JUAZEIRO SEDIA 26º SIMPOSIO DE CULTURA ESPÍRITA DO VALE DO SÃO FRANCISCO

"Educando em Tempos de Transição" é o tema do 26º Simpósio de Cultura Espírita do Vale do São Francisco que será realizado em Juazeiro-Ba pela Federação Espírita do Estado da Bahia e o Conselho Regional Espírita. O evento está com inscrições abertas enquanto houver vagas. 

A abertura oficial acontecerá com as cantoras Margareth Áquila e Diana Santiago, na próxima quinta-feira (16), a partir das 19h30, no Centro de Cultura João Gilberto. A programação é aberta ao público. 

Na sexta-feira (17), o Simpósio continua a partir das 19h30, com a conferência de Anete Guimarães e apresentação artísticas de Vanda Otero e Margareth Áquila. O evento é fechado aos inscritos. 

No sábado (18), excepcionalmente, a programação acontecerá no Colégio Modelo, localizado em frente à Rodoviária da cidade, a partir das 8h com credenciamento e segue com a palestras sobre os Mandamentos de Jesus – como vivê-los na atualidade e autoconhecimento e sua vivência em grupo. 

À noite, às 19h30, o evento apresenta o tema 'a arte na educação do ser' no Centro de Cultura João Gilberto. O 26º Simpósio de Cultura Espírita do Vale do São Francisco ainda conta com conferências no domingo (19), a partir das 8h30, no Centro de Cultura João Gilberto, com os expositores Ricardo Carvalho, Paulo de Tarso e Anete Guimarães. O evento encerrará por volta das 17h com apresentações artísticas. 
 
Mais informações através dos telefones (74) 9.8816-1941 Robson, (74) 9.8801-7339 Wilson e (74) 9.8831-3724 Joca.

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XICO SÁ: DORES DE RODOVIÁRIA, MÃE E O DIA DE IR EMBORA

“E quando eu me vi sozinho /Vi que não entendia nada /Nem de pro que eu ia indo /Nem dos sonhos que eu sonhava” (Torquato Neto)

Mãe, ainda me lembro quando tu colocaste a rede no fundo da mala, mala de couro, forrada com brim cáqui, e perguntaste, tentando sorrir no prumo da estrada: “Filho, será que na capital tem armador nas paredes?”

Naquela noite eu partiria para o Recife, que conhecia apenas de fotos e do mar de histórias trazidos pelos amigos. Lembro de uma penca de fotografias em especial, que ilustrava uma bolsa de plástico que usava para carregar meus livros e cadernos. Lá estavam as pontes do centro, casario da Aurora ao fundo, lá estava a sede da Sudene, símbolo de grandeza naquele apagar dos anos 1970, lá estava o Colosso do Arruda, o estádio do Santa…

Quando o ônibus gemeu as dores da partida, aquela zoada inesquecível que carregamos para todo o sempre, tu me olhaste firme, e eu segurei as lágrimas tão-somente para dizer que já era um homem, que era chegada a hora de ganhar o mundo, pé na estrada, o mundo estrangeiro que conhecia somente pelo rádio, meu vício desde pequeno, no rádio em que ouvia os Beatles, as resenhas e as transmissões esportivas, além de todo um sortimento de novidades daqui e de fora.

Lembro que naquele dia, mãe, ouvimos juntos o horóscopo de Omar Cardoso, na rádio Educadora do Crato (ou teria sido na Progresso de Juazeiro?). Que falava dos novos rumos do signo de Libra. Você disse: “Tá vendo, meu filho, você será muito feliz bem longe”.

A voz de Omar Cardoso e o seu mantra ecoava no juízo: “Todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor!”

Foi o dia mais curto de toda a existência. O almoço chegou correndo, a merenda da tarde passou voando… e quando dei fé estava diante da placa Crato/Recife, Viação Princesa do Agreste.

Todo choro que segurei na tua frente, mãe, foi derramado em todas as léguas seguintes. Mal chegou em Barbalha eu já estava com os dois lenços de pano –outro cuidado seu com o rebento- molhados. Em Missão Velha, uma moça bonita, uma estudante que voltava de férias, me confortou: “É para o seu bem, foi assim também comigo”.

Quando chegou em Salgueiro, além dos lenços e da camisa nova -xadrezinho da marca Guararapes-, o livro Angústia, de Graciliano Ramos, um dos motivos da minha vontade de conhecer a vida, também já estava encharcado.

E assim foi a viagem toda. Com direito a soluços, que acordaram a velhinha que ia ao meu lado, quando o ônibus chegou ao amanhecer no Recife.

Arrastei a mala pelo bairro de São José e procurei a pensão mais econômica.

Sim, mãe, tem armador de rede, escrevi na primeira carta. Naquele tempo não se usava, em famílias sem muito dinheiro, o telefone. Era tudo na base do “espero que esta te encontre com saúde”, como a gente escrevia na formalidade das missivas.

É mãe, neste teu dia, que está quase chegando a hora, quero lembrar que a coisa que mais me comoveu foi tua coragem, que eu até achava, cá entre nós, que fosse dureza além da conta d´alma. Até falei, um dia no divã, sobre o assunto, como se eu quisesse que naquela despedida o sertão virasse o teu mar de pranto.

Eis que recentemente me contaste como foi duro, que tudo não passava de um jeito para não fazer que eu desistisse de ganhar a rodagem. Aí me lembrei de uma sabedoria que citava nas cartas e bilhetes, quando eu esmorecia um pouco na sobrevivência da cidade grande: “Saudade não bota panela no fogo”. E ainda reforçava: “Saudade não cozinha feijão, coragem, filho, coragem”.

Em nome das mães de todos os meninos e meninas que partiram, dona Maria do Socorro, quero te deixar beijos e flores.

Sim, mãe, agora já sabes que somos de uma família de homens chorões, são 18h40 de um sábado, e eu choro um pouco, como fazia no fundo daquela rede colorida que puseste no fundo da mala, chorava tanto nos sótãos das pensões do Recife  que os chinelos amanheciam boiando no quarto, como se quisessem tomar o caminho de volta para casa.

Xico Sá-jornalista*Crônica escrita em 2005.
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SISTEMA SUSTENTÁVEL DE ABELHAS, AGRICULTURA E SAÚDE HUMANA É TEMA DE WORKSHOP EM JUAZEIRO

De 17 a 19 de setembro deste ano o Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga (Cemafauna Caatinga) promoverá o I Workshop Sistema Sustentável – Abelhas, Agricultura e Saúde Humana no Complexo Multieventos da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) em Juazeiro-BA.

O evento, o primeiro na temática, consistirá em uma discussão ampla, com múltiplos setores (produtor rural, academia, administração pública, público em geral) sobre as relações entre agricultura, abelhas e saúde humana na região do Vale do São Francisco, grandemente dependente em termos econômicos e sociais da presença e saúde dos polinizadores. O workshop é um convite ao diálogo.

A fim de compartilhar as diferentes visões e perspectivas, o workshop foi organizado no formato de painéis de diálogo, cada um com temas específicos e relevantes para promover a colaboração entre os três setores (produtivo, ecológico e da saúde) e buscar alternativas que beneficiem a produtividade, biodiversidade das abelhas e qualidade de vida das populações humanas.

As inscrições começaram em 01 de junho e seguem até 31 de agosto. Para submissão de trabalhos o período vai até 31 de agosto também. O site do evento para inscrições e outras informações está disponível emwww.even3.com.br/IWSS

O público alvo inclui profissionais, pesquisadores e acadêmicos das áreas de Ciências Biológicas, Engenharia Agronômica, Engenharia Agrícola, Engenharia Ambiental, Zootecnia, Ecologia, Ciências Sociais e Administração. Mas todos os que tiverem interesse pelo tema, independentemente de sua área de formação e atuação,
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FEIRA NACIONAL DO LIVRO DO AGRESTE FAZ HOMENAGEM AOS 90 ANOS DE ONILDO ALMEIDA

O segundo dia da Feira Nacional do Livro do Agreste - Fenagreste, os destaques são o caruaruense Petrúcio Amorim, que fará apresentação com seus grandes sucessos, a presença do romancista Raimundo Carrero, que o lança sua tetralogia, e o a palestra do psicólogo clínico Rossandro Klinjey, conhecido pelas participações no programa Encontro com Fátima Bernardes, da Globo. O evento é realizado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) e Andelivros, com o apoio da Prefeitura de Caruaru.

Às 19h, Petrúcio Amorim sobe ao palco principal da Fenagreste, para cantar seus grandes sucessos, como "Anjo querubim", "Meu cenário" e "Confidências". Logo depois, o cantor autografará a sua biografia, Petrúcio Amorim: o poeta do forró, escrita por Graça Rafael. Histórias sobre a sua carreira, vida pessoal e músicas fazem parte da obra que mostra os vários lados do cantor. A trajetória sofrida da infância, passando pela superação das dificuldades da vida até chegar ao sucesso, com músicas que hoje fazem parte do cenário musical e que não saem das cabeças dos pernambucanos são tratados na obra.

O livro ainda reúne depoimentos de familiares e amigos de Petrúcio, além de prefácio e orelha escritos pelos artistas Santanna e Maciel Melo. A sessão de autógrafos será no espaço do Café Literário.
A 3ª edição da Fenagreste segue até o domingo (12), com Lançamento de livros, apresentações musicais, teatro de mamulengo, espaço geek, concurso de cosplays e contação de histórias entre as atividades da feira.

 O cantor Onildo Almeida e o escritor Nelson Barbalho são os homenageados da edição desse ano, que tem como tema “Toda família tem histórias.
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ONILDO ALMEIDA COMPLETARÁ 90 ANOS NO PRÓXIMO DIA 13 DE AGOSTO

Em um primeiro momento, o nome e a figura de Onildo Almeida podem até não parecer familiares, mas, certamente, os versos “A feira de Caruaru, faz gosto a gente ver. De tudo que há no mundo, nela tem pra vender” já fazem parte do imaginário popular, sendo quase impossível desassociá-los da paisagem agreste do município. Embora famosa na voz de Luiz Gonzaga, “A Feira de Caruaru” foi composta por Onildo. Em 2017, a composição fez 60 anos e, coincidentemente, o músico teve a carreira revisitada no documentário “Onildo Groove Man”.

Nascido no dia 13 de agosto de 1928, Onildo Almeida completará 90 anos de idade. Onildo recorda com carinho e orgulho de sua principal composição. O compositor mora em Caruaru

A paixão pelo município e sua pluralidade cultural foram, de certa forma, o ponto de partida para a composição: “Toda cidade tem feira, e toda feira é igual. Menos a de Caruaru. Quando criança, todo sábado eu ia e comprava cavalinhos de barro, feitos pelo próprio Mestre Vitalino. Você encontrava gente de todo tipo por lá, viajantes… Era tudo muito diversificado. Quando escrevi a música, decidi ir listando tudo que encontrava de diferente por lá, entre coisas importantes e inusitadas. Não tem feira com esse tamanho em canto nenhum”, conta Onildo.

Na época, o músico era funcionário da extinta Rádio Difusora, onde conheceu o Rei do Baião. Onildo, na verdade, já rascunhava “A Feira de Caruaru” desde 1956. “Trabalhei muito com programa de auditório, na parte técnica. Nos intervalos, eu ficava mexendo na letra, melhorando. Um dia, Rui Cabral, que era apresentador, me viu escrevendo e perguntou o que era aquilo. Eu disse do que se tratava, ele leu e mandou: ‘Vá lá cantar’. Tentei falar que ainda não estava pronta, mas não teve conversa, fui e cantei a música três vezes, no empurrão. Aí foi um sucesso tremendo!”, recorda Onildo, às gargalhadas.

“Mesmo assim, foi uma dificuldade conseguir quem gravasse. Eu queria Jackson do Pandeiro, que não estava disponível. Compus a música em ritmo de baião e todo mundo dizia que só quem canta baião é Luiz Gonzaga. Sei que terminei gravando. Fizemos pouco mais de mil discos para vender na feira, e aí foi um estouro”.

Um destes discos, com tiragem limitada para os padrões de hoje, acabou chegando ao próprio Rei do Baião, em visita aos estúdios da Difusora. Encantado com a composição, Luiz Gonzaga não só solicitou permissão para gravar, como encomendou a Onildo uma outra composição inédita, em homenagem ao centenário do município, em 1957. As duas músicas foram lançadas no compacto “A Feira de Caruaru/Capital do Agreste”, no mesmo ano. Da tiragem modesta da primeira versão, por Onildo, a segunda, já na voz inconfundível de Gonzagão, ultrapassou as fronteiras do nordeste e até do país, regravada com versões em mais de 30 países.

Apesar de associado ao baião, o repertório de Onildo é versátil, passando pela música romântica e a mistura tropicalista de ritmos populares e estrangeiros. Das mais de 400 composições que afirma ter feito, destacam-se, por exemplo, canções como “Sai do Sereno”, eternizada por Gilberto Gil, “História de Lampião”, famosa com Marinês, e “Marinheiro, Marinheiro”, gravada por Caetano.

A trajetória de Onildo Almeida despertou o interesse do jornalista Hélder Lopes, que, ao lado do também jornalista e professor Cláudio Bezerra, dirigiu o documentário “Onildo Groove Man”. O filme foi exibido em circuito em importantes festivais no país, como o In-Edit, em São Paulo, e o Mimo, de Olinda. O longa independente busca resgatar as histórias e curiosidades do outsider, trazendo o, ainda que tardio, merecido reconhecimento para com a sua obra.

“A partir de Onildo, o filme traça um panorama da música brasileira, nossa identidade cultural. Onildo faz baião, mas também faz choro, samba, ele passeia por todos esses estilos”, afirma Hélder.

Produzido em um período de quase 2 anos, “Groove Man” mostra Onildo na intimidade, às voltas com seus discos e relembrando histórias de seu tempo na música, intercalado com depoimentos de parceiros e conhecidos, como o próprio Gilberto Gil. Foi durante as filmagens, por exemplo, que Onildo soube que Gil havia gravado sua música em Londres, em show com Gal Costa. “É tanta música que a gente acaba nem sabendo quem grava e quem não grava”, brinca o compositor.

O filme também retrata Onildo no palco, em pocket show montado especialmente para o projeto, e outras apresentações. “O documentário é uma conversa. Onildo contando a própria história. Ele é muito conhecido como compositor, mas quisemos mostrar, também, o Onildo intérprete. De início, ele ficou surpreso com o interesse pela obra, mas depois, percebeu que se tratava de uma oportunidade de sintetizar a própria obra”, explica Cláudio Bezerra.

Segundo os realizadores, as gravações também serviram de impulso para que Onildo continue gravando e se apresentando. “Tudo que está na tela foi espontâneo e fiquei muito satisfeito com o resultado. Hoje eu faço shows e vejo todo um público novo. Parece que sou a novidade da música brasileira, quando na verdade já sou velharia! (risos)”, brinca Onildo.

Fonte: Revista Pedro Siqueira-Jornalista pela Unicap
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DEUS ERA TOCADOR DE PIFE E FOI SOPRANDO NUM PIFE FEITO DE TABOCA, QUE DEU VIDA AO HOMEM COM SOPRO FIEL

Deus era um tocador de pife e foi soprando nele, num pife feito de taboca, que deu vida ao Homem com seu sopro fiel". (Aderaldo Luciano).

Uma das manifestações culturais mais emblemáticas da cultura são as bandas de pífano. Entra São João, e sai São João, e sempre se escuta falar nelas, mas tem muita gente que acha que uma banda de pífano são só aquelas bandinhas que tocam nos palcos menores [e esquecidos] do São João de Caruaru, sem saber do real valor e importância dessas bandas para a cultura e história do Nordeste e do país.

Antes de mais nada, é importante saber brevemente o que é uma banda de pífano. Segundo Onildo Almeida, antigamente, até a década de 60 não se chamava pela palavra “banda”, isso veio surgir depois, muito provavelmente por causa de influências do rock da Jovem Guarda [1]. Onildo ainda diz que o que existia era “a Zabumba de José, a zabumba de Mario…” e assim por diante. Mas existia outros nomes pra designar o grupo instrumental, como: Zabumba, Terno de Zabumba, Terno de Pife, Esquenta-mulher, Quebra-resguardo, Cabaçal, e outros [2].

O pífano (ou pife) é um tipo de flauta transversal feita em material cilíndrico (geralmente de Taboca, metal ou PVC) com 7 furos, um pra assoprar e 6 pra dedilhar, geralmente tem 3 tamanhos: “Régua Inteira”, “Três Quartos”, e “Régua Pequena”, onde quanto maior a grossura ou o tamanho do cano mais grave o som, e vice-versa [4].

No inicio de 1967, Gil viajou pa Recife pra fazer um show no Teatro Popular do Nordeste (TPN), que era uma espécie de ponto de encontro de intelectuais e artistas da época. Gil chegou em Recife exatamente no momento em que “nas ruas da capital pernambucana existia uma necessidade de renovação, uma vontade de criar novos sons e firmar uma identidade”. Nesses encontros com os artistas, Gil recebe um convite de Carlos Fernando para ir a Caruaru em um dos intervalos de seus shows conhecer “uma bandinha de pífanos muito boa” [3]. Jomard Muniz de Britto e Geraldo Azevedo estavam lá ministrando uma oficina, e foram todos juntos, incluindo ainda Mário Florêncio e Souza Pepeu, pro Clube Intermunicipal assistir a banda de pífanos. Essa apresentação emocionou muito Gil, que desde de então quis gravar a banda e colocar uma de suas músicas em um disco seu.

Foi nesse momento que Gil remeteu o som da banda de pifano ao album “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” dos Beatles, que tinha acabado de ser lançado [5] - em junho do mesmo ano - (em especial a música “Strawberry Fields Forever”, que segundo ele, lembrava muito “Pipoca Moderna”). Gil voltou pro RJ, e foi conversar com Caetano, com idéias de repensar a criação musical, propondo combinações na linguagem musical com uma perspectiva política (lembrando que eles estavam em plena ditadura militar). Gil basicamente propôs fundir essas influências do que vem de fora com o que o Brasil já tem, como Beatles e Banda de Pífano.

Foi basicamente por causa disso que no ano seguinte em 1968 que nasceu o “Panis et Circense”, e a partir daí se deu início a fase que nós chamamos de Tropicalismo.

Panis et Circense (1968)
Em referência a essa história que Geraldo Azevedo e Carlos Fernando escreveram a música “Forrozear”, gravada depois por Gil, e a partir daí, a banda de seu Sebastião, ficou conhecida como os “Os Beatles de Caruaru”.

Desde essa visita de Gil a Caruaru em 1967, ele teve a intenção de gravar a banda de pífanos e colocar uma das músicas em um disco seu. Em 1972 Gil volta do exílio com o intuito de fazer uma pesquisa sobre o folclore brasileiro e visita Caruaru com o intuito de manter contato e gravar alguma coisa da banda. Gil passou 3 dias na cidade, e em um sábado, quando a banda de pífanos estava tocando na frente de uma loja, o filho do prefeito chama o grupo e diz que: “tem um tal de Gilberto Gil aí querendo conhecer vocês”, e a banda não tinha nem ideia de quem era. 

Quando o grupo chegou a casa do prefeito, começaram a tocar várias músicas e depois Gil disse: “Muito bom, vocês tocam muito bem. Uma dessas músicas que eu gravei vai entrar no meu disco”. Logo depois disso, Gil tocou algumas músicas dele, e os integrantes do grupo acharam a música de Gil estranha, “não entenderam nada” [1]. Logo depois disso, o prefeito chamou o grupo pra almoçar e pagou um cachê pela gravação. O contato foi pouco, só uns 15 minutos mais ou menos, e a bandinha não “botou fé” nessa gravação de GIil, porque muitos já tinham prometido gravar e divulgar a banda, e até então nada.

Primeiro Disco:
A partir de umas influências de Gil, noticias da banda de pífano chegam aos ouvidos das gravadoras do RJ, e a CBS foi a primeira a procurá-los pra gravar um disco. Nessa época a gravadora tinha um departamento de música regional comandada por Abdias dos 8 baixos, que era por sua vez, amigo íntimo de Onildo Almeida. O combinado foi que a gravadora era responsável pela gravação e distribuição do disco, além de arcar com as despesas de hospedagem da banda no RJ se a prefeitura de Caruaru comprasse 500 cópias, e custeasse o transporte e a alimentação da banda. Tudo certo, o prefeito Anastácio topou e Onildo Almeida fez essa negociação entre a CBS e a prefeitura.

Onildo supervisionou a escolha das músicas, e consequentemente teve algumas influências, como algumas músicas suas no disco. O prefeito também deu uns pitacos e exigiu que entrasse no disco umas músicas que falasse de Caruaru, como “Caruaru Caruara” do radialista Lídio Cavalcante e “É tudo Caruaru” do médico Janduhy Finizola.

As fotos da capa, foram realizadas em um estúdio fotográfico do RJ e inspirada nas coreografias que a banda fazia nos shows além de umas orientações de Abdias [1].

Bandinha de Pífano Zabumba Caruaru (1972)
A partir da década de 70, a banda consolida a carreira, e grava o segundo disco chamado “Bandinha de Pífano Zabumba Caruaru - Volume dois”, em 1973.

Bandinha de Pífano Zabumba Caruaru (1973)
Pipoca Moderna:
Ainda em 1972, Gil pega uma das músicas gravadas naquele dia na casa do prefeito, em Caruaru e cumpre sua promessa, colocando ela como 1º faixa do seu mais novo disco “Expresso 2222”, lançado em 1972, a música “Pipoca Moderna”, de composição de Sebastião Biano da década de 60 - Além de conter no mesmo disco, logo na sequência, a música “Sai do Sereno” de composição de Onildo Almeida.

Gilberto Gil - Expresso 2222 (1972)
Gil colocou no disco, a música da gravação original, ou seja, a música toda instrumental. Apenas em 1975 que Caetano Veloso, coloca letra na música lançando no seu disco “Jóia” terminando de fundir a “Pipoca Moderna” na linguagem da música popular brasileira [3]. A partir daí, Caetano ganha co-autoria da música, e a banda de pífanos regrava ela, agora com letra, e em um andamento mais lento que a versão original instrumental, no seu 3º disco, em 1976, pela gravadora Continental em SP, chamado “Banda de pífano de Caruaru” [1] [3].

Caetano Veloso — Jóia (1975)
Banda de Pífano de Caruaru (1976)
Sobre a história da música “Pipoca Moderna”, o próprio Sebastião Biano fala que foi inspirado nas máquinas de fazer pipoca, em Caruaru, quando ele viu essas máquinas pela primeira vez. Ele só conhecia a pipoca feita na panela, na qual ele já tinha feito uma música chamada de “Pipoquinha”, inspirada no barulho do milho estourando. Quando ele viu pela primeira vez a pipoca da máquina ele espantado disse:

“Então, aquela pipoca bonita assim, eu botei um nome nela: pipoca moderna. Porque a outra pipoca é pequena, a que a gente faz em casa, mais miudinha. Eu inspirei outra música nela, “Pipoquinha”. E essa é uma pipoca muito bonita, bem alva, da cor de um pedaço de côco. Como é que pode ficar desse tamanho, uma pipoca desse tamanho? Aí inspirei a música. “Pipoca Moderna”. E ficou uma música bonita, viu. Ficou bonita.”

Discografia:
No total, a banda de pífano de Caruaru conta com 6 LPs e 1 CD, que além dos 3 primeiros já citados, tem mais esses:
Banda de Pífano de Caruaru (1979)
Disco produzido por Macus Vinicius, que era um grande incentivador de música folclórica. Nesse disco foram incluídas versões de clássicos já gravados anteriormente como “Briga do Cachorro com a onça”, “Pipoquinha” e “Pipoca Moderna - essa por sua vez, aparece em versão instrumental, parecida com que Gil gravou em 1972.

A Bandinha vai tocar (1980)
Segundo disco gravado por Marcus Vinicius, e nesse disco já tem uma mudança de repertório com a escolha de alguns clássicos do forró de autorias de outras pessoas, como Feira de Mangaio (Sivuca/Glória Gadelha), Forró em Limoeiro (de Edgar Ferreira, mas ficou conhecida com Jackson do Pandeiro) e São João do Carneirinho (Guio de Morais/Luiz Gonzaga)

Raízes do Pífano (1982)
Disco gravado em SP, quando a banda já estava morando lá. Detalhe que nesse disco, tem uma instrumentação nova que é a presença de um contrabaixo, cavaquinho e sanfona.

Tudo isso é São João (1999)
Depois de 17 anos sem gravar nada, a banda lança seu primeiro disco em CD, pela gravadora Trama, e a maioria das músicas são de autoria de outras pessoas [1].

Como se não bastasse, em pleno movimento Manguebeat a música “Pipoca Moderna” da banda de pífano também teve uma versão no 1º disco da banda Mestre Ambrósio em 1996.

Mestre Ambrósio — Mestre Ambrósio (1996)
Conclusão:
A partir dessa história, percebemos o valor simbólico e cultural da banda de Pífano de Caruaru, e com isso podemos enxergar as bandas de pífanos em geral com um olhar maior de importância, não só no São João, mas em todas as épocas do ano. Além da banda de seu Sebastião Biano, existe uma infinidade de outras bandas como a Banda de Pífano Zé do Estado e a Banda de Pífano Dois Irmão (banda de João do Pife), além das bandas mais atuais como a Banda de Pífano Vitoriano Jovem (banda de Andinho do Pife) e por aí vai.

Enfim, a história é grande, aqui foi apenas uma delas, e pra saber e conhecer mais sobre a história e a importância das bandas de pífano em Caruaru, sugiro visitar a Casa do Pife, localizada na Estação Ferroviária que tem mais um monte de material, além de perceber a importância de lugares de resistência e preservação da memória cultural de uma cidade como a Casa do Pife.

Franlim Junior *Texto originalmente escrito em 26/02/2015
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NOVO FILME SOBRE LUIZ GONZAGA SELECIONA PESSOAS INTERESSADAS EM ATUAR

A história de Luiz Gonzaga, dessa vez focando em sua infância, vai inspirar a produção de um novo filme: ‘Legua Tirana’. As filmagens vão acontecer em cidades do Sertão do Araripe. Para isso, os diretores estão selecionando pessoas interessadas em atuar na obra cinematográfica. As vagas são limitadas.

As inscrições podem ser realizadas até o dia 12 de agosto, exclusivamente, através do e-mail: leguatirana@cinemanointerior.com.br. Para participar, é preciso apresentar uma apresentação pessoal com até 30 segundos de duração.

O elenco do filme está em busca de candidatos para viver os personagens de Luiz Gonzaga jovem (moreno, 17 anos), Januário jovem (moreno, 20 e 22 anos), Santana jovem (morena, 18 a 22 anos), Raimundo e Jacó (morenos, criança e jovem, 10 e 17 anos) e outros papéis (crianças e jovens entre 9 e 17 anos).

Os candidatos selecionados participarão de oficinas de interpretação ministradas pelo preparador de elenco Christian Duuvoort.

Légua Tirana: Um mergulho no universo de cores, ritmos e sonoridades de onde Luiz Gonzaga surgiu para revolucionar a música brasileira. seguindo o fluxo de consciência do artista em seu momento final, o filme acompanha o menino Luiz Gonzaga em seu aprendizado de vida. Nesta jornada em busca do seu dom e do seu destino, ele aprende a ouvir o mundo escutando músicos, rezadeiras, romeiros, cegos de feira, comboieiros, retirantes e finalmente com a própria natureza. de cada um desses mestres, recolhe o essencial para construir a matriz sonora da sua revolução musical.
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