PESCA: FALTA DE DADOS COLOCA EM RISCO O MEIO AMBIENTE E RENDA DE PESCADORES NO BRASIL

Mesmo diante de um cenário de crise, a pesca tem sido desprezada como fonte de emprego, renda e segurança alimentar no Brasil. Atualmente, das 117 espécies exploradas pela pesca comercial marinha no país, apenas oito possuem sua situação conhecida. Outra constatação alarmante é que somente 9% das espécies que são capturadas comercialmente no Brasil possuem planos de gestão – o que evidencia que a atividade acontece sem um mínimo de planejamento e sujeita a medidas isoladas.

Esses dados revelam que o Brasil está pescando no escuro. Mas esta constatação não é nova. A 2ª edição da Auditoria da Pesca 2021,  divulgada nesta quarta-feira (23) pela Oceana Brasil diagnostica que não houve avanços na gestão da atividade no país desde o final de 2020, quando foi lançada a 1ª edição da Auditoria. A Oceana é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, focada na preservação dos oceanos e atua no Brasil desde 2014.

Para o diretor científico da organização, o oceanógrafo Martin Dias, é urgente que o Brasil adote estratégias efetivas para a gestão e o controle da pesca no Brasil. “A lei brasileira permite que a pesca opere completamente no escuro. Com pouco monitoramento e regras defasadas.” 

Para realizar este amplo diagnóstico sobre a realidade da pesca no Brasil, a Auditoria produzida pela Oceana, se fundamenta na ciência, e utiliza 22 indicadores, divididos em quatro categorias: Política Pesqueira; Transparência; Estoques Pesqueiros; e Pescarias. 

“Isso é importante para conseguir medir tendências: estamos evoluindo ou estamos regredindo? Essa é a ideia central da Auditoria e seus apontamentos mostram, de forma direta, se um gestor público teve um desempenho bom ou não”, analisa Martin Dias, que coordenou a pesquisa. 

Dentre muitos outros dados, a pesquisa revelou que não existem dados sobre a situação da população de 93% das espécies marinhas (como peixes e crustáceos, por exemplo) exploradas comercialmente no Brasil. Isto é, não se avalia se as espécies são exploradas de forma sustentável.

Essa situação fragiliza não só a própria continuidade das espécies, mas também as comunidades que dependem da pesca para sobreviver. Um levantamento da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) mostrou que uma em cada dez pessoas no mundo estão ligadas à cadeia produtiva da pesca. Globalmente, 492 milhões de pessoas dependem diretamente da pesca artesanal.

 “Esse setor desempenha um papel essencial na geração de emprego e renda ao mesmo tempo que sustenta culturas. Tem papel fundamental na alimentação saudável e nutritiva”, destaca Gustavo Chianca, representante adjunto da FAO no Brasil.

A FAO estima que, em todo mundo, 156 milhões de toneladas de alimentos aquáticos são destinados ao consumo direto humano, o que corresponde a 20,5 kg de pescados por pessoa por ano. Os números apontam para um cenário no qual 4,5 bilhões de pessoas se alimentam regularmente dos “alimentos azuis”, como são chamados os alimentos que têm origem nos ambientes aquáticos, como rios, mares e lagos. Esses alimentos fornecem 15% da proteína animal consumida em nosso planeta. 

FUTURO DA PESCA AMEAÇADO: Segundo dados oficiais, no Brasil há quase um milhão de pescadores e pescadoras artesanais. A atividade pesqueira tem potencial para garantir a segurança alimentar e colaborar com o alcance da segunda meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para 2030: erradicar a fome. 

A ONU estima que, em 2050, a população mundial chegará a 10 bilhões de pessoas. Para Chianca, os desafios relacionados à segurança alimentar são complexos, além da fome, há questões relacionadas à má nutrição e doenças relacionadas à alimentação não saudável. “É preciso que haja redução de desperdício de alimentos e que se tome muito cuidado com o uso sustentável para evitar o esgotamento dos recursos naturais”, salienta. 

Carlos dos Santos, mais conhecido como Carlinhos, é pescador tradicional em Canavieiras (BA) e coordenador institucional da Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas e Povos Tradicionais Extrativistas Costeiros e Marinhos (Confrem). A comunidade da qual faz parte vive da pesca extrativista realizada em jangadas. Atualmente, a comunidade extrai caranguejos e aratus, da região de mangues. Do mar, pescam camarão, lagosta, robalo, vermelho e atuns. 

Quando começou a pescar, há 40 anos, as pescarias não eram feitas em grandes embarcações. “A pesca de jangada é limitada justamente pela condição e área de atuação da embarcação e, por ser pesca artesanal e por utilizarmos petrechos de pesca, tem um limite natural de captura de peixe”, esclarece. 

Com a chegada das grandes embarcações de diferentes regiões, percebeu mudanças na abundância dos animais aquáticos. “Isso fez com que, a cada dia que passava, fossem diminuindo o volume pescado”. Para evitar a exploração desordenada, ele liderou a comunidade para o estabelecimento de uma reserva extrativista no local. 

Foram cinco anos de luta para que a exploração pesqueira na região permanecesse artesanal, o que assegurou a preservação dos peixes e dessa prática de pesca.  Carlinhos participou da estruturação da política de pesca no Brasil nos anos 2000. “Esse desmonte que vem acontecendo na política de gestão pesqueira nesse país, infelizmente o contexto de exclusão e de esquecimento da pesca artesanal, data de muito tempo”, denuncia. Para ele, pescadores artesanais - hoje são aproximadamente 1 milhão no Brasil - vivem na invisibilidade. “As informações trazidas aqui são fundamentais para avaliar esse contexto histórico, pensar o futuro da gestão da pesca nesse país”, afirma, referindo-se à Auditoria da Pesca 2021.

PARTICIPAÇÃO SOCIAL; Entre os apontamentos da Auditoria, Martin Dias denuncia que a gestão da atividade pesqueira vem sendo esvaziada nas políticas de governo. Os Comitês de Gestão da Pesca (CPGs) foram extintos em 2019 e, somente no mês passado, o governo federal abriu uma chamada pública para sua recomposição. 

Contudo, Dias chama atenção para a necessidade de diversificar os representantes da sociedade para que as discussões reflitam as diferentes realidades da pesca. “De uma praia para outra, a atividade de pesca e as tensões podem ser muito diferentes. Essa situação se intensifica bastante em um contexto amplo, considerando a dimensão do Brasil”, observa. Representando a Confrem, Carlinhos diz que não deve fazer parte das novas formações. “O novo modelo não é participativo”, denuncia. 

O relatório da Oceana ainda aponta que há problemas na gestão dos recursos pesqueiros e uma legislação defasada, por isso, há urgência na modernização da Lei da Pesca no Brasil (Lei Federal 11.959/2009).   

Fonte:  Portal Comunicação Brasil 61 - https://brasil61.com/n/pesca-falta-de-dados-coloca-em-risco-o-meio-ambiente-e-renda-de-pescadores-no-brasil-bras226720

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ALUNOS DO CETEP-SÃO FRANCISCO E DO IFSERTÃO CAMPUS SANTA MARIA DA BOA VISTA VISITAM O CENTRO DE FORMAÇÃO DOM JOSÉ RODRIGUES-IRPAA

Neste sábado (26), o IRPAA-Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada, através do Centro de Formação Dom José Rodrigues, recebeu um grupo de alunos e professores do curso Técnico em Agroecologia, do CETEP SSF-Centro Territorial de Educação Profissional do Sertão do São Francisco, Juazeiro, Bahia e do campus Santa Maria da Boa Vista do Instituto Federal do Sertão Pernambucano-IFSERTÃO, Curso Técnico em Agropecuária. 

O grupo de alunos do CETEP-SSF foi liderado pela professora Janine Souza da Cruz, engenheira agrônoma, Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho. Os alunos do IFSERTÃO, teve a liderança da professora, doutora em Extensão Rural-Universidade Federal do Vale do São Francisco, Cristiane Marinho e da diretora de Ensino do Curso Integrado em Agropecuária, professora mestre Danielle Costa.

Os visitantes foram recepcionados pela equipe do IRPAA, tendo a oportunidade de conferir um Dia de Campo, e uma amostra sobre técnicas e metodologias, práticas contextualizadas, ações de convivência com o semiárido, além do estudos sobre o clima, tecnologias de aproveitamento de água, beneficiamento da produção familiar, dentre outros temas ligados à realidade do Semiárido, como educação e geração de renda.

A troca de saberes foi conduzida pelo zootecnista, Técnico Agropecuária, mestre André Rocha e Paulo César. Os alunos colaboradores Antonio Marcos e Jadson Reis também participaram das palestras.

Após, as boas vindas dadas embaixo de um pé de juazeiro, os visitantes conheceram alguns projetos desenvolvidos pelo Irpaa e diversos parceiros na busca de uma vida digna no semiárido, geração de renda e uso consciente dos bens da natureza.

Os alunos Josielson Araújo e Anne Louise, da disciplina Agroecologia e Permacultura II, CETEP-SSF destacaram que "é a visita é super válida, uma aula prática, a partir das demandas das comunidades, temas como caprinos, manejo de solo, recaatingamento, sistema agroflorestal, beneficiamento de alimentos, políticas públicas, uso e conservação de água, dentre outros assuntos foram trabalhados numa conversa com a equipe técnica do Irpaa e isto proporciona mais saberes e novas experiências".

O aluno do IFSERTÃO, campus Santa Maria da Boa Vista, Rafael Gonçalves, morador do Assentamento Catalunha, disse "que o dia de campo é muito válido e a partir dele novos horizontes se abrem em busca de uma agroecologia e modo de vida mais comprometida com o meio ambiente e o manejo do solo".

O Centro de Treinamento do Irpaa fica situado na localidade de Tourão, a 15 KM de Juazeiro. O site do IRPAA propõe que agroecologia se caracteriza pela produção de alimentos em harmonia com o ambiente natural, conservando a biodiversidade, diferentemente do modo mais comum de agricultura utilizada pelo agronegócio, que destrói o meio ambiente.

Na região Semiárida, a Agroecologia está presente através das práticas de Convivência com o Semiárido, que também traz como premissas a conservação do meio ambiente, Recaatingamento, produção apropriada, segurança alimentar e nutricional para as famílias, sistemas justos e sustentáveis de produção, distribuição, sustentabilidade e consumo de alimentos. 

RECAATINGAMENTO: No ano de 2022, o Projeto Recaatingamento completa 13 anos de execução em Comunidades Tradicionais de Fundo de Pasto do Território Sertão São Francisco. Ao longo desses anos, o projeto vem sendo avaliado positivamente pelas comunidades e entidades parceiras, chegando a receber o prêmio “BNDES de Boas Práticas para Sistemas Agrícolas Tradicionais”.

O Recaatingamento é um projeto de preservação ambiental que busca contribuir para inverter a desertificação do bioma caatinga através do uso sustentável de seus recursos naturais. O projeto, desenvolvido em comunidades rurais de sete municípios baianos, desenvolve um conjunto de medidas de promoção do bem-estar da Caatinga e de sua população através de uma proposta pedagógica, integral e multidisciplinar que acredita que a melhor forma de viver e produzir no semiárido é através do que a Caatinga oferece.

O Recaatingamento, promovido pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada-IRPAA, envolve diretamente 140 famílias em atividades de preservação do meio ambiente. O projeto tem atuação direta nas comunidades de Angico, no município de Canudos, Melancia, em Casa Nova, São Mateus, em Curaçá, Fartura, em Sento Sé, Poço do Juá, em Sobradinho, Serra dos Campos Novos, em Uauá e Curral Novo, em Juazeiro.

Através de cursos e oficinas, cerca de 300 produtores rurais das comunidades Fundo de Pasto estão sendo capacitados como agentes ambientais. Cada comunidade envolvida no projeto está construindo de forma participativa um Plano de Manejo Ambiental Sustentável, com ele, pretende-se conservar a Caatinga, onde ela ainda está preservada e recuperar, onde ela já está fragilizada.

 Paralelamente aos Plano de Manejo Ambiental, também estão sendo construídos os Planos de Manejo do Rebanho. Ele ajudará a diminuir a ação herbívora dos animais na caatinga e evitará o super-pastoreio melhorando a qualidade da produção da ovino-caprino-cultura.

 Além de ações que visam a preservação direta do meio ambiente, o Recaatingamente promove capacitações para a Geração de Renda, agregando valor aos produtos oriundos das atividades agroextrativistas sustentáveis, como o beneficiamento das frutas silvestres umbu e maracujá do mato. Instalações como viveiros, cisternas e unidades de beneficiamento apoiarão as atividades.

O projeto também promoverá a Educação Ambiental Contextualizada através da assessoria à educação escolar das comunidades envolvidas. Recaatingamento, um projeto de preservação do meio ambiente em parceria com a comunidade.

  O Projeto RECAATINGAMENTO atua com 5 linhas de ação:

 1-Conservação da Caatinga

2-Recomposição da Caatinga

3-Educação Ambiental Contextualizada

4-Melhorias da Renda

5-Políticas Públicas

 


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A FÉ GONZAGUEANA NOS 178 ANOS DO PADRE CÍCERO DO JUAZEIRO DO NORTE, CEARÁ

Francisco Alemberg de Souza Lima, o Alemberg Quindins, é um dos criadores da Fundação Casa Grande-Memorial do Homem Kariri em 1992 com o intuito de valorizar a história do povo da região, o Vale do Cariri, e ser um centro de memória.

Alemberg diz que a Chapada do Araripe tem uma influência nesse território desde o período cretáceo. Em torno dela, de um lado tem Luiz Gonzaga, a Pedra do Reino, de Ariano Suassuna e a Missa do Vaqueiro, Padre Cícero, Patativa do Assaré, Espedito Seleiro, toda uma cultura. O Cariri é um oásis em pleno sertão. É o solo cultural por conta de toda essa força que vem da geologia, da paleontologia, da cultura. Por isto é bom conhecer a importância do contexto da Chapada do Araripe para o mundo.

Nesta quinta-feira, dia 24 de março, é comemorado os 178 anos do nascimento de Padre Cícero.  “O nome do padre Cícero / ninguém jamais manchará, / porque a fé dos romeiros / viva permanecerá, / pois nos corações dos seus / foi ele um santo de Deus / é e pra sempre será.” Es te é um dos temas de incontáveis folhetos de cordel espalhados pelas feiras sertóes afora.

Quem já ouviu falar dos preceitos ecológicos do Padre Cicero, muitos o seguem como exemplo de fé e religiosidade, mas poucos sabem que ele foi um dos primeiros defensores do meio ambiente, do bioma caatinga. Padre Cícero soube unir a mitologia e o poder do conhecimento dos indios Kariris.

Cícero Romão Batista nasceu em Crato, Ceará no dia 24 de março de 1844. Foi ordenado no dia 30 de novembro de 1870. Celebrou a sua primeira missa em Juazeiro em 1871. No dia 11 de abril de 1872 fixou residência em Juazeiro. Padre Cícero faleceu no dia 20 de julho de 1934, na cidade de Juazeiro.

A jornalista Camila Holanda escreveu que nas entranhas do Cariri do Ceará foi emergido uma versatilidade de ícones que, entrelaçados povoam o imaginário cultural que habita a região.


Nas terras do Ceará ouvi uma das mais belas histórias. Resumo: o teatrólogo, pesquisador cultural Oswaldo Barroso, ressalta um dos mais valiosos símbolos, a vigorosa força mítica e religiosa. Oswaldo Barroso, cidadão honorário de Juazeiro do Norte, diz que a primeira vez que esteve no Cariri foi nos anos 70 e a experiência fez com que suas crenças e certezas de ateu fossem desconstruídas e reconstruídas com bases nos sentimentos das novas experiências e epifanias vividas.

"Desde o início, não acreditava em nada de Deus. Mas quando fiz a primeira viagem ao Horto do Juazeiro do Norte, foi que eu compreendi o que era Deus. Isso mudou minha vida completamente", revelou Oswaldo.

Um outra narrativa importante encontrei na mitologia dos Indios Kariris. Nela a região é tratada como sagrada, centro do mundo, onde no final dos tempos, vai abrir um portal que ligará o Cariri  para a dimensão do divino.

A estátua do Padre Cícero encontra-se no topo da Colina. Muitos romeiros percorrem a Trilha do Santo Sepulcro. A pé eles percorrem às 14 estações trajeto marcado por frases e conselhos ambientais do Padre Cícero, que já alertava naquela época para os muitos desequilíbrios ambientais e impactos da agressão humana na natureza.

No ano de 2015 o Vaticano (Italia) reconciliou o padre Cícero Romão Batista com a igreja católica. Com a reconciliação, não há mais fatores impeditivos para que o "santo popular" do interior do interior do Ceará seja reabilitado, beatificado ou canonizado, segundo o chanceler da diocese do Crato, Armando Lopes Rafael. Leia o resumo da carta do Vaticano à diocese do Crato.

Padre Cícero morreu sem conciliação com a igreja católica. 

Padre Cicero descreveu os preceitos ecológicos:

1) Não derrube o mato, nem mesmo um só pé de pau; 

2) Não toque fogo no roçado nem na caatinga;

3) Não cace mais e deixe os bichos viverem; 4) Não crie o Boi e nem o bode solto; faça cercados e deixe o pasto descansar para se refazer; 

5) Faça uma cisterna no oitão de sua casa para guardar água de chuva;

6) Não plante em serra a cima, nem faça roçado em ladeira que seja muito em pé; deixe o mato protegendo a terra para que a água não a arraste e não se perca sua riqueza;

7) Represe os riachos de 100 em 100 metros, ainda que seja com pedra solta;

8) Plante cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá ou outra árvore qualquer, ate que o sertão todo seja uma mata só;

9) Aprenda tirar proveito das plantas da caatinga a maniçoba, a favela e a jurema; elas podem ajudar a conviver com a seca;

10) Se o sertanejo obedecer a estes preceitos a seca vai aos poucos se acabando o gado melhorando e o povo terá sempre o que comer, mas se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai virar um deserto só.

Rezemos com Fé! . Os sorrisos são a alegria da alma.

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL SE REÚNE COM EX MINISTROS DO MEIO AMBIENTE PARA DISCUTIR PAUTA

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux, recebe, nesta quarta-feira (23), ex-ministros do Meio Ambiente de vários governos para discutir ações ligadas à pauta ambientalista que estão em pauta da Corte.

Participarão da audiência os ex-ministros Carlos Minc (ministro de 2008 a 2010), Edson Duarte (ministro de 2018 a 2019), Gustavo Krause (ministro de 1995 a 1999), Izabella Teixeira (ministra de 2010 a 2016), José Carlos Carvalho (ministro de 2002 a 2003), José Goldemberg (ministro em 1992), José Sarney Filho (ministro de 2016 a 2018), Marina Silva (ministra de 2003 a 2008) e Rubens Ricupero (ministro de 1993 a 1994).

Nove ex-ministros do Meio Ambiente solicitaram uma audiência com o presidente do Supremo Tribunal Federal para tratar de temas relacionados à área. A iniciativa faz parte da ofensiva que organizações da sociedade civil têm realizado com a intenção de frear o desmatamento da Amazônia e a aprovação de leis que flexibilizem atividades econômicas em áreas preservadas.

Recentemente, o Ato pela Terra, que reuniu artistas e ambientalistas, em Brasília, teve êxito em convencer a corte a marcar para o próximo dia 30 um mega julgamento em que o plenário irá julgar sete ações ligadas ao tema.

Na carta dirigida ao STF, os ex-ministros dizem que pretendem expor ideias capazes de garantir a preservação da floresta e garantir a sobrevivência de povos tradicionais. Sem citar nomes do atual governo, eles apontam as consequência na política de “passar a boiada” na área ambiental – como definiu o ex-ministro Ricardo Salles, em reunião ministerial com o presidente Jair Bolsonaro. “Como temos sido alertados há tempos pelos cientistas, as consequências para a sociedade e para a economia brasileira serão graves e, em alguns casos, irreversíveis, caso não detenhamos esse processo destrutivo imediatamente”, diz o documento.

Os ex-ministros listam ainda alguns dados que demonstram a rapidez da perda de cobertura vegetal: “A taxa de desmatamento da Amazônia divulgada no final de 2021, alcançou a inaceitável marca de 13.235 km2, entre agosto de 2020 e julho de 2021. Essa taxa de desmatamento representa um aumento de 75% em relação a 2018. Desde 2019, já perdemos 34.125 km2 da Amazônia. Essa extensão corresponde à soma do estado de Alagoas e do Distrito Federal em apenas 3 anos. Nesse período, perdemos 1,9 bilhões de árvores e aumentamos nossas emissões de CO2 em 2 bilhões de toneladas”.

Assinam o documento Carlos Minc (ex-ministro de Lula), Edson Duarte (ex-ministro de Michel Temer), Gustavo Krause (ex-minstro de Fernando Henrique Cardoso), Izabella Teixeira (ex-ministra de Lula e de Dilma Rousseff), José Carlos Carvalho (ex-ministro de FHC), José Goldemberg (ex-secretário de Fernando Collor), José Sarney Filho (ex-ministro de FHC), Marina Silva (ex-ministra de Lula) e Rubens Ricupero (ex-ministro de Itamar Franco)

A ministra Cármen Lúcia é a relatora da maior parte das ações. No início deste mês, a magistrada recebeu em seu gabinete um grupo de artistas liderado por Caetano Veloso para discutir o assunto.

“Acreditamos que um diálogo com V.Exa. [ministro Luiz Fux] configura passo fundamental na busca por reconhecer o importante papel desta Corte Suprema em reposicionar o Brasil no rumo que vinha seguindo, em total alinhamento com os valores e ideais que movem grande parte das nações civilizadas, qual seja, a integração da economia com a ecologia, a promoção da dignidade dos povos indígenas e das comunidades guardiãs da biodiversidade e a luta pela saúde climática do planeta”, declararam os ex-ministros do Meio Ambiente.

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AUSÊNCIA DO MEU PAI ME FEZ DUAS MARIANAS

A ausência do meu pai me fez duas Marianas. Era um domingo, 22 de março. O sol se punha no Sertão sofrido, apenas três dias após os festejos do padroeiro da gente sertaneja, São José. Meu pai tinha me dado, há poucos minutos, as notícias de uma chuvarada boa que a Serrinha tinha recebido no dia 19.

 Prometeu canjica e pamonha do milho que ele mesmo havia plantado. Fazia plano, me perguntava da vida e questionava sobre a recém chegada pandemia que já estava nos obrigando a interromper os abraços e alongar as distâncias. Das tantas dúvidas, a certeza do amor prevalecia adubando a esperança de dias melhores. 

Minutos depois, o mesmo telefone tocava. Já não era sua voz. Eu perdia meu pai de um infarto, nos braços de minha mãe e no solo sagrado da sua história e da sua poesia: a Serrinha de São José do Egito. Foi questão de segundos. A mesma velocidade do seu repente inconfundível que lhe permitiu ser consagrado em vida como a metralhadora dos versos e uma das maiores expressões do Repente de todos os tempos. E isso não é apenas amor de filha: é constatação de quem continua a beber da fonte da cultura nordestina. 

Pelo arrojo, pelo timbre de voz inconfundível, pela melodiosa criação de versos que tão bem soube congregar arte, conteúdo e mensagem e a defesa intransigente da identidade do Nordeste e da cultura popular, Valdir se eternizou em tudo que fez muito antes de deixar a vida terrena. 

Aos 64 anos, 40 desses dedicados ao pinho, aos pés de parede, aos congressos de repentistas, ao povo. Uma vida inteira marcada pela superação do menino que ficou órfão aos 11 anos de idade e se tornou homem e arrimo de família desde então. Do matuto da pele queimada, de chapéu e óculos de grau que nasceu paraibano e se eternizou pernambucano nos ouvidos e nas almas de um Brasil inteiro, Painho deixa uma saudade silente e uma ausência sem par. 

Deixa também uma constatação: Onde chegou o repente, chegou a voz de Valdir. Foi um guerreiro das estradas, sem recuo de trabalho - era um aficionado pela viola, pelo aboio, pelas tradições mais legítimas da nossa pátria Nordeste. E como defensor e voz de cada uma dessas linguagens, se fez imenso em todas elas. Mas foi o verso de improviso ao som de viola que foi responsável por lhe eternizar nas páginas da arte e das memórias do Sertão e nos ouvidos do povo nordestino. 

Nesses dois anos de saudade todos os dias, recebemos as mais bonitas homenagens pela sua trajetória. Faltou calculadora para contabilizar os milhares de amigos e fãs espalhados Brasil a dentro.  Nesse mesmo período, precisei assistir a reinvenção de toda minha família e a minha, contornando os dias nebulosos de saudade e se agigantando na celebração e na gratidão que foi tê-lo entre nós. Sustentados na fé em Deus e no amor de Nossa Senhora seguimos tornando a saudade doce e não por isso, menos espinhosa.

Painho marcou a existência como um cometa de rara aparição. Simples, de poucas palavras, dono de humor fino e uma presença de espírito dentro de casa que fizeram de sua companhia algo festejado a todo instante. Tenho o privilégio de ser fruto da sua verve. Mas mais que isso, pude partilhar e dedicar 25 anos de minha existência à sua. Meu pai continua sendo em tudo que eu sou. 

Seu exemplo continua a arrastar meus passos. Dois anos de sua ausência é uma eternidade que me fez duas Marianas. Uma, no colo e na sombra do pai que seguindo os ensinamentos de D. Helder “ajudou no voo, sem jamais ousar tomar o lugar das asas”. Sem ele, até as minhas asas perderam o colorido e o impulso do voo. 

Minhas memórias invocam um tempo de amor sem medidas e de uma formação que me ajudou a crescer em criatividade e respeito. Foi lá em casa e com ele que aprendi a pensar e a divergir, a criar e a sonhar, a ser antes de ter.

A sua chegada em casa sempre foi festa, no céu não seria diferente. O céu em festa celebra dois anos de um cometa raro. A terra menor e mais triste escuta um baião de viola em preces e entrega a Deus o descanso de quem mesmo em vida, sempre foi muito mais do céu do que da terra.

Obrigada, Painho. Sua luz de tão firme e imensa continua a nos iluminar e apontar os nossos caminhos. Nos encontraremos em breve em um palco eterno, de aplausos sem pausa e de poesia sem fim.

*Mariana Teles-Advogada e poetisa

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PROJETO A ROTA DO VAQUEIRO MOVIMENTA EXU, MOREILÂNDIA E SERRITA ENTRE OS DIAS 26 E 31 DE MARÇO

Por causa da pandemia de Covid-19, a Missa do Vaqueiro de Serrita está há dois anos sem ser realizada. Com o objetivo de garantir um auxílio aos fazedores de cultura da região, o tradicional evento ganha três prévias no mês de março.

O projeto “A Rota do Vaqueiro – sabenças e cantorias no Sertão” envolve três municípios sertanejos: Moreilândia (dia 26), Serrita (dia 29) e Exu (dia 31). As prévias acontecem sempre a partir das 19h, em local aberto e com acesso gratuito.

A programação conta com apresentações de trios de forró pé de serra, repentistas, aboiadores, bandas de pífanos, recitais e depoimentos gravados. Os eventos são inspirados na “Rota do Vaqueiro”, que existe há mais de 40 anos. Sempre no quarto domingo do mês de julho, vaqueiros de várias localidades se reúnem em Exu, ao nascer do sol e, pelas veredas da caatinga, fazem o trajeto com destino à Missa do Vaqueiro, em Serrita. 

O projeto está sendo viabilizado com recurso do da Lei Aldir Blanc e apoio das prefeituras e do Governo de Pernambuco. Segundo os organizadores, as festividades devem gerar cerca de 140 empregos e o público estimado é de 3 mil pessoas.

Confira a programação das prévias:

Moreilândia (26)  Local: Praça da Matriz

Banda de Pífanos, Henrique Brandão, Cícero Mendes e Chico Justino, Serginho Gomes, zé Carlos do Pajeú e André Santos, Francisco do Acordeon, Matheus do Acordeon

Serrita (29) Local: Calçadão da Matriz

Banda de Pífanos

Henrique Brandão

Cícero Mendes e Chico Justino, Zé Carlos do Pajeú e André Santos

Vaqueiros da Pisada

Rodrigo Xonado

Serginho Gomes

***Exu (31) Local: Praça da Matriz

Banda de Pífanos

Henrique Brandão

Chico Justino e Antônio Santana, Zé Carlos do Pajeú e André Santos

Memel Carvalho

Cosmo do Acordeon

Tony Monteiro

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MEIO AMBIENTE: NO DIA DA ÁGUA, REGIÃO MAIS ÁRIDA DO PAÍS DÁ EXEMPLO DE CONSERVAÇÃO

No Dia Mundial da Água, quando se multiplicam os alertas pela preservação de um bem natural do qual depende todo tipo de vida, um dos exemplos de administração de recursos hídricos pode vir da região do país em que eles são menos disponíveis.

A professora Irene Maria Cardoso, voluntária do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa (UFV), explica que no Nordeste brasileiro se desenvolve um programa de convivência com o semiárido que evita jogar a culpa em escassez ou na má distribuição de água ao longo do ano, o que não se vê em outros biomas.

Um projeto que se desenvolveu “muito em função de atuações das organizações da sociedade civil na Articulação do Semi Árido (ASA), com apoio de políticas do governo federal até 2018”, explica Irene Cardoso. A ASA tem um trabalho importante articulado de coleta de água da chuva, tratada para que possa servir para pessoas, animais e plantas.

“Não vejo em outros biomas brasileiros – amazônia, cerrado, mata atlântica, pampas –, um programa com tamanha envergadura. O cerrado, por exemplo, é nossa caixa d'água, no Brasil. É extremamente importante para o abastecimento de nossos principais rios. Mas não vejo um programa governamental que cuide do cerrado. O que se vê cada vez mais é apoio ao agronegócio”, avalia ela. E compara: “A mata atlântica levou 500 anos para ser destruída; o cerrado levou 20. As ações são isoladas e, pelo contrário, vemos no governo federal um desmonte de todas as políticas de cuidado com o ambiente”, afirma

A agrônoma, doutora em ciências ambientais e presidente por quatro anos da Associação Brasileira de Agroecologia avalia que há ações para cuidado com as águas nas diferentes esferas de governo (federal, estaduais e municipais), mas avalia que são “pouco articuladas”. 

“É preciso pensar a forte relação entre água, biodiversidade, solo e ar. Estão conectados. Não adianta pensar em ação em um desses componentes sem pensar no outro.” O solo, explica ela, purifica a água, exerce função de um filtro que abastece os mananciais e nascentes, e estes abastecerão os rios. É como se a nascente fosse uma torneira, mas a caixa d'água é o solo, que precisa estar protegido, coberto, estruturado, preservando os poros de infiltração da água.

Uma vez sem vegetação, a intensidade de chuvas, principalmente nos trópicos, desagrega as partículas, que são carregadas pela enxurrada, causando erosão. Esse material vai para os rios e assoreia também nascentes. “Precisamos que a água caia e se infiltre, e para isso o solo precisa estar protegido, coberto”, explica a especialista. É preciso cuidado com uso de máquinas que compactam os terrenos, assim como as patas do gado, quando a pastagem não é bem tratada.

A vegetação é a proteção, e um solo poroso abriga uma comunidade de seres escondidos, que precisa de alimento. “Vida no solo é como gente, come as mesmas coisas, mas processadas de outras formas. Vivem de matéria orgânica, pode ser fruto, folha ou galhos podres. Então essa vida no solo precisa ser alimentada.” A vegetação também protege dos fortes raios solares, que esterilizam a terra. “Cuidar da água é também ter cuidados com o solo, a vegetação e com o ar.”

RETORNANDO AO CAMINHO DA ROÇA: Irene Cardoso defende que a contribuição para uma qualidade ambiental melhor passa por “consciência política, porque políticas ambientais, cuidados com meio ambiente e fortalecimento das instituições que cuidam do meio ambiente não caem do céu. Precisamos entender que é preciso atuar politicamente se quer proteger o ambiente. Isso é política pública e depende de quem está nos governos. Tenho que procurar saber o que está acontecendo, interagindo e participando da vida política do país, antes durante e depois de eleição.

Mas atitudes “que parecem pouco” também podem fazer a diferença. A começar por se pensar de onde vem o alimento, quem produz, como é produzido. Entender que quem compra produto de um agricultor familiar, que não usa produtos químicos, está ajudando a proteger as águas. “Reaprender o caminho da roça pode ser, inclusive, mudar para a roça, mas também reconhecer, valorizar respeitar quem mora lá e cuida da sua água. E conhecer como é produzido, beneficiado e comercializado seu alimento”, afirma Irene.

Onde dispenso minha água? A professora da UFV lembra ainda que as águas usadas em ambiente doméstico podem ser reutilizadas. “Se tenho condição de separar as águas cinzas (de chuveiro, de pia de cozinha), essa água tem um tratamento mais fácil, pode servir de irrigação, passando por pequenos poços que melhoram sua qualidade”, explica.

Águas de vaso sanitário, mais sujas, podem ser conduzidas a fossas biodigestoras de fácil construção e manutenção em pequenos espaços. “Não se deve pensar que só governos precisam tratar a água em grandes usinas. Enquanto o Brasil importa mais de 90% do potássio, mais 70% nitrogênio, mais de 50% do fósforo que utiliza, a gente joga nossos resíduos, que podem alimentar o solo, para poluir as águas.”

Segundo a Copasa, o número de domicílios atendidos com disponibilidade de rede de distribuição de água na área de concessão da empresa e da Copanor é de 5.496.056, o que representa 99,4% dos imóveis residenciais das cidades atendidas pela empresa, contemplando aproximadamente 11,8 milhões de pessoas. Os domicílios atendidos com disponibilidade de rede coletora e tratamento de esgoto na área de concessão são 3.221.654, o que representa 71,9% dos imóveis residenciais das cidades atendidas pela empresa, contemplando 8,4 milhões de habitantes.

Desde 2017, a companhia desenvolve o Pró-Mananciais, “visando proteger e recuperar as microbacias hidrográficas e as áreas de recarga dos aquíferos utilizados na captação de água para tratamento e distribuição ao público”. “A atuação socioambiental da Copasa é pautada na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), em seus respectivos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e nos dez princípios do Pacto Global. O Pró-Mananciais integra o ODS 6 – Água e Saneamento, que tem entre suas metas melhorar a qualidade de água dos corpos d'água, apoiar e fortalecer a participação das comunidades locais para melhorar a gestão da água e do saneamento”, informa a empresa.

POUCA ÁGUA MUITA DEMANDA: A importância da água para o planeta é inquestionável. Qualquer organismo na Terra é composto em sua maioria pelo líquido. Para ajudar a conservá-lo, em 22 de março de 1992 a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Dia Mundial da Água. É um esforço da comunidade internacional para colocar em pauta questões essenciais que envolvem os recursos hídricos.

Estima-se que 97,5% da água existente no mundo seja salgada, portanto não é adequada ao consumo humano direto nem à irrigação de lavouras. Dos 2,5% de água doce, a maior parte (69%) é de difícil acesso, pois está concentrada nas geleiras, 30% são águas subterrâneas (armazenadas em aquíferos) e só 1% se encontra nos rios e outros mananciais de superfície. Logo, o uso desse bem precisa ser pensado para que não prejudique nenhum dos diferentes usos que ela tem para a vida humana.

A água não está limitada às fronteiras políticas dos países, razão pela qual quase metade da superfície terrestre é conformada por bacias hidrográficas de rios compartilhados por duas ou mais nações. O Brasil compartilha cerca de 82 rios com países vizinhos, incluindo importantes bacias como a do Amazonas e a do Prata, além de sistemas de aquíferos Guarani e Amazonas, segundo a Agência Nacional das Águas (ANA).

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