AREIA: FESTIVAL CULTURAL DO BAIRRO JUSSARA

A cidade onde nasci, Areia, na Paraíba do Norte, tem um bairro chamado Jussara. Foi onde a cidade nasceu. Foi onde a cidade se fez arruado e de onde se expandiu. A ladeira da Jussara se junta às outras ladeiras da cidade, mas é diferente, é primordial. É uma ladeira que nos leva para o alto, mesmo quando a descemos. O bairro da Jussara é amplo e complexo. É sensível, afeto e amplexo. É uma revolução por dentro de um tornado. São raios que sobem aos céus em noites tempestuosas de longa duração. É ligado em alta tensão.

Nos últimos dias 23 e 24 de fevereiro, a Jussara transformou-se em modelo de autogestão cultural. Ancorada em sua associação (transfigurada em feirinha itinerante de artes, gastronomia, culinária, artesanato e sebo), conjugou, na encruzilhada da Rua do Meio e Deodoro da Fonseca, e fez nascer, crescer e prosperar o seu Festival Cultural, território livre, chão de estrela, céu das maravilhas, aura de transcendência, minutagem mágica, alquimia quântica, sanfona dos povos, carimbó das matas, poesia dos corações.

A Filarmônica Abdon Milanez recuperou sua glória, sob a batuta do Maestro Diego Cândido, o homem-música de alma sinfônica universal. Seguindo seus olhares e gestos, o sol foi colocado para dormir ouvindo um repertório popular, entre Cofrinho de Amor e Frevo Mulher, dobrados, xotes, chorinhos e sorrisos de músicos, anjos, arcanjos, serafins, querubins, caboclos, curupiras, comadres-fulozinhas, almas dos vaqueiros, cocares indígenas, coro de sabiás, reunião de entidades, bênçãos e orações.

Benditos aqueles e aquelas que construíram tão belo evento. Benditos e benditas aqueles e aquelas que acreditaram. Benditos aqueles e aquelas que deixaram suas casas nas noites frias para olhar a lua, namorada surgida por trás dos montes da Jussarinha, musa prateada cercada de nuvens. O abrigo dos mototaxistas transformou-se em palco. A rua transformou-se em plateia. O chão irregular foi tapete para quem dança. A comunidade, senhora e cidadã, custeou sua própria existência e se assumiu para a eternidade. Eu amo a Jussara. (Texto-professor mestre, doutor em Ciência da Literatura Aderaldo Lucano)
Nenhum comentário

← Postagem mais recente Postagem mais antiga → Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário