AGROTÓXICOS PODEM AUMENTAR VULNERABILIDADE À COVID-19, DIZ RELATÓRIO INÉDITO

Com mais de 460 mil mortes, o Brasil ocupa a vice-liderança no número de óbitos por Covid-19 no mundo. Além da alta taxa de exposição ao vírus SarsCov-2, um grupo de pesquisadores acredita que o modelo de produção agrícola brasileira pode ter deixado o país mais vulnerável à doença. E o fator principal seria o uso intensivo de agrotóxico que afetam o sistema imunológico dos seres humanos os tornando mais suscetíveis a doenças infecciosas. 

A constatação está no relatório “Agronegócio e pandemia no Brasil —  uma sindemia está agravando a pandemia de COVID-19?”produzido pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) junto a rede de pesquisas internacional Ipen, obtido com exclusividade pela Agência Pública e pela Repórter Brasil.  No trabalho, assinado por nove pesquisadores de universidades do Brasil, Portugal e Dinamarca, o grupo trata a pandemia de Covid-19 como uma sindemia, um neologismo que combina as palavras “sinergia” e “pandemia”. 

“É um termo criado nos anos 90, usado quando uma doença interage com outra produzindo o agravamento do quadro clínico”, explica uma das autoras do trabalho, a médica Lia Giraldo, pesquisadora da Fiocruz e da Abrasco. Em uma sindemia, a interação entre as doenças é facilitada por condições sociais e ambientais que podem tornar uma população mais vulnerável ao seu impacto. O que ajuda a explicar, por exemplo, porque determinados países ou grupos sociais registram uma maior taxa de casos e óbitos por Covid-19. 

O relatório aponta o agronegócio como parte desse contexto. “O uso intensivo de agrotóxicos afeta o sistema imunológico, a agroindústria aumenta o risco de novas zoonoses e a produção de alimentos industrializados promove a obesidade, aumentando a vulnerabilidade à Covid-19”, diz trecho do estudo. 

O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos no mundo. E nem mesmo durante a pandemia, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ganhou o dever de avaliar os pedidos de uso de vacinas para Covid-19, o fluxo de aprovação de agroquímicos diminuiu. 

Desde 20 de março de 2020, quando foi decretado estado de calamidade pública, até o momento, 613 novos registros foram aprovados pelo Ministério da Agricultura, o Ibama e a Anvisa. Foram mais de 10 novos produtos liberados a cada semana durante a pandemia. 

Para o relatório da Abrasco, a médica e pesquisadora da Fiocruz e Abrasco Karen Friedrich fez um levantamento e analisou todas as substâncias aprovadas no governo do presidente Jair Bolsonaro. “Entre as substâncias, encontramos produtos que interferem no sistema imunológico, causam problemas hormonais, interferem em várias funções de metabolismo, diabetes, obesidade e até mesmo na defesa do organismo contra patógenos”, diz a médica.  

Agrotóxicos como a atrazina, carbamato e os organofosforados diclorvós e clorpirifós estão entre os que podem influenciar o sistema imunológico. Um trabalho de 2020 do pesquisador sulcoreano Gun-Hwi Lee encontrou diversos efeitos em várias células que tiveram contato com essas substâncias, como inibição da proliferação de células T e na produção de citocinas, que são importantes para garantir a recuperação de pacientes com Covid-19.

A atrazina é o quinto ingrediente ativo mais vendido no Brasil, com mais de 23 mil toneladas comercializadas apenas em 2019, segundo o Ibama. A substância é um herbicida, usado para controlar ervas daninhas em diversas plantações, como milho e cana-de-açúcar. 

Mas os estudos que medem a toxicidade de venenos como a atrazina ignoram uma informação importante: a mistura de agrotóxicos. Os testes feitos em animais e células por agências regulatórias, como a Anvisa, expõem as cobaias a apenas um tipo de agrotóxico por vez. Enquanto na realidade, a população é exposta a coquetel de venenos. 

A última edição do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), feito pela Anvisa, detectou alimentos vendidos nos supermercados brasileiros contendo resíduos de até 21 agrotóxicos diferentes em um único produto.  

“Essa interação das substâncias ainda é muito imprevisível. Se você tem um alimento com uma substância que tem efeito no sistema imunológico, somada a mais outra substância com o mesmo efeito, e mais outra e assim por diante, a probabilidade desse efeito se manifestar com mais força é maior”, conta Karen Friedrich. 

Tratar a Covid-19 como uma sindemia ainda é novidade no Brasil. Internacionalmente, o termo é usado desde o ano passado, e cientistas acreditam que o combate à doença deve mirar também nas comorbidades. 

Em setembro de 2020, uma das mais importantes revista científica do mundo, a The Lancet do Reino Unido, publicou um artigo onde o editor chefe, Richard Horton, disse que o vírus SarsCov-2 não atua sozinho, mas compactuando com outras doenças. Os “cúmplices” seriam as comorbidades, como a obesidade, diabetes e doenças cardíacas. 

“Precisamos separar a Covid doença do vírus SarsCov-2. A Covid começa com a infecção, mas depois evolui a um ponto que pacientes não têm mais nem o vírus no corpo, mas a doença, de forma sistêmica, já afetou o organismo. Vimos claramente que pessoas obesas, com doenças crônicas ou distúrbios imunológicos estão mais vulneráveis e suscetíveis a ter esses agravamentos”, diz a médica e pesquisadora Lia Girardo. 

“O agronegócio é parte desse contexto mórbido, por levar a um modo de produção e apropriação da natureza que torna a nossa sociedade mais vulnerável ao enfrentamento de um vírus com essas características”, diz Lia. 

O relatório ressalta ainda o avanço das produções agropecuárias em áreas de floresta, o que acaba com barreiras florestais e pode causar o surgimento de novas zoonoses de modo geral. As zoonoses são vírus e bactérias que originalmente infectavam animais, e que por alguma razão passam a atingir a espécie humana.

O terceiro ponto citado no relatório está relacionado à produção de alimentos industrializados, que promovem a obesidade, fator de risco para a Covid-19. “Em um cenário de pandemia, é ainda mais importante que o governo estimule e disponibilize mais alimentos saudáveis. Mas, ao invés disso, tivemos a disponibilidade de alimentos comprometida. Observamos aumento de preço do arroz e da soja”, explica Karen Friedrich. 

A má-nutrição tem um impacto no sistema imunológico e em muitas outras doenças crônicas. Nas últimas décadas, o padrão de subnutrição no Brasil passou por uma transformação, caindo de 11,9% para 2% entre 1997 a 2020. No entanto, no mesmo período, a obesidade aumentou de 11,9% para 22,3%. 

O Brasil seguiu uma tendência global de aumento na taxa de obesidade, impulsionado pelo consumo crescente de alimentos e bebidas com adição de açúcares, e sal, carboidratos refinados, segundo o relatório. 

Além da mudança da dieta, diversos estudos apontam a influência dos agrotóxicos no surgimento da obesidade. Os organofosforados e agrotóxicos desreguladores endócrinos (DE) podem afetar o metabolismo da glicose e dos lipídios e influenciar no desenvolvimento de obesidade e diabetes Tipo 2, segundo um estudo de 2020 de um grupo de pesquisadores da Université Toulouse, na França. 

“São vários fatores que estão interagindo e resultando em um cenário muito maior de vulnerabilidade da sociedade brasileira aos efeitos do Covid-19”, diz Friedrich.

MUITO TÓXICO: Com informações sobre registro internacional de países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e do Brics, a pesquisadora Karen Friedrich identificou que os agrotóxicos usados no Brasil já saíram há muito tempo da prateleira de outros países. 

Entre os os 400 ingredientes ativos de agrotóxicos classificados como químicos e semioquímicos e autorizados para uso agrícola no Brasil, 85,7% não tem autorização de uso na Islândia, 84,7% na Noruega, 54,49% na Suíça, 52,6% na Índia, 45,6% na Turquia, 44,4% em Israel, 43,4% na Nova Zelândia, 42,4% no Japão, 39,6% no Canadá, 38,6% na China, 35,842% no Chile, 31,6% no México, 28,6% na Austrália e 25,6% nos Estados Unidos.

Karen pesquisou também a toxicidade dos produtos. De 399 ingredientes ativos comercializados no Brasil, 120 foram relacionados a danos à saúde e ao ambiente. Considerando as substâncias para as quais estão disponíveis dados de comercialização no país, 67,2% deste volume está associado a pelo menos um dano crônico grave. (Fonte Agência Pública-jornalismo investigativo Pedro Grigori)

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VALE DO SÃO FRANCISCO COMEMORA O DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE COM PLANTIO DE MUDAS DA CAATINGA

O próximo dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, será comemorado no Vale do São Francisco com o plantio de 7 mil mudas de plantas nativas da Caatinga, o único bioma exclusivamente brasileiro.

As mudas, doadas pela Agrovale, que fica em Juazeiro - BA, serão plantadas em Petrolina - PE, às margens do Rio São Francisco, como parte do programa 'Orla Nossa - Cidades Ribeirinhas', da prefeitura do município. A proposta é recuperar a área da Orla II, que vai do Círculo Militar até o último restaurante da via beira rio.

De acordo com a coordenadora de Meio Ambiente da Agrovale, Thaisi Tavares, serão plantadas mudas como o marizeiro, ingazeiro, pau ferro, paineira, ipê roxo e caraibeira. "Espécies nativas da Caatinga mais adequadas para projetos de arborização, paisagismo, repovoamento e reflorestamento de áreas degradadas", ressaltou.

A coordenadora destacou ainda que a doação é mais uma ação do projeto socioambiental 'Viveiro de Mudas Nativas', que completou 13 anos com a marca de 400 mil mudas doadas para 45 municípios dos Estados nordestinos da Bahia, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte. A doação destas mudas vem ampliando a cobertura verde das cidades e contribuindo para uma maior conscientização e sustentabilidade ambiental da biodiversidade regional.

O viveiro da empresa, que é a maior produtora de açúcar, etanol e bioeletricidade e também a que mais gera empregos na Bahia, ocupa uma área de 2 hectares com mais de 70 espécies de plantas nativas da Caatinga. "Neste Dia Mundial do Meio Ambiente estamos fazendo o que mais gostamos: a preservação dos ecossistemas da Caatinga e das matas ciliares do Rio São Francisco", concluiu. FONTE: CLAS Comunicação & Marketing


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RÁDIO NACIONAL DE BRASÍLIA COMPLETA 63 ANOS

Em 31 de maio de 1958 foi inaugurada a Rádio Nacional de Brasília, a primeira de uma capital federal que nem havia sido fundada. Exatamente 63 anos depois, a emissora segue na tradicional frequência 980 AM, ensaia a expansão da programação para o FM e cresce na internet.

Além de ter parte da programação veiculada na Rádio Nacional FM (rádio fundada em 1976 e que pode ser sintonizada na frequência 96.1 FM em Brasília), a programação da Rádio Nacional de Brasília está sendo exibida na faixa 87.1 FM em São Paulo, Belo Horizonte e Recife desde o dia 7 de maio. 

Essa frequência está na chamada banda estendida FM, viabilizada com o desligamento analógico de canais de televisão, que ocupavam uma parte do espectro das rádios. Os aparelhos de rádio mais modernos já pegam a faixa estendida a partir de 76.1 MHz. 

"A maior vantagem da AM é a questão do alcance. O sinal da AM 'viaja' mais longe do que o da FM. Por outro lado, no FM a qualidade do áudio é melhor do que o áudio em AM. Isso por conta da diferença de modulação.", explica o gerente executivo de Engenharia da Empresa Brasil de Comunicação, Wagner Bastos.

Para Luciano Seixas, gerente executivo da Rádio Nacional, a expansão para a FM fará com que mais gente conheça a histórica rádio de Brasília. “A expansão representa a oportunidade de alcançar novos públicos, que estão em São Paulo, Belo Horizonte e Recife, locais onde não se tinha acesso direto à rádio pelo FM”, afirma.

Um dos novos ouvintes da Rádio Nacional de Brasília é o professor de história Eduardo Ferreira de Araújo. Morador de São Paulo, ele começou a ouvir a Nacional com a frequência no FM na capital paulista. “Eu vi em uma matéria que a Rádio Nacional iria estrear no dia 7 de maio e fiquei interessado. Ouvi e descobri que ela tem uma programação diferenciada em relação às rádios de São Paulo. A gente tem uma dimensão maior do próprio Brasil”, relata.

No Programa Eu de Cá, Você de Lá - um dos mais tradicionais da emissora, no ar desde o final da década de 1970 -, ouvintes das cidades com a nova faixa também já se manifestaram sobre a nova frequência. “Eu ouvia o programa por celular ou internet. Agora é pela 87,1 FM”, relatou o ouvinte Israel Queiroz, de Belo Horizonte.

Apesar da ida para a FM e da criação de novos públicos, Seixas ressalta que não existe qualquer previsão de a rádio deixar de ser transmitida em AM. “É importante destacar que a frequência 980 kHz tem uma potência única. Se tivéssemos operando em potência máxima, teríamos um alcance, inclusive, internacional”, aponta.

Não é só pelas ondas do rádio que a Nacional tem chegado à casa dos ouvintes. Por meio do site e do aplicativo Rádios EBC, a Nacional de Brasília também alcança internautas. Dados do Google Analytics, ferramenta de monitoramento de audiência na internet, apontam que a página do player da rádio é uma das mais acessadas no site.

Para Alessandra Esteves, gerente de Jornalismo Web da Empresa Brasil de Comunicação, o site ajuda a Nacional a romper o alcance do dial. “Precisamos considerar, também, que cada vez mais as pessoas estão inseridas nas plataformas digitais, então é um público que tende a crescer e não conhece fronteiras. Seja em Brasília ou até mesmo em outro país, é possível ouvir a programação da Nacional”, diz.

O motorista Cleidimar Nunes, da cidade de Taguatinga (TO), conta que a internet mudou a relação dele com a Rádio Nacional. “Escuto a Nacional desde que me entendo por gente. Ouvia na fazenda no radinho de pilha. Eu fui me adaptando e hoje escuto a rádio pela internet. Tem uma qualidade muito melhor. Não tem a questão de o som ficar fugindo, como no rádio”, conta.

Cleidimar também relata que a Nacional o inspirou a participar como ouvinte e até ter um programa de rádio em sua cidade. “Eu tinha muita vontade de participar. Até escrevi cartas e não enviei. Mas, com a internet, comecei a participar e neste ano enviei uma mensagem. Agora, participo direto. Tenho um programa de rádio na cidade e posso dizer que 100% da inspiração para criá-lo foi na Rádio Nacional”.

Entregar o conteúdo da rádio em diversas plataformas é a tendência para o futuro, aponta Luciano Seixas. “Através da instalação dos canais de faixa estendida, do site das Rádios EBC e do aplicativo, estamos expandido o nosso alcance junto ao público ouvinte, em todo o mundo”, completa.

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DIA NACIONAL EM DEFESA DO RIO SÃO FRANCISCO É COMEMORADO EM 03 DE JUNHO

O dia 03 de junho foi instituído pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) como o Dia Nacional em Defesa do Velho Chico. Para divulgar essa data o CBHSF lançou, em 2014, a campanha "Eu viro carranca para defender o Velho Chico". O objetivo é conscientizar a população sobre a preservação do rio e mobilizar todos pelo uso responsável dos seus recursos hídricos. 

É uma campanha exitosa, o que pode ser comprovado pelo resultado alcançado na mídia no período que antecedeu o Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco e na cobertura e repercussão da Campanha nos veículos de comunicação de todo o país, além da adesão voluntária de diversas ONGs, entidades governamentais, instituições, entre outros. Todo o esforço teve como consequência a conquista do primeiro lugar no Prêmio ANA 2021, na categoria SINGREH, reconhecimento que muito nos honra.

Este ano, com o mote VELHO CHICO PARA TODOS, a campanha tem como foco os usos múltiplos do Velho Chico e da necessidade de se concretizar o Pacto das Águas na bacia do São Francisco. " As águas do rio São Francisco, bem como seus reservatórios, estão vocacionadas para os usos múltiplos, e não só para a geração de energia. Queremos sinalizar, com essa campanha, que todos aqueles que se beneficiam das águas sanfranciscanas devem ter compromisso com a sua preservação e com a saúde do seu ecossistema", destaca o presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda.

Os usos múltiplos abrangem abastecimento público, agricultura, indústria, geração de energia, navegação, pesca e aquicultura, turismo e recreação, entre outros. A diversidade de setores usuários provoca uma série de impactos – positivos e negativos – entre as diferentes atividades, o que resulta em interações complexas.

Por conta de todas essas diferenças, o múltiplo uso não é uma questão consensual. Divergências e conflitos avançam à medida que aumentam a demanda e a escassez de recursos. O único consenso é que se trata de um tema que merece ser amplamente discutido pelos diferentes setores e a sociedade como um todo. Por isso, o CBH São Francisco vem elaborando estudos e realizando discussões para a concretização de um Pacto das Águas para a bacia do Velho Chico. O Pacto das Águas deve prever ações coordenadas que levem à distribuição harmônica das águas aos seus usos múltiplos, evitando conflitos e garantindo água de qualidade e em quantidade para todos.

O CBHSF continua seguindo as recomendações das autoridades de saúde, e para evitar aglomeração de pessoas, utilizará a mídia para a disseminação da campanha, por meio de podcasts, spots para rádio, VTs para veiculação em televisão e na web, além das redes sociais.  

"Este é um momento de conscientização geral para defender o rio de forma muito concreta, lutando pela restauração de suas matas ciliares, pela recarga de aquíferos, pela defesa e proteção das nascentes, contra o processo de contaminação de suas águas por agrotóxicos e pelo lançamento de esgotos", explica Anivaldo. E completa: " Devemos tirar de fato da gaveta o programa de revitalização e mobilizar todos para que os instrumentos de gestão sejam universalizados na bacia do São Francisco"

Participe da campanha e abrace essa causa! Contamos com o seu apoio!

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CINCO ANOS APÓS ASSASSINATO DE BEATRIZ PERITOS AMERICANOS FAZEM RETRATO DIGITAL DO SUSPEITO DE TER COMETIDO CRIME

Cinco anos de um assassinato brutal e o autor do crime ainda não foi identificado. A menina Beatriz Mota, de apenas 7 anos, foi morta na escola onde estudava, em Pernambuco, no Recife. 

Agora a novidade é que peritos americanos fizeram um novo retrato digital com o rosto do suspeito de ter matado a garotinha. E isso trouxe esperança pra família de Beatriz, que reclama da lentidão da justiça.

O CASO BEATRIZ: Quem matou a menina Beatriz Angélica?  no dia 10 de dezembro vai completar seis anos do assassinato brutal da garotinha de 7 anos, que na noite do crime estava com os pais, acompanhando a festa de formatura da irmã mais velha, em um colégio particular de Petrolina, no Sertão de Pernambuco. Desde então, a resposta para a pergunta que inicia esse texto tem sido aguardada pelos familiares, amigos, vizinhos, imprensa… todos que, de alguma maneira, ficaram espantados com a crueldade com que a vida da criança foi interrompida.

Beatriz Angélica Mota Ferreira da Silva foi encontrada morta, dentro do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, com 42 marcas de facada no corpo. Até o momento, cinco anos depois, ninguém foi preso e a motivação do crime ainda é desconhecida. Os pais da menina, Lúcia Mota e Sandro Romilton Ferreira da Silva, além da dor de ter perdido a filha, convivem com a falta de respostas que ajudem a solucionar o crime.

“É uma dor que não tem nome. Para mim, o dia 10 de dezembro é todos os dias. Uma ferida que é cutucada todos os dias”, afirma a mãe de Beatriz.

“A dor é constante. A gente não ter uma resposta, não saber o que aconteceu, quem são os culpados. A injustiça ela também dói ”, completa o pai da menina.

A busca por justiça se tornou um mote na vida de Lúcia e Sandro. Nesses cinco anos, os pais de Beatriz participaram de várias manifestações em Petrolina, Juazeiro, cidade vizinha que fica na Bahia, e em Recife. Este ano, por causa da pandemia da Covid-19, a mãe da menina tem feito lives na rede social, para continuar chamando a atenção da sociedade para o crime. “Isso tem dado uma grande repercussão. São cinco anos, todos os dias, todos os meses, a gente gritando, lutando por justiça”.

Em 2018 e neste ano, a mãe de Beatriz concorreu aos cargos de deputada estadual e vereadora de Petrolina, pelo PSOL, mas não foi eleita. Na eleição estadual, ela teve 16.326 votos. No pleito municipal, foram 2.656 votos. Segundo Lúcia Mota, a entrada na política foi uma forma de poder ter mais força para cobrar a resolução de casos como o da filha.

“A política ela veio para ajudar, não que diretamente, porque compete à Polícia Civil de Pernambuco investigar e solucionar, mas indiretamente, em influência, de fortalecer o nosso pedido de luta, não só por Beatriz, mas por todas as ‘Beatrizes’ do estado de Pernambuco”.

Desde o início das investigações da morte de Beatriz, três pessoas foram indiciadas e um mandado de prisão foi expedido, em dezembro de 2018, contra Alisson Henrique de Carvalho Cunha. Ele é suspeito de ter apagado as imagens do circuito interno do colégio. No entanto, o pedido de prisão foi revogado pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJ-PE), em setembro de 2019.

Como as investigações feitas pela Polícia Civil, segundo Lúcia e Sandro, ainda não apresentaram o retorno esperado, a família, com ajuda de doações que podem ser feitas através de uma ‘vaquinha online’, instaurou uma investigação paralela do caso, que rendeu uma denúncia na Corregedoria do Estado de Pernambuco contra um perito da Polícia Civil.

A Secretaria de Defesa Social de Pernambuco informou, através de nota, que "a denúncia relativa ao perito criminal está sendo apurada pela Corregedoria Geral da SDS. Neste momento, uma outra equipe de perícia criminal está trabalhando no caso, realizando análise e buscas em equipamentos de imagens e de informática. As forças de segurança em Pernambuco estão confiantes na elucidação desse bárbaro crime".

Lúcia Mota afirmou ainda que um grupo de investigadores profissionais dos Estados Unidos se ofereceu para ajudar no caso de Beatriz, mas aguarda liberação por parte do governo de Pernambuco.

“Inicialmente, eles querem fazer um trabalho em parceria com o Estado de Pernambuco, com a Polícia Civil. Então, o consulado americano entrou em contato com a Secretaria de Segurança. Isso já tem mais de três meses e, até o momento, o Estado de Pernambuco, a Secretaria de Segurança, não deu nenhuma resposta”, diz.

Em nota, a Polícia Civil de Pernambuco disse que "desconhece essa proposta de cooperação com empresa de investigações norte-americana".

As investigações sobre a morte de Beatriz estão sendo feitas em segredo de justiça. Desde o assassinato da menina, quatro delegados já estiveram no comando do caso. No ano passado, foi criada uma força-tarefa, composta por quatro delegados: Polyanne Farias, Diretora da Diresp; João Leonardo Cavalcanti, Diretor Dinter 2; Vitor Freitas, chefe da Divisão de Homicídios; e Isabella Pessoa, Desec de Petrolina. Os pais da menina dizem que estão tendo dificuldades para ter acesso ao inquérito.

“Para nossa família ter acesso ao inquérito, nós precisamos entrar até com pedido judicial. A gente sabe que essa mudança de delegado é um artifício do governo para dizer que estão fazendo alguma coisa”, diz Sandro.

Além do inquérito, o pai de Beatriz também reclama da falta de acesso aos delegados que fazem parte da força-tarefa. “Designaram uma força-tarefa, logo após a saída da doutora Polyanna Neri [delegada], composta por quatro delegados e nós não tivemos contato com eles ainda”.

"A PCPE informa que segue comprometida com as investigações do homicídio de que foi vítima a criança Beatriz Angélica Mota, havendo total empenho na elucidação do crime, inclusive com composição de uma Força Tarefa integrada por quatro delegados designados para o caso, por determinação da Chefia de Polícia. A mãe da criança foi recebida todas as vezes que buscou a Polícia Civil. A PCPE informa que não houve divisão do Inquérito Policial", afirmou a nota da Polícia Civil.

Os pais de Beatriz entraram com um pedido de federalização do caso. “O Estado de Pernambucano, a Polícia Civil de Pernambuco, não têm mais condições de solucionar o caso Beatriz. Primeiro, por falta de profissionais. Segundo, por falta de aparatos técnicos, serviços de inteligência que não existem no Estado de Pernambuco e, principalmente, por influências políticas e atos de corrupção por parte dos funcionários públicos”, afirma Lúcia Mota.

Mesmo com a demora na solução do crime, os pais de Beatriz acreditam que um dia o (s) responsável (veis) pela morte da menina serão punidos. “O tempo vai passando e a gente vai se apegando a aquele fio de esperança. Temos muita fé em Deus, somos cristãos. Tenho certeza que, no momento certo, no momento adequado, Deus vai nos conceder essa vitória”, confia Sandro.

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DORAMAR OU A ODISSEIA MARCA O RETORNO À ESCRITA DE ITAMAR VIEIRA JUNIOR

O ano de 2020 foi particularmente especial para o escritor baiano Itamar Vieira Junior. Como todos, ele enfrentou com sofreguidão a pandemia da covid praticando o isolamento social. Mas, em compensação, foi também uma temporada de sucesso, com Itamar colecionando importantes distinções pelo seu romance Torto Arado em eventos literários como a Flip. Afinal, a obra vendeu também mais de 165 mil cópias.

“Em meio a tanta turbulência, foram momentos felizes que eu não esperava”, conta ele ao Estadão, por telefone. “A julgar pela reação dos leitores, acredito que o livro atraiu por apresentar um Brasil rural, que parece algo anacrônico nos dias de hoje, mas provoca uma memória afetiva, mesmo para quem não viveu no campo.” É possível acrescentar ainda sentimentos de sofrimento e desejo de libertação.

Itamar é geógrafo e doutor em estudos étnicos e africanos pela Universidade Federal da Bahia. Com tal formação intelectual, ele constrói narrativas ao mesmo tempo sólidas e delicadas, alicerçadas por uma linguagem apurada. É o que se pode notar em Doramar ou a Odisseia (Todavia), livro com 12 contos que será lançado na semana que vem. Alguns já foram publicados esparsamente, mas cinco são inéditos.

E, novamente aqui, o escritor se apoia em personagens que impressionam pela força e legitimidade: mulheres determinadas a enfrentar todo tipo de adversidade, escravos dispostos a resgatar a dignidade à força, indígenas buscando apoio na ancestralidade e ainda a exaltação à figura do artista Arthur Bispo do Rosário, cujo manto é ponto de partida para uma narrativa sobre a marginalidade e a loucura.

A precisão que encontra para a escrita vem de uma certeza pessoal – Itamar acredita que toda boa história é precedida de uma rica experiência anterior do autor com suas personagens. “Sou um etnógrafo da imaginação – para que eu possa escrever, preciso conhecê-las bem, sua rotina, suas características. Só depois de ter adquirido um pouco desse conhecimento é que começo a escrever”, explica.

E tal vivência não necessita ser apenas espiritual – fruto de uma família em que predominam mulheres, Itamar logo descobriu os meandros do poder feminino que, embora oficialmente secundário por força da hierarquia masculina, era quem de fato tomava as decisões mais acertadas. “Elas nos transmitem uma força inabalável – perto delas, os homens são como pálidas sombras”, observa.

Itamar lembra que Salvador, onde vive, é uma cidade com população predominantemente negra, o que torna ainda mais forte a tradição afro que concede grandes poderes à mulher. “São as grandes sacerdotisas, cujo poder passa de geração a geração”, conta ele que, no exercício de sua profissão (é funcionário público), mantém contato com diversas pessoas que lhe fornecem tais impressões.

O conto Alma, por exemplo, um dos mais poderosos de Doramar ou a Odisseia, o leitor acompanha a fuga de uma escrava que tem por nome o título da história. À medida que anda, ela oferece fiapos da sua trajetória e do motivo que provocou sua fuga. Ao mesmo tempo, seu vestuário vai se deteriorando e as marcas da travessia ficam cravadas em seu corpo. A prosa, além de hipnotizante, oferece um final um tanto surpreendente e que permite ao leitor entender toda a triste situação.

Itamar consegue provocar o leitor também em A Oração do Carrasco, narrativa em que o estranho cuidado com sua profissão de executor de vidas logo revela um homem preso a uma tradição familiar e que, aos poucos, o autor estende para o cotidiano de qualquer pessoa. “Eu me perguntava como seria a vida de um homem carrasco e, aos poucos, percebi que estamos cercados por eles – afinal, basta observar o que aconteceu na operação da polícia civil na comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro”, comenta o escritor, referindo-se à ação que resultou em 28 mortos.

Dessa loucura insana, é possível conhecer outra, mais produtiva, criativa e imortal em seu valor, que inspira o conto manto da apresentação, título escrito assim mesmo, com minúsculas. Como em um discurso sem fôlego (não há ponto final separando as frases), o texto apresenta a profissão de fé de Arthur Bispo do Rosário (1911-1989), homem que criou sua arte a partir de objetos cotidianos que encontrava nas instituições onde viveu internado, criando uma obra que variava entre justaposições de objetos e bordados, o que lhe rendeu reconhecimento internacional.

“Encontro mulheres em posição de poder, que assumem seu protagonismo, o que é paradoxal, pois me pergunto: como pode, em uma sociedade tão patriarcal, existir uma força tão poderosa?”, questiona-se o escritor que, obviamente, transmite essa sensação para suas histórias.

“Foi um artista fenomenal e, a partir dele, refleti sobre o que é loucura”, conta Itamar. “Aos nossos olhos de hoje, seria mesmo um homem louco? O entendimento de sua obra nos mostra as dificuldades que ainda temos para entender a diferença entre as pessoas.” Para Itamar, Bispo do Rosário deixou um trabalho de poderoso sentido épico e religioso.

“Seria um chamado de Deus para a criação de um mundo bíblico que se revela no manto, que representa o mundo onde ele mesmo é o deus.”

De fato, com seus trabalhos, Bispo do Rosário criou uma espécie de inventário do mundo para o dia do Juízo Final, quando ele se apresentaria a Deus vestindo esse manto, que representaria os homens e as demais coisas existentes. O objeto, aliás, traz bordado o nome de pessoas conhecidas, para não se esquecer de interceder junto a Deus por elas. “A história dele é uma verdadeira epifania.”

Com os contos de Doramar ou a Odisseia, Itamar reafirma sua posição de grande escritor contemporâneo, posição que obviamente o deixa lisonjeado, mas que ainda não afasta o temor vivido por aqueles que alcançam o sucesso logo na primeira obra: como repetir o êxito no trabalho seguinte?

“Essa ansiedade existe e me serve como um desafio, pois sei que ainda tenho o que dizer”, conta ele, que já rascunha um novo romance, escrito nos intervalos de sua agenda ainda apertada, fruto da bem-sucedida estreia. “Escrevo tranquilo, livre de pressão, pois estou convicto em não permitir que Torto Arado se torne uma sombra em meu projeto literário.” (Fonte: Isto É)


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UNIVASF PARTICIPA PROJETO DE PESQUISA COM USO DE PLANTAS DA CAATINGA PARA TRATAMENTO DA COVID-19

Diversas espécies de plantas da Caatinga são alvo de um estudo realizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas de Plantas Medicinais (Neplame) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) com o objetivo de identificar moléculas a serem testadas para o desenvolvimento de novos medicamentos para o tratamento da Covid-19. A pesquisa acontece em parceria com a Universidade de Bergen, na Noruega, por meio de um acordo de cooperação técnica.

O coordenador do Neplame e professor do Colegiado de Farmácia, Jackson Guedes, explica que o estudo integra um projeto internacional, coordenado pelo professor Torgils Fossen, da Universidade de Bergen, e envolve pesquisadores da Tanzania e da Palestina. A iniciativa visa testar produtos naturais da biodiversidade brasileira contra o SARS CoV-2, vírus causador da Covid-19. “Nós vamos selecionar moléculas de plantas do bioma Caatinga com potencial para ser utilizadas em testes de combate ao coronavírus na Universidade de Bergen”, relata Guedes.

A equipe do Neplame, formada por pesquisadores em diversos níveis (professores, técnicos, estudantes de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado), já está trabalhando no isolamento de moléculas de algumas espécies, entre elas Passiflora elegans (maracujá de estalo), Passiflora cincinnata (maracujá da Caatinga) e Annona coriacea (bruteira). Os pesquisadores se detêm sobre as folhas e as cascas das plantas de onde extraem moléculas como alcaloides, flavonoides e terpenoides para os testes.

“O objetivo é descobrir moléculas de origem natural que se mostrem eficazes no combate ao vírus e possam no futuro ser destinadas à produção de novos medicamentos para o tratamento da doença”, afirma o professor.

Guedes ressalta que há dezenas de fármacos que passaram recentemente por estudos de reposicionamento de medicamentos no mundo inteiro, mas são substâncias sintéticas, já utilizadas em medicamentos para tratar outras enfermidades. “Nosso desafio é grande. A biodiversidade da Caatinga é muito vasta e nos fornece várias moléculas que podem ser alternativas para o desenvolvimento de novos tratamentos contra a Covid-19. Vamos testar várias substâncias naturais”, observa. A expectativa é que as moléculas selecionadas sejam enviadas para a Universidade de Bergen em meados deste ano para a realização dos testes em laboratório com o uso do vírus SARS CoV-2.

O professor Jackson Guedes explica que o desenvolvimento de um novo fármaco envolve várias etapas. A primeira delas é o estudo in silico, com o uso de modelos computacionais. Em seguida, a depender dos resultados dessa primeira fase, a pesquisa passa a ser realizada in vitro e somente depois de mais essa etapa concluída passa-se ao estudo in vivo, com o uso de animais em laboratório. Em média, essas três etapas levam cerca de sete anos para serem concluídas. 

“Somente depois de todas essas etapas, são realizados os estudos com humanos. No entanto, a exemplo do que aconteceu recentemente com as vacinas, esperamos que esse tempo seja reduzido, em virtude das informações que os pesquisadores conseguiram obter nos últimos meses a respeito do vírus”, informa o docente. Ele ressalta que o estudo será registrado junto ao Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado (SisGen).

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