"Festival de Horrores. O São João está virando uma festa estereotipada", acusa o cantor Alcymar Monteiro

Excluído da lista/programação de artistas que se apresentarão no São João de Campina Grande em 2017, o cantor Alcymar Monteiro postou em sua página de Facebook um vídeo no qual chama o evento de aberração, festival de horrores e “o maior festival de breganejo” do mundo.

“O São João está virando uma festa estereotipada, de pessoas que nada têm a ver com a nossa cultura...Campina Grande, Paraíba, eu posso dizer que o maior festival de breganejo do mundo e você, que está promovendo isso, devolva o nosso São João”.
 

Este ano os festejos juninos de Campina Grande foram terceirizados e uma empresa ganhou a licitação para realizar o evento. Na licitação foi estabelecida uma parceria público-privada.

Mas não se limitam a apenas Alcymar Monteiro os protestos contra a contratação de astros da música sertaneja, do chamado forró de plástico e de bandas que exploram o ‘brega’. Músicos como Santana, o Cantador, Fabiano Guimarães e o Poeta Francinaldo, de Campina Grande, também gravaram sua revolta em vídeo porque não foram contratados para tocar no Maior São João do Mundo.

Fonte: Rubens Nobrega
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I Curta no Araripe mostra de Cinema acontecerá entre os dias 20 e 23

O município de Exu, terra onde nasceu Barbara de Alencar e Luiz Gonzaga conta com um importante aliado para a divulgação da produção cinematográfica pernambucana. Entre os dias 20 e 23 de abril acontecerá a I Curta no Araripe Mostra de Cinema.

O Evento está programado para ser realizado em Exu (dias 20 e 21) e Araripina (22 e 23), na frente da Igreja Matriz. O projeto tem incentivo do Governo de Pernambuco, através do Funcultura.

Um dos idealizadores do evento, o Produtor Cultural, Escritor e ex-Secretário de Cultura, Turismo e Desportos do Município de Exu, Francisco Robério Saraiva Fontes (Bibi Saraiva) – revela que o objetivo é priorizar a exibição de trabalhos pernambucanos. Entre os filmes que serão exibidos está "Um amor ao Por do Sol"; Dona Barbara do Araripe; "Exu de Gonzagão, de todos nós"; Vila do Araripe, a casa de Luiz Gonzaga,  "Entra, Lua, a Casa é Sua"; Boi Ventania; Zoma; e Volta pra Casa Luiz.

Confira a programação completa:
EXU – PERNAMBUCO
DIA 20/04/2017 – QUINTA-FEIRA –
ÀS 7 HORAS DA NOITE
LOCAL: PRAÇA DA IGREJA MATRIZ
1 – “O CAVALEIRO DE SÃO JOSÉ” – SÃO JOSÉ DO BELMONTE
2 – “UMBILINA” - BODOCÓ
3 – “A PROMESSA” - CABROBÓ
4 – “UM AMOR AO PÔR DO SOL” – PETROLÂNDIA
5 – “VERDE VENTO” - TRIUNFO
6 – “O SACO DO VELHO” - TRIUNFO

DIA 21/04/2017 – SEXTA-FEIRA –
ÀS 7 HORAS DA NOITE
LOCAL: PRAÇA DA IGREJA MATRIZ
7 – “DONA BÁRBARA DO ARARIPE” - EXU
8 – “ZOMA” - EXU
9 – “ENTRA LUA, A CASA É SUA” - EXU
10 – “VOLTA PRA CASA LUIZ” - EXU
11 – “BOI VENTANIA” – EXU
12 – “1º FESTIVAL DE CINEMA E VÍDEO
DO SERTÃO DO ARARIPE”
ARARIPINA - PERNAMBUCO

DIA 22/04/2017 – SÁBADO –
ÀS 7 HORAS DA NOITE
LOCAL: PRAÇA DA IGREJA MATRIZ
13 – “A DAMA DE BARRO E O PRINCIPE DAS LETRAS” – SANTA FILOMENA
14 – “SANTA CRUZ DA VENERADA” – SANTA CRUZ
15 – “JOVITA FEITOSA” – OURICURI
16 – PEDRA MÁGICA – TRINDADE
17 – “A CAÇADA” – IPUBI
18 – “FULO DE AÇUCENA” – ARARIPINA

DIA 23/04/2017 – DOMINGO –
ÀS 7 HORAS DA NOITE
LOCAL: PRAÇA DA IGREJA MATRIZ
19 – “NO CAMINHO DO CLARANÔ – BODOCÓ
20 – “GRANITO, ONTEM, HOJE E AMANHÔ – GRANITO
21 – “PALAVRA DE MULHER” – MOREILÃNDIA
22 – “VILA DO ARARIPE, A CASA DE LUIZ GONZAGA” – EXU
23 – “EXU DE GONZAGÃO, DE TODOS NÓS” – PARTE I - EXU
24 – “EXU DE GONZAGÃO, DE TODOS NÓS” – PARTE II - EXU
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Clarissa Loureiro: Ler clássicos para que?

Um dos problemas atuais da formação humana, seja cultural ou moral está na ausência da leitura. Há uma impaciência comum do homem moderno com a linguagem que se demora em si. Como se ela fosse aquele amigo insistentemente verborrágico cujo palavreado e as ideias extravagantes adormecem o nosso interesse, tirando-nos do foco que nos caracteriza cotidianamente: “ a pressa de viver e alcançar o mais rápido os nossos objetivos”. A Literatura Clássica nessa nossa trajetória passa a ser uma pedra no caminho. Por que? Por que temos uma visão assustadora de cânone ocidental. E a função de minha fala é desconstruir isso. Concordo com Harold Bloom de que o cânone ocidental se identifique com uma lista de livros escolhidos para serem ensinados em nossas instituições de ensino como uma elite da linguagem, caracterizada por sua DIGNIDADE ESTÉTICA OU MELHOR AUTORIDADE ESTÉTICA. E sei que este preceito cria inicialmente uma guerra interior natural no homem moderno seduzido pela linguagem midiática com suas cores e objetividade linguística. E inquisições brotam como: Para que eu vou ler o que um grupo ( a crítica literária) dita como melhor, diferenciado. Quem são essas pessoas para imporem o que é belo?

São perguntas bem naturais, sobretudo, na juventude atual que busca, além da beleza da linguagem, uma discussão social, seja de gênero, raça, luta de classe social. Gente, o cânone não é comprometido com as causas sociais. E vou mais longe, esta não é a base da Literatura em sua origem. A boa literatura que se torna canônica é universal, ou seja, atravessa culturas, nações, tempos, transgredindo qualquer expectativa de se moldar aos interesses de um grupo. Sim, ela é difícil, como difícil é amar alguém em suas entranhas mais profundas além de um orgasmo instantâneo da penetração. Difícil como difícil é nos entender nos nossos mais perturbadores questionamentos interiores. Ela é difícil porque o homem em si é difícil em sua própria existência atemporal. O problema é que este mesmo homem moderno foge de uma reflexão sobre isso, simplificando-se a partir de linguagens que também o simplifiquem. Porque conhecer-se doi. Pior, interpretar-se no outro, ainda mais. E o individuo moderno repete-se: “já tenho problemas demais para procurar buracos dentro de mim que nem eu mesmo alcanço”. E fica na superfície.

As manifestações midiáticas de entretimento imperam. É bem mais fácil buscar-se em super-herois de quadrinhos que muitas vezes são adaptados para o cinema. Quem não se emocionou com a paternidade e a morte de Wolwerine em Logan? Eu me emocionei. Quem não pára para refletir sobre a metáfora do mutante, identificando-se com este próprio conceito. Eu mesma, Clarissa Loureiro, doutora em Teoria da Literatura, acadêmica, escritora, e dentro da categoria chata crítica literária me sinto a própria Jim em todos os seus diversos aspectos. É compreensível. O cinema fascina e descomplica. E as séries? São tantas interessantes né? Desde históricas como A rainha a fantasiosas Westewoold ou Guerra dos tronos. É uma concorrência desleal, não é? NÃO, NÃO É. O Problema é o que eu já disse. É a nossa constante busca de nos simplificar para corrermos eternamente para lugar
nenhum.


Na minha fala, vamos tentar ainda entender o cânone como um amigo chato que buscamos evitar na mesa do almoço, mas com quem podemos aprender muito se insistirmos. Em suas origens, o cânone é uma palavra religiosa, que se refere a uma escolha entre textos que lutam uns com os outros pela sobrevivência, vivendo agressões dos atacantes que buscam destruí-los. Sim, gente, o cânone nasce de uma batalha por uma sobrevivência dos textos no nosso imaginário, ao longo de décadas e, depois, séculos. É simples compreender isso. Existem músicas que tocam na rádio um mês e, depois, são esquecidas. Já outras, ecoam no nossos ouvidos justamente nos momentos que nós mais precisamos de nós mesmos. E o critério é o mesmo: a seletividade a partir de critérios severamente artísticos. Ai eu concordo com Harold Bloom quando afirma que toda originalidade artística se torna canônica. É preciso uma criatividade na linguagem que extrapole o comum, renovando-a, tornando-a tão atraente que queiramos vê-la como aquela mulher bonita que passa e deixa-se em detalhes diferenciados do olhar, do gesto, do cheiro, no intrigante desenho da boca feito pelo batom. Não é só a mulher enquanto corpo. È o que faz dele quando passa e fica na gente. E estas ideias surgem das próprias metáforas de Vinicius no célebre poema “ Mulher que passa”. O cânone é isso. Ele se apropria do corpo ( a linguagem) e o eterniza no que coloca sobre o ele, ou no que o transforma, fundando um pensamento ocidental.

Apesar de minha fala ser sobre os clássicos brasileiros, sou desobediente e ainda me apego a Bloom quando afirma: “o que seria do pensamento ocidental sem Shakespeare”. E ainda diz que Shakesepeare “ inventou o humano”. E eu assino em baixo. O que seria do amor romântico sem o célebre sacrifício dos jovens Romeu e Julieta que nos fazem refletir sobre a vivacidade da paixão de nosso próprios filhos e de nós, no passado. Sim, a paixão é jovem e se acaba antes da gente. Por isso, a beleza do sacrifício. È preciso que os amantes morram para que a paixão se eternize. Ai eu vou a um Gonçalves Dias pouco comentado: “Se se morre de amor! – Não, não se morre .... Amor é vida; é ter constantemente/ Alma, sentidos, coração – abertos/ Ao grande, ao belo, é ser capaz d’extremos/D’altas virtudes, ser capaz de crimes!”. 

Vejam que são dois autores de períodos históricos e estéticos diferenciados,dialogando sobre um tema universal que nos incomoda, nos fascina: o amor românticos. São duas literaturas que se tornam clássicas pois como afirma ítalo Calvino: os clássicos são livros que exercem uma influência particular quando se impõem como INESQUECÍVES e também quando se ocultam nas obras da memória, mimetizando-se como INCONSCIENTE COLETiVO OU INDIVIDUAL. Tanto a tragédia clássica de Shakespeare como este poema romântico de Gonçalves Dias falam sobre a capacidade de se entregar ao amor de modo tão pleno que morremos um pouco quando ele se acaba. E por que não morrer de amor como Julieta e Romeu? É o que mais queremos, mas não podemos, porque precisamos continuar correndo. Afinal temos pressa e “todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam ridículas se não fossem de amor”. Já diria o nosso papa canônico Pessoa, ironizando o próprio amor. 

Precisamos correr porque o tempo de minha fala está se esgotando, temos hora marcada. E o outro palestrante precisa falar. Mas eu sou teimosa e insisto em ficar em Shakespeare. Sou desobediente, sempre! Um dos temas mais comuns nas tragédias de Shakespeare é a loucura. Lady Machbeth enlouquece, lavando eternamente suas mãos pelos crimes que cometeu. Rei Lear enlouquece por conta da falta de amor de suas duas filhas, vagando com seu parvo sábio pelo desertos interiores de si mesmo. Ofélia enlouquece quando descobre que seu amado Hamlet matou seu pai, E o próprio Hamlet se faz de louco para vingar seu pai. São narrativas canônicas na própria sacralização da loucura que depois será retomada por Machado de Assis em obras relevantes de sua trajetória literária. Mas continuemos com Shakespeare. Por que esta sacralização? Ora, gente, há uma ressignificação da loucura. Ficar louco é um efeito de completa sanidade de si e, ás vezes, do mundo.

Machbeth tem a mais dolorosa consciência de sua condição assassina e repete isso, lavando suas mãos insistentemente como se quisesse lavar sua alma. Esse tema depois é retomado por Dostoivsky em “ Crime e Castigo”, quando Rodion Românovitch Raskólnikov vive asfebres da consciência por ter assassinado uma idosa para sobreviver, gerando um outro recurso da literatura presente na realização da consciência: a polifonia. Depois, retomado pela Obra Angústia, quando traz à tona a consciência de um assassino vivendo delírios internos. Matar é fácil, ter a consciência da morte do outro dentro da gente que é difícil. E ai eu volto a Italo Calvino quando afirma que “Os clássicos são aqueles que chegam até nós trazendo consigo marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura e nas culturas que atravessaram ( ou mais simplesmente na linguagem ou nos costumes)”. Shakespeare está Dostoivsky que está Graciliano, ressignificando um tema que incomoda até hoje: a humanidade de um assassino. Para a gente, é mais fácil jogar pedras nos vilões de novelas ou mesmo nos goleiros dos jornais sensacionalistas. Temos que simplificar. É ou não é. Ser não sendo é muito complicado, mesmo isso acontecendo conosco o tempo todo.


Ler os clássicos para que? Sofrer, a vida já é sofrida. Mas por que é? A vida sempre existiu. E nós nunca soubemos vê-la. Os clássicos abrem os olhos para esta dolorosa existência da vida. E eu me detenho diante de Ofélia, minha personagem Shakesperiana preferida e sua célebre frase: “ eu não temo o que sou mas o que posso me tornar”. É a fala de uma louca antes de um suposto suicídio por não suportar amar o assassino do seu próprio pai. Eis a loucura em sua extrema sanidade. Como ela poderia imaginar que ela persistiria a amar o homicida de sua origem. Mas ela sabe que ama. E é essa consciência quelhe desequilibra. Então, saber desequilibra a gente. Sim. A ignorância nos fornece a sanidade mental que simploriamente definimos como “ dormir em paz”. E a falta desta paz é a loucura também presente em Machado, quando Flora em “ Esau e Jacó” se descobre, precisando do amor de dois gêmeos fundidos num só para se descobrir plena. Ama como Ofélia o inconciliável. E ai nós temos dois Clássicos mais uma vez quando se identificam com a frase de Italo Calvino quando afirma que “UM CLÁSSICO É UM LIVRO QUE NUNCA TERMINOU DE DIZER AQUILO QUE TINHA A DIZER”. Os dois livros se completam no tema porque tratam de um tema inesgotável: a capacidade do amor enlouquecer a gente, nos tornando lúcidos acerca de nossa fragilidade humana. Porque a nossa fortaleza é mais uma vez uma ilusão de nossa correria, como já disse antes, para lugar nenhum. Mas talvez a pior lucidez é a da própria fragilidade humana espalhadas nas ações dos homens que nos destroem ou nos prejudicam ou mesmo nos frustram. Ai retomo mais uma vez Shakespeare.


Rei Lear é a própria reflexão sobre a decadência do homem com a decadência da família. Fala de um sentimento universal: a solidão na velhice. Como se sente um pai metaforicamente abandonado pelas 3 filhas? E ai atualizo isso para os dias atuais. Que pai não se sente rei de seu lar até o momento que as filhas casam-se, substituindo-o por outro, ou quando sozinhas escolhem construir seus próprio mundo. Todos não enlouquecem um pouco, esperando fazerem parte de um novo reino que não cabem mais? Porque cada reino tem um rei. A loucura é exatamente a dor de não poder mais imperar. Mas imperamos?. Quando? A loucura é a certeza que somos frágeis quando amamos e esperamos. Penso na solidão de meu pai. 3 filhas em cidades diferentes. E eu que nem casada estou ouço sofrendo sempre a eterna frase repetida: “ juízo, minha filha”. A minha liberdade é a prisão do meu pai que o enlouquece também se sentindo abandonado depois de ter me dado todas as riquezas de sua alma. E onde entra os clássicos nisso? Retomo Ítalo Calvino: “O seu clássico é aquilo que não pode ser-lhe indiferente e que serve para definir a você próprio em relação e talvez em contraste com ele. O Clássico faz isso com a gente. Mas precisamos ler com o corpo no sentido definido por Roland Barthes quando afirma que o texto de prazer: “é aquele que contenta, enche, dá euforia; aquele que vem da cultura, não rompe com ela, está ligado a uma prática confortável da leitura. Texto de fruição: aquele que põe em estado de perda, aquele que desconforta (talvez até um certo enfado), faz vacilar as bases históricas, culturais, psicológicas, do leitor, a consistência de seus gostos, de seus valores e de suas lembranças, faz entrar em crise sua relação com a linguagem”.


Precisamos nos encontrar aos clássicos como nos entregamos a nós mesmos nos personagens, espaços, ações, cientes de que sempre haverá uma conciliação de horizontes de expectativas, bem no sentido definido por Robert Jauss quando diz que “O prazer estético envolve participação e apropriação, uma vez que, diante da obra literária, o leitor percebe sua atividade criativa de recepção da vivência alheia. A experiência estética consiste em que o leitor sinta e saiba que “seu horizonte individual, moldado à luz da sociedade de seu tempo, mede-se com o horizonte da obra e que, desse encontro, lhe advém maior conhecimento do mundo e de si próprio”. 


A experiência estética, portanto, compreende prazer e conhecimento; e, por meio do diálogo entre texto e leitor, a criação literária atua sobre um público oferecendo padrões de comportamento e, ao mesmo tempo,emancipando-o. O que quero defender com isso? Ler os clássicos é desbravar-se, ciente do que Umberto Eco defende de que o texto literário é um mecanismo preguiçoso (ou econômico) que vive da valorização de sentido que o destinatário ali introduziu. Nem todo clássico será bem recebido pelo leitor porque nem sempre o leitor estará pronto para se relacionar com ele. Concordo com Mário de Andrade que para se ler Machao de Assis, é preciso ter maturidade. Haja vista a minha relação com Dom Casmurro que se transformou, à medida que minhas leituras com outras obras e de vida foram se alterando. Aos 18 anos, eu lia com a ansiedade de uma jovem. Queria respostas rápidas.

Parece que na juventude, a pressa é ainda mais intransigente. E eu odiei, mal entendia a própria Capitu que se fala dentro de mim. E a gente houve bem a gente quando se tem 18 anos? Na década de vinte,apliquei aspectos do realismo na obra, numa avaliação estética vazia de aspectos interpretativos significativos. Eu ainda não estava pronta. Mas já sabia disso. A consciência da linguagem é também um processo vagaroso de se alcançar. Só depois dos trinta, a vida eas leitura de Otelo em Shakespeare me mostraram Bentinho e toda a discursão sobre o ciúme como um aspecto humano atemporal e entendi que Machado buscava construir uma pessoa moral e não discutir o adultério em sim. Eu havia me encaixado no conceito de leitor modelo, defendido por Umberto Eco.

Eu lia Machado em busca de uma linha filosófica que o próprio Machado havia traçado para si, num jogo dialético de co-participação entre autor e leitor no processo de realização textual. E hoje me considero machadiana no que busco dele em outras obras que avalio e no meu próprio olhar sobre o mundo. Mas nem todos serão. E é essa graça. Para cada leitor há um clássico ou dois ou três que insiste tanto em ler que surge uma cumplicidade tamanha entre leitor, o autor, livros, suas linguagens, seus temas que eles ecoam nos nossos ouvidos, quando nos sentimos tão sós de não ter jeito, bem no sentido bandeiriano. Mas precisamos insistir. Ler os clássicos sejam brasileiros ou não é um trabalho de insistência, como também é a de se relacionar com as pessoas.

A Academia nomeia, mas somos nós quem gravamos em nossas vidas, quando descobrimos que eles dizem exatamente o que nem series, nem novelas, até filmes não falam: “ o silêncio cheio de vozes existente na leitura”. E é ele que os faz atravessar séculos porque o que mais o homem precisa é de um diálogo silencioso consigo mesmo. E isso só a Literatura proporciona...

Fonte: Clarissa Loureiro-professora da UPE. Doutora em Teoria da Literatura
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Aderaldo Luciano: quero aproximar o termo português forró, ao termo árabe alforria, liberdade

A banda paraibana Cabruêra desceu ao sul e instalou-se no Rio de Janeiro em setembro de 2001. Lá, fundou a Cabrahouse, primeiro em Copacabana, depois em Santa Teresa, tradicional bairro de artistas. Ao chegar, debutou na TVE e lançou disco no palco da resistência cultural carioca, o Teatro Rival, e assim seguiu arrebanhando um cordão de adoradores. Zé Guilherme, o Munganzé, um dos melhores percussionistas do Brasil, um dos pilares da Cabruêra, vindo aqui em casa, incitou-me a explicar a origem do termo “forró” para uma oficina de percussão no Festival de Inverno de São João del Rey, em Minas Gerais, onde a banda tocaria.

Pois bem. Discutíamos a gênese da palavra a partir de duas explicações para o que se passou a chamar de forró. A primeira está ligada à construção da malha ferroviária no interior de Pernambuco por engenheiros ingleses que, em suas horas de folga, patrocinavam pequenas rodas nas quais a liberdade, municiada pelo consumo de álcool, pontuou a descontração e a dança. Essas rodas eram “for all”, para todos, no idioma nativo dos ingleses. Daí a pronúncia aberta “forró”. Sem registro que legitime tal origem, fica-se no âmbito da lenda.

A segunda é apresentada pelo folclorista Rodrigues de Carvalho, em seu Cancioneiro do Norte de 1903, aponta uma associação entre forró e forrobodó, festa popular das pontas de rua, baile popular aberto para toda a população pobre. Câmara Cascudo registra a mesma origem fazendo um levantamento da aparição do termo desde 1833, para encontrar uma variante datada de 1952, num semanário chamado A Lanceta, sem indicação de local. O termo é forrobodança, uma espécie de dança chula popular.

Acredito que essas duas teses sejam insuficientes, mesmo porque fica difícil determinar data para surgimento de qualquer palavra. Respeitando a pesquisa, talento e autoridade dos dois folcloristas, lanço uma terceira via. Quero aproximar o termo português forró, ao termo árabe alforria, liberdade dada aos escravos. Quando um destes era alforriado a palavra “fôrro” servia-lhe de epíteto, recebendo, inclusive um par de sapatos, se para dançar, não sabemos. Elomar, em sua cantiga O Violeiro, canta “Deus fez os home e os bicho tudo fôrro...”. De forria para fôrro, de fôrro para forró, celebração da liberdade, da quebra do jugo e dos grilhões. Não é isso que o forró faz?

Os testemunhos populares na diferenciação entre as festas de São João, festa popular, marca indelével das tradições nordestinas, e Natal, tradição européia, servem de esteio para minha tese. Enquanto a festa de Natal é descrita como uma festa formal, o São João prega a liberdade, é festa livre e comunitária, não requer roupa nova, nem champanhe para comemorar. E todas as classes e raças são chamadas ao arrasta-pé, criando um valor fundamental para a miscigenação de raças e culturas, no dizer de Darcy Ribeiro, e imprescindível para a construção do humanismo, segundo Jorge Amado.

O que nos interessa, também, é a divulgação desse ritmo propagada pelo pioneiro Luiz Gonzaga, primeiro nordestino a assumir compromisso com esse suposto novo estilo musical, depois de fazer o caminho do sul. Falar de Gonzaga é repetir-se, sempre. Sua história e sua vida estão na boca do povo e dos artistas, transformado em ícone institucional na etno-musicalidade brasileira. Muito embora construindo uma realidade folclórica do Nordeste, com seus vaqueiros e cangaceiros, plantou a semente da música popular regional nordestina em todo o Brasil. Asa Branca transformando-se na bandeira, estandarte dessa visão.

Gonzaga sofre, entretanto, críticas oriundas de um outro mito: Jackson do Pandeiro. O ritmista paraibano apregoava que o baião originou-se do coco e que o feito do Rei do Baião não passava de um novo invólucro para um velho ritmo. Zé Guilherme me diz que o jornalista Rômulo Azevêdo, de Campina Grande, numa tentativa de conciliação entre os pilares formadores do forró, um paraibano e o outro pernambucano, defende o império imaginário de Parabuco, um híbrido situado entre Caruaru, a capital do forró, e Campina Grande, terra do Maior São João do Mundo. Essa, talvez seja a melhor opção, o lúdico, a criatividade, a liberdade, a alforria.




Fonte: Aderaldo Luciano-professor, doutor em Ciencia da Literatura
 
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Secretário de Comunicação da Bahia promove reunião com imprensa do Vale do São Francisco

Durante a manhã desta terça-feira (18), a área de comunicação do Governo da Bahia apresentou à imprensa de Juazeiro e região os seus principais projetos e ações em um encontro especial no Rapport Hotel, com a presença do secretário André Curvello que contou com a presença do Deputado Estadual Roberto Carlos, do Prefeito Paulo Bomfim e do ex-Prefeito e atual Assessor de Planejamento Estratégico Isaac Carvalho.

Durante exposição André Curvello falou dos principais programas de governo para a inclusão da juventude no mercado de trabalho, programas que estão garantindo enorme sucesso, dada a participação efetiva dos jovens. "Mas este encontro visa também garantir o máximo de transparência da gestão de Rui Costa, e a aproximação com a mídia regional é fundamental para assegurar que as informações cheguem de maneira clara e rápida ao cidadão", afirmou Curvello.

“Nosso objetivo central é promover ainda mais a proximidade com os formadores de opinião, comunicadores e empresários do setor como forma de estreitar o relacionamento com as diferentes áreas de conteúdo da Secom, a fim de facilitar o acesso dos profissionais de comunicação e aperfeiçoar a divulgação das realizações da atual gestão de maneira regionalizada” pontuou o titular da pasta de comunicação da Bahia.

Fonte:Secom-Ítalo Duarte
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Revista Globo Rural destaca criação de cabras e produção de queijo em Taperoá, Cariri da Paraíba

O Sertão permite muitos olhares: o mais comum une a terra rachada e seca a carcaças de animais mortos. Nem tão aparente, há um Sertão produtor, que busca a fertilidade insistentemente. E consegue encontrá-la. É nele que está encravada a Fazenda Carnaúba, em Taperoá, no Cariri paraibano, a 260 quilômetros da capital.

Numa mistura de sonho e persistência o engenheiro Manoel Dantas Vilar Filho e o escritor Ariano Suassuna (1927 – 2014), seu primo, conseguiram fazer brotar na Carnaúba uma fábrica artesanal de queijos premiados no Brasil – e que já despertam o interesse do mercado exterior.

O Laticínio Grupiara tem capacidade para produzir 1.500 litros de leite de cabra por dia, o que resulta em 180 quilos de queijo, o equivalente a 800 peças. Mas a conta aqui precisa ser revista pela seca, ou pela “desarrumação das águas”, como diz Manelito Dantas, referência e profundo conhecedor da região e de suas possibilidades, que completou 80 anos neste 2017. Depois de longo período de estiagem, a Carnaúba produz hoje 20% de sua capacidade.

É trabalho e a crença – e não lamento – que regem os dias da fazenda sertaneja. “O Brasil com o Nordeste seco bem incluído, tem a vocação e o destino de ser, também, a grande nação agropecuária, sobretudo pecuária, do mundo” defende Manelito.

O que hoje sedimenta e distingue os resultados da fazenda começou nos anos 1970, quando Ariano Suassuna e Manelito Dantas decidiram iniciar a criação de cabras, priorizando a escolha dos animais.

Queriam um rebanho nativo e precisaram formá-lo viajando Sertão adentro, visitando feiras, garimpando entre os criadores. Grupiara, o nome do laticínio, escolhido pelo autor de Auto da Compadecida, significa “veio de diamantes”, numa alusão à preciosidade que guarda a Carnaúba e seus queijos.

Em mais de 40 anos, erraram e acertaram; fizeram, desfizeram, refizeram. Mas havia fôlego e argumentos movendo a dupla: “A França, que tem um rebanho caprino estimado em apenas 960 mil cabeças, ganha uma fortuna com o leite e o queijo de suas cabras. O rebanho brasileiro de cabras é de 14 milhões, dos quais  11 milhões estão no Nordeste”, escreveu Ariano, em artigo publicado em maio de 2000, no jornal Folha de São Paulo, no qual justamente elogiava uma reportagem de GLOBO RURAL sobre a criação de cabras.

Em 1972, quando começaram a criação, tinham menos de 150 animais. Hoje são 2.300 cabras. O plantel de caprinos é composto por dez raças: parda sertaneja, moxotó, graúna, serrana azul, repartida, Canindé, marota, murciana preta, caoba e biritinga. Os animais se espalham pela caatinga, enfrentam o Sertão e provam que ali podem viver e resistir. “Sou dos que acreditam que só o sonho e a utopia são capazes de carregar a realidade do chão raso para o alto e para o sol”. Era assim, com poesia que Ariano falava de suas cabras.

Há mais do que poesia em Taperoá. “Produzir queijos no Sertão possibilita vivermos aqui, não precisar migrar para cidade e poder trabalhar no que gostamos e sabemos fazer, morar onde nos criamos, diz Joaquim Dantas Vilar, um dos cinco filhos de Manelito. Todos eles, de alguma forma, se envolvem com a produção dos queijos. “Fomos criados num ambiente riquíssimo de bons valores: produzir com qualidade, identidade. Valorizar nosso mundo é uma obrigação que nos deixa felizes e realizados”, reforça, demonstrando o que aprendeu com seu pai.

Os queijos do Sertão são vendidos em delicatessens, lojas especializadas e mercados espalhados pelo Brasil. Os produtores receberam convites para mostrá-los na França, país que venera, produz e consome como nenhum outro o queijo de cabra. Mas, há mais de dois anos, os queijeiros paraibanos travam uma batalha com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento da Agropecuária, que tem se recusado a renovar o registro dos produtos, alegando que eles precisam se adequar aos nomes do mercado – a maioria de origem estrangeira, como boursin ou chèvre.

Na Carnaúba, os queijos, temperados com ervas sertanejas, são chamados de cariri, arupiara e Borborema. As autoridades não aceitam as denominações; os queijeiros não admitem o uso de estrangeirismos em seus queijos. “Eles dizem que nossos nomes não existem. Que a gente tem de usar “tipo bursin”, “tipo camembert”. Mas isso vai de encontro a tudo o que estamos construindo, com suor e coragem, em nosso dia a dia”, avalia Joaquim.

A luta é parte da lida, sabem bem os sertanejos. Olhando para trás, Manelito Dantas descreve o que hoje vê em suas terras da Fazenda Carnaúba: “Enxergava que iríamos chegar onde estamos hoje. Uma mistura de sonho com consciência”.

Fonte: Revista Globo Rural – n. 378, Abril 2017
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Massacre dos Carajás é lembrado nesta segunda-feira 17 de abril

Em 17 de Abril de 1996, ocorria a chacina de 21 trabalhadores sem-terra, na Curva do S, trecho da rodovia PA-275, no sul do Pará, pelas mãos da Polícia Militar. Passadas duas décadas do massacre em que trabalhadores rurais sem-terra foram mortos pela Polícia Militar, a região de Eldorado dos Carajás, no sudeste do Pará, volta a ser o centro das atenções da comunidade internacional dedicada à luta no campo e permanece uma das áreas de maior tensão no meio rural brasileiro.

Como em todos os anos, as 690 famílias sobreviventes que hoje vivem no assentamento 17 de abril participam de um ato ecumênico na curva do “S”, na BR-155, onde ocorreu o massacre. Lá, 21 castanheiras foram plantadas em homenagem às vítimas da chacina.

Este ano, juntam-se a eles dezenas de representantes de movimentos em defesa da reforma agrária que vieram de países da África, Ásia, América Latina e Europa. “Eldorado dos Carajás é um evento emblemático para a comunidade internacional que luta pela reforma agrária, que abriu nossos olhos para a necessidade de globalizar a luta”, disse Faustino Torrez, da Asociación de Trabajadores del Campo (ATC), da Nicarágua.

A grande comoção mundial gerada pela dramaticidade do massacre - no qual os legistas apontaram a ocorrência de execuções à queima roupa de camponeses, além de trabalhadores mutilados após serem perseguidos pelos policiais até as barracas nas quais acampavam à beira da estrada – levou o dia 17 de abril a se tornar o Dia Internacional de Luta no Campo.
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