ESTUDO DEMONSTRA QUE MÚSICA BRASILEIRA PERDEU QUALIDADE

A música brasileira é bastante diversificada – vai da bossa nova ao rap, da MPB ao sertanejo, do samba ao axé. Porém, críticos e parte do público têm contestado sua qualidade, apontando o empobrecimento dessa importante manifestação cultural do país. Estudo publicado pelo analista Leonardo Sales na internet demonstra verdade nessa premissa.

Em Análise da música brasileira, Sales estudou acordes e letras. Um dos parâmetros adotados foi a evolução temporal da produção nacional, considerando todos os ritmos. Segundo ele, houve declínio da complexidade da música criada no Brasil, quando se leva em conta os acordes (quantidade, tamanho e raridade).

A primeira “queda” nesse quesito se deu nos anos 1960. Depois, a tendência se fortaleceu no fim dos anos 1980 e início dos 1990, permanecendo constante até hoje.

O analista cita três razões para o fato: a absorção da música brasileira pelo rock – primeiramente, com a Jovem Guarda, na década de 1960, quando houve a primeira queda no quesito acordes –; a popularização do rap e do hip-hop, com harmonias mais simples nos anos 1980; e a guerra televisiva dos anos 1990, que influenciou a linha de criação de hits. “A produção de música de prateleira foi o golpe final na complexidade das composições brasileiras”, diz Sales.

 Por outro lado, o pesquisador aponta artistas e estilos mais complexos da cena brasileira. O ranking geral, que considera variáveis relacionadas a acordes e letras (raridade, quantidade, percentual e tamanho), é encabeçado por Chico Buarque. O autor de Construção lidera o índice de raridade de acordes e ocupa a terceira posição no quesito quantidade de palavras.

O segundo colocado nesse ranking da complexidade é Djavan. O alagoano se destacou nas categorias raridade de acordes e quantidade de harmonias diferenciadas. O ranking dos 10 mais tem ainda Ivan Lins, João Bosco, Ed Motta, Caetano Veloso, Lenine, Vinicius de Moraes e Gilberto Gil.

O estudo destaca Ed Motta e Lenine, que tiveram bons índices relativos a acordes de suas composições. Lenine é o autor que mais usa harmonias desconhecidas, enquanto Ed Motta se destaca na área de acordes únicos.
De acordo com Sales, a MPB é o estilo mais completo em relação a harmonias, seguida por bossa nova, samba e pagode (analisados como gênero único) e gospel.

Quando se fala de amplitude de vocabulário, o campeão é o rap, seguido por MPB e música regional. “Alguns resultados me surpreenderam. Outros eu já esperava. O protagonismo da MPB já era previsto, com sua música muito complexa. Sabia também que as letras do rap teriam destaque, apesar de o gênero trazer harmonia mais simples”, comenta Leonardo Sales.

De acordo com ele, o grupo Facção Central apresentou mais variações de letras. Nos anos 1990, essa banda de rap se tornou famosa com versos fortes que denunciam as mazelas do país. Destacam-se ainda Apocalipse 16, Chico Buarque e Caetano Veloso.

 Levando em consideração a similaridade de acordes, Leonardo Sales chegou a cinco classificações relativas à musica brasileira, batizadas de Feijoada clássica, Mistureba, Leve seu filho pro bom caminho, Ouça com seus pais e Pra ninguém reclamar.

Mistureba engloba rock oitentista, axé, forró atual e sertanejo atual, reunindo Legião Urbana, Capital Inicial, Engenheiros do Hawaii, Asa de Águia, Babado Novo, Cheiro de Amor, Fernando & Sorocaba, Falamansa e Calcinha Preta. Polêmico? Leonardo explica: “A impensável junção da Legião e Asa de Águia ocorre no Mistureba porque ali se juntaram os acordários mais enxutos, como é próprio da Legião, dadas as influências do rock inglês e do punk. A axé music também investe em harmonias simples.”

Em Pra ninguém reclamar (MPB atual, axé, pagode, reggae e funk melódico), o pesquisador reuniu Lenine, Chico César, Cássia Eller, Claudinho e Buchecha, Perlla, Netinho, Banda Eva, Natiruts e Armandinho. As demais classificações são menos surpreendentes. Leve seu filho pro bom caminho, por exemplo, mescla rock dos anos 1990 e punk (Raimundos, Charlie Brown Jr., Tianastácia, Mamonas Assassinas e Planet Hemp).

Ouça com seus pais tem MPB e samba (Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maysa, Herivelto Martins, Baden Powell, Toquinho, Cartola, Arlindo Cruz e Exaltasamba), enquanto Feijoada clássica juntou brega, sertanejos antigos e Jovem Guarda. A íntegra do estudo Análise da música brasileira está disponível em https://leosalesblog.wordpress.com/
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FESTIVAL VIVA DOMINGUINHOS 2018: 5º EDIÇÃO ACONTECERÁ DE 19 A 21 DE ABRIL

A Prefeitura de Garanhuns, no Agreste de Pernambuco, divulgou no dia do aniversário do Mestre Dominguinhos (12 de fevereiro), a data 5ª edição do Festival Viva Dominguinhos. O evento acontecerá nos dias 19, 20 e 21 de abril, nos polos Praça Cultural Mestre Dominguinhos e Espaço Colunata (palco Canta Dominguinhos).

O Festival valoriza a obra do sanfoneiro falecido em julho de 2013 e é um dos pontos de encontro dos amantes do forró e da música brasileira e fãs do eterno Dominguinhos. O objetivo do festival é perpetuar a obra deixada pelo homenageado, um dos mais talentosos sanfoneiros do Brasil. 


Além das apresentações musicais, o festival contará com uma série de aulas-espetáculos em escolas públicas e privadas sobre a vida e obra do homenageado, além de introdução à sanfona, com noções de como o instrumento é tocado, sua sonoridade e notas musicais.

José Domingos de Morais, o Dominguinhos, foi um grande instrumentista, cantor e compositor brasileiro. Exímio sanfoneiro, teve como mestres nomes como Luiz Gonzaga e Orlando Silveira. Sua formação musical tinha influências de baião, bossa nova, choro, forró, xote e jazz. Dominguinhos, nasceu em Garanhuns,  dia 12 de fevereiro, no  agreste de Pernambuco continuará sendo um dos mais importantes e completos músicos, instrumentistas, tocador de sanfona. É imortal em discos, DVD e milhares de entrevistas por este Brasil afora.
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RANGEL ALVES DA COSTA: POÇO REDONDO E O VIRGULINO TRISTE PELA ALMA CANSADA DE LAMPIÃO

Lampião e seu bando percorreram quase o Nordeste inteiro. Em cada lugar a cangaceirama deixou marcas de sua passagem. Contudo, em estados como Pernambuco, Bahia, Sergipe e Alagoas, a presença foi mais constante, principalmente pela teia de protetores e apoiadores que Lampião teceu com maestria.

Do mesmo modo, alguns municípios e povoações receberam a visita do bando com mais constância. Os sertões dos referidos estados eram frequentemente percorridos pelo bando e, consequentemente, pela volante no encalço. Contudo, mesmo que as refregas e perseguições não permitissem que o bando se demorasse em determinado em local, certamente que Lampião tinha suas predileções.

Desde os testemunhos orais aos relatos dos historiadores, firmou-se o entendimento de que Lampião sempre gostou de bandear para o sertão sergipano. A verdade é que o Capitão se sentia bem na proximidade de amigos como o Coronel João Maria de Carvalho (da Serra Negra, município baiano vizinho a Poço Redondo) e Teotônio Alves China, o China do Poço. Certamente não acoitava aos pés dos serrotes baianos por causa de Zé Rufino e seu quartel-general também na Serra Negra. Então permanecia nas terras de Poço Redondo.

Lampião certamente gostava de se amoitar na região limítrofe entre o Velho Chico e as montanhas e carrascais sertanejos. Ficava, a um só tempo, perto do caminho das águas e das veredas espinhentas mais adiante. E a Gruta do Angico é assim, de um lado a então grandeza do rio e do outro e arredores a selva de catingueiras, facheiros, umburanas, mandacarus e xiquexiques. E a gruta ou grota fica, pois, entre serras dessa brutal e encantadora paisagem.

Outro fator de relevância para a predileção pelo sertão sergipano está também no grande número de coiteiros da região. Pedro de Cândido, suposto delator de Lampião, era coiteiro filho da dona da Fazenda Angico, Dona Guilhermina. Durval, então aprendiz na lide da serventia aos homens das caatingas, também era filho da proprietária. E pelos arredores os préstimos de outros sertanejos como Mané Félix e Messias Caduda, dentre muitos outros.

Há relatos afirmando que Lampião se sentia em casa na região de Poço Redondo. Quando deixou as distâncias hostis e esturricantes do Raso da Catarina, no sertão baiano, o Capitão dizia abertamente que não via a hora de chegar logo ao Angico para um repouso mais demorado. Estava muito cansado, sem dúvidas, pois já chegando aos vinte anos de luta pisando em sangue, com quase toda uma vida vivida na mira do mundo.

Dizem até que houve premeditação na escolha do Angico. Além do cansaço da luta, também estava de alma cansada. Nesta última fase da vida, o Lampião já era outro homem buscando o seu destino. Já não era o feroz comandante, mas apenas o homem compreendendo a si mesmo. Estava mais apegado às coisas sagradas, mais tomado de fé, mais reflexivo. E também muito mais entristecido. Não suportava mais viver aquela desdita na vida.

O que aconteceria a 28 de Julho, quando os homens comandados por João Bezerra se fizeram de vaga-lumes no cerco ao bando para chaciná-lo, assemelha-se muito mais a uma consequência a uma fatalidade. Ora, o cangaço estava destinado a morrer ali. Lampião não queria mais combater, mas apenas sobreviver. Lampião não queria mais um fogo na sua vida, mas tão somente um destino de um homem qualquer. Mas também sabia que era impossível. Daí o sofrimento de Virgulino. O Virgulino triste pela alma sofrida de Lampião.

E todo o desfecho da saga se deu nas terras sertanejas do Poço Redondo. E não há outra localidade nordestina onde o cangaço se fez tão presente. Mais de duas dezenas de poço-redondenses se tornaram cangaceiros do bando do Capitão. Coiteiros, fazendeiros, pessoas influentes de então, todos indistintamente serviram à cangaceirama. Por fim, há o cenário maior de toda a história do cangaço: a Gruta do Angico.

Portanto, cada município ou estado nordestino tem o direito de chamar para si o reconhecimento e as homenagens ao Capitão e seu bando, mas o verdadeiro museu do cangaço está mesmo em Poço Redondo, não entre paredes e objetos cangaceiros, mas na história viva, nos cenários e paisagens que falam por si mesmos. Não só no Angico, mas também na Maranduba e outros arredores de fogo e sangue.

Fonte: Escritor, pesquisador e advogado Rangel Alves da Costa
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RAIMUNDO ANICETO 84 ANOS DE UMA VIDA DEDICADO AO PIFE

Aderaldo Luciano numa carta endereçada ao cantador cantor Beto Brito, relatou a certeza, "e vai colocar isso em um livro, que Deus era um tocador de pife e foi soprando nele, num pife feito de taboca, que deu vida ao Homem com seu sopro fiel".

Visitei no Crato, Ceará, o mestre da cultura de tocar pife, Raimundo Aniceto, 83 anos, nascido em 14 de fevereiro de 1934. Fui na casa do líder da Banda Cabaçal de Pife dos Irmãos Aniceto.  A Banda de Pífe é Patrimônio Cultural Imaterial.

Formado no século 19 pelo “Véi Anicete”, ou José Lourenço da Silva, que mais tarde se tornaria José Aniceto, um descendente de índios do Kariri, o grupo se encontra na quarta geração — e não deixa de lado a música do sertão. A Banda de Pífe já tem mais de dois séculos de fundação.

Seu Raimundo começou a tocar com 6 anos, ele acompanhou de perto a renovação da banda. A formação atual é composta por  Adriano, Antonio (seu irmão), Jeová e Ciço. Eles têm um sexto integrante, Ugui, escalado em situações especiais.

Durante a visita o mestre Raimundo Aniceto mostrou as fotos e os ollhos marejam com retratos da disposição de outrora. Responsável pela coreografia, ele dançava, pulava e arriscava até um salto mortal na apresentação.

Raimundo Aniceto está se recuperando de um AVC-Acidente Vascular Cerebral. Já não toca! Todavia a mente, alma e corpo falam do Guerreiro Cultural que bem sabe e pede socorro: o pife não pode acabar!

No final da visita fiquei a pensar: o Brasil trata realmente com o maior desprezo a sua verdadeira riqueza cultural. A situação atual de Raimundo Aniceto carece de maior respeito e dedicação por parte do poder público...

Mestre Raimundo Aniceto tem seis filhos e de acordo com Dona Raimunda a esposa pediu para que não deixassem acabar o grupo e manter vivas essa tradição. Preocupada Dona Raimunda sentenciou: "É muito difícil, pois a juventude não está muito ligada na tradição. Mas vamos conseguir".
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JUSTIÇA: BEATRIZ SE VIVA FOSSE COMPLETARIA 10 ANOS NO DOMINGO (11)


O assassinato de Beatriz Angélica, morta dentro da Escola Nossa Senhora Auxiliadora em Petrolina, completa neste sábado (10), dois anos e dois meses, sem que a Justiça aponte a solução do crime. 

Beatriz foi assassinada com 42 facadas no dia 10 de dezembro de 2015. Até o momento a Policia não conseguiu desvendar o autor e ou os mandantes do crime. Ninguém foi preso.

Beatriz nasceu no dia 11 de fevereiro de 2008, portanto completaria se viva fosse 10 anos de idade, amanhã domingo. A família e amigos continuam solicitando as autoridades empenho para solucionar o caso. Segundo as investigações, O crime teria sido premeditado, e os suspeitos conheciam bem a escola.

De acordo com a polícia, três chaves da escola sumiram antes do crime. Na ocasião, o molho de chaves foi passado por alguns funcionários da escola, que registraram o desaparecimento delas no final do dia.

Elas dariam acesso aos portões internos e externos da escola. "Além disso, no momento do crime, toda a iluminação estava desligada. As lâmpadas da escola estavam todas apagadas nos corredores. Ou seja: visibilidade zero", disse o delegado na época.

"Todas as manhãs eu acordo e sinto aquele impacto da dor e da realidade. Elucidar um caso como esse nos traria um pouco de conforto. Trazer Beatriz de volta, jamais! Mas nos daria mais tranquilidade", diz o pai de Beatriz, Sandro Romilton. "É como se algo tivesse tirando de dentro de mim todas as minhas forças e todos meus sentimentos", completa a mãe, Lúcia Mota.

Até agora o suspeito pela morte da garota não foi preso. A Polícia Civil conseguiu imagens que revelam a face do autor do crime. Para os investigadores, não há dúvidas de que o homem que aparece nas filmagens de câmeras de segurança de estabelecimentos próximos ao Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, onde ela estudava, é o assassino. O Disque-Denúncia oferece R$ 10 mil de recompensa para quem tiver informações sobre a localização do homem. 

Quem tiver informações sobre o caso, deve ligar (81)937194545, (87)98878-5733 e 9(87)981373902. O sigilo é absoluto e a recompensa é de R$ 10 mil. 
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ANTÔNIO NOBREGA: O FREVO É UM DOS SÍMBOLOS DO POVO BRASILEIRO

Nesta sexta-feira, dia 9 de fevereiro, comemora-se o dia do frevo. O frevo foi elevado à condição de patrimônio imaterial da humanidade. Como se vê, o frevo está em alta. Mas frevo para quê? Por que frevo?

Foi o escritor Ariano Suassuna quem, indiretamente, apresentou-me a ele. Com seu convite para integrar o Quinteto Armorial, dei início a uma viagem de aprendizado dos cantos, danças e modos de representar presentes em manifestações populares como o reisado, o maracatu, o caboclinho e sobretudo o frevo.

Com o passar dos anos, esses aprendizados foram se conectando a estudos e reflexões sobre a cultura brasileira em geral e a popular em particular. Esse casamento entre conhecimento empírico e teórico foi conduzindo-me à constatação de que vivemos num país que reluta em aceitar-se integralmente.

Que outra razão para tal desperdício de insumos culturais tão vastos e de tão imensa riqueza simbólica como o nosso reservatório de ritmos presente em batuques, cortejos e folguedos; de formas e gêneros poéticos –quadrões, décimas, galope à beira-mar; de passos e sincopados armazenados no nosso imaginário corporal popular?

E o que temos feito com tudo isso? Empurrado para o gueto da chamada cultura folclórica, regional ou popular, falsamente antagonizante daquela que se convencionou denominar de cultura erudita.
Há mais de cem anos que a "entidade" frevo vem despejando no país, especialmente em Recife, volumoso material simbólico.

 Esse "material" foi se formando dentro daquilo que venho denominando de uma linha de tempo cultural popular brasileira. Essa "entidade" frevo materializou-se por meio de um gênero de música instrumental, o frevo-de-rua, orgânica forma musical onde palhetas e metais dialogam continuamente, ancorados pela regular marcação do surdo e a sacudida movimentação da caixa; uma dança, o passo do frevo, imenso oceano de impulsos gestuais e procedimentos coreográficos; e dois gêneros de música cantada: o frevo-canção e o frevo-de-bloco, cada um com características particulares tanto de natureza poético-literária quanto musical. Um valioso armazém de representações simbólicas.

Mais do que preservar o frevo, nossa tarefa está em amplificar, dinamizar, trazer para a órbita de nossa cultura contemporânea os valores, procedimentos e conteúdos presentes nessa "instituição" cultural.

Essa ação amplificadora poderia abranger escolarização musical – por que não se estuda frevos em nossas escolas de música?–; a prática da dança – a riqueza lúdica e criadora proporcionada pelo seu multifacetário estoque de movimentos–; a valorização de modelos de construção e integração social advindos do mundo-frevo etc. Tudo isso ajudaria ao Brasil entender-se melhor consigo mesmo e com o mundo em que vivemos.

O frevo é uma das representações simbólicas mais bem-acabadas e representativas que o povo brasileiro construiu. Assim como o samba, o choro, o baião, uma entidade transregional cuja imaterialidade poderemos transmudar em matéria viva operante se tivermos a suficiente compreensão do seu significado e alcance sociocultural.

Fonte: Antonio Nobrega é multi-instrumentista, dançarino e cofundador do Instituto Brincante de cultura e dança popular.
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TOCA O FOLE DOMINGUINHOS SANFONEIRO

“Sanfona é instrumento de pobre, produz o som mais bonito no meio da feiura que causa precisão.,Sanfoneiro, todo ele é um sofredor. Faz a alegria de todo mundo, ganha pouco, quando ganha, e não lhe dão o valor que merece. O povo só tem a sanfona como alento, é o povo de um lugar longe, de onde chega tudo, de onde chega as novidades do mundo de fora.

Sanfona é o toque do mundo de dentro. Aonde há sanfona, há poeira.

Aonde há forró, há uma alegria tão espremida entre a dor e a tristeza, que chega a ser um milagre ver dos rostos sofridos e encardidos, o riso derramado, corrido, que quase não saia, mas acabou saindo, arrebentando a rudeza e caindo em torrente atrás da sanfona.

Pode não se dar conta, o povo do lugar e o povo de fora, mas sanfoneiro é uma coisa por demais importante, é o essencial, a necessidade básica e o luxo das horas boas.

Sanfoneiro é profeta e ao mesmo tempo é boêmio, cúmplice da vagabundagem. Sanfoneiro é chamado para as horas mais insuspeitas e completamente esquecido nas mesminhas horas.

Mesmice é o retrato do lugar, e o mesmo sanfoneiro, das mesmas horas, do mesmo som, das mesmas notas repetidas e mal dadas, das mesmas puxadas, é o único que nunca é o mesmo, porque quem quer que viva isso tudo, que quase não é nada, sabe o quanto tem serventia um sanfoneiro.

Entre os maiores dos maiores, surgiu Dominguinhos, seus dedos gordos, seu corpo grande, seu coração maior e a sensibilidade infinita.

Apareceu num dia de feira, num dia de sol pra ganhar a vida com os irmãos. Tocou pra quem quisesse escutar e pra quem não quisesse também. Entre os que quiseram estava Luis Gonzaga, o rei do baião.

Pro menino tocador, apenas um homem, desconhecido e impressionante.

Para o homem famoso, apenas um menino qualquer, remelento, buchudo e preguiçoso, desses que puxa o fole na feira porque o pai obrigou.

Aquele encontro mudou de cara a vida do menino e muitos anos depois mudaria também a vida do rei. O rei se encantou com o sanfoneiro precoce. Conviveram, tocaram juntos, andaram as estradas do desassossego. O rei ensinou, o sanfoneiro aprendeu. Fizeram uma amizade tão bonita, tão linda, que era recheada de pequenas brigas.

Os dois se amaram, os dois se ensinaram, os dois se aprenderam, os dois amaram o Brasil e foram os dois, pelo Brasil inteiro, muito amados. Um, a verdade eterna. O outro, a saudade enternecida. Um, o maior de todos os ídolos. O outro, o menor de todos os fãs.

A conversa entre os dois é sempre bem entendida, não há necessidade de muitas palavras, de muitos afetos, de muitos apreços. Olho no olho se encontram o mesmo sorriso espremido na hora da dor que vira alegria, a mesma importância tão frágil que se dá ao sanfoneiro.

Um, deu dignidade a sanfona e o outro continua a luta.

Dominguinhos é sereno, nunca foi trovoado. É muito humilde, nunca quis ser rei. Quando toca, consegue ser feliz como poucos. Em cima do palco brilha, reluz, o suor encharca o corpo todo, pinga no chão como chuva. No meio da poeira reaparece em varias formas.

Seu semblante aberto, sua sanfona aberta e fechada, abrindo e fechando, abrindo e fechando... o som mais bonito, os baixos mais bem tocados, o fole mais macio, a puxada mais leve, parece brincar com tanto peso nos ombros. O povo endoidece...

Fora do palco, é a paciência escancarada, quase demência nos gestos. Um olhar comedido, os passos lentos, a fala rara. É paciência que impacienta.

Seu nome era Neném, queria fazer sucesso assim, com esse nome.

O cartaz anunciava: “Hoje, aqui nesse circo, Neném e o seu acordeom!”. Um dia, trocou de nome.

“Neném é apelido que a mãe bota na gente, Dominguinhos é melhor; o diminutivo superlativo”, falaram isso no seu ouvido, ele acreditou. Ainda bem que ele acreditou, porque ele é bom de acreditar e ninguém perde em acreditar por mais que o mundo seja mentiroso.

Toca, Dominguinhos! Toca pro povo, toca nas feiras, mas também toca na mídia! Toca alegria, toca a tristeza, toca a fartura, toca a miséria, toca a noite, toca o dia, toca a ilusão, a decepção, o amor, o desamor ou o alento acuado no bom sentido e canta também, Dominguinhos!

Tua voz é única, o timbre forte, grave, límpido, toda a tua figura é bonita, e tua paciência e calma, quase que atraso.

Cinquenta anos de carreira, que passaram tão depressa.

Fonte: João Claudio Foto: Beto Miranda
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JORGE VERCILLO CRITICA CENA MUSICAL BRASILEIRA: NIVEL BAIXÍSSIMO

O cantor Jorge Vercillo esteve no centro de críticas e elogios depois de publicar um desabafo no Facebook no qual discorre sobre o "nível baixíssimo de música" consumido pelos brasileiros. Nesta segunda-feira (5), ele compartilhou um texto supostamente assinado pelo jornalista Arnaldo Jabor que ironiza a música Que tiro foi esse?, da carioca Jojo Toddynho: "Que tiro foi esse? Que acertou os tímpanos do nosso povo fazendo-os ouvir lixo achando que é música", diz um trecho 

Em sequência, o artista escreveu uma publicação com a intenção de "explicar melhor", na qual afirma que "a responsabilidade desse nível baixíssimo de música é em grande parte do público". "Na verdade, hoje muitas pessoas não estão dando a menor importância pra música. Elas vão às festas pra beber e ou arrumar alguém para ficar, namorar etc... Sinto que parte delas perdeu o ouvido harmônico musical e perdeu também o universo simbólico, a capacidade de interpretação de texto pra alcançar uma letra mais elaborada", disse o autor de Ela une todas as coisas e Que nem maré. 

"Todas as manifestações musicais e culturais são legítimas sim! Precisam ser respeitadas e valorizadas! A grande maioria dos artistas de destaque atual no sertanejo, sofrência, funk, queriam no fundo era viver de MÚSICA de mais QUALIDADE", continuou. "Muitos deles têm talento total para cantar músicas infinitamente melhores do que eles tem feito e fariam isso sem sair dos seus estilos próprios. Não estou aqui fazendo apologia à MPB, nem muito menos falando pelos meus interesses como artista! Pelo contrário, estou me expondo aqui para levantar uma análise mais profunda pra nós". 

Depois da repercussão negativa, Vercillo publicou outro relato, desta vez afirmando que não conhecia Que tiro foi esse? e que as críticas não foram endereçadas ao hit, mas sim ao "sistema que está emburrecendo grande parte da música brasileira e a todos nós". "Quando o suposto texto de Jabor foi mandado pra mim pelo Whatsapp, me identifiquei muito sim, pela reflexão musical, cultural e política direta e contundente de quem o escreveu, fiz questão de publicar pelo conteúdo mais abrangente e não para criticar nem menosprezar ninguém. Até porque como eu disse antes: todos nós somos responsáveis pela nossa cultura". 
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LUIZ GONZAGA E RIQUEZA DO RITMO E MELODIA DAS MUSICAS DE CARNAVAL

Ano passado quando a Dragões da Real entrou na avenida fez  o Nordeste brilhar. A escola de samba homenageou o povo nordestino através de um dos seus maiores ícones - a música Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Isto foi no carnaval de São Paulo 2017.  

O enredo (Dragões canta Asa Branca) é uma espécie de releitura da música. "De tanto "oiá" o sol "queima" a terra / Feito fogueira de São João / Puxei o fole, embalado me inspirei / Aperreado coração aliviei / De joelhos para o pai, pedi / Com os olhos marejados, senti / Quanta tristeza brota desse chão rachado / Perdi meu gado, "farta" água para danar / "Eta" seca que castiga meu lugar / Vou me embora... seguir meu destino / Sou nordestino arretado, sim "sinhô", diz a letra. 

A Escola Unidos da Tijuca do Rio de Janeiro, ganhou  o título de campeã no Carnaval carioca de 2012, com o samba-enredo O Dia em Que Toda a Realeza Desembarcou na Avenida para Coroar o Rei Luiz do Sertão. A composição falava da paisagem, solo e vegetação do Sertão. O título fez o nome de Luiz Gonzaga ter destaque  nos meios de comunicação devido os 100 anos de nascimento.

Todavia o tema Luiz Gonzaga deve ser sempre pauta. Na década dos anos 80 Luiz Gonzaga foi homenageado pela Escola de Samba Vermelho e Ouro. No samba-enredo ele participou da gravação cantando e puxando sanfona. Isto tudo chama atenção e lamentamos as porcarias que hoje são produzidas e que as emissoras de Rádio e televisão divulgam colocando-as em primeiro lugar e salientadas como as mais ouvidas, dançadas e cantadas. A maioria possui letras pobres e vazias de arte.

Usando riqueza de ritmo, harmonia e melodia Luiz Gonzaga no início de sua trajetória musical, poucos sabem, divulgou e cantou o ritmo musical Frevo. Em 1946 gravou "Cai no Frevo". Detalhe: usou sua majestosa sanfona. Puxou a sanfona também no Frevo "Quer Ir mais Eu?", este regravado várias vezes até os dias de hoje e executado pelas orquestras de frevos nas ruas e bailes. "Quer ir mais eu vambora, vambora vambora...

Luiz Gonzaga ainda gravou "Bia no Frevo" e "Forrobodó Cigano". Homenageou o genial Capiba-Lourenço Fonseca Barbosa, tocando o frevo "Ao mestre com carinho" , este genial pernambucano criador da canção "Maria Betânia".

Luiz Gonzaga em parceria com João Silva, já no final da carreira,  mistura sanfona e instrumentos metais. Grava "Arrasta Frevo". Ainda Na seara do carnaval o Rei do Baião  participou do primeiro forró trioeletrizado junto com Dôdo e Osmar, Instrumento Bom. Viva a Bahia.

Toda esta trajetória faz Luiz Gonzaga atual...basta ouvir a letra de "Eu quero dinheiro, saúde e mulher. É isto mesmo e vice e versa Mulher Saúde e Dinheiro e o resto é conversa. Eu quero ser deputado, senador, vereador. Eu quero ser um troço qualquer para mais fácil arranjar Dinheiro Saúde e Mulher"...Impressionante ele gravou essa façanha em marcha-frevo no ano de 1947.

Viva Luiz Gonzaga, a Bahia, o frevo, o trio elétrico, Pernambuco. Viva o Carnaval
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NA VOZ DE LUIZ GONZAGA A FÉ E OS BENDITOS ANINHAVAM-SE BUSCANDO ETERNIDADE

O Nordeste continuaria existindo caso Luiz Gonzaga não tivesse aterrissado por lá há cem anos. Teria a mesma paisagem, os mesmos problemas. Seria o mesmo complexo de gentes e regiões. Comportaria os mesmos cenários de pedras e areias, plantas e rios, mares e florestas, caatingas e sertões.

 Mas faltaria muito para adornar-lhe a alma. Sem Gonzaga quase seríamos sonâmbulos. Ele, mais que ninguém, brindou-nos com uma moldura indelével, uma corrente sonora diferente, recheada de suspiros, ritmos coronários, estalidos metálicos. A isso resolveu chamar de BAIÃO.

Gonzaga plantou a sanfona entre nós, estampou a zabumba em nossos corpos, trancafiou-nos dentro de um triângulo e imortalizou-nos no registro de sua voz. Dentro do seu matulão convivemos, bichos e coisas, aves e paisagens. Pela manhã, do seu chapéu, saltaram galos anunciando o dia, sabiás acalentando as horas, acauãs premeditando as tristezas, assuns-pretos assobiando as dores, vens-vens prenunciando amores.

O seu peito abrigava o canto dolente e retorno dos vaqueiros mortos e a pabulagem dos boiadeiros vivos. As ladainhas e os benditos aninhavam-se por ali buscando eternidade. Viva Luiz Gonzaga do Nascimento!

Fonte: Aderaldo Luciano-professor. Doutor em Ciência da Literatura
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BODOCÓ PALAVRA QUE REVELA NOVOS MUNDOS NO PANDEIRO DE MANU, POESIA DE FLÁVIO LEANDRO, MIGUEL FILHO E JURANDY DA FEIRA

Cada arte emociona o ser humano de maneira diferente! Literatura, pintura e escultura nos prendem por um viés racional, já a música nos fisga pelo lado emocional. Ao ouvir música penetramos no mundo das emoções, viajamos sem fronteiras. 

Fui a Bodocó, o homem que pesquisa é um lutador. Desbravador. Deve vestir a roupa do destemor e despir os pés para adentrar os caminhos, sentindo o chão que pisa...há anos eu precisava sentir a poeira dos caminhos de Bodocó. 

Bodocó. Desde menino a palavra Bodocó zumbe nos meus ouvidos. Na cidade, o sentimento invadia meus pensamentos, alma de menino cantador/jornalista: "Nas quebradas caem as folhas fazendo a decoração. Chora o vento quando passa nas galhas do aveloz. Chora o sapo sem lagoa todos em uma só voz. Chora toda a natureza na esperança, na incerteza de Jesus olhar pra nós...Nos cafundó de Bodocó, de Bodocó, de Bodocó. Nos cafundó de Bodocó, de Bodocó, de Bodocó"... 

Na companhia do amigo Flávio Leandro/Cissa/Emanuel, Jurandy da Feira, Miguel Alves Filho, Franci/Dorinha, no Rancho Febo, tive a felicidade de apreciar a sonoridade da palavra Bodocó.

A cidade é mencionada na canção "Coroné Antônio Bento", que integra o primeiro LP de Tim Maia, de 1970. A música conta a história do casamento da filha de um "coronel", que dispensa o sanfoneiro e chama um músico do Rio de Janeiro para animar a festa. A canção é de autoria de Luis Wanderley e João do Vale.

A cidade também consta na música Pau de Arara (Guio de Moraes)..."Quando eu vim do sertão, seu moço, do meu Bodocó, a malota era um saco e o cadeado era um nó, só trazia a coragem e a cara, viajando num pau de arara, eu penei, mas aqui cheguei"

E uma das mais belas ja citadas aqui: Nos Cafundó de Bodocó, de Jurandy da Feira. "Nas caatingas do meu chão se esconde a sorte cega/Não se vê e nem se pega por acaso ou precisão/ Mas eu sei que ela existe pois foi velha companheira do famoso Lampião".

Também ouvi atentamente o relato de Flávio Leandro quando mostrava uma análise, diálogo/pesquisa, a gênese de nossas raízes. Flávio aproxima nossos ancestrais ao termo, a cultura árabe. Lembrei que Elomar, em sua cantiga O Violeiro, canta “Deus fez os homens e os bichos tudo fôrro...”. De forria para fôrro, de fôrro para forró, celebração da liberdade, da quebra do jugo e dos grilhões. 

Miguel Filho me levou a caminhar na história de Bodocó. Pedra Claranã. Capela São Vicente de Paulo e histórias que envolvem Bodocó e a família de Luiz Gonzaga.

Miguel Filho é o típico sertanejo. Humildade franciscana. Compositor da safra das palavras de qualidade.  Miguel é compositor parceiro de Flávio Leandro, nas músicas Utopia Sertaneja, uma das mais belas da literatura brasileira; e de Fuxico. Miguel tem músicas gravadas também com o Quinteto Violado, Pedras de Atiradeira e Experiências.

E assim a sonoridade Bodocó ganhou ainda mais beleza e sentido. Compreendi que existem palavras que são portas/janelas servem para revelar mundos e situações. Bodocó és encantamento de um janeiro de 2018. 
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FLÁVIO LEANDRO E JURANDY DA FEIRA DE MALA E CUIA NOS CAFUNDÓS DOS BODOCÓS GONZAGUEANOS

O café/almoço nesta manhã foi com Jurandy da feira, compositor e cantor, poeta iluminado nas raízes que brotam nas correntezas da grandeza da música brasileira. O paraibano Vital Farias, luz das cantorias, aponta que Jurandy é grande cantador das coisas que o povo inventa e por isso defende essa história de cantar e compor. Luiz Gonzaga nunca apostou num cabra que desafinasse no coro dos grandes músicos/artistas brasileiros.

"Hoje a saudade bateu forte no meu coração ao ouvir o nosso velho Lua, a triste partida chorei de emoção onde parar a asa branca, assun preto não se vê a natureza indefesa sente sua falta e proteção...Luiz tá melodia. Tá na cantoria desse meu sertão"...

Jurandy chega hoje a Bodocó. Uma visita. Um abraço. Certamente mais uma emoção. Flávio Leandro, sempre amigo, companheiro, abrirá as portas mais gonzagueanas. Uma Sanfona  e violão. Uma orquestra de encantamentos musicais e um Luiz Gonzaga mestre das cantorias chamará Dominguinhos e em Luz na esperança dirá:

Deus Ilumine estes meninos...Poetas! Assim Seja! Amém...

Flávio Leandro, poeta cantador, sabedoria de Luz que ilumina as coisas simples em transformadora maneira de fazer pensar e por isto educa e quem o escuta aprende e é tatuado feito mandacaru florando em tempo de chuva...De Mala e Cuia Flávio Leandro e Jurandy da Feira dois brasileiros gonzagueanos.
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CARTA DE MÃE QUARENTONA PARA UMA FILHA DEBUDANTE

"Filha, hoje, você debuta e eu te deixo agora alguns conselhos que me daria, se pudesse, quando fiz quinze anos:
1- Não te iluda com maquiagens, roupas, regimes ou exercícios de musculação. Nenhum deles te fará quem és , mas o silêncios que guardas dentro de ti. Lembra, os lírios são belos em sua simplicidade de voarem sobre os campos.

2- Não te iluda com a proximidade de pessoas mais velhas. A experiência delas será usada para a tua manipulação e jamais para o teu crescimento. Prefira as pessoas da tua idade. O mais belo na revoada dos pássaros está em voarem alinhados e no mesmo ritmo.

3- Seja generosa mas nunca espere retorno. Saiba que a humanidade é egoísta e ingrata e a nobreza está em ajudá-la sabendo disso.

4- Namore mas jamais se banalize. Namorar é a alegria de ver nos olhos do outro o amanhecer. Nunca anoiteça por ninguém.

5- Cuide de seus avós. Não sabemos até quando teremos suas mãos em nossos ombros. Lembre, eles são o reflexo melhor de teus pais.

6- Não minta por nada. A claridade da alma está é ser como um lago límpido diante de si e dos olhos do outro. Tenha certeza, a mentira é um passo em direção à perda do caráter.

7- Estude. Podem te tirar a casa, os pais, os amigos e até mesmo a saúde. O que manterá tua sobrevivência e existência será o teu conhecimento. Seja amiga dele como és amiga de teu corpo agora, pois no futuro será este mesmo conhecimento que sustentará este corpo.
8- E ame, sobretudo, ame, minha filha. O amor é o que nos aproxima mais de Deus.

Neste dia em que fazem anos, tua mãe te olha, vendo-a aparecer nos teus gestos, palavras e temperamento. Olha e vê uma trajetória de erros e acertos. E apenas pede que tua felicidade seja uma resposta para teus bons gestos e que teus momentos de melancolia e tristeza sejam o trabalho de um artesão sobre um lindo mármore em formação. E saiba, és um lindo mármore.. Eu te amo, minha filha. Feliz aniversário, Clara Loureiro!

Fonte: Clara Loureiro é professora, doutora em literatura
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LUIZ GONZAGA, EXU E CANTOS DE SABIÁS ACALENTANDO AS HORAS

O Nordeste continuaria existindo caso Luiz Gonzaga não tivesse aterrissado por lá há cem anos. Teria a mesma paisagem, os mesmos problemas. Seria o mesmo complexo de gentes e regiões. Comportaria os mesmos cenários de pedras e areias, plantas e rios, mares e florestas, caatingas e sertões.

 Mas faltaria muito para adornar-lhe a alma. Sem Gonzaga quase seríamos sonâmbulos. Ele, mais que ninguém, brindou-nos com uma moldura indelével, uma corrente sonora diferente, recheada de suspiros, ritmos coronários, estalidos metálicos. A isso resolveu chamar de BAIÃO.

Gonzaga plantou a sanfona entre nós, estampou a zabumba em nossos corpos, trancafiou-nos dentro de um triângulo e imortalizou-nos no registro de sua voz. Dentro do seu matulão convivemos, bichos e coisas, aves e paisagens. Pela manhã, do seu chapéu, saltaram galos anunciando o dia, sabiás acalentando as horas, acauãs premeditando as tristezas, assuns-pretos assobiando as dores, vens-vens prenunciando amores.

 O seu peito abrigava o canto dolente e retotono dos vaqueiros mortos e a pabulagem dos boiadeiros vivos. As ladainhas e os benditos aninhavam-se por ali buscando eternidade. Viva Luiz Gonzaga do Nascimento!
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II ENCONTRO DE SABERES DA CAATINGA ACONTECE EM EXU, PERNAMBUCO

Parteiras, rezadores, raizeiros e estudiosos de práticas de curas ligadas à natureza, estão desde o dia 19 até o próximo domingo, 28 de janeiro de 2018, na Chácara Paraíso da Serra, no município de Exu (sertão de Pernambuco), reunidos no II Encontro Saberes da Caatinga.

Realizado pela Rede de Agricultores Experimentadores do Araripe, com apoio de instituições como a Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) e o Ibama, entre outras, o Encontro tem como um dos principais objetivos incentivar e manter vivas práticas de cura (algumas milenares) que não dependem do sistema biomédico. Nesta segunda edição do evento, serão oferecidos vários serviços, oficinas de agrofloresta, extração de óleos vegetais, primeiros socorros usando óleos essenciais, arteterapia, shiatsu, cromoterapia, aromaterapia e bioenergética.

Na opinião da pesquisadora do departamento de Saúde Coletiva da Fiocruz Pernambuco Islândia Carvalho, ao apoiar o Encontro, a Fiocruz PE cumpre o seu papel social de valorização da cultura local no que tange á saúde. “Além disso, a instituição vem desenvolvendo várias pesquisas para elucidar a efetividade dessas práticas e sua potencial contribuição para a saúde da população. Para tal, residentes e mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Fundação, participarão do evento com o objetivo de sistematizar conhecimentos e produzir informações científicas sobre o tema”, afirmou.

Desde 2006, o Sistema Único de Saúde – SUS, conta com a Política de Práticas Integrativas e Complementares. Essas práticas são caracterizadas pela Organização Mundial de Saúde como Medicina Tradicional ou Medicina Complementar. Esse termo significa um conjunto diversificado de ações terapêuticas que difere da biomedicina ocidental, incluindo práticas manuais e espirituais, com ervas, partes animais e minerais, sem uso de medicamentos quimicamente purificados, além de atividades corporais, como tai chi chuan, yoga, lian gong. Outros exemplos de PICs são: acupuntura, reiki, florais e quiropraxia.

O primeiro Encontro, realizado há um ano, contou com mais de 100 benzedeiros, parteiras, raizeiros, pesquisadores e professores dos estados de Pernambuco, Ceará e Piauí. 

Contatos: professora Ana Vartan 87-996352594 e Antonio Alencar: 87999105126 
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TÁCYO CARVALHO, JOQUINHA GONZAGA, NÚRIA MALLENA, FLÁVIO LEANDRO, JURANDY DA FEIRA, NO FORRÓ DO POEIRÃO, EM OURICURI

Tacyo Carvalho, Joquinha Gonzaga, Jurandy da Feira, Flávio Leandro, Nuria Mallena, Epitacio Pessoa, Djesus, Leonardo do acordeon, Vital Barbosa, Leninho do Bodocó, Elmo Oliveira, Serginho Gomes, Cosmo do acordeon, Junior Baladeira, Eliane musicista, Oclécio Carvalho, Reinivaldo Pereira, Guilhiard, Erasmo Rumano, Genivaldo Silva, ( A presença dos Poetas, Juarez Nunes, Ramiro, Azarias do Ibge), se apresentam no sábado (27), no Forró do Poeirão, a partir das 13h, em Ouricuri-Pernambuco, na Churrascaria Chico Guilherme. 

 O evento será um Tributo a Luiz Gonzaga e tem o objetivo de valorizar a passagem do Dia Nacional do Forró, comemorado no dia 13 de dezembro – data de nascimento do Rei do Baião –, e também uma homenagem a todos os seguidores de Luiz Gonzaga

Segundo Tacyo Carvalho, cantor e compositor, organizador do Forró do Poeirão, o Tributo acontece e dá visibilidade aos músicos e ao próprio forró. “O projeto amplia o espaço para os artistas divulgarem seus trabalhos. O compromisso é o legado deixado por Luiz Gonzaga”.

Tácyo ganhou o apelido de Luiz Gonzaga: o garotão de Ouricuri. Isto aconteceu devido a popularidade que Tácyo atingiu apresentando programas de Rádio no Rio de Janeiro e sendo um dos responsáveis em divulgar a vida e obra de Luiz Gonzaga nos meios de comunicação no sudeste. Tácyo é o autor de Trem do Sertão, uma das mais belas músicas do cancioneiro brasileiro. 

"O forró do poeirão é uma oportunidade de fazermos um grande encontro, confraternização de amigos e amantes da boa música e valorizar nosso forró, xote e baião".

As camisas custam R$ 25 e darão direito a entrada do evento. Contatos: 71 994066714

O evento será um Tributo a Luiz Gonzaga e tem o objetivo de valorizar a passagem do Dia Nacional do Forró, comemorado no dia 13 de dezembro – data de nascimento do Rei do Baião –, e também uma homenagem a todos os seguidores de Luiz Gonzaga

Segundo Tacyo Carvalho, cantor e compositor, organizador do Forró do Poeirão, o Tributo acontece e dá visibilidade aos músicos e ao próprio forró. “O projeto amplia o espaço para os artistas divulgarem seus trabalhos. O compromisso é o legado deixado por Luiz Gonzaga”.

Tácyo ganhou o apelido de Luiz Gonzaga: o garotão de Ouricuri. Isto aconteceu devido a popularidade que Tácyo atingiu apresentando programas de Rádio no Rio de Janeiro e sendo um dos responsáveis em divulgar a vida e obra de Luiz Gonzaga nos meios de comunicação no sudeste. Tácyo é o autor de Trem do Sertão, uma das mais belas músicas do cancioneiro brasileiro. 

"O forró do poeirão é uma oportunidade de fazermos um grande encontro, confraternização de amigos e amantes da boa música e valorizar nosso forró, xote e baião".

As camisas custam R$ 25 e darão direito a entrada do evento. Contatos: 71 994066714
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MARIANA, O REI DO BAIÃO E O AMOR POR MINAS GERAIS

De 1980 a 1991 – ano em que faleceu – o cantor e compositor Gonzaguinha viveu em Belo Horizonte onde se casou com Louise Martins, a Lelete, e teve uma filha, Mariana. Foi na capital mineira também que o artista criado no Morro do São Carlos, no Rio de Janeiro, se inspirou para criar clássicos de seu cancioneiro como Lindo lago do amor, em homenagem à Lagoa da Pampulha, e O que é o que é.

Essa história é bastante conhecida. O que pouca gente sabe é que seu pai, Gonzagão - que se estivesse vivo teria 105 anos - também passou uma temporada em BH. Aliás, duas. Uma no começo de sua vida e a outra, no final. A primeira vez que Luiz Gonzaga pisou na capital mineira foi em 1931, quando ainda estava longe de se tornar o Rei do Baião. O artista nascido em Exu, no sertão de Pernambuco, servia o Exército como corneteiro. Belo Horizonte ainda fervilhava com a Revolução de 30. Mas, por aqui, Luiz Gonzaga só ficou por quatro meses e logo foi destacado para servir em outras cidades mineiras, Juiz de Fora, Ouro Fino e São João del-Rei.

Quando ficou famoso, o Velho Lua, como também era conhecido, veio em várias ocasiões para se apresentar nos palcos belo-horizontinos. Mas foi em 1988 que ele pode se aprofundar mais no cotidiano da cidade e de seus habitantes. Com um olho direito já atrofiado – em 1961 ele sofreu um acidente ao lado do filho e perdeu a visão – e com o esquerdo sofrendo de catarata, Gonzagão estava praticamente cego. “A gente teve que pegar ele no laço e trazê-lo para BH para ele se tratar. Seu Luiz sempre inventava uma desculpa para não vir, mas aí fomos lá buscá-lo”, recorda a nora Lelete.

Durante quase um ano, Luiz Gonzaga ia a consultas médicas e em agosto de 1988 finalmente se submeteu a uma cirurgia. Quem o operou foi o oftalmologista mineiro Nassim Calixto, que até meados de 2017 ainda clinicava. Hoje com 90 anos, o médico conta que foi um colega dos tempos de faculdade, o ortopedista Márcio Ibrahim de Carvalho que o recomendou ao pai de Gonzaguinha. Ibrahim de Carvalho estava tratando da osteoporose de Gonzagão. “A primeira consulta foi em julho e no mês seguinte nós o operamos. Mesmo naquela época já era uma cirurgia tranquila. Implantamos uma lente e prontamente ele voltou a enxergar”, conta o dr. Nassim Calixto.

O oftalmologista não se esquece de uma cena no pós-operatório no Hospital São Geraldo, na Avenida Alfredo Balena. Gonzagão estava com um tampão no olho, e o médico perguntou: “Está tudo bem? O senhor está enxergando, seu Luiz?”. “Estou, sim”, respondeu o forrozeiro. “E o que o senhor está vendo?”. “Estou vendo um santo”, declarou o Rei do Baião. Como forma de agradecimento, Luiz Gonzaga presenteou o médico com um LP com a seguinte dedicatória: “Ao meu santo Dr. Nassim Calixto, com a gratidão do Gonzagão. Belo Horizonte, 14/11/88”. “Ele era muito cordial, simples, afável e bem espirituoso. Foi um episódio que marcou a minha vida profissional”, afirma o médico.

A cirurgia realmente deu uma sobrevida ao pernambucano. Lelete não se esquece de um comentário que ele fez, assim que teve alta: “Nossa, Lelete, você é muito mais bonita do que eu imaginava. Gonzaguinha, você, que é o poeta da família, também deveria fazer essa cirurgia para se inspirar. É um turbilhão de cores”.

Mesmo passados 30 anos, a presença de Gonzagão na casa de Lelete e Gonzaguinha na Pampulha é forte. Alguns objetos dele ainda estão pelos cômodos, como fotos, chapéus de couro com dedicatórias para a família, roupas, um gravador em que registrava suas conversas com o filho, um dos seus relógios e até o seu último carro, um Monza com placa de sua cidade natal, Exu. 

“O carro era do seu Luiz e ficava em Recife para ele poder se deslocar para o sertão, já que Exu fica a 600 quilômetros de Recife. Quando ele morreu, o Gonzaga herdou o carro e depois eu herdei. Fui lá em Recife e vim dirigindo o carro até BH. O motor ainda funciona, mas a gente não sai com ele. Virou uma relíquia”, comenta Lelete. Uma das lembranças mais marcantes daquele período era de Gonzagão cantarolando pelos corredores, já que estava produzindo seu último disco, Vou te matar de cheiro. “Ele usava o gravador também para ouvir as fitas que artistas do Brasil inteiro mandavam pra ele”, acrescenta.

Apesar de ter apenas 5 anos na época em que o avô ficou hospedado em sua casa, Mariana – hoje com 35 – diz que a recordação mais nítida que tem do ‘Vôvô Lua’ era de estar sentada em seu colo, na cozinha de casa, e ouvi-lo tocando seu acordeom durante horas. Foi nessa época que ele compôs, ao lado de Gonzaguinha, a música em homenagem à garota, Mariana (Eu vou pra ver Mariana/ Mariana sorrir e dançar/Mariana brincando na vida, tô correndo pra lá/ E vou levando a sanfona, mode a gente cantar/Ei, garota, pirritota, Mariana, Mariana).

“Eu ficava quietinha ouvindo ele cantar e tocar. Acho que ele vivenciou comigo bastante essa coisa de ser avô. Sempre achou que nós éramos muito parecidos, sobretudo a boca”, comenta. Mariana diz que o avô era muito carinhoso e não media esforços em agradá-la. “Quando a gente saía, eu não podia apontar para nada que ele comprava pra mim. Eu nem era uma criança pidona, mas ele queria me agradar o tempo todo. Não me esqueço de um urso de pelúcia marrom que ele me deu e era maior do que eu.”

A neta costumava também passar as férias quando criança em Exu e não se esquece do seu ‘primeiro emprego’, como guia do museu criado em vida pelo avô. “Eu acordava cedinho e ia para lá. Adorava; sabia tudo do vovô. Exu era uma cidade muito importante para ele, e ele fez questão de retribuir. Levou rodovia, posto de gasolina, Banco do Brasil. Vovô tinha orgulhoso disso”, pontua.

Ana Clara Brant-Jornal Estado de Minas
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LUIZ GONZAGA E O DIA EM QUE ELE CANTOU PARA MAIS DE UM MILHÃO DE PESSOAS EM SALVADOR

O Chiclete com Banana estava no auge, a fantasia ainda era a mortalha e a Banda Mel começava a despontar. Mas, no reduto de uma axé music que se fortalecia, eis que a avenida virou sala de reboco. De cima do trio elétrico Carnaforró, ressoava um vozeirão do tamanho do Nordeste.

Pouca gente sabe, mas parte desse momento histórico está em uma relíquia postada no YouTube em 2009. São imagens da TV Itapoan guardadas por mais de 20 anos pelo cantor e compositor baiano Gereba, responsável pela vinda do Rei do Baião. “Farol da Barra ontem à noite”, informam os caracteres do vídeo.

No chão, a galera arrasta o pé na manha, ao ritmo de sucessos como Vida de Viajante, Riacho do Navio, Cintura Fina e a própria Sala de Reboco. Pela primeira vez na carreira, Luiz Gonzaga subia em um trio elétrico. E muito bem acompanhado. Além de Gonzagão, Dominguinhos, Gereba, Bule-Bule e Grupo Bendegó.

Talvez a primeira vez em que uma sanfona, abraçada por Dominguinhos, fazia dueto com a guitarra baiana, tocada por Zeca Barreto, do Bendegó, irmão de Gereba. “Foi uma porrada! Saímos do Porto da Barra, quando chegamos no Espanhol já tinha 80 mil pessoas acompanhando a sanfona”, calcula Gereba.  

No dia seguinte, o Rei do Baião novamente subia no trio, dessa vez no circuito da avenida. Na Praça Castro Alves, o poeta do Sertão tocava para o poeta dos escravos. Luiz Gonzaga teria participado do Trio Carnaforró quatro dias seguidos. “Nos quatro dias, ele bateu o recorde de público da vida dele. Tocou para mais de um milhão de pessoas”.

Os jornais locais se referiram ao encontro, que teve destaque nacional. “O Jornal do Brasil deu uma página falando das duas novidades no Carnaval da Bahia: o Carnaforró e a Dança do Pezinho. Pra variar, né?”, ri Gereba, que neste ano diz ter inaugurado o circuito Barra-Ondina. “O primeiro trio do Circuito Barra-Ondina foi nosso. Nós, com Luiz Gonzaga, criamos o Barra-Ondina. Mas o pessoal do axé odeia que a gente diga isso”.

No ano anterior, em 1985, porém, Luiz Gonzaga já mostrava aproximação com os baianos do Carnaval. A convite de Armandinho, Dodô e Osmar, fez uma participação no disco Chame Gente, que saiu pela RCA. Gravou Instrumento Bom, de Moraes Moreira e Fred Góes.

“A participação dele no disco é um grande encontro com meu pai. Ele fala: ‘Ô, Osmar, quer dizer que agora eu tô no seu trio elétrico’. Aí meu pai responde: ‘É isso aí Luiz, bem-vindo ao trio elétrico da Bahia’”, lembra Armandinho, que considera Luiz Gonzaga um carnavalesco na essência. “Luiz Gonzaga é Carnaval. Pela popularidade e pelo ritmo do galope nas músicas”, diz Armando. “Hoje o Carnaval dá espaço para todo mundo. Naquela época, não. Tinha que ser muito bom. Aliás tinha que ser gênial”.

O convite para Luiz vir ao Carnaval surgiu no ano anterior, em 1985, quando Gereba foi visitar Luiz Gonzaga em Exu (PE), sua terra Natal. Haviam se tornado amigos uns 10 anos antes, em 1974, quando Gereba trouxe Luiz Gonzaga para tocar pela primeira vez em um espaço de respeito na Bahia: a Concha Acústica.

“Botamos 5,5 mil pagantes na Concha Acústica”. Anos depois, em fevereiro de 1979, Luiz Gonzaga se apresentaria, aí sim, no palco mais nobre da Bahia. Novamente ao lado de Dominguinhos, fez uma temporada no Teatro Castro Alves. “Um duelo de sanfonas”, estampou o Correio da Bahia.

O sucesso de Seu Luíz na década de 1980 era a maior prova de que ele havia superado definitivamente um período instável na carreira. Entre o final da década de 60 e início da de 70, enfrentou o descaso da classe média dos centros urbanos e, por consequência, da mídia.

O poeta Capinam também teve sua parcela de “culpa” no ressurgimento de Gonzaga. Junto com Jorge Salomão produziu o show do Teatro Tereza Raquel, em 1974, um marco. O Tereza Raquel lotado mostrava que o rei estava mais vivo do que nunca. Outro tropicalista, Gilberto Gil, sempre deixou claro que Luiz Gonzaga foi sua maior inspiração no início da carreira. Tanto que explorou toda a sua sonoridade em dois discos de forró, um gravado em estúdio (As Canções de Eu, Tu, Eles - 2000) e outro ao vivo (São João Vivo - 2001).

O pai da axé music, o cantor e instrumentista Luiz Caldas, conheceu Luiz Gonzaga no programa do Chacrinha. Se encontraram algumas vezes até surgir um convite que tornou Luiz Caldas o único artista a ter uma música gravada por Gonzagão, quando o que acontecia era o contrário. “Convidei ele uma vez para cantar comigo em um disco. Ele disse: “oxe, é só marcar. Quando fui gravar Amazonas, lembrei e liguei. Ele já tava um pouco adoentado, mas se prontificou", lembra.

“Grandes compositores e intérpretes do Brasil gravaram com ele, mas sempre cantando a obra de Seu Luiz. Eu sou o único que ele canta uma música do outro artista. A música é minha, de Gerônimo e Jorge Matos”. No estúdio da Poligram, no Rio de Janeiro, Luiz Gonzaga ficou todo saidinho para o lado de Rita Caldas, irmã do músico baiano, o que explica a brincadeira que o rei faz no início da gravação. “Ele sempre foi muito saidinho, né? Minha irmã estava cuidando dele e Seu Luiz brinca com ela no início da música: ‘Índio quer mulher. Índio quer mulher’. Estava brincando com Rita”, diverte-se Caldas.

No interior da Bahia, Luiz Gonzaga fez diversos shows em cidades como Cachoeira, Cruz das Almas, Senhor do Bonfim e Monte Santo. Para Jânio Roque de Castro, professor de geografia cultural da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Luiz Gonzaga foi um dos impulsionadores das festas de São João em grandes palcos do interior. “As festas com grandes concentrações começavam a surgir nos interiores da Bahia. Luiz Gonzaga tocou no Recôncavo e outras cidades”.

A ligação de Gonzaga com a Bahia se confirmou com o título de Cidadão Baiano que ele recebeu na Assembleia Legislativa da Bahia, em 1984. Mas quando chegava aqui, dispensava hotel. Tudo por conta da amizade com o fazendeiro baiano Manoelito Argolo, de Entre Rios. “Eram muito amigos”, confirma Gereba. E eram mesmo. Manoelito ganhou até música. Foi assim que virou Manoelito Cidadão, “o maior cabra desse Sertão”. Que nada, Luiz. O maior cabra desse Sertão é Luiz Gonzaga. Do Sertão, do Brasil e da Bahia.   

Alexandre Lyrio-Correio da Bahia
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