COLÔNIA GONZAGUIANA DO CARIRI PROMOVE PROCISSÃO DOS SANFONEIROS

O Crato, Ceará, Luiz Gonzaga visitava frequentemente e por isso deixou amigos, canções e lembranças. "Eu vou pro Crato, vou matar minha saudade. Ver minha morena, reviver nossa amizade". Eternizada na voz Luiz Gonzaga,

"Eu vou pro Crato" é uma homenagem à cidade que sempre acolheu o Rei do Baião, que, no dia 02 de agosto, sábado, completa 36 anos de saudades desde que "partiu para o "Sertão da Eternidade".

No dia 5 de julho, o Cariri se tornará palco de uma das mais vibrantes e emocionantes manifestações culturais do Nordeste brasileiro. A I Procissão dos Sanfoneiros do Cariri vai homenagear Luiz Gonzaga, celebrando os 36 anos de saudades do eterno Reio do Baião. O evento vai reunir sanfoneiros dos 32 municípios que formam o Cariri, entre eles o Juazeiro do Norte do Padre Cícero.

O evento vai acontecer no Crato, às 9h30 e a Procissão dos Sanfoneiros vai percorrer as principais ruas do centro, os "Caminhos de Luiz Gonzaga no Crato", lugares que o sanfoneiro reverenciava, exemplo Praça Siqueira Campos,  Crato Tênis Clube, Urca e Praça da Sé.

A Procissão dos Sanfoneiros foi definida durante reunião dos membros da Colônia Gonzaguiana do Cariri que aconteceu na noite de sexta-feira (14), na Casa de Cultura Festa no Sertão, espaço cultural idealizado pelo radialista José Ideval da Silva, Seu Zezé. Os membros do Grupo de Amigos e Admiradores do Reio do Baião, de Caririaçu, estiveram presentes.

Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, é uma das figuras mais importantes da música brasileira, responsável por popularizar o forró e outras tradições musicais do Nordeste. Seus 36 anos de falecimento serão lembrados com muita música e emoção.

Reginaldo Silva, memorialista e produtor cultural que trabalhou com Luiz Gonzaga explica que a Procissão dos Sanfoneiros será mais uma das mais ricas e emocionantes homenagens ao Sanfoneiro do Povo de Deus, Luiz Gonzaga, um momento de união, música e reconhecimento da arte gonzaguiana.

O historiador, Huberto Cabral, Doutor Honoris Causa da Universidade Regional do Cariri, considerado uma ‘enciclopédia viva’ da história regional, ressaltou a paixão que Luiz Gonzaga tinha pelo Crato.

"Uma justa homenagem. Luiz Gonzaga é exemplo de identidade cultural e merece todas as homenagens pelo cidadão brasileiro e que também recebeu título de Cidadão do Crato", finalizou Humberto Cabral.

O jornalista Ney Vital. Colaborador da REDEGN, durante entrevista ao Programa de Rádio Nordestão Sertanejo, exibido pela Rádio Educadora ressaltou que no mundo globalizado, toda e em especial atração cultural e turística que tem Luiz Gonzaga é fator de geração de renda e emprego. Na arte os gênios são os que revolucionam e por isso a Procissão dos Sanfoneiros do Cariri será um marco na história da região.

LUIZ GONZAGA E O CRATO-JUAZEIRO: Nascido em Exu, Luiz Gonzaga era apaixonado pelo Crato e Juazeiro. Huberto Cabral cita que era comum Luiz Gonzaga visitar o Município, principalmente no período da construção do Parque Aza Branca, em Exu, inaugurado em 1989, após a sua morte. 

A relação com o Crato, porém, começou bem antes. Na infância, Luiz e seu irmão, Zé Gonzaga, acompanhavam o pai, Januário, na feira da cidade, onde vendiam corda. Após sucesso na região Sudeste, na década de 1940, Gonzaga, já adulto, retornou ao Município para fazer seu primeiro show em solo cearense, no Cine Casino Sul Americano, no dia 10 de julho de 1946. Com plateia lotada, o Rei do Baião cantou e puxou a sanfona com alguns de seus sucessos, como "Vira e Mexe" e "Baião" e "No meu pé de serra".

Luiz Gonzaga animava os leilões da festa de São Francisco. Ele ajudou a arrecadar muito dinheiro para a construção do Hospital São Francisco e da Igreja de São Francisco.

"Ele obrigatoriamente transitava pelo Crato quando ia para Exu. Em 1951, inaugurou a Rádio Araripe, junto com Januário e Zé Gonzaga. O mesmo aconteceu em 1959, quando inaugurou a Rádio Educadora do Cariri. Antes disso, realizou o primeiro Show da Exposição do Crato no Parque Pedro Felício. Ele foi um grande benfeitor da Expocrato. Todo ano ele vinha", lembra o radialista Huberto Cabral.

Além da exposição, Luiz Gonzaga realizou shows na Praça da Sé, no Crato Tênis Clube e na AABB. O título de Cidadão do Crato,  ele recebeu em 1964, e a medalha Bárbara de Alencar.

Sempre que ia ao Crato, Luiz Gonzaga se hospedava na casa do amigo Manoelito Parente. A ligação começou desde os tempos de menino, no Exu, quando trabalhou na Fazenda Manoçoba, apanhando algodão. O dono da plantação era o pai de Hilda Parente, esposa de Manoelito. Depois que retornou, já consagrado "Rei do Baião", o cantor retomou o contato e começou a amizade com a família. "Quando vinha pra cá, ele começou a se arranchar lá em casa", conta Hildelito Parente, músico e filho do casal Hilda e Manoelito

"Meu pai falou com ele quando a Igreja de São Francisco estava em construção. Eles queriam que ele fizesse uma participação para tirar uma graninha para a igreja. Quando meu pai soube que ele era de Exu, e minha mãe também era de lá, ele fez o contato. Eles recordaram a amizade de jovens. Aí a amizade ficou mais aproximada", completa.

Hildeleito Parante teve duas músicas gravadas por Luiz Gonzaga "Sou do Banco", e "Bandinha de Fé".

Recentemente, Luiz Gonzaga ainda inspira muitas pessoas, como o menino Pedro Lucas Feitosa, que aos 12 anos, criou o Museu Luiz Gonzaga, no distrito de Dom Quintino, no município de Crato.

O gosto pelo artista começou aos cinco anos, quando ouviu "Asa Branca" na festa junina da escola. "Eu voltei pra casa cantando essa música e minha tia ouviu. Eu errava a letra, ela completava. Aí, ela me deu um CD e MP3 e aprendi mais músicas. Era ouvindo todo dia", conta o estudante.

Em 2013, visitou o Parque Aza Branca, em Exu, e se inspirou no Museu de Luiz Gonzaga e criou seu próprio museu aos oito anos. "Como aqui no Dom Quintino não tinha nenhum ponto turístico, tornei a casa antiga da minha bisavó o museu", explica. Lá, ele reúne objetos antigos, como rádio, ferramentas, máquina de escrever, além, claro, de fotos, cartaz, jornais, folhetos, discos, CDs do "Velho Lua". Tudo doado a partir da divulgação no rádio e TV.

"É Luiz Gonzaga sempre modernidade", finaliza Pedro.

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PATATIVA DO ASSARÉ COMPLETARIA 116 ANOS NESTA QUARTA-FEIRA, 5 DE MARÇO 2025

Neste 5 de março, Antônio Gonçalves da Silva, o eterno Patativa do Assaré, completaria 116 anos. Cantador, repentista, compositor e referência da poesia popular brasileira, o filho de Assaré deixou um legado que atravessa gerações.

Patativa foi porta-voz do povo excluído de seu tempo e denunciou as desigualdades sociais. Criou versos que retratavam a vida simples do homem do campo e preservou a oralidade de seus saberes profundos. Sua voz e sensibilidade única ultrapassaram as fronteiras do Ceará.

As obras “Inspiração Nordestina” (1956) e “Cante Lá Que Eu Canto Cá” (1978) lhe consolidaram entre os grandes da literatura nacional. O cearense deixou sua arte registrada em livros e discos. A partir deste reconhecido acervo, vários outros artistas, pesquisadores, memorialistas e historiadores tiveram o primeiro contato com a literatura e puderam desenvolver seus trabalhos.

Os versos de Patativa ganharam vida na interpretação de artistas como Luiz Gonzaga (1912-1989), que eternizou os versos de “Triste Partida”, um dos mais profundos retratos acerca da migração nordestina.

Quase duas décadas após sua morte, em 2002, a memória do cearense prossegue como inspiração para sua gente. O Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), criou e concede a “Comenda Patativa do Assaré”. Além de homenagear o poeta, a honraria celebra aqueles que dedicam suas vidas à arte e à tradição popular.

Criada pela Lei Estadual n.º 16.511, de 12 de março de 2018, esta iniciativa reforça o compromisso do estado com a valorização dos saberes e fazeres do povo, incentivando a preservação e difusão das manifestações culturais.

A condecoração é dada a pessoas que se relacionam com uma ou mais linguagens artísticas (música, teatro, dança, circo, literatura, cultura alimentar, artes visuais, humor, moda, expressões culturais afro-brasileiras e indígenas, dentre outras) e/ou a cultura tradicional popular (reisados, lapinhas, caretas e bois, entre outras).

No aniversário de 116 anos de seu nascimento, Patativa do Assaré continua ecoando os fazeres e saberes de um povo, reafirmando a tradição e a memória dos nordestinos.

Para salvaguardar e projetar a arte do poeta, a Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece) reúne rico acervo e traz ao público um especial encontro com as obras de Patativa, bem como autores e autoras que o estudaram.

Ao visitar o espaço público do Governo do Ceará, os visitantes podem apreciar as obras no setor de “Coleção Ceará”. O acervo é composto por uma série de trabalhos como poemas, cordéis, biografia, coletâneas e publicações acadêmicas.

A Bece reúne títulos como o já citado “Cante lá que eu canto cá”, “Patativa em sol maior: treze ensaios sobre o poeta pássaro” (2009) e “O melhor do Patativa do Assaré” (2020), lançado pela Secult Ceará e organizado pela referência nacional nos estudos de cultura popular, o professor, pesquisador e comunicador Gilmar de Carvalho (1949-2021).

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PAPA FRANCISCO ELOGIA O TEMA DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025: ECOLOGIA

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lança nesta Quarta-Feira de Cinzas (5) a Campanha da Fraternidade 2025, com o tema Fraternidade e Ecologia Integral. 

Já o lema bíblico escolhido para a campanha e extraído do livro do Genesis é: “Deus viu que tudo era muito bom”.

Em nota, a CNBB destacou que a campanha foi inspirada na publicação da Carta Encíclica Laudato Si’ do papa Francisco que, em 2025, completa 10 anos; nos 800 anos da composição do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis; e na 30ª Conferência das Partes (COP30), a ser realizada em novembro em Belém.

“O objetivo geral da campanha é promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra”, informou a entidade.

A CNBB divulgou ainda uma mensagem enviada pelo papa Francisco em razão da Campanha da Fraternidade 2025. No documento, o pontífice louva o que chama de “esforço em propor o tema da ecologia, junto à desejada conversão pessoal a Cristo”.

O santo padre chama a atenção de toda a humanidade para a “urgência de uma necessária mudança de atitude” em nossas relações com o meio ambiente e recorda que a atual crise ecológica simboliza um apelo a uma profunda conversão interior.

“O meu predecessor de venerável memória, São João Paulo II, já alertava que era preciso estimular e apoiar a ‘conversão ecológica’, que tornou a humanidade mais sensível ao tema do cuidado com a casa comum”, destacou Francisco.

“Que todos nós possamos, com o especial auxilio da graça de Deus neste tempo jubilar, mudar nossas convicções e práticas para deixar que a natureza descanse das nossas explorações gananciosas”, concluiu.

Celebrada nacionalmente desde 1964, a campanha da fraternidade, de acordo com a CNBB, é um modo de a Igreja Católica no Brasil celebrar o período da quaresma, em preparação para a Páscoa, com atitudes de oração, jejum e caridade.

“O ponto alto da campanha é a coleta da solidariedade, realizada em todas as comunidades do Brasil no Domingo de Ramos – neste ano, nos dias 12 e 13 de abril. Os recursos são destinados a projetos sociais em todo o país.”


 

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CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025 REFLETE SOBRE A ECOLOGIA E OS CUIDADOS COM O PLANETA TERRA

Os cuidados com o planeta Terra, a conscientização sobre coleta seletiva de lixo e a preservação do meio ambiente serão os temas em 2025 da Campanha da Fraternidade, promovida anualmente pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Com o tema “Fraternidade e Ecologia Integral” e o lema “Deus viu que tudo era muito bom”, a escolha da campanha em 2025 teve uma série de motivações, entre eles, os 800 anos da composição do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis; os 10 anos de publicação da Carta Encíclica Laudato Si’; a recente publicação da Exortação Apostólica Laudate Deum; os 10 anos de criação da Rede Eclesial PanAmazônica (REPAM) e a realização da COP 30, em Belém (PA), a primeira na Amazônia.

“Em 1225 São Francisco compôs o hino das criaturas e a justificativa é como se ele estivesse se reconciliando com a natureza, de modo que ele chama tudo na natureza de irmão: irmão Sol, irmã Lua, irmã Terra, porque ele se compreende parte da natureza”, lembra o coordenador arquidiocesano da Campanha da Fraternidade 2025, monsenhor Robério Camilo. 

Em relação a outra motivação para escolha do tema, a Carta Encíclica Laudato Si completa 10 anos neste ano, sendo uma das primeiras ações do Papa Francisco após sua escolha para a missão de Sumo Pontífice. O documento constituiu um marco em mil anos de Igreja Católica, sendo a única dedicada exclusivamente aos desafios ecológicos dos tempos atuais com o tema “O cuidado da Casa Comum”.

“Esse tema é interessante demais porque, além disso, as mudanças climáticas estão aí na nossa cara. O calor que estamos sentindo hoje não é de graça, ele tem um motivo, tem uma causa”, acrescenta.
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O VALOR DO CAFÉ E SUA IMPORTÂNCIA PARA A ECONOMIA E CULTURA DO BRASIL

Artigo: O valor do café e sua importância para a economia e cultura de nosso país

O café, uma bebida consumida em vários países, teve sua origem na África, nas terras altas da Etiópia (Cafa e Enária).

O nome “café”, pode ter sua origem na região de Cafa, sendo atualmente uma das bebidas mais consumidas no mundo.

Há diversos tipos de grãos de café (arábica, robusto, etc.) e algumas derivações, como o expresso, cappuccino, mocha, café gelado, café com leite, dentre outros.

Ultimamente tem se discutido muito acerca do aumento de preços da cesta de consumo nos supermercados e em especial do café.

O preço do café subiu 46% em 2024 nas gôndolas do varejo e passou a pesar mais no bolso do consumidor brasileiro. A bebida mais consumida no país vem sendo considerada um dos vilões da inflação de alimentos. E, pelo menos por enquanto, a tendência é continuar subindo.

Mas, além do aspecto econômico, o café serviu de inspiração para artistas famosos e até como instrumento de realização de sua obra de arte.

Candido Portinari é considerado um dos artistas mais importantes do Brasil. A pintura Café é considerada sua obra prima, com ela o artista recebeu a segunda menção honrosa na Exposição Internacional de Arte Moderna do Instituto Carnegie, em Nova Iorque.

Como ele nasceu em uma fazenda de café, esse tema aparecia de forma recorrente em seu trabalho. Nessa pintura, ele retrata o árduo trabalho diário realizado por mulheres e homens em uma plantação de café. É um retrato realista e ao mesmo tempo simbólico da época em que o café era considerado o ouro verde do Brasil.

Em Pernambuco temos um expoente da pintura utilizando o café, além de ser um grande amigo pessoal, Abrãao Figueiredo.

Ele se formou na Escola de Belas Artes no Recife na década de 1980. Além de ser aquarelista, também trabalha com acrílica e óleo, e é retratista. Ele também cria esculturas em papel machê, especialmente voltadas para ambientação infantil.

Além de suas habilidades artísticas, Abraão é conhecido por suas oficinas e workshops, onde ensina técnicas de pintura com café e outras práticas artísticas. Ele tem participado de várias exposições e eventos culturais, promovendo a inovação e a criatividade através de seu trabalho.

Abraão Figueiredo é um grande artista que se destaca por sua inovação ao utilizar café como meio de pintura. Ele é o idealizador de uma exposição que tive a honra de ter ido “O Café Que Nos Une”, que reuniu obras de artistas de diversos países, todos utilizando café como material artístico. A exposição contou com a participação de 28 artistas de lugares como Portugal, Estados Unidos, México, Noruega, Ucrânia, Singapura, Filipinas, Malásia, Alemanha, França, Ilhas Maldivas, Indonésia, Suíça, Equador, Iraque e Quirguistão.

A mostra destacou a beleza e a versatilidade do café como material artístico, além de incluir palestras e degustações de cafés especiais.

Sua exposição “O Café Que Nos Une” não só destacou a versatilidade do café como material artístico, mas também promoveu a cultura e a história da bebida de uma maneira única e envolvente.

E sobre amizades e café, lembro da célebre frase de Immanuel Kant:

“A amizade é semelhante a um bom café; uma vez frio, não se aquece sem perder bastante do primeiro sabor”.

Que a produção artística em nosso país e em nosso Pernambuco continue efervescente e saboroso como um bom café, bem como as boas amizades.


Sérgio Ricardo Araújo Rodrigues-Advogado e Professor Universitário
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ADVOGADO ANTONIO CARLOS ENVIA CARTA A LULA

O advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, divulgou no domingo (16) um texto com críticas ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A mensagem, redigida no formato de carta aberta, foi enviada a ministros e aliados do presidente.

Lula, a esperança da democracia.

'Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro', Clarice Lispector.

Lula ganhou 3 vezes e elegeu Dilma como sua sucessora. À época elegeria o qualquer de seus Ministros pois era imbatível.

Certa vez, conversando com um senador do PT, ele me disse que tinha um ano tentava uma audiência com a Presidenta Dilma. Ela não fazia política. Sofreu impeachment.

Um dia no Governo Lula um Senador da oposição me liga as 11 hs da manhã e reclama que tinha assumido há 15 dias - era suplente - e que não havia sido recebido pelo Zé Dirceu, chefe da Casa Civil. Liguei para o Zé . As 12.30 a gente estava almoçando no Palácio do Planalto. O Zé - de longe o mais preparado dos Ministros - deu um show discorrendo sobre o Estado de origem do Senador, que saiu de lá com o número do celular do Zé e completamente encantado.

Neste atual governo Lula fez o que de melhor podia ao enfrentar Bolsonaro e ganhar do fascismo impedindo que tivéssemos mais 4 anos de Bolsonaro. Seria o fim da democracia. Seriam destruídas de maneira irrecuperável tudo que foi construído nos governos democráticos, não só do PT. O fascismo acaba com tudo. Este o maior legado do Lula. Para tanto foi necessário, senão não teríamos ganhado, fazer uma aliança ampla demais. Só o Lula conseguiria unir e fazer este amplo arco para derrotar Bolsonaro. 

Aqui em casa, no dia da diplomação, 12 de dezembro, determinado político se aproximou em um momento em que Lula e eu conversávamos, colocou amistosamente a mão no meu ombro e fez uma brincadeira. Ao sair da roda o Lula me falou baixinho, rindo :" este jamais será meu Ministro, e acha que vai ser." Dia 1º de janeiro ele assumiu como Ministro. Este o brilhantismo do Lula neste momento difícil. Não fosse sua maturidade não teríamos tido chance de vencer o fascismo. Por isto cometo aqui certa indelicadeza de comentar este fato: para ressaltar a maturidade do Presidente Lula.

Mas o Lula do 3º mandato , por circunstâncias diversas, políticas e principalmente pessoais, é outro. Não faz política. Está isolado. Capturado. Não tem ao seu lado pessoas com capacidade de falar o que ele teria que ouvir. Não recebe mais os velhos amigos políticos e perdeu o que tinha de melhor: sua inigualável capacidade de seduzir, de ouvir, de olhar a cena política.

Outro dia alguns políticos me confidenciaram que não conseguem falar com o Presidente. É outro Lula que está governando.

Com a extrema direita crescendo no mundo e , evidentemente aqui no Brasil, o quadro é muito preocupante. Sem termos o Lula que conhecíamos como Presidente e sem ele ter um grupo que ele tinha ao seu redor, corremos o risco do que parecia impossível: perdermos as eleições em 2026. Bolsonaro só perdeu porque era um inepto. Tivesse ouvido o Ciro Nogueira e vacinado, ou ficado calado sem ofender as pessoas, teria ganho com a quantidade de dinheiro que gastou. Perder uma reeleição é muito difícil, mas o Lula está se esforçando muito para perder. E não duvidem dele, ele vai conseguir.

Claro que as circunstâncias estão favoráveis ao projeto de perder as eleições. Não dou tanto importância para estas pesquisas feitas o tempo todo. Mas prestei atenção nesta que indica que 62% não querem que Lula seja candidato a reeleição. A pergunta é : quem é seu sucessor natural? Não foi feito um grupo ao redor do Presidente, que se identifique com ele e de onde sairia o sucessor político natural, o " grupo" do Lula a gente sabe quem é. E certamente não vai tirá-lo do isolamento. Ele hoje é um político preso à memória do seu passado. E isolado. Quero acreditar na capacidade de se reencontrar. Quem se refez depois de 580 dias preso injustamente, pode quase tudo . E nós temos o Haddad, o mais fenomenal político desta geração em termos de preparo. Um gênio. Preparado e pronto para assumir seu papel.

Já fico olhando o quadro e torcendo para o crescimento de uma direita civilizada. Com a condenação do Bolsonaro e a prisão, que pode se dar até setembro, nos resta torcer para uma direita centrista, que afaste o fascismo.

Que Deus se apiede de nós!

É necessário lembrar o mestre Torquato Neto no Poema do Aviso Final:

'É preciso que haja algum respeito , ao menos um esboço ou a dignidade humana se afirmará a machadada.'"

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JOÃO ALEXANDRE SOBRINHO, VOZ E VIOLA

A casa da Avenida Paraíba, esquina com a rua José Paracampos, bairro do Romeirão, em Juazeiro do Norte, Ceará, morava João Alexandre Sobrinho, um dos grandes da arte da cantoria, de todos os tempos

No terreno adquirido nos anos 70, quando a cidade começara a se expandir nesta direção (depois da inauguração do estádio), construiu uma vila, cujo aluguel complementa uma aposentadoria insatisfatória.

O pé de jambo do jardim foi cortado por conta dos meninos, em busca dos frutos maduros, que não o deixavam em paz.

A cadela Tila, oportunista, ameaça sair para a calçada. A varanda é abafada, mas ele abre a porta da sala, com móveis estofados, o televisor, fotos da família, inclusive a dele, aos trinta e poucos anos, empunhando a viola.

Mora com a cunhada Priscila, e a filha Matilde. A primeira visita foi marcada pelo telefone. Depois, os contatos se tornaram prazerosos, e os labirintos da casa foram se abrindo, inclusive um quintal, com um frondoso sapoti, onde ele se refugia do ruído da rua.

Abatido pela morte da esposa Francisca, quatro anos atrás, o cantador revolve o baú das relembranças, o que reforça sua importância de mestre da arte da palavra cantada, que ele soube, pelo que ficou na memória da comunidade, trabalhar como poucos.

O CONTEXTO-Em 1928, Lampião espalhava pânico por onde passava, e deixava o Nordeste em polvorosa. As narrativas orais ampliavam as façanhas do bando rebelde, fixados pela literatura de folhetos, que depois ganharam as páginas do romance social, e os planos seqüências do cinema novo.

Foi neste clima de conflagração que os Alexandre decidiram sair de Ouro Branco, no município alagoano de Santana de Ipanema, para buscar refúgio na terra do Padre Cícero.

Na bagagem, veio o menino João, nascido em 1920, na localidade de Olho d´ Água do Chicão. O pai, Tito Alexandre da Silva, que sempre teve preguiça de trabalhar na roça, além de sapateiro, era informante da polícia civil, e temia ser agredido pelo cangaço.

Juazeiro significava, também, a expectativa de uma vida nova, para os romeiros que chegavam à Nova Jerusalém sertaneja, onde Padre Cícero os acolhia, dava a sua bênção, e ainda sugeria uma ocupação.

Os Alexandre foram morar na rua do Limoeiro, no arisco, proximidades da Estação Ferroviária, e o chefe da família foi trabalhar como pedreiro.

A mulher, Felismina Maria da Conceição, impregnada pela cultura tradicional, rimava, embolava, e cantava coco de roda, tocando pandeiro, isto nas Alagoas; no Cariri, contava histórias para um menino deslumbrado com o que ouvia. Ele tem até verso dela, que participou, com umas estrofes, de uma toada de vaquejada que ele compôs: “Adeus serra de Caiçara / serrote da Carié / nós vamos pra Moxotó / pra casa de Manoé / quem pagou o caminhão / foi meu filho Ezequié, ê, ê!.

João teve apenas três meses e poucos dias de banco de escola, saindo de lá, quando já dominava a carta de ABC, na quarta lição do Segundo Livro, de Felisberto de Carvalho, depois da surra de palmatória que levou da professora e madrinha, porque estaria “mangando” de um colega. O pai, indignado, não deixou que ele voltasse à sala de aulas. Ainda magoado, tantos anos depois, diz que ela fez isso “de malvada”.

Os pais estavam no segundo casamento. A mãe teve cinco filhos, da primeira união, e cinco da segunda: Manuel, barbeiro em Arapiraca (AL); Alexandre Tito, artista plástico, na mesma cidade; João Tito, que morreu criança; Emília, morta aos 36 anos, além de João Alexandre. O pai, viúvo, não tivera filhos do primeiro enlace.

Traziam no matulão, esperança, e a certeza da paz. Lampião nunca atacaria a cidade do santo do povo, onde estivera, dois anos antes, para receber a patente de capitão, e ser cooptado para combater a Coluna Prestes, grupo de militares que percorria o país, para conhecê-lo e combater, politicamente, os privilégios das oligarquias.

INICIAÇÃO-O jovem João Alexandre “inventou” de tocar e improvisar versos aos dezenove anos. A mãe, costureira, o incentivou. Foi quem tirou os cinco mil réis do bolso para a compra da primeira viola, a um vizinho que chegara de São Paulo, e queria se desfazer do instrumento que trouxera.

João Alexandre não tinha um tostão, e nem sabia tocar, “era só vontade”, admite, começava o “tirinete”, ele faz o balanço hoje, e “foi o dinheiro mais abençoado que ganhei em toda a minha vida”.

Quem não gostou muito foi o pai, que fechou a cara, e disse, categórico, que todo cantador era irresponsável e cachaceiro, mas terminou por aceitar a decisão do filho. “Não gostava, mas não empatou”. Os parceiros apareciam, em grande número, mas o “velho” tinha o cuidado de evitar que o filho fizesse dupla com cantadores boêmios.

A família ficou num vaivém, entre o Ceará e as Alagoas, depois do desmantelamento do cangaço, com a morte de Lampião e Maria Bonita, em 1938, no sertão de Angicos (SE), e João optou por se fixar no Cariri.

No final das contas, seus pais terminaram por ficar mais tempo no Juazeiro, onde morreram, na década de 60, com uma diferença de dois meses e um dia do marido para a mulher, estando ambos sepultados no cemitério do Socorro.

Aos poucos, ele foi dominando o instrumento, autodidata que era. Seu primeiro baião de improviso foi com o cantador Bezerrinha e, de tão marcante, ele não esquece a data até hoje: 15 de agosto de 1939, nem os quinze mil réis que ganharam.

Cantou muito em “festa de santo”, ou renovação, que comemora, anualmente, a entronização do Coração de Jesus, um ritual forte no catolicismo popular.”Nunca fiquei liso, vivi 52 anos às custas da viola”, ele constata, e pode-se dizer que se saiu bem, tanto do ponto de vista da imagem que cristalizou, como do que amealhou.

Casou, em 1940, com Francisca Pereira Alexandre, e tiveram apenas uma filha, Matilde, que lhe deu dois netos (João Alexandre e Juliana) e uma bisneta (Ana Letícia). Ela era “cuidadosa” com o marido e “não muito ciumenta”.

A perda da mulher, ainda é muito dolorosa para ele, que gravou uma fita com uma elegia à companheira, intitulada “Um ninho de amor que se desfez”.

Relembra o passado, mostra seu Cd “Memórias de um poeta” gravado, domesticamente, pelo neto, e faz planos de publicar uma coletânea de poemas,- o impresso legitimando o oral -, cujos originais estão à espera de um patrocínio.

TRAJETÓRIA-oão Alexandre relembra alguns dos grandes nomes da cantoria com quem pelejou: João Pereira, Expedito Passarinho, Severino Pinto, Lino Pedra Azul, Joaquim Vitorino, Amaro Bernardino, Antonio Aleluia, Zé Miguel, Antonio Marinho, e Vicente Landim, ao todo, mais de trezentos rivais.

Ele diz que um cantador aprende com o outro, no calor da hora, e enumera os romances que cantava, como “Coco Verde e Melancia”, “ O Mau Filho e o Bom Pai”, mas gostava mesmo era das pelejas. Não deixou folhetos impressos, como a maioria dos seus parceiros, que se moviam no campo da oralidade.

Ainda solteiro, passou seis meses em Fortaleza, para onde voltou outras vezes, e cantou com os grandes nomes da cantoria da capital, como Siqueira de Amorim, Alberto Porfírio, e o piauiense Domingos Fonseca.

Ele diz que “agüentava o chicote” e por isso nunca levou “pisa” de cantador.

O rival mais famoso foi mesmo o Patativa, com quem cantou durante quase dez anos. A afinidade foi tanta que João Alexandre chegou a comprar um terreno, e a se estabelecer na serra de Santana, onde o poeta morava.

Cantador novo que era, sua viola ficava de pé, na parede da entrada do Mercado de Assaré, na expectativa dos convites para apresentações.

Perto do parceiro e compadre (é padrinho de Afonso) ficava mais fácil arranjar cantorias nos sítios, e assim faziam pequenas viagens, sempre a cavalo, para Mombaça, Cedro, Iguatu, Campos Sales, Potengi, e Araripe.

Um episódio curioso é o do dia em que o violeiro boa pinta, já casado, se engraçou de uma moça que assistia à cantoria. Patativa, quando viu o “enxerimento”, delatou o parceiro: “A família desse João / é maior do que a minha / tem um filho caminhando / tem outro que engatinha / e eu soube que a mulher dele / ficou comendo galinha”, fazendo referência à dieta das mulheres paridas.

As últimas cantorias com o poeta de Assaré foram em 1958, e as controvérsias vieram por conta da toada “Triste Partida”, que Luiz Gonzaga ouviu no rádio, em um programa de violeiros de Campina Grande (PB), e quis comprar, antes de gravá-la, em 1964.

João Alexandre reclama a autoria da música de “Triste Partida” e Patativa dizia que a composição era só dele. Depois de muita insistência, admitiu que o compadre “contribuiu” com a melodia, que levou para todo o país, na voga da canção de protesto, a denúncia de um “intelectual orgânico”, que ia fundo nos problemas da região, porque tinha vivências do que estava falando. 

A letra havia sido publicada no livro de estréia de Patativa, “Inspiração Nordestina”, em 1956, o que retira, qualquer influência da seca de 1958 sobre a composição. Seca braba aquela, que deu origem à Sudene, e aumentou o êxodo, agora não mais para a Amazônia, ou para São Paulo, mas para a construção de Brasília, a nova capital, inaugurada em 1960.

Depois desta disputa pela autoria, as relações entre eles nunca foram as mesmas. Deixaram de se visitar, apesar de Patativa vir com freqüência a Juazeiro, e de João Alexandre possuir um carro, e, ainda que tentassem, era impossível disfarçar as mágoas.

VOZ E VIOLA-Sua estréia no rádio foi marcada por uma visita que fez a Dom Vicente, então bispo do Crato, em companhia de Geraldo Menezes Barbosa. Cantou no Palácio, e o bispo gostou tanto que o convidou para se apresentar na Rádio Educadora, da diocese. Lá ele ficou dez anos, enfrentando Antonio Aleluia, Antonio Maracajá, e Zé Magalhães, dentre outros rivais.

A morte do Papa João XIII, o ideólogo da renovação da Igreja Católica, foi assim cantada por ele: “Com a morte do Papa Vinte e Três / enlutaram-se muitos corações / trouxe muita tristeza pras nações / esse golpe fatal que a morte fez”, de acordo com a “Antologia Ilustrada dos Cantadores”, de Francisco Linhares e Otacílio Batista, editada pela Imprensa Universitária, em 1976.

Em Juazeiro, João Alexandre cantou durante sete anos com Pedro Bandeira, que chegou a morar em sua casa, no início da carreira, com quem também se desentendeu, e ficaram vinte anos sem se falar, não por problemas de autoria, mas por questões financeiras.

Faziam dupla, nas apresentações ao vivo, e nos programas de rádio, onde a presença dos violeiros foi ganhando espaço, ao contrário das previsões apocalípticas que previam o fim da cantoria, com a chegada do transistor.

Ao todo, foram vinte anos na rádio Progresso, de Juazeiro do Norte, e quando saiu de lá deixou de cantar, é o que diz, ainda que participasse, eventualmente, dos programas de outros violeiros, como o de Sílvio Granjeiro, na rádio Vale do Cariri, também em Juazeiro.

Relembra o improviso feito para saudar o colega Geraldo Amâncio, que havia deixado o Cariri, em busca de espaços mais amplos: “Meu caro Geraldo Amâncio/como vai de Fortaleza?/aumentou mais o recurso/ou cresceu mais a pobreza?/melhorou da alegria/ou cresceu mais a tristeza?”.

Avalia que a maior parte dos cantadores “faz balaio”, preparando e decorando, antecipadamente, o que vai ser cantado, o que é falso, e abre mão da força do improviso. É exatamente na rapidez e agilidade do argumento, empunhado a palavra como uma arma, que a cantoria ganha importância, ritmo, e empolgação.

O “balaio” é a necrose de um processo da prevalência da voz, que vigora desde tempos imemoriais, acompanhada, na maioria das vezes, pela viola.

Considera Ivanildo Vilanova o maior cantador, dos que estão na ativa, vindo, em seguida, Geraldo Amâncio.

Também se refere a Moacir Laurentino, a Sebastião da Silva, e diz que Oliveira de Panelas faz “balaio”, prática que ele tanto abomina.

Em relação aos repentistas do Cariri, ele não ameniza o comentário ácido: “são violeiros de sopapo, meio lá e meio cá”.

Relembra fragmentos de improvisos que se perderam no tempo, como a toada de aboio que cantou numa vaquejada em Juazeiro: “Quem gosta de vaquejada / faz da maneira que eu faço / tanto pega boi com a mão / como pega boi de laço / e cada garrote que apanha / tem que deixar um pedaço, ô, ô.”

É um grande narrador de episódios, do tempo em que vendia cavalos, ouro de Juazeiro, e “lambe-lambe”, tirava retratos com a “mão no saco”.

Fez de tudo um pouco, mas sua grande contribuição foi dada à transmissão oral, e à riqueza do imaginário sertanejo, no ponteio da viola, manifestação fugaz, mesmo no tempo do registro e da reprodução técnica, porque é impossível captar a entonação, as nuances da voz emitida, e a performance, quando o corpo todo expressa.

Gilmar de Carvalho  (Diário do Nordeste) em 12 de maio de 2003

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