Provavelmente.
Mas temos a sua música. Vamos ouvi-la, hoje, em sua homenagem.
Apois pro cantadô i violero
Só hái treis coisa nesse mundo vão
Amô, furria, viola, nunca dinhêro
Viola, furria, amô, dinhêro não
Esse foi o primeiro impacto.
O Violeiro, versos escritos assim mesmo, com essa grafia. Como se fosse um dialeto do Sertão da Bahia.
Aquela voz. Aquele violão. Diferentes de tudo o que ouvíamos.
Era a faixa de abertura do LP Das Barrancas do Rio Gavião, de 1973.
Seis anos mais tarde, em 1979, veio o álbum duplo Na Quadrada das Águas Perdidas.
Não havia mais nenhuma estranheza provocada pelos sons daquele cara – criador de bodes em Vitória da Conquista, arquiteto graduado em Salvador, violonista de formação erudita.
Já havíamos assimilado a música dele. Tudo era beleza no seu universo musical e poético.
Elomar Figueira Mello. Ou, simplesmente, Elomar.
Homem de ideias atrasadas, um reacionário, como dizíamos no passado, mas autor de uma obra incrível.
A música de um Brasil profundo e desconhecido.
Elomar e seu violão. Elomar e alguns poucos músicos. Elomar e uma orquestra sinfônica.
Canções soltas reunidas num disco. Ou trabalhos conceituais (Fantasia Leiga para um Rio Seco) compostos por um artista talentosíssimo e muito original.
Elomar não faz televisão, raramente dá entrevista, não quer conversa com gravadoras.
Grava seus discos de forma independente e os vende caríssimos na porta dos teatros onde se apresenta.
Jamais usa a palavra show. Prefere concerto. Ou recital. Ou cantoria.
Quando vou vê-lo ao vivo, ou ouvi-lo em discos, esqueço todas as suas idiossincrasias.
E me entrego à extrema beleza da sua música. (fonte:Silvio Osias)