RÁDIO CONTINUA VANGUARDA POR MEXER COM A IMAGINAÇÃO DAS PESSOAS E INSTANTANEIDADE, DIZ PUBLICITÁRIO

O rádio passa por uma profunda transformação diante do avanço do áudio digital. Apesar das mudanças sofridas, ele preserva um conjunto de características que o torna capaz de absorver e explorar uma série de inovações, na avaliação de especialistas que compuseram a mesa de discussão “30 anos da CBN: das ondas ao podcast, o futuro do áudio”, no Palco do Conhecimento, na Rio Innovation Week.

Para Washington Olivetto, publicitário e fundador da W/GGK, da W/Brasil e da WMcCann, tanto o rádio quanto o podcast - que se popularizou nos últimos anos - possuem capacidade singular de lidar com a instantaneidade e a imaginação do público se comparado aos demais meios de comunicação:

"O rádio continua vanguarda por ter duas características imbatíveis: a instantaneidade e a capacidade de mexer com a imaginação das pessoas. Esse tipo de imaginação o rádio sempre vai ter e o podcast também. E isso bem produzido tem tudo para ser cada vez mais sucesso, seja para os anunciantes que apostaram nisso, seja para as agências que precisam de prestígio para trabalho criativo."

Márcia Menezes, head de Jornalismo Digital da Globo, destaca que o formato do áudio traz “uma temperatura do que está acontecendo” e mistura, no jornalismo, a informação com a “emoção e a verdade”.

Isso permite, avalia, que o mercado teste programas em áudio com formatos de curta e longa duração, a depender do consumo. A revolução trazida pelos podcasts, inclusive, expõe o potencial do áudio digital no mercado brasileiro:

"A voz traz o componente do humano, da verdade. Fizemos uma pesquisa em 2020 no Brasil que mostra que os novos formatos de áudio entram muito nas áreas urbanas, especialmente Sudeste e capitais do Nordeste. Ele captura - seja jornalismo ou entretenimento - várias gerações, especialmente entre os jovens a partir de 15 e 16 fala muito com a população brasileira, com a classe C."

Na avaliação de Marcelo Kischinhevsky, professor e pesquisador de Rádio da UFRJ, o rádio se adaptou melhor ao ecossistema digital do que a televisão aberta no país, que “demorou a entender o novo contexto de concorrência''.

Ele avalia que o rádio está cada vez mais inserido na lógica multiplataforma ao passo em que está presente no smartphone, nas mídias sociais, na TV por assinatura e até nos smart speakers (assistentes de voz). Uma das próximas tendências para os próximos anos, diz, será o formato de “rádio híbrido”:

"A BMW, por exemplo, fechou um acordo para ter equipado nos veículos de fábrica o rádio híbrido, que inclui o rádio digital via internet e o analógico. Você clica no painel do seu carro e ele busca nos dois formatos o melhor sinal e coloca pra tocar pra você. 

Além disso, tem outras coisas sendo estudadas no rádio híbrido que envolve a escuta não linear, em que o usuário pode ter acesso a listas de músicas que vão tocar na rádio e pular o que não quer ouvir ou ouvir fora daquela ordem, podendo voltar ao fluxo normal à qualquer momento. São algumas das novidades a nível internacional."

Para Washington Olivetto, uma das frentes que ainda precisam ganhar corpo no Brasil é o investimento publicitário em áudio digital. Há vasto potencial de crescimento na área, diz ele: "Historicamente, o que fez o sucesso da publicidade brasileira foi a boa relação entre agências, veículos e anunciantes. Mais do que nunca, agora com o rádio, podcasts e a possibilidade de alguns assumirem características visuais, é fundamental que agências e anunciantes de veículos estejam unidos para a gente começar a fazer coisas cada vez de maior qualidade."

O rádio bateu recordes de audiência durante a pandemia, ao mesmo momento em que passa por uma profunda transformação com o avanço do áudio digital. As notícias mais atualizadas, a prestação de serviço e a proximidade com o ouvinte ganharam novas camadas com a transmissão digital que se espalhou dos aparelhos em casa e dos carros para os smartphones e smartspeakers,e os podcasts que permitem ouvir comentários e reportagens onde e quando quiser. 

Participam do debate: Marcelo Kischinhevsky, professor e pesquisador de Rádio da UFRJ; Márcia Menezes, head de Jornalismo Digital da Globo; e Washington Olivetto, publicitário e fundador da W/GGK, da W/Brasil e da WMcCann. A mediação é de Thiago Barbosa, gerente de produtos digitais da CBN.  (Fonte O Globo/Valor)

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REVISTA DE PROJETO DA USP DISCUTE O IMPACTO AMBIENTAL DA ALIMENTAÇÃO

Você já parou para pensar no porquê de comer o que come? Quais são as trajetórias dos alimentos — desde onde foram produzidos até chegaram ao mercado e, finalmente, à mesa? A alimentação, algo que pode parecer tão trivial, é um processo complexo, que envolve pessoas, práticas culturais e interesses econômicos. Para tornar esse sistema mais conhecido, o projeto de extensão Sustentarea da Faculdade de Saúde Pública da USP lançou a 12ª edição de sua revista trimestral, a última de 2021.

A revista traz discussões sobre o sistema alimentar brasileiro, descrito por seu editor, Alisson Machado, como um conjunto de processos que envolvem desde a produção até o consumo final dos alimentos. Algo que, segundo o periódico, não diz respeito apenas às logísticas de transporte e cultivo, mas que se relaciona também com a história de colonização do País, os hábitos e alimentos que se desenvolveram em cada região. 

A nova edição conta com 20 autores das áreas de nutrição, geografia e antropologia. Para Machado, o assunto escolhido tem ganhado destaque no contexto de pandemia e avanço da fome no Brasil. Nesse cenário, muitas pessoas começaram a pensar como a alimentação se associa a aspectos mais amplos da vida, como a saúde, o humor e o impacto humano sobre o meio ambiente.

A procura por uma alimentação sustentável deixa de contemplar apenas a demanda nutricional do indivíduo para se engajar no uso responsável dos recursos naturais. Aos que estão nesta busca, Machado chama atenção para a importância de compreender a origem da comida que chega à mesa. “Dependendo do que a gente escolhe, estimulamos algum tipo de economia. Ao consumir de pequenos produtores e alimentos orgânicos, por exemplo, o impacto ambiental é menor”, lembra o editor da publicação.

Além dessas reflexões, a edição oferece alternativas ao consumo de alimentos industrializados e ultraprocessados, disponibilizando receitas e dicas de preparo para opções mais saudáveis, como as plantas comestíveis descartadas do cardápio tradicional — as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs).

Destaque da edição para a lista de alimentos de época, além de uma perspectiva sobre os alimentos mais produzidos no Brasil e no mundo, a revista apresenta ainda a história de sucesso da Cooperativa Grande Sertão e características da taioba, na tradicional seção Que Alimento é Esse?

REVISTA: A revista Sustentarea integra as atividades do Núcleo de Apoio às Atividades de Cultura e Extensão da USP (Nace) Sustentarea, projeto de extensão universitária da USP com uma visão global da alimentação. Indo desde a produção até o consumo, o projeto visa a ajudar a construir e manter hábitos saudáveis na população, a fim de reduzir o risco de doenças crônicas e o impacto ambiental.

O Nace surgiu como uma evolução do projeto Dia Sem Carne na FSP, que foi baseado numa dissertação de mestrado da faculdade. Atualmente, o projeto atua na divulgação científica para a população nas mídias sociais e desenvolve atividades sobre alimentação e sustentabilidade em rodas de conversa, oficinas e materiais educativos com alunos de escolas municipais de São Paulo. O objetivo é estimular o engajamento e a reflexão dos alunos na melhora de seus hábitos alimentares e entre seus amigos e familiares. (Fonte: Jornal da USP)

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MORRE, AOS 95 ANOS O POETA THIAGO DE MELO, DEFENSOR DA FLORESTA AMAZÔNICA

Uma das vozes mais importantes na defesa da Amazônia, o poeta Thiago de Mello morreu nesta sexta-feira, aos 95 anos. A informação foi confirmada pela editora Global, que publicou nota sobre o poeta e ativista nas redes sociais. "É com grande pesar que comunicamos a morte do autor Thiago de Mello, aos 95 anos.

Grande tradutor, ensaísta e um dos nomes mais influentes e respeitados da poesia brasileira, Mello ficou conhecido como um ícone da literatura regional e sua perda será sentida não apenas pela sua família e aqui na Global, mas em todo o país", diz a nota.

O poeta morreu em Manaus e causa não foi revelada. O velório será na capital amazonense. O governador do Amazonas, Wilson Lima, decretou luto oficial de três dias.

Thiago de Mello nasceu em Barreirinha (AM), em 1926, e se engajou na luta política e na defesa da natureza ao longo de toda a carreira. É dele o poema Os estatutos do homem, publicado em 1964, no qual defende a verdade, a vida e a natureza. Além do engajamento político e ambiental, Thiago de Mello também era grande defensor dos direitos humanos.

Ao longo de mais de 60 décadas de carreira, ele publicou 12 livros de poesia e oito de prosa. O poeta lutou contra a ditadura e, por isso, acabou perseguido e exilado. Viveu na Argentina, em Portugal e no Chile, onde conheceu e  fez amizade com o Nobel Pablo Neruda.  

Confira a nota da Editora Global: "É com grande pesar que comunicamos a morte do autor Thiago de Mello, aos 95 anos. Grande tradutor, ensaísta e um dos nomes mais influentes e respeitados da poesia brasileira, Mello ficou conhecido como um ícone da literatura regional e sua perda será sentida não apenas pela sua família e aqui na Global, mas em todo o país.

O autor, que nasceu em Barreirinha, Amazonas, em 30 de março de 1926, tem também a luta política, o lirismo, a natureza, as relações de família e os amores como facetas marcantes em sua obra.

Preso durante a ditadura militar (1964-1985), exilou-se no Chile, encontrando em Pablo Neruda um amigo e colaborador. Da amizade veio a decisão de traduzirem os poemas um do outro.

Mello morou na Argentina, no Chile, em Portugal, na França e na Alemanha. Voltou à sua cidade natal, onde vive até hoje, apenas após o final do regime militar no Brasil.

Publicou, entre outros livros, Faz Escuro mas Eu Canto, Acerto de Contas, Como Sou, Melhores Poemas e Amazonas – Pátria da Água. Suas obras foram traduzidas para mais de trinta idiomas.

É hora de celebrar seu legado e se apoiar no seu lirismo para manter sua memória viva.

A Global deseja forças para sua família neste momento tão difícil."

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LEGISTA GEORGE SANGUINETTI DIZ QUE É UMA FANTASIA DA POLÍCIA DE PERNAMBUCO APRESENTAR O ASSASSINO DA MENINA BEATRIZ

Nesta sexta-feira (14), o programa Super Manhã com Waldiney Passos entrevistou por telefone o legista George Sanguinetti. Sanguinetti disse que o apresentado não foi o autor do homicídio de Beatriz. 

“É fraca a argumentação, a história apresentada é uma fantasia”, disse Sanguinetti.

“Como ele vai exatamente naquele setor abandonado [do Colégio]. Não foi um trabalho solitário, alguém observava, alguém vigiava. Não me convenço desse pedinte, desse pobre homem, que assusta uma menina de 7 anos, que vai constatar que ele está armado com uma faca e é vitimada por conta disso. Faltam muitos elementos para ter veracidade“, pontuou.

Ainda segundo Sanguinetti, o crime não tem motivação, tratando-se de uma “fantasia”, que convence apenas quem quer contar tal fato.

Em 2018, com exclusividade para o BLOG NEY VITAL, o médico legista George Sanguinetti escreveu um texto refletindo os dois anos e um mês da ausência de provas com relação ao crime da menina Beatriz. A solicitação do texto foi feita pela redação do Blog Geraldo José e este é exclusivo. Sanguinetti acusa "o comando da Segurança Pública de Pernambuco pelas entrevistas coletivas conflitantes, substituição de delegados e nada de concreto surgiu em tanto tempo". A menita Beatriz foi assassinada no dia 10 de dezembro 2015, com 42 facadas, durante uma festa no Colégio Maria Auxiliadora, em Petrolina. Até o momento ninguém foi preso.

A revista Carta Capital definiu Sanguinetti numa vida proporcional à compulsão pela polêmica, a ponto de muitas vezes a sua contratação ser confundida com táticas diversionistas de advogados de defesa. Desde o controverso laudo sobre a morte de PC Farias, em 1996, é personagem em casos rumorosos. Todavia, de um ponto ninguém duvida: é Sanguinetti um dos mais experientes médicos legistas da atualidade.

Confiram texto na íntegra postado em 2018:

"O corpo foi encontrado em sala do Colégio tradicional católico de Petrolina; local isolado da festa de confraternização por Formatura. Inúmeros golpes de faca, vestes embebidas em sangue. Na área não coberta do corpo, cortes, ferimentos, com predomínio da ação cortante, nos membros superiores, região cervical (pescoço), membros inferiores. Na face manchas sanguíneas coaguladas não permitem descrever as áreas atingidas. Os golpes desferidos foram aleatórios, sem metodologia ou ordenamento, o que inviabiliza a hipótese de utilização de ritual de magia negra.

A violência dos ferimentos, ódio ou insanidade. Uma criança atacada com tamanha sanha assassina. Por que? Por quem? E em espaço de tempo tão curto.

A menor Beatriz estava com os familiares, em determinado momento dirige-se ao bebedouro; já não mais é vista. Conduzida para o local onde seria sacrificada por alguém que conhecia bem as dependências do Colégio e que contou com ajuda de cúmplice para vigiar quanto a possibilidade da aproximação de pessoas. Quase duas mil pessoas no local. Pais, professores , alunos, convidados; a solenidade seguindo seu curso.  Quem poderia imaginar que ocorreria tamanha selvageria com uma menor. Por que? Por quem?

Notando que Beatriz não regressou, os pais iniciam uma busca frenética. Chamam, chamam, mas não há resposta. Até o corpo ser encontrado. Pessoas presentes, que faziam parte da busca ou atraídos pela movimentação anormal, entram no local do crime. Fotografam utilizando i-fone, celular, caminham, superpõem pegadas, como foi antes da chegada da Perícia, tornou o local “ não preservado, inidôneo ou violado”. 

Sempre há um prejuízo. Recebi  doze fotografias, tiradas antes da chegada da Perícia. Analisei, ampliei, utilizei técnicas de fotografias forenses e passei a acompanhar o caso, inclusive por ser crime hediondo, me ofereci a Polícia de Petrolina para ajudar, sem custos, nem mesmo de passagens, hospedagem, etc. Não fui aceito. Tentei via Ministério Público, não logrei  êxito. Com as fotografias do corpo no local, observei manchas de sangue por escorrimento, manchas por contato e manchas por impregnação. Também uma pegada, que pelo local ter sido violado, a esclarecer se de uma das pessoas que adentraram a sala, ou do executor.

Pensei se não desejam ajuda é porque estão desvendando o crime. Começaram entrevistas coletivas conflitantes, substituição de delegados; nada de concreto surgiu em tanto tempo.

Para dar uma satisfação, atribui-se a autoria a uma imagem de vídeo, divulgada quase dois anos após, de pessoa que estaria frente ao Colégio e que também foi vista no interior, durante a confraternização. Sem prova técnica, nexo de causalidade, arma do crime, indícios que coloque alguém no local da morte onde houve o homicídio, não há realidade jurídica.

Lamento, mas a investigação encontra-se sem rumo. Insisti que retorne ao início, que verifique os vestígios do local, que me permita acesso a parte técnica, aos laudos periciais, como o necroscópico, o levantamento de local. Darei respostas e como o caso está sob sigilo de Justiça, não irei divulgar juízo de valor, sobre o que foi feito ou deixou de ser feito. Aplicarei meus conhecimentos para evitar a impunidade. Eu represento, pelo tempo decorrido, a única possibilidade de esclarecimento. É desabafo ao que poderia ter sido feito".

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PESCADORES FESTEJAM CHEIA DO RIO SÃO FRANCISCO: "EU SEMPRE REZEI PARA ISTO ACONTECER", DIZ SEU NEM

Arthur Lopes Filho, escreveu que aqueles que tem o privilégio de nascer em cidades banhadas por um rio de altivo porte carregam um diferencial de alegria de vida e de respeito pelas águas. Mas aqueles que vivem e trabalham no Rio São Francisco, carregam a alegria de saber que todos sempre espiam a curva do rio esperando a esperança sem perder a coragem. A coragem de ter sempre renovada esperança de que o rio ficará cada dia mais belo.

Essa esperança se torna real neste início de 2022, quando o Rio São Francisco, um dos mais importantes do Brasil, registra a maior cheia dos últimos 14 anos. A situação preocupa principalmente as comunidades ribeirinhas. Mas é também e principalmente motivo de alegria.

Em Juazeiro e Petrolina, rio São Francisco, Opará Rio que é Mar, voltou a dar alegria aos ribeirinhos, que vivem da pesca. Depois de mais de uma década de seca, as águas do Velho Chico voltam a trazer prosperidade para quem tira dele o seu sustento. E tudo isso graças as chuvas que caíram e que encheram os principais reservatórios do Brasil, e a barragem de Sobradinho.

O pescador Domingos Márcio Matos, conhecido por Nem da Colônia nasceu em Juazeiro, Bahia é um dos fundadores da colônia, ex delegado da Bacia do Rio São Francisco. Aos 61 anos disse que a comunidade sempre reza para que tenha chuvas na região. E foram as chuvas dos últimos dias as responsáveis pelo aumento no nível das águas.

"Vivo nas margens do Rio São Francisco. São mais de 15 anos sem uma cheia.  A chuva é benção de Deus, Divino Criador. Há décadas assistíamos o Velho Chico doente, agonizando. Agora ele vai ter um período de muita água. Isto representa fartura de trabalho para o pescador e agricultor", disse, lamentando que em alguns lugares, a exemplo do Angari, o homem construiu na calha do rio, e ele agora que o caminho livre para o seu curso natural.

Domingos Rodrigues de Sousa Filho, também conhecido por Dominguinhos da Colônia é o atual presidente da Colônia de Pescadores Zona 60 Juazeiro Bahia.  Ele avalia que o momento é de festejar. "O nível da água subiu mais e vai favorecer muito a desova dos peixes e o repovoamento. Isto é bom para os pescadores", ressaltando que pelo outro lado a colônia se dispõe a "garantir o galpão para aqueles que porventura precisarem deixar a casa neste período"

Depois de 12 anos, as regiões do Submédio e do Baixo São Francisco terão vazões em patamares elevados. A vazão está subindo gradualmente desde o dia 12 de janeiro e vai alcançar 4.000 metros cúbicos por segundo (m³/s) no próximo dia 24. 

 Ao longo dos anos, a Chesf mapeou pontos mais sensíveis à elevação de vazão em decorrência de ocupações irregulares na calha do Rio São Francisco. A Companhia já está em contato com prefeituras e defesas civis oferecendo todas as informações disponíveis.

Como os últimos 10 anos foram de estiagem no Velho Chico, a Chesf avalia que, atualmente, mais localidades devem apresentar pontos sensíveis a vazões da ordem de 2.500 a 4.000 m³/s, sendo fundamental a avaliação das prefeituras e defesas civis.

Trecho entre as usinas de Sobradinho e Luiz Gonzaga (Submédio São Francisco)

Pernambuco 

Petrolina: possui áreas sujeitas à inundação com vazões a partir de 4.000 m³/s. As ilhas situadas a jusante de USB começam a ser inundadas com vazões acima de 3.000 m³/s. Destaque para o Balneário da Ilha do Rodeadouro, famoso ponto turístico da região, que

começa a sofrer inundação com vazões da ordem de 3.000 m³/s;

Santa Maria da Boa Vista: Balneário da Ilha da Coroa sofre inundação com vazões acima de 3.500 m³/s. Olarias a montante do centro de

Santa Maria, sofrem inundações com vazões de 4.000 m³/s;

Bahia

Juazeiro: possui áreas sujeitas à inundação com vazões a partir de 4.000 m³/s. Destaque para o bairro do Angari, situado abaixo do

dique de proteção, sujeito à inundações com vazões a partir de 3.000 m³/s;

Abaré: Captação construída abaixo do nível da cidade e sujeita a inundação com a ocorrência de vazões superiores a 4.000 m³/s;

Trecho Usina de Xingó até a Foz (Baixo São Francisco).

Alagoas

Piranhas: Bares construídos dentro da calha do rio sofrem inundação com 2.500 m³/s;

Pão de Açúcar: Balneários sofrem inundação a partir de 3.000 m³/s;

Belo Monte: Balneários sofrem inundação a partir de 4.000 m³/s;

Traipu: Prainha inunda com vazões de 3.500 m³/s;

São Brás: Vazões acima de 4.000 m³/s causam inundações em construções próximas a calha do rio.

Sergipe

Canindé do São Francisco: Orla sofre inundações com vazões a partir de 3.000 m³/s;

Amparo do São Francisco: Balneários sofrem inundações com vazões a partir de 3.000 m³/s;

Porto de Folha: Povoados próximos a calha do rio sofrem inundação com vazões a partir de 3.000 m³/s;

Gararu: Balneários sofrem inundação com vazões a partir de 3.000 m³/s;

Telha: Balneário apresenta inundação com vazões superiores a 2.500 m³/s;

Propriá: Balneário apresenta inundação com vazões superiores a 3.500 m³/s;

Santana do São Francisco: Balneário apresenta inundação com vazões superiores a 2.500 m³/s.

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OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO DECRETA REGIME DE CHEIA NA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO

Diante da condição de cheia na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, foi iniciada operação especial dos reservatórios da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) para promover o controle das águas, tendo em vista que o período úmido na região se estende até abril. 

 Hoje (12), serão elevadas as vazões de todas as hidrelétricas da Chesf, no Velho Chico, gradativamente, com previsão de abertura de comportas (vertimento) a partir do dia 14. No dia 24 de janeiro, a vazão praticada a partir das usinas de Sobradinho (BA) e Xingó (SE) será de 4.000 metros cúbicos por segundo (m³/s).

 “O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) decretou regime de cheia na Bacia do Rio São Francisco e, dessa forma, temos que atuar com regras específicas, aguardando chegar mais água, pois ainda há grande volume de chuvas acontecendo em Minas Gerais. A previsão é de Sobradinho, nosso maior reservatório, alcançar cerca de 75% de armazenamento no fim de janeiro”, informou o diretor de Operação da Chesf, João Henrique Franklin.

Como as chuvas ocorrem até abril, na Bacia do São Francisco, o diretor acrescentou que há grandes possibilidades de o Reservatório de Sobradinho voltar a atingir armazenamento próximo a 100%, como no período úmido 2019/2020. 

 O foco do atual momento é o estreitamento do relacionamento da Chesf com as Defesas Civis e Prefeituras para que estejam cientes da elevação do nível do rio. “Vamos ter vazões que há doze anos não vemos no Rio São Francisco. É necessário haver a liberação da calha do rio, prevalecendo a segurança”, declarou o diretor.

As prefeituras e as defesas civis, além de diversas entidades, já foram comunicadas pela Chesf da liberação de água necessária para o controle de cheia. Confira o comunicado oficial, incluindo a Carta do ONS

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EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO AMEAÇA A FOZ DO RIO SÃO FRANCISCO

As águas se agitam no encontro do São Francisco com o oceano, mas Jailton Souza, pescador desde menino, leva o barco com tranquilidade. Ele está acostumado a conduzir turistas até a desembocadura do rio, entre os estados de Sergipe e Alagoas. 

O lugar é um deslumbre de manguezais e praias de areia branca, onde tartarugas desovam. Só que ali já transbordam sinais de degradação. “A água salgada queimou os coqueirais e as plantações de arroz”, mostra Jailton. 

O Velho Chico não consegue mais conter o avanço do mar porque perdeu vazão com hidrelétricas, transposição e outras interferências no seu curso. A nova ameaça é a exploração de petróleo e gás na região da foz. É bem perto do estuário do rio em que a multinacional ExxonMobil quer perfurar 11 poços de petróleo, na Bacia Sergipe-Alagoas. 

A área de influência, sujeita a impactos diretos e indiretos do chamado Projeto SEAL, vai de Alagoas até o Rio de Janeiro. Em caso de vazamento, pelo menos 52 unidades de conservação podem ser diretamente afetadas, entre elas a Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, uma das sete áreas de prioridade máxima para a conservação dos recifes de coral no Brasil. 

A petrolífera ainda depende da licença ambiental do Ibama para iniciar as perfurações, mas, mesmo sem essa permissão, começou a treinar populações locais para lidarem com possíveis vazamentos. Pescadores disseram à Agência Pública que a empresa pagou diárias de até R$ 2.500 por barco para ensinar, por exemplo, como conter petróleo na água. A reportagem percorreu mais de 400 quilômetros entre Alagoas e Sergipe, por estradas de terra e de água, para ouvir populações potencialmente afetadas, deixadas à margem das discussões.

O Ibama informou ao InfoSãoFrancisco que não autorizou os treinamentos sobre derramamento de petróleo, mas não respondeu à Pública se as programações fazem parte das etapas de licenciamento. O histórico de desastres da ExxonMobil inclui um dos maiores vazamentos da história, em 1989, quando o petroleiro Exxon Valdez despejou 42 mil toneladas de petróleo no Alasca, episódio conhecido como “maré negra”. 

Segundo os relatos, as atividades foram realizadas pelo menos nos municípios alagoanos de Piaçabuçu, Coruripe, Jequiá da Praia e Barra de São Miguel e no povoado de Saramém, do lado sergipano. Em cada um desses lugares, duraram aproximadamente dez dias e, em muitos casos, foram divulgadas pelas próprias prefeituras. Um comunicado oficial da prefeitura de Piaçabuçu informou à população sobre a montagem de uma estrutura, ao lado da sede da administração pública, para o “treinamento prático de proteção da costa”. Para Divaneide Sousa, coordenadora da Articulação do São Francisco, as prefeituras estão sendo coniventes por interesse. “Estão de olho nos royalties do petróleo”, comenta. 

Os treinamentos foram ministrados pela americana WittO’brien’s e a brasileira OceanPact, especializadas em planos de contingência de petróleo e respostas a emergências ambientais. As empresas se uniram numa joint venture em 2011. A WittObriens é a consultora ambiental que assina o Estudo de Impacto do projeto da ExxonMobil no estuário do São Francisco.

Em outubro de 2019, o juiz Francisco Eduardo Guimarães, da 14º Vara Criminal Federal no Rio Grande do Norte, requereu mandados de busca e apreensão na empresa, citada por ele como “indivíduo qualificado” na investigação do navio petroleiro grego Bouboulina, da Deltankers, que já foi apontado como responsável pelo derramamento de óleo no litoral brasileiro entre 2019 e 2020. Na época, cerca de cinco mil toneladas de petróleo foram retiradas de mais de mil localidades em 11 estados – nove deles no Nordeste. A substância tóxica contaminou 3 mil quilômetros da costa, sendo considerado o maior crime ambiental em extensão da história do país. 

Apenas em dezembro passado, a PF concluiu a investigação do desastre, indicando um navio petroleiro de bandeira grega como o responsável, mas não confirmou se era mesmo o Bouboulina nem divulgou o nome da empresa responsável. A polícia também não esclareceu se a WittO’brien’s teria relações com a embarcação. Em nota, a WittO’Brien’s garantiu que a empresa “não possui qualquer envolvimento no desastre do óleo na costa brasileira”, nem “qualquer relação com a Delta Tankers”. Informou ainda que “não foi indicada no inquérito policial”, como mostra documento expedido pela PF em novembro de 2019, mas que foi procurada durante as investigações da Operação Mácula, da PF, para “fornecer eventuais informações que pudessem colaborar com a investigação.”

“É FIM DO RIO": Caso ocorra um vazamento de petróleo na operação da ExxonMobil, os próprios estudos da empresa mostram que Piaçabuçu seria um dos primeiros locais atingidos. Lá está a praia do Pontal do Peba, última faixa de areia no ponto de deságue do rio para o mar. O município de pouco mais de 19 mil habitantes já foi um grande produtor de arroz, mas o aumento da salinidade da água, causada pelo definhamento do rio, acabou com a produção. Sobraram a pesca – sobretudo de crustáceos, porque ali está o maior banco de camarões do Nordeste, quarto do Brasil – e o turismo. Isso tudo também vem minguando desde o desastre do óleo, seguido pelos anos de pandemia. 

A Área de Proteção Ambiental (APA) de Piaçabuçu, que protege espécies ameaçadas, como espécies de tartarugas marinhas, funciona com pouca estrutura. Por causa do projeto da ExxonMobil, em setembro de 2021 o Ministério Público Federal (MPF) em Alagoas questionou áreas de proteção da região sobre condições operacionais, caso ocorra um acidente. O gestor da APA de Piaçabuçu respondeu por ofício afirmando que a unidade tem apenas “dois servidores e uma viatura” e, por isso, não tem “capacidade operacional para proteger nem minimizar os impactos decorrentes da chegada do óleo”. 

O servidor não concedeu entrevista porque a comunicação do ICMBio, órgão federal ao qual a APA é ligada, está centralizada em Brasília. O ICMBio não nos respondeu. 

No fim do ano passado, representantes da ExxonMobil estiveram na colônia de pescadores de Piaçabuçu. “Pediram indicação de pescadores para os treinamentos”, conta Antônio Amorim, presidente da colônia, com quase 4 mil associados. Sessenta barcos foram selecionados – os maiores, de seis cilindros, receberam R$ 2,5 mil por diária; os de quatro cilindros, R$ 2 mil. “Ajudou quem estava parado, dependendo do Bolsa Família”, diz Amorim. Ele evitou críticas, mas admitiu que um novo acidente, numa região que já sofreu com o petróleo, “é uma grande preocupação”.

O dinheiro dos treinamentos foi uma forma de “silenciar as pessoas”, para Jasiel Martins, fundador da ONG Olha o Chico. A organização fazia parte do conselho gestor da APA de Piaçabuçu, desmantelado durante o governo Bolsonaro, que dissolveu várias estruturas de participação da sociedade na gestão estatal. A ONG assina, com mais de cem organizações, uma carta pública contra a instalação da petrolífera na foz. O texto aponta fragilidades nos estudos de impacto ambiental da ExxonMobil e exige que as comunidades impactadas sejam consultadas em audiências públicas presenciais, não realizadas por causa da Covid-19. 

Na linha de frente da luta pelo São Francisco, Martins assegura que “um acidente será o fim do rio”. “E o rio é sobrevivência. Não tem mais as aningas [plantas de água doce], os peixes mudaram. A gente vive na beira do São Francisco sacrificado, dependendo de caminhões-pipa porque a água está salobra.”

QUILOMBOLAS NA ROTA DO OLEO: A estrada entre Piaçabuçu (AL) e Brejo Grande (SE) é o próprio rio São Francisco. A balsa leva aproximadamente uma hora para atingir as margens do município sergipano, ponto mais próximo da costa do local de perfuração, apenas 50 quilômetros. O óleo poderia chegar lá em aproximadamente dois dias, numa situação de escape grave, segundo as previsões da ExxonMobil.

Quatro territórios quilombolas estão no município: Brejo Grande, Santa Cruz (onde está a comunidade de Brejão dos Negros), Resina e Carapitanga. São 480 famílias, sobretudo de pescadores artesanais e agricultores, vivendo sob tensão.

Embora seja certificado pela Fundação Palmares, o território ainda é ocupado por não quilombolas, donos de grandes fazendas de carcinicultura, que é a criação do camarão. “Somos impedidos de plantar e de pescar nas nossas terras. Colocam seguranças armados, câmeras para nos vigiar”, explica Maria José Bezerra, presidente da Associação Quilombola, conhecida como Deca. 

Água encanada não é uma constante nas casas, muito menos internet. Assim, o convite para uma audiência digital sobre o projeto não fez sentido. “Chamaram para ver a transmissão no telão, em Aracaju (SE), quatro horas de carro daqui. Só pra ver, não nos ouvir”, reclama Domenicio dos Santos, uma das lideranças quilombolas. “A empresa chega assediando, oferecendo dinheiro, treinamentos. Não participamos porque entendemos os riscos”, comenta Enéas Rosa, pescador e líder da comunidade quilombola de Resina. 

Cansada depois de ter preparado um almoço farto, com o caranguejo-uçá pescado na própria comunidade, galinha de capoeira e um suco de mangaba, daqueles que refrescam e colam os lábios, Maria Isaltina Silva, liderança quilombola da comunidade de Brejão dos Negros, se recostou na janela de casa. De lá, ela vê a lagoa do sumidouro, cheia de histórias de encanto e mal-assombros. Seus antepassados habitam este lugar há pelo menos 300 anos, pescando siri, peixes e caranguejos. Ali também ela celebra cocos e maracatus.  “Falam de libertação, mas não fomos libertos. Nos perseguem de outras formas”, pranteia. “Se queremos preservar o mangue, chegam para destruir. Nosso emprego é o rio e o mangue. A gente não sabe fazer outra coisa.”

Jane Teresa e Jerônimo Basílio, advogados ambientalistas da Sociedade Canoa de Tolda, em Sergipe, assinaram uma Ação Civil Pública que tentou impedir a audiência pública em formato virtual, como noticiou o site InfoSãoFrancisco. De forma resumida, eles dizem que a programação, uma etapa fundamental para o licenciamento ambiental, não cumpriu requisitos legais, como a consulta prévia das comunidades tradicionais prevista na Convenção 169 da OIT. 

O MPF, tanto em Sergipe quanto em Alagoas, tentou suspender a audiência, no intuito de garantir a escuta adequada e presencial das populações, observando medidas sanitárias, mas a Justiça não acatou o pedido. No dia 14 de setembro de 2021, o Ibama conduziu uma Audiência Pública Virtual, transmitida pelo YouTube, com representantes da ExxonMobil e da WittO’brien’s. Algumas pessoas receberam um link para intervenções orais ao vivo, porém as falhas na conexão, problemas com áudio e vídeo foram queixas constantes. 

AUDIÊNCIA PÚBLICA: Os questionamentos foram selecionados e lidos pelo diretor de licenciamento ambiental do Ibama, Jônatas Trindade. Ele chegou a interromper um representante dos pescadores, quando lia a carta aberta dos povos contra o projeto, alegando limite de tempo da participação. 

Segundo a advogada Jane, há pelo menos 116 comunidades quilombolas na zona de influência do empreendimento. “Muitas não têm sinal de internet, como iam participar?” Ela conta que “o EIA [Estudo de Impacto Ambiental] foi entregue pela ExxonMobil em cima da hora para consulta, ferindo o princípio da publicidade”. Para o advogado Jerônimo, seria necessário realizar mais de uma audiência on-line, “como prevê a Resolução do Conama 9/87, dada a complexidade dos impactos, que envolvem pelo menos cinco estados e 76 municípios em sua zona de influência”, destaca.

Às vésperas da COP 26, pescadores, ambientalistas e cientistas se unem para deter leilão da ANP, marcado para hoje, com blocos de exploração de petróleo em Noronha e costa de SC

Procuradora do MPF em Alagoas, Juliana Câmara quer anular a audiência por prejuízo à efetiva participação popular. A Ação Civil Pública apresentada por ela, com tutela de urgência, requer o agendamento de uma nova audiência presencial com participação das comunidades tradicionais pesqueiras, que foram excluídas do debate por falta de acesso à internet. Pede também a realização de várias audiências públicas, “dada a abrangência geográfica dos impactos ambientais”, e sinaliza “multa de R$ 10 mil por ato administrativo praticado sem o agendamento de nova audiência presencial com a participação de comunidades tradicionais”. A Justiça ainda não se posicionou.

Juliana está acostumada a acompanhar atividades com grande impacto socioambiental, mas alguns pontos chamam sua atenção nesse caso. O primeiro é a pressa nos processos para o licenciamento ambiental. “Também o comportamento do Ibama, que aponta problemas, mas logo depois acata a justificativa apresentada pelo empreendedor”, observa. Ela diz que a empresa, que esperava iniciar perfurações no segundo semestre, vem demonstrando descontentamento com os questionamentos do MPF e a resistência das comunidades. “Disseram que eventual retardo na licença ambiental afetará o interesse em sua concessão.” 

A procuradora pediu análise pericial dos estudos de impacto ambiental. “Os peritos apontaram o uso de dados defasados e que não levam em conta a sinergia das atividades, onde estão envolvidas não apenas a extração, bem como a movimentação dos navios transportando o óleo, o gás e os resíduos, que serão tratados em Niterói (RJ)”, explica.

Emerson Soares, professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), lembra de quando avistou as primeiras marcas do petróleo enquanto caminhava na praia de Ipioca (AL). Era agosto de 2019. “Encontrei bolachas-do-mar [uma espécie marinha prima do ouriço] com manchas. Recolhi para analisar. Depois de 15 dias, chegou uma tartaruga contaminada.” Engenheiro de pesca e doutor em biotecnologia, ele esteve à frente da força-tarefa do óleo em Alagoas e coordena expedições científicas pelo São Francisco, coletando dados e promovendo ações de educação ambiental. 

“Se o bom senso fosse levado em conta, explorar petróleo próximo à foz seria a última coisa a se fazer”, argumenta. Ele contesta a modelagem utilizada pelos estudos de impacto e dispersão de óleo do Projeto SEAL, que considera atrasada. “Não levaram em conta as pesquisas locais mais recentes, e já publicadas, sobre a vazão do rio São Francisco, constantemente em mutação. Nem os níveis de metais pesados, que aumentaram substancialmente desde o acidente de petróleo em 2019, porque a região da foz foi contaminada.”

Como os reais impactos socioambientais do desastre do óleo nunca foram amplamente mensurados, muito menos sanados, o pesquisador se preocupa com o alto risco da nova atividade. Embora os técnicos da ExxonMobil garantam que a chance de vazamento dos poços a serem perfurados é baixa [na ordem de 1 para mais de 30 mil], Soares detalha, no quadro-branco pendurado em seu escritório, as preocupantes projeções. 

Por causa da baixa vazão, causada pela crise hídrica, construção de hidrelétricas, como a de Xingó, e tantas outras variáveis, o São Francisco não conseguiria conter o avanço de um derramamento de óleo próximo do seu estuário. Fatalmente, o material contaminaria a região da foz. No pior cenário, segundo Soares, o petróleo chegaria à parte dos municípios do litoral norte de Sergipe e do sul de Alagoas – de Jequiá da Praia (AL), passando por toda a região de desembocadura, até próximo a Aracaju (SE). “Com a influência das marés, um derramamento de óleo poderia se deslocar até a cidade de Penedo, no sul de Alagoas.”

Tudo depende da gravidade do escape e do tempo de resposta. Também da época do ano e das correntes. Mas mesmo nos cenários mais moderados, os municípios da foz do São Francisco são os mais vulneráveis à contaminação. Isso implica dizer que todas as áreas de proteção ambiental, comunidades locais e atividades econômicas de alta importância para a região, como turismo e pesca, inclusive do camarão, de ostras e do maçunim, um marisco muito consumido em Alagoas, podem ser afetadas. 

“Sem falar do manguezal do São Francisco, que fornece cerca de 50% das espécies da região”, acrescenta o pesquisador. “Não apenas acidentes, como a própria atividade tem impactos no descarte de materiais tóxicos e no próprio fluxo de navios nas atividades de extração, que modificam toda a dinâmica local, trazendo espécies invasoras em seus cascos.”

TOINHO PESCADOR: POETA E GUARDIÃO DO VELHO CHICO: As janelas dos casarões da histórica Penedo, no sul de Alagoas, têm vista para as margens do Baixo São Francisco. Na beira do rio, a estátua de Dom Pedro II lembra a visita do imperador ao primeiro povoado do estado. Antônio Gomes dos Santos, o Toinho Pescador de Penedo, é memória viva do lugar. E as águas do Velho Chico são o fluxo contínuo de suas lembranças. 

“Hoje o rio tá pobrezinho. Antigamente ficava azul de tanto peixe”, recorda. Aos 89 anos, na pesca desde os 11, Toinho é uma das principais lideranças populares em defesa do rio. Na década de 1960, em plena ditadura militar, ajudou a fundar o Conselho da Pastoral dos Pescadores do estado, cujo papel na resistência política e na mobilização foi fundamental na conquista de direitos dos pescadores artesanais, como os previdenciários, garantidos na Constituição de 1988. Nessa época, ele chegou a ser até ameaçado de prisão.

Poeta e testemunha tanto das mudanças históricas como das ambientais no São Francisco, o pescador denuncia as ameaças ao rio em versos. Sobre a mortandade de peixes depois da construção de barragens, escreveu: “Fecharam todas as várzeas/ Barragens foi por demais/ Acabou-se a produção dos peixes/ Já se foram os animais/ Agrotóxicos matam os passarinhos/ Já se foram os animais”.  

Toinho, seus versos e sua experiência não foram ouvidos pelos empreendedores do Projeto SEAL. Ele lamenta não ter sido convidado para debater o projeto. “Não sou contra explorar petróleo, mas não tem outro lugar que não seja um rio produtivo, que dá alimento? A foz do São Francisco já tem o seu petróleo, que é o peixe.”  

O pescador Genildo Luz, conhecido como Bumba, vestia um boné azul com a marca da ExxonMobil quando chegamos à praia de Coruripe (AL), região da foz. Ele recebeu camisa e um certificado de participação no treinamento de limpeza de praias. “Pagaram R$ 2,5 mil por diária durante 11 dias. Foi bom demais”, comemora. 

Bumba aprendeu a colocar boias de contenção para evitar a chegada do óleo. Contou que 50 mulheres foram convocadas para tirar lixo das praias, ganhando R$ 150 cada uma, que a empresa ainda deu brinquedos para crianças. De quebra, seus técnicos movimentaram pousadas e restaurantes locais. Toda empolgação parece contraditória quando ele lembra o prejuízo tomado no desastre do petróleo, poucos anos atrás. “Fiquei sem vender peixe”, diz. “Agora, se tiver vai ser ruim, mas a empresa vai pagar a gente pra trabalhar”, ameniza.

“Até hoje tem óleo nas pedras do pontal do Coruripe”, comenta Zilma Borges, do Instituto Amigos da Natureza, que fez diagnósticos locais em 2019. Naquele ano, Rosedite Pereira, presidente da Associação dos Ostricultores do município, se voluntariou na limpeza das praias. “O petróleo grudava nas telas onde criamos as ostras. Cheguei a tirar cinco baldes de ostras mortas na época”, lembra.

O material tóxico fazia mal para a saúde. A pele de Rosedite ficou vermelha e coçando. Sentiu náuseas, tonturas, mas nunca teve os níveis de intoxicação monitorados para saber se desenvolveria alguma doença com o passar dos anos. Ela também não recebeu compensação pelas perdas financeiras, nem agora, na pandemia, quando os restaurantes chiques de Maceió suspenderam as compras de ostras. “Penso no dinheiro, mas penso mais no meio ambiente, no mangue, que chamo do meu segundo marido”, comenta. “Será que as pessoas estão prontas para evitar uma tragédia ou só estão pensando no dinheiro?”

Em resposta aos questionamentos da reportagem, a ExxonMobil enviou a seguinte nota:

“Com relação aos poços marítimos na Bacia de Sergipe-Alagoas, a ExxonMobil está seguindo as recomendações e protocolos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama). Nossa prioridade é preservar a saúde e a segurança da comunidade e do meio ambiente. Reforçamos que foram realizadas inúmeras reuniões com representantes das comunidades na área de abrangência do projeto, e também audiência pública virtual no dia 14 de setembro de 2021, liderada pelo Ibama. A audiência foi aberta à sociedade e transmitida em plataforma Zoom, pelo Youtube, por rádios locais e está disponível para acesso, por meio do link: www.audienciapublicaExxonMobil.com.br/seal.” (Fonte: agenciapublica e infosaofrancisco)


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