GILBERTO GIL DIZ QUAL DEVE SER A PRIORIDADE DO GOVERNO LULA PARA A CULTURA EM 2023
Recuperar o respeito pela diversidade cultural do Brasil e planejar com responsabilidade governamental o desenvolvimento das manifestações culturais nacionais são as principais urgências do terceiro mandato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para o setor cultural. Esta é a opinião do ex-ministro da Cultura Gilberto Gil.
Para o músico, que falou com o Estadão antes de subir ao palco do Teatro Sérgio Cardoso na última quarta-feira, 2, é necessário voltar a tratar a área de forma abrangente, com atenção às origens da identidade brasileira. Ele aponta, por exemplo, as matrizes afro-brasileiras e indígenas.
O cuidado com relação à cultura precisa ser restabelecido, defende Gil. "Porque isso foi sensivelmente prejudicado e perdido nos últimos anos."
Ele diz que o folclore e a mistura dos povos, característicos do Brasil, são elementos fundamentais da criatividade popular e defende uma retomada no prestígio do que chama de agricultura cultural. "A agricultura simbólica, espiritual, que tem sementes riquíssimas e possibilidades de cultivos extraordinários."
Como mostrou o Estadão em setembro, o presidente Jair Bolsonaro adiou repasses de quase R$ 7 bilhões das leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2 para 2023 e 2024. Uma manobra para permitir liberar verbas travados do orçamento secreto.
ESTRUTURA: Gil questiona a existência do Ministério da Cultura. No governo Bolsonaro, o MinC foi rebaixado e virou a Secretaria Especial da Cultura. Segundo ele, a estrutura pode não ser fundamental, desde que haja instâncias de governo comprometidas com a articulação das políticas públicas do setor.
Entretanto, indica que a recriação da pasta possa ser positiva em função da tradição. "O sistema cultural brasileiro se acostumou ao relacionamento com essa, digamos assim, autoridade cultural brasileira centralizada", diz.
Ele descarta reprisar a passagem pela Esplanada. E não arriscou um nome para assumir a função numa eventual recriação. "Não tenho nenhum porque teria pelo menos dez", afirma.
Gil aponta que, embora extenso, superpopuloso e detentor de uma diversidade cultural vasta, o Brasil ainda arca com a carência de acesso a expressões culturais. "Há carências de acessos a todos os tipos de riqueza no Brasil. A de acesso à arte está associada às carências gerais do País."
Apesar disso, ele não menciona o governo Bolsonaro, à frente da gestão nos últimos quatro anos. Nem mesmo quando, durante o Festival Música em Movimento, na quarta-feira, 2, um coro contra o presidente foi puxado.
A plateia, na sequência, se manifestou favoravelmente ao presidente eleito e Gil se limitou a um comentário ligeiro e bem-humorado ao microfone, a única menção política dele no show. "Gritaram tanto 'Lula Lá' que ele acabou indo", brincou.
*80 anos e muitas homenagens: como está sendo viver nessa época da vida e continuar no palco?
Tem o empurrão natural que a vida foi dando, no sentido de ir adiante com um processo de aderência ao mundo, ao campo da sensibilidade musical, em todos os aspectos possíveis dessa dimensão. Um processo que começou na infância ainda, aos oito, nove, dez anos, quando eu comecei propriamente a prestar atenção à música do mundo, o que ela fazia comigo, minha interioridade, meus sentimentos e pensamentos. E tudo o que foi sucedendo pela vida. Só de música profissionalmente são 60 anos. É uma vida toda dedicada a esse mister. Música: talvez a mais sutil, a mais etérea de todas as artes. Essa propagação dos sons organizados no éter. É uma coisa que sensibiliza as pessoas desde crianças, muitas delas acabam completamente seduzidas por isso e se encaminham para o portal que dá entrada a esse universo. Muita gente atravessa essa porta. Foi o meu caso, né. Então, 80 anos de vida.
*O senhor tem feito muitos shows e projetos envolvendo a família. O Rock in Rio, a série da Amazon Prime Video, a turnê internacional e essa apresentação hoje... Como nasceu esse impulso de trazer a família para junto dos holofotes, visto que muitos já tinham projetos próprios?
O pressuposto básico é esse de que são meninos e meninas que foram se envolvendo com música ao longo da vida. Por causa de estarem ali. Respiravam o mesmo ar, a mesma casa, mesmos amigos, mesmas frequências? E essa última iniciativa de juntá-los todos foi uma coisa da Preta (Gil). Que sugeriu que levássemos todos para uma viagem pela Europa. Aí as outras dimensões foram se associando. E vieram os interesses de registros, gravação, surgiu uma série de televisão, nesses moldes contemporâneos das séries. Foi Preta que inventou.
*Qual o senhor acha que é o papel da cultura no Brasil hoje? O papel da cultura é muito amplo, muito vasto. Vai desde os empregos variados das línguas, das misturas de línguas, até as misturas propostas pela interracialidade, interetnicidade, pela interculturalidade: no sentido de culturas que migraram, de povos formadores do Brasil e foram formando o Brasil antigo, depois o moderno e agora desembocam no Brasil pós-moderno, que é uma complexidade muito grande. Um País extenso, uma das maiores populações do mundo, todo esse povo unificado numa língua e nas línguas derivadas todas. É uma cultura extensa, muito interessante e importante.
Se você segmenta o campo musical, então, é uma coisa incrível. A música brasileira por essas origens diversas se tornou uma das mais ricas, mais contempladas do mundo, se a gente fala de música popular e não só dela. Se você pensa em (Heitor) Villa-Lobos e tudo o que circunda uma entidade como aquela, produzindo música sinfônica e erudita. Os campos experimentais, os campos propriamente ligados ao folclore, que desembocaram na música popular e deram coisas extraordinárias e extremamente queridas e celebradas pelo mundo inteiro, como a Bossa-Nova e seus grandes criadores e autores. E sucessores da Bossa-Nova, como eu e tantos outros. O envolvimento do povo, os carnavais, as festas religiosas, populares, várias que se manifestam em várias partes do País. Os sotaques variados, europeus mediterrâneos, mais teutônicos, eslavos, africanos profundos, asiáticos, sul-americanos. Então é uma riqueza extraordinária.
*Dá para dizer que tem uma carência de acesso à arte no Brasil? A carência de acesso à arte no Brasil está associada às carências gerais do País. A questão de quem é que tem acesso, quem tem instrumental de formação, quem tem formação estruturada para a fruição, para os variados modos de fruição? Nesse sentido, sim. Há carências de acessos a todos os tipos de riqueza no Brasil. O acesso à riqueza cultural é um dos sentidos deficitários da relação povo, sociedade e cultura.
*Nesse terceiro governo Lula, qual é a urgência principal que um ministro da Cultura deveria atacar agora?
Retomar uma visão abrangente, holística, diversificada da Cultura brasileira. Respeitosa com as tradições, mas absolutamente aberta e sensível aos processos inovadores, renovadores, as transformações. Um dos segmentos mais criativos nesse sentido da inovação no Brasil - não só no Brasil, no mundo todo, mas no Brasil em especial - é a cultura popular. Então a retomada disso, num nível de prestigiamento e respeito que essas coisas merecem, a esse cultivo dessa cultura. Quero dizer, para além dos cultivos agrícolas e etc, é preciso criar dessa agricultura simbólica, dessa agricultura espiritual, que tem cultivares importantíssimos, sementes riquíssimas no Brasil, possibilidades de cultivos extraordinários. Enfim, acho que precisa é isso.
Não é necessariamente nem a existência de um Ministério da Cultura, mas de uma instância de governo que articule, dentro das estruturas de governo central e estaduais e municipais esse tipo de reverência à riqueza da música popular. Se o ministério facilita isso, no sentido das obrigações que o governo central teria que ter em relação a tudo isso, melhor que seja recriado.
O sistema cultural brasileiro todo se acostumou ao relacionamento com essa, digamos assim, autoridade cultural brasileira centralizada e descentralizada pelos estados e municípios. Essa responsabilidade governamental em relação à cultura e às considerações para com ela. Enfim, é isso que precisa restaurar porque isso foi sensivelmente prejudicado e perdido nos últimos anos.
*O senhor vê um nome que pudesse assumir essa pasta e se ela existisse o senhor voltaria? Eu não. Não tenho nenhum, porque teria pelo menos dez. E como só vai ser possível ser um, né?
*Se o senhor pudesse dar um recado para esse ministro, o que diria para fazer?
Atenção profunda, respeito à diversidade cultural, às várias fontes de produção cultural do País. Às várias matrizes propiciadas por essas fontes. A consideração profunda à diversidade de origens da cultura brasileira. Uma apreciação, um aumento do preço, do valor, de vários aspectos da cultura brasileira, como por exemplo o aspecto afro-brasileiro, o aspecto indígena brasileiro. O respeito histórico pela formação do Brasil e atenção profunda ao processo de encaminhamento da cultura brasileira em direção ao futuro. É isso.
Os que forem lá se incumbir das atividades, das gestões, do estabelecimento das melhores relações entre o Estado e a sociedade, entre os governos e a sociedade, para essa manobra toda da vida cultural, eu espero que saberão cumprir suas tarefas e seus deveres.
DEFESA CIVIL DE JUAZEIRO ALERTA: CHUVA DEVE CONTINUAR NOS PRÓXIMO DIAS
Para amenizar os impactos causados pelas chuvas, a força-tarefa da Prefeitura Municipal, formada pela Defesa Civil, SAAE, Secretaria de Serviços Públicos (Sesp), Secretaria de Desenvolvimento Social, Mulher e Diversidade (Sedes) e da Secretaria de Obras e Desenvolvimento Urbano (Sedur), está nas ruas desde as primeiras horas desta sexta-feira (4), monitorando os pontos de alagamento e desobstruindo galerias para facilitar o escoamento das águas.
O coordenador da Defesa Civil, Ramiro Cordeiro, orienta a população. "Desde a madrugada já registramos mais de 100mm de chuvas na região e a previsão é de mais chuva para a próxima semana e para todo o mês. Reforçamos o alerta às pessoas para que, neste momento, procurem ficar longe de árvores, janelas e de eletrodomésticos conectados à tomada. Se estiverem fora de casa, procurem locais onde possam se abrigar, como lojas e outros locais cobertos, além de não estacionar veículos próximos de torres de transmissão ou placas de propaganda", frisa.
Plantão-O trabalho preventivo da Prefeitura de Juazeiro segue em regime de plantão para garantir a segurança da população. Em caso de necessidade, a comunidade poderá entrar em contato com a Defesa Civil, através do telefone (74) 99931-2210 (WhatsApp) ou com o Corpo de Bombeiros, por meio do 193.
DEFESO DO PERÍODO DE PIRACEMA JÁ ESTÁ EM VIGOR NA BACIA DO SÃO FRANCISCO E SEGUE A´TE 2023
SEMINÁRIO SOBRE SUSTENTABILIDADE DO JORNALISMO ACONTECE ENTRE OS DIAS 25 A 27 DE NOVEMBRO
Numa realização da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce), os eventos pretendem reunir cerca de 200 participantes entre estudantes e professores de Jornalismo, profissionais da mídia e demais interessados. As inscrições podem ser feitas AQUI.
O Seminário Nacional Sustentabilidade do Jornalismo vai aprofundar o debate sobre a proposta da FENAJ de taxação das grandes plataformas digitais e criação do Fundo Nacional de Apoio e Fomento ao Jornalismo (Funajor), uma das pautas prioritárias da categoria para o novo governo brasileiro. O evento tem apoio da Fundação Friedrich Ebert (FES) e da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ).
“O Jornalismo sofre reiteradas crises no mundo inteiro, em especial no Brasil, com o fim do modelo de negócios baseado na publicidade para a sustentação financeira dos veículos de mídia e a ação predatória das chamadas big techs na captura desses recursos”, comenta a presidenta da FENAJ, a cearense Samira de Castro. “O crescimento da desinformação em massa, por outro lado, evidencia que precisamos cada vez mais fortalecer o Jornalismo e o trabalho dos jornalistas”, acrescenta.
Já o II EEJIC acontece exatamente dez anos depois da sua primeira edição, realizada em setembro de 2012, e tem o objetivo de debater as questões pertinentes aos jornalistas de imagem (repórteres fotográficos e cinematográficos, ilustradores e diagramadores). Entre os temas, a importância dessas funções nos registros jornalísticos, como as guerras e a pandemia de Covid-19, além da própria organização sindical e os direitos trabalhistas destes profissionais.
“O Sindjorce tem uma sólida atuação na defesa dos interesses dos jornalistas de imagem e vem buscando, a cada dia, garantir o cumprimento dos direitos convencionados desse segmento”, afirma o presidente da entidade, Rafael Mesquita. Para ele, a organização da categoria é fundamental para o enfrentamento coletivo dos desrespeitos e para a garantia de valorização desses trabalhadores.
SERVIÇO: Seminário Nacional Sustentabilidade do Jornalismo
II Encontro Estadual de Jornalistas de Imagem e Profissionais da Comunicação do Ceará (II EEJIC)
25, 26 e 27 de novembro de 2022
Local: Auditório do Sebrae/CE (Av. Monsenhor Tabosa, 777, Centro).
CONFIRA NA INTEGRA O PRIMEIRO DISCURSO DO PRESIDENTE LULA ELEITO NESTE DOMINGO (30)
Confira a íntegra o primeiro discurso do presidente eleito,Luiz Inácio Lula da Silva:
"Meus amigos e minhas amigas.
Chegamos ao final de uma das mais importantes eleições da nossa história. Uma eleição que colocou frente a frente dois projetos opostos de país, e que hoje tem um único e grande vencedor: o povo brasileiro.
Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse vencedora.
Neste 30 de outubro histórico, a maioria do povo brasileiro deixou bem claro que deseja mais – e não menos democracia.
Deseja mais – e não menos inclusão social e oportunidades para todos. Deseja mais – e não menos respeito e entendimento entre os brasileiros. Em suma, deseja mais – e não menos liberdade, igualdade e fraternidade em nosso país.
O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que exercer o direito sagrado de escolher quem vai governar a sua vida. Ele quer participar ativamente das decisões do governo.
O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que o direito de apenas protestar que está com fome, que não há emprego, que o seu salário é insuficiente para viver com dignidade, que não tem acesso a saúde e educação, que lhe falta um teto para viver e criar seus filhos em segurança, que não há nenhuma perspectiva de futuro.
O povo brasileiro quer viver bem, comer bem, morar bem. Quer um bom emprego, um salário reajustado sempre acima da inflação, quer ter saúde e educação públicas de qualidade.
Quer liberdade religiosa. Quer livros em vez de armas. Quer ir ao teatro, ver cinema, ter acesso a todos os bens culturais, porque a cultura alimenta nossa alma.
O povo brasileiro quer ter de volta a esperança.
É assim que eu entendo a democracia. Não apenas como uma palavra bonita inscrita na Lei, mas como algo palpável, que sentimos na pele, e que podemos construir no dia-dia.
Foi essa democracia, no sentido mais amplo do termo, que o povo brasileiro escolheu hoje nas urnas. Foi com essa democracia – real, concreta – que nós assumimos o compromisso ao longo de toda a nossa campanha.
E é essa democracia que nós vamos buscar construir a cada dia do nosso governo. Com crescimento econômico repartido entre toda a população, porque é assim que a economia deve funcionar – como instrumento para melhorar a vida de todos, e não para perpetuar desigualdades.
A roda da economia vai voltar a girar, com geração de empregos, valorização dos salários e renegociação das dívidas das famílias que perderam seu poder de compra.
A roda da economia vai voltar a girar com os pobres fazendo parte do orçamento. Com apoio aos pequenos e médios produtores rurais, responsáveis por 70% dos alimentos que chegam às nossas mesas.
Com todos os incentivos possíveis aos micros e pequenos empreendedores, para que eles possam colocar seu extraordinário potencial criativo a serviço do desenvolvimento do país.
É preciso ir além. Fortalecer as políticas de combate à violência contra as mulheres, e garantir que elas ganhem o mesmo salários que os homens no exercício de igual função.
Enfrentar sem tréguas o racismo, o preconceito e a discriminação, para que brancos, negros e indígenas tenham os mesmos direitos e oportunidades.
Só assim seremos capazes de construir um país de todos. Um Brasil igualitário, cuja prioridade sejam as pessoas que mais precisam.
Um Brasil com paz, democracia e oportunidades.
Minhas amigas e meus amigos.
A partir de 1º de janeiro de 2023 vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis. Somo um único país, um único povo, uma grande nação.
Não interessa a ninguém viver numa família onde reina a discórdia. É hora de reunir de novo as famílias, refazer os laços de amizade rompidos pela propagação criminosa do ódio.
A ninguém interessa viver num país dividido, em permanente estado de guerra.
Este país precisa de paz e de união. Esse povo não quer mais brigar. Esse povo está cansado de enxergar no outro um inimigo a ser temido ou destruído.
É hora de baixar as armas, que jamais deveriam ter sido empunhadas. Armas matam. E nós escolhemos a vida.
O desafio é imenso. É preciso reconstruir este país em todas as suas dimensões. Na política, na economia, na gestão pública, na harmonia institucional, nas relações internacionais e, sobretudo, no cuidado com os mais necessitados.
É preciso reconstruir a própria alma deste país. Recuperar a generosidade, a solidariedade, o respeito às diferenças e o amor ao próximo.
Trazer de volta a alegria de sermos brasileiros, e o orgulho que sempre tivemos do verde-amarelo e da bandeira do nosso país. Esse verde-amarelo e essa bandeira que não pertencem a ninguém, a não ser ao povo brasileiro.
Nosso compromisso mais urgente é acabar outra vez com a fome. Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças neste país não tenham o que comer, ou que consumam menos calorias e proteínas do que o necessário.
Se somos o terceiro maior produtor mundial de alimentos e o primeiro de proteína animal, se temos tecnologia e uma imensidão de terras agricultáveis, se somos capazes de exportar para o mundo inteiro, temos o dever de garantir que todo brasileiro possa tomar café da manhã, almoçar e jantar todos os dias.
Este será, novamente, o compromisso número 1 do nosso governo.
Não podemos aceitar como normal que famílias inteiras sejam obrigadas a dormir nas ruas, expostas ao frio, à chuva e à violência.
Por isso, vamos retomar o Minha Casa Minha Vida, com prioridade para as famílias de baixa renda, e trazer de volta os programas de inclusão que tiraram 36 milhões de brasileiros da extrema pobreza.
O Brasil não pode mais conviver com esse imenso fosso sem fundo, esse muro de concreto e desigualdade que separa o Brasil em partes desiguais que não se reconhecem. Este país precisa se reconhecer. Precisa se reencontrar consigo mesmo.
Para além de combater a extrema pobreza e a fome, vamos restabelecer o diálogo neste país.
É preciso retomar o diálogo com o Legislativo e Judiciário. Sem tentativas de exorbitar, intervir, controlar, cooptar, mas buscando reconstruir a convivência harmoniosa e republicana entre os três poderes.
A normalidade democrática está consagrada na Constituição. É ela que estabelece os direitos e obrigações de cada poder, de cada instituição, das Forças Armadas e de cada um de nós.
A Constituição rege a nossa existência coletiva, e ninguém, absolutamente ninguém, está acima dela, ninguém tem o direito de ignorá-la ou de afrontá-la.
Também é mais do que urgente retomar o diálogo entre o povo e o governo.
Por isso vamos trazer de volta as conferências nacionais. Para que os interessados elejam suas prioridades, e apresentem ao governo sugestões de políticas públicas para cada área: educação, saúde, segurança, direitos da mulher, igualdade racial, juventude, habitação e tantas outras.
Vamos retomar o diálogo com os governadores e os prefeitos, para definirmos juntos as obras prioritárias para cada população.
Não interessa o partido ao qual pertençam o governador e o prefeito. Nosso compromisso será sempre com melhoria de vida da população de cada estado, de cada município deste país.
Vamos também reestabelecer o diálogo entre governo, empresários, trabalhadores e sociedade civil organizada, com a volta do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
Ou seja, as grandes decisões políticas que impactem as vidas de 215 milhões de brasileiros não serão tomadas em sigilo, na calada da noite, mas após um amplo diálogo com a sociedade.
Acredito que os principais problemas do Brasil, do mundo, do ser humano, possam ser resolvidos com diálogo, e não com força bruta.
Que ninguém duvide da força da palavra, quando se trata de buscar o entendimento e o bem comum.
Meus amigos e minhas amigas.
Nas minhas viagens internacionais, e nos contatos que tenho mantido com líderes de diversos países, o que mais escuto é que o mundo sente saudade do Brasil.
Saudade daquele Brasil soberano, que falava de igual para igual com os países mais ricos e poderosos. E que ao mesmo tempo contribuía para o desenvolvimento dos países mais pobres.
O Brasil que apoiou o desenvolvimento dos países africanos, por meio de cooperação, investimento e transferência de tecnologia.
Que trabalhou pela integração da América do Sul, da América Latina e do Caribe, que fortaleceu o Mercosul, e ajudou a criar o G-20, a UnaSul, a Celac e os BRICS.
Hoje nós estamos dizendo ao mundo que o Brasil está de volta. Que o Brasil é grande demais para ser relegado a esse triste papel de pária do mundo.
Vamos reconquistar a credibilidade, a previsibilidade e a estabilidade do país, para que os investidores – nacionais e estrangeiros – retomem a confiança no Brasil. Para que deixem de enxergar nosso país como fonte de lucro imediato e predatório, e passem a ser nossos parceiros na retomada do crescimento econômico com inclusão social e sustentabilidade ambiental.
Queremos um comércio internacional mais justo. Retomar nossas parcerias com os Estados Unidos e a União Europeia em novas bases. Não nos interessam acordos comerciais que condenem nosso país ao eterno papel de exportador de commodities e matéria prima.
Vamos re-industrializar o Brasil, investir na economia verde e digital, apoiar a criatividade dos nossos empresários e empreendedores. Queremos exportar também conhecimento.
Vamos lutar novamente por uma nova governança global, com a inclusão de mais países no Conselho de Segurança da ONU e com o fim do direito a veto, que prejudica o equilíbrio entre as nações.
Estamos prontos para nos engajar outra vez no combate à fome e à desigualdade no mundo, e nos esforços para a promoção da paz entre os povos.
O Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a Floresta Amazônica.
Em nosso governo, fomos capazes de reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia, diminuindo de forma considerável a emissão de gases que provocam o aquecimento global.
Agora, vamos lutar pelo desmatamento zero da Amazônia
O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva. Uma árvore em pé vale mais do que toneladas de madeira extraídas ilegalmente por aqueles que pensam apenas no lucro fácil, às custas da deterioração da vida na Terra.
Um rio de águas límpidas vale muito mais do que todo o ouro extraído às custas do mercúrio que mata a fauna e coloca em risco a vida humana.
Quando uma criança indígena morre assassinada pela ganância dos predadores do meio ambiente, uma parte da humanidade morre junto com ela.
Por isso, vamos retomar o monitoramento e a vigilância da Amazônia, e combater toda e qualquer atividade ilegal – seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária indevida.
Ao mesmo tempo, vamos promover o desenvolvimento sustentável das comunidades que vivem na região amazônica. Vamos provar mais uma vez que é possível gerar riqueza sem destruir o meio ambiente.
Estamos abertos à cooperação internacional para preservar a Amazônia, seja em forma de investimento ou pesquisa científica. Mas sempre sob a liderança do Brasil, sem jamais renunciarmos à nossa soberania.
Temos compromisso com os povos indígenas, com os demais povos da floresta e com a biodiversidade. Queremos a pacificação ambiental.
Não nos interessa uma guerra pelo meio ambiente, mas estamos prontos para defendê-lo de qualquer ameaça.
Meus amigos e minhas amigas.
O novo Brasil que iremos construir a partir de 1º de janeiro não interessa apenas ao povo brasileiro, mas a todas as pessoas que trabalham pela paz, a solidariedade e a fraternidade, em qualquer parte do mundo.
Na última quarta-feira, o Papa Francisco enviou uma importante mensagem ao Brasil, orando para que o povo brasileiro fique livre do ódio, da intolerância e da violência.
Quero dizer que desejamos o mesmo, e vamos trabalhar sem descanso por um Brasil onde o amor prevaleça sobre o ódio, a verdade vença a mentira, e a esperança seja maior que o medo.
Todos os dias da minha vida eu me lembro do maior ensinamento de Jesus Cristo, que é o amor ao próximo. Por isso, acredito que a mais importante virtude de um bom governante será sempre o amor – pelo seu país e pelo seu povo.
No que depender de nós, não faltará amor neste país. Vamos cuidar com muito carinho do Brasil e do povo brasileiro. Viveremos um novo tempo. De paz, de amor e de esperança.
Um tempo em que o povo brasileiro tenha de novo o direito de sonhar. E as oportunidades para realizar aquilo que sonha.
Para isso, convido a cada brasileiro e cada brasileira, independentemente em que candidato votou nessa eleição. Mais do que nunca, vamos juntos pelo Brasil, olhando mais para aquilo que nos une, do que para nossas diferenças.
Sei a magnitude da missão que a história me reservou, e sei que não poderei cumpri-la sozinho. Vou precisar de todos – partidos políticos, trabalhadores, empresários, parlamentares, govenadores, prefeitos, gente de todas as religiões. Brasileiros e brasileiras que sonham com um Brasil mais desenvolvido, mais justo e mais fraterno.
Volto a dizer aquilo que disse durante toda a campanha. Aquilo que nunca foi uma simples promessa de candidato, mas sim uma profissão de fé, um compromisso de vida:
O Brasil tem jeito. Todos juntos seremos capazes de consertar este país, e construir um Brasil do tamanho dos nossos sonhos – com oportunidades para transformá-los em realidade.
Mais uma vez, renovo minha eterna gratidão ao povo brasileiro. Um grande abraço, e que Deus abençoe nossa jornada."
LULA, ELEITO PRESIDENTE PELA TERCEIRA VEZ DO BRASIL
“Nosso compromisso mais urgente é acabar outra vez com a fome. Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças neste país não tenham o que comer, ou que consumam menos calorias e proteínas do que o necessário. Se somos o terceiro maior produtor mundial de alimentos e o primeiro de proteína animal, se temos tecnologia e uma imensidão de terras agricultáveis, se somos capazes de exportar para o mundo inteiro, temos o dever de garantir que todo brasileiro possa tomar café da manhã, almoçar e jantar todos os dias”.
Ao lado da esposa Janja, do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, com sua esposa Lu, e de outros nomes da Coligação Brasil da Esperança, o presidente eleito afirmou que o povo brasileiro é que foi vencedor de uma das eleições mais importantes da história. “Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse vencedora”.
Segundo Lula, a mensagem das urnas é que o povo brasileiro deixou claro que deseja mais – não menos – democracia, inclusão social, respeito, oportunidades para todos. “Em suma, deseja mais – e não menos liberdade, igualdade e fraternidade em nosso país. O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que exercer o direito sagrado de escolher quem vai governar a sua vida. Ele quer participar ativamente das decisões do governo.”
Na lista de desejos citados pelo presidente eleito, emprego, bom salário, saúde, educação, segurança, moradia, salário justo, viver com dignidade, comer bem, morar bem. “O povo brasileiro quer viver bem, comer bem, morar bem. Quer um bom emprego, um salário reajustado sempre acima da inflação, quer ter saúde e educação públicas de qualidade”.
Das sinalizações de um novo governo, Lula falou em retomar o protagonismo internacional, fazer a economia crescer, atraindo investimentos externos, lutar contra a crise climática e proteger todos os biomas, sobretudo a Amazônia, com meta de desmatamento zero.
Ele também falou em reconstruir o país em diferentes dimensões, buscar a paz, o entendimento e a democracia real e concreta. “É essa democracia que nós vamos buscar construir a cada dia do nosso governo. Com crescimento econômico repartido entre toda a população, porque é assim que a economia deve funcionar – como instrumento para melhorar a vida de todos, e não para perpetuar desigualdades”.