JOQUINHA GONZAGA, SOBRINHO DE LUIZ GONZAGA E NETO DE JANUÁRIO COMPLETA 66 ANOS DE VIDA DE VIAJANTE

Apesar da invasão das bandas eletrônicas nos festejos juninos ainda mais evidente a cada ano vivido neste século 21, principalmente, nos contratos envolvendo prefeituras, o legítimo herdeiro musical de Luiz Gonzaga, o sobrinho Joquinha Gonzaga arruma o chapéu de couro, afina a  sanfona, zabumba e triangulo e ganha a estrada para fazer forró do bom.

Neste 01 de abril ele completa 66 anos. João Januário Maciel, o Joquinha Gonzaga é hoje um dos poucos descendentes vivos da família. Dos nove filhos de Santana e Januário, todos eles, já partiram para o sertão da eternidade. Joquinha Gonzaga, nasceu no dia 01 de abril de 1952, filho de Raimunda Januário (Dona Muniz, segunda irmã de Luiz Gonzaga) e João Francisco Maciel.

A filha de Joquinha, Sara Gonzaga é a atual produtora empresária do sanfoneiro que traz a humildade e o sorriso de Luiz Gonzaga estampado em cada abraço. Sara diz que durante todo o ano a vida do pai e sanfoneiro Joquinha "é andar por este Brasil percorrendo os sertões para manter a valorização dos verdadeiros sanfoneiros presente nos forrós".

No período das festas juninas, de maio até julho, a agenda de Joquinha Gonzaga ganha outro ritmo. É mais acelerada! "É assim que vou pelejando! Alô Exu, meu moxotó e cariri tô chegando prá tocar ai", brinca Joquinha Gonzaga, ressaltado que "todo ano é uma peleja pra levar o verdadeiro forró prá frente e mostrar o baião e xote, para o povo, como pediu "meu tio Luiz Gonzaga".

Se a sanfona de Dominguinhos, discípulo maior de Luiz Gonzaga, cabia em qualquer lugar, a sanfona de Joquinha Gonzaga tem a herança original do pé de serra do Araripe e banhos do Rio Brígida. Joquinha traz com sua sanfona o tom cada vez mais universal divulgado por Luiz Gonzaga. 

Seguindo o estradar e os sinais da vida do viajante vai Joquinha cumprindo os compromissos de agenda puxando o fole e soltando a voz, valorizando a tradição e mostrando para as novas gerações a contemporaneidade, modernidade dos acordes da sanfona modulada no ritmo, melodia e harmonia.

Sara conta orgulhosa do DNA, que Joquinha Gonzaga é o mais legítimo representante da arte de Luiz Gonzaga. Mora em Exu, Pernambuco. "Sempre está  contando histórias. Não foge das características do forró, xote, baião. Procura sempre a melhor satisfação do público que tem uma admiração especial a família, a cultura de Luiz Gonzaga, Zé Gonzaga, Severino e Chiquinha também tocadores de sanfona e já se foram. O estilo musical não pode ser diferente. É gonzagueano", diz Sara, na vitalidade da juventude.

Joquinha conta que quando completou 23 anos começou a viajar com Luiz Gonzaga e foi aprendendo, conhecendo o Brasil inteiro. "Ele não só me incentivou, como também me educou como homem. Era uma pessoa muito exigente, gostava muito de cobrar da gente pelo bom comportamento. Sempre procurando ensinar o caminho certo. Tudo que ele aprendeu foi com o mundo e assim eu fui aprendendo", revela Joquinha.

Luiz Gonzaga declarou em público que Joquinha é o seguidor cultural da Família Gonzaga. Com Luiz Gonzaga cantou em dueto a música "Dá licença prá mais um'. Em 1998 Joquinha Gonzaga participou da homenagem "Tributo a Luiz Gonzaga", em Nova York, no Lincoln Center Festival. 

“É emocionante a devoção que todo nós ainda hoje temos por Luiz Gonzaga e Dominguinhos e isto cresce a cada ano, mesmo com a invasão dessas bandas. Mas o importante é que o verdadeiro forró não morre”, diz Joquinha Gonzaga. 

Contato para shows de Joquinha Gonzaga: (87) 999955829 e watsap: (87)999472323
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LUIZ GONZAGA O SANFONEIRO DA FÉ DO POVO DE DEUS

O nordestino tem uma fé religiosa que se exprime de muitas formas. A música de Luiz Gonzaga documentou romarias, novenas, procissões, promessas... Uma trajetória de fé e orações direcionada para ícones como o Padre Cícero e Frei Damião. A fé foi o tema do programa "O Reino Cantado de Luiz Gonzaga", da Globo Nordeste, que homenageou o legado do Rei do Baião, no ano do centenário do seu nascimento, em 2012.

A relação entre arte e ciência pode se concretizar de diversas formas, dentre elas,
através da produção musical. A música tem o poder de expressar os sentimentos, revelar a memória, conhecer as representações sociais, o contexto político e o imaginário popular, além da capacidade de dialogar com o conhecimento histórico.

Neste sentido, as músicas cantadas por Luiz Gonzaga merecem destaque, pois tratam de temas tipicamente do nordeste brasileiro, como a cultura e a fé em relação à seca e às suas experiências. As secas constituem uma realidade presente, atuante nos dias de hoje, como no passado.

Lembrei isto nesta madrugada, no silêncio do dia que inicia a Semana da Pascoa onde me parece que o nordestino reza com mais Fé.

O professor Gilbraz Souza lembra que nosso país teve uma colonização europeia e uma evangelização católica e uma tradição mais oral do que escrita. "Por exemplo, a bíblia não era lida na nossa língua. As pessoas tinham que se valer dos seus próprios meios para transmitir histórias através de contos, loas e benditos. Então não era uma igreja de padres com livros, mas de lideranças carismáticas que usavam da sua intuição religiosa para distribuir bênçãos, fazer rezas e contar histórias edificantes", explicou.

Frei Damião foi um dos ícones cantados por Luiz Gonzaga. "Quando Luiz Gonzaga canta 'Frei Damião, onde andará Frei Damião?', esta frase mexe com o coração do romeiro", diz o romeiro Josenildo Sales.

"Minha mãe era muito religiosa. Batizava, dava extrema unção. Todas as segundas eu ia com ela e as amigas para o cemitério rezar o Terço das Almas", conta a cantora e compositora Bia Marinho.

A rezadeira Julieta Silva diz que aprendeu o ofício com a mãe aos seis anos de idade. "É a fé quem cura. Se não tiver fé, não tem resultado", afirma.

Para o pesquisador Francisco Irineu, a influência da religiosidade vem de antes do nascimento. "Meu pai, devoto de São Francisco das Chagas do Canindé. Então todos nós, meus irmãos e minhas irmãs, somos 'Francisco' e 'Francisca'", conta. Para ele, Luiz Gonzaga foi o maior protagonista do povo simples e religioso. "Ele difundiu para o mundo a cultura daqueles que sofrem e sobrevivem na fé", argumenta.
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NATUREZA FORTE: SERTÃO VAI VIRAR TEMA DE NOVA SÉRIE DE TV

Foram mais de seis mil km rodados pelo Semiárido brasileiro, entre Bahia e Pernambuco, por alguns lugares nunca visitados por equipes de produção cinema.
Dividida em 13 episódios, a série de documentários "Natureza Forte" traz as mais genuínas e inspiradoras histórias de pessoas que vivem no semiárido, região cuja incidência de chuvas é muito abaixo da média brasileira. 

A série mostra o semiárido como nunca visto antes. Produzida pela WW Filmes em parceria com o Canal Futura(Fundação Roberto Marinho), além do aparato de cinema, drone filmando em 4k e câmeras digitais de alta resolução, a produção contou também com trilha sonora original composta pelo Wagner Lima do Grupo Matingueiros.


A estreia será na próxima quarta-feira (28/03) em horário nobre, às 22h30, no Canal Futura, com reprises às quintas-feiras às 11h15min, sábados à 1h15min e terças às 4h45min até junho/2018. Além da TV, é possível acompanhar também pela internet no site do FuturaPlay, gratuitamente. 


Ao todo são mais de 2h40min de conteúdo que destaca a capacidade de convivência com o Semiárido, ao invés de pensar em combater a seca, desconstruindo estereótipos. 


"Estávamos lá num momento histórico em 2017. Foi a pior seca dos últimos 173 anos [de acordo com Inmet]. Mesmo assim, não trazemos vitimismo ou miséria. Ao contrário, temos um material repleto de sorrisos, superação, perspicácia e muito muito trabalho, de um povo cuja natureza é heroica. Por isso "Natureza Forte", e por isso que é inspirador!", afirma o cineasta Wllyssys Wolfgang, que divide a direção da série com a Geisla Fernandes, que esteve pela primeira vez na caatinga para a preparação e produção da série.


"As pessoas que encontrei foram tão genuínas e maravilhosas, com histórias tão incríveis de uma busca incansável por desenvolvimento, que dava sempre uma tristeza quando chegava a hora de ir embora. O que eu trouxe foi um aprendizado sobre  força de vontade e amor", destaca a diretora Geisla Fernandes.


A série "Natureza Forte" contou com o apoio da ONG IRPAA (Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada), que há 28 anos desenvolve soluções e alternativas para a convivência no Semiárido. A instituição esteve presente em todo o processo de pré-produção e gravação, acompanhando, orientando e abrindo portas e porteiras para que as equipes chegassem a lugares jamais visitados por equipes de TV/Cinema. 


PRÓXIMAS PRODUÇÕES: As produções não param por aqui. Em julho deste ano a WW Filmes também gravará na região o piloto da minissérie de ficção "Atrofia" (suspense). A produtora fará seleção de equipe e elenco na região. Mais informações e confirmação de datas serão publicadas no site da produtora (wwfilmes.com.br) e na fanpage (facebook.com/WWFilmes).




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CANTOR E COMPOSITOR MESSIAS HOLANDA MORRE AOS 76 ANOS

A música brasileira perde mais um de seus ícones. Faleceu ontem segunda-feira (26), aos 76 anos, um dos maiores representantes do forró e da cultura: o cantor e compositor Manuel Messias Holanda da Silva. O músico foi vítima de falência múltipla dos órgãos.

Natural de Missão Velha, cidade localizada na Região do Cariri,Messias  Holanda ficou conhecido por suas letras irreverentes, dentre elas a consagrada “Pra tirar coco”, além de “Mariá”, “O tamanho da bichona” e tantas outras. Também cantou um das mais belas músicas do cancioneiro, Flor do Campo. Sua discografia abrange dois discos de 78 rotações, 19 discos, 15 LPS individuais e 11 CDS, além de diversas coletâneas.

Além da irreverência, Messias Holanda também deixou sua marca na simplicidade. Sempre acessível, fazia questão de, ao final de suas apresentações, receber os fãs e vender seus CDs pessoalmente. A família garante que realizará seu desejo: “Façam uma festa no meu velório, não quero nada de tristeza. Só alegria”. 

O o sepultamento ocorre nesta terça-feira (27), no Cemitério São João Batista, em Fortaleza.







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VIDAS SECAS: LIVRO COMPLETA 80 ANOS E CONTINUA ATUAL. O CAMINHO TEM OUTRAS CURVAS DE DOR E DE LUTA EM BUSCA DE ÁGUA

Sol a pino. Mas o calor ferve também do chão. O que já foi rio se transforma em mais caminho. Mais uma terra rachada. Nesta história de passos-jazigos, cruzes se espalham no cenário emoldurado por uma linha do tempo hostil, de marcas na pele das pessoas e na alma do país, com terra áspera nas memórias.

Os infelizes estão nas primeiras palavras de Vidas Secas e não são apenas personagens do olhar de Graciliano Ramos, em meio ao sertão, no ano de 1938. Oito décadas depois da descrição dura de um dos gênios da literatura brasileira, o caminho tem outras curvas de dor e de luta em busca de um mesmo bem: a água.

Se o espaçar do tempo é remontado para presente e futuro, as páginas podem ser reconstruídas para muito antes da obra clássica do século 20, com narrativas de pestes, de doença, de sede e de fome. Fato é que não há novidade nesse percurso. Nada acontece pela primeira vez na imensa planície avermelhada brasileira, principalmente a nordestina. Registros de secas brasileiras refazem uma viagem no mínimo ao século 16.

As principais secas brasileiras da história ocorreram no Nordeste oriental: Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. São roteiros repetitivos em cenários sertanejos, agrestinos, semiáridos. “Essa é a área de maior irregularidade espacial e temporal de chuvas. Nos períodos de 'manchas solares', por exemplo, as secas são mais intensas. Esse fato já vem sendo estudado desde o início do século 20. Quando se fala em 'episódios mais graves de secas', em geral, nos referimos àqueles anos em que as consequências socioeconômicas foram mais intensas”, explica o professor de climatologia Lucivânio Jatobá, pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) Kênia Rios ressalta que a seca não é apenas regida por dados pluviométricos. Trata-se de uma rede de relações políticas e culturais. “A gente teve o reconhecimento do imperador Dom Pedro II. Ele veio ao Nordeste para conhecer a situação”, afirma.

Histórias áridas passadas e tão presentes. A rotina das secas e a busca por água é enredo de desastres socioambientais, registrado nos livros, em documentos, no número incontável de vítimas e na luta pela sobrevivência. Também não há como contabilizar os personagens gracilianos, “Fabianos” e outras tantas famílias não nomeadas espalhadas pelo país.

Brasileiros retirantes são personagens que sofrem muito mais do que os da ficção. Formaram colunas de migrantes da seca, fugitivos pela sobrevivência numa realidade contada no tecido histórico enrugado pelos séculos. 

“Na maioria das vezes, quando as secas são mais severas e prolongadas, eles precisam migrar para as cidades ou para outras regiões do Brasil, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília ou a Amazônia. Isso ocorreu inúmeras vezes na história, em 1877, 1915, 1932, 1958 e 1983”, apontou em artigo o economista Antonio Rocha Magalhães, um dos principais pesquisadores em desenvolvimento sustentável do país.

Fonte: Agência Brasil/Luiz Cláudio Ferreira
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DOMINGUINHOS SEMPRE FIEL Á SANFONA

Na mais tenra infância, José Domingos de Morais, o Dominguinhos, já tocava sua sanfona tão bem que, num sábado, sua mãe se aprontou, colocou o instrumento num saco, pegou o menino e ia saindo quando o pai perguntou: “Onde cê vai, Mariinha” e ela respondeu: “Vou ali”. “Ali” era a feira, explicou o músico ao GLOBO, em 23 de fevereiro de 1973.

-Quando chegamos, ela tirou a sanfoninha de dentro do saco e disse: “Agora pode tocar”. Botamos o chapéu no chão e choveu tanta prata de um cruzado (cruzeiro) e quinhentos réis, que encheu o chapéu. — contou o sanfoneiro na ocasião.

O chapéu de couro cru de boiadeiro permaneceu para sempre na vida do menino, que, por mais de 60 anos continuou ganhando a vida da mesma forma: tocando sua sanfona para quem quisesse ouvi-la. Os palcos, entretanto, se tornaram muito maiores.

Nascido em 12 de fevereiro de 1941, logo cedo Dominguinhos começou a experimentar o instrumento do pai, seu Francisco, um dos melhores tocadores e afinadores de sanfona de Garanhuns, no interior de Pernambuco, a 230 quilômetros do Recife. Depois do sucesso na primeira apresentação, ele passou a tocar sempre que podia. Então, Dominguinhos teve um momento de sorte: Luiz Gonzaga, o rei do baião, viu uma apresentação sua em 1949, quando ele se apresentava em frente a um hotel da cidade.

— Tocamos, e no final o Gonzaga nos deu o endereço dele aqui no Rio e também 300 mil réis. Ora, a gente que vivia naquele tempo com quinhentos réis, um cruzado (cruzeiro), dez tostões, quase morremos de alegria com tanto dinheiro. Sabe, nós passamos muito tempo comendo daquele dinheiro. Foi uma coisa louca — afirmou o músico, que, no entanto, não pôde por muito tempo ir atrás do ídolo no Rio.

Em 1954, ele chegou a Nilópolis, na Baixada Fluminense, para morar com o pai e o irmão. O jovem músico lavou roupas, fez entregas em uma tinturaria, até que um dia decidiu ir ao endereço de Luiz Gonzaga e de lá, como o próprio Dominguinhos costumava dizer, não saiu mais. Era o início de uma parceria que iria durar até o fim da vida de Gonzagão, e que fez dele o mentor de Dominguinhos, que seria considerado seu sucessor musical. Gonzaga até sugeriu a mudança do nome artístico de seu protegido, que até então se apresentava como “Neném”:

— Ele me disse: “Rapaz, esse negócio de Neném é apelido que veio de casa, você já está crescido, que tal mudar para Dominguinhos?” — afirmou ao GLOBO em 14 de agosto de 2010.

Aos 16 anos, o recém nomeado Dominguinhos já acompanhava Luiz Gonzaga em shows e gravações. Um pouco depois, ele conseguiu um emprego na Rádio Nacional, onde tocou com nomes como Jackson do Pandeiro, Marinês, Genival Lacerda, Trino Nordestino, Jorge Veiga, Ciro Monteiro e outros. Em 1960, o menino do forró e do baião entraria fundo na MPB, e um pouco mais tarde, em 1965, conheceu Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Chico Buarque.

— Em 1972, compus com Anastácia “Eu só quero um xodó”. Gil ficou maluco pela música. Então, fui tocar na banda da Gal e do Gil, ele aprendeu o “Xodó” e tudo floriu — contou em entrevista de 21 de setembro de 2000, sobre o maior sucesso de sua carreira, composto com a parceira e mulher na época.

No mesmo ano, o empresário dos baianos, Guilherme Araújo, o convidou para fazer parte das apresentações de Gal e Gil no Festival de Midem, em Cannes, na França.

— O povo todo endoidou com o nosso ritmo e nossa espontaneidade. Não foi como os outros artistas que vieram com show montado, como o Isaac Hayes. — afirmou Dominguinhos na época.

O impacto do espetáculo em sua carreira foi imenso e ficou registrado em crítica de Sérgio Cabral, publicada no GLOBO em 25 de junho de 1976: “Se outro mérito não tivesse o chamado grupo baiano, o de ter tornado o sanfoneiro Dominguinhos um nome conhecido nacionalmente já contaria muitos pontos a seu favor”.

Em 2002, ele venceu o Grammy Latino de melhor álbum local, com o CD “Chegando de mansinho”. Em 2007, ganhou o Prêmio TIM na categoria de melhor cantor regional. No ano seguinte, esse mesmo prêmio o homenageou, numa cerimônia que teve convidados como Nana Caymmi, Elba Ramalho, Gilberto Gil, Zezé di Carmago & Luciano, Ivete Sangalo e Vanessa da Mata. Em 2010, Dominguinhos ganhou o Prêmio Shell de Música pelo conjunto da carreira.

As letras de Dominguinhos ficaram conhecidas também na voz de Elba Ramalho (“De volta pro aconchego”), que em entrevista ao GLOBO, em 20 de março de 2005, disse sobre o amigo com quem lançara um disco:

— Ele é um dos maiores músicos do mundo, e não sou eu que digo isso, é Gil, Lenine, Chico, toda a música brasileira acha isso. Mas acho que há um descuido em relação à obra dele, que é um grande sanfoneiro, é um grande cantor, mas também é um grande compositor. Talvez seja um preconceito contra a música nordestina, de não reconhecer num sanfoneiro um grande compositor.

Dominguinhos faleceu, aos 72 anos, em 23 de julho de 2013, devido a complicações infecciosas e cardíacas, depois de passar meses internado no Hospital Síro-Libanês, em São Paulo, por complicações decorrentes de um câncer no pulmão, descoberto em 2006, deixando três filhos. 

Alguns dos maiores nomes da música brasileira, como Chico Buarque, Moraes Moreira, Elba Ramalho e Wagner Tiso divulgaram notas lamentando a morte do artista. No dia 25 de julho, O GLOBO publicou um artigo assinado pelo cantor e compositor Chico César chamado “É forró no céu, comandado por Gonzagão”, sobre a vida e a história de Dominguinhos. Na mesma edição, Moraes Moreira, o cantor, escreveu um poema especialmente para O GLOBO, chamado “Outrora foi o Gonzaga, agora vai Dominguinhos”.

Fonte: *Augusto Decker*
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XANGAI, NASCIDO EUGÊNIO AVELINO, COMPLETA 70 ANOS

A temperança e a aspereza do sertão nordestino sempre permearam a música de Xangai, mas o que nem todo mundo desconfia é que o cantor baiano, nascido Eugênio Avelino, foi criado em Nanuque, no norte de Minas Gerais, onde seu pai possuía uma sorveteria com o nome da maior cidade da China que, desde criança, passou a lhe servir de apelido. 

No último dia 20 de março, o cantador completou 70 anos, a questão geográfica volta a marcar o novo trabalho do violeiro, cuja coerência artística estabeleceu uma linha de corte profunda e radical entre ele e o mercado fonográfico. Herdeiro de uma linhagem típica que tem em Elomar o seu principal representante, Xangai presta tributo a compositores essenciais em “Cantingueiros”.

Originalmente uma série visual disponibilizada na internet, a empreitada se vale de um trocadilho no título para homenagear tanto a caatinga quanto o ofício de cantador. As 12 faixas do disco assimilam músicas do repertório de Elomar, Bule Bule, Mateus Aleluia e Gordurinha que, em comum, trazem a Bahia como Estado natal. O cuidado na identidade do lançamento se faz notar logo pela capa, com um bonito projeto xilográfico de Gabriel Leite que destaca a figura do Sol e, em sua contracapa, a de um retirante montado num cavalo.

Cantigas. Repentista e autor de obras de cordel, o sertanejo Bule Bule é, de fato, o menos conhecido dentre os que comparecem no álbum. A afirmação é comprovada pelo “salve” do próprio Xangai ao compositor no final da cantiga que abre o disco, “Cancela do Sossego”, lírica narrativa sobre a paisagem interiorana. Para abrir ainda mais espaço ao cantor e instrumentista, Bule Bule é convidado a participar em “A Máquina de Lavar Roupa” e “Que Moça Bonita é Aquela”, essa segunda com toda a malícia característica das músicas de duplo sentido. A saudação a Elomar começa com “Puluxia das Sete Portas”, e acrescenta o sotaque de trovador pelo qual o autor ficou conhecido.

Ainda assim, “A Meu Deus um Canto Novo” e “Incelença do Amor Retirante” mantém o trabalho fixo sobre os ares da ruralidade. “Promessa ao Gantois”, “Deixa a Gira Girar” e “Cordeiro de Nanã”, parcerias de Mateus Aleluia com Dadinho, companheiro do grupo Os Tincoãs, sublinham a presença da religiosidade africana junto ao sertanejo.

O ritmo do trabalho muda de rota quando são convocadas ao baile três canções lançadas por Gordurinha, no caso “Súplica Cearense”, “Orora Analfabeta”, ambas de sua autoria, e “Mambo da Cantareira”, de Barbosa da Silva e Eloide Warthon, mas eternizada no registro do cantor falecido em 1969, o único dos louvados que não está mais vivo. Se em “Súplica Cearense” a paisagem permanece rural, o mesmo não se pode dizer das seguintes, que, com ginga e suingue, conduzem o ouvinte a uma ambientação urbana.

Dada a graça cômica e a qualidade instrumental das derradeiras faixas, esse deslize estético acaba por suscitar a vontade em conhecer mais do canto de Xangai junto a outras paragens que ele, por hábito, se acostumou a deixar de lado. Ora, nunca é tarde.

Fonte: Raphael Vidigal

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