DOUTORA CAROLINA MARIA DE JESUS. ELA ERA NEGRA, CATADORA DE LIXO, TRÊS LIVROS PUBLICADOS

Ela era negra, miserável, catadora de lixo, escritora, três livros publicados, quarto de despejos, provérbios, pedaços de fome, três filhos, agora é doutora  Carolina Maria de Jesus, doutora honoris causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, título póstumo, quarenta anos depois de sua morte. Somente reconhecida agora pela sua luta antirracial, conforme anúncio da Assessoria de Imprensa da instituição.

A honraria é concedida independentemente do grau educacional do homenageado, considerando a sua contribuição em área de decisiva importância do país. Carolina foi um fenômeno editorial da década de 1960 quando a Editora O Cruzeiro, do grupo Diários Associados, publicou seu livro Quarto de Despejo, onde escreveu o dia-a-dia de uma favelada catadora de lixo para sobreviver com as filhas.

A publicação se deu por indicação do jornalista Audálio Dantas, mais tarde presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, com intensa atividade no movimento das diretas já, mas falecido no  ano passado, vítima de infarto. Na época, Audálio era repórter da Revista Cruzeiro, responsável pela cobertura jornalística das favelas.

Um livro comovente e angustiante que, imediatamente, vendeu milhares de exemplares em todo o país, chamando a atenção, sobretudo, para a dor de uma família faminta sob a liderança de uma mulher negra, magra e analfabeta, vivendo numa sociedade que exclui e torna invisível um grupo familiar sem direitos a alimentação, educação e saúde.

Além disso, o livro foi traduzido para muitos países, o que animou a autora a escrever outros textos, desta vez sem a repercussão anterior, até porque o impacto já fora quebrado. Mesmo assim, a Editora Ática lançou mais uma edição, provocando ainda uma forte emoção.

Tudo isso, porém, continua ainda hoje, mesmo com o reconhecimento  da luta de Carolina Maria de Jesus, com o título também não convencional cujos efeitos somente serão visíveis mais tarde. Esta é uma luta presente, aliás, no romance Torto Arado, que está produzindo grande repercussão entre críticos e leitores atualmente.

Raimundo Carrero-Membro da Academia Pernambucana de Letras

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FABIANA SANTIAGO LANÇA PALAVRA DE MULHER

Depois do imenso sucesso, no mês passado, com a música 'Deixa", que viralizou nos serviços de streaming Spotify, Deezer, Apple Music e muita gente adicionou à sua playlist, a cantora e compositora Fabiana Santiago, surpreende de novo com mais um lançamento.

A partir da próxima sexta-feira (5), essa artista que já está na estrada há 20 anos, volta a florescer nordestinamente na música brasileira com o lançamento do EP e segundo single 'Palavra de Mulher'.

Composição feita em parceria com Zebeto Correia e Caio Junqueira Maciel, a nova música fala de uma mulher que é protagonista da sua história, "desmistificando o espaço de deusa em que a mulher é colocada, questionando o cotidiano e as lutas conquistadas com suavidade e coragem, de forma poética e literária", conforme comenta Fabiana Santiago.

Para o lançamento de 'Palavra de Mulher' a produção está preparando uma campanha com ações em mailings para blogs, sites, jornais, rádios e TVs do Nordeste e do mundo, além de um trabalho intenso nas redes sociais da artista e de amigos. Serão 9 dias de campanha de pré-save e 15 dias de campanha após o lançamento. E como reforço adicional, 'Palavra de Mulher' contará com um vídeo clipe sendo lançado, convenientemente, no dia 08 de março em alusão ao Dia Internacional da Mulher.

Fabiana Santiago é licenciada em música e bastante conhecida do público no Vale do São Francisco.Já conquistou vários prêmios em festivais, abriu e participou de shows de Gil, Ana Carolina, Vanessa da Mata, Elba Ramalho e Alceu Valença.'Palavra de Mulher' é a segunda faixa das 4 que a cantora e compositora lançará ainda nesse trimestre. (Fonte: class comunicação e marketing)


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TARCÍSIO ENCANTOU-SE? TEXTO DE MAURICIO FERREIRA

Era o tempo da jovem guarda... do iê-iê-iê. Eu era menino e Tarcísio já tocava no Conjunto musical “Os Geniais” – que marcou época em Ouricuri. Ele foi o nosso primeiro contato com a figura e a mística do artista que lança moda e descortina as sensações de novas tendências.

Numa cidade pequena, afastada dos grandes centros e com fraca ressonância dos meios de comunicação de massa, no final dos anos 1960, a meninada tinha que se virar pra encontrar os seus ídolos. 

Pra boa parte da cidade, Tarcísio era a imagem e trazia a sonoridade dos novos tempos, que só conhecíamos pelo rádio e pelos escassos LPS que sacudiam a poeira das sisudas – e poucas – radiolas que enfeitavam as salas das casas privilegiadas da cidade.

Era um rapaz que, como poucos, amava a vida e deixava os cabelos e a mente voarem aos ventos da moda do seu tempo. Irreverente e carismático, tocava violão e circulava com desenvoltura em todos os meios. Tarcísio trazia nas veias o fogo da inquietação juvenil.

De família humilde, e até estigmatizada, pela forma liberal e sem falso pudor, com que levava a vida, Tarcísio despontou entre os outros jovens que aderiram, na cidade, ao novo modo de diversão e comportamento; foi ele que trouxe a mística do “jovem rebelde” pra perto da gente.

Quem, como nós, tinha Tarcísio, se sentia compensado pelo distanciamento para com os grandes artistas da nova cena musical do país, como Roberto Carlos, Jerry Adriani, Wanderley Cardoso... que pairavam congelados nas inalcançáveis imagens das capas dos LPS; sendo idolatrados como se fossem seres extraordinários – habitantes de uma outra dimensão, muito superior à nossa. 

Tarcísio estava ali, e diariamente se dava o fenômeno de um “santo de casa” que fazia e acontecia no próprio terreiro. Gozava da admiração dos meninos – que mitificavam as suas proezas reais e imaginárias –, de unânime cumplicidade no meio da rapaziada e descontraída aceitação por grande parte da sociedade local.

Não havia “curriola” no patamar ou na praça da igreja; no Palanque; no Caramanchão e nos bancos da Praça dos Voluntários; nos bares de Boemia, de Dermeval, de Chiquinho Américo... em que Tarcísio não esbanjasse a voz da sua espontaneidade e a alegria contagiante do seu violão.

Ele chegou a fazer parte do grupo de artesãos da Sapataria de Nozinho Siqueira, onde o seu criativo bom humor se encaixou no clima de “pura malícia”; cravado, ali, pelos sapateiros. Encontrava, ainda, em Paulo Siqueira – filho do proprietário – um dos mais preciosos camaradas para as noitadas boêmias, que ele, sem embaraço, também encarava.

Em muitas ocasiões também se inseriu, o nosso inquieto personagem, em homéricas farras diurnas que incendiavam os bares – com um vendaval de empolgada nostalgia; tendo ficado, algumas delas, nos anais boêmios da cidade – como a da comemoração da final da Copa de 1970, no Bar de Demerval, em que ele acompanhava ao violão o coro de vozes embriagadas, quando no final de “Senhor da Floresta”, o mundo quase veio a baixo com o estrondoso aplauso: “Muito bem cumpadre Erasmo!...”

E pra tornar ainda mais emblemática a sua passagem por uma época da cidade e das nossas vidas, um certo dia, como que por encanto, Tarcísio simplesmente desapareceu; furtiva e misteriosamente, como aconteceu com outros obstinados sertanejos, apenas “anoiteceu e não amanheceu.”

Ficou, na cidade, um grande vazio e um vendaval de especulações sobre o que teria levado uma pessoa tão leve e, até onde se sabia, sem nenhum conflito de relacionamento, a um ato tão drástico; gerando um caloroso “bafafá” pela surpresa e pela forma inusitada da sua partida

Foram muitas – e continuam até hoje – as não confirmadas versões sobre a evasão de Tarcísio. O imaginário popular se esbalda em estórias, cada uma mais fantasiosa do que a outra, sobre o seu paradeiro e trazendo dramáticos supostas confissões do nosso marcante personagem. 

Em uma dessas ele teria sido encontrado por um caminhoneiro, no interior de Minas Gerais; em outra, nos confins de Goiás... Relatos também variados e cíclicos davam conta de, o precioso representante de uma época da nossa cidade, ter sido contactado por alguém de Ouricuri, nas ruas de São Paulo...

Na verdade Tarcísio nunca foi embora. O som do seu violão nunca deixou de ressoar na nossa memória mais sensível. Ele sempre terá os cabelos ao vento, os trajes extravagantes, a irreverência à flor da pele... no plano atemporal da cidade que trazemos em nós.

* Texto: Escritor, fundador Sebo Reboliço-Maurício Cordeiro Ferreira.

Foto: Em pé: Tarcísio, Lael e Baixinho (Adelson).  Sentados: Didigo, Cicinho, Alcides e Vavá.

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PETRUCIO AMORIM: O POETA DO FORRÓ

Nascido em 25 de janeiro de 1959 com a saúde mais frágil do que o normal para um bebê, o músico Petrúcio Amorim foi assim batizado por conta da fé de sua mãe. 

Ao receber em casa uma desconhecida que ficou comovida com a falta de recursos do seu lar, em Caruaru, ela ouviu a história do Menino Petrúcio que, depois de aceito em um convento de padres capuchinhos de Maceió, havia levado fartura para o lugar. 

Na esperança de que o milagre se repetisse também em sua família e de quebra ainda trouxesse vitalidade para o filho, Dona Hermínia nomeou o caçula da mesma forma, sem imaginar, que ele teria vigor o suficiente para se tornar um dos maiores músicos de Pernambuco.

Sessenta e dois anos depois, o sucesso de Petrúcio Amorim pode fazer os mais religiosos acreditarem no triunfo da homenagem.

 A trajetória marcada pela infância pobre, passando pela superação dos obstáculos até chegar ao sucesso – com músicas que hoje já fazem parte do inconsciente coletivo brasileiro, como “Tareco e Mariola”, “Cidade Grande” e “Filho do Dono” –é narrada na biografia “Petrúcio Amorim – O Poeta do Forró”, de Graça Rafael. 

Também natural de Caruaru, Graça Rafael pesquisa e acompanha o cenário do forró com intimidade e paixão, por isso, desde 2004 já vinha desenvolvendo a biografia do músico.

 “À medida que o tempo passava, fui me afeiçoando e gostando de todos os cantores que faziam parte da história do forró. Fiquei amiga de muitos. Daí minha aproximação com Petrúcio”, explica ela sobre a liberdade para tratar até mesmo de temas delicados da história do compositor. “Em todo esse período, nunca tivemos nenhum desentendimento, nenhuma divergência. É uma biografia totalmente autorizada”, completa.

"Ele, Petrucio Amorim contou toda a história, sem qualquer reserva", diz a autora, que diz ter se emocionado diversas vezes enquanto o músico recordava sua trajetória, desde a infância humilde. "Teve dias que a gente chorou junto", lembra, sem revelar em quais passagens isso ocorreu. 

Filho de um marceneiro e uma costureira, Petrúcio nasceu bastante debilitado, uma gestação conturbada e complicações decorrentes, provavelmente, da subnutrição da mãe, Dona Hermínia. O pai, Antônio, abandonou a família quando o garoto ainda era pequeno, agravando ainda mais a situação financeira no lar.

Aos 17 anos, saiu da modesta casa na Rua do Vassoural, no bairro do Alto do Vassoural, em Caruaru, e partiu para o Recife, para trabalhar como ajustador mecânico, ofício aprendido em curso profissionalizante do Senai, onde também chegou a integrar o time de futsal. 

Em 1980, deu os primeiros passos da carreira musical, quando conheceu Jorge de Altinho e apresentou algumas composições próprias, que seriam depois gravadas pelo forrozeiro, então um estreante. Cinco anos depois, Petrúcio Amorim lançaria o álbum inaugural, Doce pecado, que mesclava rock, xote, baião e afoxé.

Influenciado por músicos como Elba Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Fagner e Zé Ramalho, Petrúcio Amorim teve melhor sorte como compositor, sobretudo a partir dos anos 1990, quando teve músicas gravadas por bandas como Mastruz com Leite, Cavalo de Pau e Limão com Mel. O sucesso na voz de outros artistas ajudou a engrenar a carreira de intérprete na metade daquela década.

"É quase como uma regra, todas as músicas dele contam uma história", diz a autora sobre o caráter autobiográfico das composições do forrozeiro, que ela considera com diferencial e razão para despertar emoção entre os ouvintes.

O livro  conta com depoimentos de familiares, amigos e artistas, além de prefácio escritos por Santanna, o Cantador, e Maciel Melo.

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PRODUÇÃO MUSICAL DO SERTÃO É TEMA DA TERCEIRA TEMPORADA DO PODCAST CALUMBI

Diferentes sons, ritmos, melodias e harmonias fazem parte da produção musical do sertão, tema da terceira temporada do Podcast Calumbi. Intitulada "A Música do Sertão", a nova temporada do programa reúne músicos, pesquisadores e cordelistas, memória e contemporaneidade. Os episódios serão veiculados a partir do dia 06 de março, sempre aos sábados, em diversas plataformas de streaming, tais como: Spotify, Deezer, Amazon Music, Pocket Casts, Google Podcasts e Youtube. 

Após apresentar as origens da cidade de Senhor do Bonfim, localizada no norte da Bahia (primeira temporada); e a história dos municípios que compõem o Território Piemonte Norte do Itapicuru (segunda temporada); o Podcast Calumbi propõe agora fazer uma ponte entre os músicos locais e os consumidores em potencial. Para isso, contará a história por trás da produção musical do sertão baiano, região que, apesar de representar 70% do território do estado e 48% da sua população, ainda se vê pouco representada nas diferentes mídias. 

Com seis episódios, a terceira temporada apresentará manifestações populares, grupos e compositores que movimentam a música e fortalecem a cultura da região. Os episódios abordarão os seguintes temas: As Calumbis (nome pelo qual são chamadas as bandas de pífanos na região); O Samba de Lata de Tijuaçu; Os Sanfoneiros; Grandes Compositores; As Filarmônicas; e A Música Autoral Contemporânea.  

A ideia de abordar a música do sertão surgiu após a realização de uma pesquisa de mestrado feita em 2019 pela idealizadora e produtora cultural do projeto, Adriana Santana, junto ao Programa Multidisciplinar de Pós-graduação em Cultura e Sociedade (Póscultura/UFBA). O estudo voltado ao consumo cultural dos jovens de Senhor do Bonfim identificou que 91% dos participantes da pesquisa utilizavam aparelhos eletrônicos para ouvir música. 

A produtora cultural expõe que a partir desse dado, surgiram algumas reflexões "Esses jovens consomem música produzida localmente? E, se não o fazem, isso se justifica por 'gosto pessoal' ou se deve à falta de oferta nas rádios e nos tocadores de streaming? Sabemos informações sobre os artistas da região e onde encontrar sua música?". 

Assim, a partir dessas indagações, a terceira temporada do Podcast Calumbi nasce para apresentar os diversos ritmos e melodias produzidos na cena musical do sertão baiano, aproximando os jovens da cultura regional. 

"O Podcast Calumbi pretende também expandir a percepção do público e da crítica a respeito das nuances que assumem a música produzida no sertão da Bahia, não para negar ou reduzir a importância de suas características mais difundidas (como o forró-pé-serra), mas para apresentar também outras autorias e arranjos", destaca Adriana. 

A terceira temporada do Podcast Calumbi tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal. 

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AS ARARINHAS AZUIS E A BUROCRACIA DO MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

Quais são as ações para a reintrodução das Ararinhas Azuis Cyanopsitta spixii) na Caatinga de Curaçá, Bahia, e o que ainda precisa ser feito para concretizar sua volta à natureza?.

Este e outros questionamentos são e estão difíceis de obter devido a burocracia e a falta de diálogo do Ministério do Meio Ambiente. A redação do BLOG NEY VITAL apesar dos emails enviados para Brasília e as solicitações sobre o andamento do processo da reintrodução da Ararinha Azul ao sertão sempre esbarra na demora das respostas. 

Emails e envios de watSapp, não são respondidos. Tudo é centralizado em Brasília.

Uma outra questão levantada pela reportagem do BLOG NEY VITAL, enviada ao Ministério do Meio Ambiente foi com relação as inúmeras queixas de associações e movimentos sociais que passados 12 meses desde o retorno das Ararinhas Azuis ao sertão de Curaçá, Bahia, foram completamente esquecidos nas ações prometidas pelo Governo Federal e a parceria do Projeto de Reintrodução da Ararinha Azul.

"O meu desejo é te ver voando/O meu desejo é te ver voltar/Minha esperança é te ver voando/Da Serra da Borracha até a Serra do Juá... O semiárido está por ti em festa/O xique-xique sorri pro mandacaru/A sua volta é cada vez mais perto/seja bem-vinda ararinha-azul”.

Os versos da canção Esperança Azul, dos cantores e compositores Fernando Ferreira, Demis Santana e Januário Ferreira, continuam embalando o sonho dos moradores de Curaçá, no sertão da Bahia, de ver de volta a ararinha-azul, ave exclusiva da região e extinta na natureza.

O projeto une esforços dos governos federal e estadual, organizações não-governamentais (ONGs) e empresas privadas e tem apoio de centros de pesquisa e criatórios no Catar, Alemanha e Bélgica e busca reintroduzir nos próximos anos a ave no seu habitat histórico.

No dia 03 de março do ano passado, as Ararinhas Azuis, 52 aves, vindos da Alemanha, desembarcaram no aeroporto de Petrolina de onde seguiram para o Centro de Reprodução e Reintrodução, que foi construído em Curaçá. Lá, as aves estão sendo preparadas para a soltura no ambiente natural.

Informações do site do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) consta que as Ararinhas Azuis estão sendo preparadas para se adaptar às condições climáticas e ecológicas da Caatinga, identificar alimentos e se defender dos predadores naturais, antes de serem soltas na natureza.

O ICMBio publicou em 2012 o Plano de Ação Nacional a Conservação da Ararinha-azul (PAN Ararinha-azul), cujos objetivos são o aumento da população manejada em cativeiro e a recuperação do habitat de ocorrência histórica da espécie, visando à sua reintrodução na natureza. 

HISTÓRICO: No dia (3) de Março de 2020, cinquenta e duas ararinhas-azuis desembarcam no Brasil, no Aeroporto de Petrolina,  vindas da Alemanha. Após o pouso, as aves foram levadas para a cidade de Curaçá, na Bahia, onde um centro de reprodução foi construído especialmente para recebê-las.

A primeira soltura da ararinha-azul está prevista para 2021. Ao longo deste período, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), os animais passarão por processo de adaptação e treinamento para viverem em vida livre.

As ararinhas-azuis são consideradas extintas na natureza desde o ano 2000, devido às ações de caçadores e traficantes de animais. Atualmente, existem 166 exemplares da ave mantidos em cativeiro. Além dos 13 no Brasil, há 147 na Alemanha, dois na Bélgica e quatro em Singapura, países que participam do Programa de Reintrodução da Ararinha-Azul.

O processo de retorno das araras-azuis ao Brasil faz parte de um acordo firmado no ano passado entre o ICMBio e a ONG alemã, Association for the Conservation of Threatend Parrots (ACTP), que mantém as aves.

Descoberta no início do século 19 pelo naturalista alemão Johann Baptist von Spix, a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), espécie exclusiva da Caatinga brasileira, Curaça-Bahia, teve sua população dizimada pela ação do homem. O último exemplar conhecido na natureza desapareceu em outubro de 2000.

Desde então, os poucos exemplares que restaram em coleções particulares vêm sendo usados para reproduzir a espécie em cativeiro, quase todos no exterior. A ararinha é considerada uma das espécies de aves mais ameaçadas do mundo. Em 2000, foi classificada como Criticamente em Perigo (CR) possivelmente Extinta na Natureza (EW), restando apenas indivíduos em cativeiro.

Rara, a espécie vivia originalmente numa pequena região de Curaçá, no norte da Bahia, onde o Governo Federal criou, em junho de 2018, duas unidades de conservação: o Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha-Azul (com 29,2 mil hectares) e a Área de Proteção Ambiental da Ararinha-azul (com 90,6 mil hectares), destinadas à reintrodução e proteção da espécie, e conservação do bioma da caatinga.


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CENTENÁRIO DE ZÉ DANTAS: O POETA DO FORRÓ QUE CONSTRUIU UM IMAGINÁRIO DO NORDESTE

Na década de 1940, o aparelho de rádio ficava instalado em um ponto de destaque na sala de estar da família brasileira. Era o veículo de comunicação do momento. Através dessas ondas radiofônicas, os sucessos de Luiz Gonzaga atingiram todo o território nacional, reformulando para sempre os imaginários do país sobre o Nordeste. 

As composições que emanavam daquela voz nasalada de tenor caboclo, tão comum nas toadas sertanejas, vinham de grandes poetas da cultura nordestina. Um deles era o médico José de Sousa Dantas Filho, que assinava suas letras como ZéDantas e tem o seu centenário comemorado neste sábado, 27 de fevereiro de 2021.


Em 1947, o Brasil respirava uma aurora democrática após o fim do Estado Novo, ditadura de Getúlio Vargas que exerceu em Pernambuco o autoritarismo em seu mais alto nível com o interventor Agamenon Magalhães. Foi nesse ano que Luiz, já famoso pelas transmissões na Rádio Nacional, do Rio, conheceu o então estudante de medicina José Dantas numa farra no Grande Hotel, na praia do Pina. Era o início de uma parceria que renderia brilhantes obras, proporcionadas pela combinação magnífica da interpretação de Gonzagão com o conhecimento folclórico das composições de Zé.


A primeira parceria gravada foi Vem morena, em janeiro de 1950. A partir daí foram surgindo outros sucessos, como A dança da moça, Forró de Mané Vito, Paulo Afonso, Vozes da seca, Riacho do navio, São João do arraiá, Volta da Asa Branca, Acuã (a favorita de Zé), Xote das meninas, Forró em Caruaru, Siri jogando bola, Farinhada, Letra I, Sabiá, entre outras. Sem a parceria, talvez o baião não tivesse uma repercussão nacional tão estável, sendo o ritmo do momento até a dominação da bossa nova, no final da década de 1950. Outro responsável pela longevidade foi Humberto Teixeira, também grande dupla de Gonzaga.

José de Sousa Dantas Filho nasceu em Carnaíba, quando o município ainda distrito do município de Pajeú das Flores. Ele foi estudou no Recife ainda muito jovem, quando já começou a publicar as primeiras composições na Revista Formação, publicada pelo Colégio Americano Batista. Quando chegavam as férias, ele ansiava pela volta ao Sertão. 

"Ali, vivendo no meio dos sertanejos, dos quais me tornava amigo, ia recolhendo ditos, estórias, cantorias... toda riqueza da vida sertaneja. E quando regressava ao Recife, levava as melhores coisas daquilo que havia recolhido, para mostrar aos amigos nas rodas que eu frequentava. Foi nessa época que escrevi a primeira crônica sobre folclore", disse Zédantas, em matéria em sua homenagem publicada pelo Diario em 8 de junho de 1969.

José concluiu os estudos no colégio Marista, no Recife. Aprovado em medicina na então Universidade do Recife (a atual UFPE), ele se formou em 1949 e seguiu para o Rio de Janeiro, estagiando no Hospital dos Servidores do Estado, onde se especializou em obstetrícia e foi efetivado. O Rei do Baião também já morava na então capital federal do Brasil. Mesmo no Rio, Zédantas nunca esqueceu de Pernambuco, elevando o nome do estado e de todo o Nordeste brasileiro nas músicas que compunha.

As músicas de Zédantas estão entre as mais populares da história do forró no Brasil. Na época, elas penetraram desde as festas dos casebres do interior ao baile do mais grã-fino palacete, pois refletiam sobre uma psicologia que dominava praticamente toda a nação, mas usando de referências sertanejas. Em Xote das meninas, ele faz um paralelo entre a flor de mandacaru, no sinal que precede a chuva dando fecundidade à terra, com a menina que, enjoada da boneca, torna-se mulher. Em outras, faz alertas aos poderes públicos para com os nordestinos em miséria. Tudo isso remetendo a uma noite mágica de São João.

Nas horas de folga, o médico dedicava-se à divulgação do baião, chegando a trabalhar na Rádio Nacional como produtor do programa No mundo do baião. Ele ainda chegou a trabalhar na Rádio Mayrick, sendo diretor do Departamento Folclórico. Mais do que um grande compositor, ele foi um perspicaz folclorista, estudioso das curiosidades e do comportamento musical da gente sertaneja. A ele interessava tudo que dissesse respeito ao folclore regional nordestino, fosse vindo da viola (instrumento dos cantadores de desafio, principalmente nas feiras) ou do pandeiro (remetia a época das senzalas, quando ritmavam os sambas dos escravos nos terreiros).

Em 1961, quando estava na fazenda de Luiz Gonzaga, em Miguel Pereira, região serrana do Rio, Dantas rompeu o tendão do pé. Depois de um ano tomando fortes remédios para sanar as dores, ele teve os rins comprometidos e faleceu precocemente no Rio, em 11 de março de 1962, aos 41 anos. Duas semanas antes da morte, foi visitado por Gonzaga, que levava um gravador. Nele, Zédantas colocou músicas que havia feito, já enfermo, todas gravadas pelo Rei do Baião: Balança rede, Praias do Nordeste, Forró do Zé Antão, entre outras. Quando o disco saiu, Zé já tinha morrido. Mas suas músicas, já regravadas por vários cantores de sucesso, como Alceu Valença, Gal Costa, Maria Bethânia, Fagner e Gilberto Gil, ficaram eternizadas.

Apesar de todo o sucesso nacional de Zédantas como compositor, foi necessário o esforço de vários moradores para que o artista e médico tivesse reconhecimento merecido na sua própria terra natal, Carnaíba. Em 1975, as professoras recém-formadas Margarida Pereira, Joana Darc Malaquias e Bernadete Patriota tiveram a ideia de fazer uma festa na Escola Estadual João Gomes dos Reis. Elas resolveram trabalhar músicas de Zé, porque tinham o conhecimento de que ele nasceu na cidade. Através de uma carta, enviada por uma prima do compositor, as professoras conseguiram entrar em contato com Dona Iolanda, a viúva.

"Poucos dias depois, Iolanda respondeu com uma relação das músicas dele, além de recortes de jornais e revistas, o que nos ajudou a fazer a festa", relembra Margarida, que hoje é secretária de cultura do município. "Em 1978, o tenente João Gomes da Lira foi eleito vereador e propôs colocar um busto de Zédantas na cidade. A prefeitura não fez, então ele mesmo conseguiu esse busto, inaugurado no mesmo ano. Foi um evento de grande repercussão, quando a família e o próprio Luiz Gonzaga compareceram."

A festa em homenagem a Zédantas foi se espalhando por todas as escolas da Carnaíba. A proporção cresce com a chegada do Padre Luizinho, que segue como o pároco da cidade. "O ano de 1993 foi muito pesado, pois o Sertão sofria uma seca muito grande e perdurava a dominação de poucos ricos em cima de muitos pobres. Carnaíba já tinha uma história muito bonita, com muitos músicos e maestros, mas era muito atrasada no sentido político, com uma religião bem mais tradicional. Eu apostei na obra de Zédantas para alcançar os jovens e os estudantes, fazendo justiça com o nome dele. Zédantas nunca esqueceu de nós, do homem, da terra, das relações com a natureza", diz Luizinho.

A primeira festa ocorreu naquele ano de 1993, sendo encabeçada pela igreja. Uma carta inspirada em Vozes da seca foi lida, denunciando a situação de abandono da região. "Pegamos a música e começamos a trabalhar em cima da pobreza, da exploração. Assim nasceu o Grupo de Educação Base, que uniu toda a comunidade, sobretudo músicos e sanfoneiros. A cidade carrega até hoje esse atrativo, com uma grande festa que mobiliza toda a cultura", diz o padre.

Ainda demoraram anos para o poder público chegar junto ao evento, que só não foi realizado em 2004 e 2020 (devido à pandemia). Até hoje, uma carta sobre a situação do município e do Sertão é lida. "Visitamos as cidades vizinhas para divulgar a festa. Nós nunca tivemos Zédantas como exclusivo de Carnaíba. Ele é do Pajeú, do Nordeste, do Brasil e do mundo, ele tem essa dimensão", avalia Margarida. "Ainda assim, temos muito orgulho. Mesmo sendo um homem da cidade grande, ele não desprezou as suas raízes e exaltou o nosso forró."

CELEIRO: Carnaíba é um celeiro de artistas. A centenária Associação Filarmônica Santo Antônio atualmente conta com 20 integrantes, em sua maioria oriundos da Escola de Música Maestro Israel Gomes. A instituição foi criada em 2005 e instalada no antigo prédio da Estação Ferroviária, oferecendo aulas de percussão, sanfona, sopro em metal e madeira, violão, teclado e pífano. De lá já saíram artistas para bandas e cursos universitários em música.

O Conservatório Carnaibano de Música Maestro Petronilo Malaquias foi criado como extensão da escola. Também existe o Museu Zé Dantas, com histórias e objetos do compositor. No Recife, existe um acervo sobre Zédantas no Museu Caís do Sertão, no Bairro do Recife.

Programação SÁBADO (27): 10h: Lançamento dos webnários Um dedo de prosa – 100 anos de Zédantas e Um dedo de prosa - A poética de Zédantas, no YouTube da Secult-PE

18h: Transmissão de Um dedo de prosa – 100 anos de Zédantas, na Rádio Frei Caneca (101.5 FM e freicanecafm.org) e no YouTube do Cais do Sertão

18h: Exibição do curta-metragem Psiu! e do show Duetos da Marina Elali, na TV Pernambuco

19h: Programação musical Zédantas, na Rádio Frei Caneca

21h: Live Quinteto Violado canta Zédantas, nos canais no YouTube da banda e da Prefeitura de Carnaíba

DOMINGO (28) Lançamento da playlist ZéDantas no Spotify do Cais do Sertão. 15h: Exibição de Um dedo de prosa - 100 anos de Zédantas, na TV Pernambuco. (Diário de Pernambuco-Emanuel Bento)


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