LUA HUMANIZADA QUE FAZ IMAGEM NA POESIA

“Esta lua” é e não é aquela lua que, romântica, derrama seus raios sobre as sensíveis enseadas dos amantes nas cálidas noites de solidão e de estrelas excitadas. É e não é aquela lua que prende seus punhos na rede soberba do infinito e que vagueia, doidivanas, pelo imaginário perplexo dos enamorados. 

Lua humanizada, vertiginosa, eufórica, refúgio privilegiado de um locus amenos que fez pousada em tantas imagens encantatórias de Castro Aves, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Álvares de Azevedo, Olavo Bilac e Alphonsus de Guimarãens, cristalizando uma tradição poética que se estende do romantismo e do simbolismo à pós-modernidade.

Esta lua certamente não é aquela desenhada no “paralelepípedo quebrado” de Augusto dos Anjos; uma lua que tem a cor da icterícia e que, em lugar de ostentar seus eflúvios dourados, arreganha seus avessos de sombra e de múmia sonâmbula a perambular, perdida, perdida e louca, pelo vazio monstruoso e doentio das noites de insônia. Esta lua é e não é aquela, porém, carrega, no dorso rugoso e áspero de sua grave melodia, os nutrientes de uma antitradição lírica que lhe assegura contínua e surpreendente possibilidade poética.

Esta lua, a lua de que falo, é a lua que aparece, renovada e reinventada, na cadência verbal de um poema que Sérgio de Castro Pinto publicou: primeiro, no Correio das Artes, e, depois, em A flor do gol.

Este poema (e a lua que o sustenta) é e não é de Castro Pinto. Se o poeta não se esquiva ao diálogo com a alta tradição (observe-se o verso “lambendo os dedos róseos da aurora”, colhido da chama iluminada e ainda fumegante de Homero), sobretudo tocada pelo traquejo de imagens visionárias, na melhor estirpe dos expressionistas e dos malditos, parece romper, contudo, com os paradigmas de sua própria poética individual, presidida, grosso modo, pelo sentido de contensão, de economia, precisão e objetividade.

“Esta lua”, sem perder o fôlego estético, intrínseco à cada pulsação vocabular, se é de Sérgio, é mais de Augusto que de João Cabral de Melo Neto; mais de Jorge de Lima que de Carlos Drummond de Andrade; mais de uma poética do excesso do que de uma poética do mínimo. “Esta lua” sem leveza, andarilha, tumultuada, pesa no rimbombar toante de suas rimas internas, na música noturna que se cantarola nas aliterações, ecos e assonâncias argamassados num corpo significante onde imagens e ritmo se conjugam, robustecendo, assim, a espessura semântica do texto.

As duas primeiras estrofes como que abrem o cenário para que a lua, “Esta lua”, desfile, disfórica, a convocar amantes e leitores, bichos e bêbados, putas e pederastas, para provarem de seu veneno agridoce que se derrama dos seus “raios extraviados” e se fertilizam na agonia dos seus “filhos enfurecidos ∕ proscritos e exilados”. Cito-as na íntegra:

esta lua cai feito uma luva

na praia da urca, na pedra da gávea

esta lua cheia é um túrgido ubre

espargindo leite sobre a madrugada.

pálida e sem luz, esta lua minguante

é leite com água, chama dos amantes.

candeeiro de luz bruxuleante,

hóstia andante de uma irmã de caridade,

esta lua é o branco marfim de um elefante

perfurando do céu o toldo estrelado,

mastodonte manso, pacificado,

urinando gotas de luar no gozo

dos amantes tristes e extenuados.

Se Sérgio, em particular, neste poema tão especial, finca os pés em vertentes mui ricas da poesia ocidental (Nerval, Baudelaire, Rimbaud, Cesário Verde), também dialoga sutilmente com certas dicções afeitas à náusea e ao desconforto da vida, a exemplo de Murilo Mendes, Nauro Machado e José Alcides Pinto, realizando como que um corte intrauterino no seu modus operandi, isto é, deslocando-se do lirismo seco e contundente, objetivo e matemático, para um lirismo órfico e visionário, subjetivo e fantasmagórico, a descortinar atalhos e paisagens poéticos que podem lhe trazer emblemáticos poemas.

“Esta lua” é prova insofismável de que a criatividade poética permanece enigmática e inconceituável; de que técnicas, formas, motivos e temáticas somente se transformam em estereótipos na pena dos epígonos menores; de que o país da poesia, com a sua natural integridade, claridade e simetria, como diria o velho São Tomás de Aquino, possui uma geografia aberta, com inúmeros acidentes e sítios a serem descobertos e explorados. Um país onde a lua é a lua e não é a lua; “Esta lua”, aquela, aqueloutra, que vemos na pele sangrenta do céu ou, com a imaginação e a fantasia, no firmamento branco da página! (HILDEBERTO BARBOSA FILHO-Poeta, escritor e professor da UFPB. Membro da Academia Paraibana de Letras. E-mail: hildebertopoesia@gmail.com

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LUIZ GONZAGA JUNIOR: O GRITO DE ALERTA E ESPERANÇA COM POESIA

Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, mais conhecido como Gonzaguinha, nasceu no Rio de Janeiro, no dia 22 de setembro de 1945, e morreu no dia 29 de abril de 1991, aos 45 anos, após sofrer um acidente de carro na estrada de Renascença, no Paraná, quando voltava de uma série de shows. Filho adotivo do cantor e compositor Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”, com a dançarina Odaléia Guedes, o menino Gonzaguinha foi criado pelos padrinhos Dina e Xavier, no Morro de São Carlos, onde conheceu, por exemplo, Luiz Melodia. 

Com Ivan Lins, Aldir Blanc, Paulo Emílio, César Costa Filho e outros, criou o MAU (Movimento Artístico Universitário), que visava promover a música da nova geração de compositores. Combativo e aguerrido em sua postura contra a ditadura militar, Gonzaguinha compôs músicas de impacto, como “Comportamento Geral”, “Pequena Memória para um Tempo Sem Memória”, “A Fábrica de Sonhos”, dentre outras. Ao todo, teve 54 canções censuradas. 

Gonzaguinha também se especializou em músicas românticas, que ganharam as vozes de Maria Bethânia, Simone, Elba Ramalho, Fafá de Belém e Elis Regina. No final da vida, Gonzaguinha se mudou para Belo Horizonte em busca de sossego, e morou na região da Lagoa da Pampulha. Entre seus grandes sucessos está “Com a Perna no Mundo”, que fala, justamente, sobre suas origens.

Abertura. Por trás da expressão carrancuda, do semblante de poucos amigos e da barba que lhe escondia a chance de um sorriso mais largo, havia um coração pronto a explodir do menino que desceu o São Carlos para colocar o dedo na ferida dos problemas sociais e afetivos de mulheres e homens. 

Filho do “Rei do Baião”, da dançarina Odaléia e da música popular brasileira que o acolheu com tamanha propriedade, a cara de Gonzaguinha era a de um Brasil que não se entrega e não deixa de apontar as mazelas que atingem seu povo. Com a camisa aberta e o peito à mostra, ele escreveu, através de suas músicas, um retrato sensível, por vezes raivoso, outras vezes irônico, de sentimentos universais e em decadência. Era um grito de alerta, e, ao mesmo tempo, de esperança.

O inconformismo de Gonzaguinha já denunciava, logo no primeiro disco, o peso de suas “canções de protesto”. Identificado como “compositor-rancor” por críticos e detratores de sua obra, o filho de Luiz Gonzaga, que no início da carreira ainda assinava Luiz Gonzaga Júnior, nunca aceitou a mediocridade, fosse política, social, de gênero e, principalmente, de felicidade. 

Basta dar uma rápida olhada em seu vasto e complexo repertório para perceber como o autor de canções sensíveis e perspicazes busca retratar o sexo, a desilusão, as relações afetivas e de trabalho com um aguçado senso de justiça e grandeza. 

É valendo-se da habilidosa ironia, que o calo da vida no morro de São Carlos e a ausência do aclamado pai lhe deram, que Gonzaguinha extirpa uma a uma todas as hipocrisias perpetradas através dos anos pelo costume, a tradição e a intolerância da raça humana com o seu semelhante, na brilhante e ousada letra de “Comportamento Geral”, lançada em 1973, como um dardo afiado, no alvo.

Ao longo do repertório de “Planeta Fome”, Elza Soares reflete sobre um Brasil deitado e sem berço. “Só canto o que é atual”, diz ela, que registrou novas versões para “Comportamento Geral” e “Pequena Memória para um Tempo sem Memória”, ambas compostas por Gonzaguinha durante a ditadura militar. “Passei pela ditadura, me lembro daquele momento e vejo que hoje é mais ou menos parecido. O Brasil está passando por uma soneca, mas vai acordar, sou esperançosa”, afirma Elza. 

Lançada originalmente por Gonzaguinha, em 1973, “Pequena Memória Para Um Tempo Sem Memória” foi cantada por ele durante a turnê que empreendeu ao lado do pai, Luiz Gonzaga, no ano de 1981, intitulada “Vida de Viajante”. A música também recebeu uma versão comovente do grupo “As Chicas”, que a interpretou em dezembro de 2008, na capital Rio Branco, no Acre, em homenagem ao grande líder ambientalista Chico Mendes. 

“Contos de Fadas” (MPB, 1975) – Gonzaguinha: Não espanta que, no terceiro disco de Gonzaguinha, o clima sombrio se imponha. O Brasil sofria o período da ditadura militar e o compositor era um dos mais hábeis em reportar essa situação na forma de metáforas sensíveis e ásperas. Uma das canções do álbum de 1975 engana no título, e traz ironia semelhante à da canção “Comportamento Geral”. A música “Contos de Fadas” alude a brincadeiras típicas do “Dia das Bruxas”: “Balas, doces, chocolates/ Brindes, prendas e anzóis/ (…) Dorme bem minha criança/ Se não essa bruxa avança/ Corta língua, olhos e ouvidos/ Faz da vida escuridão”.

“Geraldinos e Arquibaldos” (samba, 1975) – Gonzaguinha

No ano de 1975, Gonzaguinha se esquiva das garras da censura imposta no Brasil em razão da ditadura militar, com um samba irônico e divertido, cuja sinuosidade da letra é acompanhada de perto pelo ritmo. 

“Geraldinos e Arquibaldos” traz, ainda, uma homenagem às pessoas humildes que frequentam os estádios de futebol nos lugares mais baratos, a “geral” e a arquibancada, além de lançar mão de expressões típicas do esporte mais popular do país, como “cama de gato”, e outros ditos populares, como “angu que tem caroço”. 

Lançada num dos primeiros álbuns de Gonzaguinha, “Plano de Voo”, já mostrava o poder de crítica e a acidez construtiva dos versos de Gonzaguinha, além da inventividade formal.

“Começaria Tudo Outra Vez” (bolero, 1976) – Gonzaguinha

Ao som de bolero, samba, baião ou toada. Assim Gonzaguinha escreveu seu nome na canção brasileira. Um nome que já tinha peso antes mesmo de ele nascer, e que foi aos poucos penetrando nos ouvidos das pessoas com aquele diminutivo. O menino esguio que falava de dramas, amores e problemas sociais, cresceu e continuou menino. Continuou falando, cantando, observando aquilo que o tocava com o cuidado de quem enxerga uma fruta madura no pé da árvore. 

Gonzaguinha no palco era solto, espontâneo, como se estivesse em casa, mas quando escrevia era incisivo, agudo, enfático, dando a medida lhe que cabia da força dos relacionamentos humanos em sua vida. Não imaginava ele que, em 1976, só estava no começo, mas ainda assim decidia: “Começaria tudo outra vez/ Se preciso fosse, meu amor…”. 

“Espere por Mim, Morena” (toada, 1976) – Gonzaguinha

Moleque arisco, e interessado em conhecer o mundo, Gonzaguinha decidiu, aos 16 anos, que queria cursar Economia. Como os padrinhos Dina e Xavier, conhecido como Baiano do Violão, não tinham condições de pagar seus estudos, o menino resolveu por conta própria que iria morar com o pai. 

Depois de um começo de relação atribulada, com Gonzaguinha desentendendo-se constantemente com a madrasta e Luiz Gonzaga por conta de posições ideológicas, os ânimos se acalmaram, e a convivência entre os dois foi aos poucos melhorando. 

Gonzaguinha foi matriculado em um colégio interno e conseguiu concluir o curso que tanto queria. Mas a herança que pulsava em suas veias era a da música. Em 1967, seu pai gravou pela primeira vez uma composição sua: “From United States of Piauí”, canção bem humorada e crítica acerca dos americanismos na língua portuguesa. 

Mas somente em 1976, ele assumiria de vez as influências e a importância do pai em sua trajetória. No disco intitulado “Começaria Tudo Outra Vez”, gravou “Asa Branca”, um dos maiores sucessos de Luiz Gonzaga, e a toada “Espere por Mim, Morena”, grande êxito popular que trazia à tona o lado romântico e saudoso de um Gonzaguinha doce e leve, que falava de rede, cobertor e sol.

“Explode Coração” (MPB, 1977) – Gonzaguinha

Contestador por natureza, em 1975, Gonzaguinha havia dispensado seus empresários para fundar depois seu próprio selo, Moleque, que também seria o nome de seu álbum de 1977. Nesse ano, “Explode Coração” tornou-se um dos maiores marcos de toda a carreira de Maria Bethânia. Intitulada inicialmente como “Não Dá Mais Pra Segurar”, a música é um desabafo lento, progressivo, um exercício de confissão e entrega em que o compositor se despe de seus medos e aceita todos os desejos. 

Em “Explode Coração”, Gonzaguinha se descortina para que a vida entre sem pedir licença. Um ano depois, em 1978, outra canção de temática parecida e com a mesma palavra pungente no título. “Diga Lá, Coração” recebeu a interpretação sensível de Simone e do próprio Gonzaguinha. “Diga lá, meu coração/ Da alegria de rever essa menina/ E abraça-la/ E beijá-la...”, canta. 

“Artistas da Vida” (MPB, 1978) – Gonzaguinha

Gonzaguinha é um desses artistas que jamais descolou a preocupação social de sua obra, a exemplo de Sérgio Ricardo e Taiguara. Em 1978, ele já havia superado o estigma de “cantor-rancor”, com os sucessos românticos do bolero “Começaria Tudo Outra Vez” e da intensa “Explode Coração”, espalhada Brasil afora pela voz de Maria Bethânia, quando colocou na praça “Artistas da Vida”, em que, de forma menos agressiva que em outros momentos, não deixava de tocar nas profundas feridas sociais do país advindas de sua imensa desigualdade social. Na visão de Gonzaguinha, todos entravam nesse circo e precisavam de malabares. A música foi regravada por Emílio Santiago, Marília Barbosa e Marília Medalha, reforçando o seu poder de identificação ao público. 

“Recado” (MPB, 1978) – Gonzaguinha

No dicionário, “pasquim” significa “jornal difamador, folheto injurioso”, e foi por esse motivo que o cartunista Jaguar sugeriu o nome para batizar o semanário fundado em junho de 1969, do qual ele faria parte ao lado de nomes como Ziraldo, Tarso de Castro, Millôr Fernandes e Sérgio Cabral, pai do ex-governador do Rio de Janeiro, preso desde 2016. 

A ideia de Jaguar era se defender antecipadamente de prováveis críticas, além da evidente ironia. Para a história, “O Pasquim” se transformou num dos principais ícones da resistência à ditadura militar, aliando humor, política, crítica social e de costumes, e passou a ser sinônimo de uma imprensa livre e independente. Durante um período, a trupe pôde contar ainda com o auxílio luxuoso de Paulo César Pinheiro, letrista que colecionava parceiros tão diversos como João Nogueira e Baden Powell.

Numa das músicas mais incisivas escritas contra a ditadura no país, Paulo César Pinheiro afirmava em “Pesadelo” (parceria com Maurício Tapajós): “Você corta um verso/ eu escrevo outro/ você me prende vivo, eu escapo morto/ de repente olha eu de novo/perturbando a paz, exigindo troco”. “Recado”, de Gonzaguinha, lançada em 1978, seguia a mesma toada: “Se me der um tapa eu brigo/ Se me der um grito não calo/ Se mandar calar mais eu falo”. 

“Com a Perna no Mundo” (samba, 1979) – Gonzaguinha

Filho de vários pais e de várias mães, Gonzaguinha teve história parecida com a de muitos brasileiros. Nasceu no ventre da cantora e dançarina da noite Odaléia e foi registrado pelo expoente maior da música nordestina levando seu nome. Com a morte da mãe quando ele tinha dois anos, vítima de uma tuberculose, Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior foi entregue aos carinhos de dona Dina e seu Xavier, para que o pai pudesse cumprir sua vida de viajante. 

Luizinho, como passou a ser chamado no Morro de São Carlos, no Rio de Janeiro, logo aprendeu a tocar violão com seu padrinho, a sacar as malícias das ruas, e a ter vontade de conhecer outras bandas. Essa epopeia comum a tantos brasileiros, Gonzaguinha cantou “Com a Perna no Mundo”, de 1979, em que deixava um caloroso recado à madrinha querida: “Diz lá pra Dina que eu volto/ Que seu guri não fugiu/ Só quis saber como é, qual é/ Perna no mundo, sumiu…”. 

“O Preto Que Satisfaz” (MPB, 1979) – Gonzaguinha

Em clima de festa, Gonzaguinha convida o papai, a mamãe, o filhinho e a filhinha para comerem o famoso feijão brasileiro, “O Preto Que Satisfaz”. A música, composta por ele em 1979, faz uma verdadeira homenagem ao feijão, uma das refeições preferidas dos brasileiros, e ainda o mistura ao arroz, ao pão, à farinha e ao macarrão, aproveitando para falar também da união que se faz entre as pessoas na hora de apreciarem o feijão, “famoso pretão maravilha”. A música foi tema de abertura de novela na voz das Frenéticas e invadiu os lares brasileiros, assim como o requisitado ingrediente, provando que Gonzaguinha estava certo: “Dez entre dez brasileiros preferem feijão!…”.

“Grito de Alerta” (samba-canção, 1980) – Gonzaguinha

No ambiente universitário, Gonzaguinha passou a ter contato com Ivan Lins, Aldir Blanc, César Costa Filho e outros, com quem formou o Movimento Artístico Universitário, conhecido como MAU. O grupo se reunia com frequência na casa do psiquiatra Aluízio Porto Carreiro para longas conversas e rodas de violão. Passaram então a participar de festivais, e no ano em que foi vencedor com a canção “O Trem (Você se lembra daquela nega maluca que desfilou nua pelas ruas de Madureira?)”, Gonzaguinha recebeu uma das maiores vaias de sua carreira. 

Apenas em 1973, ele conheceu o sucesso. Ao entoar “Comportamento Geral” no programa de Flávio Cavalcanti, Gonzaguinha chocou os jurados, esgotou o disco nas prateleiras e foi censurado pela ditadura. Além do espírito combativo, as reuniões na casa de Aluízio renderam-lhe seu primeiro casamento, com Ângela Porto, mãe de seus dois primeiros filhos.

O discurso do embate político cedia espaço, em 1980, para um envolvente Gonzaguinha, que, acostumado a ouvir na infância Jamelão, Lupicínio Rodrigues e músicas portuguesas, entregava para Maria Bethânia consagrar um samba-canção de sua autoria, em que discutia as difíceis questões do coração. Deixando de lado a razão, “Grito de Alerta” era uma tentativa sincera de se desapegar de questões menores e amar de portas abertas. A música foi inspirada em um caso de amor vivido pelo cantor Agnaldo Timóteo, amigo de Gonzaguinha, que a registrou. 

“Sangrando” (balada, 1980) – Gonzaguinha

No início da década de 1980, Gonzaguinha passou a morar em Belo Horizonte com sua segunda esposa, Lelete. Desse casamento nasceu a sua caçulinha, Mariana, irmã de Daniel, Fernanda e Amora, filha do relacionamento do cantor com a Frenética Sandra Pêra. Nessa época, ele vivia sua melhor fase e já desfrutava dos sucessos de “Ponto de Interrogação”, “Grito de Alerta” e “Sangrando”. 

A balada imortalizada por Simone revelava um desenho autobiográfico e pungente do compositor que não se dizia cantor, mas intérprete de suas emoções. Na letra de “Sangrando”, o intérprete se rendia por inteiro. Começava soltando a voz com um delicado pedido, para depois consentir que a música se apoderasse dele e exprimisse a vida em sua plenitude. “Ponto de Interrogação”, outra pérola de 1980, abordava o sexo de uma maneira até então inédita na MPB, apelando à sensibilidade dos homens. 

“E Vamos à Luta” (samba, 1980) – Gonzaguinha

Durante a sua trajetória, Gonzaguinha conviveu com a pobreza na favela, problemas de saúde como as duas tuberculoses que teve, e a falta de liberdade imposta pela ditadura. Apesar disso, deu um jeito de driblar as armadilhas para conquistar o que achava que tinha direito. “E Vamos à Luta” é talvez o samba mais animado, emblemático e contagiante de sua obra. 

A música é um recado otimista de persistência e coragem, direcionado aos brasileiros que batalham seu lugar ao sol diariamente, com espaço para uma fezinha especial na juventude. Através dos versos esfuziantes da canção, Gonzaguinha cultiva as delícias da união e do sonho. Gravada por ele em 1980, a música foi apresentada depois em duetos descontraídos com Alcione e Roberto Ribeiro.

“Redescobrir” (MPB, 1980) – Gonzaguinha

Não é preciso muito para compreender que Elis Regina (1945-1982) é a maior cantora brasileira de todos os tempos: basta ouvi-la. Nascida em Porto Alegre, a gaúcha morreu aos 36 anos, vítima de uma overdose de álcool e cocaína. O disco “Tom & Elis”, de 1974, é considerado pelo crítico musical Hugo Sukman como “uma homenagem da nossa maior cantora ao nosso maior compositor”. 

A intérprete, cujo temperamento forte lhe rendeu o apelido de “Pimentinha”, deixou, ao longo da intensa carreira, 25 discos, registrados entre os anos de 1961 e 1982, todos com gravações antológicas. Em 1980, Elis comprovou mais uma vez essa primazia ao lançar “Redescobrir”, de Gonzaguinha, com os arranjos de seu então marido, César Camargo Mariano. 

“O Que É, O Que É” (samba, 1982) – Gonzaguinha

Um clássico de Gonzaguinha é uma das dicas da atriz Teuda Bara para encarar esse momento difícil, que ela chama de “pandemonia”, numa junção até então inédita das palavras “pandemônio” e “pandemia”. Ao telefone, ela cantarola os versos de “O Que É, O Que É?”: “Viver e não ter a vergonha de ser feliz/ Cantar e cantar e cantar/ A beleza de ser um eterno aprendiz”. 

“Estamos nessa luta, mas temos que tentar levar a vida pra frente”, acredita Teuda. Ela conta que estava em plena atividade quando a epidemia do novo coronavírus tomou conta do país. A música foi lançada por Gonzaguinha em 1982, no disco “Caminhos do Coração”, e se transformou em sucesso imediato, sendo regravada por Maria Bethânia, Diogo Nogueira, Alcione e mais.

“Um Homem Também Chora [Guerreiro Menino]” (MPB, 1983) – Gonzaguinha

Gonzaguinha sempre foi considerado um artista de temperamento difícil, não gostava de dar autógrafos e raramente compunha com outros parceiros. Tido por muitos como mal-humorado e arrogante, era, na verdade, um sujeito provocador, despojado, como ele próprio definia: “um grande gozador”, um moleque levado e teimoso que gostava de descumprir ordens. 

No entanto, o comportamento arredio e a desconfiança eram também atribuídos aos conflitos que teve com Luiz Gonzaga. As diferenças entre os dois acabariam se tornando, lá na frente, o elo perfeito para formar uma parceria entre o sambista do morro carioca e o nordestino que inventou o baião, o destino de ambos cruzando o país, Gonzaguinha & Gonzagão. 

Já bem à vontade para tratar de temas do coração, Gonzaguinha teve gravada, na voz de outro nordestino, uma de suas músicas que continham maior ternura. Em 1983, seu compadre Fagner recebeu de Mariozinho Rocha o aviso de que Gonzaguinha havia lhe mandado uma música. O detalhe é que o empresário considerava que ela tinha sido feita “nas coxas” e não valia a pena gravá-la. 

Fagner insistiu, chorou de emoção ao ouvi-la e a transformou no carro-chefe do seu LP daquele ano. “Um Homem Também Chora” delineava com maciez sensações singelas e muito humanas, habituadas a se esconderem atrás de hipocrisias. Gonzaguinha falava sem deixar passar nenhuma farpa da criança que constrói e existe em cada homem, da faceta mais frágil e carinhosa dos guerreiros meninos. E ele era um deles.

“Lindo Lago do Amor” (MPB, 1984) – Gonzaguinha

A cantora Manu Dias conta que “era novinha quando teve o primeiro contato” com versos em forma de fábula que falavam sobre bem-te-vi, sabiá, águia, lua, vento e um sapo que conversavam entre si. “Crianças cantam depois de ouvir uma música pela primeira vez”, garante Manu. 

Composta para descrever o sentimento onírico que Gonzaguinha experimentava diante da Lagoa da Pampulha, a canção “Lindo Lago do Amor” inspirou a criação do “Lindo Bloco do Amor”, que desfila pelas ruas no Carnaval de BH. Gonzaguinha morou na capital mineira em seus últimos 12 anos de vida e se tornou amigo de Fernando Brant e Milton Nascimento, com quem gravou “Libertad Mariposa”. “Lindo Lago do Amor” foi lançada em 1984, no LP “Grávido”, de Gonzaguinha. 

“Eu Apenas Queria Que Você Soubesse” (MPB, 1987) – Gonzaguinha

Há uma diferença brutal entre os primeiros e os últimos discos de Gonzaguinha (1945-1991). Pouco restou do compositor experimental, com melodias imbricadas e discurso reativo na fase de maior sucesso do autor de “Eu Apenas Queria Que Você Soubesse” e “Lindo Lago do Amor” – quando ele afirmou que só queria “ver as pessoas assoviando” suas músicas.

Essa distância percorrida por Gonzaguinha ao longo de praticamente duas décadas de carreira foi fundamental para que ele se tornasse um cantor popular. “Eu Apenas Queria Que Você Soubesse” foi lançada em 1987, no álbum “Geral”, e talvez seja o exemplo mais bem-acabado da transição de Gonzaguinha de “cantor-rancor” para a relação harmoniosa que ele passou a travar com a vida. 

“Mariana” (baião, 1987) – Gonzaguinha e Luiz Gonzaga

Aos seis anos, Mariana Aydar andava no shopping ao lado de “uma figura doida”, que ela descreve como “um misto de Papai Noel com superstar”. Mariana queria uma boneca pequenina, mas o tal Papai Noel a presenteou com uma noiva de brinquedo que era maior do que ela. Para completar, ele tinha feito uma música especialmente para Mariana. Ao menos, era o que ela supunha. “Ele não desmentia, era uma pessoa muito generosa e simpática”, relembra a cantora. 

Embora se chamasse “Mariana”, a canção dos versos “Eu vou pra ver Mariana/ Mariana sorrir e dançar/ Mariana brincando na vida/ Tô correndo pra lá”, era uma homenagem para a neta de Luiz Gonzaga, em parceria com o filho Gonzaguinha, pai da caçula nascida em Belo Horizonte, homônima da entrevistada. Filha da empresária Bia Aydar, a cantora paulista teve contato com o Rei do Baião, ainda criança, graças à mãe, que trabalhava com Gonzagão.

“É...” (samba, 1988) – Gonzaguinha

Só mesmo Gonzaguinha para lançar uma música intitulada apenas como “É...”. Aliando a irreverência ao inconformismo, ele compôs, em 1988, mais um samba inesquecível de sua lavra. Com a agilidade dos versos embalados por uma melodia contagiante, o compositor consegue dar naturalidade e beleza a versos desaforados, do tipo: “A gente não tem cara de panaca/ A gente não tem jeito de babaca/ A gente não está com a bunda exposta na janela/ Pra passar a mão nela”. Lançada no disco “Corações Marginais”, foi mais um sucesso imediato que se juntou à extensa lista do compositor de “Ponto de Interrogação”, “Diga Lá, Coração”, “Redescobrir” e outras preciosidades da música popular brasileira, gravadas por Elis, Simone, Bethânia, Fafá e outras. 

*Bônus-“Despejo na Favela” (samba, 1969) – Adoniran Barbosa

Não é por falta de mérito que Adoniran Barbosa é tido e havido como cronista. Além de capturar o sotaque e a prosódia específica da população paulista descendente da colônia italiana que aportou no Brasil, e da qual fazia parte, o compositor se sensibiliza com as questões mais rotineiras e diárias vividas pela população, das trágicas às cômicas, sempre com um toque de incentivo. 

“Despejo na favela”, de 1969, foi lançada pelo sambista Nerino Silva no compacto do V e último “Festival da Música Popular Brasileira” produzido pela TV Record. No samba, fica clara a maneira desonesta e intolerante com que os políticos brasileiros comandam as remoções dos moradores mais pobres. Em 1980, foi regravada por Adoniran em parceria com Gonzaguinha. (Fonte: r Raphael Vidiga/Rádio Itatiaia)

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APÓS CAMINHADA DE MAIS DE 700 QUILOMETROS, PAIS DE BEATRIZ CONSEGUEM APOIO DO ESTADO À FEDERALIZAÇÃO DO CASO BEATRIZ

O governador Paulo Câmara demitiu o perito criminal Diego Costa que prestou consultoria de segurança ao Colégio Nossa Senhora Auxiliadora após o assassinato da menina Beatriz, há seis anos, em Petrolina, no Sertão do Estado. O perito era sócio de uma empresa de segurança que foi contratada pela escola e, posteriormente, participou da investigação do caso. 

A informação foi dada por Paulo Câmara ao receber os pais de Beatriz no Palácio do Campo das Princesas, nesta terça-feira. A exoneração será publicada no Diário Oficial do Estado de amanhã (29/12).

Paulo Câmara recebeu os pais de Beatriz, que vieram em caminhada de Petrolina ao Recife, ao lado da vice-governadora Luciana Santos, do secretário de Defesa Social, Humberto Freire, do secretário da Casa Civil, José Neto, do Chefe de Polícia Civil, Nehemias Falcão, e da procuradora-geral do Estado em exercício, Giovana Gomes. O governador assegurou aos pais da menina que é favorável à federalizacão da investigação.

“Estamos totalmente solidários ao sofrimento da família e somos favoráveis à federalizacão do caso. Vamos prestar toda a colaboração necessária, ciente que cabe à Procuradoria-Geral da República ou ao Ministério da Justiça avaliar se estão presentes os requisitos legais  para a referida federalização", disse o governador.

O inquérito do caso tem 24 volumes, 442 depoimentos, sete tipos diferentes de perícias, 900 horas de imagens e 15 mil chamadas telefônicas analisadas e foi remetido ao Ministério Público de Pernambuco, no dia 13 de dezembro de 2021.

Os autos já haviam sido enviados em 2019, ao Ministério Público de Pernambuco, que requisitou novas diligências. Todas as solicitações foram cumpridas e entregues ao MPPE pela Força-Tarefa criada pela Chefia de Polícia para investigar o caso.

Os quatro delegados, com vasta experiência em investigações relativas a crimes de homicídios, revisitaram todo o material que já havia sido produzido e realizaram novas diligências. Por determinação do governador, a Força-Tarefa continua mobilizada.

Sobre o pedido de acesso aos conteúdos da investigação por parte de uma empresa privada americana, sem qualquer vínculo com o Governo dos EUA ou suas representações diplomáticas no Brasil, a Secretaria de Defesa Social esclareceu que esse tipo de cooperação não encontra respaldo na legislação brasileira. (Fonte: Folha Pernambuco)

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CAMINHADA JUSTIÇA POR BEATRIZ É MARCADA POR EMOÇÃO, SOLIDARIEDADE E PROTESTOS

Pela primeira vez, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, reconheceu que a Polícia Civil não conseguiu êxito nas investigações relacionadas ao assassinato da menina Beatriz Angélica Mota, 7, que ocorreu em Petrolina, no

Sertão, há seis anos. Em entrevista exclusiva ao Jornal do Commercio, ele afirmou que a autoria do crime, que chocou o Estado, não foi descoberta - mesmo após oito delegados investigarem o caso emblemático. 

"A gente sempre esteve muito atento a este caso da Beatriz, inclusive eu estive com a mãe dela aqui no Palácio (do Campo das Princesas) e em outras oportunidades em Petrolina, mais de uma vez. Desde o início, nós solicitamos

uma apuração rigorosa com relação a isso. Infelizmente o trabalho da polícia não atingiu o êxito que nós gostaríamos de ter atingido, que era justamente chegar a autoria e a responsabilidade. Mas estamos à disposição como sempre estivemos", afirmou Câmara.

A declaração foi dada em meio à caminhada que os pais de Beatriz, Sandro Romildo e Lucinha Mota, fazem há 21 dias. Eles saíram de Petrolina, no último dia 05, e vão chegar, nesta terça-feira (28), no Recife. Haverá um protesto em

frente ao Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual. Além de pedir justiça, os pais de Beatriz querem uma reunião com o governador para insistir o pedido de federalização do caso. Para eles, diante de denúncias de irregularidades nas investigações, o ideal é que a Polícia Federal assuma o caso.

O governador também comentou que federalização não é um tabu e afirma que se "for para contribuir não vai se opor". Ainda de acordo com o governador este assunto federalizar o Caso Beatriz precisa "respeitar ritos e legislação" 

"Esse assunto da federação já tinha chegado a nós. Agora, nós temos que respeitar os ritos e a legislação. Não podemos fazer mais ou além do que esteja dentro das nossas possibilidades. E a polícia entendeu que produziu o que poderia se produzir até hoje, em termos de resultados. Agora qualquer fato novo, qualquer ação que possa ser inserida, nós vamos ser os primeiros a querer que isso seja apurado. Nós queremos também, tanto quanto a mãe, que isso seja apurado, porque é o conforto que ela está esperando e realmente diante de uma perda que não tem volta. A questão da autoria e da prisão é o que a mãe tem dito, que é o grande objetivo dela. Sempre que houver um fato novo e relevante nós vamos utilizar forças para tentar de todas as formas chegar a uma resultado final desse processo", disse o governador Paulo Câmara. 

Beatriz foi morta com mais de 40 facadas durante uma festa de formatura no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, onde ela estudava. A menina deixou a quadra da instituição para beber água e, após os pais desconfiarem da demora, fizeram buscas pelo colégio e encontraram o corpo escondido numa sala desativada. Atualmente, uma força-tarefa de delegados acompanha o caso. O inquérito, com 24 volumes, foi remetido ao Ministério Público no começo deste mês. Há, ao todo, 442 depoimentos, 900 horas de imagens e 15 mil chamadas telefônicas analisadas. 

Em 2017, polícia divulgou a imagem de um suspeito que possivelmente entrou no colégio durante a festa. Uma câmera flagrou o rapaz do lado de fora, mas nenhuma imagem do lado de dentro teria registrado. Foi oferecida recompensa de R$ 10 mil, mas o criminoso não foi encontrado.

Testemunhas contaram à polícia, na época, que o suspeito teria sido visto tentando se aproximar de outras crianças antes de chegar até Beatriz. Mas ninguém desconfiou.

Após quase dois anos e meio de uma denúncia feita pelos pais de Beatriz, a Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS) concluiu as investigações neste mês. Portaria assinada pelo secretário Humberto Freire, e publicada último sábado, sugere ao governo de Pernambuco a demissão do perito criminal Diego Leonel Costa, que atuou na perícia sobre o assassinato da menina. De acordo com as investigações da Corregedoria, Diego participou de um plano de segurança para o colégio, na condição de sócio cotista da Empresa Master Vision.

 No dia 14 de janeiro de 2016, ou seja, um mês após a morte de Beatriz, ele esteve na instituição de ensino e fez filmagens e fotografias por meio de um drone. Apesar disso, segundo a Corregedoria, o mesmo perito fez parte, posteriormente, da equipe de trabalho de investigação responsável pela apuração do homicídio. 

Diego é um dos mais importantes peritos criminais do Estado. Nos últimos anos, atuou como chefe do Núcleo de Perícias do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), órgão subordinado à Polícia Científica de Pernambuco.

O profissional, inclusive, chegou a assinar, como perito revisor, um laudo em 2019 para contribuir com as investigações da polícia no Caso Beatriz. A portaria da SDS aponta que esse fato "situação que causou estranhamento pelo fato deste mesmo perito já ter prestado serviços particulares ao referido colégio e que teve repercussão na mídia, o que acarretou questionamentos acerca da lisura e imparcialidade das investigações policiais do caso em tela, trazendo flagrante prejuízo ao andamento das investigações".

A SDS ainda pontua que Diego é presidente da Cooperativa de Peritos Assistentes Técnicos e Pareceristas, cooperativa que objetiva fazer a intermediação entre peritos e o Poder Judiciário com a finalidade de tais peritos prestarem serviços particulares à Justiça. Além disso, ainda seria sócio de outra empresa, a GD Perícia, Consultoria e Engenharia Ambiental LTDA, onde atuaria como perito particular.

No parecer, sugerindo a demissão do profissional, o secretário Humberto freire destaca que ele "feriu a moralidade administrativa e negligenciou o cumprimento de seus deveres em três ocasiões distintas, em especial ao exercer atividades incompatíveis com a função policial civil, ao desrespeitar a hierarquia e a disciplina, ao não zelar pela dignidade da função policial e ao não observar normas legais e regulamentares".

A decisão final sobre a demissão caberá ao governador Paulo Câmara. Diego Costa ainda não se pronunciou.

RESPOSTA: Por meio de nota, a Associação de Polícia Científica se pronunciou sobre o caso e afirmou que “considerando as graves acusações que vêm sendo recorrentemente feitas por membros da família da vítima, tanto contra Peritos Criminais quanto, de modo geral, contra integrantes da Polícia Civil de Pernambuco, [...] está atenta a todos os desdobramentos do caso, para adotar todas as providências voltadas para a defesa dos interesses do Perito Criminal Diego e de toda categoria”.

De acordo com o órgão, “o trabalho realizado pela Polícia Científica contribui para a produção da prova técnica, auxiliando, de modo relevante, a investigação policial”.


Ainda no texto, eles afirmaram que seguem “na defesa incansável dos interesses dos Peritos Criminais que estejam sendo vítimas de decisões administrativas desarrazoadas e desproporcionais". Por fim, a associação afirmou que “também não permitirá que seja maculada a reputação de profissionais responsáveis e probos”.

CRIME: Beatriz Angélica foi assassinada a facadas dentro da escola onde estudava, durante uma solenidade de formatura que aconteceu na noite do dia 10 de dezembro de 2015. O pai dela era professor de inglês da instituição.

A última imagem que a polícia tem de Beatriz foi registrada às 21h59 do dia 10 de dezembro de 2015, quando ela se afasta da mãe e vai até o bebedouro do colégio, localizado na parte inferior da quadra.

Ela foi encontrada já morta, com 42 marcas de facadas em um depósito de material esportivo desativado, ao lado da quadra de esportes onde acontecia a formatura.

Ela tinha ferimentos no tórax, membros superiores e inferiores. A faca usada no crime, de tipo peixeira, foi encontrada cravada na região do abdômen da criança. (Fonte: Jornal do Commércio)

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CHUVA TRAZ ESPERANÇA PARA O SERTANEJO. EXPECTATIVA É DE MUITA FARTURA NOS PRÓXIMOS MESES

O som da chuva traz consigo muita alegria e, acima de tudo, esperança para o povo sertanejo. Longe da falta de infraestrutura que provoca situações dramáticas nas cidades, o período na zona rural de Juazeiro e Petrolina é de plantio e muita esperança de fartura nos próximos meses.

"O tempo com chuva na zona rural é de muitas bençãos. Como o tempo ajudou, alguns agricultores aproveitaram para começar a plantação com expectativa de mesa farta nos próximos meses", disse o consultor de imóveis Aldizio Barbosa que esteve neste final de semana visitando Afranio, Pernambuco.

Em contato com o BLOG NEY VITAL, agricultores ligados aos movimentos sociais de Juazeiro e Petrolina festejam a chegada das chuvas.

“Temos que aproveitar porque a chuva a gente não sabe até quando vai. Então a gente tem que se apressar pra ver se colhe alguma coisa”, explicou o agricultor José Texeira.

Com o céu nublado, os bezerros nem precisam procurar sombra, descansam na terra fria deixada depois da chuva. “A gente fica muito feliz, porque sabe que tem comida para a gente comer daqui a alguns dias, com fé em Deus”, falou com gratidão a agricultora Maria da Conceição.

E com a chuva dos últimos dias, já da pra notar os benefícios que ela traz. Açude cheio, mandacaru florido e as cachoeiras zoando, qual diz a música cantada por Luiz Gonzaga. (FOTO: Aldizio Barbosa)

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CHAPADA DO ARARIPE: FÓSSEIS DE DINOUSSAUROS SÃO RETIRADOS DO BRASIL DE FORMA ILEGAL

Nessa semana, uma equipe de cientistas chineses divulgou uma descoberta rara e fantástica: um fóssil de embrião de dinossauro ainda dentro do ovo. No Brasil, nós também encontramos fósseis muito bem preservados, das mais variadas espécies. O problema é que muitos outros estão sendo retirados do país de forma ilegal.

O Pterossauro é um cearense voador: um réptil que curtia a região conhecida atualmente como Chapada do Araripe, 110 milhões de anos atrás. Ele era do tipo Anhanguera. Esse nome indígena vem da tradição de paleontólogos brasileiros batizarem as espécies que encontram com termos de tribos locais.

Um dos fósseis brasileiros expostos no museu de Londres é do Anhanguera. Ele ilustra bem que não é de hoje que os fósseis saem sem dificuldade do Brasil.

Ele saiu do Ceará, foi parar em uma loja em Copacabana, depois comprado por um turista, levado para a Inglaterra e doado ao Museu de História Natural de Londres.

Desde 1970 a Unesco determinou que a exportação de um fóssil precisa de um certificado do país de origem.

No Brasil, até 1942, era possível vender ou exportar fósseis. Mas uma lei mudou isso: todo fóssil encontrado em território nacional passou a ser da União e só pode sair do país com uma autorização do governo.

Nos próximos dias, a Polícia Federal vai entregar um inquérito ao Ministério Público Federal em que concluiu que trabalhadores de pedreiras foram o ponto de partida para o tráfico de mais de 200 fósseis apreendidos ano passado na Operação Santana Raptor. De acordo a investigação, os compradores eram professores universitários.

PRISÕES: A Polícia Federal assinou em agosto deste ano um termo de guarda no qual entrega ao Museu Plácido Cidade Nuvens, da Universidade Regional do Cariri (Urca), 237 fósseis contrabandeados por um esquema criminoso de tráfico. As peças de valor histórico-cultural são de origem da Chapada do Araripe e foram alvo da Operação Santana Raptor, realizada em outubro de 2019.

A região, formada pelo municípios de Nova Olinda, Santana do Cariri e até Missão Velha, por exemplo, é uma das três mais ricas do mundo na quantidade de fósseis. Formados há cerca de 110 milhões de anos, eles são vendidos no exterior, conforme órgãos de investigação, por até 150 mil dólares cada um, a depender da sua importância.

A Polícia Federal assinou o termo provisório após determinação da Justiça Federal para que as peças ficassem sob guarda do museu, que realiza pesquisas paleontológicas com os fósseis da região. Todos os materiais foram apreendidos em casas ou escritórios dos alvos da operação, em outubro de 2020.

De acordo com a PF, o inquérito sobre o caso ainda está em conclusão, uma vez que são aguardadas análises periciais em objetos apreendidos na Santana Raptor.

Em outubro do ano passado, a Polícia Federal cumpriu 19 mandados de busca e apreensão, sendo 17 no Ceará e 2 no Rio de Janeiro. Um professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi um dos alvos por suspeita de integrar a organização criminosa.

Investigações do Ministério Público Federal do Ceará (MPF) apontam que o esquema consistia na extração e comercialização ilegal de fósseis por trabalhadores de pedreiras na região, onde dois homens foram presos. Um deles estaria entre os principais negociadores de fósseis entre 2017 e 2020, e o segundo seria o responsável por receber valores do professor da UFRJ para coletar e guardar os fósseis.

Em nota, a UFRJ informou que "todos os fósseis sob a guarda da UFRJ estão legalmente cadastrados e catalogados na instituição e notificados aos órgãos responsáveis". A UFRJ comunicou ainda "que todos os docentes e a própria unidade (Instituto de Geociências) têm documento de autorização para coleta e pesquisa de fósseis na Bacia do Araripe (CE), fornecido pela Agência Nacional de Mineração (ANM)".

As investigações do MPF apontaram a atuação de uma rede de empresários, servidores públicos e atravessadores que negociam fósseis raros da região, com indícios da prática ilícita por parte do professor da UFRJ e de outros pesquisadores nacionais e estrangeiros.

Caso os crimes sejam comprovados, os investigados responderão pelos crimes de organização criminosa, usurpação de bem da União e crimes ambientais, e podem ser condenados a penas de até 16 anos de prisão.

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ADOLESCENTES DESAFIAM PERIGO E MERGULHAM NAS ÁGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO

Dia de chuva. Domingo 26 dezembro. Chove nos sertões. Situação rara em Juazeiro Bahia. Cidade que oferece uma rica variedade de natureza, cultura, arte e culinária, possui rio São Francisco e histórias possíveis de tirar o fôlego. Nadar no Opará, na língua indigena Rio que é Mar, Velho Chico Rio São Francisco reflete um desafio que  precisa de um bom preparo físico para enfrentar as correntezas e os perigos das águas.

Ao caminhar na Orla (2), o olhar jornalístico recai naturalmente sobre os "Meninos do Rio São Francisco" que saltam da pilastra e do pier, localizado  nas proximidades da antiga Companhia de Navegação do São Francisco/Franave, hoje Vila Bossa Nova.

Entre os adolescentes alguns dos saltadores são adultos. Estes saltos e mergulhos de uma altura "que dá medo', aos não praticantes são tão inacreditáveis que inspiraram uma reportagem e fotos que não estavam na pauta. A profundidade do rio São Francico atinge cerca de 15 metros no local dos saltos e mergulhos.

Estes meninos são adolescentes e tem o rio como quintal. Cauê, André e Paulo e amigos mostram capacidade de nadar, destreza e segurança. Um deles conta que nada desde  criança e sente prazer em mergulhar no Rio São Francisco.

Pergunto: Tens medo? 'Não cabe medo aqui só o prazer e a  liberdade', é a resposta.

Existe unanimidade entre eles: para mergulhar e saltar de certa altura há o risco constante e por isto para quem não sabe, são tarefas arriscadas, perigosas. Depois que se aprende, faz-se sempre com concentração e "levando o rio a sério para não ter acidentes".

Outra história é de um deles já ter salvado um homem que estava se afogando. Os meninos que desafiam o Rio São Francisco com mergulhos que chamam a atenção dizem que só deve fazer quem sabe nadar muito bem e tem a garantia pois a correnteza é forte e no local a profundiade do Velho Chico "não perdoa erros".


Os meninos do rio estão numa fila de espera, a sorrir, esperando pela sua vez de saltar, só consigo pensar: porque saltam? É uma tradição, um rito de iniciação, é pelo divertimento em si? Foi sempre assim?

São perguntas sem respostas! 

A beleza natural de rios, como o Velho Chico, esconde riscos que são uma combinação de fatores quase sempre imprevisíveis. Não se recomenda pular no rio sem antes conhecê-lo. Correntezas fortes não perceptíveis também tornam a luta contra as águas impossível.

No contato com a Guarda Civil de Juazeiro, o Comando informou que a instituição não atua nas questões relacionadas ao rio São Francisco e que a prática também acontece na Ponte Presidente Dutra, jurisdição  Federal.

A reportagem não conseguiu contato com a Agência Fluvial da Marinha.

HISTÓRIAS: Tudo indica que as origens da natação se confundem com as origens da Humanidade. Catteau e Garoff, cita em sua obra, que o Homem raramente entrou em contato com a água por medo, freqüentemente por necessidade e ás vezes por prazer.

Já o cancioneiro brasileiro é rico em destacar o rio e os nadadores:

"O menino e Velho Chico viagens mergulham em meus olhos, barrancos, carrancas, paisagens Francisco, Francisco. Tantas águas corridas. Lágrimas escorridas, despedidas. Saudades. Francisco meu santo, a velha canoa. Gaiolas são pássaros. Flutuantes imagens deságuam os instantes. O vento e a vela me levam distante. Adeus velho Chico diz o povo nas margens do Rio Francisco, Francisco. Música composta por Capinam e Roberto Mendes. 

Texto e Fotos Ney Vital

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