Crato, Ceará: Raimundo Aniceto, Mestre da Cultura, princípios mais nobres e a fé que se renova


Aderaldo Luciano numa carta endereçada ao cantador cantor Beto Brito, relatou a certeza, "e vai colocar isso em um poema, que Deus era um tocador de pife e foi soprando nele, num pife feito de taboca, que deu vida ao Homem com seu sopro fiel".

Já o escritor Braulio Tavares avalia que o tempo passa, o tempo voa e que quem é músico de verdade, as pessoas para quem a música é a coisa mais importante, e ao mesmo tempo a coisa que mais lhes dá prazer e que elas conhecem melhor, adquirem uma certa nobreza de príncípios.

Visitei no Crato, Ceará, o mestre da cultura de tocar pife, Raimundo Aniceto, 66 anos, nascido em 14 de fevereiro de 1934. Fui na casa do líder da Banda Cabaçal de Pife dos Irmãos Aniceto.  A Banda de Pífe é Patrimônio Cultural Imaterial.


Formado no século 19 pelo “Véi Anicete”, ou José Lourenço da Silva, que mais tarde se tornaria José Aniceto, um descendente de índios do Kariri, o grupo se encontra na quarta geração — e não deixa de lado a música do sertão. A Banda de Pífe já tem mais de dois séculos de fundação.
 

Seu Raimundo começou a tocar com 6 anos, ele acompanhou de perto a renovação da banda. A formação atual é composta por  Adriano, Antonio (seu irmão), Jeová e Ciço. Eles têm um sexto integrante, Ugui, escalado em situações especiais.
 

Doente mestre Raimundo mostra as fotos e os ollhos marejam com retratos da disposição de outrora. Responsável pela coreografia, ele dançava, pulava e arriscava até um salto mortal na apresentação.

Raimundo Aniceto está se recuperando de um AVC-Acidente Vascular Cerebral. Já não toca! Todavia a mente, alma e corpo falam do Guerreiro Cultural que bem sabe e pede socorro: o pife não pode acabar!


No final da visita fiquei a pensar: o Brasil trata realmente com o maior desprezo a sua verdadeira riqueza cultural. A situação atual de Raimundo Aniceto carece de maior respeito e dedicação por parte do poder público...qual a explicação de sequer o Estado, Municipio não garantir os exames necessários pós-AVC? Alimentação e nutrição suficiente para a familia? fisioterapia? Remédios...

Mestre Raimundo Aniceto tem seis filhos e de acordo com Dona Raimunda a esposa pediu para que não deixassem acabar o grupo e manter vivas essa tradição. Preocupada Dona Raimunda sentenciou: "É muito difícil, pois a juventude não está muito ligada na tradição. Mas vamos conseguir".

A história conta que tudo começou com o índio kariri José Lourenço da Silva, que com suas cabaças resolveu criar um grupo musical surgida em 1815. Toda a família se envolveu no trabalho, e a tradição foi passada por três gerações.


Resultado: os irmãos Aniceto lançaram três discos: o primeiro em 1978, patrocinado pelo Ministério da Educação e Cultura; o segundo em 1999, produzido pela Cariri Discos em parceria com a Equatorial Produções; e o último em 2004, intitulado “Forró no Cariri”. Também lançaram um DVD, gravado em 2008, no Theatro José de Alencar, registrando a histórica apresentação da Banda Cabaçal em conjunto com a Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho.

O nome da banda vem do tempo de José Lourenço, o Aniceto. Na época, a zabumba era feita da cabaça da roça.

Quando me despedi de seu Raimundo vi que apesar da solidão e olhar triste, em nome da Banda Cabaçal Irmãos Anicetos seu Raimundo já recebeu a Honra do Mérito Cultural, concedido pelos relevantes serviços prestados, e eu vi juro que Vi que Deus proverá os caminhos de quem gosta de música.


 
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