A SINA DE CANTADOR DO POETA ALDY CARVALHO

O cantador e poeta petrolinense Aldy Carvalho é  um artista completo, nascido no sertão de Pernambuco, cuja obra reflete o rico universo nordestino. Como poeta, cantador, escritor, compositor e violonista, sua arte é um verdadeiro mosaico de sons e histórias.                     

Recentemente Aldy lançou  nas redes o single "É  Preciso Amar" (Arnaldo Carvalho e José  Verismar dos Santos), um xote envolvente e de mensagem positiva da vida, onde Aldy imprime seu estilo através  da excelente interpretação  e dos arranjos que concebeu para a música,  não  obstante isso esse poeta, cantador das barrancos do São  Francisco, não  para. Aldy segue autografando sua mais recente obra literária "O Menino Iluminado". O livro, no gênero codel, traz ilustrações  de Anna B. Gonzalez, que com sensibilidade artística primorosa enriquece mais ainda a obra do autor cantador.                                                     

Lançado  pela Companhia do Cordel Edições " O Menino Iluminado", conforme Ely Verissimo, é  um convite  a nos tornarmos crianças com tudo no que isso implica, sobretudo, que sejamos capazes de ver, novamente, o que se tornou invisível  aos nossos olhos, isto é, o divino que nos cerca e que está,  como sempre esteve, em nós  mesmos. Desde a infância, Aldy  encantava amigos e familiares com suas narrativas e causos. Hoje sua discografia e bibliografia são testemunhos vívidos desse talento. Com álbuns como Redemoinho, Alforje, Cantos d'Algibeira, SerTão Andante e o mais recente Tempo Menino além de obras literárias como *Memórias de Alforje, Via-Sacra: o caminho da luz, A Preá  e a Cobra e O Cavaleiro das Léguas, Aldy Carvalho se consolida como um dos grandes cantadores, contadores de histórias do Brasil, imortalizando o lirismo do sertão em suas criações.   

 Aldy estará  presente com seu "O Menino Iluminado" na FLAE (Feira Literária  de Associados Escritores) da AFPESP em São  Paulo de 22 a 26 de julho de 2024 e confirma sua presença como autor convidado na 27ª  Bienal Internacional do Livro de São  Paulo de 06 a 13 de setembro de 2024.                                                                   O livro "O Menino Iluminado" bem como outras obras literárias e musicais deste poeta e cantador podem ser adquiridos através dos contatos: 

www.companhiadocordel.com.br

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MORRE AOS 75 ANOS O FORROZEIRO BILIU DE CAMPINA


Severino Xavier de Souza, de 75 anos, mais conhecido como Biliu de Campina, morreu na tarde desta segunda-feira (8) no Hospital de Trauma de Campina Grande. Nascido em 1º de março de 1949, Biliu foi um compositor, cantor e advogado paraibano.

Biliu de Campina estava internado no Hospital de Trauma de Campina Grande desde o último dia 24 de junho, em virtude de uma queda que provocou um sangramento na cabeça. A situação de Biliu se agravou e ele precisou ser internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Por ter 75 anos e uma condição de comorbidades, como hipertensão e diabetes, ele apresentou dificuldades para respirar e ficou entubado na UTI.

A informação da morte de Biliu foi confirmada inicialmente pela produção do artista. Segundo a produção, a morte do artista foi provocada por uma parada cardiorrespiratória. Por volta das 16h30 desta segunda (8), o Hospital de Trauma de Campina Grande confirmou a informação em uma nota (leia abaixo).

"O Hospital de Emergência e Trauma de Campina Grande informa, com profundo pesar, o falecimento do cantor e compositor, Severino Xavier de Souza, “Biliu de Campina”, de 75 anos, na tarde desta segunda-feira, às 14h55".

O velório de Biliu de Campina deve acontecer no Teatro Municipal Severino Cabral, no Centro de Campina Grande.

Forrozeiro formado em direito pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), trocou a advocacia pela música em 1978, quando iniciou a carreira artística, resgatando o forró de raiz, o cantor e compositor se auto-intitulava como o maior carrego de Campina Grande.

Na carreira musical, Biliu de Campina lançou três discos independentes: Tributo a Jackson e Rosil, Forró o Ano Inteiro e Matéria Paga, e lançou dois cds independentes: Do Jeito que o Diabo Gosta e Forrobodologia.

No ano de 2002, mantendo seu lado irreverente, lançou outro projeto, o cd 'Diga Sim a Biliu de Campina', trocadilho da campanha nacional do combate à pirataria, que dizia "Diga não a Pirataria".

Forrozeiro Nato-O forró de Biliu tem toda a essência dos forrós tradicionais, com um swing característico dos discípulos de Jackson do Pandeiro. Na sua história em Campina Grande, Biliu fez de tudo um pouco no meio da música, chegando a ser puxador de samba nos carnavais da Rainha da Borborema. Mas o que o artista fez por muitos anos foi subir no palco do Maior São João do Mundo, no Parque do Povo.

Carreira Artística-Biliu teve sua primeira composição gravada em 1984, "A Grande Herança", por Messias Holanda e criou a banda "Os ETs do Forró". Em seus três primeiros discos, incluiu, além de suas composições, outras já consagradas, como "O canto da ema", de João do Vale, Aires Viana e Alventino Cavalcanti, e "Sebastiana", de Rosil Cavalcanti. Gravou também "Galo I (trupizupe)" e Galo II (embalo geral) músicas do bloco Galo de Campina, com arranjos do maestro Gabymar Cavalcanti.

Em 1989, participou com Gilberto Gil de show realizado no Parque do Povo, em Campina Grande, no lançamento do movimento político-ecológico "Onda Azul" e que também serviu como homenagem aos 70 anos de Jackson do Pandeiro. Em 1999, foi homenageado durante o Forró Fest.

Foi essa mistura de ritmos, humor e tradição que levou o artista a ser homenageado com o troféu Ícone da Cultura do projeto Sesi Forró na empresa 2008. De lá pra cá, Biliu esteve presente em quase todas as edições do Maior São João do Mundo em Campina Grande.

No dia 30 de março de 2022, Biliu de Campina e outros artistas da região foram reconhecidos pelo estado como os novos mestres das artes, pela Lei Canhoto da Paraíba.

Biliu de Campina em uma de suas internações no Hospital Pedro I, em Campina Grande — Foto: SMS Campina Grande/Divulgação

Biliu de Campina em uma de suas internações no Hospital Pedro I, em Campina Grande — Foto: SMS Campina Grande/Divulgação

Estado de saúde debilitado-Em 2022, Biliu ficou internado no Hospital Municipal Pedro I, em Campina Grande, com um quadro de congestão pulmonar e precisou fazer sessões de diálise. Em julho do mesmo ano, ele deu entrada novamente em uma UPA da cidade e foi transferido para o Hospital Municipal Dr. Edgley, com edema agudo hipertensivo provocado por uma hipervolemia, que é o excesso de líquido nos pulmões em função de uma doença renal crônica. Após a recuperação, deixou o hospital no dia 6 de julho.

A última aparição de Biliu foi em 29 de março de 2023, durante um evento particular em Campina Grande, em que ele era o homenageado. Em 30 de março, o cantor procurou uma unidade hospitalar com um pico hipertensivo, pressão arterial, pressão alta, dificuldade na fala e outros sintomas difusos, o que levantou suspeita de AVC.

Já em junho 2024, Biliu de Campina foi internado no Hospital de Trauma de Campina Grande dois dias depois de ter o show no Maior São João do Mundo cancelado. Dias depois, Zezé di Camargo e Luciano homenagearam Biliu no palco principal do Parque do Povo.


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INDUSTRIA DO GESSO ESTÁ DESTRUINDO O BIOMA CAATINGA

 No Brasil, a indústria do gesso está destruindo um bioma precioso do nosso país: a Caatinga. A produção depende da queima de madeira, e as empresas estão desmatando cada vez mais, indo cada vez mais longe em busca de lenha. As consequências podem ser irreversíveis e ameaçam transformar o sertão pernambucano em um deserto.

O desmatamento e a falta de energias alternativas podem levar ao colapso da maior região produtora de gesso no país. Milhares de toras de madeira alimentam os fornos do polo gesseiro de Pernambuco - o maior do país, a 700 km do Recife. De lá saem 97% da gipsita do Brasil. É a quarta maior reserva do mundo.

"Gera muito emprego, gera renda para região”, afirma o economista e consultor Werson Kaval.

Dia e noite, sete dias por semana: 20 mil pessoas dependem direta ou indiretamente do que é produzido pelas 500 mineradoras, calcinadoras, fábricas de pré-moldados. Desde a década de 1960 que a Caatinga está virando carvão. Mas, agora, a natureza parece estar no limite. E as indústrias do gesso se tornaram vítimas do desmatamento que causaram.

"O setor gesseiro hoje vive um colapso iminente”, afirma Jefferson Araújo Duarte, presidente do Sindicato das Indústrias do Gesso do Araripe.

Com a escassez de árvores, a lenha está vindo cada vez mais de longe.

"Hoje, grande parte das empresas conseguem trazer essa lenha com 650, 700 km de distância”, Jefferson Araújo Duarte.

Para se transformar em gesso, a pedra de gipsita precisa passar por um processo de calcinação, ou desidratação, que é a retirada da maior parte da água. E, para isso, é preciso queimar muita lenha.

Depois da explosão nas minas, o britador quebra a gipsita. É para facilitar o transporte. Caminhões lotados levam o mineral que vai ser usado na construção civil, em hospitais, e até na agricultura para correção do solo. Só depois de triturada, a pedra segue para os fornos das calcinadoras. Sob altas temperaturas, a gipsita se desidrata, fragmenta e vira pó.

Só que com a tonelada da lenha custando cerca de R$ 230 e a do gesso vendida a R$ 250, a conta está difícil de fechar.

O frete é outro problema. Muitos caminhões irregulares circulam à noite abarrotados de lenha. O Fantástico acompanhou uma blitz da Polícia Rodoviária Federal em Araripina. Em poucas horas, quatro caminhões foram apreendidos com várias infrações.

Devastação na Caatinga-A apreensão de lenha sem comprovação da origem aumentou em 500% em 2023.

O engenheiro florestal Ivan Ighour estudou a devastação na Caatinga no polo gesseiro. Ele comparou imagens de satélites ao longo de dez anos na região.

"A informação que a gente tem com esse estudo é que ao longo do ano se extrai 11 mil campos de futebol aqui da região do Araripe, de forma legal e ilegal”, diz Ivan Ighour Silva Sá.

A vegetação da Caatinga não existe em nenhum outro lugar do mundo. É um bioma que só o Brasil tem. E nem assim ele conseguiu escapar do desmatamento. A natureza paga um preço alto por esta destruição. Com a terra mais seca, sem a cobertura vegetal, o processo de desertificação se agrava.

Segundo levantamento do MapBiomas, restam pouco mais de 57% da vegetação nativa da Caatinga no Nordeste.

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OS BIOMAS CAATINGA E CERRADO ESTÃO SENDO DESTRUÍDOS PELAS FORMAS DE EXPLORAÇÃO

Como amante da obra de João Guimarães Rosa, especialmente do romance Grande sertão: veredas, confesso que fiquei apreensivo e um pouco indignado com a produção de Grande sertão, filme de Guel Arraes e roteiro de Jorge Furtado, baseado na obra de Rosa. Fiquei pensando como poderiam ter a coragem de "brincar" com uma das obras mais importantes da literatura brasileira e mundial, um orgulho para o Brasil. Não concebia a ideia de que o cenário da obra poderia ser completamente diferente do que está no romance, tendo em vista que um dos objetivos de Guimarães Rosa foi justamente retratar o sertão do Brasil profundo, com suas mazelas e belezas características dessa região.

No entanto, ao assistir ao filme, coincidentemente na semana em que se comemora o nascimento de Guimarães Rosa, 27 de junho, vi que estava completamente enganado. Fiquei totalmente bem impressionado não só com a excelente produção, como também com os atores, todos, especialmente Caio Blat, que dá um verdadeiro show, tanto na fase jovem de Riobaldo, quanto na fase em que, mais velho, relata os fatos marcantes da sua saga. Também o cenário, que mais parece uma favela futurista, que mostra a realidade de uma sociedade na qual impera a "lei do mais forte"; de um lado, os "barões" da bandidagem, e, do outro, os "agentes da lei", imersos na corrupção, com as comunidades tendo que conviver com o fogo cruzado e com todo tipo de injustiça social, assim como nos dias atuais.

Aí vemos quão grandiosa é a obra de Guimarães Rosa, pois não se trata de uma literatura regionalista e datada, mas, sim, de uma obra que alcança uma linguagem universal e atemporal.  Daí, a possibilidade de transpor o roteiro para outras realidades. Conforme ressaltado por Antônio Cândido, um dos mais importantes críticos literários brasileiros, trata-se de uma obra que tem um caráter metafísico: "Não é uma obra regionalista, pois toca em problemas universais, problemas que atormentam o homem em qualquer parte do universo. Quem sou eu? Quem é você? Deus existe ou não? O diabo existe ou não? O que é o bem? O que é o mal? O culpado é ele ou sou eu? O homem faz o meio ou é fruto do meio? Em Grande sertão: veredas a terra não condiciona o homem, e o homem não condiciona a luta. Não há relação causal. Os três estão no mesmo plano, tudo está embaralhado. O sertão é o lugar onde a vontade do homem se fez mais forte que o poder do lugar. O bonito em Grande sertão: veredas é a extrema ambiguidade, é fluido, as coisas são e não são, tem o lado do bem e o lado do mal. Todas as vezes que se faz o mal, sem querer, se faz o bem. Isso é um paradoxo, a ambiguidade máxima".

Assim, saí feliz do cinema e mudei completamente meu sentimento inicial, e acredito que Guimarães Rosa também estaria feliz. Conversando com Lucas, meu enteado, que faz artes cênicas na Universidade de Brasília (UnB), ele colocou algo interessante. Acredita que Guimarães Rosa se sentiria honrado em ter sua obra passando por uma releitura, sendo transposta para uma realidade atual, em um cenário completamente diferente, de forma corajosa e que quebra a nossa ideia de sertão.

Por falar em sertão, o real, este, sim, está sofrendo bastante. Os biomas Cerrado e Caatinga, que abrangem o que é denominado sertão, estão sendo destruídos pelas formas  como estão sendo explorados e ocupados. A expansão desenfreada das atividades agropecuárias, incentivadas e legalizadas pelo poder público, sem uma estratégia minimamente aceitável de preservação dos biomas, ocasionada principalmente pela produção de commodities para exportação, está determinando um futuro sombrio. 

Está mais do que na hora de a sociedade refletir e debater se é isso que queremos. Do contrário, enfrentaremos problemas seríssimos, como o aumento da emissão de gases do efeito estufa, o aumento da seca e de processos de desertificação na Caatinga, a perda da biodiversidade e a diminuição da oferta de água no Cerrado. O Parque Nacional Grande Sertão Veredas e o Mosaico Sertão Veredas Peruaçu, localizados no sertão do noroeste de Minas Gerais e sudoeste da Bahia, que abrangem o cenário original da obra de Guimarães Rosa, são estratégias importantes e interessantes que unem cultura e meio ambiente e poderiam ser consolidadas e replicadas em outras partes do Cerrado e da Caatinga, ajudando na conservação do ambiente e do povo do sertão.

Guimarães Rosa, com certeza, estaria muito triste de presenciar o que está acontecendo no sertão. Apesar de a sua obra transpor fronteiras e o tempo, o cenário original e o povo do sertão foram suas mais fortes fontes de inspiração, pois, diferente do filme, sem as veredas, não há um grande sertão.

Cesar Victor do Espírito Santo — Engenheiro florestal e conselheiro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), representando a sociedade civil da Região Centro-Oeste

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TRIBUTO A VIRGOLINO A CELEBRAÇÃO DO CANGAÇO TEM INÍCIO NESTA SEXTA-FEIRA EM SERRA TALHADA

Para lembrar o nascimento de Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião, a Fundação Cabras de Lampião vai realizar mais uma edição do festival multilinguagens Tributo a Virgolino – A Celebração do Cangaço.

 Entre a próxima sexta-feira e domingo, o Quintal do Museu do Cangaço, o Espaço Cangaço Fitness e o Sítio Passagem das Pedras vão receber apresentações de música, teatro, dança, fotografia, literatura, artesanato, gastronomia, visitas e trilhas, tudo fortalecendo a cultura popular local. Os serratalhadenses e os turistas vão poder conferir as exibições artísticas de graça.

"O Tributo a Virgolino" é uma vitrine de várias linguagens artísticas que celebra o legado cultural deixado pelos cangaceiros. Trata-se de uma homenagem à data de nascimento do Rei do Cangaço", comentou Cleonice Maria, presidente da Fundação Cabras de Lampião. O festival teve a sua primeira edição em 1993.

No primeiro dia de atividades, o Quintal do Museu do Cangaço vai receber, a partir das 21h, Coco Trupé de Arcoverde e George Silva. No sábado, as danças vão marcar presença no local, já pela manhã, a partir das 10h, com Sertão Latino, Ponto de Cultura Herdeiros do Xaxado e Grupo Cultural Sanfonar.

Mais tarde, começando às 15h, ainda no sábado, será a vez do Grupo Filhos do Sol, do Ponto de Cultura Mistura Pernambucano e da Companhia Soul Dance. À noite, das 21h em diante, Assisão, seguido por Grudinho e Trio The Grud's, é quem vai tomar conta da festa. No domingo, às 9h, a tão aguardada Celebração ao Cangaço, composta por diversos grupos da cultura popular, subirá ao palco.

Já o Espaço Cangaço Fitness terá um dia inteiro dedicado à criançada. No sábado, das 9h às 17h, acontecerá a Oficina Brincanças. Serão vivências de artes cênicas e de cultura popular ministradas por Bruna Florie. O público-alvo será formado por todos aqueles com idades entre 6 e 12 anos.

Por fim, o Tributo a Virgolino - A Celebração do Cangaço também vai oferecer uma opção verde e saudável para quem quer conhecer a história e a cultura locais. É que o Sítio Passagem das Pedras será o ponto de partida para a Trilha dos Mirantes e para a Trilha dos Umbuzeiros. Os participantes conhecerão Pedras da Emboscada, onde aconteceu o primeiro confronto armado entre os irmãos Ferreiras (família de Lampião) e Zé Saturnino (primeiro inimigo). Ruínas da antiga casa-grande da Fazenda Pedreira, pertencente a Zé Saturnino, também fazem parte do roteiro. Para participar, basta agendar o horário, para um dos três dias do evento, no Museu do Cangaço.

O evento também contará com barracas com comidas regionais e artesanatos. A programação será realizada com o incentivo do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura), através da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Secretaria de Cultura de Pernambuco, Governo de Pernambuco.





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FLÁVIO JOSÉ DIZ QUE VIDA E OBRA DE LUIZ GONZAGA MERECEM MAIS RESPEITO.

Com mais de 35 anos de carreira e auto intitulado seguidor de Luiz Gonzaga, o cantor e sanfoneiro Flávio José teme pelo futuro do forró. Segundo ele, em muitas cidades neste São João havia apenas um artista do ritmo.

O artista contou que teme pelo futuro do forró e conta que se apresentou em cidades onde era o único representante do ritmo.

"Lá para a região da gente aconteceram muitas praças que tinha apenas um artista de forró, as outras atrações eram modismo, etc e tal. Mas é tão bom mudar, tem que aprender a corrigir. Eu só fico preocupado é porque, algumas praças só tinha eu. E se amanhã não tiver nem eu? Vai ficar mais complicado", disse ele instantes antes de se apresentar no São Pedro no Parque de Exposições.

Ele contou ainda que se entristece quando vê a obra de Luiz Gonzaga sendo levada a direção oposta à original.

"No ensinamento de Luiz Gonzaga, eu gravei um disco, o 'Flávio José Canta Luiz Gonzaga'. Eu penei para ouvir muito a obra de Luiz Gonzaga, para dizer palavra por palavra o que ele disse e cuidar muito bem da obra dele, que merece o maior respeito do mundo. Eu fiz esse disco com sucesso tremendo", contou ele, que seguiu.

"Eu fico muito triste quando vejo alguém pegar uma obra de Luiz Gonzaga e botar numa levada que não tem nada a ver. Parece que já se cansaram de fazer tantas coisas e o que resta agora é bulir, mexer numa obra como a do Luiz Gonzaga, que merece total respeito".

“Não, o forró é tão forte que ele aguenta tudo, até nomes de outras coisas que não têm nada a ver sendo chamados de forró. Então, o forró que eu conheço é o forró de Luiz Gonzaga, do Trio Nordestino, das tradições, isso aí sim, foi como eu falei anteriormente. Não teve renovação porque vários artistas desiludidos desistiram e jogaram a toalha. Agora, modismos que estão sendo chamados de forró, tem um monte, mas na minha concepção não têm nada a ver com forró”, completou o forrozeiro.


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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI CONCEDE TÍTULO DE DOUTOR HONORIS CAUSA A GILBERTO GIL

A Universidade Regional do Cariri (URCA) CONCECE Título de Doutor Honoris Causa ao cantor, compositor, escritor e ativista, Gilberto Passos Gil Moreira. O evento será realizado no Terreiro das Artes do Centro Cultural do Cariri, no próximo dia 10 de julho, às 18h.

 A proposição para o Título é de autoria do ex-reitor da URCA, Professor Francisco do Ò de Lima Júnior, aprovada por unanimidade pelo Conselho Universitário, pela importância e o legado do artista e ex-ministro da Cultura. A proposição foi apresentada em julho do ano passado e apreciada pelos integrantes do conselho.

CONFIRA DISCURSO GILBERTO GIL QUANDO TOMOU POSSE NA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS

r. Presidente da Academia Brasileira de Letras, Acadêmico Merval Pereira,


Sra. Secretária Geral da Academia Brasileira de Letras, Acadêmica Nélida Piñon, Sras. e srs. Acadêmicos, Amigas e amigos aqui presentes, Meus filhos, meus netos... e Flora

Aqui estou, no limiar dos meus oitenta anos, no Salão Nobre da Academia Brasileira de Letras, onde já estiveram tantos escritores de minha admiração, alguns dos quais foram amigos queridos, na condição de primeiro representante da música popular do Brasil a ser eleito para esta instituição.

Entre tantas honrarias que a vida, generosamente, me proporcionou, essa tem para mim uma dimensão especial, não só porque aqui é a Casa de Machado de Assis, um escritor universal, e afrodescendente como eu, mas também porque a ABL, fundada em 20 de julho de 1897, representa, mesmo para quem a crítica, a instância maior, que legitima e consagra de forma perene a atividade de um escritor ou criador de cultura em nosso país.

Confesso que até recentemente não havia pensado em concorrer a uma cadeira da ABL, mesmo sabendo que Tom Jobim chegara a se inscrever em 24 de setembro de 1993, retirando em seguida a candidatura em homenagem a seu amigo Antônio Callado, eleito em março de 1994.

Sou filho de uma professora primária, Claudina, e de um médico, José Gil Moreira. A eles devo o meu amor às letras e à música. Foi de minha mãe que ganhei o primeiro violão, em 1961. Ela também leu, com paciência de mestra experiente, meus versos inspirados em leituras de Castro Alves, Gonçalves Dias, e Olavo Bilac, que comecei a escrever aos 17 anos. Tive a sorte de ter pais carinhosos, que me educaram para não ter medo de enfrentar os desafios que a vida fatalmente nos impõe. A imagem de meus pais está comigo nesta noite, e sua memória, é para mim uma bênção.

A Academia Brasileira de Letras é a Casa da Palavra e da Memória Cultural do Brasil. E tem uma responsabilidade grande no sentido de fortalecer uma imagem intelectual do país que se imponha à maré do obscurantismo, da ignorância, e demagogia de feição antidemocrática. Poucas vezes na nossa história republicana o escritor, o artista, o produtor de cultura, foram tão hostilizados e depreciados como agora. Há uma guerra em prol da desrazão e do conflito ideológico nas redes sociais da Internet, e a questão merece a atenção dos nossos educadores e homens públicos. A ABL tem muito a contribuir nesse debate civilizatório. E eu gostaria, aqui, de colaborar para o debate, em prol da cultura e da justiça.

O patrono da cadeira número 20, onde hoje tomo assento, é o escritor

JOAQUIM MANUEL DE MACEDO, nascido em Itaboraí, no Rio de Janeiro, em 24 de junho de 1820, e autor, entre outros títulos, de A moreninha, de 1844, o primeiro clássico do nosso romance romântico, já levado ao cinema e adaptado para novela de televisão. O ensaísta e acadêmico José Guilherme Merquior sobre ele observou: “O ‘Macedinho’ obteve o que Teixeira e Sousa não conseguira: dar respeitabilidade ao romance folhetinesco. (...) Enquanto Alencar inventaria o mito heroico – o índio cavalheiresco –, Macedo engendrou um mito sentimental: o da mocinha brasileira, sinhazinha ‘romântica’”.

Médico de formação, político liberal, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, defensor da educação para as mulheres, Macedo é autor também de Lições de História do Brasil, em 1861, e no ano seguinte, de Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro, reunião de crônicas anteriormente publicadas no Jornal do Commercio. Embora tenha escrito em vários gêneros, e ocupado postos importantes, o escritor, falecido em 11 de abril de 1882, viveu seus últimos anos atormentado por dificuldades financeiras. Destaquemos, de sua vasta produção, o poema A nebulosa, de 1857, que, no dizer de Antonio Candido, “abre as portas de um mundo romântico, onde poucos se moveram tão bem”. Citemos ainda As vítimas algozes – quadros da escravidão, de 1869, reeditado em 1988, no centenário da abolição da escravatura, pela Casa de Ruy Barbosa, e sua extensa obra teatral, composta, entre dramas e comédias, por 14 títulos, dentre eles A torre em concurso, de 1863, saborosa sátira que, segundo o crítico e acadêmico Sábato Magaldi, “fustiga mais de perto um dos vícios do país, existente até hoje: o complexo de inferioridade nacional, que só reconhece valor no estrangeiro e muitas vezes se abandona à sua falta de escrúpulos”. A figura gigantesca de José de Alencar parece hoje dominar quase todo o território do romance romântico brasileiro, mas Joaquim Manuel de Macedo é um nome a merecer resgate, para além de sua eterna Moreninha.

O fundador da cadeira nº 20 foi o jornalista, advogado, romancista e diplomata SALVADOR DE MENDONÇA, nascido em Itaboraí, no Estado do Rio, em julho de 1841, e irmão do acadêmico considerado o verdadeiro mentor da ABL, Lúcio de Mendonça. Na diplomacia serviu, entre outros postos, como cônsul-geral nos Estados Unidos, atuando no sentido do imediato reconhecimento do nosso então novo regime republicano junto ao governo norte-americano. Foi, juntamente com o irmão, um ativo integrante do movimento republicano no Brasil. Participou também, com Amaral Valente e Lafaiete Pereira, da Conferência de Washington, de 1889-1890, no intuito de ampliar a nossa integração comercial no continente; atuou na Assinatura do Tratado de Reciprocidade em 1891; e nas tratativas com o governo dos Estados Unidos no sentido de obter ajuda americana para fazer cessar a Revolta da Armada, o que de fato aconteceu em 1894.

Dele dirá Emílio de Menezes, seu sucessor nesta Casa: “Há na vida de Salvador de Mendonça, de tão difícil apreensão, um traço de suave e melancólica poesia, que a perfuma e aformoseia toda. É a revivescência do seu primeiro sonho de amor”. (...) Velho, fez reflorir, na velhice, o melhor trecho da mocidade de um homem. Morreu entre as rosas que cultivava paternalmente. Dizia ele que a sua melhor página era o conto escrito no início da carreira literária, dedicado à mulher amada, à sua primeira noiva e intitulado ‘A tua roseira’”.

O poeta, satirista e boêmio EMÍLIO DE MENEZES, nascido em 1866 em Curitiba, adotou o Rio de Janeiro, e aqui, tendo por base a Confeitaria Colombo, escreveu para diversos jornais, publicou poemas, ironizou figuras públicas, e até os seus próprios amigos. Muito dessa produção galhofeira corre o risco, hoje, de ser carimbada como politicamente incorreta, e mesmo de racista. Mas eram outros os tempos, e os jornais de então não só estimulavam esse tipo de literatura, como abriam generoso espaço para todo tipo de matéria que pudesse dar margem à polêmica e ao riso. O poeta e jornalista pernambucano Bastos Tigre, que o conheceu bem, escreve, em Reminiscências, que os seus sonetos: “Ouvidos a princípio com complacência, foram, em breve, aplaudidos com entusiasmo. E que bem os recitava ele! (...) Sobrava-lhe (...) talento, espírito, irreverência, alegria. Em pouco tempo dominou a roda, conquistou amigos, uns por admiração, muitos por medo da sua língua, que era um florete pela agressividade e pela elegância do ataque.

– Já sabes a última do Emílio? Era comum a pergunta nas rodas literárias, entre jornalistas e boêmios. E a “última do Emílio” – um trocadilho, uma sátira, um epitáfio – era repetida, às risadas, nos cafés e nos bares, nas livrarias e nos salões de barbeiro. E, em pouco tempo, toda a cidade a conhecia. O mais das vezes, a boa pilhéria acabava deturpada pelas várias edições de narradores. E, ainda, faltava a esses a graça do dizer, a comicidade verbal que lhe dava o autor.

Emílio era, de fato, excelente narrador. O tom da voz, a mobilidade da máscara colaboravam no efeito cômico das suas improvisações jocosas ou mordazes. (...) No comentário imediato ao caso do dia, no “a propósito”, no aparte à narrativa sisuda, na alcunha caricatural, no jogo de palavras, no equívoco, no disparate, no trocadilho, se havia, por vezes, maldade ferina, havia também, e principalmente, graça, chiste, agudeza”.

Machado de Assis, devido à vida boêmia do poeta, não simpatizava com a ideia da eleição de Emílio, tanto que ele só candidatou-se após a morte do grande escritor. Importante expressão de nossa poesia parnasiana, Emílio de Menezes foi eleito para a ABL em agosto de 1914. Consta que alguns votaram nele como uma espécie de salvo-conduto de que estariam protegidos dos dardos envenenados de seus versos.

Nas mãos de Emílio, uma simples notícia de jornal – “A sra. Pepa Ruiz e o sr. Pupo de Morais andam em negociações para o arrendamento do Mercado do Rio de Janeiro” – podia se transformar num bem urdido poema.

Leiamos o “Prosopopeia da Pepa ao Pupo”: Parece peta. A Pepa aporta à praça E pede ao Pupo que lhe passe o apito.

Pula do palco, pálida, perpassa Por entre um porco, um pato e um periquito.

Após, papando, em pé, pudim com passa, Depois de peixes, pombos e palmito, Precípite, por entre a populaça, Passa, picando a ponta de um palito. 

Peças compostas por um poeta pulha, Que a papalvos perplexos empunha, Prestando apenas pra apanhar os paios, Permita a Pepa por pastéis, pamonha...

– Que a Pepa apupe o Pupo e à popa ponha Papas, pipas, pepinos, papagaios!

Devido a problemas de saúde só tomaria posse, por meio de carta, poucas semanas antes de sua morte, de uremia, em 24 de abril de 1918.

HUMBERTO DE CAMPOS, nascido em Miritiba (hoje a cidade leva o seu nome), no Maranhão, em 25 de outubro de 1886, viveu apenas 48 anos, tempo suficiente, no entanto, para produzir uma obra imensa, que até o final dos anos 60 ainda era vendida em todo o país sob forma de coleção, pela editora Jackson. Em vida, foi autor de enorme sucesso, em especial com a literatura lasciva ou fescenina que publicava sob o pseudônimo de Conselheiro XisXis. Vale lembrar que depois de sua morte apareceram livros tidos como seus psicografados pelo médium Chico Xavier, havendo polêmica relativa ao pagamento dos direitos autorais, pois, pela doutrina, Humberto não seria um autor defunto, mas, à maneira de Brás Cubas, um defunto autor. Obteve grande sucesso outro livro seu, este indiscutivelmente póstumo: Diário secreto, em 2 volumes, publicados pelas Edições O Cruzeiro, cobrindo os anos de 1915 a 1934, e onde, em meio a informações preciosas sobre nossa vida cultural e política, Humberto de Campos também destila maledicência e ironia sobre importantes personalidades com quem conviveu, entre eles um companheiro de Academia, Paulo Barreto, pseudônimo sob o qual ficou popular o admirável João do Rio. Dono de temperamento polêmico e de estilo cristalino, foi ficcionista, crítico literário, memorialista, poeta, e um dos cronistas mais populares do Brasil. Ingressou nesta “Casa dos 40” (a expressão é dele), em 1919, e pouco depois foi eleito deputado federal pelo seu Estado até ser cassado quando da Revolução de 30. A capacidade de trabalho e a produção literária do notável maranhense impressiona ainda mais quando se sabe que a partir de 1928, diagnosticado com a hipertrofia da hipófise que apressou o seu fim, muitas vezes teve de cumprir os compromissos de escritor e jornalista em meio a sérias dores físicas. Quando faleceu, em 5 de dezembro de 1934, o comércio do Rio deJaneiro, em sua homenagem, fechou as portas na hora do seu sepultamento.

O pernambucano MÚCIO LEÃO, nascido em 1898 e falecido aos 71 anos no Rio de Janeiro, formou-se em Direito em 1919, quando se transferiu para o Rio de Janeiro. Aqui trabalhou no Correio da Manhã e no Jornal do Brasil, até fundar, em parceria com alguns amigos, entre eles o poeta Cassiano Ricardo, o jornal A manhã, onde criou e dirigiu o suplemento “Autores & Livros”, publicado, com algumas interrupções, entre 1941 e 1950, e que continua a ser uma fonte de consulta imprescindível aos historiadores e estudiosos de nossa literatura. Aguarda-se a reedição desse valioso material, que compreende textos inéditos dos maiores escritores contemporâneos, ilustrados por artistas do naipe de Vieira da Silva, Goeldi, e Portinari, além de repor em circulação um nome de nosso passado literário a cada edição. 

Múcio foi secretário geral da ABL, seu presidente em 1944, e na Casa promoveu a edição de importantes obras, entre elas vários volumes do historiador e filólogo João Ribeiro. Publicou contos, romances, ensaios literários, e dois livros de poemas: Tesouro Recôndito, em 1926, e Poesias, em 1949. Neste, assim define o poeta:

“Poeta, ser estranho, ser enigmático entre os seres! Vejo-o, isolado das cores, das formas e das ideias, Isolado, nessa crepuscular solidão que o acompanha”.

AURÉLIO DE LYRA TAVARES, nascido em João Pessoa, na Paraíba, em novembro de 1905, e falecido no Rio de Janeiro em 1998, foi general do Exército, historiador de temas militares, memorialista, e embaixador do Brasil na França. Foi recebido nesta Casa por Ivan Lins, o notável historiador do Positivismo no Brasil, em abril de 1970. Em seu discurso, Ivan ressaltou as qualidades literárias do empossado: “Autor de mais de trinta livros, numerosos artigos em revistas e jornais, além de importantes conferências, ensaios e discursos, foi como escritor que a Academia vos elegeu. (...) Sois um escritor nato e empunhais a pena, como quem respira, por irreprimível impulso, a fim de externar as manifestações de uma inteligência forte, cultivada em todos os ramos do saber e dotada de acentuadas aptidões literárias, não só na Prosa, mas até na Poesia (...). 

É desconhecida, no entanto a produção poética de Lyra Tavares. Entre as obras que publicou merece destaque A engenharia portuguesa na construção do Brasil, de 1965 – que mestre Alberto da Costa e Silva reputa como uma notável contribuição aos nossos estudos históricos –, A independência do Brasil na imprensa francesa, em 1973, e O Brasil de minha geração, dois volumes de memórias publicados em 1976-1977.

A mim, na condição de vítima da repressão militar que tomou conta do Brasil a partir de 1964, a ponto de ter sido preso, e em seguida obrigado a deixar o país em julho de 1969 – assim como fizeram outros amigos meus, entre eles Caetano Veloso – me causou a princípio um certo desconforto o ter de tratar aqui de um dos três integrantes da Junta Governativa Provisória que comandou o Brasil de 31 de agosto a 30 de outubro de 1969. Mas, ao contrário, na constatação de como gira, às vezes com ironia, a roda da História, do ponto de vista acadêmico, os que conheceram e conviveram com o general Lyra Tavares nesta Casa reiteram o seu comportamento sempre afável e solidário, sua cultura literária e histórica e sua dedicação aos valores que balizam a história da ABL.

Por último, destaco meu antecessor imediato, o jornalista advogado

MURILO MELO FILHO, nascido em 1928, em Natal, autor de vários livros, e que por anos foi atuante colunista político nas páginas da revista Manchete. 

Murilo, ou “Murilinho”, como era carinhosamente referido, já aos doze anos assinava textos no Diário de Natal. Ele nos deixou aos 91 anos, em maio de 2020, e a impressão que permaneceu em todos com quem conviveu foi a de um homem do diálogo, sempre gentil e prestativo. Desenvolveu por esta Casa um sentimento de afinidade verdadeiramente amoroso. Não recusava convite para representá-la em outras academias estaduais e municipais, sempre fazendo questão de comparecer com o fardão da ABL. Entre os seus livros destacam-se O desafio brasileiro, com sucessivas edições; O modelo brasileiro, com apresentação do economista Mario Henrique Simonsen;  Tempo diferente, de 2005, uma antologia de perfis de personalidades que conheceu ao longo de sua vida de incansável jornalista, entre elas Jânio Quadros, Carlos Lacerda, Café Filho, Otto Lara Rezende, Guimarães Rosa e Rachel de Queiroz.

Sobre Tempo diferente manifestou-se o cientista político e acadêmico Candido Mendes: “Murilo Melo Filho integra o núcleo desta geração Manchete, que hoje dá à Academia esta colaboração inédita, de membros vindos de um momento antológico – e dramaticamente fugaz – de um jornalismo inovador no país. (...) Existe nestas páginas a caprichosa tessitura de toda uma instigante era da sociedade brasileira, com revelações de muitos bastidores. (...) Na análise de cada um desses personagens, constrói-se a leitura de um momento brasileiro, graças à pertinácia de memória de Murilo,


nas vidas que atravessou com a determinação da sua esplêndida escuta de jornalista”.


Já o filósofo e acadêmico Tarcísio Padilha, presidente da ABL de 2000 a 2001, afirmou: “Ele portava a marca da civilidade e da boa convivência.


Entrevistou grandes homens públicos e chefes de Estado. Pergunto, então: quem tem medo de Murilo Melo Filho? Porque, de modo geral, quem participa tão ativamente da trepidante vida jornalística dificilmente escapa das paixões político-partidárias. Mas Murilo atravessou o Rubicon com simplicidade, coerência e caráter.


Alçou-se sempre acima das dissenções, com o respeito e a generalizada simpatia sobre sua trajetória. Suas obras, sobretudo o Testamento político, narram as histórias de muitas décadas de intensa e febril atividade jornalística, nas conversas soltas e formatadas pelo seu espírito objetivo e cordial”.


O último livro de Murilo Melo Filho é dedicado a esta Casa. Os senhores da palavra – Academia Brasileira de Letras humanas e bem-humoradas, de 2014, uma obra que se ombreia ao Anedotário geral que Josué Montello dedicou à ABL. No entender do filólogo e acadêmico Evanildo Bechara, “o agradável nessa leitura, além do simples sorriso, é a interpretação das personalidades envolvidas nas histórias – muito bem selecionadas e melhor ainda narradas. Em muitos casos, junta-se o humorismo à saudade, num reencontro com amigos queridos”. E Arnaldo Niskier, que com ele conviveu por cinco décadas, escreveu sobre este livro: “Nele Murilo Melo Filho reuniu textos e frases sobre o que 80 acadêmicos – todos já mortos – disseram, fizeram e discutiram ao longo de sua passagem pela nossa Academia Brasileira de Letras. São fatos bem-humorados, contados com a graça própria de intelectuais sábios e cultos, aqui compilados com verve e estilo.


(...) O autor teve a preocupação de reconstituí-los com cuidado e exatidão”.


Sras. Acadêmicas, Srs. Acadêmicos,


Nascido em Salvador, passei a minha infância em Ituaçu, no interior


do Estado. Contemplo desta tribuna o menino que fui e me espanto. A curiosidade e algumas interrogações daquela época permanecem vivas em mim. Sempre procurando acompanhar o desenvolvimento das novas tecnologias no que elas possam contribuir para o bem de todos, costumo me perguntar: O que será do Brasil em meio a esse mundo de pandemias e guerras? Que destino aguarda a Amazônia? O que os políticos estão fazendo para acabar com a fome e o analfabetismo? Quando conseguiremos alcançar a tão sonhada independência científica e tecnológica? Até quando o Brasil será o “país do futuro” de Stefan Zweig?


Não tenho respostas ou verdades consolidadas, nem sei se as terei um dia.


Procurei, junto com alguns brilhantes companheiros de geração, colaborar para que o Brasil fosse respeitado e amado mundo afora. Participei de movimentos culturais como a Tropicália, que continua dando frutos por aí.


Tive grandes êxitos e alegrias nesta vida. Mas também fundas tristezas, a maior e a mais dolorosa a perda de meu filho Pedro Gil. Mas não desanimo, porque é preciso resistir sempre.


Nesta noite estão comigo em pensamento todos aqueles que me incentivaram na minha trajetória que começou com Claudina e José Gil, meus pais, e que hoje ganha afetuoso reconhecimento na Casa do grande escritor, e também filósofo, Machado de Assis.


Apesar dos tempos politicamente sombrios que vivemos, aposto na


esperança. Contra a treva física e moral, que haja ao menos a chama de uma vela, até chegarmos a toda luz do luar. Permitam-me recordar alguns versos meus:


Se a noite inventa a escuridão


A luz inventa o luar


O olho da vida inventa a visão


Doce clarão sobre o mar


Essa é nossa aposta, na vida e na alegria. Agradeço, pelo estímulo inicial que me trouxe até aqui, aos acadêmicos Marcos Vilaça, Cacá Diegues, Merval Pereira e Antonio Carlos Secchin, que, somados ao sempre amoroso aconselhamento de Flora, minha mulher, contribuíram na minha decisão de postular um lugar nesta Casa. Ao acadêmico Secchin, agradeço a generosidade em me receber com o discurso que ouviremos a seguir. E, dele, endosso os versos do poema “Luz”, composto unicamente por monossílabos, num total de 32, e que revela nossa busca solidária pelo espaço solar da liberdade, e a crença em comum de que a luz verdadeira é a que nasce dentro de nós:


Ao ver


O não 


Que sai


Da dor


O som


Da voz


Já vai


No sim


No tom


Do céu


Não vi


Mais luz


Do que


No sol


Que há


Em mim


Em maio de 1968, na capa do meu segundo LP, e já integrado à Tropicália, apareço envergando um fardão e usando pincenê. Ao recordar esse episódio escrevi um poema para este evento.


Sempre houve críticas à Academia, que a Casa de Machado não faria jus ao sonho que sonhara ser um dia: todos ali representados por alguns.


Tal ampla representatividade sonhada por Nabuco e demais fundadores jamais fora alcançada de verdade, jamais todos os saberes e sabores.


Eu mesmo, nos meus tempos de aventuras, cheguei a envergar um garboso fardão, vestido então como ironia dura, a fantasia pura da ilusão!


Juntava-me, naquele instante, aos muitos que alfinetavam a Instituição mal sabia eu quais os intuitos, do destino astuto a interrogação.


Um amigo lembrou-me outro dia que as ironias sempre trazem seu revés.


Papéis trocados, eis aqui, vida vadia: fardão custoso, bordado a ouro, vistoso, me revestindo da cabeça aos pés.


Aos que me ouviram aqui, e aos que acompanham essa cerimônia pela internet, aquele abraço, e muito obrigado!


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