SEM FORÇAS O RIO SÃO FRANCISCO JÁ NÃO BATE NO MEIO DO MAR

Com farta cabeleira preta, olhos esbugalhados e boca aberta mostrando dentes enormes, a carranca decora as proas dos barcos que navegam pelas águas do rio São Francisco. Para barqueiros e pescadores da região, a figura antropomórfica (mistura de traços humanos e animalescos) tem o significado de proteção, assustando maus espíritos, animais perigosos, tempestades, naufrágios, e trazendo sorte. Apesar de esteticamente divergir quanto ao padrãozinho de beleza imposto, ela foi escolhida para ser modelo da campanha 'Eu Viro Carranca para defender o Velho Chico', realizada pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). 

O objetivo é dar visibilidade aos problemas enfrentados pelo rio de mais de 2.800 km de extensão, que nasce na Serra da Canastra, em Minas Gerais, e deságua no Oceano Atlântico, na divisa entre Alagoas e Sergipe. Ou pelo menos costumava desaguar, como nos ensinou o saudoso Gonzagão, nos versos da música Riacho do Navio: “O rio São Francisco vai bater no ‘mêi’ do mar”. 

É que, com o passar dos anos, a dinâmica do Velho Chico tem mudado: “Com a chegada das grandes hidrelétricas, sua vazão passou a ser controlada, havendo modificação da hidrodinâmica natural. O São Francisco hoje não avança mais ao mar, pois não tem mais força. O que ocorre é o oposto: o mar avança no rio. Infelizmente, parte do Baixo São Francisco está com a água salgada”. Quem explica é Maciel Oliveira, presidente do CBHSF. 

Em abril do ano passado, representantes do Comitê e da sociedade civil foram até Brasília para cobrar ações de proteção e anunciar a criação da Frente Parlamentar em Defesa do São Francisco. Entre eles, discursando para dezenas de políticos, estava Maciel. 

Crítico da transposição, o alagoano de 40 anos afirma que o Comitê sempre foi contrário ao conceito do projeto, principalmente na ausência de ouvir a população afetada e envolvida com a obra. Durante o último governo, segundo ele, a situação ficou pior: "Nesses quatro anos, a transposição foi tocada absolutamente às escuras. O Comitê gestor da transposição, criado anteriormente para acompanhar e definir critérios, nunca se reuniu, nem discutiu. Ou seja, ficamos alheios a qualquer informação".


No Dia Nacional de Defesa do São Francisco, e às vésperas do Dia Mundial do Meio Ambiente, que será na segunda-feira (5), Maciel Oliveira convoca toda a sociedade a também virar carranca para proteger o Velho Chico: "O momento é de uma grande pactuação pela revitalização do nosso rio. São mais de 500 cidades lançando esgoto no Velho Chico, são expansões agrícolas sem controle. Todos precisam ver que o São Francisco é fonte de vida para mais de 18 milhões de pessoas que habitam em sua bacia".Qual a importância do rio São Francisco para o Nordeste? O Rio São Francisco é de extrema importância para o abastecimento de água do Nordeste, sendo considerado um dos fatores essenciais para o seu desenvolvimento. Por localizar-se no semiárido nordestino, o Velho Chico é a principal fonte de água da região.O Brasil é um país privilegiado em termos de recursos hídricos, mas isso não quer dizer que essa água se distribua de maneira igualitária. É como a natureza trabalha. Enquanto a Região Norte tem praticamente 65% dessa disponibilidade, no Nordeste temos apenas 3%. Há essa disparidade e, nesse contexto, o São Francisco é determinante e está sob enorme pressão de demandas para usos múltiplos.Poderia traçar um breve panorama histórico do que ocorreu com o rio, ao longo desses anos? Ao longo dos anos, o Velho Chico passou por muitos processos antrópicos (resultado da ação humana). Com a chegada das grandes hidrelétricas, sua vazão passou a ser controlada, havendo modificação da sua hidrodinâmica natural. O São Francisco hoje não avança mais ao mar, porque não tem mais força. O que ocorre é o oposto: o mar avança no rio. Infelizmente, parte do Baixo São Francisco está com a água salgada. As cidades próximas à foz passam por sérios problemas de salinização das suas águas. 

 Na Bahia, onde começa e onde termina o Velho Chico? O Estado da Bahia é um dos principais privilegiados com o Velho Chico. Após a divisa com Minas Gerais, até Paulo Afonso, mais de 115 municípios baianos compõem a Bacia do Rio São Francisco, com as regiões fisiográficas do médio e submédio São Francisco.Quais os usos feitos do rio, por parte da população? Além da geração de energia, o rio é usado para irrigação, pesca artesanal, turismo, navegação, consumo humano, entre outros. E os usos são conflitantes, então há a necessidade de um planejamento rigoroso e uma concertação de interesses para se antecipar aos conflitos pelo uso da água.Qual a missão do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF)? Há quanto tempo existe? Como surgiu? Quem participa? 

O CBHSF tem como missão descentralizar o poder de decisão, integrar as ações públicas e privadas e promover a participação de todos os setores da sociedade. O objetivo é implementar a política de recursos hídricos em toda a bacia, estabelecendo regras de conduta locais e gerenciando  os conflitos e os interesses locais. Foi criado por decreto presidencial, em 05 de junho de 2001, após uma grande mobilização social das instituições da bacia. Ao longo dos seus mais de 20 anos, o Comitê presta um serviço à sociedade como forma de gestão e participação social. Fazem parte do comitê organizações da sociedade civil, usuários da água de diversos setores, instituições técnicas e de ensino e pesquisa, os povos e comunidades tradicionais, além da representação dos poderes públicos, nas esferas municipal, estadual e federal.Quais as ações mais importantes já realizadas pelo Comitê? Desde 2010, já elaboramos 116 planos municipais de saneamento básico (47 apenas no estado da Bahia), fizemos obras de abastecimento de água para povos e comunidades tradicionais em toda a bacia. Aproximadamente, R$ 35 milhões foram investidos de 2012 a 2022, no estado da Bahia, com recursos oriundos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos. Temos mais obras e projetos importantes em andamento.Este ano, uma comissão foi para Brasília, para o lançamento da edição de 10 anos da campanha ‘Eu Viro Carranca para Defender o Velho Chico’. Poderia falar um pouco sobre a campanha e como foi o lançamento pontual na capital do Brasil? Quais foram os encaminhamentos? Realizamos o lançamento no salão nobre do Congresso Nacional. A intenção foi mostrar e conclamar os políticos a se inteirar sobre os problemas do Velho Chico. Chamamos atenção para o fato de que o Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco e a campanha irão se realizar em um novo contexto institucional, resultante das eleições realizadas em 2022 para renovação dos governos. Diante disso, o CBHSF reafirmou seu papel histórico de completo distanciamento da política partidária, sem, no entanto, deixar de lado a necessidade de continuar atuando intensamente em todos os espaços da política institucional, em defesa dos princípios e das legítimas demandas referentes à boa gestão das águas no Brasil. 

Apelamos, ainda, à Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, como demanda principal da comunidade brasileira das águas, que dê à temática das águas o lugar mínimo que lhe é devido na estrutura da política ambiental oficial brasileira. Entre eles, a criação da Secretaria Nacional de Águas na estrutura do Ministério do Meio Ambiente. Também apelamos ao governo federal para a consolidação do Sistema Nacional dos Recursos Hídricos, através da criação de novos comitês interestaduais de bacias hidrográficas; da universalização da cobrança pelo uso das águas em todas as bacias hidrográficas de domínio federal; a universalização da implantação de sistemas de monitoramento da quantidade e da qualidade das águas em todo o território nacional.Vamos falar de transposição. Em que pé está? O Comitê sempre foi contrário ao conceito do projeto da transposição, principalmente na ausência de ouvir a população afetada e envolvida com a obra. A transposição já está em operação, principalmente no eixo Leste, onde leva água para a região de Campina Grande, Paraíba.Em relação a abastecimento, o que dá para dimensionar de bom ou ruim? Em relação ao abastecimento temos conhecimento que o projeto trouxe melhorias em Pernambuco e AlagoasDo ponto de vista dos recursos, há dinheiro para manter as obras de transposição? O grande problema é a operação, ou seja, a gestão da transposição daqui pra frente. Quem vai pagar a conta? Os estados beneficiados ainda não estão pagando.Como foi tocada a transposição nos últimos quatro anos? Absolutamente às escuras. O Comitê gestor da transposição, criado anteriormente para acompanhar e definir critérios, nesse último governo nunca se reuniu, nem discutiu. Ou seja, ficamos alheios a qualquer informação.Quais as perspectivas para os próximos anos? Temos perspectivas positivas em participar do processo de diálogo. Já cobramos que os Conselhos Gestores da Transposição e Revitalização sejam imediatamente retomados. Acreditamos que possamos ter mais envolvimento da participação social nos processos de decisão.Como as atuais gestões - estadual e nacional - têm lidado com a questão da preservação do São Francisco? No âmbito estadual, já tivemos reuniões com o secretário de Meio Ambiente da Bahia, Eduardo Sodré, a fim de estreitar laços com o CBHSF. O secretário mostrou-se muito interessado na articulação e afirmou que irá contribuir com a gestão e preservação da Bacia. Já no âmbito federal, estamos em articulação com os diversos ministérios e já retomamos diálogos importantes.Atualmente, quais as maiores ameaças ao rio? As maiores ameaças são a falta de gestão e planejamento. Todos querem água do Velho Chico, pensam em grandes projetos, sem pensar em sua recuperação. O momento é de uma grande pactuação pela revitalização do rio São Francisco. 

Todos precisam pensar na mesma causa. São mais de 500 cidades lançando esgoto no Velho Chico, são expansões agrícolas sem controle. Todos precisam ver que o rio é fonte de vida para mais de 18 milhões de pessoas que habitam em sua bacia.O Velho Chico vai morrer? Não podemos pensar na morte do São Francisco, enquanto houver pessoas e instituições abnegadas em defesa do rio e de seu povo.Existe um programa de fiscalização, do qual o Comitê faz parte, realizado em cidades banhadas pelo São Francisco. Fale um pouco sobre esse programa e os benefícios para o rio. Contando com a participação de ONGs e diversos órgãos públicos, de todas as esferas, o programa FPI - Fiscalização Preventiva Integrada - é o maior programa de integração, educação e defesa do rio em todo o Brasil. A FPI é  um grande exemplo de organização. Iniciou-se em 2002, através da iniciativa do Ministério Público da Bahia (MP-BA) e do CREA e hoje está nos principais estados da bacia (Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco). O Comitê apoia, participa e financia a iniciativa, que traz resultados positivos de recuperação do Velho Chico e de melhoria da qualidade de vida da nossa população.

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LULA CONCEDE ENTREVISTA EDIÇÃO ESPECIAL DO PROGRAMA BOM DIA, PRESIDENTE

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, dialoga com emissoras de rádios nesta terça-feira, 7 de maio, em uma edição especial do programa "Bom dia, Ministro", transmitida ao vivo pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC) a partir das 9 horas.

 O "Bom dia, Presidente" contará com a participação das rádios Nacional da Amazônia; Nova Brasil (SP); Banda B (PR); Verdinha (CE); Itatiaia (MG); Gaúcha (RS) e Centro América (MT), com perguntas apresentadas diretamente a Lula, moderadas pela jornalista Karine Melo.

 Lula tratará, entre outros assuntos, sobre as ações do Governo Federal — , em parceria com o governo estadual e os municípios — para o socorro e assistência à população gaúcha, afetada pelas fortes tempestades nos últimos dias.

 REFERÊNCIA — O programa Bom Dia, Ministro foi criado no primeiro mandato do presidente Lula e é uma produção da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República em parceria com a EBC. Esse ano já foram realizadas 38 edições com a participação de 27 ministros entrevistados ao vivo por rádios de todas as regiões do país.

 AO VIVO — O "Bom Dia, Ministro" pode ser acompanhado pela TV (aberta ou via satélite) e pela internet, no YouTube, Facebook, TikTok e Instagram do CanalGov. Para as rádios, o sinal de transmissão é oferecido pela Rede Nacional de Rádio (RNR), pelo mesmo canal de "A Voz do Brasil".

 PARTICIPE — Comunicadores e jornalistas de rádio de todo o país interessados em participar do "Bom Dia, Ministro" podem encaminhar mensagens para o telefone (61) 99222.1282 (WhatsApp) informando o nome da rádio, município e estado de origem, para serem incluídos na lista de veículos interessados em participar do programa.

 Fonte: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República

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ABASTECER ESCOLAS COM AGRICULTURA LOCAL E FAMILIAR É ALTERNATIVA PARA TRANSIÇÃO AGROECOLÓGICA

Em resposta à crise do atual modelo agroindustrial dominante, que produz em larga escala para consumo em massa, o abastecimento de alimentação escolar com produtos frescos e orgânicos oriundos da agricultura local e familiar é uma promessa para uma transição ecológica para novos modelos de produção, os chamados Sistemas Agroalimentares Alternativos (SAA) que causam menor impacto ambiental.

 Essa foi a constatação de uma pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, feita em parceria com a Université Paris 8 Vicennes-Saint-Denis (França), que analisou duas leis, uma brasileira e outra francesa, de incentivo ao abastecimento sustentável de escolas em várias regiões de São Paulo e Paris.

Os SAA surgiram nos anos 2000 a partir de reivindicações de movimentos sociais. Segundo a pesquisa, o termo agrupa diferentes iniciativas que se caracterizam por práticas agrícolas de comercialização e de consumo que buscam soluções frente aos problemas causados pelo sistema agroindustrial vigente.

A agroecologia, por exemplo, inclui a substituição do uso de agrotóxicos e adubos químicos por insumos naturais e orgânicos em suas produções, e os agricultores devem estar comprometidos com inúmeros procedimentos técnicos que vão desde a conservação do solo, manejo ecológico de pragas e doenças à destinação adequada de resíduos sólidos.

Além da questão agrícola, os SAA propõem a construção social de um mercado orgânico agroecológico, que privilegia agricultores locais e familiares em pequenas propriedades rurais próximas a grandes regiões metropolitanas, de forma a diminuir a distância entre quem produz e quem consome.

O estudo franco-brasileiro foi baseado na análise comparativa de duas leis promulgadas em 2009 que apoiam a agricultura alternativa, uma do Brasil e outra da França, países agroexportadores e cuja balança comercial tem se mantido equilibrada pelo setor agrícola. Um dos objetivos do estudo foi compreender em que medida as políticas públicas que incentivam o abastecimento sustentável das escolas, implementadas nas duas regiões metropolitanas, contribuem para a mudança do modelo agroindustrial para sistemas agroecológicos alternativos.

Ao analisar as duas leis, a engenheira agrônoma e autora da pesquisa, Morgane Isabelle Hélène Retière, avaliou que lei brasileira é mais avançada que a francesa, por trazer orientações mais claras e objetivas sobre a aquisição de produtos locais e orgânicos.

No Brasil, a Lei 11.947, que diz respeito ao programa de alimentação escolar, impõe, por exemplo, que no mínimo 30% dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), ligado ao Ministério da Educação, sejam destinados à compra direta da agricultura familiar.

Já na França, a Lei Grenelle 1 é mais genérica e sugere que no mínimo 20% das aquisições nas escolas sejam feitas de produtos orgânicos, bem como daqueles com baixo impacto ambiental, mas não especifica de que sistemas tais produtos provêm. Na lei francesa, a pesquisadora verificou também que a vinculação entre a alimentação escolar e a política alimentar governamental não aparece de forma tão clara quanto na lei brasileira.

Os textos da política alimentar francesa, ao contrário da lei brasileira, não recomendam explicitamente a redução do consumo de alimentos industrializados, embora se reconheça que os produtos possam conter teores excessivos de açúcar, sal e gordura.

Outra ressalva positiva feita pela pesquisadora em relação à lei brasileira foi a dispensa de licitação pública para a compra de alimentos da agricultura familiar, um processo que, em geral, é burocrático e demorado, tendo como um dos critérios o menor preço. Pela Lei 11.947, a aquisição dos alimentos pode ser realizada por chamada pública, procedimento administrativo mais rápido, utilizado para firmar parcerias com organizações da sociedade civil, como ONGs. “Na hora da aquisição dos produtos, ficam em primeiro plano outros critérios que não o preço, como a origem geográfica, a produção ecológica e a inclusão social”, diz.

Sobre a trajetória das duas leis, Morgane Retière diz que a brasileira teve origem em movimentos de combate à fome e à desigualdade social, no início nos anos de 1940, foi intensificada após a redemocratização do País e ganhou apoio institucional durante o governo do Partido dos Trabalhadores, em 2003.

Já a lei francesa foi criada a partir do controle de segurança sanitária dos alimentos, principalmente os de origem animal e, a partir dos anos 2000, passou a ter enfoque também no combate à má alimentação do ponto de vista nutricional, que culminou no aumento da obesidade populacional gerada pelo consumo de alimentos industrializados. Confira reportagem na integra Jornal da USP

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PROJETO FORRÓ PARA TODOS ACONTECE NESTE DOMINGO (5)

Os músicos Ivan Greg, Celso José e Jailson Costa, idealizadores do projeto Forró Para Todos, realizarão no próximo domingo, dia 05 de maio, um show inédito acompanhados por um mini trio que percorrerá o trajeto da Praça 21 de Setembro até a orla de Petrolina. A concentração do cortejo está marcada para as 17h.

Com o apoio dos grupos de dança Sertão Pé Quente, Forrozeiros PNZ e Forrozeiros Petrolina, o projeto inovador busca celebrar a cultura nordestina através da música e da dança, promovendo a inclusão de pessoas de todas as idades e origens no forró, um dos ritmos musicais mais autênticos do Brasil.

Para Ivan Greg, "realizar um evento e um projeto como o Forró Para Todos é valorizar e manter viva a tradição nordestina com o puro forró, a sanfona, a zabumba e o triângulo ecoando por onde passar. É assim, ocupando e ecoando nas ruas, que o forró vai reconquistando seu espaço merecido em nossa cultura".

SERVIÇO: O que: Cortejo Forró Para Todos

Quando:  05 de maio  às 17 horas

Onde: Praça 21 de Setembro, Petrolina-PE

Entrada: evento gratuito 

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CABELOS BRANCOS: NÓS DA ESQUERDA ESTAMOS ACUADOS, DIZ FREI BETTO

Participei em Belo Horizonte, no início de abril, do 12º encontro nacional do Movimento Fé e Politica. Quase duas mil pessoas. Ao contrário dos encontros anteriores à pandemia, poucos jovens. A maioria de cabelos brancos ou tingidos. 

Minha geração envelhece. Chego este ano aos 80. Nossas ideias, propostas e utopias, também envelhecem?

      É muito preocupante constatar que as forças progressistas não logram renovar seus quadros. Para vice de Boulos, na disputa pela prefeitura de São Paulo, em outubro próximo, o PT precisou importar uma mulher filiada a outro partido: Marta Suplicy, que fará 80 anos em março de 2025.

      No Rio, o PT parece não ter quem indicar para possível vice na chapa do prefeito Eduardo Paes, candidato à reeleição. Tende a importar  Anielle Franco, do PSOL. 

      Tenho proferido conferências pelo Brasil afora e assessorado movimentos populares. Os cabelos brancos predominam na plateia. As poucas manifestações públicas convocadas pela esquerda reúnem número inexpressivo de pessoas e, em geral, a turma dos cabelos brancos.

      Nós, da esquerda, estamos acuados. Como diz a canção de Belchior, "minha dor é perceber / que apesar de termos feito / tudo, tudo, tudo, tudo que fizemos / ainda somos os mesmos e vivemos (...) como os nossos pais". "Nossos ídolos ainda são os mesmos". E não vemos que "o novo sempre vem". 

      A queda do Muro de Berlim abalou as nossas esperanças em um mundo onde todos teriam a sua existência dignamente assegurada. E o capitalismo, gato de sete fôlegos, inovou-se pelos avanços da ciência e da tecnologia e, sobretudo, do neoliberalismo. 

      Primeiro, a privatização do patrimônio público; em seguida, das instituições sociais, reduzidas a duas por Margaret Tchatcher: o Estado e a família. E, por fim, o cidadão foi despido de seu manto aristotélico e condenado a ser mero consumista, inclusive de si mesmo ao passar horas a se mirar no espelho narcísico das redes digitais. 

      Há uma progressiva despolitização da sociedade. A direita é como uma maré que sobe e ameaça afogar o que nos resta de democracia liberal. Basta dizer que um dos três programas de maior audiência da TV Globo e, portanto, de faturamento, é o BBB, que bem espelha os tempos em que vivemos: ali são explícitas as regras do sistema capitalista. O único objetivo é competir. Todos sabem que, ao final, apenas uma pessoa haverá de amealhar o pote de ouro. E a missão dos concorrentes é cada um fazer tudo para que seus pares sejam eliminados. É o que milhões de adolescentes aprendem ao perder horas assistindo àquele simulacro de "O anjo exterminador", de Buñuel.

      Na esquerda "ainda somos os mesmos". Não semeamos a safra de novos militantes com medo de que eles se destacassem e ocupassem as nossas instâncias de poder. Abandonamos as favelas, as zonas rurais de pobreza, os movimentos de bairros. E não aprendemos a atuar nas trincheiras digitais, monopolizadas pela direita como armas virtuais da ascensão neofascista. 

      Não sabemos como reagir diante do fundamentalismo religioso que mobiliza multidões, abastece urnas, elege inclusive bandidos notórios. Fundamentalismo que apaga as desigualdades sociais e as contradições de classe e ressalta que tudo se reduz à disputa entre Deus e o diabo. Todo sofrimento decorre do pecado. Eliminado o pecado, irrompe a prosperidade, que empodera e favorece o domínio: a confessionalização das instituições públicas; a deslaicização do Estado; a neocristandade que condena à fogueira da difamação e do cancelamento todos que não abraçam "a moral e os bons costumes" dos que clamam contra o aborto e homenageiam torturadores e milicianos assassinos.

      Precisamos fazer autocrítica, rever nossas ideias, ter a coragem de abrir espaços às novas gerações e reinventar o futuro. Nossos cabelos brancos denunciam o inverno que nos acomete. É hora de uma nova e florida primavera!

 Frei Betto é escritor, autor de "Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira" (Rocco), entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org

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MIRELE RODRIGUES E RENATO LÓCIO: UM OLHAR TURÍSTICO CULTURAL NOS PASSEIOS PELOS SERTÕES

Os poetas sentem e sabem, a psicanálise explica. Somos viajantes mesmo quando não viajamos. Viajamos sonhando, sem sair do lugar. O sonho é a viagem daquele que quer ir. Nos seus lugares mais profundos, o corpo é um navegante. Mora ali um fogo que não se apaga. Freud deu a ele o nome de “Princípio do Prazer”.

O educador Rubem Alves refletia que "queremos navegar até o lugar (ou o tempo) onde encontraremos o prazer e sentia-se tentado, à semelhança de Octávio Paz, a falar em “dupla chama”. 

As almas viajantes, a dupla chama,  Mirele Rodrigues e Renato Locio. Amigos tatuados qual a flor de Mandacaru, ambos sabem conviver numa boa com todas as opções culturais, sons, cheiros, cores, estéticas, éticas. De mãos dadas eles são mais que um encontro de ecologia e arquitetura, traduzem empatia, Principios da Alegria.

"Toda viagem inclui duas partes. Primeiro, a escolha do lugar para onde se vai. Essa escolha, quem faz é o coração. Segundo, o preparo da viagem. Esse preparo quem faz é a razão. Por isso, disse Fernando Pessoa: Navegar é preciso".

Mirele e Renato já navegaram pelo Sertão de Alagoas e Recôncavo Baiano, Exu Chapada do Araripe e Juazeiro Ceará, França. Dia desses decidiram fazer mais um passeio, dessa vez um olhar de turistas em Petrolina. Ver a cidade com os olhos de quem descobre algo novo dá às coisas/lugares um sentido diferente. 

"Encontramos beleza e gestos gentis, quase sempre raros. No momento em que fazíamos as fotos, me vi emocionada ao ouvir de um ciclista orgulhoso, que acreditou que éramos realmente turistas, que aquela rua era o cartão postal de Petrolina - A Petrolina Antiga. É lamentável que, ao que parece, uma parcela significativa dos petrolinenses não sinta ou expresse o mesmo orgulho pela história da cidade, haja vista a recente obra de "revitalização" da praça da catedral, entre uma infinidade de outras intervenções questionáveis que trazem consigo a bandeira da modernização, mas que resultam no apagamento de sua história." 

Essas são as observações e falas feitas por Mirele Rodrigues Feitosa, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural, da Universidade Federal do Vale do São Francisco e residente na cidade de Petrolina há 18 anos. 

Para Renato Carvalho Lócio de Albuquerque,  bodocoense, que após alguns anos retorna à Petrolina para cursar Arquitetura na UniFTC, "não há muito o que acrescentar no olhar lúdico e questionador de Mirele, traduzido em palavras. Mas ele acrescenta: 

"Mirele Rodrigues e eu somos turistas todos os dias de nossa cidade adotiva: Petrolina. Uma terra, um lugar, que pertencemos, pela morada, intimidade e construção de muitas memórias. Temos uma proximidade com os espaços, especialmente aqueles que formam e contam histórias. Petrolina Antiga é um deles. Arquitetura não é, infelizmente, uma linguagem popular e inclusiva. Diversas vezes, exclusiva. Não é tempo de romantizar casas coloniais e seus coronéis, mas colocar em pauta a contribuição estética e histórica desses espaços para ressignificar a própria história, trazer o povo à ocupação e gerar renda com o turismo e economia criativa. Há sementes, mas faltam árvores."

O colaborador da REDEGN leu a postagem do passeio turístico de Mirele Rodrigues e Renato Locio, o Jornalista e Técnico em Agroecologia Ney Vital, traduziu: Mirele e Locio aproveitam cada instante, valorizaram cada minuto. Bem disse Luiz Gonzaga, a vida é viajar, estudar, aprender/ensinar, pesquisar, fazer extensão por este Brasil.

E  Mário Quintana finaliza: A verdadeira arte de viajar... A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa, Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo. Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali... Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando.

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BRASIL NÃO TRATA MEIO AMBIENTE COM SERIEDADE, DIZ PROMOTOR

A Associação de Membros do Ministério Público do Meio Ambiente (Abrampa) promove, entre os dias 24 e 26 de abril, em Belém, no Pará, a 22ª edição do Congresso Brasileiro do Ministério Público de Meio Ambiente. O tema é “Amazônia e Mudanças Climáticas: uma atuação socioambiental estratégica e integrada”. Mais de 30 especialistas vão discutir os desafios e as soluções para lidar com os impactos das mudanças climáticas.

A Agência Brasil entrevistou o presidente da Abrampa, Alexandre Gaio. Ele falou sobre os principais problemas relacionados à preservação do meio ambiente, em especial, os que envolvem a atuação dos Ministérios Públicos estaduais e federal. O promotor destacou a falta de seriedade com que o país ainda lida com questões ambientais, o crescimento do crime organizado, a falta de proteção com ativistas e comunidades tradicionais, assim como os riscos de que os desmatamentos em curso nos principais biomas do Brasil se tornem irreversíveis.

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