CESOL-SERTÃO DO SÃO FRANCISCO DISCUTE ALIMENTAÇÃO SUSTENTÁVEL COM PROFISSIONAIS DA COOPERFTIZ

Com o propósito de discutir a alimentação sustentável e formas de aproveitamento integral dos alimentos, o Centro Público de Economia Solidária Sertão do São Francisco realizará, na próxima quinta-feira (20), a partir das 14h30, oficina formativa com profissionais da reciclagem da Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis (Cooperfitz), em Juazeiro. O evento integra a meta Consumo Sustentável do Cesol-SSF, e será mediado pela chefe de cozinha alternativa Poliana Santana, na sede da Cooperfiz, localizada no distrito industrial.

A proposta será discutir alternativas para a construção de um banco de alimentos para os cooperados. Entre os temas abordados estarão o desperdício dos alimentos e fome; as diferenças entre aproveitamento e reaproveitamento; o que fazer com as sobras? As plantas alimentícias não convencionais.  De acordo com chefe de cozinha alternativa, a alimentação sustentável consiste em um convite para uma mudança de comportamento em relação ao reaproveitamento integral dos alimentos.

"É de extrema importância essa nova visão sobre o consumo, pois sabemos que, seguindo esse ritmo que estamos, em 2050, a gente entra em um colapso alimentar e, infelizmente, não vai ter comida para todo mundo. Então um dos degraus é, de fato, a redução do desperdício", explicou Santana.

SUSTENTABILIDADE: A economia solidária potencializa a aquisição de produtos sustentáveis, que respeita o trabalho coletivo, a cooperação, a autogestão dos empreendimentos, proporcionando o empoderamento de familiais da região. Para a coordenadora do Cesol-SSF, Aline Craveiro, comprar produtos da economia solidária significa fortalecer pequenas inciativas de produtores e produtoras rurais locais.

"Costumamos dizer que, ao adquirir os produtos da Economia Solidária, os clientes não só estão fortalecendo os produtores e produtoras, como também se presenteiam com belas histórias de empreendimentos do nosso território fortalecendo, dessa forma, o consumo e vivência consciente com essa produção", finalizou Aline Craveiro.

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CAATINGA E O SEMIÁRIDO TEM ÁREAS DE DESERTIFICAÇÃO AUMENTADAS, DIZ MAPBIOMAS

Um novo levantamento obtido através de imagens de satélite pelo MapBiomas mostrou que o bioma Caatinga, inserido integralmente no território do Semiárido brasileiro, nos últimos 37 anos teve 15% de sua área queimada, e redução de 160 mil hectares de superfície de água.

Segundo o MapBiomas, a Caatinga teve um quarto, o equivalente a 25,59%, de seu território modificado pela ação do homem entre 1985 e 2021. Mais de 15% da Caatinga foi queimada, totalizando 13.770 hectares e, na bacia do São Francisco, as maiores ocorrências de queimadas ocorreram nos anos de 1987 a 2007. Houve ainda redução de áreas naturais, superando os 6 milhões de hectares, 10,54% da área mapeada em 1985. Além disso, a Caatinga, que conta com a maior parte dos rios de característica intermitente (correm apenas durante o período das chuvas, ficando secos durante a estação de estiagem), sendo os dois rios perenes de grande porte o rio São Francisco e o rio Parnaíba, perdeu mais de 160 mil hectares de superfície de água, ou seja 16,75%. O diagnóstico mostrou que, com exceção de Sergipe, todos os estados onde predomina a Caatinga tiveram redução de superfície de água.

O MapBiomas apontou que o principal motivo de avanço sobre a vegetação nativa foi a agropecuária, que ganhou 6,7% de território, ou 5,7 milhões de hectares. No período avaliado, a agropecuária cresceu um quarto da sua área. Segundo o coordenador da Equipe Caatinga do MapBiomas, Washington Rocha, o levantamento identificou ainda áreas de desertificação. “Mapeamos a região de Irauçuba, no Ceará, e detectamos a expansão de um núcleo de desertificação. Padrão semelhante foi observado em outros núcleos de desertificação, como em Cabrobó (PE), com tendência de expansão no sentido de Alagoas. Além dos núcleos de desertificação, é possível monitorar com os dados do MapBiomas as ASD´s (áreas suscetíveis à desertificação), como Jeremoabo, na Bahia. Este é um exemplo de como a transformação da Caatinga coloca o bioma em risco”.

Mesmo em área classificada como Reserva da Biosfera houve perdas de 7,6%, ocupadas pelas atividades de agricultura (2%) e pastagens (5,6%). Já as Unidades de Conservação ocupam 9,01% do bioma, totalizando 7,8 milhões de hectares, perderam 3,3% de sua área. Agricultura e pastagem ganharam 1,42% e 2,06%, respectivamente.

Vulnerabilidades-O Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (LAPIS) apontou que cerca de 93% dos municípios do Semiárido brasileiro considerados de pequeno porte, com população inferior a 50 mil habitantes, são marcados por uma confluência de vulnerabilidades e já lidam com problemas ambientais como secas extremas, desertificação e mudança climática.

O laboratório apontou que esses municípios apresentam uma série de vulnerabilidades nas áreas em processo de desertificação que incluem vulnerabilidade climática ocorrendo sobretudo pela frequência de secas intensas e pelos atuais impactos do processo de mudança climática, vulnerabilidade à desertificação, processo crescente e irreversível, aumentado pelas intensas secas e pelo manejo inadequado dos recursos naturais e vulnerabilidade ecológica. 

“Nesse último aspecto, a Caatinga enfrenta o risco de atingir um ponto de não retorno, ou seja, a degradação da vegetação e as secas extremas podem causar danos fisiológicos a ponto de a vegetação perder sua capacidade de se auto recuperar”, destacou o coordenador do LAPIS, Humberto Barbosa.

Além disso, outros pontos vulneráveis também são apontados no processo de desertificação, incluindo vulnerabilidade institucional que é vista pelo LAPIS como a falta de capacidade institucional dos pequenos municípios para enfrentar problemas ambientais complexos, vulnerabilidade socioeconômica e vulnerabilidade do conhecimento. “Em termos socioeconômicos, como a agricultura familiar de baixa escala é desmantelada durante as secas, a população perde sua principal fonte de subsistência e sobre a vulnerabilidade de conhecimento existe ainda a limitação no acesso a informações técnico-científicas qualificadas, o que impede uma melhor gestão dos recursos naturais e a obtenção de renda, a partir do aproveitamento sustentável da bioeconomia da Caatinga”, acrescentou Barbosa.

Todo esse processo tem uma ligação direta com a ocorrência do aumento dos eventos climáticos extremos na bacia do Rio São Francisco. Ainda segundo dados do Laboratório, o Semiárido é a região do Brasil mais afetada pelo aumento dos eventos climáticos extremos. Modelos climáticos indicam que haverá redução de cerca de 40% nas chuvas na região, ainda neste século.

“As grandes secas que afetaram o rio São Francisco estiveram historicamente mais concentradas na região do Baixo São Francisco. No entanto, de acordo com a pesquisa do Lapis, há sinais de condições crescentes de seca nas demais áreas da bacia, como é o caso do Alto e Médio São Francisco. Desse modo, a avaliação dos impactos de eventos intensos de seca, na bacia do rio São Francisco, é fundamental para desenvolver estratégias adequadas de adaptação e mitigação”, concluiu Barbosa. (Ascom CHBSF *Texto: Juciana Cavalcante *Foto: Edson Oliveira)

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DEFESA CIVIL DE JUAZEIRO REFORÇA ALERTA PARA BAIXA UMIDADE DO AR NA CIDADE

A Defesa Civil de Juazeiro informa que recebeu novos alertas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) alertando para baixa umidade do ar na cidade. Segundo o Inmet, esta semana a umidade do ar deve variar entre 30% e 20% na cidade, sendo que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda, como índice ideal, 60%.

Sem expectativa de chuvas para este período, o ar seco deve continuar, o que além de exigir cuidados com a saúde, aumenta os riscos de incêndio em áreas de vegetação mais seca.

A orientação das autoridades de saúde é que as pessoas evitem fazer exercícios físicos ao ar livre até às 16h. Dentro de casa, também é importante manter alguns cuidados, como umidificar o ambiente com vaporizadores, bacias de água ou toalhas molhadas. Além disso, é preciso aumentar o consumo de líquidos e, sempre que possível, permanecer em locais protegidos do sol.

O coordenador da Defesa Civil em Juazeiro, Ramiro Cordeiro, alerta que o tempo seco também favorece a ocorrência de incêndios florestais, por isso, a orientação é evitar acender fogo ou realizar qualquer tipo de queimada, contribuindo assim para aumentar a segurança durante o período de estiagem. Em caso de emergências, o contato da Defesa Civil é (74) 99931-2210.

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IMAGINE UMA CIDADE EM QUE OS PÁSSAROS SUMIRAM, VÍTIMAS DO USO EXCESSIVO DE AGROTÓXICOS

"O ser humano é parte da natureza, e sua guerra contra a natureza é inevitavelmente uma guerra contra si mesmo." A citação é de Rachel Carson, a bióloga e conservacionista americana que causou comoção em seu país ao publicar seu famoso livro Primavera Silenciosa em 1962. O trabalho começa com um convite: imagine uma cidade em que os pássaros sumiram, vítimas do uso excessivo de compostos químicos como agrotóxicos.

Carson não era contra a aplicação seletiva de agrotóxicos e inseticidas, mas era contra seu uso indiscriminado, comum em uma época marcada por uma fé cega no poder da ciência.

A obra teve tanta repercussão que foi uma das catalisadoras do movimento ambientalista nos EUA. Carson não só escrevia com precisão científica como também comunicava com beleza poética o que chamava de "tecido intrincado da vida", no qual tudo está interligado e do qual todos fazemos parte.

Sessenta anos depois da publicação de Primavera Silenciosa, quão preocupante é a atual proliferação de compostos químicos? E qual seria a mensagem de um livro como o de Carson hoje?

A BBC News Mundo (serviço de notícias em espanhol da BBC) conversou com Joan Grimalt, professor de Química Ambiental do Conselho Superior de Pesquisa Científica da Espanha e integrante do Painel Intergovernamental de Poluição Química (IPCP). O IPCP é um grupo de cientistas que reivindica a criação de um organismo internacional para monitorar agrotóxicos.

BBC: Rachel Carson alertou sobre "a contaminação do ar, da terra e do mar com materiais perigosos e até letais". Esta mensagem é relevante na atualidade?

Joan Grimalt: Sim, com certeza. É verdade que o uso em alguns lugares não é mais permitido. Mas, em geral, o uso de compostos químicos aumentou e o despejo desses compostos no meio ambiente também aumentou.

Existem atualmente cerca de 350 mil compostos fabricados pela indústria. Na época de Carson, eu diria que esse número não passava de 30 mil.

BBC: Em seu livro, Carson falou especialmente de um composto, o DDT.

Grimalt: O DDT foi importante. Mas o problema é que muitos compostos foram criados. Outro problema é a sua ampla utilização, que é o que gerou mais problemas ainda.

O DDT já era conhecido desde o final do século 19. Mas na década de 1940 havia um médico, Paul Müller, que propôs usar o DDT para eliminar os mosquitos do gênero Anopheles (mosquito-prego) que transmitem a malária.

E isso levou à disseminação do DDT em todo o mundo. Deve-se lembrar que isso rendeu o Prêmio Nobel de Medicina a Paul Müller, porque esse composto eliminou o mosquito Anopheles em praticamente todos os lugares, exceto nas zonas tropicais, e a incidência de malária caiu drasticamente.

E também é preciso dizer que desde 2005 a Organização Mundial da Saúde recomenda o uso do DDT para combater o mosquito Anopheles em lugares onde a malária ainda é endêmica.

Às vezes o que acontece é que uma coisa não é branca nem preta; depende do uso que se dá a ela.

Uma menina é pulverizada com DDT na Alemanha em 1945 como parte de um programa para matar piolhos, um dos insetos que podem transmitir o tifo

BBC: Quais foram impactos negativos do DDT?

Grimalt: Concretamente, um primeiro efeito foi que nas aves expostas ao DDT, as cascas dos ovos ficaram muito mais finas e, por isso, durante a incubação, muitas ninhadas foram perdidas porque os ovos não aguentavam o peso dos adultos que os chocavam. Isso resultou no desaparecimento de muitos pássaros.

O DDT quase extinguiu a águia-americana, por exemplo, a águia símbolo dos Estados Unidos, e muitas outras espécies. Além disso, se observou que em humanos o DDT também causava problemas. Há imagens onde você pode ver soldados dos Estados Unidos de cuecas sendo pulverizados com DDT (para matar pulgas e piolhos), porque se acreditava que o DDT não os afetava. Não sabemos como esses soldados estão agora. O DDT é neurotóxico e dentro das células dos organismos, incluindo os humanos, as células que mais se reproduzem são as células nervosas, por isso o dano causado ao sistema neurológico é mais permanente.

BBC: Você poderia nos dar alguns exemplos de compostos que são usados ??hoje e são especialmente preocupantes para você? Fala-se muito sobre os produtos químicos "forever chemicals" ou compostos "eternos" (fluorosurfactantes).

Grimalt: Ao falar de compostos ou contaminantes químicos, devemos diferenciar aqueles que possuem importantes propriedades de estabilidade química. Estes seriam o que se chama de produtos químicos eternos, que são compostos persistentes.

A persistência existe por causa de dois fatores. Primeiro, porque quimicamente as moléculas são muito estáveis. No meio ambiente não há muitas reações que conseguem degradá-las, e a atividade dos organismos, sejam eles bactérias ou organismos superiores, as degrada muito pouco.

A outra propriedade que esses compostos costumam apresentar é serem hidrofóbicos, o que significa que se dissolvem mais em matéria orgânica do que em água. Por isso eles tendem a se acumular em organismos vivos, o que é chamado de bioacumulação. Toda vez que hum corpo bebe ou come algo que os contém, ele os acumula e não os excreta, porque nosso sistema de excreção mais normal é a urina, e eles não são solúveis na urina.

Além disso, na medida em que vamos subindo na cadeia alimentar, os organismos superiores se acumulam cada vez mais porque comem coisas que também continham esses compostos. Isso é o que é chamado de biomagnificação. Mamíferos marinhos, por exemplo, focas, baleias, acumulam mais [compostos] do que peixes. E os peixes que são predadores de outros peixes acumulam mais do que peixes que comem algas e zooplâncton.

BBC: Você pode nos dar um exemplo desses compostos persistentes?

Grimalt: Isso está no DDT. Todos nós carregamos DDT e seus metabólitos em nosso sangue. Mas um composto que me preocupa muito é o mercúrio. Alguns tipos de carvão têm um certo nível de mercúrio e quando grandes quantidades desse carvão são queimadas, isso solta o mercúrio na atmosfera. A partir daí, isso passa para a água e também vai se acumulando em organismos.

Outra fonte de mercúrio é o fato de que em reservas tropicais, tanto na América quanto na África, há pessoas que se dedicam a procurar ouro, e são pessoas muito pobres com técnicas muito primitivas. Uma delas é amalgamar ouro com mercúrio.

BBC: Você pode nos lembrar de quão tóxico é o mercúrio?

Grimalt: Ele é neurotóxico nessas concentrações de que estamos falando, porque afeta tudo — o fígado, os rins. Também leva a deformidades nas crianças quando as mães grávidas são expostas.

Infelizmente, na Baía de Minamata, no Japão, isso foi perfeitamente documentado, porque havia uma indústria que despejava derivados de mercúrio no rio, e esses derivados entravam na cadeia alimentar e nos peixes que os habitantes locais comiam, e isso foi um desastre.

BBC: Quais outras substâncias o preocupam? Muito se fala sobre os microplásticos, que em estudos recentes foram detectados até na placenta humana.

Grimalt: Os microplásticos também são importantes, mas ainda não sabemos quais efeitos eles têm. Mas cuidado, o plástico é uma invenção da humanidade que provou ser muito útil.

O plástico é inerte e a priori não tem nenhum efeito negativo. Se isso acontecesse, estaríamos acabados, porque embalamos comida em plástico e colocamos remédios em nossas veias com tubos de plástico e nada acontece.

Isso não significa dizer que estamos usando de forma correta o plástico.

É preciso investigar quais são os efeitos dos microplásticos na saúde. Mas não é preciso esperar pesquisas para tratar adequadamente os resíduos e as águas urbanas. Já podemos retirar muito plástico do meio ambiente. Por outro lado, com o mercúrio, quando você já o descartou, não existe mais remédio.

BBC: Antes da entrevista, você me disse que "estamos todos participando de uma experiência química global". Por quê?

Grimalt: Digo isso porque estamos jogando muitos compostos no meio ambiente e alguns deles não voltam para nós. Mas a maioria deles sim, e colocamos tudo isso dentro do nosso corpo.

Em outras palavras, pensar que podemos ter uma saúde perfeita quando estamos cercados por água poluída, ar poluído e solo ou alimentos contaminados é uma bobagem.

BBC: E existem possíveis interações desses compostos entre si que ainda são desconhecidas?

Grimalt: Estamos falando de 350 mil compostos. Ainda há muitas coisas para entendermos.

Os compostos persistentes, uma vez ingeridos, como eu disse, permanecem dentro do corpo e começam a fazer efeito. E no caso daqueles que não são persistentes e o corpo os elimina principalmente na urina, se depois que os eliminamos voltamos a comer algo com eles, então estamos sendo sempre expostos.

BBC: Você pode nos dar um exemplo desses compostos não persistentes aos quais podemos estar sendo permanentemente expostos?

Grimalt: Por exemplo, os pesticidas que são usados ??na agricultura em pequenas doses e que voltamos a comer. Ou os bisfenóis que são aditivos plásticos. Existem muitos tipos de plástico que possuem muitos aditivos para modificar as propriedades do polímero ou dar cor. Se esses microplásticos são ingeridos, todos os compostos vão para dentro de nosso corpo.

Se olharmos para os resíduos plásticos em uma praia que não foi limpa, há plásticos de todas as cores e isso já revela que são plásticos diferentes com propriedades diferentes.

BBC: E quem regula todos esses 350 mil compostos? Existe uma organização internacional?

Grimalt: No nível internacional não existe nada. É por isso que nós do mundo científico, os membros do Painel Intergovernamental de Poluição Química, publicamos uma carta na revista Science solicitando um painel internacional para monitorar e aconselhar sobre compostos e resíduos químicos para reduzir a exposição a esses compostos.

BBC: A regulação dos milhares de compostos é feita por cada país?

Grimalt: No nível europeu, existem leis diferentes, como por exemplo o REACH [Registration, Evaluation, Authorisation and Restriction of Chemicals, uma lei da Comunidade Europeia de 2006], mas isso é apenas na Europa. Nos EUA, existe a Agência de Proteção Ambiental (EPA), que também é um órgão de referência em toda essa questão. Mas em muitos outros países, nada é feito. Não existe nada.

Além disso, outra coisa que eu pessoalmente acho uma vergonha é que muitos países desenvolvidos enviam resíduos para países subdesenvolvidos. Já se pode imaginar que o que acontece é que esses resíduos são despejados no meio ambiente ou tratados de forma totalmente inadequada.

Além disso, parte desses resíduos e dos compostos que contidos neles retornarão ao meio ambiente, serão distribuídos por todo o planeta e, portanto, também é do interesse de todos que esse tipo de coisa não aconteça.

BBC: Existem produtos que são proibidos em alguns países europeus, mas são vendidos na América Latina, como os pesticidas chamados neonicotinoides.

Grimalt: O que se tem feito muito é imitar as plantas, que, por não conseguirem se mexer, travam uma guerra química contra os insetos.

O tabaco produz nicotina não para os humanos fumarem, mas para matar insetos, para se defenderem. A nicotina foi tomada e suas moléculas modificadas para produzir derivados de nicotina ainda mais fortes para matar insetos. Com os neonicotinoides, existe a questão de saber se eles estão matando, por exemplo, abelhas.

BBC: Com essa enorme quantidade de compostos no meio ambiente, o que nós consumidores podemos fazer?

Grimalt: No nível do consumidor, certamente podemos fazer coisas. Uma delas é tentar minimizar o uso de plásticos, por exemplo, ir ao mercado com uma cesta ou embrulhar produtos em papel.

Os consumidores também podem reciclar ao máximo, o que facilita a gestão dos resíduos de forma menos poluente.

BBC: E para tentar proteger a saúde?

Grimalt: Nesse caso, é mais difícil de se dizer. Obviamente existem produtos ecológicos ou orgânicos que foram cultivados sem agrotóxicos. Isso também é positivo, mas sinceramente ainda acho que isso precisa ser mais estudado.

BBC: Por quê?

Grimalt: Para verificar se realmente existe um benefício para o consumidor. Se meu vizinho está usando agrotóxicos, não sei até que ponto meus produtos estão contaminados ou não. É importante deixar claro que isso é positivo. Não quero dizer que não é bom. Mas deveria ser mais estudado.

Atualmente existem cerca de 350 mil compostos químicos produzidos pela indústria. Na época de Carson havia cerca de 30 mil

BBC: Voltando agora ao livro de Rachel Carson. Ela alertou que pássaros e outras espécies corriam risco. Mas agora temos a crise do clima e da biodiversidade, com um milhão de espécies em perigo de extinção, segundo a ONU. Qual seria a mensagem de um livro como Primavera Silenciosa hoje?

Grimalt: Primavera Silenciosa foi um sucesso em parte porque os pesticidas que poderiam afetar mais as aves foram alterados. O DDT foi proibido em muitos países e onde ele ainda é usado para combater o mosquito Anopheles, isso é feito para proteger as pessoas. Ele não pode mais ser usado na agricultura.

Agora estamos discutindo outras coisas preocupantes, sobre uma grande diminuição da população de insetos em muitos lugares. E muitos desses insetos são polinizadores. Eles são necessários para as plantações, para que as plantas se reproduzam. O fato de haver muito menos insetos é preocupante. Eu diria que devemos passar da preocupação com os pássaros para a preocupação com os insetos, especialmente aqueles que vão de flor em flor — os voadores. E isso tem muito a ver com o uso de agrotóxicos.

BBC: É o que você estava falando sobre as abelhas...

Grimalt: As abelhas e todos. Lembro que quando pegava meu carro há vinte anos aqui na Catalunha ficava com a janela do carro cheia de insetos mortos. Hoje em dia há bem menos. Isso é uma observação pessoal. Mas se você ler artigos publicados em revistas científicas onde o nível de insetos em muitas áreas florestais foi monitorado, verá que houve uma queda.

BBC: Antes de terminar, eu queria perguntar sobre a figura de Carson. Ela escreveu seu livro quando lutava contra um câncer que tirou sua vida dois anos depois. Para você, pessoalmente, o que significa a figura de Carson?

Grimalt: Acho que Carson foi uma daquelas pessoas que tem uma visão que vai além do dia a dia de todos nós aqui no planeta. Ela percebeu o perigo do uso indiscriminado de agrotóxicos em geral e especificamente do DDT, quando todos estavam convencidos de que o DDT era uma coisa muito boa.

Em grande parte, o movimento ambientalista começou a partir da repercussão do livro de Carson, porque ela sugeriu que um dia poderá haver silêncio na primavera porque teremos matado todos os pássaros.

Naquela época, parecia que a natureza era imensamente poderosa diante da atividade humana. Mais tarde foi visto que não é bem assim. Agora somos muitos, temos muita atividade e o que estamos vendo é que a natureza é como se fosse um jardim, que se não cuidarmos, acabaremos destruindo.

Talvez, graças a Carson, muitas espécies de pássaros foram salvas. E o trabalho não acabou, porque temos que nos preocupar com insetos voadores.

BBC: Você fala de Carson como uma visionária. Você também destacaria sua grande determinação? Porque ela foi constantemente alvo de representantes da indústria de agrotóxicos.

Grimalt: Claro que sim. O mais fácil é tentar destruir a pessoa em vez de discutir as ideias que ela traz e ver se estão corretas ou não. Carson foi uma mulher super corajosa porque enfrentou todo status quo dos EUA. Por trás da fabricação de pesticidas e inseticidas, há muitos interesses econômicos. Muitas empresas se viram ameaçadas e pagaram a outras pessoas para que a atacassem.

E, além disso, ela sofreu com tudo isso quando estava com câncer, o que torna tudo muito mais doloroso e difícil. Porque estar bem de saúde não é o mesmo que estar muito doente e morrendo — na época, o câncer era praticamente uma sentença de morte — e ela tinha que se defender e continuar mantendo suas ideias. Eu acho que nesse sentido Carson é uma figura de referência mundial.

BBC: Você recomenda a leitura de Primavera Silenciosa para as novas gerações?

Grimalt: Claro que sim. Foi a primeira vez em que se disse que podemos causar um impacto irreversível na natureza.

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"Amigo é coisa para se guardar  debaixo de sete chaves dentro do coração assim falava a canção que na América ouviu Mas quem cantava chorou ao ver o seu amigo partir...Mas quem ficou, no pensamento voou com seu canto que o outro lembrou e quem voou, no pensamento ficou com a lembrança que o outro cantou"...

Já são cinco anos de tua ausência física. A sanfona, triangulo e zabumba continuam a lembrar que desafinados cantávamos. Cantar para viver a arte da fé e de ser Feliz. Sorrir para jamais perder a esperança. Cantar para afirmar que Luiz Gonzaga é Mestre do Baião, Xote, Forró Sanfonado! 

E na curva da estrada eu escutava sempre o homem/alegria criança dizer assim: Poeta Amigo Jornalista Vitalino, Ney Vital,  estamos chegando em Exu, Pernambuco. Aumenta o som: Viva a Fazenda Araripe. Meu Araripe, meu relicário eu vim aqui rever meu pé de serra Beijar a minha terra Festejar seu centenário Sejam bem vindos os filhos de Januário para o centenário do Araripe festejar...

E numa madrugada, 15 de outubro de 2017, veio o silêncio: "Eu vi a Morte, a moça Caetana, com o Manto negro, rubro e amarelo. Vi o inocente olhar, puro e perverso, e os dentes de Coral da desumana...vi asas deslumbrantes que, rufiando nas pedras do Sertão, pairavam sobre Urtigas causticantes, caules de prata, espinhos estrelados..." Não era sonho assim me disse o Poeta Ariano Suassuna.

Assim eu vi, juro que vi a Moça Caetana levando Anésio Lino de Souza Neto Tintas...e ele foi com o sorriso e braços abertos. E partiu assim...Nas asas do Pensamento uma lágrima. Petrolina, Garanhuns, Barbalha-Ceará, Juazeiro do Padim Ciço, Serrita-Missa do Vaqueiro, Feira de Caruaru, Paraíba-Campina Grande, rua Indio Cariris são cidades sonhos que choram tua saudade. E o Riacho do Navio onde nós e Italo/Abilio/Icaro pareciamos meninos a brincar de atravessar pontes e cantar...e o nosso relicário-Fazenda Araripe centenário festeja. E a hora mágica quando na Igreja do Araripe às 18 horas rezávamos Ave Maria.

Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum...Perdoe-me Pai Criador. Morrer tem seu sentido...as escrituras sagradas afirmam que sim: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. 

É assim que Penso: Anésio Lino de Souza-Neto Tintas fez a grande viagem. Foi colorir os céus do Sertão da Eternidade e em algum lugar está garantindo mais Felicidades e sorrisos na vida dos amigos...e tornando mais belo a razão de viver...e de haver estrelas...

Ney Vital é jornalista. Colaborador da RedeGn. Técnico em Agroecologia

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MÍDIA E DEMOCRACIA: VI SEMANA DE JORNALISMO DO CARIRI CEARENSE COMEÇA NA TERÇA (18)

A VI Semana de Jornalismo do Cariri Cearense, evento promovido pelo curso de Jornalismo da Universidade Federal do Cariri (UFCA) tem como tema “Mídia e Democracia” e volta a ser realizado de modo presencial no Campus Central da instituição, em Juazeiro do Norte, entre dias 18 e 21 deste mês. 

As inscrições são gratuitas e podem ser feitas através deste link até o dia 16. Os participantes receberão certificado emitido pela UFCA.

Assim como nas outras edições, o evento contará com oficinas, mesas redondas, e programação cultural. Maior evento do gênero realizado no interior do Ceará, a Semana de Jornalismo do Cariri tem contado com participação de estudantes, jornalistas profissionais, pesquisadores e professores de Jornalismo de diferentes partes do país. 

“Este é um ano eleitoral, que tem sido marcado por diversos episódios de violência e intolerância política. A semana de Jornalismo vai discutir a relação entre mídia e democracia, tendo como pano de fundo este cenário de polarização e ameaças às instituições democráticas”, explica o professor do curso de Jornalismo da UFCA, Edwin Carvalho, da Comissão Organizadora do evento.  

A poucas semanas para a realização do segundo turno das eleições, as autoridades temem pela escalada de casos de homicídios e atos de violência por motivações políticas. Levantamento realizado pelo Estadão aponta que o Brasil registrou 26 casos de assassinatos por motivações políticas no primeiro turno das eleições, sendo três deles no Estado do Ceará. O número chama atenção por já demonstrar ser maior do que o registrado em quatro campanhas presidenciais desde a redemocratização.

Entre os convidados que confirmaram presença na edição deste ano da Semana de Jornalismo promovida pela UFCA estão a presidente da Rede Nacional de Combate à Desinformação, Ana Regina Rêgo, autora do livro o livro “A Construção Intencional da Ignorância: o mercado das informações falsas” e a jornalista e professora Fabiana Moraes, que vai lançar no evento seu livro “A pauta é uma Arma de Combate”.

Programação 

Terça-feira, 18 de outubro Oficina (20 vagas) – Encontro das revistas “Corte Seco” e “Memórias Kariri”, e do livro “Quantas histórias cabem dentro da Tarrafa?” Horário: das 14h às 16h

Ministrantes: Bolsistas das revistas do curso de Jornalismo e Wesley Guilherme, egresso do curso de Jornalismo da UFCA e autor do livro “Quantas histórias cabem dentro da Tarrafa?”

Mesa-redonda – Mídia e Democracia

Horário: das 18h30 às 21h30

Convidadas: Helena Martins, doutora em Comunicação Social pela Universidade de Brasília (UnB); Ana Regina Rêgo, doutora em Processos Comunicacionais pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp); e Tamiris Tinti Volcean, mestre em comunicação midiática pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Mediadora: Lígia Rodrigues, professora do curso de jornalismo da UFCA

Quarta-feira, 19 de outubro Oficina (20 vagas) – Procedimentos de segurança para o jornalismo investigativo

Horário: das 14h às 16h

Ministrante: Rafael Mesquita, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Ceará (Sindjorce)

Mesa-redonda – Jornalismo Político: fronteiras e questões éticas

Horário: das 18h30 às 21h30

Convidados: Rafael Mesquita, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Ceará (Sindjorce); Érico Firmino, jornalista, colunista e editor no jornal O Povo; Luciana Fernandes Veiga, doutora em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (vinculado à Universidade Estadual do Rio de Janeiro) Mediador: Edwin Carvalho, professor do curso de Jornalismo da UFCA 

Quinta-feira, 20 de outubro Oficina (20 vagas) – Escritas afetivas: jornalismos popular e literário

Horário: das 16h às 18h Ministrante: Luan Matheus Santana, mestre em Comunicação Social pela Universidade Federal do Piauí (UFPI)

Mesa-redonda – Perseguição, violência e ataques à libertação de expressão

Horário: das 18h30 às 21h30

Convidados: Raimundo Nonato de Lima, mestre em Linguística pela Universidade Federal do Ceará (UFC); Filipe Roloff, mestre em Design Estratégico e Inovação Social pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) Mediadora: Elane Abreu, professora do curso de Jornalismo da UFCA

Sexta-feira, 21 de outubro Oficina (20 vagas) – Produção de Pauta Horário: das 14h às 16h Ministrante: Fabiana Moraes, jornalista e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) 

Oficina (20 vagas) – Curadoria como prática política Horário: das 16h às 18h

Ministrante: Moacir dos Anjos, ex-diretor do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), em Recife-PE

Mesa-redonda – Papel e atuação da imprensa no processo eleitoral

Horário: das 18h30 às 21h30

Convidados: Fabiana Moraes, jornalista e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); Luan de Alencar Maciel, advogado e apresentador do “Budejo” podcast.

Mediador: Tiago Coutinho, professor do curso de jornalismo da UFCA


  

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ECONOMIA DO COURO MOVIMENTA MUNICÍPIOS DO SERTÃO BAIANO

A cultura dos vaqueiros está presente na literatura de cordel, que traz orgulho e coragem para enfrentar os desafios desta profissão no sertão da Bahia.

Assim como o cordel, que passa por diferentes gerações, o ciclo do couro reforça os laços desta tradição por meio dos artesãos e movimenta a economia nos municípios baianos.

Em Uauá, o cordel faz parte da família do vaqueiro aposentado Jaime Ribeiro. Ele foi alfabetizado por meio dos versos e é casado com Fátima, que é cordelista. A filha deles Erica, que prefere ser chamada de Pok, seguiu os passos dos pais e é poetisa. Já o genro Heitor Rodrigues fez um livro em homenagem aos vaqueiros.

Os artesãos também são responsáveis por transmitir os saberes populares e movimentam a economia. Em Jaguarari, por exemplo, ficam os responsáveis por fazer a maioria das peças de couro na região.

Já os artesãos Josino Duarte e o filho Pedro Borges trabalham no quintal de casa e fazem o uniforme completo do vaqueiro. Na mesma região, José Alves é o único a fazer selas de cavalo. Ele aprendeu o ofício com o pai e, por não conseguir passar o conhecimento para outras pessoas, suas criações correm o risco de virar objetos de colecionador.

Para preservar essa riqueza cultural, o historiador Danilo Rodrigues, que é neto de vaqueiro, idealizou o Museu do Vaqueiro. Com mais de 2 mil peças, o espaço tem como objetivo estimular os mais jovens a fazer parte dessa história e passar o conhecimento para as futuras gerações.

HISTÓRIA: Jaguarari: A saga de Danilo Rodrigues pela memória dos Vaqueiros. ano passado, Otávio Duarte, escreveu reportagem para a Agência Multiciência/Uneb. Confira:

Danilo Rodrigues da Silva, 35 anos, conta que, quando criança, costumava brincar com os utensílios de gado, montaria, talheres e moedas antigas que o seu avô guardava dentro de um baú, na Fazenda Bandeira, a 15 quilômetros de Santa Rosa de Lima, distrito de Jaguarari, na Bahia.

- Foram objetos que me chamaram a atenção e naturalmente eu comecei a brincar com essas coisas. E meu avô sempre me chamava atenção para ter cuidado, para guardar, para não jogar fora, por que eram dos pais dele.

Abençoado pela santa peruana, padroeira do distrito, o menino passou a guardar todos os objetos antigos que encontrava pela frente. Até que aos 11 anos, o colégio em que o garoto estudava foi convidado para montar um espaço que contasse a história do lugarejo em uma mostra cultural no aniversário de emancipação política do município. Era tudo que Danilo precisava para exibir as peças que guardava.

Empolgado, o moleque saiu em busca de mais objetos que pudessem ser exibidos na amostra. Aquele momento foi mágico para Danilo: “Um divisor de águas”. A cada visita que era realizada no espaço da amostra, o garoto alimentava o sonho de buscar artefatos antigos para a sua coleção.

A saga do menino não parava por aí. Montado a cavalo, Danilo percorreu mais de 80 fazendas na expectativa de encontrar peças históricas. Hoje, são mais de duas décadas dedicadas a salvar esses valores materiais que remontam a história e a memória de um povo através do Museu do Vaqueiro, em Santa Rosa de Lima.

HISTÓRIA DO DISTRITO: O povoado passou a ser conhecido como Santa Rosa graças a um padre que seguia em romaria pela região e, ao saber que o local ainda não tinha nome, o batizou em homenagem à santa peruana.

No passado, o arraial servia como ponto de parada entre tropeiros e marchantes que saíam de Vila Nova da Rainha, atual Senhor do Bonfim, para comercializar a carne de bode em Uauá, na Bahia.

O vilarejo foi crescendo quando as famílias e os vaqueiros da região passaram a perceber a importância do local e o rico comércio com a venda da carne de bode, dando início à tradicional Feira do Bode e reduzindo em léguas a distância dos marchantes até Uauá.

O distrito está localizado em um ponto estratégico da caatinga. Por apresentar grandes reservatórios naturais, conhecidos como caldeirões de pedra, com animais da fauna nordestina que favorecerem a caça, e a presença dos ouricurizeiros e umbuzeiros, formaram um ambiente favorável para a habitação humana no local.

O arraial se tornou povoado e, por volta de 1924, iniciaram a construção de uma capela e um morador encomendou uma imagem da Santa Rosa de Lima, que chegou no dia 30 de agosto de 1926. E de lá para cá sempre acontece o novenário dedicado à santa durante a semana que antecede essa data histórica, relata Danilo.

 TRAJETÓRIA: Após passar uma temporada em São Paulo, Danilo deixou a metrópole em 2010 para retornar à Santa Rosa de Lima após receber um convite da recém-criada Associação dos Vaqueiros para fazer parte dela. Danilo sabia que aquele retorno à sua terra era um chamado para dar continuidade ao seu trabalho. O rapaz apresentou o seu projeto à comunidade, e em troca recebeu dos moradores o apoio que precisava através das doações de móveis, documentos, fotografias e outros artefatos para contribuir com o acervo.

Hoje, o adulto com alma de menino, conta que enfim recebeu o reconhecimento merecido pelo distrito, mas não se esquece dos momentos em que sofreu preconceito ainda na adolescência por seguir buscando relíquias que ajudassem a contar a história do seu povo, que chegaram a questionar a saúde mental do jovem.

Na minha ingenuidade, sentia essa sagacidade de conseguir esses objetos antigos, mas comecei a perceber como estava sendo algo de chacota, de muitas críticas.  Em alguns momentos, não sabia lidar com aquela situação e me deprimia, me entristecia e me recolhia. E a única forma que eu encontrava de sair daquele estado de tristeza momentânea era voltar a essas fazendas, ter contato com essas pessoas, era ouvir as histórias deles e perceber toda a importância que possui o nosso povo sertanejo e quantas histórias e memórias nós temos para serem contadas e salvaguardadas.

PEÇAS DO ACERVO: Pelo desejo de contar a história de sua origem, Danilo saiu do distrito em 2015, e foi até Petrolina realizar um sonho. O rapaz pisou pela primeira vez na Universidade de Pernambuco (UPE) para cursar História, e agora comemora a conclusão da graduação.

 “Ter contato com a teoria, ter contato com tantas fontes, que já tratavam desses assuntos como antropologia, arqueologia, história... Foi algo a me agregar, me veio como uma luva. Estar na sua comunidade desenvolvendo um trabalho museológico e de repente você está dentro de uma universidade fazendo uma faculdade de história, é algo gratificante,” exalta Danilo.

O MUSEU: Aos poucos, o sonho de Danilo ganhava forma, mas o jovem não esperava a luta que viria a traçar pela frente para manter viva a história dos vaqueiros e do distrito através do seu acervo. 

“Fizemos um ofício solicitando a doação do prédio à Câmara Municipal, e a partir desse momento foi uma luta constante para convencer os gestores municipais sobre a importância dessa luta. Nós conseguimos a doação por parte do poder público, e foi criada uma lei sancionada pelo prefeito na época, e assim nós tomamos posse definitivamente do prédio. Agora, funciona o museu.” relata Danilo.

O antigo Mercado Municipal, espaço cedido pela prefeitura para abrigar as peças do museu.

O prédio do qual o historiador se refere já abrigou o antigo Mercado Municipal do distrito e foi fechado, após a Vigilância Sanitária declarar o local inapropriado para a venda de produtos. Através da Lei Nº 868/2013 de 10 de dezembro de 2013, o prédio foi concedido para a Associação dos Vaqueiros por um prazo de 30 anos, cabendo prorrogação da concessão. 

De lá para cá, Danilo procura mostrar ao poder público a importância da cultura do vaqueiro e da região através do museu. Agora, o local passa por uma reforma para melhorar a estrutura do espaço que já se encontra desgastada ou deteriorada pela ação do tempo. O historiador conseguiu arrecadar verbas de empresas privadas e de pessoas que se surpreenderam com o projeto, recebendo em troca doações para a conclusão da obra.

 Com o olhar historiador, mas sem o aparato técnico de uma equipe, Danilo enxerga que as duas mil peças que fazem parte do acervo, número suposto por ele, ajudam a contar a história da região.

No museu encontra-se objetos mais antigos que vão desde fósseis pré-históricos encontrados aqui em Santa Rosa, temos um acervo arqueológico, tem algumas peças e artefatos que possivelmente pertenceram à algumas civilizações que moraram ou passaram algum tempo aqui na nossa região, material bélico, material documental, material sacro e iconográfico, e imobiliário. 

No caso do material paleontológico e arqueológico, nós ainda não temos nenhum tipo de fundamentação teórica e científica sobre a temporalidade. No caso dos fósseis, sobre quais tempos esses animais povoaram aqui por Santa Rosa e quais animais foram esses, assim como utensílios arqueológicos. E comparando a outros que já tenham feito essas pesquisas, são machadinhas possivelmente do Período Neolítico, mas são fundamentações que ainda não são comprovadas - conta o historiador.

Danilo, agora com a graduação concluída, espera conseguir lutar ainda mais pelo seu sonho, de manter a tradição dos vaqueiros do distrito através do museu.

Para conhecer mais sobre Danilo Rodrigues e o Museu Do Vaqueiro, acesse o instagram @danilorodrigues7802 ou @museudovaqueiro_


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