DOCUMENTÁRIO RETRATA A LIDA DE MULHERES EXTRATIVISTAS DO PEQUI NA CHAPADA DO ARARIPE

O pequi, fruto do pequizeiro, é nativo do Cerrado, típico na Chapada do Araripe, e bastante popular para a culinária local e medicina popular. A extração do óleo permite o uso como condimento no preparo de comidas, além de conter efeitos medicinais. É utilizado também para fazer molhos e cosméticos. 

O extrativismo do fruto, que corre perigo de extinção, é cultural na vida de mulheres sertanejas da região do Cariri cearense, onde a produção ajuda a garantir renda para as famílias das comunidades dos arredores. Essa relação entre as mulheres extrativistas e o fruto, assim como a lida delas na coleta do pequi e seus aspectos culturais se tornou inspiração para o documentário ‘Caryocar Coriaceum – Piqui e as mulheres da Chapada do Araripe’.

O filme é um trabalho de pesquisa e registro audiovisual que traz à tona a lida das mulheres nas áreas onde o pequi sempre fez-se abundante, mas hoje encontra-se em extinção por causa da devastação da Floresta do Araripe. O material parte do dia a dia das comunidades na Chapada do Araripe e territórios quilombolas que sobrevivem dessa colheita e onde famílias se instalam durante alguns meses, todos os anos, para colher, produzir o óleo e vender o fruto.

A iniciativa faz parte do Projeto Ponto de Cultura ABCVATÁ, com produção executiva da coreógrafa e produtora cultural Valéria Pinheiro, tendo ainda na equipe o cineasta e professor Marcelo Paes de Carvalho e a fotógrafa cearense e hoje residente na Espanha, Adriana Pimentel. O documentário busca levar seus espectadores a paisagens únicas com o objetivo de acompanhar a luta diária de mulheres que fazem do fruto fonte de renda. Além disso, o material induz a reflexão sobre os processos sociais envolvidos nessa prática, e acima de tudo, nos encanta com as personagens riquíssimas em histórias encontradas nesses territórios.

O documentário traz como norteadora da narrativa a relação das personagens com a cultura local e as memórias afetivas do fazer artístico dessas mulheres que relatam as lembranças da rotina diária,  das alegrias, das cantorias e dos desafios de caminhar léguas para “caçar” o pequi. O projeto evidencia os elementos culturais da narrativa entrelaçada com a lida do campo e traz como exemplo dessa riqueza cultural as músicas cantadas por essas mulheres durante suas atividades, como o coco, as “modinhas” e outras músicas passadas de geração para geração. 

Para a coreógrafa e produtora cultural Valéria Pinheiro, falar sobre as mulheres catadoras de pequi da Chapada do Araripe é como voltar à sua  ancestralidade. Seus  avós são da Chapada do Araripe e sua avó, em algum momento da vida, foi catadora de pequi. Ela conta que  sua inspiração teve início quando, em 2018, voltou a morar no sertão.

“Comecei a buscar coisas que estavam diretamente relacionadas aos meus pais e meus avós. E, numa dessas vezes que eu subi a serra, eu encontrei um quilombo onde, na minha infância, andei muito de cavalo. Comecei a conversar com essas mulheres e a entender que ali as bases das famílias provém das mulheres e muitas delas são catadoras de pequi. Enquanto isso, vinha vendo uma devastação absurda na Chapada do Araripe, onde os pequizeiros estão sendo dizimados”, detalha.

E completa: “comecei a buscar a rota do pequi desde a extração até chegar no mercado de Juazeiro do Norte, na Rua São Paulo, onde as  mulheres vendem. A inspiração para o documentário nasceu aí.  O que buscamos com este filme é mostrar que a principal fonte de renda dessas famílias que dependem do pequi está sendo devastada e substituída por pastos de grandes fazendeiros”.

Francisca Soares da Silva é uma dessas mulheres que dedica a vida ao extrativismo do Pequi. Ela lamenta ter que se desfazer dos pequizeiros em um terreno na região onde casas serão construídas:  “Enquanto eu tiver aqui nesse mundo, eu não gostaria não de ver nenhuma máquina passando por cima de um pequizeiro desse não, vai doer muito em mim”. Além disso, dona Francisca observa que ao longo dos anos a produção vem diminuindo:

“Teve ano que cheguei a tirar daqui de baixo 2.000, 2.500 caroço de pequi, num dia, hoje não. No ano passado mesmo, mas que a gente juntou num dia foi um milheiro (…) E esse ano tá mais fraco ainda. Aí assim, é muita diferença, eu não sei se é devido a poluição do tempo,  que tem feito isso com o nosso pequi.”

O cineasta Marcelo Paes relembra que para ele essa foi uma experiência muito forte: “entender e conhecer a luta dessas mulheres que têm na colheita (que elas chamam curiosamente de “caça”) do pequi seu principal meio de sustento. Soma-se a isso os cenários deslumbrantes e a energia inexplicável que brota da terra daquela região da Chapada do Araripe, pela qual eu sou apaixonado… Foi uma experiência muito forte para além do audiovisual, mas para dentro dos terreiros, para dentro das casas das pessoas que dividiram seus sofás e suas redes para nós dormirmos e se desnudaram ali, diante das câmeras, de forma tão simples, mas ao mesmo tempo tão poderosa e verdadeira”.

A fotógrafa e jornalista Adriana Pimentel, também colaboradora da Eco Nordeste, apesar de já viver há muitos anos em Barcelona, na Espanha, cresceu no Cariri cearense, muito próxima à cultura do pequi.  Esse trabalho lhe trouxe a oportunidade de voltar ao Brasil para retratar a história dessas mulheres na lida da coleta do fruto.

“É um fruto que eu amo e que convivo desde criança. Estar nessas comunidades conhecer as histórias dessas senhoras me trouxe muitos aprendizados. Eu conhecia o pequi, mas não conhecia essa realidade das mulheres que coletam. Ver a importância desse fruto  para essas famílias e ver que essa cultura passa de geração para geração foi algo que me trouxe muitas emoções, por ver a vida simples do campo, a vida real dessas mulheres e a alegria que elas têm em fazer esse trabalho. Foi gratificante conhecer essas histórias e exercitar o meu olhar fotográfico com toda essa riqueza e beleza, esse colorido em meio ao amarelo forte do pequi”, relata.

A produção começou a ser pensada em 2020 e em 2022 foi beneficiada com o apoio do Edital Cultura Viva, para Pontos de Cultura certificados da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. As gravações foram realizadas nos municípios cearenses de Crato e Porteiras. O pré-lançamento foi na última semana, no Quilombo dos Sousas, na zona rural de Porteiras (CE). A partir deste dia 15 de junho, o filme estará disponível no canal do YouTube do Ponto de Cultura ABCVATÁ e no site https://www.teatrodasmarias.com/. (Fonte: site agencia eco Nordeste)

Nenhum comentário

AUTOR DE LIVRO LUIZ GONZAGA 110 ANOS DO NASCIMENTO REALIZA PALESTRA NESTA TERÇA-FEIRA (20)

O autor do livro “Luiz Gonzaga 110 anos do Nascimento”, Paulo Vanderley, virá ao Recife novamente, para a palestra e bate-papo especial “Causos de Seu Luiz”, no Shopping Tacaruna, no dia 20 de junho, às 19h30. O evento acontece na Praça de Eventos do mall, espaço onde está em cartaz a exposição de mesmo nome, até o dia 28 de junho. Vanderley vai contar ao público momentos da vida do Rei do Baião, com apresentação de fotos raras, falar sobre o processo criativo do livro e muito mais. Também haverá uma sessão de autógrafos da obra. O acesso à palestra e exposição é gratuito. 

A obra “Luiz Gonzaga 110 anos do Nascimento” é resultado de 31 anos dedicados à pesquisa da musicalidade e universo gonzagueano por Paulo Vanderley, com o objetivo de democratizar e compartilhar a história e a arte do Rei do Baião. Com quase 500 páginas, o livro é contado em primeira pessoa, pelo próprio Luiz Gonzaga, por meio da transcrição de trechos garimpados minuciosamente de mais de 100 entrevistas de rádio, TV, apresentações e, ainda, de bate-papos informais que foram gravados. Todos os áudios e imagens das transcrições estão disponibilizados para o leitor por meio de QR codes dispostos pelas páginas do livro. 

O livro, da editora ViuCine, faz parte de um box, que traz também um post colecionável, carteira e dentro dela, retrato 3x4 do artista, réplica de documento de carro e uma cédula de 110 gonzagas. Tem até a réplica do cartão ouro do Banco do Brasil, encartes, todas as capas de todos os LPs em tamanho original, capas dos compactos e contratos de shows. 

O box completo pode ser adquirido no local da exposição, no Shopping Tacaruna, ou através do site https://110anos.luizluagonzaga.com.br, no valor de R$ 330,00 ou a edição simples do livro que custa R$ 180,00.

A exposição com 350m² reúne uma parte da coleção pessoal de Paulo Vanderley e é inédita. Alguns itens do acervo do colecionador já estiveram na produção de cena e figurino de filmes e séries sobre a vida do Rei do Baião. Nesse momento, Paulo exibe em média 100 artigos originais e inéditos da carreira e vida pessoal do artista. Entre eles, fotos originais do acervo pessoal de Luiz Gonzaga; caixa do box “50 anos de Chão”, autografado pelo artista em fevereiro de 1988; entrevista manuscrita a uma revista de Luxemburgo, nos anos 1970; documento original do carro de Gonzaga (modelo Furglaine, da Ford); cartão de crédito original do Banco do Brasil; exemplares de revistas dos anos 1950, contendo matérias sobre o artista (Revista do Rádio, Radiolândia, O Cruzeiro, entre outras); 44 LPs de carreira, de 1958 a 1989, e 1 disco de 78 RPM, de 1947, contendo a faixa do clássico “Asa Branca”.

Serviço: Palestra “Causos de Seu Luiz”, com Paulo Vanderley, autor do livro “Luiz Gonzaga 110 anos do Nascimento”

Shopping Tacaruna, 20 de junho (terça-feira), às 19h30

Acesso gratuito

Maiores informações, acesse www.shoppingtacaruna.com.br

Nenhum comentário

CANTORA E COMPOSITORA ANASTÁCIA NO GIRO NORDESTE DESTA TERÇA-FEIRA (20)

O Giro Nordeste desta terça-feira (20), na TVE, recebe a incomparável forrozeira Anastácia. A trajetória artística, suas composições, parcerias e o seu novo trabalho com Daniel Gonzaga são alguns dos temas a serem comentados. A atração semanal começa às 19h, e entrevista personalidades nordestinas e nacionais com a participação de jornalistas das emissoras públicas de TV e rádio do Nordeste.

Com mais de 70 anos de carreira, Anastácia acumula mais de 600 composições da sua autoria. Viveu por 12 anos com Dominguinhos e, juntos, formaram uma das maiores duplas de compositores brasileiros. Um dos frutos dessa união é o sucesso 'Eu só quero um xodó', que já foi regravado mais de 400 vezes em diferentes partes do mundo. O álbum 'Daquele Jeito', lançado em 2017, fez com que a artista concorresse ao Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música Raiz em Língua Portuguesa.

Ao vivo, o programa Giro Nordeste é ancorado por Juraci Santana, jornalista da TVE Bahia, com a participação de jornalistas de outros estados. Além da Bahia, o Giro Nordeste também é exibido em Sergipe, Ceará, Alagoas, Maranhão, Paraíba, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte, São Paulo e Espírito Santo.

O telespectador poderá acompanhar o programa ao vivo pela internet através do Youtube, Facebook e Twitter da TVE Bahia. Para interagir nas suas redes sociais, basta utilizar a hashtag #GiroNordeste.

Acompanhe a TVE Bahia nas redes sociais:

instagram.com/tvebahia

tiktok.com/@tvebahia

facebook.com/tvebahia

youtube.com/tvebahia  

twitter.com/tvebahia

Serviço: Anastácia no Giro Nordeste

Terça-feira, 20 de junho, às 19h

Ao vivo na TVE, Facebook.com/tvebahia, Youtube.com/tvebahia e Twitter.com/tvebahia

Nenhum comentário

APÓS ROUBO A SANFONA DE FORROZEIRO BAIANA PRESENTEADA POR LUIZ LUIZ GONZAGA É RECUPERADA

A sanfona do músico baiano Baio do Acordeon, que recebeu o instrumento de presente de Luiz Gonzaga, em 1974, foi recuperada na última sexta-feira (16), em Feira de Santana, a cerca de 100 quilômetros de Salvador.

O equipamento havia sido furtado no camarim de um evento durante a apresentação da banda Bambas do Nordeste, na cidade, na última quarta-feira (14).

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), policiais militares identificaram o autor do furto, após análises de câmeras de segurança.

Ainda de acordo com a SSP-BA, o suspeito foi conduzido até a Central de Flagrantes de Sobradinho e contou onde estava guardada a sanfona.

Em seguida, equipes das polícias Militar e Civil foram até o imóvel indicado e encontraram o instrumento.

A sanfona recuperada tem 80 baixos, é branca e conta com a frase "Oferta do Rei do Baião" escrita na cor vermelha. Além do valor histórico, a sanfona tem um valor sentimental para Baio do Acordeon, porque foi um presente de Gonzagão.

Baio do Acordeon conheceu Luiz Gonzaga quando era adolescente e o artista fez um show em Feira de Santana. Anos depois, os dois chegaram a fazer shows juntos.

Baio do Acordeon participou da Batalha de Sanfoneiros, quadro do Jornal da Manhã, programa da TV Bahia. O artista disputou vaga na final, mas não se classificou. O título ficou com o sanfoneiro Dio do Acordeon, de Vitória da Conquista.

Nenhum comentário

PODER PÚBLICO TEM OBRIGAÇÃO DE MANTER A CULTURA VIVA

Quadrilhas juninas da BA enfrentam dificuldades para preservar tradição por falta de apoio: 'poder público tem obrigação de manter a cultura viva'

"Grandes óperas juninas". É com esse termo que alguns participantes de quadrilhas baianas definem os tradicionais grupos nordestinos, que levam ao público espetáculos de danças e músicas, cores e brilho, sobretudo nesta época do ano. Contudo, manter as raízes vivas tem sido um desafio crescente.

Atualmente, 160 quadrilhas são vinculadas à Federação Baiana de Quadrilhas Juninas (Febaq). Desse total, cerca de 90 estão em atividade, ou seja, pouco mais da metade tem se apresentado no São João 2023, nos 417 municípios do estado.

Segundo Carlos Oliveira, presidente da entidade, as medidas restritivas impostas pela pandemia de Covid-19 causou grande impacto no setor, e muitos grupos não conseguiram retornar ao cenário. Entretanto, mesmo antes de 2020, as quadrilhas já enfrentavam dificuldades para sobreviver, e esta situação tem piorado com o passar do tempo.

Conforme ele, pouquíssimas quadrilhas recebem apoio financeiro. "Quem deve oferecer um suporte às quadrilhas juninas é o poder público, porque ele tem obrigação de manter a cultura viva. Porém, a maioria dos municípios não enxerga dessa maneira e não há um fomento para que as equipes se mantenham em atividade", reclamou.

O presidente da Febaq ainda criticou o investimento alto de prefeituras baianas em shows de artistas durante o período junino, enquanto as quadrilhas recebem "valores irrisórios". "É uma situação muito revoltante, não só para os 'quadrilheiros' como para a própria sociedade, quando vem uma prefeitura gastar cerca de R$ 200 mil, R$ 300 mil, R$ 500 mil ou R$ 700 mil com um artista, que só vai chegar ali na cidade, cantar por 1h20 e depois vai embora".

Cenário, coreografia, figurino, composição musical e muita pesquisa para construção de enredo antecedem as apresentações das tradicionais quadrilhas nordestinas. Carlos, da Febaq, comparou este trabalho ao das escolas de samba do carnaval carioca, devido à toda a preparação exigida.

"É contratado um historiador para pesquisar toda a temática; depois é contratado um diretor musical, para que ele comece a fazer as músicas em cima da temática. Também é contratado figurinista para fazer o figurino em cima da temática; um coreógrafo, enfim, a quadrilha junina tem o mesmo segmento das escolas de samba", comparou.

As diferenças entre uma quadrilha junina e uma escola de samba, segundo ele, estão no quantitativo de gente envolvida na operação (nas quadrilhas, são pouco mais de 100 pessoas) e nas condições financeiras. "Uma escola de samba tem mais de 3 mil pessoas e recebe mais investimento do poder público e do poder privado, as empresas abraçam os projetos", afirmou.

"Mesmo assim, com menos gente, o espetáculo da quadrilha junina, que dura em torno de 30 minutos, se equipara a 1h15 de uma escola de samba. Não estou exagerando, não. É isso aí".

Os espetáculos acontecem, majoritariamente, no mês de junho, no entanto, os preparativos começam cerca de sete meses antes, em novembro do ano anterior.

O coreógrafo Leandro Oliveira, que atua na Cia da Ilha, vencedora do Campeonato Estadual de Quadrilhas Juninas pelo terceiro ano consecutivo, disse que as reuniões no fim do ano são para definir tema, organizar cronograma e fechar a equipe. A partir de janeiro, começam os ensaios, que são intensificados entre abril e maio.

Mesmo para quem tem destaque no cenário estadual, como é o caso da Cia da Ilha, que este ano foi convidada para se apresentar em várias cidades brasileiras, as finanças são um problema.

Segundo Leandro, a Cia da Ilha faz parte de um projeto de arte-educação da prefeitura de Vera Cruz, na Ilha de Itaparica, e recebe um aporte financeiro que ajuda a "colocar a quadrilha na rua" e estimula outros jovens a manterem viva a tradição.

Ainda assim, o coreógrafo afirma que o valor não é suficiente para tudo, e o grupo necessita de um investimento mais alto para viabilizar a participação em outros campeonatos, fora da Bahia.

"A gente queria um espetáculo um pouco maior, com mais recursos, para se tornar mais competitivo, na intenção de competir fora do estado. As quadrilhas lá de fora são realmente muito grandes. Então, a gente faz rifas, faz eventos, com o intuito de aumentar os recursos".

Quando não estão nos preparativos para as apresentações, muitas quadrilhas se dedicam a trabalhos sociais. "As quadrilhas estão dentro das comunidades, fazendo com que os jovens se ocupem, não só através de trabalho coletivo, como também ocupando as mentes desses jovens, que aprendem a socializar, a seguir um direcionamento, a trabalhar em equipe, aprendem o que é disciplina", disse Carlos.

"Quadrilha é lugar de produção de conhecimento, de socialização, de troca de informação. Então é a preservação da cultura e, também, uma grande ferramenta de educação para as pessoas para o nosso contexto social", destacou.

Nenhum comentário

ARTIGO: POTENCIALIDADES DO SEMIÁRIDO PARA A AGRICULTURA BRASILEIRA

O Semiárido brasileiro tem características muito desafiadoras. A maioria dos seus municípios apresenta pluviosidade inferior a 800 mm anuais. A evapotranspiração é, em média, de 2000 mm ao ano, superando a precipitação em praticamente três vezes. Nessa perspectiva, é possível analisar o tamanho do desafio que é promover o desenvolvimento da agropecuária na região. O compromisso de contribuir para uma realidade produtiva que permita evolução nos indicadores socioeconômicos atuais impulsiona a pesquisa para o desenvolvimento de soluções tecnológicas adaptadas à condição local, gerando incrementos de produtividade e oportunidade de renda.

Na região, convivem duas agropecuárias: uma tipicamente dependente de chuva e outra que utiliza a irrigação das águas do Rio São Francisco como motor que impulsiona a economia e o desenvolvimento social. Nesses dois espaços, há diferentes atividades sendo desenvolvidas e atendendo ao público diverso do Semiárido.

Para as áreas dependentes de chuva, a pecuária é um elemento importante, sendo a caprinovinocultura sua atividade principal. Cerca de 30% do rebanho caprino nacional está localizado no Semiárido, a maior parte em propriedades de agricultores familiares. Há também microrregiões que têm uma pecuária bovina de bastante relevância e bacias leiteiras consolidadas, que movimentam a economia, em especial, no limite entre o Semiárido e o litoral - o Agreste. Nestas microrregiões, onde a precipitação pluviométrica é relativamente maior, instalou-se e vem crescendo a agroindústria de produtos derivados de leite.

No segundo contexto, a agricultura irrigada trouxe a possibilidade de desenvolvimento de uma fruticultura sólida, em que os avanços tecnológicos notavelmente promovem a evolução contínua das cadeias produtivas, com destaque para três delas: melão, uva e manga. A dimensão dessa realidade, amparada pela irrigação e pelas tecnologias que lhe são associadas, é estimada quando se constata seu crescimento em poucas décadas. Os avanços ressaltam a diversificação da produção, que tornou a fruticultura do Semiárido competitiva diante do mercado nacional e internacional, trazendo um crescimento fantástico para alguns pólos de irrigação no Nordeste.

Hoje, a fruticultura irrigada está consolidada no Vale do São Francisco, em Petrolina (PE), Juazeiro (BA) e municípios do entorno; no pólo Assu-Mossoró, no Rio Grande do Norte, e também em polos do Ceará e de outras microrregiões da Bahia. O mundo reconhece a qualidade da fruta brasileira que é exportada, sendo um diferencial da capacidade produtiva da região Nordeste. Isso tudo apresenta o amplo potencial para aprimorar, crescer e tornar o Semiárido ainda mais importante para a economia nacional.

Mesmo nas regiões dependentes de chuva, tem-se uma agricultura dinâmica e, ao mesmo tempo, limitada pelos ciclos de chuva. O principal desafio, nesse caso, é a própria indisponibilidade de água, que impõe o planejamento da produção e a necessidade de adoção de estratégias de armazenamento e de uso dessa água para torná-la disponível por mais tempo.

São, dessa forma, desafios que têm escalas diferentes quando se considera as atividades da agricultura irrigada e os trabalhos desenvolvidos para a agricultura dependente de chuva, em que o fator água é o determinante de sucesso para a produção. Para que o período de disponibilidade dessa água possa ser estendido, é preciso planejar e atrelar tecnologias de captação para suplementar as limitações hídricas ao longo da produção, em culturas como o feijão-caupi, milho, mandioca e outras que refletem a diversidade de alimentos que a região Nordeste é capaz de produzir e disponibilizar para o resto do país.

O risco de perda de safras, em função da ocorrência de ciclos de seca da região, é altíssimo, mas, com estratégias e com políticas adequadas é possível amenizá-los e ampliar a importância da região para agricultura brasileira nas suas diferentes possibilidades e extratos sociais, fortalecendo as unidades familiares e as empresas absorvedoras de mão-de-obra.

Maria Auxiliadora Coêlho, Chefe-geral da Embrapa Semiárido

Nenhum comentário

"NÃO FOI MILAGRE, FOI SABEDORIA ANCESTRAL DO NOSSO POVO", DIZ LÍDER INDÍGENA WITOTO

O que salvou as quatro crianças que sobreviveram na selva amazônica colombiana por 40 dias não foi um milagre, mas sim "a força do conhecimento e da sabedoria ancestral" do povo hitoto, afirma a brasileira Vanda Witoto.

Ela é líder indígena do povo witoto, etnia da qual fazem parte os irmãos resgatados após a queda do avião em que viajavam - na Colômbia, a etnia é comumente chada de hitoto.

Vanda considera os hitoto da Colômbia seus "parentes", apesar da distância. De origem colombiana, a etnia está no Brasil desde a década de 1930, quando os indígenas fugiram das perseguições no país vizinho.

Vanda conta que seus bisavós estavam entre os que deixaram o território original do povo para trás. "Mas ainda nos vemos como parentes, pois a fronteira não cortou nossos laços", diz.

A técnica de enfermagem é professora voluntária na comunidade Parque das Tribos, em Manaus, e afirma que a autonomia, o conhecimento sobre o manejo da floresta e a busca por alimentos na selva são ensinados às crianças indígenas desde muito cedo por meio do convívio em comunidade.

"A educação se dá no cotidiano e na observação dos fazeres dos mais velhos. Desde cedo, as crianças são levadas para a roça e aprendem como cuidar e manejar a natureza, quais folhas, frutas e raízes podem comer ou como procurar rios, pescar e confeccionar instrumentos básicos", diz a líder indígena.

"Por isso, não consideramos um milagre a sobrevivência das crianças hitoto na Colômbia. Foi a força da espiritualidade, do conhecimento e da sabedoria ancestral do nosso povo que as manteve vivas."

Os irmãos de 14, 9, 4 e um ano sobreviveram à queda do avião de pequeno porte em que viajavam com a mãe e outros dois adultos em 1º de maio.

Todos os adultos morreram e eles ficaram sozinhos na selva até a última sexta-feira (9/6), quando foram encontrados pelo Exército após uma intensa busca.

Segundo Vanda Witoto, em sua cultura, a transmissão de conhecimentos não acontece na escola tradicional, mas na convivência com os pais e avós e com a natureza. "Por isso é tão importante garantir o direito à terra", diz.

"Se hoje temos a condição de continuar existindo mesmo diante de toda a violência estrutural que enfrentamos, não só no Brasil, mas em toda a América, é por conta da força da nossa relação com a floresta, com os rios e com a terra."

Como professora voluntária no bairro indígena Parque das Tribos, Vanda afirma que trabalha a preservação da cultura e da sabedoria ancestral.

"Nós indígenas costumamos ter muito baixa autoestima de ser quem somos por conta do preconceito. Então, trabalhamos a valorização da identidade indígena, das nossas línguas e história com as crianças", afirma.

Nativos da Colômbia, os witoto se deslocaram para o Peru e o Brasil para fugir da violência enfrentada em seu território original, advinda principalmente da exploração da borracha na região e da ação de guerrilhas como a extinta Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

A grafia do nome do povo varia conforme o país - na Colômbia são hitoto e no Peru, uitoto - mas os costumes mantidos pela etnia são os mesmos em todos os locais.

No Brasil, o povo witoto vive no Estado do Amazonas, principalmente no Alto Solimões, na região da tríplice fronteira com Peru e Colômbia.

A região abriga atualmente cerca de três aldeias com mais de 150 famílias, que vivem da caça, da pesca e do extrativismo.

Outros indígenas da etnia também vivem no Parque das Tribos, como é o caso de Vanda Witoto.

"Meus bisavós fugiram da Colômbia de canoa e se instalaram no Brasil", conta.

"Nós nos distanciamos do nosso território ancestral, mas, em 2021, fizemos o primeiro encontro entre os witoto do Brasil e da Colômbia em cem anos."

Vanda diz que a mãe das crianças, que morreu no acidente de avião na Colômbia, é parente de uma tia sua que vive em Bogotá, capital da Colômbia.

"Na verdade, dizemos que todos somos parentes, apesar de não compartilharmos necessariamente vínculos de sangue."

Vanda conta ainda que, durante as buscas pelas crianças na selva amazônica, todos do povo se juntaram em um movimento espiritual para que fossem encontradas.

"Os povos originários seguram o céu. Nós fazemos isso a partir das medicinas tradicionais, da espiritualidade e da relação com a floresta."

Nenhum comentário

← Postagens mais recentes Postagens mais antigas → Página inicial