MORAES MOREIRA, UM CIDADÃO BRASILEIRO DE TODAS AS TRIBOS

Moraes Moreira é daqueles artistas que chegavam naturalmente aos ouvidos da gente sem precisar ir atrás de sua obra. Na infância, um vizinho do lado direito escutava Novos Baianos. Já na adolescência, outro vizinho da esquerda botava os discos do primeiro cantor de trio elétrico  que eram lançados a cada temporada. No anos 80, ouvia-se Moraes nas festas de fim de ano, nas barracas das quermesses, até na discoteca e, claro, em todos os carnavais. Nos tais "assustados"(festas em casas de amigos), rolava os ritmos do cantor. Moraes Moreira foi de fato um cantor meramente e completamente Brasileiro com B maiúsculo.

Quando saiu de sua pequena Ituaçu(BA), para cidade grande leva na cabeça a paixão pela música. os clássicos de Luiz Gonzaga e do também do baiano João Gilberto, povoavam em sua memória afetiva. Só não imaginava que mais adiante junto com suas turma dos Novos Baianos  - Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor, Baby do Brasil e Galvão receberia o mesmo João no sítio em que moravam no Rio. Imagine a farra que foi encontrar o papa da Bossa Nova. E só pra quem lembrar João  e Galvão são filhos de Juazeiro.

Moraes entra para história como o primeiro cantor do trio elétrico de Dodô e Osmar nos anos 1970. Antes, os trios percorriam as ruas e avenidas de Salvador fazendo apenas um som instrumental, mas arrastando multidões. O novo integrante, chegou para dialogar suas palavras com as guitarras eletrizadas.  

O primeiro a fazer sua revoada do grupo Novos Baianos foi Moraes com a missão de asfaltar a carreira solo. E nunca abandonou suas raízes. Nunca cantou em outra língua. Nunca se vendeu a modismos. Samba, frevo, forró, xote, baião, baladas românticas, afoxé, entre tantos outros ritmos que povoaram seu cancioneiro autoral e em parcerias eventuais.

Como o brasileiro não tem memória larga, ainda bem que a história da MPB resiste para contar que o compositor foi quem alimentou sucessos radiofônicos  para várias intérpretes como Gal Costa com "Festa do Interior" e "Bloco do Prazer". Simone emplacou "Pão e Poesia". Para a colega Baby do Brasil, compôs ao lado de Galvão clássicos como "A Menina dança" e  "Trinindo e Tricando".

Poeta e cordelista, atividades  que vinha exercendo paralelo à  música, Moraes deixa uma discografia suntuosa com dezenas de trabalhos que podem ser considerados "obras musicais necessárias para história da cultura brasileira". Sua discografia é bem eclética com parcerias brilhantes: Cara e Coração, Alto Falante, Lá vem o Brasil descendo a ladeira, Bazar Brasileiro, Coisa Acesa, Pintando o Oito, Mancha de Dendê Não Sai, Tocando a Vida, Mestiço é Isso, República da Música, Baiano Fala Cantando... a lista é grande e a cada trabalho uma brasilidade revigorada.

O primeiro disco solo que chegou aos meus ouvidos foi o Alto falante que abre com "Pedaço de Canção", a que mais gosto: "Que uma canção pelo céu levaria/No véu da cidade na melhor sintonia/Todo o meu coração. Mas as frases que eu grito em bocas tão desiguais/são pedaços daquilo que sinto e não canto jamais". Com o passar do tempo, vi vários shows de MM do litoral ao sertão. Mas a passagem inesquecível foi no dia 1º de dezembro do ano de 1996, no Recife. Ia ter mais uma edição ao ar livre do show coletivo pelo Dia Mundial de Combate a Aids. Uma penca de feras da MPB. Tinha combinado por telefone com o amigo conterrâneo Toinho Batera.  Acertamos a hora de o encontrar no hotel. 

Cheguei um pouco atrasado por conta do trânsito. Toinho já tinha ido 5 minutos antes. Numa fração de segundos me aparece outro baterista o Elber Bedaque. Contei da minha viagem perdida e Elber, prestimoso, me convidou para ir com ele. Como? No ônibus do patrão Moraes Moreira e toda turma. Moraes, gigante, me cumprimentou e perguntou se eu era parente do Bedaque ou do percussionista Repolho, todos de baixa estatura e sorriu.

A viagem de Boa Viagem até o Recife antigo foi uma festa dentro do ônibus. O que aconteceu na rota até o local do evento e nos bastidores do show, só na memória, nem vou contar. E como cantou Moraes "Transando o corpo e a cuca numa nice".

Foi nesse show que vi pela primeira e única vez o mangue beat Chico Science circulando nos bastidores e trocando palavras com Moraes. No ano seguinte, Chico partiu antes do carnaval começar. Agora foi Moraes que não fará mais em sua presença física a alegria dos próximos carnavais. Então escutemos suas canções mesmo que não as toquem no rádio. A gente toca em todos os lugares. Viva o baiano brasileiríssimo Moraes Moreira. Acabou Chorare, porque as canções ainda serão cantadas.[]

*Emanuel Andrade é jornalista, professor da Universidade da Bahia (Uneb) e pesquisador sobre Música Popular Brasileira. Autor da biografia de Ana das Carrancas - A Dama do Barro. 
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MARIANO CARVALHO: ENCOMENDA NO RITMO MAIS BRASILEIRO E UNIVERSAL

Mariano Carvalho é cantador e poeta. Compositor e cantor. Em dois dedos de prosa com o caboclo nascido em Salgueiro, Pernambuco e cidadão do mundo, descobre-se no violão de Mariano a influência das escutas, a ouvidoria de rádio do tempo de menino que o acompanha até hoje.

Ouso até dizer, o som do toque do sapateiro, de seu pai, José Izidorio e as cantadeiras do Padim Ciço, Juazeiro do Norte, provocaram o saber musical que Mariano bebeu na fonte dos vaqueiros cantadores de viola e por isto, sabe divisar o Cruzeiro do Sul do Sete Estrelo, e não perde a rima, harmonia e ritmo.

A palavra reveladora faz transbordar nas músicas de Mariano Carvalho o sentimento de João Gilberto, Raul Seixas, Zé Marcolino e Luiz Gonzaga. O poeta Mariano busca em cada nota um estradar que não desafina com a qualidade da música brasileira. É fiel ao que escutou de melhor através do rádio e dos ensinamentos dos mestres da música.

Em seu catálogo já se registra mais de 120 músicas. Flávio José, Flávio Leandro, Irah Caldeira e outros grandes nomes da música brasileira são parceiros e interpretes de sua obra. 

Com um matulão cheio de projetos para os próximos anos, ‘Encomenda’ é o mais recente trabalho de Mariano Carvalho. Forró, xote, arrasta pé e bossa nova estão no Cd. O disco tem 13 canções, número místico e de sorte que reúne os parceiros poetas Virgilio Siqueira, Tico Seixas, Maurício Menezes e João Sereno, entre vários amigos mais que companheiros de estradar, são poetas cantadores quase videntes.

A trajetória musical, já lhe trouxe vários prêmios, a exemplo do CD Mosaico de Música Regional (2013), que ganhou o 5º prêmio da Música de Pernambuco na categoria Melhor Coletânea, um projeto produzido pelo músico Marcone Melo.

Mariano escolheu Petrolina como local de pouso, inspiração, transpiração e nele transborda toda a grandeza em forma de humildade e espontaneidade. É Mariano na voz e violão o compasso certo da rima de ritmo de João Gilberto e poesia de sons de Luiz Gonzaga.

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JAGUARARI: PROJETO SALVANDO AS VEIAS DO SÃO FRANCISCO, A LUTA PARA RECUPERAR RIOS E NASCENTES NAS SERRAS É APROVADO

Em novembro do ano passado, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) abriu chamamento público (Ofício Circular de Chamamento Público CBHSF Nº 02/2019) para contratação de projetos com foco na Sustentabilidade Hídrica do Semiárido. Concorreram projetos de diversas associações, cooperativas, ONGs, prefeituras, institutos de ensino/pesquisa, entre outros, dos quais foram selecionados oito, sendo doisprojetos por região fisiográfica da bacia do rio São Francisco. São eles:
Alto São Francisco:
– Água para beber, vidas para cuidar;
– Ações de revitalização dos recursos hídricos no município de Miravânia no semiárido mineiro.

Médio São Francisco:
– Água e vida no semiárido: produzindo alimento e resgatando a autonomia financeira dos agricultores;
– Colhendo água de chuva e resgatando a cidadania da população do semiárido na bacia do Paramirim.

Submédio São Francisco:
– Bênçãos do São Francisco – sustentabilidade socioambiental, hídrica, energética, alimentar e nutricional no Submédio São Francisco;
– Salvando as veias do São Francisco – a luta para recuperar rios e nascentes nas serras de Jaguarari-Bahia.

Baixo São Francisco:
– Segurança hídrica e controle da desertificação através de energia fotovoltáica e Sistemas Agroflorestais;
– Bênçãos do São Francisco – sustentabilidade socioambiental, hídrica, energética, alimentar e nutricional no Baixo São Francisco.

Os projetos foram classificados a partir dos critérios definidos no edital. Cada região fisiográfica da Bacia vai receber o montante de até R$ 1 milhão para execução das propostas aprovadas. Os recursos financeiros são oriundos da cobrança pelo uso das águas da Bacia Hidrográfica do rio São Francisco. A contratação dos projetos será realizada pela Agência Peixe Vivo. (Fonte: Assessoria de Comunicação CBHSF: TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social *Texto: Mariana Martins
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PEDAGOGIA DA ESPERANÇA: CURSO DE AGROECOLOGIA DO CETEP QUALIFICA PROFISSIONAIS NA REGIÃO DO NORTE DA BAHIA E VALE DO SÃO FRANCISCO

O Centro Territorial de Educação Profissional do Sertão do São Francisco (antiga Escola Agrotécnica) é uma das pioneiras na oferta do Curso Técnico em Agroecologia. O CETEP conta com professores e especialistas nas diversas áreas. São docentes com grau de especialistas, mestre e doutores de notório saber.

O biólogo, especialista em Educação Ambiental, atual vice diretor do CETEP, Robério Granja, aponta que o desafio é vencer as dificuldades e garantir espaço para a formação profissional. "Temos vários cursos, exemplo Técnico em Enfermagem, Agropecuária, Informática, Segurança do Trabalho e este ano o de Agroecologia, que também tem uma turma em Sobradinho, Bahia,  no Assentamento Vale da Conquista, na Escola Chico Mendes. O curso ano passado também foi ofertado no Distrito de Massaroca".

Robério ainda revela a aceitação do curso de agroecologia nas áreas de assentamentos e associação de agricultores familiares e também de grandes empresas da região. "O curso tem uma missão ecológica busca ser um contraponto à agricultura convencional. O projeto tem se destacado como um espaço constante de troca de experiências e desenvolvimento de novas técnicas neste campo".

A professora Janine Souza da Cruz, concluiu o Curso de Agronomia na Uneb (Universidade do Estado da Bahia) e atualmente integra o quadro do CETEP. A professora avalia que agroecologia tem ganho destaque cada vez maior e abre novas expectativas. 

"A preocupação com alimentos mais seguros tem levado muitas pessoas a procurar os alimentos livres de agrotóxicos e por isto é de suma importância valorizar às bases agroecológicas, difundindo assim práticas alimentares, orientadas pelos conhecimentos científicos, tecnológicos e culturais. Sendo assim, a agroecologia é capaz de contribuir com um mundo melhor", diz Janine.

André Maia, ´é professor na Escola Estadual Chico Mendes, situada na cidade de Sobradinho. Ele diz que na Escola já funcionou os cursos de Técnico em Agroecologia e técnico em Agropecuária desde final 2016. No final do primeiro semestre de 2019 finalizaram-se os módulos das primeiras duas turmas, e a partir do início do 2º semestre de 2019 foram contempladas mais duas turmas com o mesmo seguimento das anteriores. 

"Ter uma estrutura física Estadual funcionando dentro de um assentamento de reforma agrária do MST, ofertando através do CETEP/SSF cursos técnicos no município de Sobradinho, foi e está sendo uma belíssima conquista que alimenta sonhos de um futuro melhor para os educandos e educandas deste município. E digo com toda certeza que estão sendo formados profissionais que de fato irão contribuir para o futuro da produção agropecuária impulsionar a produção agroecológica como instrumento em contraponto a matriz tecnológico da produção convencional", declarou André Maia.

Orlando José Vieira, mora na comunidade do Teixeira, localizado em Sobradinho, Bahia.  É Técnico em Agroecologia. Foi um dos alunos da turma pioneira em agroecologia. Ainda estudante foi um dos responsáveis por criar um pomada agroecológica feita com plantas nativas. Orlando é um dos bons exemplos de uma pedagogia voltada para o ser humano. Na comunidade ele se orgulha da produção mostrando até abacaxi orgânico.

Orlando, Trabalha atualmente no Projeto de Regularização Fundiária. Ele explica que muitas desvantagens da produção convencional não são levadas em conta como o alto consumo energético, o custo ambiental e os aspectos sociais negativos relacionados a este modelo convencional. Por isto o técnico aponta que a agroecologia tem se mostrado uma alternativa também no quesito quantitativo.

"A agroecologia é o equilíbrio entre a produção de alimentos e a responsabilidade ambiental", destaca Orlando ressaltando algumas das vantagens como a oferta de alimentos sem agrotóxicos e a diminuição da contaminação do meio-ambiente e da intoxicação de produtores rurais, um problema recorrente no campo.

"Sou apaixonado pela agroecologia. Tenho gratidão ao aprendizado e por isto hoje atuo no empoderamento dos agricultores e sua famílias. Acredito no diálogo e no trabalho coletivo pelo amor à natureza", finalizou Orlando Vieira. 
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JORNALISTA ADZAMARA AMARAL: LIVRO REPORTAGEM, SENTO SÉ, MEMÓRIAS DE UMA CIDADE SUBMERSA

Esta semana foi publicado aqui no BLOG NEY VITAL, que a música “Sobradinho”, composição de Sá e Guarabyra, provocou a questão ecológica na música brasileira. Na época eles ergueram a voz contra a injustiça. Os poetas com os olhos da poesia viram o que poucos enxergavam, a construção da Barragem de Sobradinho, Chesf e os impactos causados nas vidas dos ribeirinhos e as agressões à natureza.

Publicamos agora o texto da jornalista mestre em Ecologia  Humana e Gestão Socioambiental, Adzamara Amaral. O texto se ao livro reportagem que traz algumas memórias dos moradores da cidade de Sento Sé, Bahia que foi submersa.

Confiram:
Sento-Sé, Memórias de uma cidade submersa é um livro-reportagem que foi pensado como projeto pessoal antes de começar o curso de Comunicação Social em Jornalismo em Multimeios. 

A ideia de pesquisar sobre Sento-Sé nasceu das histórias que ouvia, quando ia passar as férias no povoado Brejo da Brásida, terra natal dos meus pais e onde passei os meus primeiros sete anos de vida.

Durante meu período de estudante do ensino fundamental e médio, o melhor presente de natal que recebia era ir passar as férias de final de ano no Brejo. Nestas férias, em noites enluaradas, as crianças, jovens e adultos colocavam esteiras de taboa nos terreiros para contar causos e histórias do tempo de Lampião, da passagem da Coluna Prestes pelo município, a inundação da cidade, lendas e causos.

Quando ouvia estas histórias o que me vinha à mente era que se elas fossem  catalogadas daria um ótimo livro. Quando passei no vestibular de Comunicação Social-Jornalismo em Multimeios, no ano de 2007, cheguei ao primeiro período e descobrir que no Trabalho de Conclusão de Curso poderia escolher o assunto que eu desejava.

Diante da rica história do município revivi parte de tudo aquilo que havia ficado retido no meu inconsciente, mas que precisava de um conhecimento formal para poder escrever e fui buscar no Jornalismo e na História Oral meios para retratar um período que foi um divisor de águas para os municípios de Sento-Sé, Pilão Arcado, Casa Nova e Remanso, qual seja: a inundação deste município para dar origem ao lago de Sobradinho.

O livro-reportagem foi escrito mediante as técnicas de entrevistas jornalísticas a senhores e senhoras – a maioria idosos - que moraram e vivenciaram o que foi esta cidade, que ficou submersa. 

Procurei, por meio das técnicas de reportagem e percorrendo os caminhos da memória, retratar um local que não mais existe fisicamente – mas permanece vivo nas lembranças. Mas, caso não haja uma catalogação dos dados do município, das vivências, a história da cidade poderá se perder. Como as pessoas que guardam estas memórias já estão em idade avançada, também poderá não haver registro para as futuras gerações acerca do deslocamento da população, do cotidiano da cidade nem da cultura popular.

Ao  finalizar  o livro, pude conhecer a velha Sento-Sé através de fotos e com o avanço da pesquisa me debrucei sobre artigos, dissertações, teses e reportagens e tive a oportunidade de entrevistar pessoas que me fizeram mergulhar num tempo passado. Pude conhecer como era a vida do povo ribeirinho naquele pedaço de chão pacato e simples, onde viviam, criavam seus filhos e criaram laços de amizade e afetividade e, de repente, tiveram que sair.

Ao molhar os pés nas águas doces do velho Chico, procurei imaginar as noites de lua cheia quando os pescadores saíam para pescar e fiquei a imaginar as lendas e as histórias que as pessoas contavam, sentadas no “toco da mentira”.

Neste livro, os entrevistados revivem os caminhos pelos quais passaram, as casas que moraram e as pessoas que conviveram com eles. Muitos ficaram emocionados ao lembrar os parentes, outros demonstram indignação ao pensar nos processos judiciais para recuperar bens financeiros.  Ao ouvir os antigos moradores falarem do que ficou para trás, é perceptível, diante de seus gestos e falas, a saudade que eles sentem dos tempos de outrora.

Diante do afeto e da vontade de contribuir com este trabalho, agradeço a todos os entrevistados que foram de fundamental importância para a realização desta pesquisa, a exemplo de Judite Lopes Ribeiro e do advogado André Sento-Sé que me emprestaram o acervo particular de fotografias do Sento-Sé Velho e, em especial ao meu pai e minha mãe por ter me dado força no momento que pensei em desistir; à professora Andréa Cristiana pela orientação e por me fazer refletir muito sobre o objeto de estudo e o papel do jornalista e pesquisador no registro deste período da história da região; e a Emerson Rocha, por ter viajado comigo até Sento-Sé para fotografar a cidade.  A todos vocês, muito obrigada.

(*Texto: jornalista Adzamara Amaral mestre em Ecologia  Humana e Gestão Socioambiental-Universidade do Estado da Bahia-Juazeiro-Campus III)
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SENTO SÉ, MEMÓRIAS DE UMA CIDADE SUBMERSA

Esta semana foi publicado aqui no BLOG NEY VITAL, que a música “Sobradinho”, composição de Sá e Guarabyra, provocou a questão ecológica na música brasileira. Na época eles ergueram a voz contra a injustiça e os olhos poéticos, quase videntes viram o que poucos enxergavam, a construção da Barragem de Sobradinho, Chesf, e os impactos causados nas vidas dos ribeirinhos e as agressões à natureza.

Publicamos agora o texto da mestre em Ecologia  Humana e Gestão Socioambiental, Adzamara Amaral. O texto se ao livro reportagem que traz algumas memórias dos moradores da cidade que foi submersa.

Confiram:
Sento-Sé, Memórias de uma cidade submersa é um livro-reportagem que foi pensado como projeto pessoal antes de começar o curso de Comunicação Social em Jornalismo em Multimeios. A ideia de pesquisar sobre Sento-Sé nasceu das histórias que ouvia, quando ia passar as férias no povoado Brejo da Brásida, terra natal dos meus pais e onde passei os meus primeiros sete anos de vida.

Durante meu período de estudante do ensino fundamental e médio, o melhor presente de natal que recebia era ir passar as férias de final de ano no Brejo. Nestas férias, em noites enluaradas, as crianças, jovens e adultos colocavam esteiras de taboa nos terreiros para contar causos e histórias do tempo de Lampião, da passagem da Coluna Prestes pelo município, a inundação da cidade, lendas e causos.

Quando ouvia estas histórias o que me vinha à mente era que se elas fossem  catalogadas daria um ótimo livro. Quando passei no vestibular de Comunicação Social-Jornalismo em Multimeios, no ano de 2007, cheguei ao primeiro período e descobrir que no Trabalho de Conclusão de Curso poderia escolher o assunto que eu desejava.

Diante da rica história do município revivi parte de tudo aquilo que havia ficado retido no meu inconsciente, mas que precisava de um conhecimento formal para poder escrever e fui buscar no Jornalismo e na História Oral meios para retratar um período que foi um divisor de águas para os municípios de Sento-Sé, Pilão Arcado, Casa Nova e Remanso, qual seja: a inundação deste município para dar origem ao lago de Sobradinho.

O livro-reportagem foi escrito mediante as técnicas de entrevistas jornalísticas a senhores e senhoras – a maioria idosos - que moraram e vivenciaram o que foi esta cidade, que ficou submersa.

Procurei, por meio das técnicas de reportagem e percorrendo os caminhos da memória, retratar um local que não mais existe fisicamente – mas permanece vivo nas lembranças. Mas, caso não haja uma catalogação dos dados do município, das vivências, a história da cidade poderá se perder. Como as pessoas que guardam estas memórias já estão em idade avançada, também poderá não haver registro para as futuras gerações acerca do deslocamento da população, do cotidiano da cidade nem da cultura popular.

Ao  finalizar  o livro, pude conhecer a velha Sento-Sé através de fotos e com o avanço da pesquisa me debrucei sobre artigos, dissertações, teses e reportagens e tive a oportunidade de entrevistar pessoas que me fizeram mergulhar num tempo passado. 

Pude conhecer como era a vida do povo ribeirinho naquele pedaço de chão pacato e simples, onde viviam, criavam seus filhos e criaram laços de amizade e afetividade e, de repente, tiveram que sair. Ao molhar os pés nas águas doces do velho Chico, procurei imaginar as noites de lua cheia quando os pescadores saíam para pescar e fiquei a imaginar as lendas e as histórias que as pessoas contavam, sentadas no “toco da mentira”.

Neste livro, os entrevistados revivem os caminhos pelos quais passaram, as casas que moraram e as pessoas que conviveram com eles. Muitos ficaram emocionados ao lembrar os parentes, outros demonstram indignação ao pensar nos processos judiciais para recuperar bens financeiros.  Ao ouvir os antigos moradores falarem do que ficou para trás, é perceptível, diante de seus gestos e falas, a saudade que eles sentem dos tempos de outrora.

Diante do afeto e da vontade de contribuir com este trabalho, agradeço a todos os entrevistados que foram de fundamental importância para a realização desta pesquisa, a exemplo de Judite Lopes Ribeiro e do advogado André Sento-Sé que me emprestaram o acervo particular de fotografias do Sento-Sé Velho e, em especial ao meu pai e minha mãe por ter me dado força no momento que pensei em desistir; à professora Andréa Cristiana pela orientação e por me fazer refletir muito sobre o objeto de estudo e o papel do jornalista e pesquisador no registro deste período da história da região; e a Emerson Rocha, por ter viajado comigo até Sento-Sé para fotografar a cidade.  A todos vocês, muito obrigada.

(*Texto Adzamara Amaral mestre em Ecologia  Humana e Gestão Socioambiental-Universidade do Estado da Bahia-Juazeiro Bahia Campus III)
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PROJETO DE LEI QUE ESTENDE AUXÍLIO EMERGENCIAL AOS AGRICULTORES FAMILIARES DEVE SER VOTADO

O projeto de lei 873 de 2020, que amplia o número de beneficiários do auxílio emergencial pago pelo governo federal no valor de R$ 600 mensais, deve ser votado entre terça, 14, e quarta, 15, pelos deputados federais.

Em videoconferência, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, falou sobre o assunto. “Vai avançar esta semana. Essa parte tem impacto de R$ 10 a R$ 14 bilhões. É necessário. Quem é autônomo e está acima de isenção do MEI [Micro Empreendedor Individual] está fora [da atual legislação] e está sem [acesso ao benefício] estando fora. Precisa dar uma solução ainda nesta semana”, disse.

O PL que institui a Renda Básica de Cidadania Emergencial é de autoria do Senado e foi aprovado por unanimidade na Casa, na última semana. O texto do projeto prevê que agricultores familiares, pescadores, técnico agrícolas, feirantes e outras categorias profissionais tenham direito a receber os pagamentos federais de R$ 600 por três meses. Caso seja aprovado pela Câmara, irá para a sanção presidencial.

Atualmente, apenas trabalhadores informais, desempregados, microempreendedores individuais, profissionais com contrato de trabalho intermitente e mulheres chefes de família têm direito ao auxílio.

Para estar apto a receber o “coronavoucher”, ainda é preciso não ter tido rendimentos tributáveis acima de R$ 28.559,70 em 2018. No projeto de Renda Básica de Cidadania Emergencial, esse limite de ganhos não será considerado como requisito para que novas categorias de trabalhadores tenham acesso ao benefício.

Na semana passada, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) apresentou uma emenda ao PL 873/20 pedindo que a verificação de mérito de recebimento do benefício, no caso dos agricultores familiares, seja feito por meio da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). Na redação original, essa conferência seria feita pelo Cadastro da Agricultura Familiar. Como o sistema ainda não foi implementado, haveria falhas na execução da medida. (Fonte: Contag)
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