Luiz Gonzaga e os conteúdos científicos presentes nas teses de Mestrado e Doutorado

Cento e quatro anos anos depois do seu nascimento, e quase 30 depois da sua partida para a eternidade, o pernambucano de Exu, Luiz Gonzaga do Nascimento, está cada vez mais "dentro" das universidades de ensino superior e salas de aula do ensino médio e fundamental.

Tenho lido diversas teses de Mestrado e Doutorado pautado na vida e obra de Luiz Gonzaga. Releio agora, a tese de José Farias dos Santos, autor do livro Luiz Gonzaga, a música como expressão do Nordeste (Editora Ibrasa), 

Este foi o 14º livro sobre a vida e obra do filho de dona Santana e seu Januário, que o povo todo imortalizou como “o rei do baião”. Este ano de 2017 os livros já ultrapassam os vinte e cinco escritos sobre a vida e obra de Luiz Gonzaga. 

Farias dos Santos, formado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), dedicou-se por três anos seguidos a estudos sobre a vida e obra de um dos criadores do baião, ao lado de Humberto Teixeira.

Desses estudos resultou o livro — tese de mestrado. A leitura esclarece e compreendemos  um pouco mais e melhor a importância de Luiz Gonzaga no panorama musical brasileiro, especialmente a partir dos anos 40, época de ouro, de grandes ídolos como Augusto Calheiros, Nélson Gonçalves, Chico Alves, Sílvio Caldas, Orlando Silva e Vicente Celestino. 

"Luiz Gonzaga, a música como expressão do Nordeste" mostra a relação da obra do rei do baião — e de seus parceiros, naturalmente — com a cultura, a sociedade e a política brasileira.

No livro também são ressaltados a presença do samba carioca, entre os anos 30 e 40, e o surgimento de movimentos musicais entre fins dos 50 (bossa nova) e 60 (jovem guarda, festivais de MPB e tropicália). 

O crítico musical e jornalista Assis Angelo aponta que no caso de Luiz Gonzaga, o período mais rico — musicalmente, falando —, situa-se entre os anos 40 e 50, quando é lançado o baião por seu autor, em parceria com o cearense Humberto Teixeira. Na época, esse gênero musical foi sucesso no Brasil e até no exterior (a portuguesinha Carmen Miranda chegou a gravá-lo no filme Nancy Goes to Rio — ‘Romance Carioca’), em 1950. 

A música por ela gravada na ocasião foi Baião, com o esquisito título de Caroom pa pa (versão de Ray Gilbert). Detalhe: em Portugal, na região do Entre-Douro e Minho com a Transmontana, há uma localidade com esta designação ocupando 15.571 hectares e 20 freguesias. O concelho (com c) de Baião, como é chamada a região — distrito do Porto —, tem limites com o Marco de Canavezes, onde nasceu Carmen (1909-1955). 

No Brasil, mais precisamente no Pará, às margens do Tocantins, há também uma cidade com esse nome desde o dia 30 de outubro de 1769, em homenagem ao português Antônio Baião, que recebeu do então governador e capitão-general Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho uma vasta sesmaria com o compromisso de criar ali um povoado. Curiosidade... No Pará, Baião existe desde 1833. Tem hoje uns 30 mil habitantes. Curiosidade...

É por tudo isto que  Luiz Gonzaga ganhou o título maior no Ensino Superior. A Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) concedeu em 2012, ano do centenário,  ao cantor e compositor Luiz Gonzaga o título de Doutor Honoris Causa (in memoriam), maior honraria das instituições de ensino.

Este título, nestes tempos de inversões dos valores educacionais e culturais, onde prolifera nos meios de comunicação péssima educação, gritaria, letras que incentivam desunião, falta de amor; o título traz a oportunidade de valorizar o aprendizado e vontade própria de ser vencedor de um cidadão que não nasceu em berço de ouro.

Todo brasileiro sabe da condição de semi analfabeto de Luiz Gonzaga, mas cidadão que sempre sonhou em aprender e propagar o quanto é importante estudar na vida e ter um diploma universitário. O título concedido pela UFRPE é merecido e simboliza a valorização da leitura e do aprendizado.

A proposta foi formalizada e aprovada pelo Conselho Universitário da UFRPE. Na justificativa, a reitora da UFRPE e presidente do Conselho, Maria José de Sena, afirma que o cantor e compositor é um “autêntico representante da cultura brasileira, cujas canções envolvem ecologia e meio ambiente, enaltecendo a fauna da caatinga e referenciando a conservação da natureza”.

O Título de Doutor Honoris Causa é concedido a personalidades que tenham se distinguido pela sabedoria ou pela atuação frente a artes, ciências, filosofia, letras ou das relações com a sociedade.

 O título de doutor universitário proporciona a Luiz Gonzaga o mote de nós todos cantar e incentivar nossos jovens a estudarem e buscar o diploma que vai garantir liberdade. A educação é a única forma de libertação.

Afinal, o estudo de Luiz Gonzaga foi sua sanfona. E os josés, severinas e João, Antonio que não sabem tocar sanfona para ganhar o pão de cada dia?
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