MARCELO JENECI MOSTRA PROPOSTA FUTURISTA NO REPERTÓRIO CARAVANA SAIRÉ

No terceiro álbum, Guaia (2019), o paulistano Marcelo Jeneci cruzou referências existenciais e musicais de Guaianases – periférico bairro natal onde se criou na zona leste da cidade de São Paulo (SP) – com ecos dos sons do agreste de Pernambuco, epicentro da vivência nordestina do artista.

No quarto álbum de estúdio deste filho de migrantes pernambucanos, Caravana Sairé, Jeneci atiça ainda mais as memórias musicais e afetivas de Sairé (PE), cidade do interior onde viveu parte da infância.

Primeiro título da ambicionada trilogia fonográfica idealizada pelo artista com o cineasta pernambucano Helder Pessoa Lopes, diretor artístico do disco que desembarcou nos aplicativos via ONErpm, Caravana Sairé é álbum de intérprete, derivado do homônimo show apresentado por Jeneci desde 2022.

O compositor assina somente duas músicas, ambas já conhecidas, cedendo a vez ao cantor na maioria das dez faixas, gravadas com sanfonas – inclusive a de Jeneci (também no bass synth) – com os instrumentos de percussão evocativos das bandas de pífano.

Com os toques dos músicos Ivson Santos (pandeiro), Juba Carvalho (percussão), Junior Caboclo (pífanos), Lucas Dan (sanfona), Mestre Bastos (zabumba) e Mestre Zé Gago (pratos), Jeneci aborda sucessos da música nordestina abrigada sob o amplo guarda-chuva dos ritmos genericamente rotulados como forró.

O xote Sou o estopim (Antonio Barros, 1976), apresentado por Marinês (1935 – 2007) e rebobinado por Jeneci no balanço do reggae, abre alas e pede passagem para Caravana Sairé, disco mixado por Mario Caldato.

Na sequência, o cantor remói Lembrança de um beijo (Accyoli Neto, 1994) com o toque flamenco da guitarra de Daniel Casares e tenta dar pisada pop ao seminal Baião (1946), pedra fundamental da parceria de Luiz Gonzaga (1912 – 1989) com Humberto Teixeira (1915 – 1979).

Também do rei do baião, mas em parceria com Zé Dantas (1921 – 1962), Vem morena (1949) ganha registro em seleção de repertório que une o standard junino Olha pro céu (Luiz Gonzaga e José Fernandes, 1951) com Felicidade (2010), joia da parceria de Jeneci com Chico César, autores também de Oxente, música apresentada na voz arretada de Elba Ramalho no álbum O ouro do pó da estrada (2018) e já gravada pelo próprio Jeneci no citado álbum anterior Guaia (2019).

Sucessos conhecidos dentro das fronteiras do nordeste com o toque do Trio Nordestino, Amor não faz mal a ninguém (Onildo Almeida, 1980) e Cadeira de balanço (Assisão e Lindolfo Barbosa, 1976) encorpam a trilha sonora de Caravana Sairé ao lado de Devagar (Jorginho de Altinho, 1984) e de Ai que saudade d'ocê (Vital Farias, 1983).

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