LUIZ GONZAGA: FEIRA LITERÁRIA DE EXU ACONTECE ENTRE OS DIAS 13 A 16 DE DEZEMBRO

Foi dada a largada para a primeira edição do Circuito Cultural de Pernambuco. A Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) amplia suas ações de interiorização da cultura já consolidadas - feiras e tendas literárias - e agora se espalha por 13 municípios do Estado, incluindo Recife e sua região metropolitana, Zona da Mata Sul e Norte, Agrestes Central, Meridional, Sertão do Moxotó, Araripe, Pajeú, do São Francisco. 

O objetivo é integrar literatura a outras manifestações culturais como teatro, dança, música, artes plásticas, cinema e educação, incluindo a participação de artistas locais e da população dos municípios. 

O circuito terá como homenageado o poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto - cujo centenário de nascimento ocorre em janeiro de 2020 -, e já começa em outubro, com a segunda edição da Feira Literária do Sertão (Felis), em Arcoverde, e só termina em setembro de 2020, na Tenda Literária de Surubim. 

Nesse período ele passa por Exu, Pernambuco, durante as festividades do aniversário de Luiz Gonzaga acontece a Feira Literária de Exu, previsto para os dias 13 a 16 de dezembro

"Um Estado rico de linguagens culturais tem condições de, a partir da literatura, alavancar outras oportunidades de mostrar ações culturais coligadas. Além de João Cabral de Melo Neto, que é homenageado, podemos falar do poeta pernambucano Carlos Pena Filho, que completa 90 anos de nascimento em 2019; Gilberto Freyre, que marca 120 anos; e Clarice Lispector, cuja efeméride de 100 anos de nascimento se completa em 2020", destaca o secretário de Cultura de Pernambuco, Gilberto Freyre Neto. 

Para ele, a proposta de unir as feiras literárias realizadas pela Cepe a outras linguagens espalhadas pelo nosso território demonstra a importância e a riqueza da nossa literatura. 

"A partir dela temos condições de mostrar outras camadas culturais além das que estão escritas nos livros, das mais simples às mais sofisticadas, em um ambiente que a Cepe tem o primor e a primazia de apresentar nesses circuitos culturais que tem feito, unindo a estratégia de fortalecimento das datas marcantes dos nosso calendários culturais nessas regiões, a exemplo do que é feito no Festival de Cinema de Triunfo e no Festival de Inverno de Garanhuns. É muito importante criar essa estratégia comum nesse momento de dificuldade", ressalta o secretário. 
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II SEMANA DA AGROECOLOGIA: PRODUÇÃO ORGÂNICA E SEGURANÇA ALIMENTAR ACONTECE DE 1 A 5 DE OUTUBRO NO VALE DO SÃO FRANCISCO

No período de 1 a 5 de outubro, a Rede Territorial de Agroecologia do Vale do São Francisco Baiano e Pernambucano realizará a II Edição da ‘Semana da Agroecologia: Produção Orgânica e Segurança Alimentar e Nutricional” nas cidades de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE). 

O evento tem como objetivo promover a divulgação e ampliar o debate sobre a Agroecologia e Produção Orgânica em todo o vale do São Francisco, como forma de garantir a segurança alimentar e nutricional de produtores e consumidores.

O dia 5 será direcionado para as ‘Conexões Agroecológicas’: Educação em Agroecologia’ serão diversas discussões e debates: das 08h às 10h será  lançado o livro “Agroecologia no Semiárido” da Expressão Popular, com debate facilitado por Cícero Félix (IRPAA), Elson  de Oliveira (Sertão Agroecológico/ PPGADT/UNIVASF) e Paola Bianchini da Embrapa Semiárido. Das 10h às 12h, a Construção do ‘Tapiri de Saberes’ trará a exposição de trabalhos e vídeos sobre experiências exitosas em agroecologia e produção orgânica nos territórios Sertão do São Francisco PE/BA, que serão apresentados no XI Congresso Brasileiro de Agroecologia, de 4 a 7 de novembro em Aracajú/SE, tendo como lema “Ecologia de Saberes: ciência, cultura e arte na democratização dos sistemas agroalimentares”.

Às 14h início à Mesa Redonda I, com o tema I: ‘Educação em Agroecologia na Pedagogia da Alternância’, com Tiago Pereira da Costa (IRPAA e REFAISA); Tema II: ‘Construção do Conhecimento Agroecológico: A experiência do SASOP na região semiárida. As mesas serão mediadas pelo vice coordenador do PPGADT, Dr. Helder Ribeiro Freitas (UNIVASF).

A II Mesa Redonda será mediada pela Dra. Lucia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira, professora do PPGADT e PPGExR da UNIVASF. Tema I ‘ Agroecologia e as Comunidades Tradicionais de Fundo de Pasto: Desafios frente ao avanço do Capital’, com Gilmar dos Santos Andrade (Tecnólogo em Agroecologia (ELAA/IFPR) e mestre em Educação do Campo (UFRP); e o Tema II ‘Núcleo de Agroecologia na promoção da troca de sabres no Sertão do São Francisco’ com Moisés Félix de Carvalho Neto (Engenheiro Agrônomo e Doutorando da UFRR).

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CRISE SAÚDE: HOSPITAL MATERNIDADE DE JUAZEIRO ENFRENTA SUPERLOTAÇÃO E DE FALTA DE ESTRUTURA

Com nove meses de gravidez, a agricultora Elielma Sacramento, 28 anos, saiu às 4h30 do povoado Salitre para a última consulta médica no Hospital Materno-Infantil antes do parto. O atendimento estava agendado para 8h, mas foi avisada que o médico só chegaria às 11h. O hospital-maternidade, que é uma referência regional, enfrenta problemas de superlotação e de estrutura para garantir um atendimento de qualidade à população.

O Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) ajuizou, no dia 14 de junho deste ano, uma ação civil pública, onde solicita que a Justiça determine que a prefeitura de Juazeiro realize uma reforma imediata na maternidade. Assim como requer que sejam realizadas adaptações e aquisição de equipamentos exigidos pela vigilância sanitária.

Na ação, o MP-BA diz que a unidade possui setores “que continuam apresentando problemas sérios e estruturais, notadamente a lavanderia e o Centro de Material de Esterilização (CME)”. A vigilância sanitária emitiu parecer favorável à interdição dos dois setores, devido aos riscos de infecção.

A promotora Rita de Cássia Rodrigues, que moveu a ação, afirmou que a interdição de todo o hospital somente não foi recomendada em razão da importância da unidade para a região.

De acordo com MP-BA, por meio da assessoria de comunicação, até agora a Justiça não apreciou o pedido liminar feito pelo órgão. O último movimento processual foi um despacho determinando que a parte ré fosse citada para se manifestar no processo.

Em entrevista ao A TARDE, a secretária de saúde de Juazeiro, Fabíola Ribeiro disse que a prefeitura “está buscando parceria junto ao governo estadual para que a reforma aconteça, uma vez que a maternidade tem uma importância regional”.

A secretária destacou que são realizados, em média, 440 partos mensais na unidade. “51% dos atendimentos são pessoas que moram em Juazeiro. Os outros 49% são de usuários que moram em outros municípios da Rede Peba, formada por 53 municípios dos estados da Bahia e de Pernambuco”, informou.

Fabíola Ribeiro ressaltou que o município não tem condições financeiras de realizar sozinho a reforma. “Temos mantido esse serviço com muito esforço e responsabilidade. Somos um hospital municipal com importância regional. Não temos recursos para abraçar a reforma que está sendo solicitada. Diante disso, estamos buscando um convênio junto ao governo do estado para que possamos fazer as adequações propostas pelo MP”, concluiu.

A reportagem é Roberto Aguiar. Jornal A Tarde-Salvador


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TEMPERATURAS EM JUAZEIRO E PETROLINA PODEM CHEGAR A 38 GRAUS, APAC EMITE ALERTA DE UMINDADE BAIXA

Moradores do Sertão de Pernambuco e Bahia devem ficar atentos a um alerta de umidade baixa emitido pela Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac). 

O boletim, emitido é válido até o próximo domingo (6), afirma que a presença de uma massa de ar seco sobre a região propicia a acentuada elevação da temperatura e os valores baixos da umidades relativa do ar, que deve ficar abaixo de 15% no período da tarde. 

As temperaturas podem chegar a 38ºC.

O boletim destaca ainda os problemas à saúde causados pela baixa umidade do ar, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS): complicações alérgicas e respiratórias devido ao ressecamento de mucosas, sangramento pelo nariz, ressecamento da pele, irritação dos olhos, eletricidade estática nas pessoas e em equipamentos eletrônicos e aumento do potencial de incêndios em pastagens e florestas.

Os moradores da região devem ainda tomar cuidados como suprimir exercícios físicos e trabalhos ao ar livre entre 10h e 16h, usar soro fisiológico para olhos e narinas e evitar aglomerações em ambientes fechados. 

Ainda segundo a Apac, o tempo no Sertão nesta segunda-feira (30) deve ser parcialmente nublado a claro e sem chuva durante todo o dia. As temperaturas variam entre 18ºC e 38ºC.

Foto: CHBSF
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MUCUGÊ RECEBE A III EDIÇÃO DO FESTIVAL DE FORRÓ ENTRE 10 a 12 DE OUTUBRO

Mucugê, Bahia recebe a terceira edição do Festival de Forró da Chapada entre 10 e 12 de outubro. O período é do feriado de Nossa Senhora Aparecida e do Dia das Crianças. Idealizador e curador do evento, o cantor e compositor Targino Gondim revela que já estão confirmadas atrações como Quinteto Sanfônico do Brasil, Gel Barbosa, Marquinhos Café, Rennan Mendes e Nádia Maia, Kátia Cylene, Anastácia, Ivan Greg, Tato, Falamansa, Mestrinho, João Sereno, Eugenio Cequeira, Jurandy da Feira.

Além dos shows, o festival promove aulas de dança, de sanfona e de ritmo. “A cidade já abraçou o festival. Lá o evento já é esperado. Além de aquecer a economia da região, levamos alegria e incrementamos o fluxo turístico da região”, destaca o forrozeiro.

O criador do Festival de Forró da Chapada explica o motivo que o levou a escolher o município para sediar o evento. “Mucugê é um encanto, um paraíso da Chapada Diamantina. Um lugar com energia própria, onde eu sempre quis fazer algo. Acho que foi acertada a escolha de Mucugê para se transformar no local de comemorações dos meus aniversários.

Este é o terceiro ano que levarei amigos do forró, os maiores artistas do nosso gênero para comemorar comigo nesta grande festa”, disse um dos autores de “Esperando na janela”, nascido na cidade pernambucana de Salgueiro, tendo se mudado aos dois anos com a família para Juazeiro, na Bahia.

A ideia do festival, explica o artista, é manter o compromisso com as raízes culturais, promovendo intercâmbio musical entre todas as gerações participantes de diferentes estados brasileiros e entre músicos já consagrados, produtores, empresários, técnicos, estudiosos, comunicadores e
amantes do forró. Além da programação musical de nomes mais conhecidos do ritmo, destaca Targino Gondim, o festival dá oportunidade a novos talentos de se apresentarem. 

“Estes novos artistas vão divulgar seus trabalhos para um público mais específico e seleto, formador de opinião, proveniente de diferentes localidades do Brasil. Vamos arrastar as chinelas e ouvir muitas canções do imaginário nordestino”, pontua.

SERVIÇO
Evento: Festival de Forró da Chapada Diamantina
Data: 10 a 12 de outubro
Local: Cidade de Mucugê
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PRODUTORES DE MANGA DO VALE DO SÃO FRANCISCO ESPERAM AUMENTAR FLUXO DE EXPORTAÇÃO ATÉ O FINAL DO ANO

Saborosas, cheirosas, suculentas e mais baratas. As mangas, que estão entre as frutas mais apreciadas pelos baianos, registraram queda de até 40% nos preços nas últimas semanas na região metropolitana de Salvador. 

Na Central de Abastecimento de Simões Filho, a caixa da manga Palmer caiu de R$ 70 para R$ 45. A Tommy, que custava R$ 65 agora está sendo comercializada por R$ 40. E a Rosa, que chegava a ser vendida por R$ 105 nos últimos dias não passa mais dos R$ 80. 

A diminuição no atacado se reflete com mais força no varejo. No Mercado da Sete Portas o quilo está sendo vendido por até R$ 2, e em alguns grandes supermercados caiu para até R$ 3,50. 

E seja a Palmer, a Tommy ou as tradicionais Rosa ou Espada, elas devem continuar com as cotações reduzidas em outubro. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a tendência de queda é nacional e vários fatores estão influenciando nas reduções, principalmente o excesso de frutas no mercado.

“A oferta está mais expressiva na maior parte dos municípios produtores, as vendas mais lentas e as exportações para a Europa ainda estão abaixo do esperado. Além disso houve uma retirada maior de mangas fora do ponto ideal de maturação, o que também limitou o escoamento”, diz o relatório do Cepea. 

Nesta época a colheita está em ritmo intenso em São Paulo e no norte de Minas Gerais. Na Bahia, os principais produtores estão concentrados no Vale do São Francisco e no sudoeste do estado, na região do perímetro irrigado de Brumado. Em Livramento de Nossa Senhora, o quilo da fruta que já chegou a custar até R$ 2, não tem passado de R$ 1 faz várias semanas. E já tem até agricultor adiando a colheita.

“Quem pode está deixando no pé à espera de um melhor preço. Esperando um pouco mais para ver se melhora. Neste momento não compensa colocar no mercado interno. E vamos torcer para as exportações melhoram em Petrolina e Juazeiro”, afirma Ricardo Ribeiro, secretário de agricultura de Livramento de Nossa Senhora. 

No município existem cerca de 500 produtores de manga que mantêm pomares irrigados e direcionam mais de 95% da produção para o sudeste do país.

Já no Vale do São Francisco, responsável por 90% da manga brasileira enviada para outros países, os preços chegaram a cair mais de 10% nas últimas semanas. Os produtores rurais esperam aumentar o fluxo das exportações até o fim do ano, quando os preços poderão voltar a subir. Segundo o Cepea, as exportações estão lentas devido a concorrência com outros países produtores. No ano passado, os produtores do Vale enviaram 9 milhões de caixas da fruta para os Estados Unidos, segundo maior comprador das mangas brasileiras depois da Europa.

Muito além das mangas colhidas nas zonas urbanas, nos quintais das casas ou em pequenas chácaras da zona rural, o cultivo da fruta evoluiu muito nas últimas décadas e hoje conta com pomares comerciais cada vez mais tecnificados e produtivos.

Enquanto a área de manga não cresce muito no Brasil, no Vale do São Francisco ela quase triplicou entre 2015 e 2018. O aumento gigantesco na oferta está sendo possível graças a um conjunto de estratégias de produção.

As técnicas envolvem, por exemplo, o uso de equipamentos com infravermelho. Ele permite medir o nível de maturação da fruta ainda no pé, para evitar a colheita tardia. O equipamento é capaz de determinar o ponto ideal de colheita para que a fruta atinja a qualidade de consumo apenas após 20 dias, quando chegar no destino final.

Outra tecnologia que fez a diferença é o tratamento hidrotérmico. A técnica foi desenvolvida há cerca de duas décadas por uma rede de pesquisa liderada pela Embrapa. Durante o tratamento, as frutas são mergulhadas em água aquecida a 46 graus por 75 ou 90 minutos. O processo mata ovos ou larvas de insetos que porventura estejam na manga, entre elas a temida mosca-das-frutas.

“Foi a solução encontrada pelo setor para entrar em mercados exigentes como o americano. O maior receio deles era que, nos oito a dez dias de transporte até lá, houvesse a possibilidade de que os frutos levassem os ovos ou as larvas da mosca”, afirma o engenheiro agrônomo José Eduardo Brandão Costa, diretor executivo da Abrafrutas. 

A técnica é utilizada por todos os 40 produtores exportadores de frutas do Vale do São Francisco, instalados nos municípios de Juazeiro, Casa Nova e Petrolina. A estratégia de tratamento através da temperatura deu tão certo que se transformou em modelo de certificado fitossanitário para outros países. A solução técnica abriu mercados para as frutas brasileiras em países como Argentina, Chile, Coreia do Sul, Estados Unidos, Japão e União Europeia.

Os agricultores também adensaram as plantações. No início dos cultivos, eles plantavam no máximo 100 mangueiras por hectare. Agora existem pomares com até 1.200 pés por hectare.

Foram tecnologias como esta que permitiram à Bahia se tornar uma das maiores produtoras de manga do mundo. O segmento agrícola gera mais de 200 mil empregos diretos apenas no Vale do São Francisco. A comercialização da fruta movimentou no estado mais de R$ 422 milhões em 2018, segundo o IBGE.

Para os especialistas, o cultivo de manga vai além da simples produção de alimentos. Abrange uma cadeia produtiva extensa, com amplas consequências na economia nacional e que conseguiu atingir taxas de rentabilidade superior a 200% nos últimos anos. Em entrevista ao CORREIO, o pesquisador da Embrapa Semiárido, João Ricardo Ferreira de Lima, doutor em economia aplicada, analisa as perspectivas do segmento.

Correio da Bahia
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ORAÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO EM TEMPOS DE POUCOS RIOS

O Rio São Francisco não nasce na Serra da Canastra. Digo isso porque a correria estressante das ruas do Rio de Janeiro me oprime. Os olhos dessas crianças nuas me espetam e essa população de rua dormindo pelas calçadas me joga contra o muro. Esse Cristo economiza abraços e atende a poucos.

Só uma coisa me alenta hoje: a saudade do meu santo rio. O Rio São Francisco, o Velho Chico, Chiquinho. Escuto o murmurar de suas verdes águas: — Deixai vir a mim as criaturas... E assim foi feito. Falar de desrespeito e depredação tornou-se obsoleto. Denunciar matanças e desmatamentos resultou nulo. Orar e orar. Pedir ao santo do seu nome a sua oração.

Lá do Cristo Redentor da cidade de Pão de Açúcar, nas Alagoas, um moleque triste escutou a confissão das águas. Segundo ele, o Velho Chico dizia:

“Ó, Senhor, criador das águas, benfeitor dos peixes, escultor de barrancas e protetor de homens fazei de mim bem mais que um instrumento de tua paz. Se paz não mais tenho faz-me levar um pouquinho aos que em mim confiam. Paz para as lavadeiras que, em Própria, choram a sua fome de pão. Que, em Brejo Grande, soltam lágrimas pelos filhos mortos no sul do país. Que, em Penedo, já perderam a fé de serem tratadas como gente sã.

Onde houver o ódio dos poderosos que eu leve o amor dos pequeninos. O amor dos que cavam a terra a plantam o aipim. Dos que cavam a terra e usam-na como cama e lençol para sempre. Dos que querem terra para suas mãos, para os seus grãos, para a sua sede. O amor que não é submisso, mas escravizado. O amor que tem coragem de um dia dizer não. Coragem diante das balas e das emboscadas, das más companhias e da solidão.

Onde houver a ofensa dos governos que eu leve o perdão dos aposentados e servidores públicos. O perdão, nunca a omissão. A luta, porque perdoar não requer calar. Perdoar não quer dizer parar. Como minhas águas, tantas e tantas vezes represadas, mas nunca paradas e que, quando em minha fúria, carregam muralhas, absorvem barreiras e escandalizam Três Marias, Xingó e Paulo Afonso.

Onde houver a discórdia dos que mandam que eu leve a união dos comandados. A suprema união dos que sonham com as mudanças, dos que querem quebrar hegemonias e oligarquias. A discórdia dos reis contra a união dos plebeus. Um povo unido é força de Deus, dizia o velho bendito e sejais bendito, Senhor. A união das águas, a união das lágrimas, a união do sangue e a união dos mesmos ideais.

Onde houver a dúvida dos que fraquejam, que eu leve a fé dos que constroem seu tempo. Na adversidade, meio ao deserto e ao clima árido, a fé dos que colhem uvas e mangas em minhas margens. Dos que colhem arroz em minhas várzeas, dos que criam peixes com minhas águas em açudes feitos. A fé dos xocós lá em Poço Redondo. A fé que cria cabras nos Escuriais. Dos que colhem cajus e criam gado em Barreiras e outros cafundós.

Onde houver o erro dos governantes que eu leve a verdade de Canudos. O bom senso dos conselheiros de encontro à insanidade dos totalitários. Os canhões abrindo fendas na cidade sitiada e a verdade expondo cada vez mais a ferida da loucura na caricatura da História. O confisco da poupança e o rombo na previdência. O fim da inflação e o pão escasso, o emprego rarefeito, a dignidade estuprada em cada lar de nordestinos.

Onde houver o desespero das crianças da Candelária que eu leve a esperança das mães de Acari. E aqui, Senhor, te peço com mais fé. A dor dos deserdados, dos que perderam seus pais, filhos ou irmãos, seja de fome, doença ou assassínio, inundai-os com as águas esmeraldas da justiça. A justiça da terra e dos céus. Pintai de verde o horizonte das famílias daqueles que foram jogados mortos em minhas águas. Eles não foram poucos.

Onde houver a tristeza dos solitários que eu leve a alegria das festas de São João. Solitário eu banho muitas terras e em todas, das Gerais, do Pernambuco, das Alagoas e do Sergipe, não há tristeza ao pé da fogueira, nas núpcias entre a concertina e o repente, entre a catira e o baião.. Das festas do Divino ao Maior São João do Mundo, deixai-me levar, Senhor, o sabor de minhas águas juninas e seus fogos de artifícios.

Onde houver as trevas da ignorância que eu leve a luz do conhecimento e da sabedoria. A escuridão dos homens dementes que teimam em querer ferir-me de morte seja massacrada pela luz de um futuro negro, sem água potável, sem terra e sem ar.. Dai-me esse poder, de entrar nas mentes e nos corações, de espraiar-me pelos mil recantos dos que querem mal à nossa casinha, nossa pequena Terra. O homem sábio seja sempre sábio e contamine os povos com ensinamentos de preservação.

Ó, Senhor, dai-me vocação para consolar os que se lamentam de má sorte. Fazei-me compreender porque tanto mal há nos corações. Sobretudo, Senhor, não autorizeis que eu deixe de ser o Rio São Francisco, que há tantos anos não foge do seu leito, espalha e espelha vida em abundância. Que, embora tenha dado, quase nada recebo, que perdoando sempre, continuo sendo morto enquanto todos pensam que serei eterno.”

Foi assim que escutei e assim reproduzo.

*Fonte: Aderaldo Luciano é paraibano, nascido em Areia. Doutor em Ciência da Literatura
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