DIA SANFONEIRO: ORQUESTRA SANFÔNICA PRESTA HOMENAGEM A SIVUCA

No primeiro ano em que será celebrado o Dia Nacional do Sanfoneiro, a Associação Cultural Balaio Nordeste e o Fórum Nacional do Forró de Raiz promoverão shows especiais nesta quarta-feira (26), às 20h, no canal do Festival no YouTube, com Glória Gadelha e a Orquestra Sanfônica Balaio Nordeste, que irão homenagear Sivuca e todos os sanfoneiros.

Na ocasião, será realizado o lançamento da segunda edição do Festival São João na Rede, um festival em que só na Paraíba terá mais de 60 atrações, do Litoral ao Sertão do estado.

O dia 26 de maio foi instituído como o Dia Nacional do Sanfoneiro em abril deste ano e a data foi escolhida por ser o dia do nascimento do músico paraibano, Severino Dias de Oliveira, o Sivuca.

Viúva e parceira musical de grandes sucessos de Sivuca, estará acompanhada do músico Lucas Carvalho, carinhosamente apelidado pelos amigos de “Sivuquinha”, devido à paixão, reverência e dedicação que sempre dispensou para estudar as obras do grande mestre. Juntos, farão uma homenagem com músicas de Sivuca e também de Glória, relembrando a parceria de sucesso na vida e na música.

Formada em medicina, a compositora concluiu seus estudos em música na Universidade de Columbia, em Nova Iorque (EUA) e nesta apresentação, dará ao público a oportunidade rara de vê-la cantando novamente, relembrando o período entre 1984 e 1991, quando fez excursões musicais no Brasil e exterior, quase sempre ao lado de seu marido, Sivuca. Imperdível.

A Orquestra surgiu da necessidade de inovação no cenário musical e hoje difunde a cultura nordestina e particularmente a paraibana por onde passa. Com arranjos próprios e produção musical do maestro Lucílio e de alguns músicos participantes, a Orquestra vem se firmando como um dos produtos culturais mais genuínos e expressivos da música nordestina.

A Orquestra Sanfônica Balaio Nordeste propõe uma noite mágica, levando ao público um concerto onde serão interpretadas canções de grandes nomes da música nordestina, levando a cultura nordestina através da música, valorizando, resgatando valores e homenageando grandes nomes da Sanfona e do Forró.

Os festejos online deste ano começam na Paraíba, mas assim como na primeira edição, o Festival terá apresentações em outros estados brasileiros. A edição paraibana este ano, tem parceria com o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Cultura e da Prefeitura Municipal de João Pessoa, por meio da Funjope.

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DIA DO SANFONEIRO FESTEJA DATA DO NASCIMENTO DE SIVUCA, O MESTRE DO SOM

Dia do Sanfoneiro. Hoje (26) é o dia a ser celebrado anualmente, em todo o território nacional. A data marca o nascimento de Sivuca, que é natural da cidade de Itabaiana, no Brejo da Paraíba. Além de compositor e arranjador, Sivuca é um mestre da sanfona, instrumento do qual é um dos principais divulgadores na música nacional e internacional.

Sivuca fez sucesso pelo país com seus arranjos que disseminaram a cultura pelo mundo. Ao lado de sua esposa e também cantora, Glória Gadelha, compôs um de seus maiores sucessos, “Feira de Mangaio”, eternizada na voz de Clara Nunes. Sivuca morreu, aos 76 anos, em 2006, vítima de um câncer de laringe, o qual se tratava desde 2004.

Sivuca completaria 91 anos neste 26 de maio, mas continua marcado na memória de todos que compõem a música brasileira. Está vivo, principalmente, por meio de músicos que fizeram eternizar o ronco do fole da sanfona do mestre Sivuca.

Na Paraíba, a influência não poderia vir, se não, por meio do forró e da família. Lucy Alves, multi-instrumentista, nutre uma relação com os instrumentos musicais desde criança, quando por volta dos 4 anos começou a participar da Orquestra Infantil da Paraíba. Foi instrumentista antes de descobrir a voz potente, doce e uma grande aliada em tudo que Lucy quer traduzir por meio da música.

“Eu fui fortemente influenciada pelos meus pais, pela minha família. Tenho tios que tocam sanfona e meu bisavô também já tocava a sanfona de 8 baixos. Tá no sangue. Mas resolvi colocar a bichinha no peito quando formamos o grupo musical ‘Clã Brasil’ e precisava de sanfoneiro. Como já tinha tocado piano quando criança e o grupo era formado por mim, minhas irmãs, pai, mãe, Fabiane e Francisco Neto (ambos filhos do maestro Chiquito), resolvi tocar o instrumento. E me apaixonei. Com a sanfona dá pra fazer de um tudo musicalmente”, relata Lucy.

Mas seguir em um caminho marcado por muitos homens, nem sempre é fácil se inserir como uma linha fora da curva. Questionam o peso do instrumento, o motivo de não tocar outro instrumento, o exótico da “mulher sanfoneira”, mas pouco sobre a qualidade instrumentista. Mas foi assim que Lucy Alves ganhou o Brasil quando apareceu em rede nacional, no programa The Voice Brasil, com a sanfona caindo pelos ombros. A voz que se misturava com o ritmo da sanfona era melodia para esquentar o coração do nordestino. Acabou encantando além da região.

“Já houve um tempo onde mulheres tinham aulas de piano e sanfona nas escolas, internatos… Era algo prendado e até de classe para uma mulher ’bacana’. Mas esse protagonismo de mulheres em grandes palcos e liderando bandas e trabalhos musicais com sua concertina eu vejo ficar cada vez mais forte no agora. É um símbolo de força, beleza e mais uma conquista para nós, instrumentistas”, revela Lucy.

Para fugir da comparação com os sanfoneiros, Lucy Alves escolheu acreditar em si mesma. Com o apoio da família, que nunca deixou de reafirmar a importância e competência do Clã inteiro enquanto musicistas, Lucy foi longe. “Paraíba se orgulha de sua cultura e de seus baluartes”, declara a artista.

“Num mundo ainda machista e patriarcal nós mulheres tocarmos sanfona é muito potente porque amplia um mundo musical e cultural de nossa região ainda muito dominado por homens. Não é fácil carregar e sustentar um instrumento tão bonito, mas tão pesado e que muitas vezes, por termos um físico mais frágil, nos machuca”, desabafa.

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ENCONTRO DA ESCOLA DE FORMAÇÃO DA JUVENTUDE RURAL DEBATE A AGROECOLOGIA E O PROTAGONISMO DOS JOVENS DO CAMPO

Uma ciência interdisciplinar, um movimento de transformação social e uma agricultura ecológica de base sustentável. Falar e fazer agroecologia não pode ser algo restrito apenas a uma forma de produção, é muito mais complexo e diverso, envolvendo todas as relações de trabalho e convivência. Essa foi a principal mensagem do 5º Encontro da Escola de Formação da Juventude Rural, realizado na noite do dia 17 de maio.

Os agrônomos do Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (SASOP) Adão José e Victor Maciel e a técnica em agroecologia do território de fundo de pasto de Areia Grande em Casa Nova (BA) Paula Oliveira foram os/as convidados/as para partilhar suas experiências com jovens de diversas comunidades dos municípios da Diocese de Juazeiro (BA).

A jovem Paula Oliveira destacou que a agroecologia vai além da alimentação saudável. Muita gente acaba confundindo uma produção orgânica (sem insumos químicos) com a agroecológica, por exemplo.

 "Não é apenas produzir sem agrotóxicos, a agroecologia promove a economia solidária, tá ligada à cultura, ao modo de viver da comunidade. Eu tenho um canteiro agroecológico, eu e minha mãe produzimos, principalmente para nossa mesa, depois para os vizinhos e depois pra venda", comentou a técnica em agroecologia. Paula, além de estar no dia a dia no campo, também se dedica à divulgação da produção agroecológica através da página @sitio.cacimba_do_meio nas redes sociais.

Por ir além do processo de produzir um alimento e levar em consideração tudo que está dentro dos agroecossistemas (ex: terra, plantas, animais, pessoas, relações sociais, etc.) a agroecologia também pode ser vista como um movimento, afirmou o engenheiro agrônomo Adão José.

 "A agroecologia também analisa se você não feriu o direito de alguém (homens, mulheres, jovens...)  durante o processo de produção. Quando há oposição a algo que está destruindo, não só os seres animais e vegetais, mas culturas, populações, isso também é fazer agroecologia, porque a agroecologia é o equilíbrio de tudo", ressaltou. Adão José ainda chamou a atenção para o fato de que a agroecologia está ligada às realidades locais.

 "O fundo de pasto é uma forma sábia que as populações dessa região encontraram de fazer a agroecologia, mantendo a caatinga em pé e tirando o sustento dali", acrescentou.

Já o agrônomo Victor Maciel fez um breve relato sobre o surgimento da agroecologia enquanto ciência na década 1980, em contraponto à chamada "revolução verde", processo de mecanização no campo que resultou na destruição de parte da biodiversidade dos biomas brasileiros e expulsão de povos e comunidades camponesas de seus territórios. Victor também destacou o papel das pautas da juventude dentro do movimento agroecológico.

 "A agroecologia defende o protagonismo da juventude, que os/as jovens tenham a sua participação na produção, no gerenciamento, das decisões dos agroecossistemas. Que eles possam ter seu espaço para produzir, comercializar produtos, debater e participar", pontuou o agrônomo.

O último encontro dessa turma da Escola de Formação da Juventude Rural acontecerá no próximo sábado (29) e contará com a participação do assessor das Pastorais Sociais Roberto Malvezzi (Gogó) e o integrante da Coordenação Nacional da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) Elias Neto. A temática abordada será espiritualidade e juventude.

*Texto: Comunicação CPT Juazeiro/BA 

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AGROTÓXICO MAIS USADO DO BRASIL ESTÁ ASSOCIADO A 503 MORTES INFANTIS POR ANO, REVELA ESTUDO

O glifosato é o agrotóxico mais popular do Brasil. Ele representa 62% do total de herbicidas usados no país e, em 2016, as vendas desse produto químico em milhares de toneladas foi superior à soma dos sete outros pesticidas mais comercializados em território nacional.

Associado à produção de soja transgênica, o herbicida contribuiu para que o Brasil se tornasse o maior produtor do grão no mundo, superando os Estados Unidos.

Com isso, o PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados produtores cresceu muito acima da economia do país como um todo nas últimas décadas. E a renda gerada pela atividade agrícola movimentou outros setores econômicos nas regiões produtoras.

Mas um estudo realizado por pesquisadores das universidades de Princeton, FGV (Fundação Getulio Vargas) e Insper revela que essa geração de riqueza tem um alto custo: segundo o levantamento, a disseminação do glifosato nas lavouras de soja levou a uma alta de 5% na mortalidade infantil em municípios do Sul e Centro-Oeste que recebem água de regiões sojicultoras.

Isso representa um total de 503 mortes infantis a mais por ano associadas ao uso do glifosato na agricultura de soja.

"Há uma preocupação muito grande quanto aos efeitos dos herbicidas sobre populações que não são diretamente envolvidas com a agricultura, que não estão diretamente expostas aos agrotóxicos", observa Rodrigo Soares, professor titular da Cátedra Fundação Lemann do Insper e um dos autores do estudo, ao lado de Mateus Dias (Princeton) e Rudi Rocha (FGV).

"Apesar dessas substâncias estarem presentes no corpo de mais de 50% da população ocidental, não sabemos se isso é danoso ou não", acrescenta o pesquisador.

"Nosso artigo é um dos primeiros a mostrar de forma crível que isso deve ser de fato uma preocupação, ao demonstrar a contaminação através dos cursos de água em áreas distantes das áreas de uso, de uma maneira que nunca havida sido feita anteriormente."

A Bayer, dona desde 2018 da Monsanto - empresa que lançou o glifosato no mercado em 1974, sob o nome comercial Roundup - avalia os resultados do estudo como "não confiáveis e mal conduzidos" e diz que a segurança de seus produtos é a maior prioridade da companhia.

A Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja), por sua vez, afirma que "as conclusões apontadas no estudo não parecem serem sustentadas com os fatos científicos e realidade constatada na prática da agricultura brasileira".

Por fim, a CropLife Brasil, uma das entidades que representam o setor de defensivos agrícolas no país, destacou em nota que "há mais de 40 anos, o glifosato tem passado por extensos testes de segurança, incluindo 15 estudos para avaliar a toxicidade potencial para o desenvolvimento humano e 10 estudos para avaliar a toxicidade reprodutiva potencial".

"As autoridades regulatórias no Brasil, na Europa, nos EUA e em todo o mundo revisaram esses estudos e concluíram que o glifosato não representa risco para o desenvolvimento humano ou reprodução humana", afirma a organização.

Herbicida mais utilizado no mundo atualmente, o glifosato foi descoberto pela Monsanto em 1970. O defensivo é usado para eliminação de ervas daninhas na agricultura, agindo através do bloqueio de uma enzima que faz parte da síntese de aminoácidos essenciais para o desenvolvimento das plantas.

O glifosato é um herbicida não-seletivo, ou seja, mata a maioria dos vegetais. Por conta disso, seu uso na agricultura se popularizou associado a culturas geneticamente modificadas para resistir ao princípio ativo.

É o caso da soja transgênica, comercializada pela Monsanto sob o nome de Roundup Ready, justamente por ser resistente ao glifosato, vendido pela empresa com o nome de Roundup. Desde 2000, no entanto, a patente do glifosato expirou, e atualmente o produto é oferecido por diversos fabricantes, sob diferentes nomes comerciais.

A soja geneticamente modificada foi primeiro comercializada pela Monsanto nos Estados Unidos em 1996.

No Brasil, uma primeira autorização de uso foi concedida em 1998, mas foi quase imediatamente suspensa pela Justiça. Em 2003, o governo concedeu uma autorização de comercialização temporária, definindo, porém, a incineração das sementes remanescentes para evitar sua reutilização no ano seguinte.

Em setembro daquele ano, uma medida provisória permitiu aos produtores reutilizar as sementes e, em outubro de 2004, a concessão temporária de venda foi renovada. Por fim, em março de 2005, a Lei de Biossegurança autorizou permanentemente a produção e venda das sementes de soja transgênicas.

O uso da soja geneticamente modificada se propagou rapidamente pelo Brasil a partir de 2004, representando 93% da área plantada do grão em meados da década de 2010, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), citados pelo estudo dos pesquisadores de Princeton, FGV e Insper.

Junto ao ganho de produtividade da cultura de soja, o uso de glifosato cresceu fortemente no país, mais do que triplicando em volume entre 2000 e 2010, de 39,5 mil toneladas para 127,6 mil toneladas.

Na União Europeia, desde 2015, há um amplo debate sobre a possibilidade de proibição do uso do glifosato, após um relatório da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc, na sigla em inglês) daquele ano ter classificado a substância como "provável carcinógeno humano", ou seja, como possível agente causador de câncer.Nos Estados Unidos, a Bayer já desembolsou bilhões de dólares em acordos para encerrar processos judiciais quanto a acusações de que o glifosato provoca câncer.

"Na União Europeia, ao contrário do Brasil, o registro dos agrotóxicos sempre tem um tempo determinado. Aqui, quando um agrotóxico é registrado, esse registro é eterno, até que ele eventualmente venha a ser questionado", explica Alan Tygel, membro da coordenação nacional da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.

Na Europa, atualmente, a autorização do uso do glifosato vale até dezembro de 2022. A Áustria se tornou o primeiro país da região a banir o produto, em 2019, enquanto a Alemanha planeja prescindir do herbicida a partir de 2024.

Outra diferença importante, segundo o ativista, diz respeito ao valor máximo permitido de concentração do agrotóxico na água, para que ela seja considerada adequada para consumo humano.

"A água brasileira pode ser considerada potável contendo até 500 microgramas de glifosato por litro, enquanto a água da União Europeia pode ter no máximo 0,1 micrograma de glifosato", destaca Tygel. "Então, o limite brasileiro é 5.000 vezes maior do que o limite da União Europeia."

Não bastassem essas diferenças regulatórias já existentes, o agronegócio brasileiro tem pressionado nos últimos anos pela aprovação no Congresso do Projeto de Lei 6.299/2002, que flexibiliza as regras para fiscalização e aplicação dos agrotóxicos. O projeto foi apelidado por ambientalistas de "PL do Veneno".

Além disso, houve dentro do governo federal uma mudança na correlação entre as forças contrárias e favoráveis ao uso dos agrotóxicos.

"Até 2016, havia dentro do governo um certo balanço de forças entre o agronegócio, a agricultura familiar e as políticas públicas de incentivo à agroecologia", avalia o membro da campanha contra os agrotóxicos.

"A partir daquele ano, uma das primeiras ações do governo Michel Temer [MDB] foi acabar com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, que desenvolvia essas políticas de agricultura orgânica. Desde então, observamos um aumento exponencial no número de registros de agrotóxicos", diz o ativista.

Somente em 2020, o Brasil aprovou o registro de 493 agrotóxicos, maior número já documentado pelo Ministério da Agricultura, que compila esses dados desde 2000.

MORTALIDADE INFANTIL: Os autores do estudo "Down the River: Glyphosate Use in Agriculture and Birth Outcomes of Surrounding Populations" ("Rio Abaixo: Uso de Glifosato na Agricultura e Desfechos de Nascimento nas Populações do Entorno", em tradução livre) contam que decidiram estudar a relação entre o pesticida e a mortalidade infantil devido ao acalorado debate quanto ao uso de sementes geneticamente modificadas e sua combinação com herbicidas.

"Achávamos que o debate era muito apaixonado e muito desinformado", diz Rodrigo Soares, do Insper. "Então nos demos conta de que a expansão da soja transgênica no Brasil, principalmente no Centro-Oeste e no Sul, como foi muito rápida e muito marcada depois da introdução das sementes modificadas, poderia ser um contexto interessante para análise."

A mudança regulatória que permitiu o uso das sementes de soja transgênicas no Brasil gerou o que se chama em economia de um "experimento natural" - um evento provocado por causas externas, que muda o ambiente no qual indivíduos, famílias, empresas ou cidades operam, e que possibilita a comparação entre grupos afetados e não afetados por esse acontecimento.

"Uma preocupação que existia é que pudesse haver contaminação da água, pois estudos toxicológicos nos Estados Unidos, Argentina e Brasil detectavam a presença de glifosato em rios, mas de forma pontual, não sistemática", conta Soares.

"Para avaliar isso, usamos informações sobre as bacias hidrográficas no país e a posição relativa dos municípios - acima ou abaixo de áreas de uso intensivo de glifosato", explica o pesquisador.

"Foi uma forma de entender como a expansão do uso de soja transgênica e do glifosato num determinado município poderia afetar os municípios que recebem água que passa por essa região onde se faz uso do agrotóxico."

Uso do glifosato na agricultura de soja está associado a 503 mortes infantis adicionais por ano, segundo o estudo

O que os pesquisadores fizeram então foi analisar, para o período entre 2004 e 2010, quando ocorreu a maior expansão da produção de soja transgênica no Brasil e o uso do glifosato triplicou, as estatísticas de nascimento desses municípios "rio abaixo" de áreas de uso intensivo do herbicida.

"O que demonstramos é que há uma deterioração nas condições de saúde ao nascer nesses municípios rio abaixo dos municípios que expandiram a produção de soja", diz o professor do Insper.

Dentro dessa deterioração nas condições de saúde ao nascer estão: maior probabilidade de baixo peso ao nascer, maior probabilidade de nascimentos prematuros e - o mais grave - aumento da mortalidade infantil.

"Produzimos também uma série de outras análises empíricas para mostrar que isso estava de fato associado à água e que isso de fato parece estar associado à expansão da soja."

Por exemplo, comparando os dados dos municípios "rio abaixo", com municípios "rio acima" - que portanto não recebem a água que passou por áreas de uso do glifosato - os pesquisadores constatam que os municípios "rio acima" não são afetados por essa piora das estatísticas de nascimento.

Os pesquisadores também demonstram que os efeitos negativos sobre os resultados de saúde ao nascer são particularmente fortes para gestações mais expostas ao período de aplicação do glifosato, que no Brasil tipicamente ocorre entre outubro e março, posto que a soja é plantada no país entre outubro e janeiro.

A piora nos dados de nascimento também é maior quando chove mais na temporada de aplicação do glifosato, mostram os pesquisadores ao cruzar as estatísticas de saúde com dados pluviométricos, o que está de acordo com a ideia de que uma quantidade maior do produto chega aos rios quando a erosão do solo pela chuva é mais significativa.

Mateus Dias, doutorando da universidade de Princeton e coautor de Soares no estudo, explica ainda a opção por analisar municípios rio abaixo e rio acima, em vez dos municípios que aplicam o glifosato em si.

"O glifosato quando utilizado tem um impacto na produtividade da soja, isso pode acabar afetando a mortalidade infantil naquele município por outros caminhos, por exemplo, a maior produtividade pode gerar uma maior renda e isso diminuir a mortalidade infantil", afirma.

Os pesquisadores também avaliaram se a expansão da soja afetou a erodibilidade do solo devido ao avanço da agricultura sobre áreas de floresta.

"Mostramos que isso não aconteceu, pois essas áreas que começaram a plantar soja parecem ter sido antes pastagens, então não houve mudança radical na vegetação e, por consequência, não houve mudança significativa na erodibilidade do solo", relata Dias.

Para a Bayer, 'as descobertas equivocadas da publicação derivam de uma combinação de suposições imprecisas'

CONTESTAÇÃO: A BBC News Brasil encaminhou o estudo realizado por Dias, Rocha e Soares para a Bayer, a Aprosoja e a CropLife Brasil para que a fabricante do herbicida, a associação do setor sojicultor e a entidade representativa da indústria de defensivos agrícolas comentassem os resultados.

A Bayer afirmou, através de sua assessoria de imprensa, que "as descobertas equivocadas da publicação derivam de uma combinação de suposições imprecisas e uma coleção de resultados de estudos não confiáveis e mal conduzidos".

"As conclusões dos autores são inconsistentes com o consenso expressivo entre as principais autoridades de saúde em todo o mundo, incluindo a Anvisa, autoridade sanitária no Brasil, de que o glifosato não causa danos ao desenvolvimento ou à reprodução humana", afirmou a atual dona da Monsanto.

Já a Aprosoja afirmou em nota que diversos estudos mostram que o glifosato é facilmente degradado quando em contato com solos de carga variável, óxidos de alumínio, ferro e da degradação microbiana.

"Ou seja, as referências que estabelecem o nexo de casualidade apontada pelos pesquisadores não foram obtidas no Brasil, pois os solos tropicais brasileiros apresentam elevada carga variável, possuem elevados teores de alumínio e ferro e, com as técnicas de plantio como o plantio direto, de microbiolização de sementes, entre outras, os solos brasileiros são ricos em uma biomassa ativa, ou seja, uma elevada atividade microbiana", argumenta a associação agrícola.

A Aprosoja também critica a correlação feita pelos pesquisadores entre o que chama de "possíveis danos" com a soja resistente ao glifosato.

"Novamente, os autores se esqueceram ou apenas não sabem ao certo o que querem responder pois, além da soja, diversas culturas utilizam o glifosato no controle de ervas daninhas", argumenta a entidade.

A CropLife Brasil destaca que os agrotóxicos utilizados no país passam por aprovação de três instâncias diferentes - Anvisa, Ibama e Ministério da Agricultura; que os três órgãos analisam estudos de destino ambiental, toxicológicos e de resíduos que seguem metodologias internacionais de qualidade; e que em cada um desses registros é preciso apresentar testes e estudos realizados em laboratórios certificados em boas práticas, que devem ser conduzidos de acordo com os protocolos da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Segundo os pesquisadores, o objetivo do estudo não é "demonizar" o glifosato, mas contribuir para uma melhora das políticas públicas de regulação do uso dos agrotóxicos no país.

"Sabemos o que significou, ao longo da história humana, o uso de substâncias agrícolas em geral - os fertilizantes, os herbicidas, os pesticidas. Eles de fato possibilitaram uma revolução em termos de produção agrícola e, no resultado líquido, eu acredito que o efeito foi muito positivo", afirma Soares, do Insper.

"Só temos a produção que temos hoje, com seu impacto sobre o preço dos alimentos e sobre as populações envolvidas com a agricultura que se beneficiam dos ganhos de produtividade, por causa dessas substâncias", acrescenta.

"Isso não quer dizer que não devamos estar atentos aos potenciais efeitos negativos", afirma, defendendo mudanças nas regulações de uso e manejo dos agrotóxicos e de proteção dos cursos de água e lençóis freáticos.

Alan Tygel, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida - criada em 2011 e composta por mais de uma centena de movimentos sociais, entidades sindicais e de classe, ONGs, cooperativas, universidades e instituições de pesquisa -, tem uma opinião mais radical sobre o tema.

"Consideramos que o objetivo central é de fato acabar com o uso dessas substâncias, especialmente porque hoje não resta dúvida quanto à capacidade técnica de produção de alimentos sem o uso de agrotóxicos químicos e sintéticos", argumenta o ativista.

Segundo ele, as propostas da campanha estão contidas num projeto de lei (PL 6670/2016), que institui uma Política Nacional de Redução de Agrotóxicos, com medidas que incluem desde a proibição da pulverização aérea, passando pelo apoio estatal à agroecologia, até a proibição de agrotóxicos proibidos em seus países de origem e o fim das isenções fiscais para agrotóxicos.

"Vamos lutar por cada pequeno ganho que a gente possa ter, pois sabemos que cada percentual a menos de agrotóxico que seja usado são vidas que estão sendo salvas", afirma Tygel.

"Mas sabemos que não existe coexistência possível entre produção orgânica e o uso massivo de agrotóxicos. O caminho que vislumbramos é de um modelo de produção que possa ser adotado nacionalmente totalmente livre de agrotóxicos e transgênicos."

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ARTISTAS VISUAIS PETROLINENSES EMBELEZAM ESPAÇO DE ACOLHIMENTO NO HOSPITAL DOM MALAN

Alguns baldes de tinta, muita criatividade e amor. Foi com esse "kit" que as Artistas Visuais Lys Valentim e Morgana Caroline embelezaram um cantinho de acolhimento muito especial para as gestantes, mamães e crianças do Hospital Dom Malan.

A convite do Supervisor de Manutenção Thiago Freire, elas toparam o desafio e de forma voluntária fizeram a pintura do mural localizado na área externa da capela de Santo Expedito, padroeiro do HDM.

"Esse já era um local que as pessoas procuravam para ter um pouco de paz, para ficar em silêncio e poder orar. Então, resolvemos fazer essa intervenção para oferecer um pouco mais de beleza e afeto. De pronto, Lys e Morgana toparam e o resultado não poderia ter sido melhor", ressalta Thiago, que idealizou o projeto com a iniciativa e parceria do também Supervisor de Manutenção, Diêgo Guimarães, e do Diretor Administrativo/Financeiro, Arthur Lima.

Lys Valentim é arte educadora e artista visual e Morgana é artista visual e tatuadora. "São duas amigas queridas que já realizam um trabalho artístico formidável em Petrolina. As conheci durante o tempo que prestei serviço no SESC e fiquei muito feliz delas terem topado", complementa.

As imagens projetadas no mural remetem à força da mulher, ao poder de gerar, de amamentar, de dar vida, e da conexão do nascimento com a natureza. "São três imagens fortes e bastante emblemáticas. Apesar de não termos nomeado a obra, acredito que elas falem por si", acredita Lys.

O mural das artistas já chama a atenção de todos que por ali passam, incluindo os profissionais. "Sem dúvida, é um privilégio e um carinho na alma essa obra", relata a enfermeira gerente do NEP, Rejane Lins. Em nome do hospital, a Diretora de Atenção à Saúde, Tatiana Cerqueira, agradece: "É de um valor imensurável. Um presente para todos nós".

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MORRE AOS 101 ANOS PEDRO RODRIGUES, MESTRE NA ARTE DE TOCAR SANFONA DE 8 BAIXOS

O mestre da sanfona de 8 Baixos Pedro Rodrigues faleceu na noite de ontem 22. Ele é pai do também tocador de sanfona Manuel Geraldo e avô do músico percussionista Paulo Henrique (PH Lucas).

A morte de tocador Pedro Rodrigues representa que o mundo da sanfona de 8 baixos fica cada vez mais sem ícones que possam ensinar aos mais jovens e manter a tradição da cultura de tocar 8 Baixos.

Na identidade de Pedro Rodrigues, consta o nascimento dia 26 de abril de 1926. Mas a idade de seu Pedro era 101 anos.O sepultamento de Pedro Rodrigues acontece no final da tarde deste domingo (23).

Na atualidade são poucos os sanfoneiros de 8 Baixos que continuam mantendo a sonoridade considerada uma arte.

O músico e neto PH Lucas, disse que o avô "era pura alegria e amante da música e da sanfona de 8 Baixos",

Manuel Geraldo, e considerado um dos mais talentosos da região, toca sanfona de 8 e de 120 baixos, um dos poucos sanfoneiros que possui este conhecimento.

"Meu pai, Pedro Rodrigues partiu. Cumpriu a missão na terra. Deixou uma história de determinação", disse Manuel Geraldo.

O compositor Rosalvo Antonio, membro do Conselho Popular de Petrolina, lamentou a morte de Pedro Rodrigues. "Cada vez mais nossa cultura e em especial nesta partida fica mais sem representatividade, sem o talento e a possibilidade de ser ensinada para as novas gerações", disse Rosalvo.

"Quem sabe tocar sanfona de oito baixos hoje está ficando velho, morrendo. É preciso renovar, buscar novos talentos, para a tradição não morrer". Essa é preocupação do sanfoneiro paraibano Luizinho Calixto, que há mais de 20 anos inicia crianças no instrumento, famoso nas mãos de Januário, pai de Luiz Gonzaga. O músico desenvolveu uma didática para facilitar o ensino, que carece de professores em todo o Nordeste. Em 2012, ano do centenários de Luiz Gonzaga, Luizinho Calixto realizaou uma oficina para alunos de Exu Pernambuco que receberam o certificado de que aprederam os primeiros passos na "pé de bode".

A sanfona de oito baixos é dividida em baixo, fole e teclado com 21 teclas. Cada tecla faz um som diferente quando o fole abre e fecha, ou seja, são 42 sons ao todo. As teclas do baixo têm que ser tocadas na hora certa, em harmonia com as do teclado. "A sanfona de oito baixos veio da Europa com uma afinação diatônica. Quando chegou aqui no Nordeste, alguém transportou, não se sabe o porquê nem baseado em quê, a afinação para o dó-ré, que é única no mundo todo", explicou Luizinho Calixto.

Esta falta de informação sobre a sanfona de oito baixos foi um desafio que o músico teve que vencer para poder elaborar a oficina de iniciação. "Diziam que só tocava quem tinha dom ou um parente na família para ensinar. Mas criei um sistema onde cada tecla é um número. Se a tecla está pintada de vermelho, é para fechar. De azul, para abrir. Assim, os meninos olham e pronto, já saem praticando sozinhos", disse. 

O método foi batizado de tablatura.


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LÍDER COMUNITÁRIO TEM FILHA INTERNADA NA UTI COVID-19 E SOLICITA DOAÇÃO DE LEITE MATERNO PARA A NETA RECÉM NASCIDA


O líder comunitário e presidente da Central Única de Bairros de Petrolina (Cubape), Pedro Caldas, tem vivido momentos de angústia e muita resiliência nos últimos dias. A filha dele, Polliana Priscila,  continua na UTI COVID e encontra-se intubada em um Hospital de Petrolina. A equipe médica interrompeu a gravidez de sete meses e realizou o parto.

Pedro Caldas contou que a equipe médica decidiu interromper a gravidez de 7 meses da filha Priscila que está na UTI sem responder bem os procedimentos. "Ela foi levada agora para sala de parto, e em seguida será intubada. A oxigenação baixou muito de ontem pra hoje e os pulmões estão bem comprometidos. Peço a cada um que apresente ela em orações para Deus restaurar a sua saúde. A última palavra é de Deus".

Recem ascida no dia 20, Antonella Vitória agora precisa de leite materno. Pedro Caldas solicita doação de leite materno, através do Biama, fones 8732027002, Hospital Dom Malan/IMIP.

"Ajude os recém nascidos que no momento mais importante de suas vidas, não podem contar com suas mães. Deus vai te abençoar"

Confira postagens de Pedro Caldas:

Polliana Priscila continua intubada com  ventilação mecânica, e hoje às 10:35 foi tirada da posição pronada. Não teve nenhuma intercorrência. Os exames laboratoriais sem alteração. Melhorando no PCR que é um parâmetro para medir a inflamação do corpo e pulmão. A gasometria está em 223 e a saturação em 98/99, a função renal funcionando bem. Confiamos em Deus que Priscila e Antonella vão sair bem.

Minha netinha Antonella Vitória chegou pra trazer alegria aos nossos corações e aumentar a fé na certeza que a minha filha Priscila vai vencer essa batalha contra a Covid. Deus é o Médico dos médicos. A Ele toda honra e toda glória.


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