UM MÊS APÓS REINTRODUÇÃO NO SERTÃO BAIANO, ESPECIALISTAS FALAM SOBRE VOLTA DAS ARARINHAS AZUIS

Um mês depois das ararinhas-azuis voltarem ao céu de Curaçá, a reintrodução desses animais à natureza é considerada bem-sucedida pelos especialistas que acompanham de perto essa adaptação. A ave rara e endêmica da região ficou há mais de duas décadas extintas da natureza.

No Alto dos Morros, no meio da Caatinga, pesquisadores e brigadistas do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (Icmbio) estão de olho em oito ararinhas-azuis spixii que foram soltas em 11 de junho deste ano, no sertão baiano. Trabalho que resultou de uma parceria com uma ONG alemã.

Eles também monitoram sinais de rádio emitidos por equipamentos presos no corpo das aves, as primeiras a ganhar a liberdade depois que a espécie foi considerada extinta na natureza, há 22 anos.

"Nós conseguimos registrar qual é o comportamento de cada indivíduo ou do grupo, se ele está se alimentando, se ele tá buscando algum recurso que tá no ambiente, como água de riacho ou alimento disponível ali na área e material também para a construção de ninho", disse a pesquisadora do Icmbio, Ariane Ferreira.

A caraibeira é uma das árvores preferidas da ararinha-azul para fazer o ninho. É uma árvore da beira dos riachos, uma das mais altas da caatinga, algumas chegam a vinte metros de altura.

O casal de ararinhas, que fica junto a vida inteira, geralmente escolhe os galhos mais altos. No local elas se reproduzem e também se alimentam. O fruto da caraibeira é um banquete para as aves.

As ararinhas também gostam muito das sementes de árvores como o pinhão e a favela. As aves, que nasceram em cativeiro na Alemanha, ainda preferem ficar perto do viveiro, onde se sentem seguras, mas algumas já arriscam voos maiores na unidade de conservação criada para elas.

É uma área equivalente a 120 mil campos de futebol na zona rural de Curaçá, sertão da Bahia, o único lugar no mundo onde ela existe. Os moradores da região se tornaram parceiros na tarefa difícil de proteger as ararinhas.

A aposentada Lídia Rosa avisou os pesquisadores quando viu um grupo de ararinhas na fazenda dela, algo que não acontecia havia mais de 20 anos.

"Faço questão de ajudar. É uma ave que já foi daqui da nossa região, e agora elas voltarem de novo para nossa região é muito importante", contou.

A dona de casa Liete de Araújo ouviu o canto de um pássaro no telhado, e, para surpresa dela, era uma ararinha. A ave foi resgatada depois de nove dias desaparecida. Como agradecimento, os pesquisadores deram a ela o nome da moradora.

"Eu nunca imaginei que tivesse meu nome aí na ararinha. Eu desejo que ela seja muito feliz e viva muito aqui no nosso convívio e nada aconteça com ela", afirmou a baiana.

O brigadista Anthony Pietro Martins, que só tinha ouvido falar das ararinhas, agora ajuda a proteger a espécie, seguindo o exemplo do avô.

"Quando eu vi as ararinhas pela primeira vez, eu relembrei todas as histórias que meu avô contava para mim, e eu fiquei bastante feliz de poder estar trabalhando com o que ele fez no passado".

Por Mauro Anchieta, Joyce Guirra e Lílian Marques, Jornal Nacional


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BRASIL CONTINUA CELEBRANDO OS 33 ANOS DE MORTE DE LUIZ GONZAGA, SANFONEIRO QUE CANTOU O NORDESTE E ENCANTA O BRASIL

Luiz Gonzaga do Nascimento, o menino da cidade de Exu, na Serra do Araripe, no Sertão Pernambucano, cantou o Nordeste e encantou o Brasil com  gêneros musicais como a toada, o xaxado, o baião e o xote. 

A data do seu nascimento, 13 de dezembro, foi celebrado o Dia Nacional do Forró e “Asa Branca”,  música composta em parceria com Humberto Teixeira, 75 anos, fez-se o hino da identidade musical nordestina.

Na terça-feira (2), completou 33 anos sem Gonzagão e o artista teve diversas homenagens pelo Brasil afora. Numa delas a Rádio Tupi, Rio de Janeiro destacou a importância da voz e sanfona de Luiz Gonzaga para o cenário da música brasileira.

O cantor, compositor e instrumentista brasileiro, filho de Gonzaguinha e neto de Luiz Gonzaga, Daniel Gonzaga, falou com orgulho do legado do avô. Saudar Luiz Gonzaga é saudar a Música Popular Brasileira em toda a sua beleza. O cantor Fagner e a cantora Anastácia também celebraram o Rei do Baião.

Tato, vocalista da banda Falamansa, disse que conheceu a obra do Rei do Baião ainda criança, nos festejos juninos.

O jornalista e radialista, Carlos Henrique Oliveira, ressaltou o pioneirismo de Luiz Gonzaga.

RÁDIO:  Segundo o crítico Ricardo Cravo Albin, Luiz Gonzaga não era “só o melhor entre todos os cantores de alma sertaneja, mas também o mais importante cantor-músico-compositor que o Nordeste já produziu”. "Gênio", que Cravo Albin compara a Ary Barroso, Pixinguinha, Tom Jobim ou Chico Buarque.

Não foi fácil a vida de Luiz Gonzaga do Nascimento até ser aceito pelo público e pela crítica. O músico nasceu no dia 13 de dezembro de 1912, na cidade de Exu, Pernambuco. Para sobreviver, passava o chapéu para arrecadar uns trocados nos bares da zona do baixo meretrício depois de tocar as músicas sertanejas que aprendeu com os amigos do Exército.

Em 1940, no Rio de Janeiro, procurou uma oportunidade nos programas de calouros. Na primeira vez, foi reprovado no Calouros em Desfile, de Ary Barroso, na Rádio Tupi, e no programa Papel Carbono, de Renato Murce, na Rádio Clube.

Até que, um dia, no Bar Cidade Nova, no Mangue, estudantes cearenses pediram que ele tocasse música nordestina. Voltou para seu humilde quarto para ensaiar e passou a se lembrar dos velhos ritmos nordestinos. Outra vez, no bar, um fato inesperado aconteceu. Juntou gente da rua para ouvir a música "Vira e mexe". O bar ficou lotado.

Ao se apresentar novamente no programa Calouros em Desfile, obteve a nota máxima, 5, raramente dada a alguém pelo exigente Ary Barroso.

Luiz Gonzaga se inspirou no gaúcho Pedro Raimundo, um sujeito alegre, que se apresentava como sulista no rádio. Decidiu imitá-lo, na Rádio Nacional.  Apresentou a novidade, foi aceito, mas o figurino do Nordeste foi rejeitado. O diretor Floriano Faissal disse que ali não era “casa de cangaceiro”. O artista teria que vestir um summer, traje formal que não tinha nada a ver com a sua música. Aos poucos, porém, os dirigentes e apresentadores das emissoras se acostumaram com o traje e com o fato de Luiz Gonzaga ter abandonado as valsas, os tangos e os foxtrotes, que apresentava anteriormente. Seu jeito de cantar foi aceito aos poucos, com muita luta para vencer os preconceitos.

Em 1943, Luiz Gonzaga assinou o primeiro contrato para atuar fora do Rio de Janeiro, fazendo uma temporada no Cassino Ahu, em Curitiba. Começou a ser chamado de “o maior acordeonista do Brasil”. Nesse ano também ganhou o apelido "Maior Sanfoneiro Nordestino”, dado pelo então jovem radialista César de Alencar.

Luiz Gonzaga se consagrou como um dos mais talentosos intérpretes da música popular brasileira. Ele morreu no dia 2 de agosto de 1989, no Recife, aos 76 anos.

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JOQUINHA GONZAGA E FAUSTO "PILOTO" LUIZ MACIEL, OS SOBRINHOS DE LUIZ GONZAGA E NETOS DE JANUÁRIO

João Januário Maciel, o sanfoneiro Joquinha Gonzaga e Fausto Luiz Maciel, conhecido por Piloto são hoje dois descendentes vivos da família Januário e Santana. Joquinha Gonzaga e Piloto são da terceira geração da família. Todas as irmãs e irmãos de Luiz Gonzaga já morreram.

Nesta terça-feira, 02 de agosto, o coração dos sobrinhos de Luiz Gonzaga e neto de Januário, o tocador de sanfona de 8 baixos, batem no ritmo dos 33 anos de saudades, desde que o sanfoneiro partiu na madrugada de 1989.

Joquinha nasceu no dia 01 de abril de 1952, filho de Raimunda Januário (Dona Muniz, segunda irmã de Luiz Gonzaga) e João Francisco Maciel. Joquinha Gonzaga é o mais legítimo representante da arte de Luiz Gonzaga. Mora em Exu, Pernambuco.

"Sempre estou contando histórias, músicas de meu tio, músicas minhas, dos meus colegas. Não fujo da minha tradição, das minhas características, que é o forró, o xote, o baião. Eu procuro sempre dar uma satisfação ao público que tem uma admiração à minha família, Luiz Gonzaga, Zé Gonzaga, Severino, Chiquinha, Daniel Gonzaga, Gonzaguinha. Meu estilo musical não pode ser diferente. É gonzagueano", diz Joquinha.

Joquinha é o nome artístico dado pelo Rei do Baião e filho de Muniz, segundo Luiz Gonzaga irmã que herdou o dom de rezar muito.

Joquinha aos 12 anos ganhou uma sanfona de oito baixos, o famoso pé de bode.

O sanfoneiro conta que quando completou 23 anos, começou a viajar com Luiz Gonzaga e foi aprendendo, conhecendo o Brasil inteiro. "Ele não só me incentivou, como também me educou como homem. Era uma pessoa muito exigente, gostava muito de cobrar da gente pelo bom comportamento. Sempre procurando ensinar o caminho certo. Tudo que ele aprendeu foi com o mundo e assim eu fui aprendendo", revela Joquinha.

Luiz Gonzaga declarou em público que Joquinha é o seguidor cultural da Família Gonzaga. O primeiro LP-disco Joquinha Gonzaga gravou foi -Forró Cheiro e Chamego. Gravou com Luiz Gonzaga "Dá licença prá mais um".

Em 1998 Joquinha Gonzaga participou da homenagem "Tributo a Luiz Gonzaga", em Nova York, no Lincoln Center Festival.

Ninguém conhece melhor o artista do que os músicos que o acompanham. São eles que vivem o dia a dia, enfrentam os bons e maus humores do artista.

Imaginem então, o músico sendo um sobrinho. Fausto Luiz Maciel é irmão de Joquinha. É um desses músicos privilegiados que conviveu dia a dia os mistérios do Rei do Baião.

Piloto começou a acompanhar o tio Luiz Gonzaga no ano de 1975. Bom ritmista, tocou zabumba e sua primeira gravação com o tio foi no disco Capim Novo, em 1976. Participou de inúmeros trabalhos e viagens lado a lado com Luiz Gonzaga como zabumbeiro, motorista e secretário.

A partir de 1980 seguiu acompanhando Luiz Gonzaga em todos os seus trabalhos, até o ano de seu falecimento, em 1989. Piloto atualmente mora em Petrolina Pernambuco.

O zabumbeiro é irmão de Joquinha Gonzaga, cantor e sanfoneiro, que também acompanhou o tio nas andanças por este Brasil afora.

Piloto conta que conheceu todos os grandes cantores da época, citando Jackson do Pandeiro, Ari Lobo, Abdias, Sivuca, Dominguinhos, Lindu e Marines.  Teve momentos de muitos aprendizados e viu muitos fatos e acontecimentos na carreira do tio, Luiz Gonzaga.  “A gente brigava muito. Eu era perguntador e ele respondão. Com tio Gonzaga não tinha por favor. Era mandão mesmo".

Quando ia gravar um dos últimos discos, eu quis viajar logo para o Rio de Janeiro  com ele, que me pediu que ficasse em Exu, quando precisasse, mandava a passagem e eu iria. Avisei que fizesse isto com antecedência, porque não ia às pressas. E foi o que aconteceu. João Silva me ligou dizendo para eu pegar o ônibus que a gravação ia começar tal dia. Estava muito em cima, respondi que eu não iria. E não fui”. 

Revela hoje que os arroubos faziam parte da idade e uma certa imaturidade e dificuldade de compreender o humor do tio, que "pela manhã estava feliz, no meio dia calado e á noite ninguém perguntasse duas vezes". "Mas houve momentos de muitos abraços e declarações de amor. Bons momentos de felicidades".

Piloto conta que Mais do que somente historias das andanças do Rei do Baião, o que se revela e até hoje é um mistério: Luiz Gonzaga era complexo, de mudança bruscas de temperamento, centralizador, sempre, autoritário quase sempre,  mas que em certos momentos podia ser inesperadamente humilde e gentil. "Gilberto Gil disse que os gênios são assim, e isto revela o ser humano que era meu tio Luiz Gonzaga. Um gênio".

O jornalista José Teles, escreveu, que de todos os que trabalharam com Luiz Gonzaga, Piloto foi o único que não aguentava em silêncio os arroubos de mau humor do tio.

Motorista e zabumbeiro, Piloto foi também empresário de Luiz Gonzaga. Ele afirma que durante os anos que conviveu com Gonzagão testemunhou “coisas incríveis”; “Ele foi mal assessorado quase a carreira toda. Os amigos se aproveitavam. Ele não tinha visão de dinheiro. Às vezes fazia show em clube lotado, e o empresário dizia que deu prejuízo. Quando Gonzaguinha assumiu a carreira dele, tio Gonzaga teve sua fase de profissional. Passou a receber cachê adiantado. 

Mas, conta Piloto, ele, o tio,  até aí ele não podia, por exemplo, ver um circo. Parava e fazia o show dividindo a renda com o dono, as vezes dava toda renda, quando o circo estava com muita dificuldade. Uma vez cismou de comprar uma Kombi a álcool, ninguém conseguiu convencer ele sobre as desvantagens, da instabilidade, nada. Quando ele queria, tinha que ser. E assim foi”. (Texto jornalista Ney Vital)

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LUIZ GONZAGA, ALMA MUSICAL DO BRASIL

Eu tinha umas asas brancas, asas que um anjo me deu, que, em me eu cansando da terra, batia-as e voava ao céu". *Almeida Garrett

Luiz Gonzaga não precisou, como Almeida Garrett, que um anjo lhe desse asas. Ele confeccionou sua própria Asa Branca e com ela fez uma ponte entre" a Terra e a eternidade.

Voou para o céu. E lá, a esta altura, já deve ter localizado o Nordeste do infinito, substituindo as harpas por sanfonas nos coros celestiais, hinos novos de louvor a Deus.

Pernambucano? Nordestino? Ou simplesmente brasileiro? De ponta a ponta o ,Brasil se orgulha de seu filho e o inclui entre os gênios que melhor souberam interpretar e traduzir sua alma. O País todo chorou sua morte e exaltou sua glória. Brasileiro de Pernambuco - Estado que ouviu seu primeiro balido e lhe absorveu o último suspiro -, Luiz Gonzaga é intrinsecamente telúrico. 

Grandes cantores e compositores nordestinos, que ganharam fama além-fronteiras, ficaram contidos ao círculo de sua vivência. Caymi, tão perto do mar, e toda uma geração dos chamados "baianos" são exemplos.

Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, foi o nordeste universalizado. Cantou o mar, a caatinga, a mata e o sertão com a mesma força telúrica. A música teluricamente nordestina de Luiz Gonzaga, antecipadamente precursora da música popular brasileira, é assim algo que, embora não possa ser entendida como música engajada, "uma denúncia de protesto"; é, contudo, politicamente comprometidacom a busca da solução regional nordestina, com o perseguir para o nosso País de um desenvolvimento nacional mais homogêneo - sem distorções; mais orgânico, menos injusto. portanto.

Pois é evidente que se quiseRnos resolver a questão do desenvolvimento do País, precisamos encontrar respostas para os desafios regionais.

O Brasil não é um só, singular; é múltiplo, multirregional. "A unidade brasileira", lembra Gilberto Freyre, é do que se nutre para ser O espantoso fenômeno sócio-ecológico que é: da diversidade de regiões do Brasil no plural que se interpenetram. completando-se no Brasil, no Brasil singular".

Gonzaga era um telúrico sem ser provinciano, pois o telurismo é manter-se preso às circunstâncias locais sem perder a visão das questões nacionais ou até internacionais. Tampouco se pode confundir telurismo, regionalismo com separatismo, pois isso seria negar a grande aspiração à unidade nacional que pressupõe a integração inter-regional.

Luiz Gonzaga, que cantou as alegrias e o sofrimento de sua gente, em ritmos até então desconhecidos, tinha exata consciência de que "o homem nasce para a sociedade e tem deveres para com os seus semelliantes", como entendeu outro visionário da causa regional, Frei Joaquim do Amor Divino Caneca.

Sua sensibilidade para com os problemas sociais era enorne, sobretudo nas músicas em parceria com Zé Dantas. A sua música, se não pode ser classificada como "de protesto", é prenhe de inconformismo, do abandono a que ainda hoje está sujeita pelo menos um terço da população brasileira mormente a que vive no chamado semi-árido, para usar expressão redescoberta pelos tecnocratas, ou no polígono das secas, no jargão do legislador.

Por isso não estaria exagerando se dissesse que, embora Gonzaga não tivesse militantemente exercido atividade política ou partidária, foi um político na ampla acepção do termo. Política bem  o sabemos, é a realização de objetivos coletivos e não se efetua apenas através dos partidos políticos ou, sequer, através do exercício de cargos póblicos, que ele nunca os teve.

Política, dilucida com propriedade Alceu de Amoroso Lima, é saber, virtude e arte do bem comum.

Não foi graças a sua voz que o drama nordestino, especialmente das secas e estiagens, adquiriu uma consciência nacional e transfornou-se em questão a exigir atenção e atuação do poder central?

A seca. como é notório, não é um fenômeno novo, mas, recorde-se, a música de Gonzaga ajuda a convertê-la em desafio para os governantes.

Bem antes dele, Euclides da Cunha, no início do século, enfatizara:

"As secas do extremo norte delatam, impressionadoramente, a nossa imprevidencia, embora sejam o único fato de toda a nossa vida nacional ao qual se possa aplicar o princípio da previsão."

E prossegue:Faz-se mister que este problema urgentíssimo, as secas, seja um motivo para que demos maior impulso a uma tarefa, que é o mais belo ideal da nossa engenharia neste século: a defInição exata e o dominio franco da grande base física da nossa nacionalidade."

Não foi diferente o reclamo de outro nordestino como Gonzaga, esse o único a chegar à Presidência da República pelo voto direto - Epitácio Pessoa. que diz em histórico discurso, em

São Paulo:.....Penetaí naquela fornalha ardente; lançai as vistas sobre aqueles campos calcinados onde as plantações desapareceram de todo. onde a vegetação feneceu e mirrou, e os bebedouros se ressequiram, sob a centelha comburente do sol impiedoso; ide e percorrei aqueles chapadões intérminos, onde o silêncio apavorante das quebradas apenas interrompe de longe em longe pelo mugido desesperado do gado sequioso e faminto..."

E concluía:

..... Dizei depois se se trata de questão que interessa apenas ao Nordeste ou se, pelo contrário, não se trata de problema eminentemente nacional."

Gonzaga interpretou o sofrimento e também as poucas alegrias - de sua gente emquase duzentas canções, em ritmos até então desconhecidos; além do baião, o forRÓ, as marchinhas juninas, o xaxado e tantos outros.

Mas através de Asa Branca - não há ódio ou mágoa, a sua Asa era a pomba branca da paz -, Gonzaga elevou à condição de epopéia a questão nordestina.

Tal a importância dessa música, ela se converteu em símbolo da região inteira. Certa feita Gilberto Freyre disse que o frevo "Vassourinhas", que parece estar nos glóbulos do sangue pernambucano, era nossa "Marselhesa". Que dizer da Asa Branca? Não será o Hino

do Nordeste?

Convivi, Deus me deu esta ventura, com Luiz Gonzaga. Fui seu amigo, observei sua permanente preocupação com a sorte de sua terra e sua gente. O Nordeste de modo geral; o sertão de modo particular, sua Exu, especialmente.

Efetuei, como governante, um amplo projeto integrado de melhoria do semi-áridopernambucano que compreendia ações no plano de perenização dos rios, eletrificação rural, estradas, inclusive vicinais, crédito rural, assistência à agropecuária , a que dei o nome de "Asa Branca".

Ele reconhecidamente me retribuiu a justa homenagem, acompanhando-me na mobilização  popular necessária à execução do projeto.

Talvez por isso muito me distinguisse, sempre afetuosamente como por exemplo

ao chamar-me de "patrão". Ele mesmo em entrevista à revista Veja disse certa feita: "Sou como vaqueiro de coronel. Você pergunta em quem vai votar e eu respondo: no patrão, em quem o patrão mandar. Eu tenho o meu patrão, que se chama Marco Maciel".

Outro aspecto político, posso também dizer, da presença de Gonzaga reside no resgate da música popular brasileira.

O vigor de suas melodias tonificou a nossa música, retirando-a do empobrecimento cultural que atravessava há cerca de quarenta anos atrás. Não podia o Brasil, com tanta riqueza musical, deixar-se agredir e violentar com modelos exóticos, xerocando música e importando padrões sem vinculação com as nossas coisas, desconhecendo a capacidade critica de nossa gente.

Hoje, os críticos asseveram que o velho ··Lua"além de inventar tantos ritmos brasileiros e nordestinos, foi o precursor do rock'n roll. Essa é, por exemplo, a opinião , estampada na Folha de S. Paulo do mês passado:

"Luiz Gonzaga antecipou em 10 anos no Brasil o forró nos anos 40. A questão não é rítmica neste quesito o forró tem mais similaridade como reggae. Trata-se da dinâmica que ele imprimiu à sanfona, os acordes simples e estruturas repetitivas. 

Luiz Gonzaga criou um ritmo próprio para a dança, tal qual o rock.

Não é à·toa que o ritmo faça tanto sucesso hoje no Nordeste quanto Madonna no resto do mundo. Quem ouve Gonzaga não precisa de Madonna".

Não é diferente o parecer de José Ramos Tinhorão também cientista e historiador ao opinar em O Estado de S. Paulo: "No Brasil, existem poucos·criadores. Luiz Gonzaga foi um criador'. Teve, portanto, a sua músÍca um viés nacionalista, ou melhor, brasileiríssimo - que impediu lavrasse um processo deperda de nossa identidade cultural. Não foi também essa uma contribuição, insisto, de natureza política que o rei do Baião quase imperceptível nos legou?

Não foi uma música teluricamente nordestina, apenas, mas o foi assim genuinamente nacional, posto que de defesa de nossas tradições e evocação de nossos valores.

Isso ajuda a explicar, como afirma Herminio Carvalho, o fato de não se conhecer "outro artista DO Brasil que tenha criado tantos filhos musicais quanto os que ele gerou".

Gonzaga, rei do baião, ao lado de Padre Cícero, Antonio Conselheiro, o de Canudos, Lampião, outro rei do Cangaço, embora AnibaI Torres conhecido por Ascenso Ferreira, fez crescer o rico acervo cultural popular nordestino: primitivo, porém extremamente denso; simples, rustico, mas autêntico.

Através de sua obra ele está vivo e vive no sertão, no pampa, na cidade grande, na boca do povo, no gemer da sanfona, no coração e na alma da gente brasileira.

Pois ele nos legou através da música a sua mensagem, e, diz Fernando Pessoa, que quem morrendo "deixa escrito um belo verso, deixou mais ricos os céus e a terra, e mais emotivamente misteriosa a razão de haver estrelas e gente".  (Discurso Marco Maciel-Setembro 1989)


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FESTIVAL DE MÚSICA 100 ANOS DE RÁDIO NO BRASIL ABRE INSCRIÇÕES

Em comemoração ao centenário do rádio no país, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) promove o Festival de Música 100 anos de Rádio no Brasil, com inscrições gratuitas a partir das 18h de 1º de agosto. O objetivo é valorizar a produção de artistas nacionais e revelar obras musicais inéditas.

Para celebrar a efeméride, a Rádio MEC, a Rádio Nacional e a Rádio Nacional do Alto Solimões abrem espaço nas suas programações para cantores, compositores e instrumentistas. As gravações concorrentes devem ter identificação com o perfil musical das emissoras públicas.

Com novo formato, que contempla os eventos musicais consagrados já realizados pelas rádios geridas pela EBC, o Festival de 2022 vai premiar os vencedores em cinco categorias: música clássica, instrumental, infantil, popular e regional do Alto Solimões, restrita aos autores da região de Tabatinga (AM) e da Tríplice Fronteira.

Os interessados podem concorrer com até duas obras por categoria. A duração de cada produção deve ser de no máximo seis minutos para música popular, infantil e regional do Alto Solimões. Já as composições nas categorias música clássica e instrumental podem ter até dez minutos.

Os artistas têm até o dia 31 de agosto para garantir sua participação e devem preencher o formulário online e fazer upload do material solicitado no regulamento do Festival de Música 100 anos de Rádio no Brasil.

A seleção das músicas ganhadoras valoriza o voto popular. A participação do público por votação na internet considerada nas etapas do concurso definirá várias finalistas. A escolha das outras concorrentes fica a critério da Comissão Julgadora formada por personalidades de notório saber ou em atividade na área musical e profissionais da EBC.

O Festival de Música 100 anos de Rádio no Brasil será organizado em etapas e tem início com a abertura do período de inscrições. As três fases seguintes englobam a seleção, a divulgação e a veiculação das músicas classificadas, semifinalistas e finalistas na programação das emissoras, respectivamente, de acordo com votação popular pela internet e análise da Comissão Julgadora. Ao final, as obras vencedoras são selecionadas e anunciadas.

No primeiro momento após o término das inscrições, a Comissão Julgadora seleciona até cem músicas classificadas para a segunda etapa. O número de obras por categoria vai atender a proporcionalidade de músicas inscritas.

As produções escolhidas na fase inicial serão executadas na programação das emissoras para apreciação dos ouvintes que podem votar nas músicas de sua preferência. Os critérios da Comissão Julgadora para avaliar as obras observam a qualidade artística (música, letra, partitura e interpretação), originalidade e a qualidade da gravação.

As composições classificadas na segunda fase ainda passam por uma semifinal, também com veiculação nas rádios, até a definição das obras finalistas na quarta etapa. Esta fase reunirá selecionadas músicas por categoria, definidas por votação popular através da internet e pelos critérios da Comissão Julgadora.

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PARA CELEBRAR 33 ANOS SAUDADES DE LUIZ GONZAGA, EXU INAUGURA MUSEUS OFICINAS DO CICLO DO COURO

Para celebrar os 33 anos de saudade de Luiz Gonzaga, que morreu no dia 02 de agosto de 1989, o município de Exu, Pernambuco, inaugura na próxima terça-feira, os Museus Oficinas do Ciclo do Couro-Museu Oficina Mestre Zé Venceslau, Museu Oficina Xico Aprígio e Museu Oficina Tonho dos Couros.

A inauguração acontece no Sítio Chapada dos Gomes, às 9hs. A solenidade integra a programação dos 33 anos de saudades de Luiz Gonzaga.

Os Museus Orgânicos têm como principal premissa estabelecer um vínculo entre o legado histórico do saber dos mestres da cultura e onde inicia e reside a tradição: suas moradas, explica Isa Araújo Apolinário, Secretária de Cultura e Turismo de Exu.

"Os Museus Orgânicos tem o poder de tornar as casas dos mestres em lugares de memória e de afeto, permeados de fotografias, vestimentas, instrumentos e tudo aquilo que marca o cotidiano dos mestres. Para além dos objetos pessoais, os Museus Orgânicos mostram aos visitantes o bem mais precioso, embora intangível, que é o saber", finaliza Isa. 

CAMINHADA DA SANFONA E MISSA: Neste domingo, 31 de julho, no Parque Aza Branca acontece a Missa da Saudade, 33 anos sem Luiz Gonzaga e a Caminhada das Sanfonas, a partir das 10hs da manhã.


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GONZAGUEANOS MANTEM LEGADO DE LUIZ GONZAGA VIVO EM JUAZEIRO E PETROLINA

Em 1989, ano da morte de Luiz Gonzaga, Diego Silva de Andrade era um uma criança, 4 anos. Nascido no Distrito de Pilar, Caraíbas Metais,  o hoje empresário vai completar 37 anos. Herdou do seu saudoso pai o gosto pela música de Luiz Gonzaga.

Diego é um dos gonzagueanos que todos os anos, na data do nascimento de Luiz Gonzaga, 13 dezembro é presença na festa do Rei do Baião.

Ele coleciona um acervo de discos raros de Luiz Gonzaga. São lps, alguns raríssimos, em formato de cera e revistas. Diego possui um grande número de fotos com os nomes mais renomados da música brasileira, exemplo Gilberto Gil e Dominguinhos. O amor pela obra de Luiz Gonzaga despertou em Diego a vontade de aprender a tocar sanfona. 

"Um dos momentos mais fortes e emocionantes foi participar em 2012 dos 100 anos de nascimento de Luiz Gonzaga lá em Exu, terra onde ele nasceu. Marcou a minha vida", relata Diego. Recentemente Diego esteve realizando uma visita ao compositor Onildo Almeida que vive em Caruaru, agreste de Pernambuco, um dos mais talentosos parceiros do Rei do Baião.

Outro momento especial, de acordo com Diego foi fazer o aniversário temático para festejar o aniversário do seu primeiro filho, de 3 anos, com o tema sobre Luiz Gonzaga. "É natural buscarmos transmitir para as novas gerações o valor e importância de Luiz Gonzaga para a cultura brasileira", diz Diego.

Luiz Gonzaga (1912 - 1989) é um dos principais nomes da história da música brasileira, completará 110 anos em dezembro. E, para comemorar a data, Paulo Vanderley, que desenvolve pesquisas sobre a vida e a obra do artista, iniciou uma série de ações. Uma destas atividades é o podcast “Luiz Gonzaga - 110 anos do Nascimento”, que está disponível nas plataformas de streaming Spotify e Anchor.

Os episódios já podem ser escutados. toda quarta-feira. Diego Andrade é um dos participantes do Podcast. Paulo Vanderley diz que o objetivo do programa durante o ano é dialogar com pessoas próximas do artista e de seu trabalho. Nos conteúdos já houve conversas com Lenine, Fábio Passadisco, Breno Silveira e Chambinho. 

Em Juazeiro, para homenagear Luiz Gonzaga, existe um grupo de pessoas, que se dedica a estudar a vida e obra de Luiz Gonzaga. O Bloco O Gonzagão foi idealizado em 1996, portanto são 26 anos valorizando e preservando a memória do sanfoneiro Luiz Gonzaga. Neste dia 02 de agosto de 2018, o Grupo mais uma vez presta homenagens ao Rei do Baião. Sanfoneiros e pesquisadores formaram uma roda de sanfona para celebrar a ausência física do sanfoneiro do Riacho da Brígida.

O presidente do Bloco O Gonzagão, João Luiz, diz que é tradição todo ano,  dia 02 de agosto, a festa da saudade e no dia do nascimento especial 13 de dezembro, o grupo se unir e ir participar da Missa de Ação de Graças em Exu.  "Ouvimos música, uns trazem discos vinil antigo, até fita cassete, outros já mostram a tecnologia mais avançada que tem destaque Luiz Gonzaga. E assim mantemos viva a história de Luiz Gonzaga".

No espaço, localizado no bairro João XXIII em Juazeiro, onde funciona o ponto de Encontro dos Gonzagueanos, existe uma exposição de quadros da vida e obra de Luiz Gonzaga e toda uma gastronomia nordestina. 

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