ATOR MARCOS PALMEIRA VISITA EXU, TERRA DE LUIZ GONZAGA

O produtor orgânico, Marcos Palmeira viaja pelo Brasil em busca de experiências de sucesso e casos de trabalho que resultam em qualidade de vida. Dessa vez, o destaque é Exu, Pernambuco, terra de Luiz Gonzaga. Marcos Palmeira gravou nesta quarta-feira (6), sobre o combate a desertificação na região do semiárido, programa que será exibido na TV Futura, o  “Manual de Sobrevivência para o século 21.

O ator foi conhecer a Associação de Agricultores Familiares da Serra dos Paus Doias, localizada na Chapada do Araripe e que tem a missão de produzir preservando a vida no Semiárido gerando renda, emprego e sustentabilidade. Este ano, a Associação Agrodoia recebu o Premio Vasconcelos Sobrinho 2024, devido a dedicação ao Sistema Agroflorestal com meio ambiente, agricultura e Escola Sustentável.

"Impressionado. É um trabalho diferenciado, merece ser valorizado. Estou emocionado e feliz em conhecer o trabalho deles. Valorizam as plantas medicinais, oleos essenciais, focam o trabalho em conhecimento ancestral e tudo compartilhado com outras famílias", disse Marcos Palmeira.

Ano passado o BLOG NEY VITAL destacou a reportagem Agrofloresta: Mestrandos em Extensão Rural-Universidade Federal do Vale do São Francisco visitam Serra dos Paus Doias, em Exu (PE). 

Marcos Palmeira e Equipe conheceram a Agrodóia um Território de restauração e regeneração, referência de prática no Brasil e exterior. A agrofloresta criada e manejada por Maria Silvanete e Vilmar Lermen, suas filhas, Fernanda e Débora, e filhos, Jeferson e Pedro, se apresenta como um manto verde germinado na paisagem do semiárido, onde abundam centenas de cultivares, plantas medicinais, árvores, abelhas e outros seres que ali habitam, convivem e transformam o ambiente em busca de um bem viver.

Maria Silvanete Lermen é educadora popular, orientadora em saúde comunitária, benzedeira de mãos postas, orientadora de portais ancestrais, agroflorestora, praticante e pesquisadora das vivências dos povos. Vilmar Lermen é agricultor agroflorestal, possui mestrado em extensão rural na Univasf. 

A comunicadora da Agrodóia e do Espaço Maiêutica, Fernanda Lermen, ressaltou que @manualdesobrivivencia, Marcos Palmeira veio para Exu para falar de agrofloresta, como maneira de combater a desertificação e assim "conhecer a experiência de duas famílias da Agrodóia, a família Lermen e família Cavalcanti.

"O objetivo é enfrentar o processo das mudanças climáticas que estão ocasionando sérios problemas ambientais, por exemplo a desertificação.  A agrofloresta é um caminho para o combate a este problema que afeta várias regiões no mundo atualmente", explica Fernanda Lermen.

A desertificação tem avançado na Caatinga por causa de mudanças climáticas que estão ocorrendo no mundo todo. Nos últimos 36 anos, o Bioma Caatinga, que só existe no Brasil, já perdeu 40% da área de rios e lagoas e 10% da vegetação nativa, segundo um levantamento da rede Mapbiomas.

Em Pernambuco, por exemplo, 123 dos 184 municípios estão correndo o risco de desertificação, segundo um estudo do qual participou o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Iêdo Bezerra Sá.

A caatinga ocupa um décimo do território nacional, quase todo no Nordeste. O seu nome vem do Tupi e significa "Mata Branca", que é a aparência da vegetação durante a seca.

Ao longo de quase 25 anos vivendo e trabalhando na zona rural de Juazeiro (Bahia), a agricultora Ana Lucia da Silva, 41 anos, viu a paisagem e o clima do lugar mudarem. Ela conta que já não consegue mais plantar mandioca e mamona, por exemplo, assim como faziam seus pais e avós. "Está cada vez mais quente. As chuvas diminuíram, e, quando vem, é por um curto período. Depois, só no outro ano. A gente sai para trabalhar porque é obrigado. Vai na roça aguentando o calor, solzão na cabeça, não é fácil, não".

Ana Lucia é uma das moradoras da primeira região árida do Brasil, identificada por pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) em cinco municípios do nordeste da Bahia: Rodelas, Juazeiro, Abaré, Chorrochó e Macururé e que ocupam uma área de 5,7 mil km².

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SERROTE AGUDO

Quando eu conheci Rafael ele já havia abandonado a adolescência. Era um jovem longilíneo, bonito, pele crestada pelo sol do sertão e cabelos cheios e rasantes. Saiu do Cariri ainda novinho, para estudar no Colégio Salesiano e depois ser advogado. A verdade é que o rapaz desejava mesmo ser historiador. Por isso sentia necessidade de se embrenhar nos fatos históricos exatamente como adentrava na caatinga. Amava ler “Sagarana”, “Grande Sertão Veredas”, “Quinze”, “Menino de Engenho”, “Capitães de Areia ”além de outras obras sobre a mesma temática.

Eu sempre exagerei na tentativa de olhar bem no fundo nos olhos do outro. Talvez acreditasse que só assim eu poderia sentir e capturar a alma. Logo concluí que meu desejo era só delírio. O rapaz jamais permitiria. Ele costumava virar o globo ocular para direita e para a esquerda. Outras vezes baixava a cabeça ou espreitava o infinito. Parecia comunicar que o ser humano era uma figura invasiva e pecaminosa. Aos poucos, o que era hábito se converteu em minha obsessão. Impudente, certa vez campeei uma lágrima em seus olhos. Ela poderia revelar sofrimento, amor, alegria, tristeza, raiva, medo, afeto, vergonha, admiração ou até culpa.

Nada aconteceu. Para minha surpresa, o rapaz comentou com certa alheação que era um homem despojado de medo. Desconfiei dessa mentira, apenas pelos olhos irrequietos e fugidios. Numa das raras oportunidades de conversa, indaguei se ele pensava em casar. Disse-me que o pai, um fazendeiro abastado, lhe havia destinado uma virgem bonita de seios abundantes destinados a alimentar os futuros rebentos. Mas logo mudou de assunto e nunca mais conversou sobre o tema.

Numa manhã qualquer, tentei conhecer os projetos do rapaz. Mas ele repetiu, circunspecto, que “o futuro é como uma pipa, quanto mais soltamos a linha mais distante ele vai ficando”. Num dia chuvoso de agosto, dividimos o espaço de uma biblioteca. Ganhei coragem e indaguei: Você já percebeu que seus olhos estão sempre voejando sem pouso certo? Poucas vezes eles ficam paralisados. Sem afastar os olhos do infinito ele responde: “por vezes é preciso lançar os olhos para bem longe. Só assim é possível enxergar o que está bem perto”.

Descobri, com o tempo, que o jovem não desejava ser advogado. Afinal, jamais acreditou na justiça, exceto na de Deus. Certa vez ele falava das viagens feitas na companhia de vaqueiros da sua fazenda. Mal começava o dia, o grupo tangia o rebanho ao som do berrante. Para ele o vaqueiro era sempre um herói que adentra ou se embrenha na mata para capturar e trazer de volta a rês brava ou arredia. Eu escutava tudo de esguelha, como se estivesse no sereno nos bailes da minha adolescência. Por isso ele jamais desconfiou do meu empenho.

Acredito que qualquer narrativa configura a verdadeira história daquele que expõe ou escreve. Eis a minha que se revela em dois atos conectados. Reinicia com a chegada de um judeu francês de nome Marcolino, proprietário da fazenda “Serrote Agudo” localizada no Cariri.

No passado, havia festa de gado e vaquejada reunindo a população local. Hoje ela é um assentamento ou quase museu. Zé Marcolino Alves, autor paraibano que morreu em 1987, vítima de um desastre na Caraíba, Pernambuco, passou pelas terras do fazendeiro em seu cavalo e sentiu o coração apressado e cheio de dor e arrepio. Naquele instante uma canção triste germinou da agonia e aflição do compositor.

Não era o aboio, era o “Serrote Agudo” que assim principiava: “em viagem incontinente, vendo a sua solidão, saí pensando na mente, eu vou fazer um estudo pra lhe contar amiúde, quem já foi Serrote Agudo...foi um reino encantado... onde o touro em manada borrava cavando o chão, fazendo revolução na época do trovoada, dando berros enraivado por achar-se enciumado... Um major rijo, porém animado, fazia festa de gado onde o vaqueiro afamado campeava todo dia. Hoje, sem major sem nada só se vê porta fechada...não reina mais alegria”.

O “Dicionário Musical Brasileiro”, de Mário de Andrade (1982), introduz o verbo masculino aboiar despojado de estrófica.. O aboio permite as vocalizações ou palavras interjectivas: “boi êh boi”... Diferente é a música triste de Zé Marcolino.

O belo e o trágico trazem de volta a figura de Rafael sete décadas depois. Na minha frente percebo a imagem de um duplo: um corpo que não era mais o imaginário de outrora; um corpo antes desejado e que já não configurava algo possível. Eis a história da velhice como algo travento e desconfortável. O belo rapaz de outrora ainda era magro e delgado, embora a espinha dorsal já estivesse curvada e os ombros revelassem certo desalinho ou desconcerto. 

Os cabelos estavam muito ralos e infinitamente brancos e sem corte. Percebi pequenos sinais de pele na coloração de rebuçado queimado. Estavam em todos os espaços da sua carne enrugada. Pareciam numerar os anos de vida. Logo identifiquei o seu olhar hirto ou meio acuado repetindo os velhos tempos. Mas juro que havia uma transformação inesperada: já não existia linha suficiente para soltar a pipa. O futuro era agora o presente.

Novamente escutei a canção de Zé Marcolino na voz do grande Luís Gonzaga. E tudo sucedeu num breve instante: Rafael escutou Gonzaga e chorou alto e forte. Mesmo sem mostrar os olhos, disse muito alto: “Pai, mãe, vocês se foram, todos estão indo, e eu?

 DAYSE DE VASCONCELOS MAYER-é doutora em Ciência Jurídico Políticas


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Jornalismo, Morte e Imaginário: Desafios na Cobertura de Temas Sensíveis na Era Digital

O ser humano é produto de uma complexa cadeia de elementos que o formam, constituído não apenas por carbono, mas também por hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e outros componentes que moldam nossa biologia. Contudo, é essencial reconhecer que não somos apenas matéria física; somos movidos pelo social, pelo cultural e pelo imponderável, imersos em teias de significados que dão sentido à nossa existência, desde a origem até a finitude.

Nos tempos atuais, em que as tecnologias digitais ganham cada vez mais destaque e a exposição às telas parece exigir de todos nós mais evidência e rapidez em tudo que fazemos, a discussão sobre a morte surge de forma necessária e substancial. Historicamente, o Código de Ética do Jornalismo recomendava cautela ao noticiar casos de assassinato, suicídio e estupro, por serem considerados temas sensíveis, cuja divulgação, segundo a sociologia, poderia estimular novos casos. Esse discurso estava atrelado a um contexto sociocultural e histórico em que as tecnologias digitais e a exposição às telas ainda não tinham a relevância atual e não faziam parte do cotidiano como fazem hoje, quando carregamos o mundo digital na palma das mãos.

Mas, o que mudou? Vivemos em uma sociedade da imagem, onde as narrativas visuais desempenham um papel central na construção e interpretação da realidade. Esse conceito remete à crescente importância das imagens, especialmente no contexto das mídias digitais, que moldam percepções e comportamentos. Nesse cenário, o contexto sociocultural transforma-se constantemente. Hoje, diante de tantas situações e anomias sociais, é claro que o jornalismo não é apenas um meio de divulgar informações; ele se constitui como um produtor de sentidos. Por isso, é essencial que o profissional da área tenha um senso crítico e estético sobre o mundo ao seu redor e um papel pedagógico diante dele. Isso inclui falar sobre esses acontecimentos, em vez de escondê-los sob o tapete de uma retórica distorcida.

Nessa perspectiva, é fundamental compreender que a morte também possui uma dimensão imagética. Na Antropologia do Imaginário, a morte é um dos grandes arquétipos que estruturam o imaginário humano, sendo representada de diferentes formas nas diversas culturas e momentos históricos. Essas imagens da morte, carregadas de simbolismos, não apenas refletem o medo ou a aceitação do fim, mas também revelam nossa busca por sentido e transcendência. Portanto, quando o jornalismo aborda a morte, ele está lidando não apenas com fatos, mas com as profundas construções simbólicas que ela carrega, capazes de influenciar nossas percepções e atitudes.

Ao noticiar temas como suicídio e outras pautas consideradas sensíveis, é preciso ter clareza sobre como essas imagens estão sendo construídas, favorecendo o diálogo com diversas áreas do conhecimento e compreendendo que o mundo mudou. Evitar falar sobre esses assuntos, que são reais e presentes no seio da sociedade, não os fará desaparecer; ao contrário, pode perpetuar o silêncio e a incompreensão em torno deles. Precisamos abordar essas questões de forma coerente e pedagógica, despertando a empatia e estimulando a construção de políticas públicas efetivas para lidar com esses cenários.

Claro que o cuidado e a prudência ao noticiar e como noticiar esses fatos devem estar sempre presentes, de modo a evitar o sensacionalismo e a desinformação. No entanto, excluí-los dos noticiários, blogs e diversos sites não se encaixa mais nos tempos de hoje, em que a produção de conteúdo e a informação estão ao alcance de todos. O jornalismo deve ir além da simples informação, exercendo uma função social que passa por despertar a reflexão e promover o entendimento crítico. 

Nilton Sobreira Leal Professor de Jornalismo em Multimeios – UNEB – pesquisador da Antropologia do Imaginário e doutorando em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental 

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O ADEUS AO CINEASTA VLADIMIR CARVALHO

O cineasta Vladimir Carvalho será velado nesta sexta-feira (25) no Cine Brasília, das 9h30 às 13h30. O enterro será no Cemitério Campo da Esperança, às 14h30, na área destinada ao sepultamento dos pioneiros da capital federal.

Em nota, a Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, onde Vladimir foi docente por mais de duas décadas, afirmou que ele “é admirado por sua generosidade, conhecimento e dedicação ao ensino.” Essas virtudes são unanimidades entre cineastas, ex-alunos e amigos ouvidos pela Agência Brasil.

“Ele tinha um séquito de alunos. Até gente que não teve aula com ele o admirava. Era uma admiração por osmose, passada por outras pessoas”, lembra Bruno de Castro que trabalhou na UnB com intermédio de Vladimir.

“Um dia eu comentei com ele que queria tentar trabalhar um pouco em uma universidade. O Vladimir, na hora, foi atrás das pessoas para abrir caminho. ”Bruno de Castro trabalhou na UnB por cerca de oito anos por intermédio de Vladimir. “Foi fantástico, fizemos a UnB-TV.  Ele deu muita força”, recorda-se. “Vladimir não poupava esforço para ajudar a fazer coisas interessantes.”

Expert em documentários-Castro teve oportunidade de produzir um making off da produção do documentário “Barra 68” (2000) e ver Vladimir Carvalho atuando como diretor. “O Vladimir vinha de uma escola de documentaristas, que tinha o Eduardo Coutinho [1933-2014] como grande referência. Eles tinham um modelo de trabalho. Era um negócio assim: muito de sentar e conversar com o entrevistado até arrancar o que precisava. Sabiam exatamente o que queriam”, compara.

A admiração pelo trabalho de Vladimir Carvalho fez com que o cineasta Marcio de Andrade produzisse o documentário “Quando a coisa vira outra” (2022) sobre Vladimir e seu irmão, também cineasta, Walter Carvalho. “O meu desejo de trabalhar com ele se transformou num documentário a seu respeito e à sua trajetória”, conta Andrade.

O documentário foi bem acolhido por Vladimir. “A reação dele foi uma grande alegria. A gente fica tenso, né? Afinal, ele era um expert de documentários, né? Sabia fazer como ninguém. E foi ótima a proximidade com ele. Desde sempre o Vladimir foi uma referência pra gente.”

A gentileza de Vladimir Carvalho também é lembrada pela atriz e diretora Catarina Accioly que postou em suas redes sociais imagens de uma conversa com Vladimir logo após a exibição do seu documentário “Rodas Gigante” no Festival de Brasília de 2023.

“Ele fez uma baita declaração ao filme, sabe? Foi muito especial. Tinha acabado a sessão e eu estava super emocionada. Recebi estímulos de ‘ter acertado” de ‘que aquilo era documentário’. Quanto maior o artista, mais generoso é”, declara Catarina.

Aprendiz curioso-A servidora pública aposentada Mercês Parente foi aluna orientada por  Vladimir no início dos anos 1970 na UnB. Ao longo do tempo tornou-se amiga e compartilha profunda admiração pelo cineasta. “Ele tinha uma visão analítica de mundo. Fazia umas correlações incríveis. Mas sempre se portou como um aprendiz”, afirma.

“A faísca impressionante é a curiosidade. Quanto mais velho, mais ficava curioso e atento”, concorda o cineasta Marcus Ligocki que produziu o último documentário de Vladimir Carvalho “Rock Brasília – Era de Ouro” (2011).

“Conectar com a emoção de vida e brilho nos olhos foi fundamental para mim. Aprendi muito com ele sobre paixão, narrativa e método de filmar. Ele estava 100% imerso na produção dos filmes. Pesquisando e arquivando informação para os próximos filmes. Havia cinema correndo nas veias dele. Nunca foi um prestador de serviço do audiovisual, filmou seus pensamentos e suas emoções em relação ao mundo e em relação a Brasília.”

Pablo Gonçalo Martins, professor de audiovisual da UnB, também percebia em Vladimir Carvalho “paixão por tudo que cercava sua vida.” O acadêmico conheceu Vladimir em uma sessão de cinema de um filme do diretor Roberto Rossellini [1906-1977], do neorrealismo italiano, uma das influências do cineasta brasileiro.

Martins se recorda de um punhal de cangaceiro que Vladimir mostrou, guardado entre as suas coleções que também incluíam filmes, máquinas fotográficas, câmeras, equipamentos de produção cinematográfica - uma parte da memória do cinema brasileiro que o cineasta doou à Universidade de Brasília. (Agencia Brasil)

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MÉDICOS ALERTAM PARA RISCO DE QUEDA DE IDOSOS, SAIBA COMO EVITAR

A Sociedade Brasileira do Trauma Ortopédico alerta para risco de queda de idosos, considerado um perigo comum no ambiente doméstico e ensina como evitar essas ocorrências.

De acordo com informações do Datasus, no primeiro bimestre de 2024, foram registrados 17.136 atendimentos hospitalares e 9.658 atendimentos ambulatoriais, envolvendo idosos, na faixa etária de 60 a 110 anos. Em 2023, por exemplo, houve 106.401 atendimentos hospitalares e 45.684 ambulatoriais.

“Diversos fatores podem causar o aumento de quedas entre os idosos, como a fraqueza e perda muscular do corpo, efeitos colaterais de alguns remédios, perda de sensibilidade por distúrbios neurológicos, além de doenças ortopédicas ou prejuízo dos sentidos de visão e audição”, explicou o presidente da Sociedade Brasileira do Trauma Ortopédico, Marcelo Tadeu Caiero.

Apesar de os acidentes domésticos serem comuns e poderem afetar pessoas de qualquer idade, a Sociedade Brasileira do Trauma Ortopédico ressaltou que, durante o período de envelhecimento, as quedas, principalmente, as que acontecem dentro de casa, são mais regulares e perigosas e podem causar sequelas dolorosas e permanentes.

“A recuperação de idosos não é simples. Uma fratura geralmente precisa de intervenção cirúrgica ou de períodos prolongados de imobilizações, isso porque, os ossos não são tão saudáveis quanto ossos jovens, além da falta de força muscular nessa idade. Fraturas no fêmur, coluna vertebral e bacia podem diminuir a mobilidade de um idoso, além de necessitar de fisioterapia intensa para a recuperação”, disse o ortopedista.

Para prevenir as quedas, o médico recomenda uma abordagem multidisciplinar, partindo da avaliação clínica do idoso e de acompanhamento médico para identificar possíveis condições de saúde que aumentem o risco de queda. Entre essas condições estão problemas cardiovasculares, neurológicos e musculoesqueléticos. É importante ainda que o idoso faça atividade física regular, com exercícios específicos para melhorar a força muscular, fortalecer e trazer mais equilíbrio, reduzindo o risco de quedas. Além disso, recomenda-se uma dieta balanceada para manter a saúde óssea e muscular, prevenindo fraquezas, que podem ocasionar as quedas.

A remoção de obstáculos, instalação de barras de apoio em banheiros e melhorias na iluminação também são úteis para evitar acidentes domésticos. “Os idosos têm que se adaptar às limitações da idade. Eles devem, além de modificar suas casas, evitar roupas que podem enroscar em seus pés e aderir ao uso de sapatos bem ajustados, de preferência fechados e com solados antiderrapantes e de borracha. Há diversas recomendações para que familiares auxiliem a pensar uma casa e rotina mais segura para o idoso”, aconselhou Caieiro.

É preciso ainda evitar tapetes soltos pela casa; ter corrimão dos dois lados das escadas e corredores; colocar tapete antiderrapante nos banheiros; evitar andar em áreas com piso molhado; evitar encerar a casa; evitar móveis e objetos espalhados pela casa ou em corredores de circulação; e deixar uma luz acesa à noite para o caso de precisar levantar da cama. Também é importante o idoso esperar que o ônibus pare completamente antes de subir no veículo ou descer; utilizar sempre a faixa de pedestres ao atravessar as ruas; e, se necessário, usar bengalas, muletas ou instrumentos de apoio.

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A COMUNICAÇÃO SILENCIOSA ENTRE AS PLANTAS

Pela manhã, minha filha de seis anos entrou no nosso quarto e começou a ler uma história de um livro. Ela leu palavra por palavra em cada página, formando lentamente frases completas. Às vezes, ela tropeçava e pedia ajuda com algumas "palavras engraçadas" — mas, quando o livro acabou, ela havia nos contado uma história sobre um urso na neve.

A comunicação verbal é uma das muitas razões pelas quais os seres humanos se tornaram tão bem-sucedidos como espécie. Desde alertar uns aos outros sobre perigos até comunicar informações complexas, nossa capacidade de falar tem sido crucial.

Mas não são apenas os seres humanos e outros animais que desenvolveram uma comunicação sofisticada. Muitas pessoas pensam nas plantas como seres passivos, mas elas têm sua própria maneira de interagir umas com as outras. Esta ideia já existe há algum tempo, tendo inspirado até mesmo filmes de Hollywood, como Avatar.

Mas a ciência recente está mostrando que os sistemas de comunicação das plantas podem ser mais complexos do que imaginávamos.

Estas redes de comunicação são sensíveis e estão em equilíbrio. Imagine o quão afetado nosso mundo seria se os sistemas de rede global sofressem uma pane de repente.

Os recentes apagões cibernéticos da CrowdStrike são apenas um exemplo de como estes sistemas são delicados e de como a comunicação é importante — e este também é o caso das plantas.

Para entender como organismos que não conseguem falar transmitem informações uns aos outros, é importante compreender que os seres humanos também têm um sistema de comunicação não verbal. Isso inclui nossos sentidos de visão, olfato, audição, paladar e tato.

Por exemplo, as empresas de gás natural adicionam uma substância química chamada mercaptano ao gás natural, dando a ele aquele cheiro característico de "ovo podre" para nos alertar sobre vazamentos. Pense também em como desenvolvemos a linguagem de sinais, enquanto muitas pessoas são hábeis em leitura labial.

Além destes sentidos, também temos a equilibriocepção (a capacidade de manter o equilíbrio e a postura corporal), a propriocepção (a percepção da posição relativa e da força das partes do nosso corpo), a termocepção (a sensação de mudanças de temperatura) e a nocicepção (a capacidade de sentir dor). Todas estas habilidades permitiram que os seres humanos se tornassem altamente sofisticados na comunicação e no envolvimento com o mundo natural.

Outras espécies, particularmente as plantas, usam seus sentidos para espalhar informações à sua própria maneira.

O que os vizinhos estão fazendo? A maioria de nós está familiarizada com o cheiro de grama recém-cortada. Os voláteis, ou substâncias químicas, liberados pela grama, que associamos a este cheiro, são uma maneira de comunicar a outras plantas próximas que um predador — ou, neste caso, um cortador de grama — está presente, provocando um ajuste nas defesas das plantas.

Em vez de usar sinais auditivos, as plantas utilizam uma comunicação induzida por substâncias químicas. Mas a comunicação das plantas não se restringe aos voláteis.

Recentemente, cientistas descobriram quão bem conectadas as plantas são — e com que eficiência são capazes de enviar mensagens para seus pares por meio de suas raízes, sinais elétricos, uma rede subterrânea de fungos e micróbios do solo. O sistema de patrulha da vizinhança das plantas foi descoberto.

Por exemplo, a eletrofisiologia é uma área científica relativamente nova que estuda como os sinais elétricos dentro e entre as plantas são comunicados e interpretados.

Com os grandes avanços no setor de tecnologia e inteligência artificial (IA), observamos um crescimento acelerado e significativo nesta área de pesquisa nos últimos anos.

Os cientistas podem estar prestes a fazer descobertas notáveis, com avanços recentes que integram a comunicação de sinais elétricos dentro e entre as plantas em estufas modernas para monitorar e controlar a irrigação de plantações ou detectar deficiências nutricionais.

Os cientistas conseguem isso inserindo pequenas sondas elétricas, semelhantes a agulhas de acupuntura, para testar como mudanças nos sinais elétricos se relacionam com o desempenho da planta, como o transporte de água, nutrientes e a conversão de luz em açúcares importantes.

Os pesquisadores chegaram a influenciar o comportamento das plantas enviando sinais elétricos a partir de telefones celulares, fazendo com que elas executassem respostas básicas, como abrir ou fechar as folhas em uma planta carnívora.

Em breve, poderemos ser capazes de traduzir completamente a linguagem das nossas plantas.

Grande parte da comunicação entre as plantas acontece no subsolo, facilitada por grandes redes de fungos conhecidas como "wood wide web" — "rede global florestal", em tradução livre, uma analogia à world wide web (www), a rede digital que permite usufruir do conteúdo transferido pela internet.

Esta rede de fungos conecta árvores e plantas no subsolo, permitindo que compartilhem recursos como água, nutrientes e informações. Por meio deste sistema, árvores mais velhas podem ajudar as mais novas a crescer, e as árvores podem avisar umas às outras sobre ameaças, como pragas.

É como uma internet subterrânea para árvores e plantas, ajudando-as a se apoiar e se comunicar umas com as outras. A rede é extensa — acredita-se que mais de 80% das plantas estejam conectadas —, o que faz dela um dos sistemas de comunicação mais antigos do mundo.

Assim como a internet nos permite conectar, compartilhar ideias, conhecimento e informações que podem influenciar a tomada de decisões, a wood wide web permite que as plantas usem fungos simbióticos para se preparar para as mudanças ambientais.

No entanto, perturbar o solo por meio do uso de produtos químicos, do desmatamento ou das mudanças climáticas pode interromper os nós de comunicação, ao afetar os ciclos de água e nutrientes nessas redes, tornando as plantas menos informadas e conectadas. Ainda não foram realizadas muitas pesquisas sobre os efeitos da interrupção dessas redes.

Mas sabemos que o comportamento responsivo das plantas, como as respostas de defesa e a regulação dos genes, pode ser alterado por sua rede de fungos se elas estiverem conectadas a uma.

Portanto, esta desconexão da comunicação pode torná-las mais vulneráveis, dificultando a proteção e a restauração de ecossistemas ao redor do mundo. Ainda há muita coisa que os cientistas precisam aprender sobre essas redes altamente complexas.

Sabemos que é importante ajudar as crianças a aprender a ler para que elas possam navegar pelo mundo ao seu redor. Isso é tão importante quanto garantir que não desconectemos a comunicação das plantas. Afinal, dependemos das plantas para nosso bem-estar e sobrevivência.

* Sven Batke é chefe do departamento de pesquisa e intercâmbio de conhecimento e professor de ciência botânica na Universidade Edge Hill, no Reino Unido. Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).

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A SAGA DO VOTO: SOB SECA EXTENUANTE, POVOS ORIGINÁRIOS ANDAM 10KM A PÉ PARA VOTAR

Ultrapassando o cansaço de esperar em filas para votar, povos originários de tribos amazonenses precisaram caminhar por horas para exercer esse direito à cidadania no 1º turno. A seca do Rio Negro e Solimões impossibilitou o uso de barcos para chegar a Manaus, Amazonas, e percurso de 10 quilômetros precisou ser feito a pé. O vídeo, registrado pelo fotógrafo Chico Batata, é um alerta para o que essas comunidades ainda devem passar no 2º turno, em 27 de outubro, para elegerem David Almeida (Avante) ou o capitão Alberto Neto (PL) para a prefeitura da cidade.

Chico Batata conta que a intenção em acompanhar as quase três horas de caminhada de famílias indígenas “foi retratar o sacrifício que essas comunidades ainda enfrentam, demonstrando a resiliência dessas populações em um cenário que deveria ser mais acessível”. Manaus concentra mais de 52% do eleitorado do Amazonas, com cerca de 1,5 milhão de eleitores e quase 4 mil seções eleitorais espalhadas em 479 locais.

A maior seca da história na região levou o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do estado a antecipar a entrega das urnas, em setembro, e disponibilizar helicópteros para atender 78 locais de votação, alcançando mais de 20 mil eleitores no dia 6 de outubro. Ainda assim, comunidades ficaram isoladas. Essa “saga pelo voto” não passou despercebida pelos olhos de Chico Batata, que cresceu na capital amazonense.

Em termos de extensão, o Amazonas é maior estado brasileiro. O 1,5 milhão de km² de território supera a soma das áreas dos estados das regiões Sul e Sudeste. Apesar das dificuldades, Manaus foi a capital com menor índice de abstenção entre as capitais do Norte, com menos de 20%. As horas de caminhadas percorridas por povos originários como os das tribos Tikuna e Tariano, e registradas por Chico, revelam a importância do voto e a determinação em eleger candidatos que representem seus interesses.

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