MINISTRA DO MEIO AMBIENTE TEM DESAFIO DE COMBATER O DESMATAMENTO

 A retomada do protagonismo na agenda internacional sobre clima, florestas, biodiversidade, povos indígenas e populações tradicionais, água, Amazônia, oceano, energia limpa e descarbonização das cadeias produtivas está entre as prioridades em relação à área ambiental do governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva que toma posse no próximo domingo (1º). A informação faz parte do relatório final do gabinete de transição divulgado após o encerramento das atividades desenvolvidas pelos grupos temáticos. O ministério do Meio Ambiente será comandado por Marina Silva. 

O novo governo tem entre suas metas realizar a transição para economia de baixo carbono, ainda sem regulamentação no país. A estratégia é destinada a conter as emissões de gases de efeito estufa e tem ganhado cada vez mais espaço pelo mundo.

"A transição para a economia de baixo carbono é entendida como uma vantagem competitiva para o país, que tem condições de gerar negócios, produtos e serviços com menores emissões de carbono, além de oferecer soluções para as necessidades de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Nosso desafio é o da reconstrução do desmonte das instituições e o reencontro do país com seu futuro como potência ambiental", aponta o documento.

De acordo com o levantamento, o governo de Jair Bolsonaro “promoveu um desmantelamento deliberado e ilegal das políticas públicas, marcos regulatórios, espaços de controle e participação social, e órgãos e instituições públicas ligadas à preservação das florestas, da biodiversidade, do patrimônio genético e da agenda climática e ambiental”. Para reverter este cenário, a equipe de transição propõe a revogação de diversos atos normativos “de extrema gravidade” que, inclusive, já vêm sendo objeto de ações junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).

“O Pacote Verde, analisado pelo STF, é formado por sete processos judiciais em que são analisados atos do governo Bolsonaro que levaram à atuação estatal deficiente, à desestruturação da legislação ambiental brasileira, ao enfraquecimento da fiscalização e do combate a crimes ambientais e crimes relacionados aos povos indígenas, à desproteção do meio ambiente como um todo e, em especial, do bioma da Amazônia”, diz o relatório.

As revogações sugeridas têm, entre seus objetivos, o de controlar o desmatamento, retomando o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM) que, segundo o grupo de transição, é um dos “principais instrumentos capazes de controlar desmatamento, contribuindo para redução de emissão de gás”.

O relatório propõe também que se acabe com a impunidade, revogando “decretos que anularam multas ambientais, paralisaram o sistema de fiscalização ambiental e criaram um ambiente de perseguição aos fiscais”. A perda estimada com a anulação dessas multas é superior a R$ 18 bilhões em recursos para os cofres públicos, segundo levantamentos apresentados no relatório.

Ainda no âmbito da proteção ao meio ambiente, foram apresentadas propostas de revogação total do decreto que libera o garimpo ilegal na Amazônia (10.966/2022); a retomada do Fundo Amazônia; e a estruturação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

Segundo o levantamento, as taxas de desmatamento na Amazônia e no Cerrado atingiram picos nunca vistos há 15 anos. “Houve aumento de 60% do desmatamento na Amazônia durante o governo Bolsonaro, a maior alta percentual que já ocorreu em um mandato presidencial, desde o início das medições por satélite, em 1988”, diz o relatório.

Outro ponto de destaque no documento em relação ao meio ambiente diz respeito ao impacto ocasionado pela imposição de barreiras aos produtos brasileiros no comércio internacional, a restrição de acesso a crédito, a perda de credibilidade do Brasil perante o resto do mundo, além do comprometimento da soberania nacional em relação à Amazônia.

“As comunidades e povos tradicionais foram perseguidos ou esquecidos, em total desconhecimento acerca de sua importância para a proteção da biodiversidade brasileira e a atração de financiamentos e doações internacionais com foco em sustentabilidade ambiental e social”, acrescenta o documento.

EFETIVO: O levantamento preparado pela equipe de transição também alerta para a redução e aparelhamento no efetivo de servidores nos quadros do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Sistema Florestal Brasileiro (SFB) e o próprio Ministério do Meio Ambiente (MMA). Atualmente, esses órgãos têm 2.103 cargos vagos.  

“Enquanto o Ibama tinha 1.800 servidores atuando na fiscalização ambiental em 2008, agora são apenas cerca de 700, nem todos em campo. Houve efetivo aparelhamento e ocupação de cargos gerenciais e de direção sem capacidade técnica e política de atuação na área de proteção e gestão ambiental. São contundentes os casos de perseguição e assédio aos servidores dos órgãos”, diz o relatório.

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AGROECOLOGIA E RECAATINGAMENTO TRANSFORMAM PAISAGEM E VIDA DE FAMÍLIAS NO SERTÃO

“Quando eu acordo, antes das 5h da manhã, eu abro a janela e olho para a Caatinga, sinto o cheiro dela. Cheiro gostoso! Escuto o som dos passarinhos cantando, quando amanhece o dia”.

O depoimento é da agricultora familiar Lucineide Ferraz, 49 anos, apaixonada pela região em que vive e preocupada com o futuro: “me preocupo bastante com o desmatamento. Está acabando com tudo”. Quando questionada sobre o que a Caatinga representa para ela, a resposta é direta: “a vida”.

Perguntada sobre sonhos, ela diz ter um: “fazer faculdade sobre algo da Caatinga, que é o que eu mais gosto, e dos animais”.

É com os olhos marejados de encantamento que ela fala da sua relação com o bioma. Em Pernambuco, há mais de 3 milhões de hectares de área de Caatinga desmatada. Além disso, apenas 2,65% da Caatinga de Pernambuco estão em área de preservação integral.

Lucineide é uma das 13 mulheres que trabalham no Instituto Serra Grande, localizado no distrito de Caiçarinha da Penha, na zona rural, a 43 quilômetros de Serra Talhada, no Sertão.

O projeto, que existe desde 2019, reúne 40 famílias das comunidades de Barreiros e Santana, num trabalho socioambiental - que é a recuperação e restauro de áreas desmatadas da Caatinga - e de agroecologia, preservando e aproveitando os frutos e folhas da vegetação do bioma, para gerar renda às famílias locais.

A agricultora familiar, junto às colegas do Instituto, aproveita os insumos oferecidos pela Caatinga, como o umbu, o caju, o alecrim do mato e a quebra-faca, para fazer geleias, conservas, vinagres e bebidas fermentadas. Elas produzem 50 potes de produtos por dia e vendem em feiras, entre as comunidades, e pela internet.

Para fazer as receitas dos doces tudo é aproveitado. Enquanto a fruta é desidratada, o mel do caju é usado pra fazer licor. O umbu, colhido do pé, também é levado para casa, onde a produção acontece.

Há um ano, Tota Cavalcante começou a trabalhar no instituto. E assim como Lucineide, ela vê o projeto como um grande passo, para realização de sonhos.

“A pessoa pode juntar um dinheiro, juntar um pouco para o futuro, para quando estiver mais velho ter um dinheiro junto, para não depender dos outros. Meu sonho é fazer uma faculdade no futuro quando eu estiver podendo mais”, disse Tota, explicando que deseja fazer o curso de letras, para se tornar professora de português.

O trabalho desenvolvido pelas mulheres da comunidade é presidido pela agricultora familiar Creuza Ferraz, de 69 anos. Aos 10 anos de idade, ela já trabalhava com agricultura.

Líder da Associação de Moradores da comunidade de Santana, no distrito de Caiçarinha da Penha, em Serra Talhada, Creuza tem facilidade para dialogar com as mulheres e famílias que vivem na área, principalmente sobre a importância das mulheres da região terem seu próprio trabalho, e pensarem num futuro melhor para elas e para o ecossistema em que estão inseridas.

“Aqui tudo é na base da mão. Não tem nada industrializado, e nem nós queremos. Nós queremos fazer artesanalmente, porque valoriza. É agricultura familiar”, pontuou a presidente.

O projeto do Instituto foi pensado desde 2003. Dona Creuza e outras mulheres da comunidade chegaram a fazer curso no Sebrae, para aprender a fazer doces, mas só em 2019, depois de muitos testes e estudos com frutas da região e da vegetação da Caatinga, começaram a fazer as geleias e compotas como um negócio local.

"Eu fui a primeira a fazer uma geleia de acerola, e deu certo. Aí eu mostrei no grupo, que as meninas criaram para a gente se comunicar. Aí, uma amiga minha fez outra em casa, deu certo também. Então, a gente começou fazendo em casa, com o aprendizado que a gente teve lá [no Sebrae]”, contou dona Creuza, enquanto mexia um doce de passa de caju.

O preço dos produtos varia de R$8 a R$30. São pelo menos oito horas de trabalho por dia para dar conta da produção. Todo trabalho feito pelas mulheres acontece na Fazenda Serra Grande, uma propriedade privada de 1.260 hectares, com 800 hectares de Caatinga preservada e 260 hectares de área reflorestada.

As terras são do coordenador do projeto socioambiental Serra Grande, Álvaro Ferraz. A área é da família dele desde a época do império, e sofreu com períodos de seca e degradação. Em 2019, quando decidiu morar em definitivo no local, resolveu abrir as portas da fazenda, incentivar as mulheres da região a enxergar oportunidade através da caatinga e orientar os agricultores sobre como é possível viver em harmonia com a terra.

“Essa área foi antropizada, ela foi utilizada por um método de agricultura que queimava, que compactava o solo, que salinizava o solo”, afirmou o coordenador, que tem um viveiro com 26 mil mudas nativas da caatinga, entre frutíferas e cactos, para reflorestamento.

As mudas são utilizadas na área da fazenda que um dia foi lavoura, em um sistema chamado de agroflorestal, onde espécies ameaçadas da caatinga dividem espaço com a plantação de feijão e mandioca, por exemplo. São grandes faixas de plantio com espécies alternadas.

A técnica é importante tanto no processo de recuperação do solo do bioma, como na prática da agroecologia, vivenciada pelas mulheres do instituto.

“A raiz da tuberosa, da mandioca, expande na terra. Então, quando chove, o fato desse solo não ser mais compactado ajuda para que a água da chuva, em vez de escorrer, infiltre. Então, a gente já tem um risco zero de erosão numa área como essa, porque a gente tem um poder de infiltração enorme. Justamente por causa dessas linhas de árvore que estão fazendo o processo de bombear água para o subsolo”, explicou Álvaro.

O sistema agroflorestal utilizado na fazenda é um experimento que ocupa 2,5 hectares de área. A expectativa é de que no próximo ano essa área seja expandida e ocupe 200 hectares de área, que poderá ser utilizada pela agricultura, mas sem impactos negativos à Caatinga.

RECAATIGAMENTO: O projeto socioambiental Serra Grande foi criado por Álvaro em 2003, pela inquietação com os impactos da seca na vida dos sertanejos e pela vontade de ver o bioma, exclusivamente brasileiro, vivo em Serra Talhada.

As mudas nativas do bioma, utilizadas no sistema agroflorestal e para agricultura sustentável, também ajudam a recuperar áreas degradadas da Caatinga, por causa das queimadas, pastagem e criação de caprinos, prática comum no Sertão.

Mas, de acordo com o coordenador do projeto, apenas o plantio de mudas nas áreas desmatadas não é suficiente para restaurar o bioma.

Para o trabalho do "recaatingamento", como costumam chamar, é fundamental a presença da fauna. Álvaro conta que mais de 2 mil espécies nativas da caatinga já foram soltas na área da fazenda, pelo Ibama. E é essa prática, junto ao reflorestamento, que faz o bioma se recuperar.

“Hoje a gente vê crescer uma floresta. É com essa diversidade, com a ajuda da fauna, dos ventos, por isso que também é tão importante a gente ter a soltura desses animais, porque eles também ajudam nesse restauro também. O passarinho come uma semente aqui, mas, se você olha os pés do Juazeiro, por exemplo, vê que tem um Mandacaru dentro. Isso é efeito da dispersão da semente pelos pássaros. Eles usam Juazeiro, que é uma das plantas que demoram a perder copa, é a melhor sombra para ele. Ele come a fruta do Mandacaru e vai se abrigar no Juazeiro. Aí cria uma simbiose, nasce sempre um pé de Mandacaru dentro de um pé de Juazeiro”, detalha Álvaro, pontuando a importância não só dos pássaros, mas tatus e outros animais comuns da Caatinga, para ajudar no restauro da vegetação degradada.

Além das atividades desenvolvidas na fazenda, quem trabalha no projeto também promove rodas diálogos e cursos sobre educação ambiental, para as comunidades vizinhas. Ivair de Lima tem 21 anos, e desde os 10 anos criava pássaros em gaiola.

A família, que trabalha com agricultura, participou de uma das conversas sobre a importância de manter animais como pássaros, tatus, veados e emas, soltos na Caatinga. O diálogo conscientizou Ivair.

“Eu achava bonito eles cantando na gaiola, mas agora eu crio eles soltos. É mais bonito eles voando entre as árvores. E também ajudo no restauro da Caatinga com o sistema agroflorestal, plantando mudas. É importante esse cuidado”, declarou o jovem, que também ajuda o Ibama a soltar os animais silvestres na fazenda Serra Grande. (Por Caroline Rangel, TV Globo)


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A CAATINGA É HOJE NOSSO BIOMA MAIS AMEAÇADO, PORQUE TEM A MENOR QUANTIDADE DE ÁREAS DE PROTEÇÃO", ALERTA PROFESSOR DA UFRPE


Os números do desmatamento da Caatinga em Pernambuco têm chamado a atenção de ambientalistas e de quem vive no Sertão do estado, mas não somente eles despertam preocupação.

“A Caatinga hoje é o nosso bioma mais ameaçado, porque é o que tem a menor quantidade de áreas de proteção e a menor proporção de áreas protegidas”, disse o professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) em Serra Talhada, Martinho Carvalho, preocupado com o futuro da fauna e flora do ecossistema.

Dos 8.277.900 hectares de área do bioma no estado, apenas 219.623 hectares estão em áreas de proteção integral. Ou seja: só 2,65% da Caatinga está protegida.

Os dados são da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH). De acordo com o órgão, Pernambuco tem 13 Unidades de Conservação da Caatinga de Proteção Integral. Duas são mantidas pelo governo federal, nove pelo governo do estado e outras duas pelos municípios (veja no mapa).

O objetivo das Unidades de Proteção Integral é preservar a natureza. Nelas são proibidas atividades como a caça de animais e a retirada de árvores nativas, para uso comercial ou não.

O Sistema Estadual de Unidades de Conservação (Seuc) - Lei 13.787/09 - divide as unidades de proteção integral em cinco categorias: Estação Ecológica (Esec); Monumento Natural (Mona); Parque Estadual (PE); Refúgio de Vida Silvestre (RVS) e Reserva Biológica (ReBio).

Em algumas dessas categorias não é permitida a visitação de pessoas ou a prática do turismo, mas elas podem ser utilizadas para pesquisa científica, por exemplo. A lei também prevê que as áreas particulares incluídas nos limites do território de proteção integral sejam desapropriadas.

A maior unidade de conservação do bioma que temos em Pernambuco, mantida pelo estado, é a Estação Ecológica Serra da Canoa, fica na zona rural de Floresta, no Sertão de Pernambuco. São 7.598 hectares de área. Ela foi instituída como Unidade de Conservação em 2012, através de um decreto estadual (Nº 38133, de 27/04/2012), assinado pelo então governador Eduardo Campos.

Por estar na categoria Estação Ecológica, a Lei estadual 13.787/09 diz que a visitação pública é proibida em áreas como essa, exceto quando o objetivo for educacional, para pesquisas científicas ou para medidas e manejo de restauração.

Entre as justificativas para instituir a área de Floresta como Unidade de Conservação, o documento pontua “a baixa representatividade do bioma Caatinga no Sistema Estadual de Unidades de Conservação” e “as vulnerabilidades deste bioma, exclusivamente nacional, diante das perspectivas de mudanças climáticas”.

Já entre os objetivos, está “proteger as espécies endêmicas e as espécies raras ameaçadas de extinção ocorrentes na área e nos remanescentes florestais da região”.

Em viagem ao Sertão, o g1 visitou a Estação Ecológica Serra da Canoa. Mas na região a equipe recebeu denúncias de que até dentro da área de conservação da Caatinga existe a prática da caça de animais, como tatupeba, veado, ema e arara azul.

As práticas ilegais foram confirmadas pelo gestor da Unidade de Conservação da Caatinga em Floresta, Ericson da Silva. Funcionário da CPRH convocado para atuar na área desde 2019, ele é o único que vive na região e trabalha na Estação.

“Nós temos problemas seríssimos aqui de caça, retirada de madeira, mineral. Vários agravantes aqui precisam ser equalizados”, declarou o servidor, pontuando que, como sua chegada ao local é recente, a área ainda está passando por um processo de levantamento de terra e pessoal, para montagem do conselho gestor e do plano de manejo da estação.

Além da atividade ilegal da caça, outra irregularidade apontada ao g1 é a presença de residências dentro da estação. O gestor da unidade confirmou a presença de 90 proprietários de terrra no local. De acordo com ele, a regularização fundiária está em curso.

“O proprietário tem toda autonomia na área, porque ainda é o dono da terra. Nós precisamos avançar quanto à questão fundiária, para que possamos ter uma reserva direcionada realmente à pesquisa científica e educação ambiental”, ressaltou, explicando que hoje o seu trabalho na unidade é principalmente relacionar os problemas, para que o estado possa implementar as medidas exigidas para uma área de proteção integral.

Próximo à Estação Ecológica Serra da Canoa está o Parque Estadual Mata da Pimenteira, em Serra Talhada, a 90km de Floresta. A Unidade de Conservação fica bem próxima da Universidade Rural de Pernambuco. A área costuma ser usada pelos professores e estudantes, para pesquisa.

Por estar inserida na categoria Parque Estadual, de acordo com o Sistema Estadual de Unidades de Conservação, a área tem como "objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de ecoturismo".

A Mata da Pimenteira é uma área de preservação da vegetação de Caatinga arbórea. O biólogo e pesquisador da UFRPE Martinho Carvalho acompanhou a visita do g1 à Unidade de Conservação e explicou o que pode ser encontrado no local.

“Essa vegetação é de uma Caatinga Florestal, que é uma Caatinga mais rara. É uma vegetação mais densa. As árvores têm de 12 a 15 metros de altura e um diâmetro de tronco bem maior do que o que ocorre numa Caatinga típica. Ela é mais úmida em comparação aos outros tipos de Catinga, mas um pouco mais seca do que a Mata Atlântica. E, por isso também, ela tem uma riqueza de espécies maior do que as demais”, explicou o professor.

O Parque tem uma área total de 887 hectares e, de acordo com a CPRH, recebeu o título de 1ª Unidade de Conservação do Estado de Pernambuco no Bioma Caatinga.

Mas assim como a Estação Ecológica Serra da Canoa, em Floresta, a área de preservação em Serra Talhada conta com apenas um gestor no quadro de funcionários e também sofre com a presença de caçadores, o que acaba preocupando os pesquisadores, já que esse deveria ser um espaço de proteção do bioma.

“A presença de caçadores também é algo ameaçador. Aqui na reserva se encontram muitos caçadores, principalmente para caçar tatupeba, porque o pessoal acaba usando como aperitivo [a carne]. Eu mesmo, trabalhando aqui às vezes, à noite, já escutei tiros de espingarda. Já encontrei caçadores aqui dentro”, relatou o biólogo.

Além da caça dentro da Unidade e na região, também há a prática do desmatamento da vegetação nativa da Caatinga. O professor de biologia e ecologia da UFRPE André Lima explica que, das espécies ameaçadas do bioma, algumas estão presentes na área de conservação e são alvo da atividade ilegal.

“A aroeira e a baraúna são duas espécies que têm uma madeira muito boa, e por isso tão cobiçada. Mas temos também a umburana de cambão, uma planta que também é utilizada, por exemplo, para fazer as carrancas, porque ela tem uma madeira mole. Além disso existem outras espécies que podem ser utilizadas para produção de carvão, como por exemplo, a própria catingueira. A catingueira é uma planta que tem esse nome justamente porque o cheiro dela não é tão bom, entretanto, ela tem também essa pressão por conta da extração da madeira, que é bem resistente”, explicou o pesquisador.

A madeira extraída da vegetação nativa da Caatinga costuma ser utilizada por carvoarias clandestinas e madeireiras. Pelas estradas do Sertão é comum encontrar caminhões carregados. Eles costumam sair no fim da tarde.

RESPOSTAS: Procurado pelo g1 para explicar sobre a extração ilegal de madeira da Caatinga e a inspeção, o gerente das Unidades de Conservação da CPRH, Gleidson Castelo Branco, explicou que a fiscalização existe e em algumas situações eles apreendem caminhões que saem disfarçados, com plantas que não são nativas da Caatinga na parte externa, para não chamar a atenção da fiscalização.

“A gente encontra muitos caminhões transportando algaroba, mas por diversas vezes já encontramos ele transportando não só algaroba. Ela realmente vem disfarçada com o fundo da carga. Então requer uma atenção dos fiscais durante essa fiscalização e o procedimento é que haja a apreensão de toda a carga, mesmo que tenham poucas espécies ali que são liberadas."

Sobre a falta de efetivo nas Unidades de Conservação da Caatinga, o gerente afirmou que, apesar de ter apenas um gestor na Estação Ecológica Serra da Canoa e no Parque Estadual Mata da Pimenteira, existe uma equipe, na sede do órgão, no Recife, para dar suporte a essas áreas.

“Existe o gestor. Algumas unidades têm uma equipe maior além do gestor, mas na sede no Recife. Inclusive tem um setor de administração de Unidades de Conservação que dá esse suporte na fiscalização da equipe gestora. Quando a unidade não possui a equipe gestora, quem faz esse papel é o setor de administração das unidades de conservação, que fica aqui na sede”.

De acordo com Gleidson Castelo Branco, ao existir denúncia e demanda, uma equipe sai do Recife para a fiscalização nas áreas de Unidade de Conservação.

Questionado sobre o que acontece quando uma pessoa é flagrada numa unidade de proteção ambiental desmatando ou caçando animais, ele explicou o infrator responde administrativamente, tem carga apreendida e pode pagar multa que varia entre R$ 50 e R$ 50 milhões.

“Tem tanto a apreensão da carga como também todos os instrumentos utilizados no cometimento da infração, como o próprio veículo. Existe a multa também que, a depender do caso, tem muitas variantes, agravantes, que vai de R$ 50 a R$ 50 milhões. Em algumas situações, além de ser infração administrativa ambiental, é um crime, então ele vai ser conduzido à delegacia para que se estabeleça todo o procedimento de inquérito criminal. Na Justiça tem as penas, além de multa, a depender do crime também. Inclusive, quando ele é cometido dentro da unidade de conservação, é um agravante”, explicou o gerente das Unidades de Conservação da CPRH.

Entre janeiro e 15 de dezembro de 2022, de acordo com a CPRH, foram registradas 12 autuações de tráfico e caça de animais nativos da Caatinga, além de três por cativeiro [de animais]. Dez autuações de desmatamento em unidades de conservação da Caatinga foram registradas no estado

INVESTIR PARA PRESERVAR: Diante da pequena proporção de áreas de Caatinga protegidas no estado e do desmatamento e da caça dentro dessas áreas, pesquisadores e ambientalistas lamentam a falta de investimento e políticas públicas direcionadas ao bioma.

“O apoio governamental, na verdade, e a gente fala tanto numa escala estadual ou nacional, [a Caatinga] sempre é colocada em último lugar”, afirmou o professor André Lima, da UFRPE.

O Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan) estuda os biomas da região, as áreas de proteção e também atua na recuperação da vegetação e fauna dos locais degradados.

De acordo com o presidente da instituição, Joaquim José de Freitas Neto, esse não é um problema ambiental pontual do estado, mas do país, que segundo ele sofreu com a diminuição de recursos voltados para proteção, gestão e implementação de novas unidades.

“É importantíssimo a gente conseguir proteger esse capital natural que ainda existe da Caatinga, sob a forma de unidade de conservação, que hoje é a principal estratégia de proteção de floresta em pé, dentro da governança ambiental brasileira. Nos últimos tempos, sobretudo nos últimos quatro anos, vem ocorrendo um desmonte de políticas ambientais. Então se a gente não tem um direcionamento do governo federal, toda governança ambiental se torna fragilizada. Não adianta nada a gente criar uma unidade de conservação e ela não ter uma gestão efetiva, com diálogo com a comunidade, não ter planejamento, como o plano de manejo, que norteiam a gestão".

CAATINGA: Um bioma totalmente nacional que representa cerca de 11% do território brasileiro. A Caatinga está presente na região Nordeste e no norte de Minas Gerais. De origem tupi-guarani, caatinga significa “floresta branca”. Em homenagem a João Vasconcelos Sobrinho, pesquisador pioneiro em estudos ambientais, foi criado em 2003 o Dia Nacional da Caatinga, celebrado em 28 de abril.

O clima na Caatinga é tropical semiárido, com temperaturas elevadas e longos períodos de seca. De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, pesquisas indicam a existência de 3,2 mil espécies de plantas, 371 de peixes, 224 de répteis, 98 de anfíbios, 183 de mamíferos e mais de 500 de aves.

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PESQUISA IDENTIFICA LOCAL DE NASCENTES DE DOIS RIOS IMPORTANTES NAS SERRAS DE JACOBINA

Os locais exatos das nascentes dos Rios Fumaça e Aipim, nas Serras de Jacobina, situadas no norte da Chapada Diamantina, na Bahia, foram identificados em um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf). A pesquisa, que também teve o objetivo de determinar a situação de conservação dessas nascentes, foi divulgada recentemente em um artigo publicado pela Revista Enciclopédia Biosfera, periódico do Centro Científico Conhecer.

O trabalho foi realizado pelos pesquisadores Vladimir de Sales Nunes, estudante de Ciências Biológicas e presidente da Empresa Júnior (EJ) Preserve Jr; Bruno Cezar Silva, docente do Mestrado Profissional em Administração Pública (Profiap); Renato Garcia Rodrigues e Benoit Jean Bernard Jahyny, docentes do Colegiado de Ciências Biológicas (CCBio), e Gabriel Luiz Celante da Silva, biólogo graduado pela Univasf. O artigo “Determining the springs of two important rivers on the Serras da Jacobina Mountains, Chapada Diamantina, Bahia, Brazil” (Determinando as nascentes de dois rios importantes nas Serras da Jacobina, Chapada Diamantina, Bahia, Brasil) é resultado dos trabalhos de ecoturismo da Preserve Jr, EJ de Ciências Biológicas, e de outras pesquisas da Univasf que vêm sendo realizadas na Serra da Fumaça, desde 2019.

No estudo, realizado em 2022 com apoio do Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental (Nema) e da Preserve Jr, os pesquisadores fazem um mapeamento das primeiras nascentes do Rio Fumaça e do Rio Aipim. A pesquisa também alerta para uma série de atividades que têm causado danos a essas áreas, como mineração, desmatamento, compactação do solo por gado e motos, poluição causada por turistas e queimadas.

O estudante Vladimir Nunes aponta que há uma grande carência de informações científicas sobre a região e que no único artigo encontrado sobre essa temática existem algumas inconsistências. “Nós descobrimos que naquela área há duas nascentes distintas. Uma dessas nascentes é o que chamamos de pontual ou fixa, onde a água brota diretamente do solo, sendo um tipo de nascente nova para esse rio. A outra nascente, do tipo difusa, está na verdade em um local completamente distinto de onde os autores do outro artigo defendiam”, pontua o estudante, que relata que a nascente do Rio Aipim foi encontrada por acaso enquanto retornavam para o acampamento.

O Rio Fumaça é um importante recurso natural na região das Serras de Jacobina e forma várias cachoeiras de grande potencial turístico, como Véu de Noiva, Poço das Estrelas e Sete Quedas na Serra da Fumaça, município de Pindobaçu (BA), que atrai muitos visitantes devido às riquezas naturais. Nunes ressalta que o artigo expõe os riscos aos quais a região está sujeita e oferece soluções, mostrando que é possível conciliar o desenvolvimento econômico com a conservação ambiental.

“No trabalho nós alertamos que o poder público não precisa expulsar as pessoas da área ou retirar sua fonte de renda para proteger a biodiversidade e os recursos naturais. Em vez disso, é necessário tomar medidas como o estabelecimento de Áreas de Preservação Permanente (APPs) em todas as nascentes da região, como é preconizado no Código Florestal. Outra medida que sugerimos para a Serra da Fumaça é a criação de uma Unidade de Conservação, em processo devidamente acompanhado por todos os setores envolvidos na região, de modo a proteger os recursos naturais e garantir a renda e atividades das populações locais”, conclui.

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BRASIL DEVE RECEBER MAIS DE 30 A 50 ARARINHAS AZUIS EM 2023

O Brasil deve receber mais uma leva de ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii) em 2023. Entre 30 e 50 aves devem chegar ao país, vindas da Alemanha, como parte do projeto de reintrodução da espécie na caatinga brasileira, duas décadas depois de ser considerada extinta na natureza.

Segundo Camile Lugarini, coordenadora executiva do Plano de Ação Nacional (PAN) da Ararinha-Azul, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a ideia é que os animais cheguem ao Brasil já no próximo mês.

O primeiro grupo de 52 ararinhas-azuis chegou a Curaçá em 2020, procedentes de um criadouro alemão. Foi nesse município baiano que o governo brasileiro criou unidades de conservação ambiental para garantir a proteção e o habitat desses animais na natureza.

Ali também foi construído um enorme recinto de adaptação para que as ararinhas reaprendam a viver soltas. As primeiras oito aves foram reintroduzidas na natureza em junho deste ano. No último dia 10, foram soltas mais 12. A ideia é soltar 20 aves, por ano, nas próximas duas décadas. As informações é da Agência Brasil.

Cerca de 30 ararinhas são mantidas no cativeiro, na sede do projeto em Curaçá, como reservas para a reintrodução e como reprodutoras. Três filhotes já nasceram dentro do viveiro baiano e devem ser soltos na natureza, assim como devem ser libertados filhotes nascidos em um criadouro de Minas Gerais, a Fazenda Cachoeira.

No entanto, a principal fonte de animais para reintrodução continua sendo o criadouro alemão ACTP. Para a chegada dessa nova leva, vinda da Alemanha, os pesquisadores aguardam a liberação da vigilância agropecuária do Brasil devido a um surto de gripe aviária que atinge a Europa.

“Caso não seja possível trazer as aves em janeiro, a gente vai verificar se consegue, com os animais que nasceram aqui no Brasil, fazer uma soltura, porque uma coisa importante é o número de aves. Quanto maior o número no grupo, maiores são as chances de sucesso. Não adianta soltar uma ou duas, ou três ou quatro. Além de ter todo um critério, que leva em consideração a genética e a saúde, o número de animais também é fator importante”.

Na natureza, as ararinhas têm, como principal risco à sobrevivência, a existência de predadores. Das 20 ararinhas-azuis soltas, três foram mortas por aves de rapina. Há ainda o risco de dispersão para áreas onde os pesquisadores não conseguirão monitorá-las e da ameaça de sua captura por traficantes. (Agencia Brasil)

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UM FELIZ NATAL PRA TODOS!

Um dia, um pedaço do tempo caiu em meus braços, e se fez felicidade. Cronometrei cada segundo e vivi cada minuto como se fosse eterno. Outro dia acordei e percebi que havia perdido. O tempo é assim: se reparte, se fragmenta, se esfarela, se dilui em nossos instantes e num indo e vindo, sai causando um rebuliço na alma, preenchendo nosso vazio de cor e brilho por um determinado momento, depois vai embora.

         A felicidade é só um vulto que vem e vai na hora em que bem quer. 

Há dias que ela vem em forma de gente, há dias que ela vem em forma de coisas; noutros, ela vem fazendo festa: assanha o riso, espalha brasas em nosso interior, incendeia os nossos desejos, bagunça tudo – e se escafede.

         Felicidade é um vento que chega do nada, faz um redemoinho, sacode a poeira, joga um cisco no olho da gente e vai gargalhar noutra freguesia. 

        A felicidade é um relógio que atrasa, faz a gente perder a hora e a noção de tempo e de espaço.

       Felicidade é não se perder no tempo, é viver cada ano de nossas vidas em comunhão com tudo que for paz, que for ternura, que for plural, que for amor.

UM FELIZ NATAL PRA TODOS!

(Texto cantor e compositor Poeta Maciel Mel0- o Caboclo Sonhador)

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FUTURO MINISTRO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL É UM APAIXONADO PELA CIDADE DE AREIA, PARAÍBA, TERRA DA CULTURA

O atual senador e ex governador do Piauí, Welligton Dias a partir de 2023 vai comandar o Ministério do Desenvolvimento Social, uma das pastas mais importantes do novo governo e que será responsável, entre outros programas sociais, pelo Bolsa Família (atual Auxílio Brasil). 

Wellington Dias afirmou que o foco inicial da pasta será "tirar o Brasil do mapa da fome".

Welligton Dias é um apaixonado pelas causas da justiça social. Detalhe: o futuro ministro é um apaixonado pela cidade de Areia, Paraíba,  considerada Terra da Cultura, município que possui o Centro de Ciências Agrárias.

Em 2003, na condição de jornalista, produtor jornalismo da TV Grande Rio Afiliada da Globo e depois assessor de imprensa da Superintendência do Incra-Ministério Desenvolvimento Agrário, ouvi do então Governador do Piauí a confissão de, eles ser um apaixonado por Areia. Minhas origens são de Areia Paraíba.

Welligton Dias tem origem indígena e declara “ter orgulho de ser descendente da nação Jê, da tribo de Jaicó”.

O futuro ministro Welligton Dias é primo do professor Tiago Jardelino Dias que possui graduação em Agronomia (2003), mestrado em Manejo e Conservação do Solo e da Água (2006) e doutor em Agronomia (2011) pela Universidade Federal da Paraíba atuando principalmente nos temas: manejo de solo e água, manejo de irrigação, olericultura e manejo e produção de culturas.

O Tio de Welligton é Getulio Dias, engenheiro agrônomo que estudou em Areia. Getúlio no primeiro ano do Governo Lula foi indicado para ser presidente geral da Superintedetencia da Codevasf.

Aos 60 anos, Wellington Dias é natural de Oeiras, no Piauí. Trabalhou como bancário no Banco do Nordeste, no Banco do Estado do Piauí e na Caixa Econômica Federal, além de ter atuado como radialista.

Filiou-se ao PT em 1985 e foi presidente do Sindicato dos Bancários do Estado do Piauí de 1989 a 1992. Governou o estado por quatro mandatos: foi eleito em 2003, 2010, 2014 e 2018. Além disso, presidiu o Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste (Consórcio Nordeste) e coordenou o Fórum Nacional de Governadores.

Welligton Dias e formado pela Universidade Federal do Piauí, especialista em letras portuguesas. Além disso, tem também especialização em políticas públicas e governo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Dias é casado com a deputada federal Rejane Dias (PT-PI), com quem tem quatro filhos.

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