COORDENADORES DO ESPAÇO PLURAL PARTICIPAM DA INAUGURAÇÃO DO ARMAZÉM DA AGRICULTURA FAMILIAR

A partir desta quarta-feira (27), a população de Juazeiro e todo o Território de Identidade Sertão do São Francisco passam a contar com um Armazém da Agricultura Familiar. 

A inauguração aconteceu nesta quarta-feira (20), no espaço Vila Bossa Nova, às margens do Velho Chico. A equipe do Núcleo de Agroecologia-Espaço Plural da Universidade do Vale do São Francisco, participou da inauguração. Professor doutora Monica Tomé, coordenadora do PPGExR, vice coordenador professor doutor Denes Dantas, professor doutora Lúcia Marisy, Pro-reitora de Extensão estiveram presentes no evento.

Batizado de Armazém da Caatinga, o empreendimento é um local destinado à comercialização de produtos de cooperativas, grupos e associações rurais da região e de outros territórios da Bahia e do Brasil, produzidos por agricultores familiares. O espaço é composto por supermercado, restaurante e feira de produtos orgânicos e agroecológicos.

A implantação do Armazém é uma estratégia do Governo da Bahia, realizada por meio do Pró-Semiárido, projeto executado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), empresa pública vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), com cofinanciamento do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida).

ESPAÇO PLURAL: O Espaço Plural é órgão suplementar com atribuições administrativas, e de apoio ao ensino, pesquisa e extensão, diretamente vinculado a Pró-Reitoria de Extensão da UNIVASF.

O espaço briga diferentes projetos, todos eles relacionados ao estudo, valorização e empoderamento das populações tradicionais da região, tais como, agricultores familiares, quilombolas, indígenas, povos de fundo de pasto, mulheres empreendedoras e jovens do campo, desde a sua criação desempenhou importante papel na execução da missão social da universidade, promovendo ações de inclusão social e econômica dessas populações, historicamente marginalizadas pelas políticas públicas, através de formações técnicas, tecnológicas, de desenvolvimento humano, na perspectiva do exercício da cidadania plena, como garantia de direitos constitucionais.

Entrar no Espaço Plural da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) é embarcar numa viagem através dos tempos, desde a época em que o sertão era banhado pelo mar até chegar à caatinga de hoje. Cores, animais, plantas e outras referências a essa transição figuram nas paredes, escadaria, corredores e salas do prédio principal, inteiramente renovado por uma reforma física e pela instalação de artes visuais da artista e professora Flora Assumpção, do Colegiado de Artes Visuais. 

O ESPAÇO PLURAL está situado no bairro Malhada da Areia, em Juazeiro (BA), e vinculado à Proex é sede dos Programas de Pós-Graduação em Extensão Rural (PPGExR) e em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial (PPGADT), bem como de diversos programas e projetos de extensão, como o Espaço Arte, Ciência e Cultura (EACC), a Revista Extramuros, o Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC), o Sertão Agroecológico, o Núcleo de Estudos Étnicos e Afro-Brasileiros Abdias Nascimento e Ruth de Souza  (Neafrar), o Sisteminha Embrapa: Sistema Integrado para Produção de Alimento, o Núcleo de Produção Orgânica e a Horta comunitária. O Espaço Plural é também o berço do Campus Juazeiro, pois sediou as atividades acadêmicas dos cursos de Engenharia, no período de 2004 a 2008.

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EXPOSIÇÕES MOSTRAM RIQUEZAS DA CAATINGA E ESFORÇOS PARA RECONHECIMENTO DO BIOMA CAATINGA COMO PATRIMÔNIO NACIONAL

Exposições na Câmara dos Deputados mostram as riquezas da Caatinga, as ameaças ao ecossistema semiárido e os esforços de reconhecimento do bioma como patrimônio nacional.

Os eventos fazem parte das comemorações de 28 de abril, Dia Nacional da Caatinga – criado por meio de um decreto federal (Decreto 9.959/03).

Até esse dia, quem visitar a Câmara poderá conferir a exposição “Riquezas da Caatinga: potencialidades e possibilidades do bioma 100% brasileiro”, montada no Espaço Mário Covas com fotos e produtos da região. Entidades socioambientais também apresentam ações bem-sucedidas de produção sustentável, sobretudo por meio da agricultura familiar. A mostra expõe imagens do fotógrafo João Vital, que há mais de 30 anos retrata o semiárido. 

Os eventos são organizados pela Frente Parlamentar em Defesa da Convivência com o Semiárido. Coordenador do grupo, o deputado Carlos Veras (PT-PE) quer aproveitar a ocasião para impulsionar as potencialidades do bioma.

“Uma das nossas prioridades é transformar o bioma em patrimônio nacional para fortalecer a preservação da Caatinga, colocando-a como prioridade dos gestores públicos em todas as esferas: municipal, estadual e federal. Ela tem uma riqueza e uma diversidade cultural enorme. E econômica também”, diz.

A Câmara já analisa várias propostas (PEC 504/10 e sete apensadas) que incluem a Caatinga e o Cerrado na lista de patrimônios nacionais, como já acontece hoje com a Amazônia, a Mata Atlântica, o Pantanal, a Serra do Mar e a Zona Costeira.

No entanto, textos sobre o tema que tramitam desde 1999 (PECs 60/99 e 131/99) vêm enfrentando resistências de algumas bancadas, sobretudo aquelas ligadas ao agronegócio. Já os defensores das propostas argumentam que Caatinga e Cerrado protegidos na Constituição terão novos estímulos e políticas públicas de desenvolvimento sustentável.

BIOMA CAATINGA: Único bioma exclusivamente brasileiro, a Caatinga ocupa 11% do território nacional, sobretudo no Nordeste e no norte de Minas Gerais. Cientistas alertam que o desmatamento crônico e a ocupação desordenada aumentam os riscos de desertificação irreversível. Mesmo assim, o deputado Carlos Veras ressalta que a Caatinga resiste, conservando um rico patrimônio biológico: um terço da flora e 15% da fauna são exclusivas do bioma, ou seja, só existem naquele ecossistema semiárido.

“Há um processo de degradação do solo, fruto da ação humana, que, muitas vezes, desmata, queima e utiliza venenos. Então, também há um processo de extinção de plantas muito importantes da Caatinga. Daí o nosso objetivo de fazer essa exposição dentro da Câmara dos Deputados. A nossa Caatinga não é só solo rachado, não é só dificuldade, não é só seca. Nós temos muitas riquezas. Quando criança, o lambedor [remédio caseiro] para curar nossas gripes era feito da casca do jatobá. Então, há plantas riquíssimas, inclusive medicinais”, afirmou.

Além do jatobá, a exposição na Câmara mostra produtos à base de sisal, fibras, licuri, umbu, mel e maracujá, típicos do bioma. Hoje, cerca de 30 milhões de pessoas vivem nas cidades dominadas pela Caatinga.

A Exposição: Riquezas da Caatinga: potencialidades e possibilidades do bioma 100% brasileiro 🌵

Data: de 26 a 28 de abril

Abertura oficial: 26/04 às 18h.

Espaço Mário Covas, Anexo II, Câmara dos Deputados. Brasília/DF

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LITERATURA INDÍGENA E OS CORDEIS DA ESCRITORA E POETA AURITHA TABAJARA

A literatura indígena é rica, vasta, carregada de ensinamentos inspirados em suas origens e na tradição oral aprendida. Repassada de geração em geração. Apesar disso, livros escritos por indígenas ainda carecem de visibilidade. Escritores, poetas e pensadores dos povos originários carecem de visibilidade. Afinal, quantos autores você conhece? Ou, melhor, quantos livros escritos por indígenas você já leu?

Nesta edição do podcast DiversEM, o Estado de Minas conversou com a escritora e poeta Auritha Tabajara. Mulher indígena, lésbica e cordelista, ela é autora do livro “Coração na aldeia, pés no mundo”.

A tradição oral é extremamente marcante na cultura dos povos originários, sendo a principal fonte de conhecimento passada entre as gerações. Essa foi, inclusive, a forma com a qual Auritha teve seus primeiros contatos com as histórias, os livros e os cordéis, típicos da cultura Tabajara que ocupa o litoral cearense, de onde Auritha vem.

Minha avó é minha maior referência e a minha incentivadora de tudo. Ela não sabe ler, não sabe escrever. Ninguém da minha família, dos mais velhos, sabe. Meu avô era vaqueiro improvisador de toadas, que não estão escritas em lugar nenhum, eram coisas ancestrais”, comenta Auritha.

Aos 43 anos, a cordelista começou a escrever muito cedo. Uma das únicas mulheres indígenas na escola que frequentava, Auritha aprendeu a escrever aos 9, quando começou a traçar os rascunhos de “Coração da aldeia, pés no mundo”.

Já adulta, a escritora se mudou para São Paulo para tentar investir e crescer na carreira de cordelista. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de um terço dos quase 900 mil indígenas do país moram em áreas urbanas. Além disso, de acordo com o Grupo de Pesquisa Lesbocídio, o estado de São Paulo concentrou 20% de todas as mortes de lésbicas no Brasil entre 2014 e 2017.

Auritha voltou atualmente a morar em sua região, com as irmãs, que insistiam em participar da entrevista para este podcast, o que rendeu à escritora algumas interrupções e boas risadas durante nossa conversa.

Auritha viaja para dar palestras e fazer apresentações para diversos públicos indígenas e não indígenas, incluindo em universidades. Porém, apesar do prestígio, ela cobra maior reconhecimento e valorização dos saberes tradicionais por parte das instituições de ensino. “Nunca tem dinheiro para pagar uma ajuda de custo. O que a gente repassa pra comunidade é vivenciado, são coisas ancestrais, não são aprendidos em livro nenhum”, comenta.

Auritha gosta de destacar a diferença entre os conceitos que considera de o que é literatura indígena e o que é literatura indigenista. A primeira ela diz ser aquela produzida pelos próprios indígenas, enquanto a segunda é a escrita por terceiros, sejam antropólogos ou pesquisadores, sobre suas visões da cultura indígena.

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BAZAR COLAB-FEIRINHA COLABORATIVA ACONTECE NESTE SÁBADO (23) E DOMINGO (24), EM PETROLINA

O Bazar Colab-Feirinha Colaborativa acontce neste final de semana, no sábado (23) e domingo (24), a partir das 16hs, na rua Barbosa Lima, 193, na Petrolina Antiga, centro.

O evento contará com gastronomia, artesanato, acessórios, decoração, presentes, doces, moda. As atrações culturais musicais são Djs Paulo e Ewerton Tavarez.

O Bazar é uma feirinha colaborativa que busca evidenciar empreendedores e artistas do Vale do São Francisco para que possam ganhar mais visibilidade e conquistar novos e futuros clientes. 

A feirinha da Colab é sem fins lucrativos. Todo valor arrecadado na inscrição da feirinha também será revertido para a  Ong Cores/Casa cores, em Petrolina.

A ONG Cores é um movimento de defesa da cidadania do orgulho LGBT+, da cidade de Petrolina. Seu objetivo é renovar, empoderar e fortalecer a população de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e mais na região, trazendo esperança de dias melhores, com oportunidade de trabalho, arte, cultura, diversão, social e defesa de direitos dessa população. 

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GUARDIÃES DA TERRA: AGROECOLOGIA, CIÊNCIA E SABERES, UM MUNDO MELHOR É POSSÍVEL

Ninguém passa impunemente pela leitura de Baltasar Gracian: sempre se ganha em inteligência, engenho e arte. Ao assistir o filme Guardiães da Terra-Agroecologia em Evolução  lembrei desta reflexão. 

Baltasar Gracián disse: Tudo tem seu tempo e até certas manifestações mais vigorosas e originais entram em voga ou saem de moda. Mas a sabedoria tem uma vantagem: é eterna.

A frase nos mostra que desde quando a humanidade existe, há questionamentos e reflexões que sempre são atuais. Baltasar Gracián, no século XVII, já advertia que tudo que está na moda hoje, perderá seu vigor e desaparecerá, mas a sabedoria nunca acaba, é eterna.

Uma pessoa que consegue se concentrar com humildade em suas decisões e lembrar que a sabedoria lhe trará lucros “eternos”,  cuida das pessoas, da natureza, espiritualidade e também onde aplicar o dinheiro.

O filme foi exibido no auditório do CETEP-Sertão do São Francisco, aula da professora Janine Cruz, engenheira agrônoma e especialista em segurança do trabalho, na disciplina de Agroecologia e Permacultura.

A linguagem cinematográfica mistura emoção, envolvimento, enredo, ação, música, luz, movimento, mistério, desafio, suspense,  por isso mesmo apresenta ampla capacidade de comunicação.

Os filmes têm imenso potencial de aproveitamento no processo educativo, aliado de uma aula expositiva.

O cinema em sala de aula é uma metodologia valiosa. O filme Guardiães da Terra consegue contribuir para uma percepção crítica.

O filme Guardiões da Terra revela as nuances da agroecologia, que passou de “alternativo” a disciplina científica, prática agrícola e também movimento social e político. O filme provoca a reflexão sobre a evolução e o atual panorama da agroecologia no Brasil, trazendo questionamentos e alertas sobre o modelo de produção agrícola e segurança alimentar no país.

O documentário divulga a agroecologia enquanto ciência ampla e em evolução e debate questões como: segurança alimentar, acesso do homem ao campo, uso indiscriminado de agrotóxicos na agricultura, sustentabilidade e valorização das famílias camponesas.

A turma do Curso Técnico em Agroecologia teve início com 35 alunos. Apenas 03 (três), estão assistindo aulas em busca da conclusão e certificado para serem habilitados na área. Anne Louise, Josielson Araujo e Valdiney Vital Guedes.

Anne Louise, Pernambucana, 35 anos, nasceu em Belém do São Francisco, Pernambuco. "Passei parte da minha infância intercalada entre a cidade e a zona rural no interior de Orocó. O contato com a natureza e a agricultura sempre foi meu fascínio, ainda me lembro do jardim na cidade, onde eu brincava em meio ao manjericão, quebra pedra. Contava os dias para poder ir brincar na roça nas férias", conta Anne.

Josielson Araújo dos Santos, nasceu em Juazeiro, Bahia. Tem 25 anos de vivência nas Comunidades Tradicionais de Base. A Serra dos Badecas, Distrito de Pinhões foi onde ele passou a infância. Atualmente é funcionário público municipal concursado.

"Sou filho de agricultores familiares. Tenho contato direto com o semiárido e vejo na agroecologia um meio de valorizar o histórico das comunidades de base com enfase na extenção rural. Algo me chama muita atenção são as Comunidades Eclesiais de Bases e o Movimento de Mulheres e a beleza e importância os quintais agroecológicos", diz Josielson. 

E o terceiro aluno, este amigo, Ney Vital. Paraibano nascido em Areia. No próximo mês de outubro completo 54 anos. Atuo no jornalismo profissional, rádio, televisão e agora mídia digital. Jornalista há mais de 30 anos. Tenho Curso especialização em Jornalismo Ambiental promovido pelo  Deutshe Welle Akademie - Centro Educacional e de Assessoria Herbert de Sousa, DWA/CEAHS, Alemanha. Sou Membro da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental.

O filme Guardiães da Terra-Agroecologia em Evolução marcou uma certeza: a esperança de mundo melhor é possível.

Tenho dito: só a educação liberta

*Texto-jornalista Ney Vital-Pós-graduado em Ensino de Comunicação Social


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MINI DOCUMENTÁRIO BECO DA CULTURA: ENTRE MEMÓRIAS E HISTÓRIAS JÁ ESTÁ DISPONÍVEL NAS REDES SOCIAIS

Beco da Cultura, situado na Travessa Treze de Maio, em pleno centro da cidade de Petrolina- PE, na década de 1980 e 1990 foi palco para o surgimento de poetas, artistas conhecidos e desconhecidos da região. Reunindo uma variedade de vertentes culturais o BECO DA CULTURA passou a ser um espaço para o fomento do desenvolvimento artístico.

MINI DOCUMENTÁRIO BECO DA CULTURA: ENTRE MEMÓRIAS E HISTÓRIAS tem o objetivo de resgatar a memória cultural e eternizar esse movimento marcante do Vale do São Francisco.

O projeto foi contemplado pelo 2º Edital de Criação, Fruição e Difusão - Lei Aldir Blanc/2021, através da Fundarpe, Secretaria de Cultura e Governo de Pernambuco @culturape.

É realizado por Laila Melo Produção Cultural, Coordenação Geral de José Geraldo e apoio do GUTERIMA.

Já está disponível no canal do Guterima:

https://youtu.be/jpfgHXTaVlk 

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ENERGIA EÓLICA: A OMISSÃO E A CONVIVÊNCIA DOS ÓRGÃOS AMBIENTAIS

Nosso país possui um enorme potencial em energias renováveis, em particular a energia dos ventos (energia eólica) na região Nordeste, com a qual poderá gerar energia para as atuais e futuras gerações, e assim contribuir no enfrentamento às mudanças climáticas, com a redução da emissão de gases de efeito estufa.

Todavia o atual crescimento vertiginoso das instalações dos parques eólicos, nos estados nordestinos, e em Pernambuco em particular; está assentado em um modelo de expansão predatório, que não respeita o homem do campo e a natureza que o rodeia, assim contribuído para inúmeros conflitos e impactos socioambientais.

Os órgãos do governo federal, estadual e municipal, que deveriam zelar e proteger o ambiente e as pessoas (segundo a Constituição Federal) se omitem, e muitas vezes são coniventes com situações que privilegiam os interesses econômicos dos empreendimentos, sem levar em conta as questões socioambientais. Locais de nascentes de água, resquícios de Mata Atlântica ("ilhas"), áreas costeiras, vegetação do bioma Caatinga, brejos de altitude, têm sido ameaçados e impactados pelos "negócios do vento".

Não se pode aceitar que o poder econômico dos grupos empresariais que estão à frente dos "negócios do vento", exerçam um total controle das decisões, em nome de prometerem "energia limpa"(?), emprego e renda. No campo verifica-se que não são cumpridas as boas práticas socioambientais, e nem levado em conta questões fundamentais relacionadas aos direitos humanos como a saúde, o bem-estar dos moradores das áreas rurais; e os direitos da natureza com sua proteção e conservação ambiental, respeitando seus limites.

Não somos contrários à energia eólica, e nem a outras fontes renováveis de energia, mas é necessária uma maior transparência nas relações que envolvem o arrendamento e compra da terra, o respeito a legislação vigente, a proteção e conservação ambiental nas fases de implantação dos empreendimentos. Importante não é somente garantir uma maior segurança energética, mas também respeitar o modo de vida das populações rurais e a saúde ambiental.

Pernambuco, assim como outros estados nordestinos, tem dado um péssimo exemplo de como não se deve proceder com relação a utilização das fontes renováveis de energia. Chegando assim a comprometer as excelentes vantagens intrínsecas destas fontes energéticas (Sol e vento).

É a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco (SEMAS) que tem a missão institucional de "assegurar a realização de políticas públicas ambientais e sustentabilidade, defendendo o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e equânime, promovendo a preservação, conservação, recuperação dos ecossistemas e qualidade de vida para todas as gerações. "

A esta secretaria cabe, entre suas competências, a de executar as atribuições do Estado relativas ao licenciamento e à fiscalização ambiental. Um dos lamentáveis equívocos cometidos no processo de licenciamento ambiental para complexos eólicos ( e também usinas solares) é considerar que as fontes renováveis de energia são "limpas" (https://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/576649-energia-eolica-nao-e-limpa), e assim de baixo impacto ambiental. Desta forma acabam isentando o empreendedor de apresentarem avaliações mais pormenorizadas sobre a intensidade e dimensão do impacto no meio ambiente pelo empreendimento. 

A exigência atual é o Relatório Ambiental Simplificado (RAS) para a implantação de parques eólicos. Insuficiente para atender os requisitos dos projetos eólicos.

Pesquisas e estudos realizados nos últimos anos pelas universidades públicas nordestinas (em especial a UFC, UFPE, UFCG, UFBA, UFRN), centros de pesquisas, Observatório da Energia Eólica da UFC, organizações não governamentais, dioceses, tem apontado vários impactos provocados no meio ambiente, e que afetam as pessoas que vivem próximas aos empreendimentos.

Em Pernambuco, no bioma Caatinga, é onde se localiza as pessoas mais atingidas diretamente pelos "negócios do vento". É onde vivem os agricultores familiares, e as populações originárias. Todavia, tais impactos têm uma abrangência global. Por ex., o desmatamento para instalação dos equipamentos/aerogeradores, e para a construção de estradas de acesso; afetam o aquecimento global, e assim todo o planeta.  

Recentemente por sugestão da representação da Federação dos Trabalhadores Rurais de Pernambuco (FETAPE) no Conselho Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CONSEMA/PE), foi criado um Grupo de Trabalho (GT) cujo objetivo é o de avaliar o cenário da geração eólica em Pernambuco, sob o aspecto da conservação ambiental de áreas protegidas, e a proteção das condições de vida dos trabalhadores rurais.

Lamentavelmente, houve um desvirtuamento dos objetivos do GT, transformando as reuniões em espaços para justificar tais empreendimentos sob a ótica econômica, como uma atividade essencial para a economia pernambucana. Sem ao menos levar em conta, a proposta original para criação do GT que foi o de avaliar os impactos socioambientais dos complexos eólicos instalados.

Tal situação na condução do GT, de forma unilateral, ignorando as ponderações para que os aspectos socioambientais fossem levados em conta no licenciamento e na fiscalização dos parques eólicos, motivou o envio de carta assinada por membros deste Conselho, para o Secretário Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade, presidente do CONSEMA/PE, exigindo a retomada do objeto que motivou a criação do GT.

Uma das principais formas de controle ambiental e social dos impactos de empreendimentos é o licenciamento ambiental. Esta obrigatoriedade, com regras e etapas para avaliação dos estudos ambientais, que auxiliam na tomada de decisão acerca da autorização ou não de atividades impactantes, estão previstas na Resolução 01/1986 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA, 1986).

Com relação a postura da presidência do CONSEMA/PE, ao negar a ouvir e atender os movimentos sociais revela o lado autoritário, o desprezo pela ciência, e a total subserviência a outros interesses que não o do meio ambiente e o de cuidar das pessoas.

Exigimos a abertura de diálogo sobre os impactos socioambientais da instalação de parques eólicos (usinas solares). Exigimos que o poder público exerça seu papel de regular, fiscalizar e punir os excessos cometidos; que a lei seja cumprida. Exigimos respeito ao homem do campo, e seus modos de vida. Exigimos políticas públicas que venham responder às demandas desta população, assim como proteger o bioma Caatinga.

Sem dúvida exigir o Relatório de Impacto do Meio Ambiente (RIMA) e o Estudo do Impacto Ambiental (EIA), para empreendimentos de larga escala com Fontes Renováveis de Energia, é nada mais do que seguir o que a ciência ensina a partir dos fatos revelados ao longo dos últimos 10 anos, e o que a legislação determina.

Heitor Scalambrini Costa-Professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco


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