ALAN CLEBER: O INTÉRPRETE E A GRANDEZA DE MOSTRAR A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA BREGA NA HISTÓRIA DA CULTURA

Nascido em Juazeiro, Bahia, no dia 03 de fevereiro. Não é por acaso que Alan Cleber traz a energia musical no corpo e na alma.  Alan conta que o impulso da carreira artística começou no teatro, na época dos grandes festivais de Juazeiro. "No primeiro festival Edésio Santos da Canção eu fui convidado para interpretar apenas uma música. Foi uma canção de Cássio Lucena que se chama “A travessia do Mar Vermelho”. 

Ali, ele ganhou o primeiro lugar de melhor intérprete. E interpretar é uma das grandezas de Alan Cleber. No repertório Maria Bethania, Roberto Carlos, Ney Matogrosso...do forró ao tropicalismo, do frevo ao maracatu. É Alan Cleber um vendaval, no melhor sentido de inventar o ritmo da vida na paz do cantar. É um rio caudaloso de talento musical e presença de palco.

Um dos shows mais expressivos de Alan  Cleber é  "Foi tudo culpa do Amor". Aliás, desde que vi este espetáculo, onde ele mostra um dos melhores lados da Música Brasileira e quebra preconceitos, lembro do jornalista e historiador Paulo Cesar de Araújo.  Paulo César é também o autor da biografia “proibida” do “Rei” Roberto Carlos – leitura obrigatória para quem conseguir encontrar algum exemplar do livro censurado. Paulo pesquisou durante sete anos a história da chamada música brega entre 1968 e 1978 – os anos de chumbo da ditadura militar no Brasil. 

O livro mostra que os cantores Odair José, Benito Di Paula, Diana Pequeno, Barto Galeno, Evaldo Braga, Fernando Mendes, Agnaldo Timóteo foram ignorados por estudos e pesquisas sobre o período e marginalizados na história cultural do país. É preciso saber: os cantores (chamados) bregas, embalavam as massas, foram quase tão vitimados pela censura quanto Chico Buarque, Caetano Veloso. Foram massacrados pela industria cultural. No livro Eu Não Sou Cachorro, Não, título extraído de um grande sucesso de Waldick Soriano, o historiador tenta fazer justiça a esses ídolos populares.

Odair José, por exemplo, teve  música proibida por ter sido lançada quando o governo fazia programas de incentivo ao controle de natalidade entre as populações pobres, apesar da posição católica contrária ao uso de anticoncepcionais. Para os censores, a canção de Odair José representava uma conclamação à desobediência civil e uma referência explícita à sexualidade.

'A maioria dos trabalhos sobre música brasileira trata da tradição, como o folclore nordestino, e da modernidade, como o tropicalismo', diz o escritor. 'O brega não é nem uma coisa, nem outra. Caiu no limbo. 'A idéia é mostrar que os bregas também tiveram importância na história de nossa cultura'.

Então tenho dito: viva a Alan Cleber...Tudo foi e é por culpa do amor...Viva a música brasileira!




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O RIO DAS MORTES CORRE A TRITURAR CORAÇÕES ABRAÇADO A ETERNIDADE



Dois são os rios das Mortes: um no Mato Grosso, na bacia do Araguaia, outro em Minas Gerais, na bacia do Rio Grande. A foto é do primeiro e ilustra meu sentimento diante da própria Morte, o extenso e ancestral rio no qual a Vida deságua, o verdadeiro Rio das Mortes. A última semana de outubro e a primeira de novembro carreou para mim a viagem derradeira de três chegados.

Um dia depois do lançamento do meu livro, na cidade onde nasci, Areia, na Paraíba do Norte, quando eu já estava me preparando para dormir, hospedado na casa de meu dileto Beto Brito, soube da partida repentina, e pelas próprias mãos, de um amigo, jovem e novo, vida e olhar para a frente, vencido por forças interiores tão estranhas quanto avassaladoras. Partiu, mas nos legou a memória e a continuidade em dois rebentos com nomes de santo.

O triturador de corações, a assombrosa lâmina, o intangível manto do que se resolveu chamar Depressão, em todas as suas formas e roupas cênicas, atua silenciosamente, em alguns casos, noutros se pronuncia com protuberantes intervenções. Nosso amigo, rasgado o peito e as vísceras em chama, repousa no éter, abraçado à eternidade. Será presença viva em nossos penhorados corações. Nos tatuou a existência. Estamos marcados.

Logo depois, assim como quem vai ali na padaria, nas terras piauienses, outro amigo, sóbrio e decidido, despido de medo e interventor, pegou o trem eterno, debilitado, com alguma idade e um filho recém nascido, saído das prensas, rodado em papel, com o nome estranho de O Terno E O Frango, memórias. Foi-se embora e deixou-me com uma resenha inacabada, uma foto que não foi enviada, um hiato robusto entre Oeiras e Rio de Janeiro.

Foi Soahd, amiga também, quem nos singrou a notícia. Egberto e Francisco devem ter tomado o susto, como eu tomei. O sorriso, as fotografias, o pensamento e a letra fizeram morada nele. Edmar foi quem nos apresentou. Cruzou o Brasil e elevou-se incógnito, perfurou o firmamento e encantou-se lá para as bandas do Sete Estrelo. E o rio continuou correndo, catando seres numa outra margem.

Domingo passado, na manhã baiana, alguém também foi-se embora. Aproveitou que Tia Florinda nos visitava e nem disse adeus. Com seus muitos mais que anos, vitimada por um AVC, evento tão presente nos brasileiros, mas tão pouco comentado, já acamada há dois anos, com os reflexos físicos em câmera mais que lenta, desfez-se das sondas, afastou os cobertores, ignorou o leito e foi encontrar Seu Flodoaldo, pai santo, postado em sua cabana do lado de lá.

A personalidade de Tia Mariinha era o próprio ferro bruto. Era sua a ordem, era sua a última palavra, era seu o desejo e era sua a vontade. Elegia e condenava, abria as portas a parentes, fechava os ouvidos aos mais próximos, presenteava e cruzava a casa do Tororó como a rainha. E foi assim que partiu: fazendo valer a própria vontade, sem negociar com o rio, domando-o ao seu querer.

O Rio das Mortes é uma paragem irremovível. Nadaremos em suas piscinas, mergulharemos, pela manhã, em águas geladas, pela tarde, em águas mornas. À noite, com estrelas ou sem a lua; na madrugada, com todo o silêncio. Procurei algum topônimo que se chamasse Rio das Vidas. Não há. Mesmo assim, estamos nele, todos nós, em suas corredeiras e quedas d'água, sendo levados, a reboque, para o Rio das Mortes. Um dia seremos saudade!

Fonte: Aderaldo Luciano
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RAQUEL DE QUEIROZ, A DAMA DO SERTÃO

Há 107 anos, no dia 17 de novembro de 1910, no antigo nº 86 da Rua Senador Pompeu, em Fortaleza, nascia Rachel de Queiroz. Descendia, pelo lado materno, da estirpe dos Alencar, parente, portanto, do ilustre autor de O Guarani, pelo lado paterno, dos Queiroz, família de raízes profundamente lançadas no Quixadá e Beberibe. Essa ancestralidade e o decisivo apoio de seus pais indiscutivelmente seriam, sem dúvida, os responsáveis pelo desabrochar de seu talento literário, ainda em tenra idade, e pelo imenso amor que nutria pelo Sertão nordestino ao longo de sua vida de escritora.

Falar de Rachel de Queiroz é falar de literatura, mas é impossível fazer qualquer referência à Grande Dama do Sertão sem mencionar sua paixão pela política. Talvez por isso, em suas crônicas, tenha se deixado arrastar pelo jornalismo, posto que sempre fez questão de se proclamar como jornalista, e não como ficcionista.

Faço aqui um parêntese para lembrar o que dizia Joaquim Nabuco no seu discurso de posse como secretário-geral da Academia Brasileira. Dizia Nabuco: “Nós não podemos matar no literato, no artista, o patriota, porque sem a pátria, sem a nação, não há escritor, e com ela há forçosamente o político”.

Admiradora de Churchill – “o homem que encheu o século”, como o qualifica em O caçador de tatu, e a quem considerava um profundo conhecedor da natureza humana –, dizia que o grande político é “o homem de ação, que sabe fazer valer as ideias inovadoras e consolidar valores culturais e melhorias sociais significativas para o seu povo”.

Antigetulista convicta, Rachel ingressou no Partido Comunista Brasileiro, o então PCB, em 1931, de onde saiu pouco tempo depois, por não permitir que a ideologia política interferisse em sua liberdade como escritora. Em 1932, havia escrito João Miguel e submetido o romance à aprovação da hierarquia partidária. Para tal, Rachel teria de mudar o destino de 30 personagens, fazendo o operário matar o coronel e a mocinha se prostituir, o que ela, terminantemente, recusou-se a fazer. Por isso, deixou o partido.

Embora fosse prima do presidente Castello Branco, com quem tinha ótimo relacionamento, e mantivesse contato com diversas personalidades políticas, entre as quais se incluem os presidentes José Sarney, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, o máximo a que se permitiu foi aceitar um cargo no Conselho Federal de Cultura, órgão que integrou desde sua fundação, nos idos de 1967, até sua extinção, em 1989. Participou também Rachel de Queiroz da 21ª Sessão da Assembleia Geral da ONU, em 1966, na condição de delegada do Brasil.

O presidente Jânio Quadros chegou a convidá-la para ser ministra da Educação, ao que respondeu: “Presidente, colaboro no que for preciso, mas sem cargo oficial. Não posso pôr em risco minha independência intelectual, nem nasci para viver em cortes palacianas”.

Se esses dois lados de Rachel de Queiroz – o literário e o político – são de tal forma fascinantes, a eles vem se somar o lado profundamente humano da autora de O Quinze, pedra basilar de sua literatura e de seu interesse pela política. Dizia Rachel de Queiroz: “Na realidade, o de que eu gosto é da vida e das pessoas com suas contradições, paixões e afetividades. A criatura humana me fascina muito, me fascina e também me comove. Quando escrevo, tenho o ser humano como objeto de minha narrativa. Eu tenho paixão é pelo ser humano”.

Foi a primeira mulher cearense a se candidatar ao Legislativo estadual, em 1934, herdando o pioneirismo de Bárbara de Alencar, sua quinta avó, primeira presa política do Brasil. Foi também a primeira mulher a receber o Prêmio Camões e a ser eleita para a Academia Brasileira de Letras, antecipando-se à Academia Francesa, que somente quatro anos mais tarde, em 1981, escolheria Margarite Youcenar como a primeira mulher a integrar o seu panteão de imortais.

Possuía uma profunda ligação com a sua terra, sobretudo com a aridez de Quixadá, com a aridez das secas dos nordestinos que tanto conhecemos. Costumava dizer que “ser nordestino é um privilégio que eu não específico para não fazer inveja aos que não gozam dessa felicidade”.

Lutou Rachel de Queiroz com determinação, para que fosse criado o Parque Nacional dos Serrotes, do Quixadá, com o objetivo de proteger os inselbergs daquela região, onde popularmente são designados como serrotes.

Rachel fez da sua vida uma arte e transformou a arte em vida! Relembro, por isso, as palavras utilizadas por Adonias Filho no discurso com o qual recepcionou Rachel de Queiroz na Academia Brasileira de Letras: “O vosso lugar nesta casa, pois, não é apenas vosso. É também e, sobretudo, da literatura brasileira, porque ninguém a serviu melhor que vós, senhora Rachel de Queiroz, com talento e amor, respeito e dignidade”.

Fonte: Marco Maciel
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SEM ARBORIZAÇÃO, CIDADES SOFREM MAIS EM ÉPOCAS DE CALOR E DE SECA

Nas ruas e avenidas que contornam Juazeiro e Petrolina, o blog destacou ipês florindo os municípios. Porém, essas árvores não se resumem a enfeites para embelezar uma região. Elas emanam saúde, bem-estar, ajudam no ciclo da chuva e podem até amenizar as altas temperaturas. Em meio a um ano de calor recorde, e de uma crise hídrica causada pelos baixos níveis dos reservatórios, a arborização urbana se mostra como uma importante ferramenta para combater os impactos climáticos.

Mas como o plantio de árvores pode ajudar a melhorar questões como temperatura e questões hidrológicas? Alguns estudos comprovam a relação entre as condições microclimáticas de uma região e a arborização. Ou seja, plantar uma árvore não significa resolver todos os problemas, mas traz benefícios inatingíveis dentro de uma região, como, por exemplo, diminuir a exposição ao sol, amenizar as temperaturas e absorver a água para infiltrá-la no subsolo — parte importante do processo de formação das chuvas. 

Segundo o professor e doutor em arquitetura e urbanismo Caio Silva, da Universidade de Brasília (UnB), a diferença de arborização entre os lugares mostra a necessidade de um novo planejamento urbanístico. “Eu fiz uma pesquisa em Teresina. Na mesma hora, mesmo dia e na mesma medição, eu tenho 3,1°C a mais da temperatura em avenidas que não têm arborização”, diz. 

Isso acontece porque, como a cidade é feita de materiais urbanos, ou eles acumulam ou transferem o calor para a atmosfera. “Mas qual é o único material que consegue consumir calor como radiação? A vegetação. Um ipê, um flamboyant não vão pegar a radiação e refletir, ou acumular. Eles vão se alimentar da radiação para sobreviver. Por esse simples fato, eu tenho um espaço menos quente”, explica.

Outro ponto importante é que as árvores são peças fundamentais no equilíbrio hidrológico e formação das chuvas. Assim, com elas, é possível ajudar no ciclo de precipitação. “A árvore tem copa grande. Ela tem esse papel de pegar água da chuva e infiltrá-la no subsolo. A chuva tem tudo a ver com o equilíbrio ambiental da superfície”, afirma o professor.
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FULO DE MANDACARU: RITMO DA SANFONA, DOUTORADO E COMPROMISSO CULTURA BRASILEIRA

A expressão usada em todo o Nordeste para dizer que uma coisa é perfeita não passou despercebida pelo trio que comanda a banda pernambucana Fulô de Mandacaru. Ela dá nome ao principal sucesso da banda que foi fundada em 2001 e que em 2016 alcançou um dos seus principais feitos ao conquistar a primeira colocação no programa Superstar, da TV Globo. 

Mas nem tudo foi "só o mi" para Armandinho, Tiago e Pingo. Antes de conquistar o País, vencendo a disputa na Globo com uma votação popular, os meninos de Caruaru, Pernambuco enfrentaram vários desafios. 

Armandinho fez um breve relato da história da banda que tem nome de uma flor que brota de uma planta que resiste às piores estiagens do Sertão Nordestino. "Lembro que meu pai, que sempre foi compositor e cantava lá em Caruaru, resolveu apostar na gente. Foi aí que viemos para Recife e enfrentamos imensas dificuldades", contou o artista, lembrando que já foi cobrador de lotação numa Kombi velha.

Após as tentativas na capital pernambucana, eles se mudaram para o Vale do São Francisco. Em Petrolina, o trabalho era tão árduo quanto em Recife. "Carregávamos caixas de frutas na cabeça para vender", resumiu.

O tempo passou e eles, antes de se reencontrarem com a música, foram viver o universo acadêmico, mesmo estudando a vida inteira em escolas públicas. "Vou concluir meu doutorado na Universidade Federal da Paraíba daqui a dois anos, meu irmão (Pingo) parou a faculdade de Direito e Tiago abandonou o seminário", completa Armandinho. 

Filhos do cantor e compositor, Armando Barros, Armandinho e Pingo viram a vida mudar quando o pai vendeu um automóvel para comprar um teclado. Anos depois, estavam em Paris para uma temporada de 30 dias divulgando o forró.

No palco, os garotos de Caruaru se transformam. Com muita irreverência, eles fazem releituras de clássicos do Rei do Baião, Luiz Gonzaga que consideram a sua principal referência, juntamente com Jackson do Pandeiro, Dominguinhos, Elba Ramalho, Alceu Valença e Anastácia. "A gente faz questão de se vestir como verdadeiros nordestinos, pois temos um compromisso enorme com a cultura da nossa região", ressalta Pingo. 

Além dos artistas consagrados, eles também prestigiam artistas locais como João do Pífano, Didi Caruaru, dentre outros que participaram recentemente da gravação do DVD acústico, que também será o especial de Natal da Globo Nordeste, com exibição prevista para dia 23 de dezembro. Canções deles próprios e do pai Armando também fazem parte do repertório. 

A performance de palco do trio Fulo de Mandacaru é um show à parte. Enquanto pingo rodopia no ritmo certo, Armandinho puxa acordes diferenciados da sanfona e Tiago apresenta uma maneira peculiar de extrair som do triângulo. 

Sucesso em todo o Nordeste e em estados como Rio de Janeiro e São Paulo , com um público diversificado, que vai das crianças de oito anos e idosos de 80 - eles agora querem se tornar referência na terra de todos-os-santos. Segundo Armandinho, o próximo DVD deve ser gravado em solo baiano. O repórter sugeriu que fosse durante o São João e ele respondeu: Excelente ideia. 

Na agenda 2018, os baianos já podem se preparar para assisti-los em Senhor do Bonfim e Irecê, onde tocarão pelo segundo ano seguido, além de Amargosa, onde farão sua estreia. São Sebastião do Passé e Salvador estão no radar.

Aliás, a capital baiana pode ser um destino deles no carnaval, onde eles poderão apresentar o Mandacaru Elétrico, projeto em que colocam o forró numa velocidade ainda mais rápida que a habitual.

Fonte: Gabriel Carvalho
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SERTANEJOS FESTEJAM CHUVAS

Sertão é terra-mãe, com todas as delicadezas deste relacionamento. Pouca chuva. Sol causticante. Sertanejos que na fé e com menos água, comida e sonhos vão atravessando o presente. São 7 anos sem chuva no sertão do norte da Bahia e Vale do São Francisco. 

Todavia nesta terça-feira (14), a chuva voltou a cair no sertão. Do município de Casa Nova, a redação do blog recebeu uma foto do empresário Marcelo das Baterias. Marcelo representa o sentimento de milhões de sertanejos: festejar com o banho de chuva a esperança, o batismo da felicidade da chuva no sertão.

"Só quem é das plagas sertanejas sabe bem o que representa despedir a estiagem, que na curva da estrada faz seu caminho para o oco do mundo. Açoitada pelos relâmpagos cortando os céus e sob o som estremecedor dos trovões, a seca vai embora por minutos...o homem vai parando em cada biqueira, molhando o corpo e lavando a alma, banhando-se alegre nas águas da chuva mandada por Deus, corre feliz na amplidão do sertão", diz o juiz e escritor Onaldo Queiroga.

Noticias são de chuvas desde as primeiras horas deste dia em vários municipios. "Queria ver o voo da volta da Asa Branca descrito por Zé Dantas e cantado por Luiz Gonzaga. Queria sentir a poesia Zé Marcolino: “Pássaro Carão cantou / Anum chorou também / A chuva vem cair no meu sertão / Vi um sinal meu bem / Que me animou também/ É bom inverno que vem", aponta Onaldo Queiroga.

É verdade que a chuva de 2017 não remediou a seca dos últimos 7 anos. Mal chegou e já está de partida. 
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RESPEITEM A SANFONA DE 8 BAIXOS DE LUIZINHO CALIXTO

A Sanfona de 8 Baixos possui toda uma tradição musical, sendo fundamental para a música nordestina e brasileira. “No Nordeste do Brasil, ela adquiriu características de afinação próprias que a tornaram diferente, detentora de um sotaque próprio, representativo da nossa cultura. Representa, além de uma tradição musical, um saber único, um jeito de conviver e festejar muito nosso, bem nordestino, e por isso, bem brasileiro também.

"É o instrumento mais difícil de tocar entre os de fole porque quando fecha uma tecla faz um som e quando abre, a mesma tecla faz outro som. É difícil encontrar quem toque a sanfoninha, mas ela foi responsável por disseminar o forró no Nordeste", explica, o sanfoneiro Luizinho Calixto, membro de uma família com tradição na música brasileira e que já escreveu dois manuais ensinando a tocar o fole pé de bode.

"Quem sabe tocar sanfona de oito baixos hoje está ficando velho, morrendo. É preciso renovar, buscar novos talentos, para a tradição não morrer". Essa é preocupação do sanfoneiro paraibano Luizinho Calixto, que há 10 anos inicia crianças, jovens e adultos no instrumento, famoso nas mãos de Januário, pai de Luiz Gonzaga. 

O músico desenvolveu uma didática para facilitar o ensino, que carece de professores em todo o Nordeste. Uma dessas oficinas aconteceu em Exu, Pernambuco. No último dia 11 de novembro, tive a alegria de compartilhar o dia ao lado de Luizinho Calixto.

"A sanfona de oito baixos veio da Europa com uma afinação diatônica. Quando chegou aqui no Nordeste, alguém transportou, não se sabe o porquê nem baseado em quê, a afinação para o dó-ré, que é única no mundo todo", explicou Luizinho Calixto.

Esta falta de informação sobre a sanfona de oito baixos foi um desafio que o músico teve que vencer para poder elaborar a oficina de iniciação. "Diziam que só tocava quem tinha dom ou um parente na família para ensinar. Mas criei um sistema onde cada tecla é um número. Se a tecla está pintada de vermelho, é para fechar. De azul, para abrir. Assim, os meninos olham e pronto, já saem praticando sozinhos", disse. O método foi batizado de tablatura.

A professora de biologia Ana Vartan é apaixonada pela cultura brasileira e é uma pesquisadora da música de Luiz Gonzaga. Ela diz que sempre quis aprender a tocar sanfona de oito baixos, mas não tinha quem ensinasse. "Aqui, em Exu, não tem professor para essa sanfona, só para 80 ou 120 baixos. E é bom que tenham crianças, que é a melhor fase de aprender", disse Ana.

Fonte: UEPB
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FREI DAMIÃO RECEBERÁ EM 2018 RECONHECIMENTO DA IGREJA CATÓLICA POR SUAS VIRTUDES CRISTÃS

A data já está marcada: 6 de fevereiro de 2018. Nesse dia, a Comissão de Teólogos do Vaticano se reunirá na Santa Sé para avaliar o processo de canonização de frei Damião de Bozzano. O religioso deverá receber o título de venerável, um reconhecimento da Igreja Católica por suas práticas e virtudes cristãs em grau heróico. A partir daí, começarão a ser analisados os milagres de sua autoria. Até o fim de 2019, o frade capuchinho deverá se tornar beato. Depois que o decreto for publicado pelo papa Francisco, espera-se que aconteça um novo milagre para assim Damião tornar-se um santo oficialmente. Para seus devotos brasileiros, o italiano natural de Bozzano, no Norte da Itália, já é considerado popularmente o primeiro santo nordestino. Estima-se que o frade seja autor de mais de 30 mil milagres ao longo de sua vida.

Frei Damião morreu em 31 de maio de 1997, aos 98 anos, após sofrer um acidente vascular cerebral. Seu processo de beatificação e canonização foi aberto em maio de 2003 e encaminhado ao Vaticano em julho de 2012. Para o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, o processo que tramita em Roma só oficializará o que já está no coração do povo. “Frei Damião é uma pessoa de Deus, um homem que dedicou toda sua vida à missão, à evangelização, sobretudo nas comunidades mais carentes e pobres. É muito justa a causa. Temos esperança de que, o quanto antes, a Igreja possa proclamar essa verdade para a alegria de todos nós”, declara o arcebispo. 

“Frei Damião não é só religião. Ele é um ícone da cultura nordestina, que ultrapassou as barreiras da religião do povo, atingindo as artes. Grandes intérpretes da música brasileira como Luiz Gongaga cantaram frei Damião. Gil Borges tem todo um trabalho de xilogravura envolvendo o frade. Ele está nos livros de cordel espalhados no interior do Nordeste.

Fonte: Ana Paula Neiva - Diário de Pernambuco
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RIO SÃO FRANCISCO: SOBRADINHO, PILÃO ARCADO, CASA NOVA E SENTO SÉ...ADEUS ADEUS

Vivenciando um dos piores períodos de estiagem já registrados, o Vale do São Francisco onde fica situado o maior lago artificial do mundo, o reservatório de Sobradinho, no norte baiano, reúne, como em toda bacia hidrográfica, cenários de desolação com a crescente redução no volume de água. A formação de bancos de areia, o aumento das margens do rio, a diminuição dos peixes, problemas para o abastecimento humano e animal nas cidades, além do desafio para a irrigação das plantações são os problemas cada vez mais evidentes para todas as comunidades na região do Submédio São Francisco.

Nas cidades com alguma distância das margens do rio, os problemas com o abastecimento já são conhecidos desde o início do período seco, há cerca de 10 anos. Agora, além de acentuadas as dificuldades, as cidades ribeirinhas como Casa Nova e até a própria Sobradinho buscam novas alternativas para evitar colapsos no sistema que precisou ganhar novos metros de tubulações nos pontos de captação.

“O cenário é de devastação. Onde hoje podemos caminhar em solo firme, existia muita água, quase quatro metros de altura e a cena que nos deparamos agora é de muita tristeza. Este é o resultado não só da seca que nos assola há 10 anos, mas também da ausência de medidas continuas de preservação. Não temos mais tempo, precisamos revitalizar, ou em muito breve, não haverá mais rio”, afirmou o funcionário público Francisco Ivan de Aquino, membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Lago de Sobradinho.

Assim como em Sobradinho, a cidade de Casa Nova também vem adotando medidas para continuar garantindo o acesso à água e acabar com o racionamento, com o qual a comunidade vive há algum tempo. “A cada recuo do rio, temos que colocar novos metros de tubulação. Atualmente o município tem se preparando para garantir uma rede de distribuição eficiente”, afirmou Amilton do Nascimento Souza, funcionário do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE).

Operando com uma vazão de 550 m³/s, o reservatório de Sobradinho que recebe em torno de 310 m³/s comporta apenas 3,6% do seu volume útil, segundo o último relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), divulgado em 19 de outubro. De acordo com o Diretor de Operação da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), João Henrique de Araújo Franklin Neto, o reservatório de Sobradinho poderá atingir o seu volume morto no final do mês de novembro, segundo a simulação realizada pelo ONS. “Considerando que o período úmido da Bacia do São Francisco inicia no mês de novembro, espera-se que, se for o caso de operar o reservatório no seu volume morto, será por curto intervalo de tempo”.

Embora haja uma perspectiva esperançosa em relação ao período de chuva por parte da companhia, os ribeirinhos seguem preocupados se esse volume será suficiente para minimizar os efeitos atuais da seca. Pessoas como o pescador Manoel Eduardo Souza, um dos poucos a resistir na profissão relata as dificuldades em viver apenas da pesca. “É cada vez mais difícil viver da pesca. Todos os anos vemos o rio secar ainda mais, formando ilhas onde antes só existia água. Muitos pescadores se viram obrigados a deixar seu ofício porque não tem mais peixe”.

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) continua atuando para garantir do Governo Federal a execução imediata da revitalização, única forma viável para preservar e recuperar todo o leito do rio. “Precisamos sim discutir políticas públicas viáveis e que possam contribuir para a qualidade do rio e consequentemente para a quantidade de água e qualidade para atender os múltiplos usos”, concluiu o coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) Submédio São Francisco, Julianelli de Lima.

Fonte: CHBSF - Juciana Cavalcante
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JORGE DE ALTINHO A PALAVRA, O CANTO POÉTICO

O título de cidadão de Petrolina concedido a Luciano Peixinho, proporcionou a oportunidade de um grande encontro com o que existe de melhor na Música Universal Brasileira.

Encontramos Jorge Assis Assunção, Jorge de Altinho. Compositor de alma cheia e grandeza humana. É de Jorge de Altinho as primeiras composições gravadas pelo Trio Nordestino (Lindu, Cobrinha e Coroné), destaco "Fole de ouro", "Amor demais", "Forró quentão",  "A separação". 

Em seu início de carreira inspirou-se em Raul Seixas e Jackson do Pandeiro. O seu primeiro disco LP: "Jorge de Altinho - O príncipe do baião" é hoje considerado pelos pesquisadores e colecionadores uma das raridades no mercado dos especialistas e admiradores da vida e obra de Jorge de Altinho.

Ressalto sempre que Luiz Gonzaga foi pedra angular, referência maior do forró, mas o Rei do Baião, não trilhava sozinho. Havia por trás de si, uma constelação de compositores, músicos, além de profícuos conhecedores do seu trabalho, amigos talhados de sol, nascidos do barro vermelho, com almas tatuadas por xique-xiques e mandacarus. 

Jorge de Altinho é uma dessas estrelas! Tem sua luz propria até hoje. É Jorge inspirado no convivio dos sertões, conhecedor dos segredos e nuances da noite estrelada. Humilde e grande na sabedoria de seguir os ensinamentos e conselhos de Luiz Gonzaga e Dominguinhos. "Seu compromisso com o forró, Nordeste é grande".

Uma das mais belas interpretações de Jorge de Altinho é Tamanho de Paixão. Ali onde ouvimos Luiz Gonzaga e Dominguinhos fazendo a sanfona roncar feito trovão em dia de chuva.

No livro Forró de Cabo a Rabo, o jornalista e crítico musical Ricardo Anísio, aponta Jorge de Altinho, como uma das vozes mais bonitas do reduto forrozeiro. Timbre de voz de rara beleza. Compositor de maior sensibilidade, construtor da palavra poética.

Tenho dito: Viva a Música Brasileira. Viva Jorge de Altinho.
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A REDAÇÃO DO ENEM FOI FÁCIL PARA QUEM SABE SE COLOCAR NO LUGAR DO OUTRO

A estranheza com a redação do Enem começou logo após a divulgação do tema, antes mesmo do final da prova: como adolescentes de 17, 18 anos teriam repertório para escrever sobre “Os desafios para a formação educacional de surdos no Brasil?”. Isso é um tema técnico! Não existe muita literatura a respeito! E a pouca que existe é de difícil acesso!, bradaram os críticos.

Eu logo achei o tema ótimo porque pensei nos surdos apenas como a porta de entrada para uma discussão bem mais ampla. Eles poderiam ser “substituídos”, com todo o respeito às suas questões, claro, por ‘crianças com autismo’, ‘com síndrome de Down’, ‘jovens com deficiência’ e por aí vai.  Como garantir a “formação educacional” dos surdos e de todas essas crianças e adolescentes que são marginalizados e encarados como obstáculos ao aprendizado dos ditos estudantes “normais”? (Atenha-se às aspas, por favor, porque muitos psicólogos creem que todas crianças têm algum tipo de dificuldade de aprendizagem). Foi assim que eu encarei o tema e acredito que, no fundo, o que o Enem queria era que os jovens falassem sobre algo maior: a importância da inclusão e o que ganhamos quando todos sentamos juntos em frente ao mesmo quadro negro.

Se houve um estranhamento com o tema da redação por parte dos estudantes, dos pais e das escolas é porque alguém falhou nesse processo tão amplo chamado Educação, ‘tomou bomba’ na prova de inclusão. Você só não sabe escrever sobre algo quando nunca teve contato com a questão, quando nunca foi instigado a pensar sobre o assunto ou ninguém te contou ou mostrou que sim, um deficiente auditivo ou visual podem estudar em uma escola regular. Assim como uma criança autista. Cadeirante. Com síndrome de down. Se não há bom senso em recebê-los, eles contam com o apoio da lei. Pode pesquisar.

Os surdos, no caso, precisam de professores que não lhes deem as costas e que falem devagar para que possam ler seus lábios, os cadeirantes necessitam de escolas mais acessíveis, com rampas, alguns estudantes precisam de material adaptado, sei lá, tô aqui fazendo um brainstorm para uma redação que não tive o prazer de escrever. O que eu sei sobre o assunto? Talvez pouco, mas sei que a inclusão é possível e é benéfica a todos, porque vejo a escola do meu filho praticando-a todos os dias, sem hipocrisia e sem querer ganhar uma medalha por isso.

Claro que as escolas têm de fazer algumas adaptações para receber a todos, mas são elas que têm que se adequar ao aluno, e não o contrário. As crianças e adolescentes com alguma deficiência têm o direito de estar em uma sala de aula junto com os colegas da mesma faixa etária e que não tenham deficiência e vice-versa. Juntos, vão aprender as matérias do curriculum básico, mas vão aprender também a conviver. A se respeitar. E tirar o que há de bom e de ruim dessa experiência. Vai ser fácil? Às vezes sim, às vezes não. Assim como a vida.

O Enem tem percebido, ainda bem, que pouco importa se as orações são sindéticas ou assindéticas, que troço difícil, nem me lembro qual é uma, qual é outra. Importa mesmo é saber se o estudante sabe conviver e respeitar as diferenças, a diversidade, os direitos humanos, mesmo com os cães ladrando por aí que isso “é coisa de comunista”. Não é não. Isso é coisa de quem sabe tirar dez na vida e, de quebra, na redação do Enem.

FONTE: RITA LISAUSKAS
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RADIALISTA GERALDO FREIRE LANÇA LIVRO: O QUE EU DISSE E O QUE ME DISSERAM

O radialista Geraldo Freire, que há mais de 30 anos é líder de audiência no Recife e região metropolitana, lança neste sábado (11) no hotel Nobile Suites (antigo Quality) em Petrolina-PE, o livro ‘O que eu disse e o que me disseram’. Durante o evento, que ocorre das 9h ao meio dia, o comunicador vai autografar a obra que conta parte significativa da sua história e ajuda a entender a trajetória recente da radiofonia pernambucana.

O livro, que tem prefácio de Xico Sá, depoimentos de Ivanildo Vila Nova, Moacir Franco e Jessier Quirino, contou com a ajuda do professor Eugênio Jerônimo e chega ao Vale do São Francisco depois de concorridos lançamentos em Recife e Caruaru. A obra levou 10 anos para ser concluída e relata histórias curiosas e interessantes envolvendo personagens, a exemplo de Miguel Arraes e Dom Helder. Tudo com muita irreverência que é a marca registrada deste cearense de Caririaçu que já contabiliza 40 anos de jornalismo, 25 destes na Rádio Jornal.

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ENCONTRO NACIONAL DOS GONZAGUEANOS 2017 ACONTECERÁ EM CARUARU NO SÁBADO (11)

Caruaru, no Agreste Pernambuco, possui o título de Capital do Forró. Caruaru possui o Espaço Cultural Asa Branca do Agreste, considerada a verdadeira Academia Gonzagueana. O espaço foi idealizado pelo diretor, pesquisador e fundador Luiz Ferreira. Neste local todo mês de novembro acontece o grande encontro com os estudiosos e pesquisadores, especialistas da vida e obra de Luiz Gonzaga, os gonzagueanos, como também são conhecidos.

Este ano o evento acontecerá no dia 11 de novembro no Espaço Cultural Asa Branca, localizado no bairro Kennedy. Luiz Ferreira promove o encontro para homenagear compositores, cantores e personagens ligados a vida e obra de Luiz Gonzaga. Todo ano é entregue o troféu ‘Luiz Gonzaga – Orgulho de Caruaru’, criado em 2012.

O Grande Encontro dos Gonzagueanos de Caruaru tem o objetivo de manter viva a memória de Luiz Gonzaga. O grupo de amigos se reúne todos os anos e trocam idéias, experiências e falam sobre a vida e obra do Rei do Baião.

O Encontro dos Gonzagueanos é realizando anualmente desde 2012, sempre na segunda semana de Novembro sendo coordenado pelo diretor do Espaço Cultural e promovida pelo Fã Clube de Gonzagão do Nordeste. Assim como tem o apoio do Lions Vila Kennedy.

Este ano já confirmaram presença representações Gonzagueanas dos 9 estados do Nordeste. são Jornalistas, Escritores, Historiadores e Pesquisadores, palestrando e debatendo temas, logicamente, ligados e relacionados aos livros voltados a Historia da música brasileira a partir de Luiz Gonzaga. 

No dia 11 de Novembro os escolhidos para receber o Troféu Luiz Gonzaga Orgulho de Caruaru são:
01° Cylene Araújo – Cantora, escritora e Apresentadora – Recife/PE
02° Dorgival Melo – Empresário e Diretor do Lions – Caruaru/PE
03° General Juraszek – Ex-Comandante Militar do Nordeste e residente em Curitiba/PR  
04° Ivan Ferraz – Cantor, Compositor e Apresentador – Recife/PE
05° Jota Sobrinho – Farmacêutico Bioquímico, Cantor, Compositor e Radialista – Feira /BA
06° Juan Marques – Farmacêutico Bioquímico, Historiador e Radialista  – Cedro/CE
07° Juarez Majó – Cantor e Vocalista dos Caçulas do Baião – Tacaratú/PE
08° Maciel Muniz  - Jornalista e escritor – Divinópolis/MG
09° Pedro Sampaio – Poeta e Radialista – Fortaleza/CE
10° Reginaldo Silva – Museólogo – Juazeiro do Norte/CE
11° Romulo Nóbrega – Escritor, Pesquisador e Historiador – Campina Grande/PB
12° Roberto Magalhães – Ex-Governador de Pernambuco – Recife/PE
13° Valmir Silva – Cantor e Compositor – Caruaru/PE

Até o ultimo evento realizado em 2016 foram entregues o troféu a 35 personagens, entre os quais o primeiro a receber em  2012  foi João da Cruz  tocador de 8 baixos com  92 anos, tio do poeta Luiz Ferreira, único tocador deste gênero na família. Entre os primeiros também foi o compositor caruaruense Onildo Almeida, reconhecido aqui como o protagonista nesta referencia Gonzagueana ligada a Historia de caruaru. 
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SABEDORIA ANTIGA DAS BENZEDEIRAS UNE ORAÇÕES, FÉ E PLANTAS MEDICINAIS

Plantas medicinais, orações e fé. Foi o que o Globo  Rural mostrou na reportagem sobre benzedeiras e benzedores, feita no Paraná. Na casa onde as plantas medicinais se espalham até pela calçada, vive a benzedeira Agda de Andrade Cavalheiro. E de planta ela entende bem. “De planta eu entendo de tudo”, conta.

Com tanto conhecimento, Agda é famosa na cidade de Rebouças, no Paraná. Recebe sempre a visita de gente atrás de cura. Uma hora procuram plantas medicinais outra hora é um benzimento. Com um raminho de arruda e o terço na mão, Agda vai benzendo quem a procura.

Quem explica sua origem é o antropólogo João Baptista Borges Pereira.  “No Brasil está desde o Descobrimento porque é uma herança do catolicismo português. Em Portugal, as mulheres ou são benzedoras ou são demoníacas. Pode fazer o bem ou o mal. Quanto mais a mulher envelhece, ela vai se tornando feiticeira e indesejável. Mas no Brasil, a benzedeira passa elementos sincréticos, misturados, com influências indígenas e africanas, ligada às influências portuguesas. Elas tinham uma preocupação grande de fazer o bem. As benzedeiras fundamentalmente são pessoas do bem”.

Não é qualquer um que sabe as plantas certas para cada problema. E, dependendo da quantidade, a mesma erva que pode curar, também pode fazer mal.

Oitenta e sete anos e a benzedeira Selmira Killer ainda cuida sozinha do seu quintal. Assim fica próxima do seu passado, de trabalhadora rural desde os dez anos de idade. No centro dos canteiros planta hortaliças, na beirada, as ervas medicinais. 

Selmira fala sobre os santos que estão presentes em seu altar. “São Bento, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora das Graças, Menino Jesus e o monge João Maria”.
Ela conta que a fé era maior antigamente. “Antigamente era porque não tinha médico nada. Só Deus. Só Deus e fé nos santos nos protetores deles. Só remédio de horta, de mato”.
Dar continuidade a essa fé é uma preocupação para benzedores mais antigos, mas não para Selmira. “Os que estão vindo no mundo vão precisar e tem que ter gente que ajude”.

O Neurocientista, Sérgio Felipe de Oliveira, especialista em medicina e espiritualidade, fala sobre o assunto. “Hoje a Organização Mundial da Saúde (OMS) já admite a questão espiritual e existe muito estudo sobre espiritualidade na prática clínica. Quando a medicina oficial, o SUS (Sistema Único de Saúde), resolve dialogar com as benzedeiras, encontra-se um ponto que permite o integrativo e esse ponto beneficia o paciente. A força da fé é tremenda, mas precisa haver afeto e amor. Uma relação fria não abre caminhos. Uma relação de afeto e amor soluciona milhões de problemas”.

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NETO TINTAS FOI PARA O SERTÃO DA ETERNIDADE COLORIR O CÉU E ESTRELAS

Desafinados cantávamos. Cantar para viver a arte de ser Feliz. Cantar para afirmar que Luiz Gonzaga vive! E na curva da estrada eu escutava sempre o homem/menino/criança. "Poeta Amigo Jornalista Vitalino estamos chegando em Exu. Aumenta o som":
Meu Araripe Meu relicário. Eu vim aqui rever meu pé de serra beijar a minha terra festejar seu centenário/. Sejam bem vindos os filhos de Januário/Pro Araripe festejar...Meu Araripe. Meu relicário...

E hoje (15 de outubro) na madrugada, "Eu vi a Morte, a moça Caetana, com o Manto negro, rubro e amarelo. Vi o inocente olhar, puro e perverso, e os dentes de Coral da desumana...vi asas deslumbrantes que, rufiando nas pedras do Sertão, pairavam sobre Urtigas causticantes, caules de prata, espinhos estrelados e os cachos do meu sangue iluminado". 

Eu vi. Juro que vi a Moça Caetana, a morte levando Anésio Lino de Souza Neto Tintas...e ele foi com o sorriso e braços abertos. E partiu... nas asas do Pensamento uma lágrima. Juazeiro/Petrolina, Garanhuns, Barbalha-Ceará, Juazeiro do Padim Ciço, Serrita-Missa do Vaqueiro, Feira de Caruaru, Paraíba-Campina Grande, rua Indio Cariris são cidades sonhos que choram tua saudade. E o Riacho do Navio onde nós mais Italo/Abilio/Icaro, Gonzagueanos a brincar de atravessar pontes e cantar...e o nosso relicário-Fazenda Araripe centenário festejar. E a hora mágica quando na Igreja do Araripe às 18horas rezavamos Ave Maria.

Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum...Perdoe-me Pai Criador. Morrer tem seu sentido...as escrituras sagradas afirmam que sim: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. 

É assim que Penso: Anésio Lino de Souza-Neto Tintas fez a grande viagem. Foi colorir os céus do Sertão da Eternidade e em algum lugar vai garantir mais Felicidades e sorrisos na vida dos amigos...tornar mais belo a razão de viver e de haver estrelas...
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IGREJA DO ROSÁRIO: TOQUEI-LHE AS PAREDES E OUVI O ECO DAS CANÇÕES E SOLUÇO DE QUEM A CONSTRUIU

A Igreja do Rosário, levantada e acabada pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, na cidade de Sousa, no alto sertão paraibano, foi temperada com o manancial de suor vertido por escravos e pelo banzo incomensurável de quem foi sequestrado dos seus.

 Enquanto a portentosa Matriz se eleva como um pontiagudo mausoléu, ela se encolhe solidária e permanece em contínuo aconchego. A igreja dos mandatários sentiu a pua do tempo minar-lhe as rédeas e se viu, da noite para o dia, sem suas duas torres. A Igreja do Rosário está lá: inabalável e linda. No seu pátio brincam as crianças, ao largo da História. Elas ainda não sabem das mãos feridas, do sangue exposto, dos corpos chicoteados, dos pés em carne viva ou dos sonhos violados.

Os construtores da igrejinha refugiavam-se na excelência da construção, no soerguimento de um marco, testemunha serena de sua resistência. Toquei-lhe as paredes com minhas mãos, encostei o ouvido em seu campanário: senti e ouvi o eco das canções de trabalho e o soluço noturno de quem a construiu. Salve, Rainha, Mãe de Misericórdia, Vida, Doçura e Esperança Nossa. 

Fonte: Aderaldo Luciano-professor-doutor em Ciência da Literatura
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ELBA RAMALHO VAI PARTICIPAR DAS FESTIVIDADES DOS 105 ANOS DE LUIZ GONZAGA EM EXU

Elba Ramalho no próximo dia 16 de dezembro vai cantar em Exu, Pernambuco. A apresentação está marcado para às 22horas.

A data do Aniversário de  Luiz Gonzaga é 13 de dezembro e três dias depois a paraibana/universal vai vestir uma espécie de manto, caminhar cantando, quase declamando os baiões, forrós de Luiz Gonzaga e Dominguinhos.

Em Exu Elba vai soltar a voz e cantar contar a história de quem sai do sertão, levando consigo somente a cara e a coragem, e viaja no pau de arara em busca de melhor destino. “Eu penei, mas aqui cheguei”. Esse é o caminho percorrido por muitos e muitos nordestinos, brasileiros.

Elba Ramalho tem estreita intimidade com a obra de Gonzagão - e tem, como poucas cantoras brasileiras, pleno domínio sobre ela. “Eu também nasci no sertão, numa cidade bem próxima à de Luiz Gonzaga (ele é de Exu, Pernambuco, e ela, de Conceição, Paraíba). Também fiz todo o percurso que Gonzaga fez, atravessei toda aquela estrada, vivenciei aquela seca, eu nasci embaixo do sol calcinante, caminhei até o mar atravessando rios cheios, rios secos, vi pássaros cegos, eu vivi tudo aquilo na minha infância. Minha história se assemelha muito à de Gonzaga, me sento muito feliz”, descreve ela.

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FLÁVIO BAIÃO SÍNTESE DA VALORIZAÇÃO DO FORRÓ GONZAGUEANO

Nascido em Juazeiro no ano de 1968, portanto, caminhando para meio século de vida, Flávio Marcelo Mendes da Silva é a síntese de um seguidor do forró feito por Luiz Gonzaga e Dominguinhos. Ele é fiel ao valorizar o nome artístico que ganhou, Flávio Baião. Inspirado no tradicional chapéu de couro e sua simplicidade de ribeirinho nascido nas margens do Rio São Francisco, Flávio é baião para a nação forrozeira Brasil afora. Já gravou cinco Cds e 1 DVD. 

No chiado da sanfona, na batida da zabumba e no zunido do triângulo, esse músico segue difundido os autênticos ritmos nordestinos. Coco, baião, xote xaxado e arrasta- pé são as palavras de ordem desse grande cantor. Da sua voz ecoa melodias que revelam o jeito de ser e de viver do seu povo, suas músicas são marcadas pelo calor festivo presente no sertanejo; sendo o sol o maior dos holofotes a iluminar esse artista que, de tão apaixonado pela sanfona, adotou por sobrenome Baião.

Flávio conta que desde criança foi embalado pelas canções de Luiz Gonzaga, no vai e vem das quadrilhas juninas. "Minha mãe, dona Belinha é a responsável por tudo que faço em nome da cultura". Em 2015, o sanfoneiro, cantor e compositor Flávio Baião recebeu da Câmara de Vereadores de Juazeiro, a Comenda Doutor Pedro Borges Viana. 

A Comenda é uma forma de agradecer e homenagear pessoas que prestam relevantes serviços a comunidade. Flávio Baião atualmente além de inúmeros shows beneficentes é responsável por uma Escola de Música, que atende crianças e adolescentes no aprendizado da sanfona e outros instrumentos. Flávio Baião no ano de 2013 gravou o seu primeiro DVD-Feiras do Nordeste. 


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TRADIÇÃO E FÉ MARCAM A MISSA DOS CHAPÉUS EM JUAZEIRO DO CEARÁ

No dia em que a Igreja Católica celebrou o dia de todos os santos, em Juazeiro do Norte, sul do Ceará, o dia que é reconhecido por lei como o Dia do Romeiro. Na celebração tradicional na Basílica de Nossa Senhora das Dores, os romeiros participaram da missa dos chapéus. É como os devotos começam a se despedir da visita ao túmulo onde está enterrado o Padre Cícero. A romaria de finados é maior do ano no Ceará e uma das maiores do país.


Na última noite da Romaria da Esperança, os padres celebraram missa na basílica de Nossa Senhora das Dores, na intenção dos milhões de devotos que durante todo o ano vão de longe pagar promessas a Nossa Senhora das Dores e a Padre Cícero.


A primeira romaria de finados aconteceu em novembro de 1934, três meses após a morte de Padre Cícero. De acordo com a Diocese do Crato, Aromaria de finados é verdadeiramente a romaria em homenagem a Padre Cícero. Nasceu após a morte de padre cícero e está cada vez mais grandiosa, pela presença dos romeiros e pelo crescimento da organização. 
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Xaxado mostra tradição e resistência em encontro em Serra Talhada

O pau que batia o feijão para retirar da vagem o caroço, após a colheita, fez surgir o ritmo. Da prática (xaxar), veio o nome. E com o tempo, fez-se dança. O xaxado possui hoje um festival só seu, que já está em sua 13ª edição. Ele é realizado em Pernambuco em Serra Talhada, Sertão do Pajeú - cidade que já foi conhecida como Vila Bella, e local no qual o bando de Lampião teria difundido o ritmo.

Essas são algumas das versões históricas, mas fato é que o 13º Encontro Nordestino de Xaxado começa hoje e segue até o próximo domingo, em múltiplos polos da cidade sertaneja.

Num grupo que era formado só por homens, vivendo entre fugas e combates, é compreensível saber que mulheres não dançassem o xaxado. As espingardas, fiéis companheiras dos cangaceiros, faziam as vezes de damas, seguindo ao lado dos homens, durante o arrastar de passos.

A exclusão feminina permanece apenas nos nomes dos grupos mais antigos, como Cabras de Lampião e Herdeiros do Xaxado. Apenas. Pois quem preside esse bando todo é, sim senhora, uma mulher. Cleonice Maria dirige e coreografa e espetáculo, que é o mesmo desde 1995.

Encontro Nordestino de Xaxado seleciona mais de 20 grupos para sua 13ª edição
Peça é encenada em Serra Talhada em comemoração aos 120 anos de Lampião

“O espetáculo dos Cabras de Lampião nunca foi mudado. Porém, periodicamente, apresentamos o maior espetáculo ao ar livre dos sertões brasileiro, 'O Massacre de Angico - a Morte de Lampião'”, afirma. 

“Como em qualquer outra montagem cênica, os dançarinos sugerem e ajudam na criação das coreografias. Na verdade, as coreografias estão prontas há vinte e três anos. Apenas alguns retoques são dados quando aparece uma ideia interessante”, complementa. No que se refere ao figurino, a mudança é recorrente, sem perder a originalidade e autenticidade de como os cangaceiros se vestiam.

O evento conta ainda com oficinas de dança, palestras sobre patrimônio, feira de artesanato da região, mostra de comedoria sertaneja, apresentações musicais, passeio turístico ecológico ao Sítio Passagem das Pedras (onde nasceu Lampião) e à Fazenda Pedreira (do primeiro inimigo de Lampião, Zé Saturnino) e o Baile Perfumado, uma festa no Clube da Fazenda São Miguel, com o forrozeiro Assisão.

O encontro é um grande divulgador da cultura nordestina e conta com incentivo do Funcultura/Fundarpe, Secretaria de Cultura e Governo do Estado.
Mas, em Serra Talhada, o xaxado não é tema só uma vez ao ano.

“Costumo dizer que o xaxado começa cedo em Serra Talhada, a nossa cultura por ele já vem enraizada em nosso povo. Temos grupos formados apenas por crianças, os Herdeiros do Xaxado. Frequentemente, os pais procuram o Museu do Cangaço (nossa sede) para matricular as crianças que ficam aperreando em casa, querendo dançar xaxado. As aulas são semanais e gratuitas”, revela Cleonice.

Fonte: Fundação Cabras de Lampião-Diário de Pernambuco

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MENOS CISTERNAS: GOVERNO REDUZ ORÇAMENTO DE PROGRAMA CONTRA SECA NAS ZONAS RURAIS

Um dos principais e mais reconhecidos programas federais contra seca no semiárido sofre com cortes de verbas e tem uma previsão de redução de 95% no orçamento do próximo ano, o que ameaça inviabilizar a construção de cisternas nas zonas rurais do Nordeste. A fila de espera por uma cisterna de primeira água destinada para consumo doméstico, segundo a ASA (Articulação do Semiárido, entidade que reúne 3.000 organizações sociais dos nove Estados da região semiárida), chega a 350 mil damílias.

Apesar dos avanços, do reconhecimento internacional (o programa foi premiado em setembro, na China) e da necessidade de mais cisternas, segundo a PLOA (Projeto de Lei Orçamentária Anual) enviada pelo governo federal ao Congresso Nacional, a previsão para 2018 é de que haja investimento de R$ 20 milhões, o que significa um corte de 95% em relação ao orçamento deste ano ano --quando a verba prevista foi de R$ 248 milhões.
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Durval Muniz, professor em tempos de ser encantador de palavras

Jornalista Ney Vital e Professor Pós-dourado Durval Muniz
Durval Muniz de Albuquerque Júnior é de profissão historiador, o que não o impede de ser também um 'encantador' de palavras. 

Como Michelet, Durval Muniz em vez de simplesmente redigir, escreve. Escrita audaciosa, provocativa, criativa e elegante, não diria, contudo, que ele escreva com uma "linguagem de em dia-de-semana", como suplica um 'famigerado' personagem de Guimarães Rosa. Mas que ele nos conduz para o terreno 'nebuloso' e 'temerário' da arte literária, disso, não tenho dúvida. Cuidado, historiadores! Durval Muniz, tal como Foucault, é um desses 'sujeitos' perturbadores da boa ordem científica, desses que se colocam entre o sono dogmático e a vigília epistemológica 'só' para provocar a polêmica.

Vivemos um momento de desidentificação com a memória nacional e regional. O livro de Durval Muniz de Albuquerque Júnior, “A Invenção do Nordeste e outras artes” (Cortez Editora, 2006) é uma boa prova disso. O trabalho de pesquisa para a realização do doutorado em História na Unicamp, defendido em 1994 apresenta o surgimento de um recorte espacial, de um lugar imaginário e real no mapa do Brasil, que todos nós conhecemos profundamente, não importa de que maneira, mas que nunca pudemos imaginar com uma existência tão recente. 

E falar do Nordeste é inventariar os muitos estereótipos e mitos que emergiram com o próprio espaço físico reconhecido no mapa composto por alguns estados e cidades. É mobilizar todo o universo de imagens negativas e positivas, socialmente reconhecidas e consagradas, que criaram a própria idéia de Nordeste.

Um trabalho de pesquisa aprofundado que desconstrói foucaltianamente os discursos que deram visibilidade e que tornaram dizível a região nordestina. O que o livro interroga não é apenas por que o Nordeste e o nordestino são discriminados, marginalizados e estereotipados pela produção cultural do país e pelos habitantes de outras áreas, mas ele investiga por que há quase 90 anos dizemos que somos discriminados com tanta seriedade e indignação. Como, por meio de nossas práticas discursivas, reproduzimos um dispositivo de poder que nos reserva o lugar de pedintes lamurientos.

“Nós, os nordestinos, costumamos nos colocar como os constantemente derrotados, como o outro lado do poder do Sul, que nos oprime, discrimina e explora. Ora, não existe esta exterioridade às relações de poder que circulam no país, porque nós também estamos no poder, por isso devemos suspeitar que somos agentes de nossa própria discriminação, opressão ou exploração. Elas não são impostas de fora, elas passam por nós.

Longe de sermos seu outro lado, ponto de barragem, somos ponto de apoio, de flexão. A resistência que podemos exercer é dentro desta própria rede de poder, não fora dela, com seu desabamento completo”, escreveu no prefácio.

“O Nordeste é tomado, neste texto, como invenção, pela repetição regular de determinados enunciados, que são tidos como definidores de caráter da região e de seu povo, que falam de sua verdade mais interior”. As fontes utilizadas foram desde o discurso acadêmicos, passando pela publicação em jornais de artigos ligados ao campo cultural, à produção literária e poética de romanistas e poetas nordestinos ou não, até músicas, filmes, peças teatrais, que tomaram o Nordeste por tema e o constituíram como objeto de conhecimento e de arte.

Divididos em três capítulos, o primeiro, Geografia em Ruínas acompanha as transformações históricas que possibilitaram a emergência da idéia de Nordeste, desde a emergência do dispositivo das nacionalidades, passando por uma mudança na sensibilidade social em relação ao espaço, à mudança da relação entre olhar e espaço trazido pela modernidade e pela sociabilidade burguesa, urbana e de massas.

O segundo capítulo, Espaços da Saudade, aborda esta invenção regional, o surgimento do Nordeste como um novo recorte espacial no país, rompendo com a antiga dualidade Norte/Sul. A seca, o cangaço. O messianismo, as lutas de parentela pelo controle dos Estados, são temas que fundarão a própria idéia de Nordeste, uma área de poder que começa a ser demarcada, com fronteiras que servirão de trincheiras para a defesa dos privilégios ameaçados.

No terceiro capítulo, Territórios da Revolta, é abordado uma série de reelaboração da idéia de Nordeste, feitas por autores e artistas ligados ao discurso de esquerda. Nordeste gestado, a partir dos anos 30, por meio de uma operação de inversão das imagens e enunciados consagrados pela leitura conservadora e tradicionalista que dera origem à região. Obras como as de Jorge Amado, Graciliano Ramos, Portinari, João Cabral de Melo Neto produzem Nordestes vistos pelo avesso, Nordeste como região da miséria e da injustiça social. Estes Nordestes, construídos pelo avesso, ficam presos, no entanto, aos mesmos temas, imagens e enunciados consagrados e cristalizados pelos discursos tradicionalistas.
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