para com o outro.

O circo realizou um Festival Online, com oficinas de maquiagem artística e acrobacia com cama elástica, apresentação de espetáculo e palestra sobre a atividade circense no Brasil. No atual momento, se reinventam e buscam não deixar que a magia do espetáculo se perca. Eles desenvolveram um projeto de "Escolinha de Circo" para as crianças, e estão articulando com a prefeitura de Jacobina para colocar em prática a ação após retorno das atividades.

No momento, se preparam ansiosamente para o grande retorno e pensam no dia que possam se apresentar na cidade que tanto os acolheu.

O produtor do circo avalia que existe "uma história do Circo antes da Pandemia e outra pós Pandemia", e que ficará marcado na história dos artistas do segmento cultural, pela capacidade de adaptação. Ele também salienta a necessidade de que políticas públicas sejam feitas de forma coletiva e em diálogo com os artistas circenses de pequeno porte, que, nessa pandemia, sofrem mais consequências.

Reportagem especial de Mariana Brasileiro para Agência Multiciência  FONTE:  MULTICIÊNCIA  31 maio 2021  E-mail: maribrasileirom@gmail.com


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LUIZ CALDAS LANÇA ÁLBUM DE FORRÓ E RELEMBRA ENCONTROS COM LUIZ GONZAGA

"A sonoridade desse disco é original, é muito raiz", descreve Luiz Caldas, cantor e compositor baiano, sobre o álbum de forró Remelexo Bom, lançado nesta terça-feira (1º). Com dez canções autorais, o álbum conta com diversas participações, entre elas a do amigo Carlinhos Brown.

Para quem acha que o passo ao som do forró é o primeiro de Luiz Caldas, está enganado. Desde 2013, todo mês de junho, ele lança um álbum de forró. Todos os discos estão disponíveis no site do artista.

"Esse é o 11º disco de forró que eu gravo", destaca.

Contemplando o forró em uma versão mais tradicional e genuína, Luiz Caldas diz que não é fã dos "modismos" que fazem esse estilo musical e opina: "Tem certo tipo de música que não necessita de evolução, elas já são evoluídas ao ponto de serem únicas".

O cantor e compositor detalha que o disco de forró é uma forma de manter a originalidade do estilo musical, já que com o tempo, novos instrumentos e demais estilos estão sendo incorporados à música nordestina.

"É um cuidado também de poder manter intacta a raiz desse estilo, já que quando o comércio entra, ele consegue, muitas vezes, modificar tudo e isso serve para a música também. Então, o que é que eu fiz? Fiz um disco que é tradicionalmente acústico. Não tem baixo, não tem guitarra, não tem bateria", diz.

Luiz Caldas diz que esse disco foi gravado da mesma maneira que Luiz Gonzaga, o "Rei do Baião", gravava.

"Eu gravei como era antigamente, como seu Luiz [Gonzaga], que era com o regional, o mesmo grupo que tocava choro tocava forró. Então, era violão de 7 cordas, cavaquinho, instrumentos que as pessoas nem acham que existam no forró", conta.

Ainda sobre o xará, o artista aproveitou para relembrar um momento de gravação e descontração, no final dos anos 1980.

"Quando seu Luiz [Gonzaga] gravou comigo eu disse brincando: 'Olhe, todos os discos que eu fizer a partir de hoje vou sempre regravar uma música do senhor'. Aí ele olhou para mim, brincando: 'Rapaz, vai cuidar da sua vida e deixe a minha em paz'"

"O jeito que ele tinha, muito carinhoso, sempre brincalhão comigo, e meu deu bons conselhos e isso ficou em mim. Eu nunca cheguei para ninguém para dizer que sou forrozeiro, nem nada, porque eu já nasci com isso, com a coisa de gostar e respeitar muito [o forró]", conta.

Entre as lembranças das raízes do forró, Luiz Caldas conta que o estilo musical sempre esteve presente na vida dele e era bastante apreciado pelo seus pais.

"[O forró] Entrou na minha vida e ficou. Durante todo tempo que passei por bailes, eu toquei muito forró. Uma festa que nunca deixei de tocar, desde o tempo dos bailes. Quando eu comecei a gravar, de certa forma, a música que a gente usava no trio elétrico, ela é junina, que é o galope, um estilo que sempre foi gravado, não só por Luiz Gonzaga, Jackson [do Pandeiro] e por outros grandes. Já havia essa semelhança muito grande", explica.

Luiz Caldas ainda citou outro artista que, para ele, é referência do forró.

"Quando eu conheci seu Luiz Gonzaga, pra mim foi um sonho, porque depois eu comecei a conhecer outros grandes, como Zé Nilton. Pessoas que eu cheguei a conviver", relembra.

Participaram do novo álbum de trabalho, os sanfoneiros Marquinhos Café, Jussiê do Acordeon, Daniel Novaes e Theus Oliveira.

"Quatro grandes mestres que trabalharam comigo. São músicos muito bons. O São João sem sanfona, até pode rolar, mas que ela faz uma falta danada, faz. E esses quatro são mestres, então fica um disco bem dançante", diz.

Para gravar, Luiz diz que contou com a tecnologia. Em tempos de pandemia, não foi possível reunir os músicos, nem encontrar os amigos. Cada um fez sua gravação e o resultado ficou por conta da edição.

"A gente está vivendo um momento muito complicado. Eu estou gravando esses discos aqui no meu estúdio, como sempre gravei, e os outros músicos têm gravado em estúdios fora daqui. A gente tem que se cuidar. É um disco em que eu não usei os meus músicos que tocam na banda, são outros. Porque a gente teria que se encontrar em estúdio para ensaiar", explica.

Luiz Caldas também falou sobre a participação de Carlinhos Brown no disco de forró.

"A gente sempre está conversando e eu fiz participação em algumas músicas dele. Aí eu disse: 'Cara, quero que você faça parte do meu projeto também', e ele disse: 'a hora que você quiser'. Então eu pensei que é legal a gente fazer coisas que as pessoas não estão tão acostumadas. A gente não está acostumado a ver Brown cantando forró e é maravilhoso", diz.

A música que Carlinhos Brown canta no disco é Carta de Zé.

"A música conta uma história bem interessante. Eu fiz uma brincadeira com o lance dele [Brown] ter o mesmo nome de um dos três santos, que é Santo Antônio. Daí essa irmandade que a gente tem e musicalmente a gente está muito ligado à música brasileira em todos os seguimentos. Ficou bem divertido", disse Luiz sobre o amigo e artista que tem como nome de batismo Antônio Carlos.Além dos parceiros Reinaldo Barbosa e Paulinho Caldas, o compositor Cesar Rasec assina junto com Luiz as músicas Carta de Zé e Forró Zé Bode.

A coprodução do disco é de Nagib Barroso. O mestre Luiz Caldas, por sua vez, assina direção, produção, arranjos, gravação, violões, cavaquinho e voz. A percussão é de Claudinho Guimarães.

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