COMISSÃO PASTORAL DA TERRA JUAZEIRO COMPLETA 45 ANOS SEMEANDO ESPERANÇA

 Nesta sexta-feira (12) a Comissão Pastoral da Terra (CPT) da Diocese de Juazeiro (BA) celebrará 45 anos de serviço e missão. Criada em 1976 pelo então bispo Dom José Rodrigues, a CPT continua até hoje na defesa da terra e territórios, sendo presença solidária junto aos camponeses e camponesas da região. 

Para celebrar essa longa caminhada, a Pastoral irá realizar o Seminário “CPT Juazeiro: 45 anos Semeando Esperança”, que acontecerá na Casa Dom José Rodrigues, localizada no Bairro Piranga, das 9h às 18h.

O evento abordará a história e memórias da CPT, desde a sua criação aos desafios atuais. Na época em que a comissão foi criada, o Brasil vivia em plena Ditadura Militar. No Vale do São Francisco, poucas famílias dominavam os poderes políticos e econômicos. A região era marcada também por um grande número de posseiros/as e lutas pela posse da terra, que foram intensificadas com o início da construção da Barragem de Sobradinho. A obra realocou quatro municípios e expulsou 72 mil pessoas de suas casas. Sem organizações formais, as comunidades eram obrigadas a criar alternativas de resistências.

A CPT buscou ser presença junto às populações atingidas pela Barragem de Sobradinho e, posteriormente, por outras barragens, grilagens de terra e projetos de irrigação. Também apoiou as comunidades na luta pela água/convivência com o Semiárido, e a se apropriarem de suas organizações – até então dirigidas por chefes políticos locais – e na criação de organizações e movimentos para o fortalecimento das lutas na defesa dos direitos.

Nesses 45 anos, a Pastoral da Terra tem apoiado as lutas das mulheres e homens do campo, das comunidades tradicionais de fundo de pasto, quilombolas, ribeirinhos/as, atingidos/as pela mineração e empreendimentos de energia, e atuado na defesa do rio São Francisco e no cuidado da Casa Comum. A comissão tem sido também presença marcante nas lutas por direitos e vida digna, valorizando o protagonismo dos/as camponeses/as, das mulheres e juventudes.

Programação: Respeitando os protocolos de prevenção à Covid-19, o evento reunirá trabalhadores/as rurais, representantes de organizações camponesas e entidades parceiras que fizeram e fazem parte da história da CPT e das lutas pela terra e território na região. Também na sexta, às 16h, acontecerá uma live que será transmitida pelo canal do YouTube e Facebook da CPT Bahia.

 A live contará com celebração eucarística, presidida pelo bispo diocesano Dom Beto Breis, além de apresentações culturais e participações musicais de Roberto Malvezzi (Gogó) e Manassés.

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CANTOR E COMPOSITOR DIJESUS SANFONEIRO: OS SONS EM HOMENAGEM A LUIZ GONZAGA REI DO BAIÃO

O caminho que liga Exu, Terra de Luiz Gonzaga ao Crato, Ceará, lugar onde nasceu Padre Cícero é a via das escolhas, das encruzilhadas, da fé, misticismo, trabalho e dons. As paisagens agem e ardem em eco.  Quais mãos trabalharam na confecção desse origami? 

Nesta planície sem fim de cores e sons nasceu, exatamente na divisa do Exu/Crato, na Serra do Araripe,  no dia 5 de junho de de 1942, Dijesus Evaristo de Oliveira.

A história conta que para conseguir o primeiro instrumento, uma sanfona teve que trabalhar muito no roçado. A idade entre 8 e 16 anos. A inspiração veio da tradição familiar (Mauro Sanfoneiro, toca zabumba, contrabaixo, bateria, guitarra), José Evaristo-cantor, percussionista e toca violão e está aprendendo tocar sanfona; Antonio, Everaldo e as irmãs,  todos apaixonados por sanfona, roda de coco e quase vidência mística dos benzedores que vivem escutando em cada galho de flor uma música se bulindo/movimentando.

O mundo musical e o respeito pelo ritmo sertanejo que não pode negar a raiz de Luiz Gonzaga e a rebeldia revolucionária de Barbara de Alencar,  o chamam Dijesus Sanfoneiro. Filho de Evaristo Antônio de Oliveira e Maria Clara de Jesus. São 79 anos de muito trabalho e respeito pelo som, ritmo, harmonia e melodia. Compositor, cantor e poeta Dijesus Sanfoneiro já gravou 6 CdS.

A grandeza humana de Dijesus para os amigos é recíproca a sua humildade. Simplicidade que garante a admiração de amigos e pesquisadores da música brasileira. Dijesus é um dos poucos que desfrutou dos bons dias, boa tarde e boas noites do rei do baião, Luiz Gonzaga.

Apertar a mão do Rei Luiz Lua Gonzaga foi um presente para Dijesus que começou tocando forró nos terreiros de chão de barro batido e também nas poeiras sertanejas, qual diz a canção, no sol e chuva, vida de viajante sanfoneiro tocador de forró e baião.

No próximo dia 13 dezembro de 2021, Dijesus é uma das atrações nas festividades dos 109 anos de nascimento de Luiz Gonzaga. Dijesus todos os anos é presença certa nos festejos de nascimento de Luiz Gonzaga, no Parque Aza Branca, dia 13 dezembro e na festa da saudade, realizada no mês de agosto, data 2 de agosto dia da morte do Rei do Baião.

Dijesus está entre aqueles que traduzem o sentimento maior da sanfona, a capacidade de fazer amigos. Afinal, a sanfona Fascina pela sua sonoridade, pela diversidade de modelos e gêneros, mas seu encanto transcende o poder da música, porque desperta um afeto misterioso. Talvez pelo fato de ficar junto ao coração do sanfoneiro, ou, quem sabe, por ser um instrumento que é abraçado ao se tocar. Ou ainda, por ser um instrumento que respira. O fato é que a sanfona une as pessoas e é amada por todos os povos.

Na referência de Dijesus, imagina um sanfoneiro que possui no registo, o nome da mãe: Maria Clara de Jesus. O caminho do cidadão Dijesus  é iluminado qual o Sete Estrelo numa noite de lua cheia. O Sete-estrelo é um conjunto de sete estrelas que viajam no espaço numa mesma direção e numa mesma velocidade. Na bíblia consta: "procurai o que faz o Sete-estrelo e o Órion...é poderoso para fazer brotar das trevas o raiar do dia, e transformar o dia claro em noite escura; que chama as águas do mar e as espalha como deseja sobre a face da terra...Senhor é o seu nome".

Várias de suas músicas, sucessos foram gravados na voz de Flávio José, Joãozinho de Exu, Zezinho Barros, Jaiminho de Exu e Joquinha Gonzaga, neto de Januário e Sobrinho de Luiz Gonzaga. A letra e melodia de Sonho e Saudade foi elogiada pelo cantor e compositor Gilberto Gil, durante as gravações do Filme, "Eu, Tu, Eles", clássico do cinema brasileiro que completou 20 anos em 2020.

Sonho e Saudade é uma das mais tocadas nos festejos juninos. Confira letra:

Sonhei com Gonzaga tocando sanfona sentado no trono do céu

Quando seu Januário e Santana chegavam Gonzaga parava e tirava o chapéu  e  dizia meu Deus que beleza meu pai que surpresa, não vou suportar

Disse o velho:meu filho,você me ajudava

Mas hoje aqui é que eu vou lhe ajudar

Januário aquele véi macho

Pegou os 8 baixos mandou o forró

E são joão e são pedro,e São Gabriel

Disseram: o céu tá ficando melhor

Severino que nunca foi mole

Arrastou o fole banhado de ouro

Foi aí que Santana e seu Januário

Os dois se abraçaram e caíram no choro

Gonzaguinha chegava animado

Num carro importado, bonito que só

Querendo levar a família pra casa

Pensando que estava no fim do forró

Foi o sonho melhor que já tive

Na vida sofrida que sempre levei

Mas quando pensei que era pura verdade

Meu Deus que saudade, eu acordei. 

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PROCISSÃO DAS SANFONAS DE TERESINA CONQUISTA PRÊMIO PROFISSIONAIS DA MÚSICA

A Procissão das Sanfonas de Teresina conquistou o Prêmio Profissionais da Música (PPM). A solenidade virtual de premiação foi realizada nesse domingo (7), diretamente do Estádio Nacional de Brasília "Mané Garrincha". O PPM é considerado uma das maiores e a mais abrangente das premiações do setor musical do Brasil.

Na 6ª edição do evento PPM, foram premiados os escolhidos das 105 categorias subdivididas nas modalidades Criação, Produção e Convergência. Destas categorias, 97 englobavam os 482 finalistas selecionados entre os 2228 inscritos mais votados em três etapas. 


A Procissão das Sanfonas de Teresina concorreu na modalidade Criação e Categoria 'Som na Rua'.

A edição 2021 contemplou, ainda, 8 categorias com 40 finalistas indicados a partir de 160 indicações feitas por 20 profissionais do Conselho Sensorial do Prêmio Profissionais da Música, criado ao longo da pandemia.

Anualmente realizada em Teresina, a Procissão das Sanfonas, teve em agosto de 2020, pela primeira vez, uma edição virtual. Essa edição concorreu ao Prêmio. O evento, promovido nesse formato devido à pandemia do novo coronavírus, foi divulgado nas mídias sociais da Colônia Gonzaguiana do Piauí, organizadora do evento.

Realizado há 13 anos, o cortejo cultural exalta o legado de Luiz Gonzaga. O evento acontece sempre no dia 2 agosto – data da morte do Rei do Baião. Tradicionalmente, a festividade leva nesse dia, a música nordestina para as ruas do Centro de Teresina-PI. Em 2020, a edição mobilizou músicos, cantores e fãs de Luiz Gonzaga para homenagear também Maria da Inglaterra e Sivuca. Em um videoclipe, os forrozeiros apresentaram "Maria passa na frente". A música homenageava Maria da Inglaterra, compositora piauiense que faleceu em 2020, e o multi-instrumentista Sivuca, que completaria 90 anos, à época. A composição do músico Vagner Ribeiro, criada especialmente para a Procissão, com arranjos de José Roraima, falava ainda da saudade dos encontros entre as pessoas.

O professor Wilson Seraine, um dos organizadores da Procissão, fala sobre a importância da Premiação. "Este Prêmio revela a dedicação da Colônia Gonzaguiana para adaptar e manter suas atividades culturais, em meio às restrições sanitárias impostas pela pandemia. É, também, um reconhecimento nacional de um trabalho realizado há 13 anos em nosso Estado. Agradeço a cada pessoa que votou e participa dos eventos que promovemos. Agradeço ainda a todos que integram a Colônia e contribuem para nossa missão de fortalecimento das tradições culturais nordestinas", pontua Wilson Seraine.

A Colônia Gonzaguiana do Piauí é um grupo formado por fãs do Rei do Baião, músicos e pesquisadores. As manifestações realizadas pela Colônia já integram o calendário de atividades culturais do Piauí.

Nesta edição do Prêmio, ao slogan "Do Analógico ao Digital, Viva o Direito Autoral", somou-se outro por força das circunstâncias: "De Brasília para o Mundo, 100% online".  O PPM de 2021 homenageou três personalidades femininas. Representando os pilares Produção e Convergência, a 1ª noite de premiação destacou a contribuição da instrumentista e professora de música Odette Ernest Dias e da radialista/jornalista Patrícia Palumbo para a música brasileira. A segunda noite de premiação, representando o pilar Criação, homenageou a cantora Cássia Eller. 

O público do evento, formado pelos mais diversos agentes, artistas e profissionais do mercado que envolvem a música, participou de uma extensa programação entre os dias 3 e 7 de novembro. (Fonte: Piauí Hoje) 

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LUIZ DO HUMAYTÁ LANÇA PROJETO SOM NA CAATINGA COM PARTICIPAÇÃO ESPECIAL DO SANFONEIRO CICINHO DE ASSIS

Neste sábado (06) de novembro, o cantor, compositor, poeta Luiz do Humaytá iniciou o Projeto Som na Caatinga. Com a participação especial do sanfoneiro Cicinho de Assis, a primeira apresentação aconteceu na Fazenda Jaquinicó (Casa de Gerôncio).

O projeto prossegue neste domingo (7) na Fazenda Bom Socorro (Casa de Luiz), também na zona rural Curaçá, Bahia.

Luiz do Humaytá trouxe uma novidade para os fãs e admiradores, ele ampliou o trabalho do cantor que agora pode ser encontrado no canal youTube e spotify, que é o serviço de streaming de música mais popular do mundo.

Luiz do Humaytá completou, em junho de 2021, 10 anos de vida profissional na música. Iniciou sua trajetória em 2011, ao criar a banda Forró Avulso em Salvador. Com essa banda, tocou na noite soteropolitana por 5 anos e também fez apresentações em outros estados, como Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Em 2016, iniciou carreira solo e se mudou para o sertão baiano, onde mora atualmente.

Neste ano de 2021, lançou o oitavo CD da carreira, o álbum Boemia Cult, em que interpreta grandes sucessos já consagrados da música romântica, além de alguns bregas clássicos.

O poeta, que mora na Fazenda Humaytá em Curaçá da Bahia, tem o nome de batismo de Luiz Carlos Forbrig. Quando foi para o sertão, passou a ser chamado de Luiz do Humaytá, contemplando, assim, esta peculiaridade, típica do sertanejo, de incorporar um adjetivo de identificação aos nomes.

O cantador é natural de Jabuticaba Velha, pequeno distrito de Palmeira das Missões, no interior do Rio Grande do Sul. Com os pais Anoly e Guilhermina, aprendeu a veia musical: a mãe era puxadeira dos cantos religiosos na igreja católica e o pai, tocador de gaita de boca.

DISCOGRAFIA CD’s

2012 ‡ Acústico

2014 ‡ Pé de Chão

2015 ‡ Luiz do Humaytá Canta Músicas Gaúchas

2016 ‡ Luiz do Humaytá e Forró Avulso – 5 Anos de Estrada

2017 ‡ Luiz do Humaytá Avulso

2019 ‡ Decanto o Sertão

2020 ‡ Luiz do Humaytá ao Vivo

2021 ‡ Boemia Cult

71 98869-4488 74 99914-8813 Luiz do Humaytá luizdohumayta@gmail.com

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II CAMINHADA DAS SANFONAS ACONTECE NA SEXTA-FEIRA (10), EM EXU PERNAMBUCO

A 2º Caminhada das Sanfonas acontece este ano durante as festividades dos 109 anos de nascimento de Luiz Gonzaga. A II Caminhada das Sanfonas tem o objetivo de manter viva a memória de Luiz Gonzaga e o instrumento que o imortalizou para ser Rei do Baião: a sanfona. 

Para isso, a produtora cultural, Marlla Teixeira, dará mais uma vez aos sanfoneiros, a oportunidade de mostrar o trabalho deles e, consequentemente, prestar diversas homenagens ao Mestre Lua.

A II Caminhada das Sanfonas acontece na sexta-feira (10), às 17hs, com concentração na Praça Luiz Gonzaga, centro de Exu.

De acordo com Marlla Teixeira, esta segunda edição marca a retomada do setor cultural e de economia criativa. "A Caminhada das Sanfonas foi criada no ano de 2019, com o objetivo de resgatar e rastrear os sanfoneiros das regiões sertanejas, promovendo a cultura Gonzagueana e suas vertentes", conta Marlla, ressaltando que é um evento gratuito.

A primeira edição reuniu mais de 100 sanfoneiros, de todos os gêneros e faixas etárias, com a participação do Projeto Asa Branca – Escola de Sanfona de Exu. "Na programação de de 2019, contamos com a apresentações do Grupo da Associação de Mulheres As Karolinas, desfile de Vaqueiros encourados e um lanche com comidas típicas para os participantes", diz Marlla.

Este ano o evento fará parte do PRIMEIRO EVENTO-MODELO DE FEIRA DE ECONOMIA CRIATIVA, com exposição de artesanato, declamação de poesia, dança, apresentação cultural e artes de profissionais de Exu, com foco no trabalho manual feito nas associações, e que tenham como fonte de renda primaria. 

A programação seguirá com a 2ª Caminhada das Sanfonas, a 2ª Cavalgada Viva Gonzagão e a Feira de Artesanato das Karolinas. A feira acontece entre os dias 09 e 12 de Dezembro.

Informações: Marlla Teixeira - 87999547737

“A sanfona é um dos instrumentos mais populares do Brasil. Devido a pandemia da Covid 19 e as regras distanciamento social não tivemos a Caminhada ano passado. Portanto este encontro através da caminhada é importante porque possibilita aos cidadãos um tipo de entretenimento que ao mesmo tempo, promove e valoriza nossa cultura”, finalizou Marlla Teixeira.
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LIVRO NARRATIVAS DE AREIA, AUTORA ESCRITORA E MESTRE EM LINGUÍSTICA, JANAÍNA AZEVEDO

As cidades me incomodam desde sempre, mas uma me incomoda mais do que todas. Juntem-se todas as cidades do mundo, inclusive as erguidas por alucinações com drogas ou variação de juízo, as ficções de livros religiosos ou infernais, as desaparecidas ou que aparecerão, as sonhadas nos sonhos noturnos ou matinais, as destruídas pelas forças políticas ou pela guerra, o catálogo de cá e de lá, à frente e por trás dos muros, acima e abaixo dos céus e da terra, nenhuma me incomodará mais que a cidade cujo nome, hoje, agora, me é tão difícil escrever ou pronunciar.

As histórias dessas cidades haverão de ser contadas e anotadas, revistas e ampliadas, selecionadas e inventadas por homens e mulheres que contam ou narram suas próprias histórias. Seus olhos e corpos são feridos e marcados pela luz e pelas trevas, pelo fogo e pelo gelo de seus próprios pelos. Dessa forma, no abissal ano de 1862, uma peste colérica varreu a cidade, dizimou centenas e arrastou outras centenas para o desespero. Semelhante a hoje, quando nos trancafiamos em nossos muros e tetos, abertas apenas as janelas tecnológicas, assim foram aqueles dias, relembrados por Antonio Borges, em sua sala na capital.

Talvez você queira começar a ler essas Narrativas de Areia por A Entrevista, cujo personagem síntese citei no final do parágrafo anterior. Ou talvez você já tenha iniciado a leitura e nem saiba enquanto está lendo esta nota introdutória, em sua primeira frase. Veja: há alguns anos, 1999, no auge de minhas dores mais densas, Janaína Azevedo publicava o seu livro-labirinto Marias. Aquele não era um livro de estreia, era um livro abre-alas. Compreendíamos a reunião de contos como o resultado de algum caminho já percorrido, de alguma estância existente, de uma cidade de letras que se rompia em vida, de um barracão-ateliê onde os maçaricos trabalharam com dedicação extrema.

Mesmo que você tenha lido Orquídea de Cicuta, vou repetir-lhe a máxima: ninguém deve morrer levando consigo uma história. É um imperativo da humanidade contá-las, revelá-las, introduzi-las de volta no ouvido e nos óculos dos vivos, mesmo que nas casas onde sejam lidas ou ouvidas existam mais meninos que esperança. Aliás a esperança é uma luz regente nos leitores. Enquanto eu-menino nutro minhas esperanças no texto de Janaína, assenhoro-me do seu destino de autora afinada, afiada e pronta, no auge da maturidade, carregando o peso da leveza, o fardo recheado de ilusionismos reais.

Não sei se vocês já observaram o vento assoviando onde quer e como quer. Atravessa a mata, não escolhe abrigo, desata-se na chã, redemoinha-se nas tocas, levanta as saias, descobre telhados, surrupia chapéus, faz chover de lado, arranca árvores, soterra monumentos, balança a corda da forca, fere a pele do rosto, assanha os cabelos, espalha papéis, arremessa pássaros, confecciona os argueiros, varre as narrativas, molda a areia. Não há um só homem, nem um só amor, nenhuma distância, qualquer presença ou ausência insensíveis ao vento frio. Mas Janaína o doma. Janaína o aprisiona, magia e aplicação, no timbre de sua letra, no seu espectro vogal.

As duas partes de suas Narrativas de Areia não foram apartadas pela ventania. Foram construídas, primeiro com a compra de uma casa até a demolição de outra. Depois com a reunião das almas mortas e a fera manifesta rompendo a geografia acidentada da cidade, revelando seu corpo feminino e uma cabeça de medusa para tantas significações. O caminho de Janaína tem sido o caminho da fera. Escrever e observar, deixar-se habitar no casario da tradição, observando sua demolição e reinvenção, ler e aprofundar-se na com-tradição histórica de um povoado que se sonhou metrópole e se acordou arrabalde. 

Depois de reler a obra de Janaína Azevedo, desde aquele já citado Marias, premiado e santo, até este que aqui se sopra, fica-me a certeza mais geral: passou da hora de agradecer-lhe a existência. A única letra acesa na noite brejeira, a última bela face no papel dos desterrados, como eu. Parece-me que há um grande circo armado, debaixo do qual um padre sem batina reza a missa do galo. E uma noiva dispara num choro sem fim, testemunhando as melhores histórias que se pode contar no mundo. Obrigado, Janaína, pela grandeza de reunir aqui a areia que o vento carregou vestida de poeira.

*Aderaldo Luciano-Rio de Janeiro, Mestre e doutor em Ciência da Literatura (pandemia do novo coronavírus, 2020)

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ESPECIALISTAS APONTAM CAMINHOS PARA RECUPERAR A EDUCAÇÃO DO PAÍS

Especialistas participantes de audiência pública promovida hoje (5) pelo Senado apontaram alguns caminhos que poderão ajudar o país a superar os efeitos perversos da pandemia da covid-19 na educação do país. 

Na avaliação dos expositores, as deficiências acumuladas mostram não só a desigualdade no ensino do país, mas a necessidade de inclusão social e de revisão do formato adotado para aprendizagem.

Na avaliação da diretora-geral do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Cláudia Costin, antes de tudo é necessário ao poder público, às famílias e a todos envolvidos no processo educativo do país, desenvolver o “sentido de urgência” no resgate das aprendizagens perdidas.

“Vamos parar de mascarar a realidade. Sim, muitas aprendizagens foram perdidas em um ano e meio de escolas fechadas”, alertou a diretora da FGV. Ela acredita que todas as aprendizagens podem ser resgatadas. “Mas isso requer esforços”.

Segundo Cláudia Costin, um passo importante a ser dado é o de tornar as escolas “espaços de aprendizagem colaborativa e de planejamento colaborativo”. 

“Professor aprende mais com outro professor”, disse, enfatizando que isso só será possível se o país “acabar com essa história de professores darem aulas em três ou quatro escolas diferentes”, o que, para ela, inviabiliza o foco na solução dos problemas nas instituições de ensino.

TEMPO INTEGRAL: Cláudia Costin foi enfática ao defender que as escolas passem a funcionar em tempo integral e em turno único, a exemplo do que já é praticado em vários outros países. “Aulas se dão em turno único de até 9 horas. Precisamos avançar nessa direção, com professores tendo dedicação exclusiva a uma única escola, de forma a não ficarem rodando em escolas. Professores precisam de tempo para um certo estudo dirigido e para uma certa orientação àqueles alunos que não têm ambiente em casa para recuperar a aprendizagem”.

Ela disse que as salas de leitura tendem, a partir das constatações nesses tempos de pandemia, a serem mais do que bibliotecas, transformando-se em espaços de multimédia. “Laboratórios equipados, porque não há como ter ensino significativo sem experimentação”, defende.

A diretora da FGV ressaltou que a defesa do ensino integral é ainda mais fundamental se for levado em conta que a educação brasileira não estava bem antes mesmo de a pandemia chegar, em especial com relação à alfabetização. Segundo ela, “54,73% dos estudantes acima dos 8 anos estão em níveis insuficientes de leitura, o que indica que provavelmente a abordagem, embora bonita e poética, não estava dando certo”.

“Além disso, apenas 10,8% dos jovens do terceiro ano do ensino médio aprenderam o suficiente em matemática; e 37,1% em português. Metade dos jovens brasileiros de 15 anos não têm nível básico em proficiência em leitura e interpretação de texto, o que é fundamental para qualquer profissão e para o exercício da cidadania”, acrescentou. E defendeu que não basta melhorar a aprendizagem, mas que “é importante que a desigualdade educacional brasileira, que já é muito grande, não cresça mais ainda, mas que diminua”.

CULTURA DIGITAL: Cláudia Costin lembra que a “cultura digital” já vinha sendo trabalhada por vários países antes mesmo da pandemia. “Nesse sentido, a pandemia serviu de acelerador aqui no Brasil e acabou entrando na base nacional docente. O ensino híbrido também trouxe algumas aprendizagens importantes, apesar de não ser perfeito ainda”, disse.

A professora defende que educadores trabalhem o protagonismo do aluno, ensinando que é ele [o aluno] o “empreendedor da própria vida, além de um portador de sonhos”, e que o que ele aprende na escola “é fundamental para a construção do seu projeto de vida”.

“O aluno tem de ser formado para uma autonomia em que ele se sinta não alguém que deva se beneficiar de dependência, mas um ser independente e, ao mesmo tempo, solidário e colaborador para uma cidadania global. Nesse sentido, vai haver uma transformação importante na profissão de professor, inclusive com relação a um ensino híbrido”.

Nesse formato, ela disse que o professor pode preparar vídeos ou selecionar “entre os professores youtubers da internet” vídeos com os conceitos a serem ensinados.

“Ele então usa o melhor do seu talento na sala de aula – e no conceito de sala de aula invertida – para ensinar o aluno a aplicar esses conceitos que aprendeu em situações de realidade. Nesse sentido, o professor vai deixar de ser percebido como mero fornecedor de aulas expositivas e ser cada vez mais um assegurador de aprendizagem”, acrescenta.

AVANÇOS: Cláudia Costin disse que alguns avanços foram obtidos na história recente do país, o que, segundo ela, pode ser visto com otimismo. “Não há só dados de copo meio vazio. Há dados de copo meio cheio também. Houve avanços no Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica], índice que mede a qualidade da educação no fundamental 1 a cada edição do Saeb [Sistema de Avaliação da Educação Básica] desde 2005. A gente vem melhorando, ainda que em um ritmo que eu gostaria que fosse mais acelerado”, disse.

Ela acrescenta que no fundamental 2 o país apresentou melhoras nas últimas cinco edições. “E na edição de 2019 demos um salto no ensino médio. Melhoramos por dois motivos. Um deles, por causa das melhoras que foram sendo progressivamente introduzidas no ensino fundamental”, disse e citou medidas como a de colocar um ano a mais no fundamental e a de passar a aliar a aprendizagem com outras medidas. “A expansão das escolas em vários estados também ajudou a melhorar”.

A especialista disse que o país está em um “patamar baixo” no ensino médio, já que nem todos conseguem acessá-lo ou concluí-lo. Ela, no entanto, vê alguns sinais positivos com relação a essa etapa de aprendizagem. “Em 2020, por exemplo, 69% dos jovens de 19 anos tinham concluído o ensino médio, o que é uma evolução na comparação com 2012, quando eram apenas 52%”.

DIAGNÓSTICOS: A especialista em gestão escolar Shirley Ana Dutra corroborou com as avaliações feitas pela diretora da FGV, em especial no sentido de que a desigualdade social foi determinante para a forma como a pandemia afetou as pessoas, o que levou à necessidade de se “reinventar e descobrir novos caminhos” para a educação brasileira.

Para tanto, ela disse ser necessária a preparação de um diagnóstico sobre como professores e alunos estão nesse momento de retorno às escolas. “Esse diagnóstico é determinante para o novo fazer pedagógico”, disse.

“Diante dessas situações [decorrentes da pandemia], estamos todos doentes emocionais. É uma carga emocional muito forte, que poucos conseguem carregar em meio a tantas mudanças abruptas e inesperadas”, disse. “Mas os professores da rede pública são muito criativos e têm habilidade fora do comum. Mas precisamos cuidar do professor, assim como precisamos cuidar dos alunos”, acrescentou.


Shirley Dutra avalia que “mais do que nunca a educação está defasada em todos os sentidos: tecnologicamente, sem recursos e sem humanização. Vimos, no decorrer da pandemia, o quanto nossos alunos não conseguem se manter sozinhos fora da escola. E vimos o quanto a presença do professor é essencial”.

“Nossos alunos foram atingidos pelo déficit de aprendizagem e também de alimentação. Isso é real! Foram atingidos pela falta do convívio social e por problemas de saúde física, mental e emocional, que contribuem ainda mais para outras crises, como a da saúde, porque hoje professor e aluno estão adoecidos, e o sistema de saúde não tem como atender. Professores do DF [Distrito Federal], por exemplo, sequer têm plano de saúde. Então estão sem acompanhamento. É uma realidade muito triste”.

ORÇAMENTO: O presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Luiz Miguel Martins, disse que os desafios para a retomada das aulas presenciais de maneira híbrida, e para a adoção de medidas visando a superação das deficiências acumuladas, envolvem “bilhões em orçamentos que não são cumpridos e a implementação do Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação]”.

“Precisamos discutir a aprovação do Sistema Nacional de Educação, que é fundamental, e o cumprimento das metas e estratégias dos planos decenais. E, de fato, é um absurdo e desumano aceitar jornadas de mais de 60 horas para professores”, defende. (Fonte: Agencia Senado)

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