O HOMEM CHEGA JÁ DESFAZ A NATUREZA...ADEUS REMANSO, CASA NOVA, SENTO SÉ, SOBRADINHO, PILÃO ARCADO

"O homem chega, já desfaz a natureza tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar/ O sertão vai virar mar dá no coração o medo que algum dia o mar também vire sertão/ O Rio São Francisco, lá pra cima da Bahia diz que dia menos dia vai subir bem devagar e passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que o sertão ia alagar/ Vai ter barragem no salto do Sobradinho e o povo vai-se embora como medo de se afogar...Adeus Remanso, Sento Sé, Casa Nova, Sobradinho, Pilão Arcado"...

Além de trabalhar no Sistema de Comunicação na redeGn, jornalista, atualmente sou aluno do Curso em Agroecologia, apresentador e produtor do Programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga e seus Amigos, todos os domingos, na Rádio Cidade. Sou especialista em Ensino de Comunicação Social e História da Cultura. 

Gosto mesmo é de contar Histórias. Sentimentos mais humanos. Sem elas, não há uma boa canção. Todos os bons cantores e compositores deveriam contar os bastidores de suas canções. Estive em Sobradinho, Bahia. Jornalista que sou, ouvi muito mais que o lado físico sobre o uso das águas do Rio São Francisco, das pedras e ferros que construíram a Barragem da Hidroelétrica, Chesf. Lembrei das famílias afetadas e obrigadas, forçadas a deixar o seu pedaço de terra.

Neste turbilhão aprendi que sou um eterno aprendiz. E eu juro que vi, a natureza, sem mágoas ou rancor, revelando o impacto sobre o meio ambiente. Ouvi através das nuvens e das águas evaporando o som das sanfonas, pífanos e violões, o lamento, quase choro, sobre a perda da identidade, referência cultural e histórica. 

Olhando o maior lago artificial da América Latina, gritei a gratidão a Sá e Guarabyra e não sabia o que falar para as árvores e o vento que soprava, aos pássaros e cardumes de peixes.

Devo dizer que Sá e Guarabyra, são talentosos e justos, partindo do sertão de sãofranciscano de Cinamomo e Tabuleiro às peripécias nova-iorquinas de Ziriguidum Tchan;  seguindo por aventuras de estrada, como em Meu Lar É Onde Estão Meus Sapatos, aos casos de amor vividos em Nuvens D Água, Dona, Espanhola e hinos ecológicos como Paraíso Agora.

A música “Sobradinho” provocou a questão ecológica na música brasileira. Na época eles ergueram a voz contra a injustiça e olhos viram o que poucos enxergavam. São dezenas de trilhas de novelas, teses de mestrado, monografias e documentários nas redes sociais, mais de quatrocentas músicas, gravadas por eles e por cantores de três gerações da música brasileira.

Conta-se que no ano de 1977, quando Sá e Guarabyra faziam um percurso de carro pelo sertão do Vale do São Francisco, nas margens do Rio São Francisco em direção à cidade de Bom Jesus da Lapa, onde o pai, de Guarabyra vivia, caminhavam pelas ruas quando ouviram uma prosa estranha dita por mais de duas pessoas. Caminhões gigantes, como nunca vistos por ali, andavam levantando as terras de uma região vizinha.

Então seguiram para lá e viram o que jamais imaginavam. Não só os caminhões, mas também muitos homens trabalhavam para construir a represa gigante de Sobradinho, um lago 600 vezes maior do que a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, construído com águas represadas do Rio São Francisco para fazer funcionar a usina hidrelétrica de Sobradinho. Ninguém sabia disso naquela tarde em que Sá e Guarabyra tiveram a visão do sertão virando mar. Sob regime ditatorial, os jornais nada noticiavam e o projeto era tocado às escuras.

Seis cidades seriam inundadas, centenas de famílias seriam removidas e o impacto ambiental se anunciava.  

As cobranças previstas e as inimagináveis logo chegariam, como o aumento nos índices de degradação ambiental, e destruição, além do impacto na mente humana. Quantos amores deixaram de existir?

Sá & Guarabyra fizeram a primeira reportagem, poesia denunciando em música o que o mundo saberia em breve. “Adeus, Remanso, Casa Nova, Sento-Sé / Adeus, Pilão Arcado, vem o rio te engolir / Debaixo de água lá se vai a vida inteira / Por cima da cachoeira o gaiola vai, vai subir / Vai ter barragem no salto do Sobradinho / e o povo vai-se embora com medo de se afogar / O sertão vai virar mar / dá no coração / o medo que algum dia o mar também vire sertão…” 

Foi a partir do sucesso da música que o Governo Militar então começou a fazer propagandas para reverter a imagem e dizer que a iniciativa faria bem ao País.

Sá e Guarabyra. No batismo Luiz Carlos Pereira de Sá é carioca. O baiano da dupla é Guttemberg Nery Guarabyra. Os dois tiveram suas músicas gravadas na voz de Biquini Cavadão, Elis Regina, Roupa Nova, Trio Nordestino, Gal Costa entre outros grandes artistas.

Assim ouvi e aqui reproduzo. (Texto reportagem Ney Vital - Jornalista)

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FOTOGRAFIA REVELA A PRIMEIRA FESTA DA SAUDADE COM A PRESENÇA DE LUIZ GONZAGA EM JUAZEIRO, BAHIA

Fotografias revelam histórias. Luiz Gonzaga fez a viagem para o "Sertão da Eternidade" no dia 02 de agosto de 1989. Cândido Alves Neto, no dia 26 maio de 1999 e José Antônio de Souza, 03 de agosto de 2003. Eles fazem parte desta foto clicada no ano de 1985, durante a primeira Festa da Saudade na AABB, Juazeiro Bahia.

Quantas histórias guardam essa foto registrada junto ao rei do Baião, Luiz Gonzaga, que no dia 02 de agosto vai completar 33 anos de morte.

Hildene Nunes Sento Sé de Souza, atualmente está com 78 anos. Na época esposa de José Antônio de Souza, apelidado de Jesus. A educadora Hildene hoje é aposentada. Foi professora e diretora da Escola Estadual Helena Celestino Magalhães. Escritora, inquieta, ela escreveu dois livros,  Sento Sé Uma família, uma cidade, parte 1 e 2.

Em sua casa ela guarda a história através de fotografias. Nascida em 02 de março de 1944, Hildene revela que a foto é um momento de muita alegria. "Todos queriam ser fotografados ao lado de Luiz Gonzaga, Rei do Baião. Antônio gostava muito das músicas de Luiz Gonzaga, aboios, no livro registro os versos de Vavá Machado e Marcolino, dois grandes aboiadores que fizeram homenagem para nós", diz Hildene.

Detalhe: dona Hildene foi fotografada tocando sanfona, instrumento que ela disse ter aprendido de ouvido.

O tempo e o espaço entre o ano da foto da AABB, a Festa da Saudade e este ano de 2022 marcam 37 anos. Na época Hilda Sento Sé de Souza

Carvalho, filha de Hidene e José Antonio, tinha 17 anos. "É uma recordação inesquecível. Nossa família sempre gostou de cultura e todas as fotos que mamãe guarda até hoje revela a história e provoca a certeza do futuro que será contado para as novas gerações e também pesquisadores", diz Hilda.

A jornalista Clarice Alves, 42 anos, é filha de Cândido Alves Neto, apelidado de "Pavio". Em vida Cândido Alves Neto também atuou como radialista. Foi apresentador do Programa Forró do Varandão, com a tradicional vinheta, o Pavio do Bigodão.

Clarice conta que foi pela expressividade, comunicação dinâmica do pai, ela optou pela área de jornalismo.

"Papai era muito dinâmico. Dançava, proseava muito. Adolescente, Cresci ouvindo os discos, lps da época na voz de Luiz Gonzaga. Minha memória afetiva reside neste tempo. Ouvir rádio na época de pilha. A nossa educação musical vem dele sim".

A REDEGN também fez contato com Josesam Pereira de Souza. Hoje ele tem 78 anos. "Sinto muita emoção, Guarda outras fotos até hoje e agredeço a Grande Arquiteto do Universo ter vivido este momento. Na época todos se juntaram ali para a fotografia e hoje estamos contando a história".

"Zezão", como é conhecido, mora no Distrito de Pinhões. "Lembro que pedi na festa para o Rei do Baião tocar, a música Numa Sala de Reboco e ele pediu para o sanfoneiro Mauro, fazer a introdução, o sobrinho dele, Joquinha Gonzaga também estava nesta apresentação".

A fotografia é a possibilidade de revisitar um passado feliz é sempre uma experiência prazerosa.

"A fotografia tem esse poder. Ao olhar para uma foto, riquezas de detalhes são observadas e a cena é reconstruída", diz o cantor e compositor, sanfoneiro Targino Gondim, ressaltando a importância desta reportagem, visto que em tempos de recursos digitais,facilidades de armazenamento estão ao alcance de um clique. Na internet, os tempos digitais oferecem um acervo de milhares de fotos com uma riqueza de detalhes impressionante, mas em 1985, não havia essa facilidade. Por isto o valor histórico desta fotografia", finalizou Targino.

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DE OLHO NA SAÚDE, BRASILEIRO PROCURA MAIS POR PRODUTOS ORGÂNICOS

"O grande legado que a pandemia deixou é que o orgânico cresce na mente das pessoas", explica Cobi Cruz, diretor executivo da Organis — Associação de Promoção dos Orgânicos. O consumo de produtos do tipo passou de 19% para 31%, entre os anos de 2019 e 2021, de acordo com a pesquisa "Panorama do consumo de orgânicos no Brasil 2021", realizada pela entidade, em parceria com a consultoria Brain e com a iniciativa UnirOrgânicos.

O estudo mostra que os itens orgânicos mais consumidos são os hortifrútis (75%), seguidos por grãos (12%), cereais (10%), açúcar (8%) e biscoitos (6%). Além disso, a saúde é citada por 47% dos entrevistados como o principal motivo para a compra de produtos do gênero, enquanto outros 13% dizem que o mais importante é serem livres de agrotóxicos. Para 24%, esses produtos têm melhor qualidade.

Os dados foram levantados entre produtores, varejistas e canais on-line, que renderam 987 entrevistas em todo o país, entre setembro e outubro de 2021. "O orgânico começou a aparecer, não isoladamente nas pesquisas de interesse do consumidor, muitas vezes associados a produtos frescos, por exemplo. Uma hora ele vai aparecer sozinho porque os consumidores querem ver orgânicos na prateleira", avalia Orbi.

Entretanto, a comercialização enfrenta duas barreiras, que Orbi elenca como principais. "A primeira delas é a falta de entendimento sobre o que é um produto orgânico. Por efeito, outro problema é a falta de valorização desse produto pelo não entendimento e a disposição de pagar seu preço", explica.

Assim, o consumo no Brasil está longe de alcançar um limite. "O mercado orgânico tem muito a crescer sem precisar aumentar a área de produção. O Brasil está muito longe de saturar esse mercado. O orgânico é mais do que um benefício individual, é um bem coletivo e ambiental", diz.

Outra informação levantada pela pesquisa foi quanto ao local mais acessível para a compra de orgânicos. Supermercados são os principais canais de vendas para 48% dos entrevistados, seguidos pelas feiras (47%). De acordo com Orbi, atualmente, esse é um comportamento também em fase de modernização. "Na época eram produtores que vinham do interior para vender nas feiras. Hoje, as prateleiras são também virtuais", diz.

Proprietário do mercado on-line de produtos orgânicos Pomar Brasília, que entrega por meio de delivery, o advogado Fábio Bittencourt diz que o cenário continua estimulante, mas que o fim da pandemia esfriou a demanda por "cestas básicas de orgânicos", que são entregues duas vezes por semana. Os kits custam entre R$ 120 e R$ 180, a depender dos itens escolhidos pelo cliente.

"Na pandemia entregamos entre 80 e 90 cestas semanais, mas agora chegamos a, no máximo, 45, com 12 itens, no mínimo. São até 18 produtos nela. Por essa razão, também diminuí o número de funcionários, de quatro para duas pessoas", explica Fábio, que trabalha duas vezes por semana no Pomar, sem abandonar a advocacia.

A consultora de relacionamento, Laís Martins dos Santos, é uma das que resistiu e se mantém consumindo alimentos orgânicos, comprando uma cesta básica com valores entre R$ 140 e R$ 180 por semana. "Já há algum tempo tenho preferido comprar produtos orgânicos por conta da saúde e saber que são livres de agrotóxicos", confirma.

Na cesta são quatro tipos de frutas, quatro tipos de verduras, quatro tipos de legumes e um tipo de tempero. "Leio várias coisas a respeito e também tenho a sensação que o sabor fica mais acentuado e melhor. Com a entrega em casa, consigo comer salada em todas as refeições", explica. (Fonte Correio Braziliense)

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EMPRESÁRIO JOSÉ RAMOS TRANSFORMA PROPRIEDADE RURAL EM CENTRO DE TRIAGEM DE ANIMAIS SILVESTRES

Garantir a preservação da caatinga é um dever de todos, mas a iniciativa de José Ramos vai além de um  gesto. O empresário, morador de Lagoa Grande, no Sertão de Pernambuco, transformou a propriedade que comprou em um verdadeiro paraíso para o cuidado e proteção de diversos tipos de animais.

Há 12 anos, José Ramos se tornou uma espécie de guardião da fauna e da flora da caatinga. O Centro de Triagem de Animais Silvestres criado por ele fica localizado no Sítio Garça. O local também funciona como área de soltura de animais, com o objetivo de devolver a liberdade a espécies ameaçadas de extinção.

"Aos poucos a gente foi investindo e preservando, com essa parceria com o Sistema Fauna e o Ibama, entendendo que a gente tem esse espírito conservacionista passamos a trazer animais e fazer a soltura. Então os animais vão se reproduzindo e se multiplicando e hoje está essa maravilha".

O espaço é autorizado a receber animais resgatados em ações de combate ao tráfico, entregues de forma voluntária e recolhidos em situação de risco. No estado de Pernambuco existem 22 Centros de Triagem como o de José, sendo sete deles no Sertão. Todos são autorizados pela Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH).

O Local abriga diversos animais como papagaios, jabutis, jacu, mocó e até os de maior porte, como as emas e outras espécies da fauna. O espaço amplo da reserva oferece aos animais a liberdade da natureza, como os papagaios que conseguem voar ate 30 quilômetros por dia.

Antes de chegarem ao centro, muitos animais não conheciam o gosto da liberdade, por isso precisam de tempo e monitoramento para serem devolvidos ao habitat natural. A vegetação da reserva é rica em espécies nativas da caatinga e de outros biomas e possui braúna, graviola, angico, juazeiro, aroeira, eucalipto, e mais espécies sendo replantadas.

José Ramos explica que manter toda estrutura preservada não é fácil e nem barato. Só com a alimentação dos animais são cerca de R$ 6 mil por mês, mas contribuir com a natureza é muito mais gratificante. Atualmente, segundo o empresário, é impossível saber quantos animais vivem na reserva. Só da família dos papagaios, quase 200 já foram devolvidos ao meio ambiente.

"O que a gente faz aqui eu entendo como uma conexão mais próxima dos princípios do criador. Essa é a minha maneira de me comunicar e estar mais próximas dos princípios da natureza".

" Então , quando a gente tem ações mais próximas do que o criador deixou, de alguma maneira a gente é retribuído. Então, é uma satisfação muito grande, apesar que tem custos, mas isso se faz por amor. Não se pensa e dinheiro", destaca.

A mudança no cenário da propriedade impressiona Sebastião Torres. Ele é trabalhador rural e responsável por cuidar e alimentar os animais, antes de seguir para o trabalho na roça.

"Eu coloco ração duas vezes para os animais. Quando chego aqui tem que lavar os cochos de água e colocar água limpa para os animais. Aí quando termino eu vou para a roça".

Rodeado pelos bichos na maior parte do dia, seu Sebastião conhece diversas espécies pelo nome, com a proximidade de quem cuida e convive com muito respeito e carinho.

"Aqui tem várias espécies. Todo animal tem por aqui. Tem Papagaio, Cotia, Tatu Peba, Veado, Cabeça Vermelha, Juriti, Sofrer, Passo Preto... eu passo todos os dias rodeado. A minha função é cuidar deles".


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FESTA NA MATA BRANCA: CAATINGA GANHA UMA NOVA RESERVA PARTICULAR

Há muito o que se fazer, mas iniciativas como a de Jorge Dantas, criador do Refúgio Jamacaii, apontam um dos rumos que devemos seguir.

Filho de pai e mãe do interior, Jorge Dantas é um oficial de justiça que em 2016, aos 49 anos, entrou no curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) buscando entender melhor os passarinhos, animais que sempre o encantaram. Já no curso, durante as aulas de ornitologia, o estudo das aves, ele se encontrou e fortaleceu ainda mais o encantamento por esse grupo de seres vivos, mas agora com algumas centenas de nomes científicos, cantos e padrões de coloração para decorar. 

O resultado disso é que Jorge está prestes a defender o seu trabalho de conclusão de curso, que envolve as aves da fragmentada e ameaçada Mata Atlântica do Centro de Endemismo Pernambuco, porção do bioma ao norte do rio São Francisco, incluindo o território potiguar, onde ele concentra seus esforços.

Mas foi mirando na biodiversa e semiárida Caatinga (mata branca, em tradução do tupi-guarani) que Jorge acabou de realizar seu maior sonho, a criação da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Refúgio Jamacaii. A reserva com nome de um dos pássaros mais bonitos da Caatinga, o concriz ou corrupião (Icterus jamacaii, no nome científico), está localizada justamente na região onde seu pai nasceu e cresceu, na zona rural da pequena Equador, no coração do Seridó potiguar.

 Criada pela Portaria Nº 459, de 2 de junho de 2022, do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio), a mais nova RPPN da mata branca brasileira tem pouco mais de 135 hectares de vegetação de caatinga preservada ou em estágios diferentes de regeneração. “É a realização de um sonho. Espero que mais RPPNs sejam criadas para que nossa Natureza seja preservada, nossos biomas sejam preservados, a nossa existência neste Planeta seja prolongada”, comemorou Jorge ao se deparar com a publicação da portaria do ICMBio.

Quem acha que os esforços de conservação do Jorge e sua família começam só agora, com a criação da reserva, está muito enganado. Desde que comprou a área, há cinco anos, têm sido realizadas na área atividades como o controle de plantas invasoras, o plantio de árvores nativas e, especialmente, o manejo de bebedouros artificiais para dessedentação da fauna nos períodos de estiagem associado ao monitoramento por meio de câmeras automáticas. Através destes aparelhos já foram registradas mais de 12 espécies só de mamíferos terrestres nos bebedouros, incluindo tatus, raposas, tamanduás e até dois pequenos felinos ameaçados de extinção.

O gato-do-mato-pintado (Leopardus tigrinus) e o gato-mourisco (Herpailurus yagouaorundi) são a maior sensação da reserva, já que sempre aparecem mães com seus filhotes brincalhões nos registros. Mas não é só isso, o Refúgio Jamacaii já participou de ações de conservação previstas no Plano de Ação Nacional para Conservação dos Pequenos Felinos do ICMBio, através de uma campanha de vacinação de cães domésticos visando diminuir a disseminação de doenças para felinos silvestres, atividade apoiada pelo Projeto Gatos do Mato Brasil e o Tiger Cat Conservation Initiative.

Se antes o Refúgio Jamacaii já contribuía muito para a conservação da fauna e da flora da Caatinga, como RPPN sua relevância ganha outro patamar. Após criada, uma área averbada como RPPN tem como objetivo principal conservar a diversidade biológica local, permitindo apenas a pesquisa científica e a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais nos seus limites.

 Segundo Lívia Cavalcanti, ecóloga e mestranda do Programa de Pós-graduação em Ecologia da UFRN, RPPNs são hoje uma das principais ferramentas para se alcançar os objetivos de conservação, dada a alta porcentagem de terras sob propriedade privada no Brasil (e no mundo). Esse tipo de iniciativa deve ser complementar aos esforços do poder público em conservar a biodiversidade e garantir a sadia qualidade de vida da população, obrigação prevista desde a Constituição Federal de 1988. No entanto, a iniciativa particular ganha cada vez mais destaque. 

“Frente a um quadro em que se torna cada vez mais cara, complexa e demorada a criação de áreas de proteção pública, a destinação voluntária de terras particulares para implementação de áreas protegidas se tornou uma alternativa complementar necessária”, complementa Lívia, que pretende com sua pesquisa identificar fatores no cenário nacional que incentivam e ajudam na manutenção das RPPNs, e para isso está coletando repostas de proprietários de reservas particulares de todo Brasil (link do formulário). 

Essa nova unidade de conservação vem em boa hora. A Caatinga figura entre os biomas brasileiros menos protegidos por unidades de conservação criadas pelo poder público, isso é ainda mais uma realidade em estados como o Rio Grande do Norte. Por isso, pesquisadores defendem, por exemplo, que aumentar o número de áreas protegidas públicas e particulares deve ser uma ação estratégica dentro dos crescentes processos de licenciamento ambiental de empreendimentos eólicos e solares em áreas prioritárias para a conservação da Caatinga. Em se tratando de reservas particulares, a RPPN Refúgio Jamacaii é a oitava UC desta categoria no território potiguar, sendo a quinta na Caatinga. 

Mas segundo Robson Henrique Pinto da Silva, Coordenador de Meio Ambiente e Saneamento da Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Rio Grande do Norte (SEMARH), esse número deve crescer em breve, já que em fevereiro deste ano foi publicado um decreto que estabelece os critérios e processos para criação de reservas particulares a nível estadual, o que deve simplificar e agilizar esse tipo de processo e beneficiar proprietários particulares interessados em destinar áreas para fins de conservação. “Como parte das ações de divulgação, está sendo organizado junto a UFRN o ‘II Seminário para Criação de Unidades de Conservação Particulares: Conservação Ambiental e perspectivas de Sustentabilidade Financeira’, o qual será realizado nos próximos dias 05 e 06 de julho”, finaliza Robson.

Há muito o que se fazer, mas iniciativas como a de Jorge Dantas apontam um dos rumos que devemos seguir. A proteção e recuperação de áreas naturais é especialmente importante em um cenário de mudanças climáticas e avançado processo de desertificação em regiões da Caatinga, como recentemente destacado na capa de um dos jornais mais famosos do mundo, o The New York Times, que denunciou a transformação da vegetação natural em um quase deserto justamente na região Seridó do Rio Grande do Norte, onde o Refúgio Jamacaii acaba de ser criado.

 É aqui que o gesto de Jorge, iniciado pelo amor às aves e apego às suas origens, torna-se ainda mais relevante para a causa ambiental, garantindo habitat preservado e a manutenção e serviços ecológicos para os habitantes do Refúgio Jamacaii e seu entorno e inspirando outros proprietários a repetirem esse feito em outras áreas naturais da Caatinga, para assim como Jorge, carregarem consigo a consciência de devolver um pouco para a natureza o que tanto retiramos dela! (Fonte: O Eco Jornalismo Ambiental/Paulo Henrique Marinho)

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POÇO REDONDO: LAMPIÃO, MARIA BONITA E A NOITE DE AMOR EM 28 DE JULHO

Aquela noite, 28 de julho, era a noite de seus desejos. Seus corpos se amariam como nunca. Seus olhos confessavam seu amor. Havia uma necessidade de abraçar mais forte, de se beijar mais quente, de sussurrar segredos. 

O suor os unia em complexa solução salgada. Seus fluidos se misturavam cumprindo seu destino. A lua, a noite, o silêncio no campo. A terra calava-se diante de tanta cumplicidade. Nus, abraçados, juraram amor eterno, enquanto seus dedos se entrelaçavam. 

A rusticidade de suas vidas nunca invalidara seus momentos de paixão.  O cactos, a poeira da caatinga, os bichos mais estranhos, a brisa inexistente, tudo reverenciava e abençoava sua união. Naquela noite, toda a alegria do mundo invadia-lhes a aura. Até que veio a manhã e adormeceram para sempre.

Fonte: Aderaldo Luciano-professor. Doutor em Ciência da Literatura

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MESTRE DA SANFONA LUIZINHO CALIXTO DIZ QUE FESTIVAL NACIONAL DO FORRÓ DE ITAÚNAS MOSTRA PARA O BRASIL A VALORIZAÇÃO DA CULTURA

O Festival Nacional Forró de Itaúnas (Fenfit), realizado no Espírito Santo, aconteceu entre os dias 16 a 23 de julho, com mais de 50 shows entre atrações deste ano Mestrinho, Gennaro, o Trio Xamego (SP), Flávio Leandro, Dorgival Dantas, Dió Araújo,  Mariana Aydar, Banda Rastapé e o Trio Dona Zefa, comemorando 20 anos de carreira. 

O sanfoneiro, Mestre da Sanfona de 8 Baixos, Luizinho Calixto, 66 anos, através das redes sociais, disse que "o Festival é uma maravilha e ele estava em extase com o sucesso do evento".  Luizinho Calixto é o responsável pela formação, acompanhamento e orientação de centenas de jovens e adultos. E, desta experiência, nasceu o primeiro Manual de Sanfona de 8 Baixos voltado à Afinação Nordestina, método inovador idealizado por ele para a didática em sala de aula.

"O evento lotado de pessoas. Muita gente. Forró puro aqui. Desde a hora que cheguei assistimos os trios de forró, o tradicional,. Estou maravilhado. Nunca vi uma coisa tão bonita. Seria bom que os organizadores de Caruaru, Campina Grande pudessem conhecer, presenciar o que está acontecendo aqui em Itaúnas, para eles saberem o que é forró de verdade", declarou Luizinho Calixto.

O Fenfit é realizado na Vila de Itaúnas, conhecida como Capital Nacional do Forró é de Serra, atrai milhares de pessoas vindas de várias partes do Brasil e do mundo e também movimenta a economia da região.

Ao longo dos oito dias de programação, são revelados os novos talentos do forró. Ao final, os vencedores do concurso recebem uma premiação em dinheiro e participam do CD e DVD do festival.

A premiação é dividida entre 1º, 2º e 3º lugares; melhores intérprete, sanfoneiro, zabumbeiro, triangulista, melhor letra e revelações feminina e masculina.

LUIZINHO CALIXTO: Luiz Gonzaga Tavares Calisto, artisticamente conhecido como Luizinho Calixto, nasceu em Campina Grande, Paraíba, em 21 de junho de 1956. É fruto de uma família de 10 filhos, da união de Maria Tavares Calixto e João de Deus Calixto, o “Seu Dideus” (1913-1989). 

O pai de Luizinho foi um instrumentista paraibano renomado, tocador da sanfona de oito baixos. Já os irmãos mais velhos formam uma linhagem de grandes músicos (Zé Calixto, Bastinho Calixto e João Calixto).

Desde menino, Luizinho conviveu com ícones da historiografia musical brasileira. Muitos eram amigos de sua família, a exemplo de Jackson do Pandeiro, com quem, certa feita, Luizinho dividiu o palco, e Luiz Gonzaga, que lhe presenteou com uma sanfona. O primeiro álbum veio em 1975, intitulado “Vamos dançar forró”, com o qual percorreu o Brasil em turnê.

O artista vive há pelo menos 40 anos da profissão de tocador de oito baixos. Tem 12 discos gravados entre vinis e CDs. Mostrou sua arte a milhares, em países como Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Suíça, Argentina e Angola. Luizinho também foi o criador do Encontro de Sanfoneiros e Tocadores de Fole de Oito Baixos da UEPB. Teve participação, como instrumentista, em gravações de artistas aclamados: Sivuca, Dominguinhos, Chico César, Evaldo Gouveia, Fagner. Soma-se, ao seu currículo, parcerias com Elino Julião, Genival Lacerda, Messias Holanda, Alcymar Monteiro e Beto Barbosa; integrou, igualmente, shows de Belchior, Marinês e Nara Leão.

Luizinho Calixto É professor do Centro Artístico da UEPB desde 2013. Recentemente, a Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) incluiu o nome de Luizinho no registro de Mestre das Artes – Canhoto da Paraíba – Rema/PB. Luizinho Calixto é o responsável pela formação, acompanhamento e orientação de centenas de jovens e adultos. E, desta experiência, nasceu o primeiro Manual de Sanfona de 8 Baixos voltado à Afinação Nordestina, método inovador idealizado por ele para a didática em sala de aula.

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