MEIO AMBIENTE: NO DIA DA ÁGUA, REGIÃO MAIS ÁRIDA DO PAÍS DÁ EXEMPLO DE CONSERVAÇÃO

No Dia Mundial da Água, quando se multiplicam os alertas pela preservação de um bem natural do qual depende todo tipo de vida, um dos exemplos de administração de recursos hídricos pode vir da região do país em que eles são menos disponíveis.

A professora Irene Maria Cardoso, voluntária do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa (UFV), explica que no Nordeste brasileiro se desenvolve um programa de convivência com o semiárido que evita jogar a culpa em escassez ou na má distribuição de água ao longo do ano, o que não se vê em outros biomas.

Um projeto que se desenvolveu “muito em função de atuações das organizações da sociedade civil na Articulação do Semi Árido (ASA), com apoio de políticas do governo federal até 2018”, explica Irene Cardoso. A ASA tem um trabalho importante articulado de coleta de água da chuva, tratada para que possa servir para pessoas, animais e plantas.

“Não vejo em outros biomas brasileiros – amazônia, cerrado, mata atlântica, pampas –, um programa com tamanha envergadura. O cerrado, por exemplo, é nossa caixa d'água, no Brasil. É extremamente importante para o abastecimento de nossos principais rios. Mas não vejo um programa governamental que cuide do cerrado. O que se vê cada vez mais é apoio ao agronegócio”, avalia ela. E compara: “A mata atlântica levou 500 anos para ser destruída; o cerrado levou 20. As ações são isoladas e, pelo contrário, vemos no governo federal um desmonte de todas as políticas de cuidado com o ambiente”, afirma

A agrônoma, doutora em ciências ambientais e presidente por quatro anos da Associação Brasileira de Agroecologia avalia que há ações para cuidado com as águas nas diferentes esferas de governo (federal, estaduais e municipais), mas avalia que são “pouco articuladas”. 

“É preciso pensar a forte relação entre água, biodiversidade, solo e ar. Estão conectados. Não adianta pensar em ação em um desses componentes sem pensar no outro.” O solo, explica ela, purifica a água, exerce função de um filtro que abastece os mananciais e nascentes, e estes abastecerão os rios. É como se a nascente fosse uma torneira, mas a caixa d'água é o solo, que precisa estar protegido, coberto, estruturado, preservando os poros de infiltração da água.

Uma vez sem vegetação, a intensidade de chuvas, principalmente nos trópicos, desagrega as partículas, que são carregadas pela enxurrada, causando erosão. Esse material vai para os rios e assoreia também nascentes. “Precisamos que a água caia e se infiltre, e para isso o solo precisa estar protegido, coberto”, explica a especialista. É preciso cuidado com uso de máquinas que compactam os terrenos, assim como as patas do gado, quando a pastagem não é bem tratada.

A vegetação é a proteção, e um solo poroso abriga uma comunidade de seres escondidos, que precisa de alimento. “Vida no solo é como gente, come as mesmas coisas, mas processadas de outras formas. Vivem de matéria orgânica, pode ser fruto, folha ou galhos podres. Então essa vida no solo precisa ser alimentada.” A vegetação também protege dos fortes raios solares, que esterilizam a terra. “Cuidar da água é também ter cuidados com o solo, a vegetação e com o ar.”

RETORNANDO AO CAMINHO DA ROÇA: Irene Cardoso defende que a contribuição para uma qualidade ambiental melhor passa por “consciência política, porque políticas ambientais, cuidados com meio ambiente e fortalecimento das instituições que cuidam do meio ambiente não caem do céu. Precisamos entender que é preciso atuar politicamente se quer proteger o ambiente. Isso é política pública e depende de quem está nos governos. Tenho que procurar saber o que está acontecendo, interagindo e participando da vida política do país, antes durante e depois de eleição.

Mas atitudes “que parecem pouco” também podem fazer a diferença. A começar por se pensar de onde vem o alimento, quem produz, como é produzido. Entender que quem compra produto de um agricultor familiar, que não usa produtos químicos, está ajudando a proteger as águas. “Reaprender o caminho da roça pode ser, inclusive, mudar para a roça, mas também reconhecer, valorizar respeitar quem mora lá e cuida da sua água. E conhecer como é produzido, beneficiado e comercializado seu alimento”, afirma Irene.

Onde dispenso minha água? A professora da UFV lembra ainda que as águas usadas em ambiente doméstico podem ser reutilizadas. “Se tenho condição de separar as águas cinzas (de chuveiro, de pia de cozinha), essa água tem um tratamento mais fácil, pode servir de irrigação, passando por pequenos poços que melhoram sua qualidade”, explica.

Águas de vaso sanitário, mais sujas, podem ser conduzidas a fossas biodigestoras de fácil construção e manutenção em pequenos espaços. “Não se deve pensar que só governos precisam tratar a água em grandes usinas. Enquanto o Brasil importa mais de 90% do potássio, mais 70% nitrogênio, mais de 50% do fósforo que utiliza, a gente joga nossos resíduos, que podem alimentar o solo, para poluir as águas.”

Segundo a Copasa, o número de domicílios atendidos com disponibilidade de rede de distribuição de água na área de concessão da empresa e da Copanor é de 5.496.056, o que representa 99,4% dos imóveis residenciais das cidades atendidas pela empresa, contemplando aproximadamente 11,8 milhões de pessoas. Os domicílios atendidos com disponibilidade de rede coletora e tratamento de esgoto na área de concessão são 3.221.654, o que representa 71,9% dos imóveis residenciais das cidades atendidas pela empresa, contemplando 8,4 milhões de habitantes.

Desde 2017, a companhia desenvolve o Pró-Mananciais, “visando proteger e recuperar as microbacias hidrográficas e as áreas de recarga dos aquíferos utilizados na captação de água para tratamento e distribuição ao público”. “A atuação socioambiental da Copasa é pautada na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), em seus respectivos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e nos dez princípios do Pacto Global. O Pró-Mananciais integra o ODS 6 – Água e Saneamento, que tem entre suas metas melhorar a qualidade de água dos corpos d'água, apoiar e fortalecer a participação das comunidades locais para melhorar a gestão da água e do saneamento”, informa a empresa.

POUCA ÁGUA MUITA DEMANDA: A importância da água para o planeta é inquestionável. Qualquer organismo na Terra é composto em sua maioria pelo líquido. Para ajudar a conservá-lo, em 22 de março de 1992 a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Dia Mundial da Água. É um esforço da comunidade internacional para colocar em pauta questões essenciais que envolvem os recursos hídricos.

Estima-se que 97,5% da água existente no mundo seja salgada, portanto não é adequada ao consumo humano direto nem à irrigação de lavouras. Dos 2,5% de água doce, a maior parte (69%) é de difícil acesso, pois está concentrada nas geleiras, 30% são águas subterrâneas (armazenadas em aquíferos) e só 1% se encontra nos rios e outros mananciais de superfície. Logo, o uso desse bem precisa ser pensado para que não prejudique nenhum dos diferentes usos que ela tem para a vida humana.

A água não está limitada às fronteiras políticas dos países, razão pela qual quase metade da superfície terrestre é conformada por bacias hidrográficas de rios compartilhados por duas ou mais nações. O Brasil compartilha cerca de 82 rios com países vizinhos, incluindo importantes bacias como a do Amazonas e a do Prata, além de sistemas de aquíferos Guarani e Amazonas, segundo a Agência Nacional das Águas (ANA).

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GEAN RAMOS, TEM COMPOSIÇÃO MÚSICA ESCANCARADA GRAVADA POR SIMONE E REPERCUTE NO CENÁRIO NACIONAL

A musicalidade da baiana, radicada no Rio de Janeiro, Simone, ganha expressiva referências com o novo trabalho, o álbum Da Gente. 

Dos 18 compositores relacionados nos créditos das 12 músicas gravadas por Simone no álbum Da gente, nada menos do que 14 nasceram no nordeste do Brasil.

O norte da Bahia e o Vale do São Francisco tem o talento de Gean Ramos devidamente registrado neste cenário da música brasileira. Gean Ramos é Cantor, compositor, violonista, ativista e produtor cultural nascido no sertão de Jatobá (Pernambuco) em 15 de junho de 1980, descendente do povo indígena Pankararu. Iniciou a carreira fonográfica em 2001 e, há dez anos, lançou o álbum e DVD Trajetória (2012). 

No repertório do álbum Da gente, Gean assina a música Escancarada com Rogéria Dera. Gean Ramos foi o destaque no encerramento da 23ª edição do Festival Edésio Santos da Canção (FESC) em Juazeiro (Bahia), ao ganhor o prêmio máximo, interpretando a música “Se Urú Obaí – Da minha boca sai fogo”, de sua autoria, e ainda comemorar a premiação e troféu do segundo lugar, com a música “O tempo do amor”, de Eugênio Cruz.

Nas REDES SOCIAIS o cantor Gean Ramos disse que "a emoção é uma alegria, um momento especial, que marca o trabalho, na composição, é um reconhecimento ter a poesia, música gravada e repercutindo nacionalmente".

A imprensa nacional destaca que Gean Ramos, militante das causas indígenas no Brasil e representante da nação pankararu e faz a arte ganhar dimensões magnificas.

No repertório de Simone estão Juliano Holanda, Cátia de França, Flavio Nascimento, Thiago Emanoel Martins do Nascimento, Joana Terra, Paulo César Silva, Rogéria Dera, Raimundo Fagner, Zeca Baleiro, Fausto Nilo, Isabela Moraes,  Karina Buhr e Socorro Lira. 

Confira letra da música 

Escancarada-(Gean Ramos / Rogéria Dera)

As coisas todas que tu disse

Uma martela aqui a minha cabeça

Enquanto de frio a espinha treme

Das coisas todas que tu disse

Uma martela aqui a minha cabeça

Enquanto de frio a espinha treme

Precisa ser desse jeito?

É hora mesmo de se perder?

Quer sair, saia

Mas passe o perfume, aquele perfume

Que marque o caminho caso queira voltar

Quer sair, saia

Mas passe o perfume, aquele perfume

Que marque o caminho caso queira voltar

As coisas todas que tu disse

Uma martela aqui a minha cabeça

Enquanto de frio a espinha treme

Das coisas todas que tu disse

Uma martela aqui a minha cabeça

Enquanto de frio a espinha treme

Precisa ser desse jeito?

É hora mesmo de se perder?

Quer sair, saia

Mas passe o perfume, aquele perfume

Que marque o caminho caso queira voltar

Quer sair, saia

Mas passe o perfume, aquele perfume

Que marque o caminho caso queira voltar

Tal qual o meu peito

É a porta da casa

Escancarada, escancarada

Mas passe o perfume caso queira voltar

Quer sair, saia

Mas passe o perfume, aquele perfume

Que marque o caminho caso queira voltar

Quer sair, saia

Mas passe o perfume caso queira voltar

Quer sair, saia

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TRIO NORDESTINO COMPLETA 64 ANOS NESTE ANO DE 2022

Em Salvador, exatamente no ano de 1958, nascia o mais emblemático trio de forró da música brasileira. Formado, à época, pelos músicos baianos Lindú (voz e sanfona), Coroné (zabumba) e Cobrinha (triângulo), o Trio Nordestino completa 64 anos em 2022.

Mais de seis décadas depois, o trio segue firme, atuante, mas agora com novos componentes: Luiz Mário (triângulo e voz), Jonas Santana (zabumba e vocal) e Tom Silva (sanfona e vocal). Além disso, acaba de ser homenageado com o podcast (vídeo) Trio Nordestino – Do Pelourinho Para o Mundo, já disponível no canal do grupo no YouTube.

Com um time de convidados composto pelos três músicos da formação mais recente, além do ex-zabumbeiro e atual empresário do grupo, Carlos Santana (mais conhecido como Coroneto), e do sanfoneiro Beto Sousa, que integrou o trio por 25 anos, o programa é resultado de um projeto idealizado pelo produtor cultural carioca Raphael Rabello,  mediador do encontro.

“A ideia é homenagear o trio, dar às pessoas que gostam do trabalho dele a chance de saber um pouco mais das histórias de bastidores. É também contribuir um pouco com o acervo audiovisual de material sobre a história da música regional porque a história do Trio Nordestino se confunde com a própria história do forró”, orgulha-se Rabello. 

O papo entre eles rendeu tanto que os 90 minutos de gravação se transformaram em mais de duas horas de conversa e, assim, entre tantos causos curiosos, o empresário Coroneto, por exemplo, pôde relembrar histórias do falecido avô Coroné, um dos fundadores do grupo original no final dos anos 1950.

Para o zabumbeiro Jonas,  participar do podcast foi um grande  motivo de orgulho. “Nele, contamos alguns acontecimentos passados nesses 64 anos de história, de conquistas, de perdas de integrantes, de novas formações e tantas viagens pelo Brasil e exterior”. 

E mesmo o forró tendo sido declarado Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil desde o ano passado, tanto Luiz Mário quanto Jonas Santana acreditam que o mais famoso ritmo nordestino ainda não é devidamente valorizado dentro da música brasileira. 

“Infelizmente, temos pouco espaço nas grandes mídias, quase não se vê músicas de forró tradicional entre as ouvidas ou acessadas, e é difícil conseguir apoios e patrocínios para novos projetos. Mas vamos resistindo e mostrando que o forró é música brasileira de raiz e merece muito respeito”, comenta Luiz Mário.

Jonas concorda e diz ainda que, pela qualidade musical do forró, ele deveria ser mais visto e apreciado. “O forró é rico de ritmos,  cultura e linguagem. Precisa de mais reconhecimento, valorização e menos preconceito”.

E além da notória relevância do forró, sobretudo para o Nordeste, segundo Rabello, é fundamental frisar também a importância do Trio Nordestino para a música regional e, por tabela, a brasileira. 

“Eles são grandes representantes do forró, assim como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho e tantos outros. O Trio Nordestino está junto dessa turma”, lembra o mediador. 

Com mais de seis décadas de estrada, os ‘garotos’ não se acomodaram e seguem com novos projetos na manga. Estão planejando um show com músicas do CD feito em homenagem a Gilberto Gil – um trabalho lançado nas plataformas digitais em 2020 - que deve virar turnê. Além, é claro, dos preparativos para os festejos juninos.

O TEMPO: O Trio Nordestino começou fazendo o circuito de casas noturnas de Salvador. Tempos depois, com o sucesso das canções Carta a Maceió e Chupando gelo, presentes no primeiro disco, o grupo passou a gravar um LP por ano, lançando vários sucessos.

Em 1970, saiu o disco com a música Procurando tu (Antônio Barros), que se transformou no maior sucesso do grupo, alavancando mais de um milhão de cópias vendidas e levando-os das paradas sertanejas para as rádios dos mais diversos segmentos do país. 

O sucesso nacional acabou colocando o trio no primeiro lugar das paradas musicais, do programa de TV de Silvio Santos, durante 90 dias, e a receber o Troféu Chico Viola pelo segundo lugar na vendagem de discos de 1970, só perdendo para o Rei Roberto Carlos. 

Com mais de 40 álbuns gravados, e levados pela nova onda do forró que, em 2000, voltou a ser sucesso entre os jovens e tocar nas rádios, os integrantes ganharam os holofotes e foram quatro vezes à Europa, onde fizeram shows em Paris e Londres. E em 2017, o álbum Trio Nordestino Canta o Nordeste foi indicado a Melhor Álbum de Raízes Brasileiras no Grammy Latino. 

Trio Nordestino – Do Pelourinho Para o Mundo foi contemplado pelo Prêmio Riachão, da  Fundação Gregório de Mattos, Prefeitura Municipal de Salvador, através da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc,  Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.

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A FEIRA DE CARUARU: MÚSICA FAZ 65 ANOS COMO SÍMBOLO IDENTITÁRIO E SÍNTESE DAS FEIRAS DO NORDESTE

Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro há 16 anos, a Feira de Caruaru é nacionalmente conhecida por ter de "tudo que há no mundo" para vender. E tal fama não veio por acaso para um dos maiores símbolos identitários do município: há 65 anos, em 21 de março de 1957, o cantor e compositor caruaruense Onildo Almeida lançou oficialmente a música "A Feira de Caruaru", que ficou conhecida na voz de Luiz Gonzaga.

"Quando eu digo que na feira tem de tudo, é porque você vai encontrar coisas que não é de vender em feira, mas tem na feira. Houve uma época em que até automóvel essa feira vendia. Agora a feira tá mais bonita, cheia de planta, bancos para expor a mercadoria, de maneira que fica decorativa", ressaltou Onildo.

De acordo com a prefeitura, a Feira de Caruaru é composta por diversas feiras: do "Paraguai" ou de Importados; da Sulanca; de Gado; de Frutas e Verduras; de Raízes e Ervas Medicinais; do Troca-troca; de Flores e Plantas Ornamentais; de Couro (calçado, chapéus, bolsas); de Permanente de Confecções Populares; de Bolos e Seção de goma e doces; de Ferragens; Artigos de Cama, Mesa e Banho; Fumo; Permanente dos Importados; e a do Artesanato.

Onildo foi o primeiro a gravar a música que ficou nacionalmente conhecida na voz de Luiz Gonzaga. No entanto, os artistas não foram os únicos a levar "A Feira de Caruaru" Brasil afora. Anastácia, Oswaldinho do Acordeon, Mestre Ambrósio, Banda de Pífanos de Caruaru, Zé Paraíba, Luiz Santana e Fulô de Mandacaru são apenas alguns dos artistas que regravaram a canção escrita nos anos 50.

"É uma das principais músicas compostas sobre a cidade. Mas, não apenas isso. Também é uma das primeiras canções. Ela foi gravada em um momento crucial da história de Caruaru: o ano do centenário da cidade. Ela toma um significado muito grande. 'A Feira de Caruaru' foi gravada por um dos maiores ou o maior nome da música brasileira naquele momento. Luiz Gonzaga é importante o tempo inteiro", explicou ao g1 o historiador Daniel Silva, membro da Acaccil e professor da Asces-Unita e do Colégio Diocesano.

A música também chegou a ser tocada pelas Orquestras Filarmônicas de Berlim, na Alemanha, e Moscou, na Rússia, conforme informou o historiador José Urbano. Ao lado de Onildo Almeida, o g1 revisitou o local que inspirou o compositor a escrever os versos que se transformaram na maior obra dele.

Será que ainda há de tudo na feira? De acordo com José Urbano, a resposta é sim. Todos os itens citados por Onildo ainda são vendidos na feira. "São 55 itens que tem na música e dois que foram acrescentados por Luiz Gonzaga. Com o passar dos anos, surgiu a feira de eletrônicos, o espaço foi se expandindo", destacou o historiador.

O primeiro item citado por Onildo Almeida na música segue com destaque na feira. A massa de mandioca é vendida, entre tantos outros, pela feirante Rosinete Claudino. "São mais de 30 anos de feira. As pessoas sempre passam cantarolando por aqui, elas sabem que a massa de mandioca tem a ver com a música", disse.

A área de frutas e verduras segue a todo vapor na Feira de Caruaru. Além dos itens citados acima, ainda tem "cenoura e jabuticaba", como destacou Onildo. "Eu trabalho há mais de 30 anos na feira e ela fica bonita quando está cheia, movimentada", afirmou a vendedora de frutas Maria Cleonice da Conceição.

Na tradicional Feira de Artesanato ainda podem ser encontrados os itens acima, assim como a "mubia de tamburête feita do tronco do mulungú".

Não somente a "carça de arvorada" como também as mais diversas peças de roupa podem ser encontradas na Feira da Sulanca, uma das feiras que constituem a Feira de Caruaru. A cada fim de ano, entre os meses de novembro de dezembro, o local recebe cerca de 80 mil pessoas por feira, movimentando milhões de reais.

BONECOS DE VITALINO: Um dos maiores mestres da arte do barro de Caruaru, Mestre Vitalino, que morreu há 59 anos, ainda está presente na feira. Os descendentes dele, netos e bisnetos seguem propagando a arte e produzindo os famosos "bonecos de Vitalino".

Para Daniel Silva, a música "é uma composição que marca um território muito significativo, o território das feiras. A gente ainda hoje tem muito mais feiras que shoppings. Naquela época, nem supermercados existiam, só tínhamos feiras, mercearias, vendas, empórios… Falar da feira e narrar da forma que aconteceu foi muito significativo".

ORIGEM E MUDANÇAS: A Feira surgiu em meados do século XVIII junto a formação da cidade no Marco Zero, na igreja Nossa Senhora da Conceição, no Centro. Com a construção da igreja, o fluxo de pessoas aumentou e de forma espontânea o comércio começou a se organizar e favoreceu ao fortalecimento da feira.

Por causa do aumento no fluxo, depois de quase 200 anos, ela foi transferida em 1966 para a Avenida Rui Barbosa. Mas, em decorrência da diminuição das vendas, voltou ao antigo local em 1969.

Até que em 1992 se transferiu para o Parque 18 de maio. Atualmente, a Feira de Caruaru é dividida em várias feiras: de artesanato, do "Paraguai", de eletrônicos, da "Sulanca", de ervas, do "troca", de carne, de frutas e verduras, polo gastronômico... Assim como a música, o local é múltiplo, representa a diversidade do povo caruaruense e sintetiza todas as feiras do Nordeste.

"A feira ainda é um grande ponto de encontro cultural e social da população. Ela e essencial para se entender o que é Caruaru. Claro que hoje não tem mais a proximidade com a cidade como tinha antes, a cidade cresceu e tem diversas feiras, mas a 'feira grande' ainda é uma das referências para quem visita a cidade", afirma o historiador Daniel Silva.

Em 2006, a Feira de Caruaru se tornou patrimônio histórico e artístico imaterial. O título foi concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que considerou "a Feira de Caruaru um lugar de memória e de continuidade de saberes, fazeres, produtos e expressões artísticas tradicionais".

MÚSICA DOIS: O que muita gente não sabe é que Onildo Almeida fez uma "versão ampliada" da clássica música. Dois anos depois da "original", o próprio músico gravou a nova canção - que trouxe novos elementos - em um disco de 78 rotações por minuto (RPM).

"A Feira de Caruaru nº 2 também foi gravada em 1965 por Marinês, no disco "Maria Coisa". Além da Rainha do Xaxado, quem também regravou a música foi o cantor e compositor caruaruense Israel Filho. Ele cantou a canção para a coletânea "Caruaru que todos cantam", produzida por Onildo Almeida, em 1992 (ouça abaixo).

"É motivo de um orgulho muito grande. É uma maneira de retratar a cultura real da minha terra, falar do meu povo de um modo geral, representando Caruaru e interpretando a obra de Onildo Almeida. Gravar essas músicas são com ganhar um troféu", disse Israel Filho, que também gravou a primeira versão de "A Feira de Caruaru", em 1992, no disco "Saudades de Gonzagão".

Além de interpretar as obras em alusão à feira, Israel também homenageou o local e Onildo com uma canção. Ele escreveu e gravou "A Feira da Sulanca", em 1989. "Ela estava chegando [Feira da Sulanca] e precisava ser lembrada como a Feira de Caruaru. Foi a minha homenagem à Sulanca, que hoje também é de suma importância para o desenvolvimento de nossa terra", finalizou Israel. (Fonte; G1 CARUARU)

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CIÊNCIA E FÉ: 19 DE MARÇO É SINÔNIMO DE ESPERANÇA DE UM PERÍODO CHUVOSO

O cearense Patativa do Assaré, um dos maiores poetas de todos os tempos, levou o simbolismo do Dia de São José para seu clássico “A Triste Partida”, interpretada por Luiz Gonzaga: “Sem chuva na terra descamba janeiro. Depois, fevereiro. E o mesmo verão. Então o roceiro, pensando consigo, diz: isso é castigo! Não chove mais não! Apela pra março, que é o mês preferido do Santo querido, Senhor São José.”

O Dia de São José, comemorado no dia 19 de março, é motivo de esperança na tradição dos católicos cearenses, que acreditam que se chover até esta data é sinal de um bom período de precipitações. No Ceará, o santo é considerado padroeiro, o que motiva o feriado anual. A crença religiosa, contudo, pode ser também explicada cientificamente, já que na data ocorre um fenômeno no movimento da Terra, denominado equinócio de outono.

De acordo com a Fundação Cearense de Meterorologia e Recursos Hídricos (Funceme), no equinócio de outono os dois hemisférios terrestres estão igualmente iluminados pelo sol. Dessa forma, a noite vai ter a mesma do dia. A incidência direta de raios solares na linha do Equador, de onde o Ceará está próximo, acaba atraindo ventos úmidos para a região, e geralmente traz chuvas.

Ainda assim, para a gerente de meteorologia da Funceme, Meiry Sakamoto, a ocorrência das chuvas antes desse período nem sempre garante um inverno com chuvas abundantes.

“Existe a religiosidade que a gente respeita, com toda certeza. O dia 19 de março é próximo ao equinócio, que é quando o sol, na sua órbita aparente, passa a influenciar o hemisfério norte. Uma outra questão é quanto ao posicionamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Se, até março, que é a metade da estação chuvosa, ela não tiver contribuído para chuvas no Nordeste, isso acaba frustrando a qualidade da quadra chuvosa”, comenta.

Ainda segundo Sakamoto, ao longo dos anos, essa falta de relação foi observada nos números. “O fato é que se você observar os dados passados, das chuvas no dia 19 de março, a gente vê que não existe uma relação direta entre chover bem nesse dia e ter uma boa estação chuvosa. Por exemplo, em 1974, teve registro de chuva em poucas localidades e, no entanto, a estação chuvosa foi muito boa. Em 2009, também poucos postos (meteorológicos) informaram chuva e a estação chuvosa foi muito boa. E, no sentido contrário, em 2012 e 2013, o registro de chuva no dia 19 foi muito bom. No entanto, a quadra invernosa não foi muito boa”, conclui.

CIÊNCIA E FÉ:  Ainda assim, a explicação científica é confirmada pela igreja. O padre José Adelino Dantas, da paróquia de São José, em Juazeiro Norte, afirma que a esperança do sertanejo é genuína com relação à data em que se comemora o dia do santo.

"Essa crença de que se chover até o dia de São José teremos um bom inverno é atribuída a esse espírito religioso do cearense em seu padroeiro. Sabemos que, conforme a ciência, o dia de São José é próximo ao equinócio de outono, uma coisa está atrelada à outra", explica.

Para o religioso, as expectativas de um bom período de chuvas são muito boas para 2022 com base nas precipitações que a região do Cariri vem recebendo nos primeiros meses deste ano.

"O que percebo é que na questão daquilo que se planta, pelas chuvas que têm caído na região nesses últimos meses, são suficientes para uma boa colheita, uma boa safra. A fé em São José é tão grande que muitos agricultores plantam milho e outras sementes no dia 19 de março, confiando na colheita já pensando nas festividades de São João, em junho", revela.

A Paróquia de São José, em Juazeiro do Norte completa 50 anos em 2022 e, segundo o padre Adelino, as celebrações vão ocorrer tanto nas duas missas a serem realizadas neste sábado (19) às 9h e às 16h, como também na procissão do padroeiro, que não acontecia desde 2019 por causa da pandemia de Covid-19.

"Agora que conhecemos os cuidados a serem tomados e com uma significativa parcela da população vacinada podemos celebrar com segurança a festa do padroeiro do nosso estado", conclui.

PADROEIRO DO CEARÁ: 19 de março é conhecido desde 1621, com o decreto do papa Gregório XV, como dia de São José. O santo é padroeiro do estado, por isso, em Fortaleza e nas demais cidades do Ceará, é feriado no seu dia.

São José é o pai de Jesus Cristo na tradição católica, marido de Maria e carpinteiro de profissão. É considerado o protetor da Igreja Católica e padroeiro dos trabalhadores e das famílias por seu trabalho de artesão e por ser patriarca da Sagrada Família.

De acordo com o padre Gilson Marques Soares, titular da paróquia Nossa Senhora das Graças, no Bairro Manoel Sátiro, em Fortaleza, a escolha de São José para padroeiro do Ceará se deu devido à primeira capital do Ceará ser Aquiraz, que tem o mesmo santo como protetor.

Segundo conta, uma das primeiras embarcações que chegaram ao Ceará, por meio de Aquiraz, trazia uma imagem de São José do Ribamar. Foi definido, então, o santo como padroeiro da cidade e, posteriormente, do estado. São José do Ribamar, inclusive, foi o nome da primeira vila oficialmente instalada no Ceará, no arraial do Iguape, onde hoje fica Aquiraz.

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MÚSICA É VIDA

“Este trabalho é dedicado a todas as crianças e jovens do meu País, que têm a música como o mais atraente, intuitivo e caloroso meio de comunicação.” Com essa mensagem, o compositor Mario Ficarelli (1935-2014), da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, compartilha o legado de uma vida dedicada à música. 

Através do método Musissimphos, que acaba de ser lançado pela Mister Edições, o professor continua com o desafio de incentivar a formação musical para as novas gerações.

“Trata-se de um trabalho idealizado para o ensino musical em orquestras de iniciantes”, conta a compositora e pianista Silvia de Lucca, viúva de Ficarelli, responsável pela curadoria e organização geral do projeto. 

“Os últimos quatro anos de sua vida foram dedicados à organização desse método”, destaca. Era o sonho que o mestre foi tirando do horizonte. “Ele cumpriu o desafio de mostrar que a música é vida. Mesmo internado no hospital, até os seus últimos instantes ele trabalhou nesse método para incentivar a educação musical.”

Silvia de Lucca, que também foi aluna de Ficarelli, quis disseminar o que aprendeu e viveu. Continuou organizando o projeto depois da morte de Mario Ficarelli, em 2 de maio de 2014, destacando o conhecimento do educador, o talento do compositor, o humor do mestre e a força do ser humano. Foi sob a infinitude dessa luz que Silvia, pós-graduada pela ECA e com especializações feitas em Zurique e Genebra, na Suíça, organizou o Musissimphos em edição bilíngue.

O método está organizado em três níveis de dificuldade: básico, intermediário e avançado. Totaliza 1.684 páginas impressas em dez volumes, acompanhados de um CD-áudio e nove CDs-ROM com as partes instrumentais.

 “Está dividido entre 81 Estudos Musicais e 60 Músicas de Repertório, em progressão didática quanto ao nível de dificuldade. Os Estudos são todos de autoria de Mario Ficarelli e condensam a teoria musical aplicada. As músicas são de vários compositores, desde o repertório Barroco até o contemporâneo. O primeiro volume compreende um guia que explica o método e orienta aqueles que desejam formar uma orquestra desde o início”, explica Silvia.

O método de Mario Ficarelli: dez volumes, 1.684 páginas, um CD-áudio e nove CDs-ROMs com as partes instrumentais – Fotos: Divulgação/Cantabile Edições Musicais

“Mario Ficarelli tem em seu catálogo mais de 220 obras para diversas formações instrumentais. Fez uma ópera infantil e uma Missa Solemnis para solistas e coro infantis, apresentada parcialmente para o Papa João Paulo II, no Vaticano, em 1996.”

Ver as crianças e jovens tendo a oportunidade de aprender música e participar de orquestras era um ideal de Ficarelli. O sonho de um adolescente paulistano que descobriu a música clássica aos 16 anos, ouvindo o único programa de rádio da cidade que tocava esse gênero. Mario Ficarelli nasceu no dia 4 de julho de 1935, no bairro da Barra Funda. 

“Era o filho mais velho. Seu pai era um pintor de paredes que tinha estudado no Instituto de Belas Artes e ensinou para o filho rudimentos de desenho técnico e livre. Teve uma infância e juventude simples, era ajudante de seu pai”, observa Silvia, reproduzindo o que Ficarelli repetia com naturalidade e orgulho. “Começou a  ler e pesquisar sobre os compositores e passou a estudar piano. Seu objetivo era ser compositor.”

Ficarelli foi incentivado por um grande mestre, o professor Olivier Toni, do Departamento de Música da ECA, que logo percebeu o talento do aluno. Tornou-se um importante compositor e professor brasileiro. 

“Tem em seu catálogo mais de 220 obras para diversas formações instrumentais. Fez uma ópera infantil e uma Missa Solemnis para solistas e coro infantis, apresentada parcialmente para o Papa João Paulo II, no Vaticano, em 1996. Foi membro da Academia Brasileira de Música desde 1994. Obteve vários prêmios em concursos de composição e possui obras editadas no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos.”

O cotidiano de Silvia e Ficarelli era regido pela música, como lembra a compositora. “Eu era a primeira a ouvir suas composições, mas quando já estavam prontas, e ele também as minhas. Algumas vezes ele me convidava para dar o nome a suas obras e acatava minhas sugestões. Tempestade Óssea e Parasinfonia são algumas delas.” Ficarelli dedicou uma de suas composições aos dois, Epígrafe e Ensaio 90.

O método Musissimphos, lançado pela Mister Edições, pode ser adquirido através do site da Cantabile Edições Musicais. (Fonte: Jornal da USP)

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LUIZ DO HUMAYTÁ E SEBASTIAN SILVA UNEM VIOLÃO E SANFONA NAS TERRAS DA NAÇÃO CARUARU, PERNAMBUCO

O cantor e compositor, poeta Luiz do Humaytá e o sanfoneiro e cantor Sebastian Silva estão realizando em Caruaru, Pernambuco, uma série de apresentações. Com objetivo de levar ao público um repertório de músicas brasileiras, Luiz do Humaytá e Sebastian estiveram no Bar da Lúcia/Natan e numa seresta em Praça Pública.

No final da tarde de hoje Luiz do Humaytá foi entrevistado na Rádio Cultura do Nordeste. Ele falou de sua trajetória artistica e "amor a cultura dos sertões"

Neste final de semana eles fazem apresentação na Feira de Caruaru, além de Luiz do Humaytá ir conhecer o Espaço Cultural Asa Branca do Agreste , na Vila Kenedy, local mantido pelo pesquisador Luiz Ferreira.

Luiz do Humaytá mora em Curaçá, Bahia, na Fazenda Humaytá e  lançou recentemente o CD Boemia Cult para declarar também o seu amor pela terra onde nasceu., no Rio Grande do Sul. Luiz Carlos Forbrig é o nome de batismo. O apelido Humaytá, ele herdou, da característica do nordestino que precisa de um adjetivo para os nomes, daí, Luiz do Humaytá.  O cantador é natural de Jabuticaba Velha, interior do Rio Grande do Sul. 

Sebastian Silva é considerado um dos melhores sanfoneiros da nova geração da música brasileira. Ele também  toca ao lado de sanfoneiros Targino Gondin, Marquinhos Café, Gel Barbosa e Renan Mendes, no Quinteto Sanfônico do Brasil.

O cantor e compositor Sebastian Silva já se apresentou com carreira solo no São João de Caruaru, no Polo Alto do Moura e também de Festivais na Europa e Angola.

Seguidor do saudoso mestre Dominguinhos e Luiz Gonzaga, Sebastian Silva tocou com nomes de destaque da música brasileira, a exemplo do poeta Santana, o Cantador com quem trabalhou durante oito anos. Sebastian Silva é natural de Caruaru e segue carreira solo com agenda de shows em na capital do Forró e cidades da região.

Sebastian Silva e Luiz do Humaytá estão com todo o  trabalho disponível no canal oficial Youtube e em todas as plataformas digitais.

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