XICO SÁ: DORES DA RODOVIÁRIA E O DIA DE IR EMBORA
Naquela noite eu partiria para o Recife, que conhecia apenas de fotos e do mar de histórias trazidos pelos amigos. Lembro de uma penca de fotografias em especial, que ilustrava uma bolsa de plástico que usava para carregar meus livros e cadernos. Lá estavam as pontes do centro, casario da Aurora ao fundo, lá estava a sede da Sudene, símbolo de grandeza naquele apagar dos anos 1970, lá estava o Colosso do Arruda, o estádio do Santa…
Quando o ônibus gemeu as dores da partida, aquela zoada inesquecível que carregamos para todo o sempre, tu me olhaste firme, e eu segurei as lágrimas tão-somente para dizer que já era um homem, que era chegada a hora de ganhar o mundo, pé na estrada, o mundo estrangeiro que conhecia somente pelo rádio, meu vício desde pequeno, no rádio em que ouvia os Beatles, as resenhas e as transmissões esportivas, além de todo um sortimento de novidades daqui e de fora.
Lembro que naquele dia, mãe, ouvimos juntos o horóscopo de Omar Cardoso, na rádio Educadora do Crato (ou teria sido na Progresso de Juazeiro?). Que falava dos novos rumos do signo de Libra. Você disse: “Tá vendo, meu filho, você será muito feliz bem longe”.
A voz de Omar Cardoso e o seu mantra ecoava no juízo: “Todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor!”
Foi o dia mais curto de toda a existência. O almoço chegou correndo, a merenda da tarde passou voando… e quando dei fé estava diante da placa Crato/Recife, Viação Princesa do Agreste.
Todo choro que segurei na tua frente, mãe, foi derramado em todas as léguas seguintes. Mal chegou em Barbalha eu já estava com os dois lenços de pano –outro cuidado seu com o rebento- molhados. Em Missão Velha, uma moça bonita, uma estudante que voltava de férias, me confortou: “É para o seu bem, foi assim também comigo”.
Quando chegou em Salgueiro, além dos lenços e da camisa nova -xadrezinho da marca Guararapes-, o livro Angústia, de Graciliano Ramos, um dos motivos da minha vontade de conhecer a vida, também já estava encharcado.
E assim foi a viagem toda. Com direito a soluços, que acordaram a velhinha que ia ao meu lado, quando o ônibus chegou ao amanhecer no Recife.
Arrastei a mala pelo bairro de São José e procurei a pensão mais econômica.
Sim, mãe, tem armador de rede, escrevi na primeira carta. Naquele tempo não se usava, em famílias sem muito dinheiro, o telefone. Era tudo na base do “espero que esta te encontre com saúde”, como a gente escrevia na formalidade das missivas.
É mãe, neste teu dia, que está quase chegando a hora, quero lembrar que a coisa que mais me comoveu foi tua coragem, que eu até achava, cá entre nós, que fosse dureza além da conta d´alma. Até falei, um dia no divã, sobre o assunto, como se eu quisesse que naquela despedida o sertão virasse o teu mar de pranto.
Eis que recentemente me contaste como foi duro, que tudo não passava de um jeito para não fazer que eu desistisse de ganhar a rodagem. Aí me lembrei de uma sabedoria que citava nas cartas e bilhetes, quando eu esmorecia um pouco na sobrevivência da cidade grande: “Saudade não bota panela no fogo”. E ainda reforçava: “Saudade não cozinha feijão, coragem, filho, coragem”.
Em nome das mães de todos os meninos e meninas que partiram, dona Maria do Socorro, quero te deixar beijos e flores.
Sim, mãe, agora já sabes que somos de uma família de homens chorões, são 18h40 de um sábado, e eu choro um pouco, como fazia no fundo daquela rede colorida que puseste no fundo da mala, chorava tanto nos sótãos das pensões do Recife que os chinelos amanheciam boiando no quarto, como se quisessem tomar o caminho de volta para casa.
*Fonte Crônica de Xico de Sa escrita em 2005.
RESPEITEM A SANFONA DE 8 BAIXOS, O PÉ DE BODE DA MÚSICA BRASILEIRA
“A verdadeira sanfona é aquele instrumento menor, de oito baixos, onde abrindo o fole é uma nota e fechando é outra, ensinada de pai para filho, conhecido no interior do nordeste como pé-de-bode ou concertina, e no sul como gaita-ponto”. (Oswaldinho do Acordeon)
Pouco sabemos a respeito de Seu Januário, pai de Luiz Gonzaga e “vovô do baião”. José Januário dos Santos nasceu em Floresta, sertão de Pernambuco, no dia 25 de setembro de 1888, ano da Abolição da Escravatura. Alguns dizem que Januário não teria nascido em Floresta, mas em algum outro município dos arredores. Também não se sabe, ao certo, em que ano Januário chegou à Fazenda Araripe, nas terras pertences ao Coronel Manuel Aires de Alencar, filho de Gauder Maximiliano Alencar de Araripe, o Barão de Exu.
Pelo que conta a história oral, esta palavra homônima do orixá africano, é uma corruptela de Ansú (?), grupo indígena que habitava a Serra do Araripe. Daí o nome daquele latifúndio pertencente ao Barão ter sido posteriormente batizado de Exu.
Januário trabalhava como agricultor e na confecção de couro. Não se sabe como Januário teria aprendido a tocar e afinar sanfona de oito baixos. Teria sido sozinho, isolado no sertão pernambucano? Alguns dizem que ele teria conhecido um mascate judeu na Chapada do Araripe.
Nas recordações de infância de Luiz Gonzaga, seu pai aparece como um sanfoneiro respeitado das redondezas. De forma mítica, Januário é apontado como o pioneiro da sanfona nordestina. Com certeza, haviam outros sanfoneiros, com seus solos de sanfona que talvez tenham sido levados para sempre no vento que sopra nas catingas, a espera de que alguma fotografia ou lembrança familiar seja encontrada para que a história possa ser reescrita.
Se sabemos algo mais sobre Januário, isso se deve à Luiz Gonzaga. Graças às letras e narrativas de Gonzaga, conhecemos tão bem certos personagens e detalhes daquela região que muito provavelmente estariam esquecidos, ou, ao menos, escondidos por trás da espessa mato do cerrado.
A atuação profissional de Januário no contexto fonográfico foi errática, tendo ocorrido em 1955, na gravadora RCA-Victor, quando gravou dois discos de 78 rotações, acompanhado de sua prole. No selo dos discos, o velho sanfoneiro era apresentado como “Januário, seus filhos e sua sanfona de oito baixos”. Nestas gravações, podemos ouvir a “sanfona abençoada”, tal como se refere Luiz Gonzaga no xote “Januário vai tocar”.
A letra autobiográfica, discursa sobre o papel social do sanfoneiro nos bailes interioranos e reforça a relação deste instrumento com o passado rural e as populações menos favorecidas economicamente: “a cidade te acha ruim, mas eu não acho".
Ai, ai, sanfona de oito baixos,
Do tempo que eu tocava na beira do riacho.
Ai, ai, sanfona de oito baixos,
A cidade te acha ruim, mas eu não acho
Lá na Taboca, no Baixio, lá no Granito,
Quando um cabra dá o grito: - Januário vai tocar!
Acaba feira, acaba jogo, acaba tudo,
Zé Carvalho Carrancudo tira a cota pra dançar.
Outra música gravada por Januário é o solo instrumental “Calango do Irineu”, que pode nos revelar um pouco da técnica e do estilo pessoal de Januário. Neste baião, está presente a 7a menor da escala maior, tão característica da música trazida por Luiz Gonzaga. Também estão as 3as paralelas e consecutivas, segundo o maestro Guerra-Peixe, uma reminiscência do gymel, uma técnica de harmonização medieval surgida na Inglaterra tão presente na música brasileira. Acima de tudo, nesta música encontramos aquele “tempero” que torna peculiar o estilo nordestino de tocar sanfona, que é facilmente perceptível ao primeiro toque, embora difícil de ser descrito em palavras.
Alguns anos antes, em 1950, Januário seria apresentado ao grande público, através do disco e do rádio, por seu filho, Luiz Gonzaga e o parceiro Humberto Teixeira, com o xote “Respeita Januário”. Numa narrativa metalingüística, Gonzaga descreve seu deslocamento de Exu, foragido de uma briga, da qual foi ameaçado de morte, e a longa epopéia que culmina com o retorno ao berço natal, já consagrado como Rei do Baião no Rio de Janeiro, então capital do Brasil.
Escrito com tinturas épicas de uma saga nordestina, o relato de Gonzaga tornou-se maior e mais real do que a história literal, onde personagens ganham vida em diálogos que teriam sido inventados, mas que acabaram tomando vida própria e se eternizando de forma mítica na imaginação popular. Muito provavelmente, pela primeira vez, na história da canção popular urbana, se versava sobre a sanfona de oito baixos e o papel social do sanfoneiro no sertão nordestino. Outro aspecto salientado pela letra desta canção é a relação de constante recusa e desafio entre pai e filho que permeia a transmissão da herança cultural, que não é ensinada, mas é aprendida.
No ano de 1952, Luiz Gonzaga reuniu seu pai e seus irmãos, formando o conjunto “Os Sete Gonzagas”, que realizou apresentações inesquecíveis nas rádios Tupi, Tamoio e Nacional. Por sorte, estas gravações foram registradas em áudio, e podemos ouvir as performance de Januário ao vivo.
No entanto, Januário poderia ser aquele personagem da letra de Gilberto Gil para a melodia “Lamento Sertanejo” de Dominguinhos. Avesso à cidade grande, “por ser de lá do sertão, lá do roçado, lá do interior do mato, da catinga e do roçado”. Januário não se adaptou ao sitio dos Gonzaga em Santa Cruz da Serra, no Rio de Janeiro. Preferiu voltar a Serra do Araripe, entre a catinga e o roçado, na lavoura, tocando sanfona de oito baixos na beira do riacho.
A atuação profissional em música foi breve e fugaz, sua herança valorizada e transmitida através dos filhos; Luiz Gonzaga, Zé Gonzaga, Severino Januário e Chiquinha Gonzaga. Através deles, a música do velho Januário foi ressignificada ao contexto fonográfico, se entranhando na alma nordestina, como se fizesse parte da paisagem sertaneja, traduzindo em contornos melódicos a poética do sertão.
Januário veio a falecer aos 90 anos, em 11 de junho de 1978, em Exu. Salve Januário, pai de Luiz Gonzaga e pioneiro da sanfona de oito baixos na região Nordeste.
Fonte: Leo Rugero. Bacharel em violão clássico pelo Conservatório Brasileiro de Música e Mestre em Musicologia pela Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Léo Rugero, é hoje uma referência no Brasil quando o assunto é sanfona de oito baixos
PERNAMBUCO EM VERSOS-CONQUISTAS E MUNICÍPIOS É LIVRO DO POETA LUIZ FERREIRA
O livro destaca os 187 municípios de Pernambuco valorizando o patrimônio cultural e histórico das cidades.
O pré-lançamento do livro aconteceu lançado dezembro 2022 durante as festividades dos 110 anos de Luiz Gonzaga, na IV Semana Viva Gonzaga, em Caruaru.
Uma nova edição será lançada neste ano de 2023.
"No início da pandemia covid-19 fiquei muito triste, mas não podia desanimar. Então resolvi fazer o livro. Nele cito os municípios pernambucanos, os amigos, poetas, compositores, pessoas que fazem cultura e arte, envolvidos na vida e obra de Luiz Gonzaga", explica Luiz Ferreira.
Luiz Ferreira nasceu na zona rural de Caruaru, no Agreste Pernambuco. Caruaru possui o título de Capital do Forró. Luiz Ferreira é o idealizador, fundador e diretor presidente do Espaço Cultural Asa Branca do Agreste, considerada a verdadeira Academia Gonzagueana. Neste local todo mês de novembro acontece o grande encontro com os estudiosos e pesquisadores, especialistas da vida e obra de Luiz Gonzaga, os gonzagueanos, como também são conhecidos.
Todo ano é entregue o troféu ‘Luiz Gonzaga – Orgulho de Caruaru’, criado em 2012. O Grande Encontro Nacional dos Gonzagueanos de Caruaru tem o objetivo de manter viva a memória de Luiz Gonzaga. O grupo de amigos se reúne todos os anos e trocam idéias, experiências e falam sobre a vida e obra do Rei do Baião.
O Encontro dos Gonzagueanos é realizando anualmente desde 2012, sempre na segunda semana de Novembro sendo coordenado pelo diretor do Espaço Cultural e promovida pelo Fã Clube de Gonzagão do Nordeste. Assim como tem o apoio do Lions Vila Kennedy.
HISTÓRIA: No ano de 2014, a coordenação do Curso de Jornalismo do Centro Universitário do Vale do Ipujuca-Caruaru-PE, promoveu, A Semana do Jornalista. Na programação além de palestras com jornalistas da TV Globo e Sistema Jornal do Commecio, contou com o lançamento do documentário-filme Os Gonzagueanos.
Para manter viva a memória de Luiz Gonzaga, um grupo de amigos se reúne todos os anos e trocam materiais, experiências, dividem experiências e falam sobre a vida e obra do Rei do Baião - são os chamados Gonzagueanos. Com o objetivo de registrar essa iniciativa, alunos do curso de Jornalismo desenvolveram um documentário sobre os Gonzagueanos.
O grupo Gonzagueanos reúne um amplo conhecimento da obra e das parcerias do Rei do Baião, num esforço de manter vivo o trabalho de Luiz Gonzaga. O Espaço Cultural Asa Branca do Agreste, situado no bairro Kennedy, é um exemplo do que essa paixão pelo artista é capaz. O espaço foi criado por Luiz Ferreira, um dos gonzagueanos, a partir da coleção que guardava em um cômodo de sua casa.
MILHARES DE FIÉIS SOBEM COLINA PARA PEDIR BENÇÃOS AOS PÉS DA ESTÁTUA DE PADRE CÍCERO
Localizada na Colina do Horto, a estátua é um dos principais pontos turísticos mais buscados na cidade. O local está aberto à visitação de 7h às 17, de domingo a domingo.
Outro ponto que deve receber muitos turistas interessados em conhecer mais da história do sacerdote que ganhou fama de milagroso é o Museu Vivo. O local, que preserva a vida e obra religiosa de padre Cícero, fica ao lado da famosa estátua, onde é possível ter uma vista panorâmica de Juazeiro do Norte.
Conforme a Setur, os turistas também têm a opção de visitar o Complexo Ambiental Caminhos do Horto, que conta com um teleférico. O equipamento é administrado pela Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (Sema) e funciona de quarta a domingo, de 9h às 17h. Do alto, o visitante tem uma vista privilegiada da Chapada do Araripe.
De acordo com a secretária Yrwana Albuquerque, além dos locais citados, a cidade conta com uma rota turística composta por diversos equipamentos.
"A região do Cariri é muito rica culturalmente e o turismo religioso exerce forte influência na economia local, gerando emprego e renda. Além dos pontos citados, que recebem naturalmente milhares de devotos, temos a Rota Cariri, que reúne mais de 50 equipamentos. Todos são ótimas opções para o turista aproveitar durante a estadia na cidade", pontuou.
Anualmente, são realizadas 8,1 milhões de viagens domésticas movidas pela fé (turistas, sem contar excursionistas), de acordo com o Mtur. Ao somar com os excursionistas, chega-se a 18 milhões de viagens com essa motivação.
Em relação aos turistas internacionais que procuram o Brasil com fins religiosos, este número é de aproximadamente 50 mil ao ano.
PROJETO ESTREIA COM MÚSICA INÉDITA DE JOÃO GILBERTO
O álbum duplo João Gilberto ao Vivo no Sesc 1998 reúne 36 músicas e será disponibilizado com exclusividade e gratuitamente, a partir desta quarta-feira (5), na plataforma Sesc Digital. A capa do álbum é reprodução do grafite feito pelo artista visual Speto, em 2020, em homenagem a João Gilberto.
“A gente lança o single em todas as plataformas, já entra no Sesc Digital para ser ouvido na íntegra e, no dia 27, faz o lançamento em todas as outras plataformas e lança ele fisicamente também, em CD duplo”, informou à Agência Brasil o gerente do Centro de Produção Audiovisual do Serviço Social do Comércio (Sesc), Wagner Palazzi.
A novidade é que nessa gravação foi encontrada uma canção inédita, Rei sem Coroa, que João Gilberto cantava nos shows, mas nunca havia gravado, e que chega ao público agora, 25 anos depois da apresentação histórica na unidade do Sesc, em São Paulo. A faixa inédita também estará a partir de hoje nas principais plataformas de streaming (transmissão de conteúdos pela internet). A ideia da instituição, com o projeto Relicário, é tornar a riqueza desse acervo cada vez mais acessível ao público.
A canção Rei sem Coroa é uma parceria dos compositores Herivelto Martins e Waldemar Ressurreição, inspirada na história do rei Carlos II, da Romênia, que foi morar no Copacabana Palace Hotel, no Rio de Janeiro, após ser forçado a abdicar de seu trono durante a Segunda Guerra Mundial.
Segundo Wagner Palazzi, há alguns anos, o Centro de Produção Audiovisual do Sesc tinha a ideia de criar um acervo audiovisual para reunir todos os registros guardados na instituição, de forma catalogada e de modo que pudessem ser consultados.
“Uma coisa que foi feita foi ir atrás dos áudios espalhados que tinha nas unidades [do Sesc]. Durante algum tempo, os acervos eram individualizados e a gente começou a juntar isso em um lugar só.”
Seleção-Uma primeira seleção envolveu 300 shows realizados nas unidades regionais do Sesc. O trabalho verificou a qualidade dos áudios, uma vez que o material é muito antigo, reunindo desde fita de rolo, cassete, fita DAT (digital audio tape). “A gente digitalizou todo esse material e começou o trabalho de ouvir isso”. Foi quando as pessoas lembraram do show de João Gilberto no Sesc Vila Mariana, em 1998. Para surpresa dos envolvidos, a fita tinha uma “qualidade incrível”, destacou Palazzi.
A decisão, então, foi abrir o projeto Relicário com o álbum duplo de João Gilberto, considerado “um dos grandes nomes da música popular brasileira, como Pixinguinha, Tom Jobim e outros”, afirmou o gerente do Centro de Produção Audiovisual. “A gente achou que seria importante começar com esse tesouro.” A faixa instrumental Um Abraço no Bonfá, homenagem ao violonista Luiz Bonfá (1922-2001), é a única música de autoria de João Gilberto interpretada na apresentação no Sesc Vila Mariana.
O lançamento do álbum duplo do cantor celebra os 25 anos da apresentação no local. A unidade havia sido inaugurada em dezembro de 1997 e o “pai” da bossa-nova era um dos primeiros grandes nomes a pisar no palco daquele teatro. João Gilberto estava em turnê para celebrar os 40 anos da bossa-nova, com shows agendados em Salvador, Rio de Janeiro, Brasília, Recife e Maceió.
São Paulo recebeu três dias de apresentações, sendo a última, em 5 de abril de 1998, a fonte para o material do projeto Relicário. Conhecido por seu perfeccionismo, na época João fez apenas quatro pedidos para a realização do show: um banco para piano, um tapete persa, uma mesa para violão e a acústica perfeita. As informações foram divulgadas pelo Sesc, por meio de sua assessoria de imprensa.
MEMÓRIA-Para preservar também a memória da instituição, o projeto Relicário incluiu, além das canções, textos, vídeos, fotografias e material iconográfico com folhetos, cartazes e notícias veiculadas na imprensa, à época, que o público poderá acessar também de forma gratuita no site sescsp.org.br/relicario.
“É uma pesquisa que a gente está fazendo, porque eu acho importante contextualizar. Com esse lançamento, a gente espera estar contribuindo, de alguma maneira, para a preservação da memória da música brasileira. E isso faz parte, não só ouvir, mas tudo que está envolvido ali no meio. Poder entender o que foi falado na época, poder ver. Por isso, são encomendados textos para situar a pessoa que ouvir o show.”
Atualmente, o Sesc realiza cerca de 5 mil shows por ano em suas 44 unidades regionais. “Tem muita coisa gravada, que o artista autorizou”. O que dá mais trabalho é correr atrás dos direitos autorais, informou Wagner Palazzi. No caso do álbum de João Gilberto, disse que os três filhos do cantor (Bebel Gilberto, João Marcelo e Luísa) foram muito parceiros. “A Bebel acabou fazendo a supervisão artística de tudo.”
Segundo Palazzi, mais quatro shows já estão “na ponta da agulha para serem lançados ainda este ano”. O primeiro será uma apresentação de Zelia Duncan, feita em 1997, no Sesc Pompeia, que teve participação do musicólogo Zuza Homem de Mello, com o projeto Ouvindo Estrelas, em que ele entrevistava pessoas no palco. “Era um show-entrevista, uma conversa descontraída”, conta o gerente. Essa apresentação será lançada somente no Sesc Digital, mas não comercialmente. Palazzi destacou que os outros três espetáculos serão grandes surpresas dos anos de 1970, 1980 e 1990.
SELO SESC-Desde 2004, o Selo Sesc traz a público obras que revelam a diversidade e a amplitude da produção artística brasileira, tanto em obras contemporâneas quanto nas que repercutem a memória cultural, estabelecendo diálogos entre a inovação e o histórico. Entre as obras audiovisuais em DVD, destaca-se a abordagem de diferentes aspectos da música, da literatura, da dança e das artes visuais. Os títulos estão disponíveis nas principais plataformas de áudio, Sesc Digital e Lojas Sesc.
O CD duplo de João Gilberto no Sesc da Vila Mariana tem as seguintes faixas:
CD 1
1. Violão amigo (Autor: Bide / Armando Marçal)
2. Isto aqui o que é? (Autor: Ary Barroso)
3. Vivo sonhando (Autor: Tom Jobim)
4. Nova ilusão (Autor: Menezes / Luiz Bittencourt)
5. Izaura (Autor: Herivelto Martins / Roberto Roberti)
6. Curare (Autor: Bororó)
7. Doralice (Autor: Dorival Caymmi / Antônio Almeida)
8. Rosa morena (Autor: Dorival Caymmi)
9. Aos pés da cruz (Autor: Zé da Zilda / Marino Pinto)
10. Louco (Autor: Henrique de Almeida / Wilson Baptista)
11. Pra que discutir com madame (Autor: Janet de Almeida / Ary Vidal)
12. Corcovado (Autor: Tom Jobim)
13. Retrato em branco e preto (Autor: Tom Jobim / Chico Buarque)
14. Rei sem coroa (Autor: Herivelto Martins / Waldemar Ressurreição)
15. Preconceito (Autor: Marino Pinto / Wilson Batista)
16. Saudade da Bahia (Autor: Dorival Caymmi)
17. O pato (Autor: Jayme Silva / Neuza Teixeira)
18. Meditação (Autor: Tom Jobim / Newton Mendonça)
CD 2
1. Carinhoso (Autor: Pixinguinha / Braguinha)
2. Guacyra (Autor: Heckel Tavares / Joracy Camargo)
3. Solidão (Autor: Tom Jobim / Doca)
4. O amor em paz (Autor: Tom Jobim / Vinicius De Moraes)
5. A primeira vez (Autor: Bide / Armando Marçal)
6. Ave Maria no morro (Autor: Herivelto Martins)
7. Bahia com H (Autor: Denis Brean)
8. Samba de uma nota só (Autor: Tom Jobim / Newton Mendonça)
9. Caminhos cruzados (Autor: Tom Jobim / Newton Mendonça)
10. Lá vem a baiana (Autor: Dorival Caymmi)
11. Ave Maria (Autor: Jayme Redondo / Vicente Paiva)
12. Desafinado (Autor: Tom Jobim / Newton Mendonça)
13. Um abraço no Bonfá (Autor: João Gilberto)
14. Chega de saudade (Autor: Tom Jobim / Vinicius De Moraes)
15. A Valsa de quem não tem amor (Autor: Custódio Mesquita / Ewaldo Ruy / João Gilberto / Bebel Gilberto)
16. Eu sei que vou te amar (Autor: Tom Jobim / Vinicius De Moraes)
17. Wave (Autor: Tom Jobim)
18. Esse seu olhar (Autor: Tom Jobim)
PROJETO BUSCA MERCADOS PARA PRODUTOS DA SOCIOBIODIVERSIDADE DA CAATINGA
Às margens do Velho Chico, na orla de Juazeiro da Bahia, há um lugar especial: o Armazém da Caatinga. O espaço, erguido em um prédio histórico da cidade, é fruto do trabalho de agricultores familiares da região e em comunhão com uma feira agroecológica que ocorre ao lado, funciona como um mercado de produtos de economia solidária. Administrado pela Central da Caatinga, articulação de organizações socioeconômicas de agricultores e agricultoras familiares do Semiárido brasileiro, o Armazém existe desde 2016 e comercializa produtos que primam pela produção agroecológica, adoção das boas práticas de segurança alimentar, comercialização solidária, gestão coletiva e preservação do meio ambiente.
A reportagem de Alice Sales, Agencia econordeste, destafa que o espaço reúne produtos de 15 cooperativas filiadas, beneficia quase duas mil famílias atendidas diretamente pela Central e dá visibilidade a itens produzidos não só por essas cooperativas, mas também por outros empreendimentos da agrobiodiversidade brasileira. A maioria dos produtos encontrados tanto na feira agroecológica como no Armazém da Caatinga, possuem certificação orgânica e selo da agricultura familiar, além de contarem com a diversidade de alimentos naturais, livres de agroquímicos, sustentáveis e com potencial para geração de emprego e renda para comunidades rurais, em especial, no Semiárido brasileiro.
Denise Cardoso, coordenadora institucional e de mercado da Central da Caatinga, conta que, além de dar visibilidade ao que é produzido no bioma, o Armazém nasceu da necessidade de criar estratégias de comercialização desses produtos que passam pela Central. Já são mais de 800 tipos de itens nas prateleiras, que variam entre alimentos, bebidas, roupas e artesanatos.
Além da loja física, hoje, qualquer pessoa pode comprar os produtos comercializados no Armazém, à distância, por meio do site. Essa experiência é um excelente exemplo de como a produção de agricultores familiares da Caatinga possui potencial de mercado e expansão, além de fazer diferença na vida de todas essas famílias envolvidas.
Contudo, os caminhos para consolidar essa iniciativa não se deram do dia para a noite e foram marcados por muito trabalho e desafios, compartilhados por Denise, durante o I Fórum de Negócios da Sociobioeconomia da Caatinga, promovido pelo Projeto Rural Sustentável (PRS) Caatinga, na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Juazeiro (BA), no dia 14 passado.
A Caatinga pode ser a origem de produtos em nível nacional e mundial? Quais são os principais produtos oriundos da agricultura familiar no Semiárido brasileiro? Quem são os compradores interessados nessa produção? Qual é o interesse do mercado exterior nesses itens? E como alcançar outros países? Quais desafios e estratégias devem ser adotadas para consolidar esses negócios de forma sustentável e garantir a segurança alimentar das famílias? Quais são as maiores necessidades desses produtores? Como a produção pode ser feita a partir de tecnologias de baixo carbono?
As respostas dessas e de tantas outras perguntas ou pelo menos os caminhos para chegar até elas, foram a tônica do evento que reuniu agricultores familiares, arranjos produtivos locais, cooperativas, lideranças regionais, pesquisadores, autoridades e investidores para o debate e intercâmbio de experiências sobre os mais diversos aspectos do setor. Além disso, o evento expôs as experiências de cooperativas da agricultura familiar da Caatinga, com o desafio de diversificar as oportunidades de negócios, melhorar a comercialização e ampliar mercados.
“A sociobioeconomia valoriza as pessoas que têm relação com a natureza. O Fórum reconhece os povos tradicionais, produtores rurais e promove o engajamento dessas populações. A Caatinga é também um bioma relevante para estudar as mudanças climáticas globais. Por isso, é importante ressaltar a agricultura regenerativa e sua conexão com a floresta nativa. E o fomento à agricultura familiar trazendo inclusão social e aumento de renda para as famílias. O evento veio também dialogar com os produtores, entender os seus sonhos e perceber aonde eles querem chegar. E verificar quais as suas necessidades para apoiá-los em seus planos de trabalho”, ressaltou Pedro Leitão, diretor do PRS Caatinga.
Antônio Marcos Rodrigues, representante da Compagro, cooperativa que beneficia mel de abelha, no município de Ouricuri (PE), ressaltou que a ocasião permitiu-lhe ampliar os conhecimentos sobre o tema e que levará essas informações e aprendizados para a sua comunidade. “Precisamos trabalhar mais a parte coletiva, para que possa aumentar a produção e comercialização no espaço que temos, para que a gente possa a cada dia atender melhor o consumidor que busca por esses produtos”, destacou.
Movidos pelo lema “produzir para conservar e conservar para produzir”, os que estiveram presentes também tiveram a oportunidade de participar de um workshop para a construção de planos estratégicos para sete cooperativas parceiras do PRS Caatinga, dos estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco e Piauí. A atividade conjunta, facilitada por profissionais do Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus), buscou apontar soluções para novas oportunidades de negócio na Caatinga com soluções sustentáveis e eficiência produtiva, valorizando o tripé segurança alimentar, conservação da biodiversidade e baixo carbono.
Participam do workshop a Associação Regional dos Grupos Solidários de Geração de Renda (Aresol) e a a Associação Comunitária Terra Sertaneja (Acoterra), a Cooperativa Ser do Sertão; Associação dos/as Agricultores/as Familiares da Serra dos Paus Dóias (Agrodóia), o Centro de Estudos Ligados à Técnicas Alternativas (Celta), a Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes (Comapi) e a Associação de Reposição Florestal do Estado do Piauí (Piauiflora). Também estiveram envolvidas outras cooperativas e associações parceiras, que fazem parte de sua rede de apoio e comercialização e estarão envolvidas na elaboração dos planos estratégicos.
“Entre março e abril faremos um acompanhamento, com visitas a cada uma das cooperativas, para o planejamento de longo prazo e o futuro com o PRS Caatinga. Queremos criar oportunidades para o agricultor familiar se inserir em mercados emergentes que valorizam cada vez mais a sustentabilidade. A produção de alimentos típicos da Caatinga a partir de princípios agroecológicos já é uma realidade para muitos pequenos produtores do Semiárido. Agora, com a adoção das tecnologias de baixo carbono, queremos agregar valor a esses produtos, abrindo novas oportunidades de negócio para os agricultores familiares”, ressaltou Luciana Villa Nova, que coordena essa linha de ação do Projeto.
Para Sarah Menezes, especialista em educação ambiental e assessora de comunicação da Fundação Araripe, que participou do evento, o que lhe chamou atenção foi a organização das cooperativas e associações participantes exposta durante o momento de troca de conhecimentos e de aperfeiçoamento do que já vêm fazendo por meio dessas estratégias construídas durante o workshop. Do ponto de vista da comunicação, Sarah destaca que esse ainda é um aspecto que precisa ser fortalecido por essas organizações para dar visibilidade aos produtos.
“O interessante é que eles são muito organizados quanto à gestão e beneficiamento dos produtos, com níveis de qualidade altíssimos e que são típicos da nossa cultura. Mas ainda estão caminhando para fortalecer a comunicação, que é uma veia estratégica para cada um desses negócios. Alguns deles já possuem contas no Instagram e outras redes, que muitas vezes são geridas pelos filhos dos produtores”, finalizou.
A programação do Fórum contou com a participação de Paulo Eduardo de Melo, diretor técnico do AgroNordeste e representante do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa); Anderson Sevilha, coordenador nacional do Projeto Bem Diverso e pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia; Lúcia Marisy, professora do Programa de Pós-Graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial (PPGADT), da Univasf; Paulo Pedro Carvalho, coordenador do Programa de Mobilização de Recursos, do CAATINGA – Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não-Governamentais Alternativas; Alexandre Pires Lage, assessor técnico da Central do Cerrado.
E também Denise Cardoso, coordenadora institucional e de mercado da Central da Caatinga; Gerusa Alves, presidente, e Andreson de Souza, vice-secretário, da Associação Comunitária Terra Sertaneja (Acoterra); Sergio Viana, gerente geral da Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes (Comapi); Valdirene Oliveira, presidente da Cooperativa Ser do Sertão; e Vilmar Lermen, presidente da Associação dos Agricultores Familiares da Serra dos Paus Dóias (Agrodóia).
As mesas contaram com a moderação de Pedro Leitão, diretor do PRS Caatinga; Luciana Villa Nova, consultora do Projeto; Renata Barreto, coordenadora científica; e Francisco Campello, coordenador Regional do PRS Caatinga.
Sobre o PRS Caatinga-O Projeto Rural Sustentável Caatinga é uma iniciativa financiada pelo Fundo Internacional para o Clima do Governo do Reino Unido, em cooperação com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Tem o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) como beneficiário institucional. A execução do PRS Caatinga é da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS). Mais informações em: www.prscaatinga.org.br.