EM LIVE,ORGANIZAÇÕES EVIDENCIAM DESRESPEITO ÀS COMUNIDADES E AO MEIO AMBIENTE DURANTE IMPLANTAÇÃO DE PARQUE EÓLICO EM CANUDOS

No dia 2 de setembro foi promovida, pela Articulação Regional de Fundo de Pasto CUC, a live "A ameaça ao modo de vida das comunidades tradicionais e à Fauna com a implantação do complexo eólico de Canudos". 

O evento contou com a presença de organizações que têm debatido os impactos promovidos por empreendimentos eólicos. O diálogo teve como foco a denúncia das irregularidades do empreendimento que a empresa francesa Voltalia está tentando instalar na zona rural do Município de Canudos.

"Nós, os pequenos dentro dessas comunidades, precisamos ser ouvidos, precisamos dizer que estamos aqui, que temos uma cultura e que nós não estamos querendo largar essa cultura, não estamos querendo mudar o nosso jeito de viver", protestou Débora Souza, moradora da comunidade Tradicional de Fundo de Pasto Raso, em Canudos. A participante da live, assim como centenas de famílias, vive dentro da área que está sendo atingida pela construção do complexo eólico. O local é também moradia da arara-azul-de-lear, uma espécie que corre risco de extinção na natureza.

Para Alan Bonfim, do Movimento Salve as Serras, "a implantação do complexo no Fundo de Pasto configura um crime de ecocídio", ou seja, uma destruição do meio ambiente em larga escala. Durante a live Alan explicitou de forma contundente a sua opinião sobre o caso. Para ele, a implantação do parque eólico em Canudos "não deve acontecer".

 Contrariando a posição do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – Inema, Alan diz que as espécies que residem na área sofrerão impactos significativos, o que pode prejudicar todo o ecossistema e a vida humana. "Os pássaros são importantíssimos para a humanidade. A gente sabe que as aves são as principais plantadoras de floresta do mundo", detalhou. Segundo o palestrante a falta de aves resulta na diminuição de árvores, o que tem ligação direta com a oferta de água no ambiente natural.

A bióloga Tânia Maria, da Fundação Biodiversitas, contou sobre o trabalho intenso para aumentar o número de araras-azuis-de-lear na região, reduzindo o risco de extinção da ave, um trabalho de muitos anos que agora pode ser totalmente desperdiçado. "A nossa camisa é a camisa da arara, não é a camisa do progresso desordenado[...] Não somos contra nenhum tipo de progresso, desde que não passe por cima de tudo que a gente tem de bom", comentou durante a live. De acordo com a bióloga, ao proteger a arara-azul-de-lear todo o ecossistema é protegido, garantindo inclusive as condições mínimas para a permanência humana na região.

Para Vanderlei Leite, representante do Instituto Popular Memorial de Canudos – IPMC, as comunidades tradicionais de Fundo de Pasto, como as que estão sendo atingidas pelo empreendimento eólico, lembram a antiga Belo Monte, um lugar onde foi provado que é possível viver bem no Semiárido protegendo o meio ambiente[1] , garantindo alimento e renda. 

"A comunidade de Belo Monte deixou como legado a importância da coletividade, do uso coletivo do território, dos trabalhos em mutirão, da partilha de bens [...] Hoje as comunidades tradicionais de Fundo de Pasto têm esse papel de continuar essa experiência que foi iniciada em Canudos, elas também se assemelham com esta experiência, pelo seu jeito de viver, de produzir, pelas suas tradições culturais, no jeito de se organizar, de criar", declarou o presidente do IPMC.

DESRESPEITO: A fala de Débora denuncia o desrespeito que há com os povos e comunidades tradicionais diante da implantação de grandes projetos na região. Para João Régis, da Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais no Estado da Bahia – AATR, "o primeiro desrespeito a essas comunidades é o tratamento que é dispensado a elas quando representantes dessas empresas chegam [...] Quando se trata de trabalhadores, de comunidades rurais, as empresas chegam como se ali fosse lugar de ninguém", afirmou o advogado.

Segundo a legislação ambiental e a Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho – OIT, a implantação de projetos como os parques eólicos em locais onde existem espécies ameaçadas deve ser precedida de estudos detalhados e audiências públicas, além disso, os órgãos têm que consultar as comunidades tradicionais presentes na área a ser impactada pelo empreendimento.

A situação é ainda mais grave, neste caso, tendo em vista que o Ministério Público Estadual - MPE já recomendou que a empresa pare a obra e que o Inema suspenda a licença ambiental, porém estas medidas ainda não estão sendo cumpridas.

Recentemente, organizações populares apresentaram uma carta em que denunciam a situação e cobram o cumprimento das recomendações feitas pelo MPE. (Fonte;  Eixo Educação e Comunicação do Irpaa)

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EXU PERNAMBUCO: RIQUEZAS CULTURAIS, TURÍSTICAS. 114 ANOS DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA

O município de Exu, no Sertão do Araripe, Pernambuco, completa 114 anos de emancipação política, nesta quarta-feira (8). A cidade é o berço de Luiz Gonzaga, o Mestre da Sanfona e do Baião, também de Barbara de Alencar, mulher revolucionária.

Exu é um ambiente fértil para as artes. 

Exu foi povoado inicialmente pelos padres jesuítas, que instalaram um abrigo, onde permaneceram muitos anos. Segundo a tradição local, o nome Exu veio de uma corruptela do nome da tribo indigena, pertencente à nação dos Cariris. Existe ainda uma versão de que essa denominação foi dada pelos índios da mesma tribo, em virtude de existir naquele tempo grande quantidade de abelha de ferrão, denominada “inxu” ou “enxu”.

A vila foi criada com sede na povoação de Exu, pela lei provincial nº 150, de 31 de março de 1846.

Pela lei estadual nº 844, de 10 de junho de 1907 foi restaurado o município desmembrado de Granito. 

Em março deste ano a Câmara Municipal de Vereadores Plenário Luiz Gonzaga, em Sessão Ordinária do dia 03 (três), APROVOU e o prefeito SANCIONOU e PROMULGOU Projeto de Lei que trata do PATROMINIO HISTÓRICO, CULTURAL E NATURAL de Exu.

Art. 1º A preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Natural do município de Exu/PE é dever de todos os seus cidadãos.

1° O Poder Público Municipal dispensará proteção especial ao patrimônio histórico, cultural e natural do Município, segundo os preceitos desta Lei e de regulamentos para tal fim.

§2° A presente Lei se aplica às coisas pertencentes tanto às pessoas físicas, como às pessoas jurídicas de direito privado ou de direito público interno.

Art. 2°. O Patrimônio Histórico, Cultural e Natural do Município de Exu/PE é constituído por bens móveis e imóveis, de natureza material ou imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, existentes em seu território e cuja preservação seja de interesse público, dado o seu valor histórico, artístico, ecológico, bibliográfico, documental, religioso, folclórico, etnográfico, arqueológico, paleontológico, paisagístico, turístico ou científico.

RIQUEZAS DE EXU, PERNAMBUCO: O Parque Aza Branca é um patrimônio cultural do Nordeste Brasileiro. Sua função é preservar o acervo constituído pelo legado de Luiz Gonzaga – O Rei do Baião, em Exu, sua terra natal.

Esse legado foi iniciado pelo próprio Luiz Gonzaga que, retornando a Exu, teve a idéia de criar esse espaço cultural, dotando-o com objetos pessoais. O Museu do Gonzagão traz a marca de seu caráter, cultor de raízes e nordestino assumido.

ONG PARQUE AZA BRANCA está localizada dentro do próprio espaço do museu do Gonzagão e trabalha diretamente com turistas e visitantes.

Fundada em 1º de agosto de 2001, a ONG Parque Aza Branca tem como objetivo principal fortalecer a idéia de preservação do Museu de Luiz Gonzaga e encontrar parcerias para realização das metas de preservação, ampliação e dinamização desse pólo cultural local, que guarda valores morais e éticos e traz a marca do seu caráter ,expresso no vínculo com sua terra e sua gente, fornecendo, em suas músicas, uma visão do homem sertanejo e de suas raízes de nordestino assumido.

FAZENDA ARARIPE: A história de fé da Igreja de São João do Araripe, no município de Exú, no Sertão pernambucano, é contada pela primeira vez no livro “Igreja de São João Batista do Araripe, Exu-PE – Sesquicentenário (1868/2018)”, de Thereza Oldam de Alencar. 

A obra foi lançada na própria igreja no dia 23 de junho de 2018 véspera de São João, ao final da nona noite do novenário.

O livro remonta a trajetória do Barão de Exú, bisavô da autora, que construiu a igreja como pagamento de uma promessa ao santo, e relembra as tradições e festejos até os dias atuais. Também traça a história da família Alencar, importante na política da região. Aos 87 anos, Thereza escreveu o livro à mão, durante quatro anos de pesquisas e entrevistas.

“Fui juntando peças e ouvindo a voz da tradição. Entrevistei octogenários que guardavam importantes informações e fui vendo se formar, diante de mim, uma linda história de amor e fé. Foram quatro anos de pesquisa e peleja, andando, trabalhando e trabalhando. E, também, me baseei em o que minha mãe – nora do Coronel João Carlos, criado pelo Barão – escreveu”, conta Thereza.

A história começa com a chegada dos Alencar, vindos de Portugal, ainda no século XVII, e vai até o Barão de Exú, Gualter Martiniano de Alencar Araripe, nas fazendas Araripe e Caiçara. Com o “caos de dor” trazido pela epidemia de cólera no Crato, vizinho a Exu, entre 1862 e 1864, o Barão fez uma promessa a São João, para que a doença não se alastrasse por seu povo. Com a graça alcançada, o fazendeiro iniciou a construção da igreja, inaugurada na véspera do Dia de São João em 1868. Em seu testamento, deixou expresso que seus descendentes cuidassem da igreja.

Os 150 anos do Araripe também se entrelaçam com a vida de outro conhecido morador de Exu: Luiz Gonzaga. A bisavó do Rei do Baião se abrigou na Fazenda Caiçara, também do Barão, durante a peste de cólera. Foi na igreja que os pais de Gonzagão, Januário e Santana, se casaram. Gonzaga eternizou os 100 anos da igreja na canção “Meu Araripe”. Foi Thereza, a autora do livro, quem escreveu, inclusive, a apresentação do disco “São João do Araripe”, em 1968.

“Meu sonho é que a história dessa igreja seja disseminada por todos. Pelos devotos, pela nossa família, por Exu, por Pernambuco, pelo Brasil. É uma história simples e verdadeira e não pode ser esquecida. É um santuário de fé, patrimônio histórico e cultural do povo de Exu. Não é só um prédio bonito. Sua argamassa é feita de amor e fé”, conclui a autora.

Dividido em 12 capítulos, “Igreja de São João Batista do Araripe, Exu-PE – Sesquicentenário (1868/2018)” faz um passeio detalhados sobre esses 150 anos, misturando a história dos Alencar, dos Gonzaga, do município de Exu e do povoado do Araripe. Sua última parte, intitulada “Memorial Idílico do Araripe”, conta com depoimentos de 33 personalidades da região ou que têm uma relação de carinho com o lugar. Entre eles, o jornalista Francisco José e Dominique Dreyfus, biógrafa francesa de Luiz Gonzaga.

**A ONG Parque Aza Branca, fiel aos princípios gonzagueanos, tem como meta principal, trabalhar obstinadamente, pela conservação, preservação e divulgação do Parque Aza Branca – Museu do Gonzagão, seu pequeno mundo, o maior legado , que foi por ele idealizado e construído, para nos deixar como herança. E repassar esse amor às futuras gerações, perpetuando a sua história, como um marco na história da cultura brasileira e mais fortemente, na vida do povo exuense , que teve a honra de tê-lo como conterrâneo e tem, portanto, o dever de honrar e respeitar seu nome ,cultuando sua memória.

***PROJETO ASA BRANCA: O Projeto Asa Branca ensina as crianças a tocar sanfona e é mantido pela Fundação Gonzagão, entidade criada em 2 de março de 2000 pelo então promotor de Justiça de Exu, Francisco Dirceu Barros, entre outros cidadãos.

"O doutor Francisco era um apaixonado pela cultura gonzagueana, e foi dele a ideia da Fundação. O objetivo é prestar atendimento a crianças e adolescentes, especialmente as carentes, utilizando a arte e a poesia de Luiz Gonzaga para sua promoção social”, explica a professora aposentada Marina Santana. Dona Marina é mulher de personalidade forte e esteve junto com o promotor Francisco Dirceu desde o lançamento do Projeto Asa Branca.

“Do ano 2000 até agora, mais de 800 crianças passaram pelo projeto, que inicialmente, além de música, oferecia oficinas de artesanato, dança e poesia. Algumas delas se destacam atualmente tocando sanfona e se apresentando em grupos regionais, “O importante é incentivar as crianças a valorizar a cultura gonzagueana e a promover o município de Exu”, enfatiza.

Assim que se chega ao projeto, a primeira coisa que chama a atenção é o entusiasmo das crianças. O visitante mais atento percebe a precariedade dos instrumentos encostados na parede. “Muitas sanfonas foram compradas em feiras de cidades vizinhas. Alguns estão caindo aos pedaços e precisamos manter o projeto que lógico precisa de novas sanfonas”, explica Marina.

A vice presidente do Projeto Asa Branca, Aline Justino acrescenta que "é necessário doações e novos projetos, parceiros que possam também garantir a  possibilidade do Projetor ganhar novos instrumentos para facilitar o aprendizado das alunas e alunos". 

No sopé da Fazenda Caiçara, Chapada do Araripe, no dia 13 de dezembro de 1912 nasceu o cantador e sanfoneiro Luiz Gonzaga. A data de morte de Luiz Gonzaga é 02 de agosto de 1989.


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PADRE ANTÔNIO MORENO PARTICIPA DO GRITO DOS EXCLUÍDO EM DEFESA DA VIDA

Foi realizado nesta terça-feira (07), em Petrolina, um ato contra o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido). O protesto faz parte da 27ª edição do Grito dos Excluídos e unificou movimentos sociais, na Praça da Juventude, no bairro João de Deus.

Durante a manifestação, foi realizado um café da manhã, o Cuscuz Coletivo, apresentações artísticas e culturais. Os participantes levaram alimentos para famílias em situação de vulnerabilidade social.

O ex-vereador Padre Antonio Moreno participou do evento.

Vida em Primeiro Lugar! Esse é o lema do 27º Grito dos Excluídos, que foi marcado por atos e manifestações descentralizadas em todo o país. Em Petrolina, a mobilização foi organizada por um grupo de mais de 20 organizações ligados aos movimentos sociais.

Realizado desde 1995 no dia 7 de setembro, o Grito dos Excluídos deste ano, mais uma vez, se soma à campanha "Fora Bolsonaro".

Os organizadores lembraram que o Brasil já tem quase 600 mil mortos pela Covid-19 e pela falta de políticas governamentais que garantam vacinação para todos os brasileiros. 



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O GRITO DOS EXCLUÍDOS É SEMPRE ATUAL. QUEREMOS O DIREITO Á VIDA

O grito dos excluídos, manifestação de protesto da CNBB que há 27 anos se contrapõe à celebração do Dia da Pátria no dia 7 de setembroç, 

“A proposta do Grito dos Excluídos e Excluídas surgiu em 1994, a partir do processo da 2ª Semana Social Brasileira, da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), cujo tema era Brasil, alternativas e protagonistas, inspirada na Campanha da Fraternidade de 1995, com o lema: A fraternidade e os excluídos. Entre as motivações que levaram à escolha do dia 7 de setembro para a realização do Grito dos/as Excluídos/as estão a de fazer um contraponto ao Grito da Independência”, diz o site oficial do evento.

“O primeiro Grito dos Excluídos/as foi realizado em 7 de setembro de 1995, tendo como lema A vida em primeiro lugar”. “A partir de 1996, o Grito foi assumido pela CNBB que o aprovou em sua Assembleia Geral, como parte do PRNM (Projeto Rumo ao Novo Milênio -doc.  56nº129). A cada ano, se efetiva como uma imensa construção coletiva, antes, durante e após o Sete de Setembro. Mais do que uma articulação, o Grito é um processo, é uma manifestação popular”, prossegue o site.

Em declarações ao portal de notícias Rede Brasil Atual, uma agência de notícias fundada por sindicatos, o bispo de Brejo (MA), dom José Valdeci Santos Mendes, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Ação Sócio-Transformadora da CNBB, responsável pelo evento, falou sobre a edição deste ano. 

“O grito é sempre atual no sentido de questionar todas as mazelas que estão aí na sociedade”, disse. 

“Por tudo que é negado, o direito à vida, essa derrubada dos direitos conquistados, a maneira como se encara a vacina – que na verdade deve ser para todos –, a negação da ciência, isso não é um governo que nos representa. Precisamos dizer ‘Fora Bolsonaro!’. Assumimos isso como um compromisso para uma sociedade mais justa e mais fraterna”.


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A HISTÓRIA DO RÁDIO EM FORMA DE PRODUÇÃO DE CULTURA E CARÁTER EDUCATIVO

Em se tratando de rádio no Brasil, não é raro que datas e nomes sejam cercados de polêmica, assim acontece também com a história da primeira emissora do Brasil, atualmente reconhecida a Rádio Clube de Pernambuco, que tem fundação em 1919, diferente do que foi ensinado na maioria dos cursos de Comunicação por muito tempo, dando conta que o título de primeira estação de rádio do país seria a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (hoje Rádio Mec), surgida em 1923.

Hoje, dia 7 de setembro não é marcado apenas pelo Dia da Independência do Brasil. Foi neste dia, em 1923, que a então Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por Edgard Roquette-Pinto, entrou no ar definitivamente no prefixo PRA-A. 

Ao longo dos seus 98 anos de história, a Sociedade foi doada para o governo federal, virou Rádio MEC e consolidou-se como uma das mais importantes emissoras do país, sem perder o caráter educativo e de promoção da cultura - e agora, foca nas plataformas digitais e em novos públicos.

O pontapé inicial para criação da Rádio Sociedade foi dado também na data de 7 de setembro, só que de 1922. Exatamente um ano antes da entrada definitiva no ar, o discurso do então presidente Epitácio Pessoa em uma exposição internacional em comemoração ao centenário da Independência do Brasil foi irradiada para 80 receptores no Rio de Janeiro. 

Foi a partir da transmissão que Edgard Roquette-Pinto e um grupo de membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC) deram início ao projeto que resultaria na Rádio Sociedade. A ata de criação da emissora foi redigida em 20 de abril de 1923, e a primeira transmissão experimental foi feita em 1º de maio daquele ano.

Roquette-Pinto foi reconhecido por grandes personalidades nacionais e estrangeiras, que transformaram a rádio num ponto de encontro. 

Thiago Regotto, atual gerente da Rádio MEC, contra que a data não foi um acaso: “Como Roquette-Pinto era nacionalista e bem metódico, ele faz a emissão oficial e inicial a partir de 7 de setembro de 1923. Tudo para ele era 7 de setembro. Há uma lógica por trás deste personagem”

E foi em também em um 7 de setembro, mas de 1936, que a emissora foi doada ao Ministério da Educação e passou a se chamar Rádio Ministério da Educação e Cultura (Rádio MEC). A doação por parte de Roquette-Pinto (que continuou até 1943 à frente da emissora) foi condicionada ao dever de, a agora Rádio MEC, continuar com “atividades exclusivamente educativas”.

De acordo com o livro Rádio MEC: Herança de um Sonho (lançado em 2006), de Liana Martinez esse momento é considerado como um dos primordiais na história da emissora. “A sigla MEC acabou adotada como uma marca – Música, Educação e Cultura – com destaque em seu prefixo sonoro”, conta.

Com o passar dos anos, a missão educativa da rádio foi cumprida com a transmissão de programas com fins didáticos. Dois deles fizeram história: o Colégio no Ar, que durou do pós-guerra até os anos 1950 e o Projeto Minerva, criado na década de 1970. Dados do livro “Rádio MEC: Herança de um Sonho” apontam que, em duas fases, o programa atendeu a mais de 545 mil alunos.

Além do foco em educação, a MEC AM também foi de suma importância na história da música e cultura do país. Em 1961, foi criada a Orquestra Sinfônica da Rádio MEC e entrou no ar o programa Música e Músicos do Brasil (hoje, produzido pela MEC FM). 

“Os grandes maestros que dirigiram as tantas orquestras que a emissora manteve em boa parte do século passado é um ponto de destaque na história da emissora”, escreve Liana.

Até 1983, quando foi criada a MEC FM, a Rádio MEC tinha programas voltados à música brasileira, infantil, música clássica e outros ritmos como o jazz. “Quando a rádio faz 60 anos, em 1983, ela "ganha" de presente a rádio MEC FM. Aí a rádio é desmembrada, criando a rádio de música clássica do Brasil em FM”, conta Regotto.

Hoje, o legado de Roquette-Pinto segue vivo nas ondas da Rádio MEC do Rio de Janeiro. Quase centenária, a rádio segue firme no dial 800 kHz, tem boa parte da programação transmitida na “irmã” MEC FM (99.3 MHz no Rio de Janeiro e 87.1 MHz em Brasília) e pode ser acessada pela internet e em aplicativos de celular.

Regotto destaca que a programação da MEC continua valorizando a programação educativa e cultural. “A MEC AM trabalha com o segmento da programação educativa dentro da cultura brasileira. A programação é pensada para passar conhecimento ao ouvinte. Uma música que conta uma história, fala sobre um autor, sempre nesta perspectiva de educar pelo rádio”, diz.

A emissora mantém a produção de programas diários, como o Rádio Sociedade pela manhã, que é ligado à educação, o Arte Clube, ao meio-dia, que é uma revista cultural e o Armazém Cultural à tarde, centrado na música. “Para a gente, também é muito importante a produção infantil da rádio, que aparece desde os primórdios da Rádio Sociedade e hoje é representada pela Rádio Animada”, diz Regotto.

Ele destaca que, hoje, mesmo com uma variedade de emissoras à disposição dos ouvintes, a rádio segue ocupando um espaço que é só dela. “A rádio cumpre um papel que nem uma outra rádio cumpre. No mercado, você não tem esse espaço. Como a rádio faz no Rio de Janeiro, só a MEC AM”.

Noventa e oito anos após a fundação, a Rádio MEC mantém ouvintes fiéis. Uma delas é a artista plástica Elizabeth Salles, que mora em São Gonçalo (RJ). Ela relata que escuta a rádio em seu ateliê e que a emissora é, de certa forma, uma inspiração. “Todos os bustos de mulheres que fizeram parte da história que esculpi tem, como inspiração, músicas que ouvi na rádio. A grande maioria embalada pelo Armazém Cultural”, diz.

O aposentado Luiz Arlindo, de Paty do Alferes (RJ), também elege o Armazém Cultural como o seu programa favorito. “Desde sempre, ouço emissoras de rádio. São companheiras com música que gosto e informação confiável. Depois que me aposentei e com a 'peste' [pandemia] passei a ouvir mais a MEC. Pega bem onde moro e é ótima companhia pros dias em casa”, conta.

Para o futuro, a MEC planeja uma expansão para novas plataformas e uma possível migração para a faixa estendida do FM. “A gente deseja a migração para o FM, para a faixa estendida, e trabalha com o conteúdo em plataforma digitais”, diz Regotto.

Há também planos para algo especial para o iminente centenário. “No centenário, queremos fazer um festival de música grande, mais integrado. Ainda estão nos planos, um livro e programas especiais na TV. O ano do centenário da Rádio MEC vai ser de desdobramento do centenário do rádio. Algo faremos, mas ainda estamos planejando”, conta Regotto.

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REVISTAS MÉDICAS FAZEM APELO HISTÓRICO EM DEFESA DO MEIO AMBIENTE

Em uma ação inédita, 233 revistas médicas, incluindo uma brasileira, publicaram conjuntamente um editorial pedindo a governos de todo o mundo que cuidem melhor de um paciente: a Terra. O documento foi divulgado a uma semana da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, a última reunião internacional antes da conferência do clima, a COP-26, que acontecerá em Glasgow (Reino Unido), em novembro. 

Os autores do artigo destacam que se trata de um “momento crucial para exortar todos os países a entregar planos climáticos ambiciosos e aprimorados para honrar as metas do Acordo de Paris”, o tratado sobre mudanças climáticas adotado por 195 países em 2015.

Mais de um século de emissões de gases de efeito estufa provocadas por atividades humanas, como a geração de energia, a industrialização e o desmatamento, causam sintomas gravíssimos ao paciente: nunca a temperatura esteve tão alta, o que desencadeia fenômenos extremos, derretimento de geleiras, aumento do nível do mar e desertificação de florestas, entre outros.

No editorial, os autores destacam que, há anos, a ciência mostra que não é só o planeta que adoece; as consequências das mudanças climáticas para a saúde humana são severas e já perceptíveis. “A base de uma sociedade saudável é um meio ambiente saudável”, comenta Raffaella Bosurgi, editora executiva da revista Plos Medicine e uma das signatárias do texto. 

“Os profissionais de saúde estão na linha de frente da crise da covid-19 e unidos para alertar que um aumento de temperatura acima de 1,5°C, além de se permitir a destruição continuada da natureza, trará a próxima, e muito mais letal, crise. Nações ricas devem agir rápido e fazer mais do que ajudar os países que já sofrem pelas altas temperaturas. 2021 tem de ser o ano do curso das mudanças mundiais — nossa saúde depende disso”, afirma, em nota, Fiona Godlee, editora-chefe da revista The British Medical Journal, uma das publicações médicas mais importantes do mundo.

“Nos últimos 20 anos, a mortalidade relacionada ao calor entre pessoas com mais de 65 anos aumentou em mais de 50%. As temperaturas mais altas causam desidratação e perda de função renal, doenças dermatológicas, infecções tropicais, resultados adversos para a saúde mental, complicações na gravidez, alergias, morbidade e mortalidade cardiovascular e pulmonar”, diz o editorial.

 “Os danos afetam desproporcionalmente os mais vulneráveis, incluindo crianças, populações mais velhas, minorias étnicas, comunidades mais pobres e aqueles com problemas de saúde subjacentes.”

Os riscos das mudanças climáticas à saúde humana são bem documentados e vão de óbitos por calor ou frio extremos ao surgimento de novas doenças infecciosas. Recentemente, um artigo, publicado na revista BMJ, que fez a revisão de quase 100 pesquisas científicas sobre o tema identificou 10 categorias para descrever problemas de saúde associados às mudanças climáticas, encontrando impactos negativos na gestação, no sistema respiratório, na saúde mental, em alergias de pele e no status nutricional, entre outros.

 Por sua vez, um documento científico divulgado, no ano passado, pela agência ambiental da Organização das Nações Unidas enfatizou que, para evitar a próxima pandemia causada por micro-organismo zoonótico (transmitido por animais, como o coronavírus da covid-19), é preciso parar de degradar o meio ambiente.

“De todas as doenças infecciosas humanas novas e emergentes, cerca de 75% saltam de espécies de outros animais para as pessoas”, diz a publicação da ONU. “A frequência de micro-organismos patogênicos que saltam de outros animais para as pessoas está aumentando devido a atividades humanas insustentáveis. Pandemias, como o surto da covid-19, são um resultado previsível e previsto de como as pessoas obtêm e cultivam alimentos, comercializam e consomem animais, além de alterarem o meio ambiente.”

No artigo conjunto publicado, ontem, pelas 233 revistas, os cientistas alertam sobre a necessidade de mudanças nos padrões de consumo, inclusive de alimentos. “Para cortar emissões, restaurar a agrobiodiversidade e parar com a destruição do mundo natural, precisamos mudar os padrões dietéticos globais para alimentos mais locais, frescos ou minimamente processados, e baseados em plantas”, diz o climatologista brasileiro Carlos A. Monteiro, um dos 19 autores do editorial e editor chefe da Revista de Saúde Pública, da Universidade de São Paulo (USP).

O editorial ressalta que uma ação global suficiente para enfrentar os desafios das mudanças climáticas só será possível se países ricos se comprometam a cumprir o compromisso, ainda pendente, de fornecer US$ 100 bilhões por ano para ações de mitigação e adaptação, incluindo as voltadas aos sistemas de saúde. Os autores destacam que o dinheiro deve vir na forma de doações, em vez de empréstimos.

A iniciativa da publicação foi da Aliança Saúde nas Mudanças Climáticas do Reino Unido. Em nota, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, comentou sobre o tema do editorial. “Os riscos impostos pelas mudanças climáticas podem superar os de qualquer doença. A pandemia da covid-19 vai acabar, mas não há vacina para a crise climática. O relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), um consórcio de cientistas de todo o mundo), mostra que cada fração de grau mais quente ameaça nossa saúde e nosso futuro. Da mesma forma, cada ação realizada para limitar as emissões e o aquecimento nos aproxima de um futuro mais saudável e seguro.”

“Fazer o melhor pelos pacientes exige que os profissionais de saúde compartilhem mensagens difíceis todos os dias. Hoje, a comunidade da saúde se reúne para dizer aos líderes mundiais o que eles ainda não ouvem: ações emergenciais na crise ambiental devem ser tomadas para proteger a saúde. Pelo bem da nossa saúde e pelo bem do futuro, as nações ricas devem fazer mais para apoiar os países que mais sofrem.” Marcel Olde Rikkert, editor chefe do Dutch Medical Journal, da Holanda.

“O meio ambiente e a saúde estão inextricavelmente interligados. As mudanças climáticas estão nos colocando em perigo de várias maneiras, incluindo seus impactos críticos na saúde e na prestação de cuidados de saúde. Como médicos e profissionais de saúde pública, temos a obrigação não apenas de antecipar novas necessidades de cuidados, mas também de sermos participantes ativos na limitação das causas da crise climática.” Eric J. Rubin, editor chefe do The New England Journal of Medicine, dos EUA.

“A mudança climática não é mais teórica. É uma emergência de saúde real, e não há lugar para se esconder. O impacto tornará a covid-19 algo pequeno. Os profissionais de saúde têm um papel importante a desempenhar nesta emergência, promovendo mudanças no sistema de saúde para reduzir drasticamente as emissões e os resíduos, defendendo politicamente e educando nossos pacientes e o público. Nossos filhos, e os deles, dependem de nós agirmos agora, não amanhã.” Nicholas Talley, editor chefe do Medical Journal of Australia, da Austrália.

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MACIEL MELO RETORNA DA QUARENTENA COM PARCERIAS, ÁLBUM DE INÉDITAS E TERCEIRO LIVRO

Caboclo sonhador e de coração tão sertanejo. Maciel Melo, 58, se autodefine nos versos que assina – inclusive destes extraídos de um clássico da música nordestina (e brasileira), Caboclo Sonhador (1982).

Cantor, compositor, poeta, escritor e quaisquer outras possibilidades que a arte lhe permitir, ele segue ávido em musicar poesias e ritmar pensamentos e, quiçá, roteirizar histórias para o cinema. “Ainda quero dirigir um filme, roteiro já tenho”, adianta ele, natural de Iguaraci, Sertão pernambucano, Região fomentada por seus cantos e causos.

De volta e como ele mesmo afirma “em grande estilo” após uma quarentena inspiradora em que produziu um álbum de inéditas e findou seu terceiro livro (A Marca da Cicatriz), ele também arrematou parcerias na música dentre elas com um veterano do cancioneiro nacional, Renato Teixeira. 

“Nós nos conhecemos há algum tempo, já tínhamos canções juntos. Minha junção com ele tem me dado um gás danado”, celebra Maciel, em conversa com a Folha de Pernambuco.

Com Renato, Maciel Melo recentemente fez shows em Caruaru e Santa Cruz de Capibaribe, no Agreste. Ocasiões exaltadas por ele em rede social. “(...) O instante mais sublime de minha vida, cantar com Renato Teixeira”.

O impulso de dividir o palco com o cantor e compositor paulista veio à tona depois de quase dois anos sem trabalhar, mas que não o impediu de produzir material robusto para lançamentos em um futuro próximo e outras parcerias com nomes como Fagner, Bráulio Tavares e Geraldo Azevedo. Mas as pretensões do cantador pernambucano vão mais adiante. 

“Quero chegar ao Sul e Sudeste, e vai ser com Renato. Quero dar uma ‘voada’ por lá. Ele tem mais a ver com o meu jeito de compor e vai ser meu elo com esse lado do Brasil”, destacou Maciel sobre um dos seus desejos imediatos.

Mas antes de alargar a trajetória de mais de 40 anos e pelos menos 400 composições – parte delas emprestadas a vozes diversas da MPB – ele segue atento ao que paira por sobre a imensidão que repousa no Recife, cidade homenageada por ele em um blues ao lado de Teixeira em “Recife Eu e Você”, disponível nas plataformas em breve. “Renato queria celebrar a cidade. Me ligou dizendo que havia me escolhido para fazer a canção”.

Avesso a “esse negócio de live”, como ele mesmo diz, Maciel até se rendeu ao formato no período junino. Mas em sendo nordestino e das bandas sertanejas, do tipo que arrasta vaidoso a sandália de couro e um chapéu que o identifica - é com o olho no olho que se afina.

“É muito chato a live, o povo vê a gente, mas a gente não vê o povo. É um negócio muito frio e precisamos do olhar das pessoas. Se as pessoas tomarem consciência de que a pandemia ainda não acabou e precisamos tomar cuidado, vamos voltar logo”. 

Com representatividade que vai além do seu fazer artístico, Maciel Melo se assume como formador de opinião quando sobe ao palco e se depara com multidões, e não hesita em enxergar realidades, tais quais as que têm tomado a Cultura, setor penalizado com a pandemia e com a falta de políticas públicas.

“Fomos os mais prejudicados com a Covid-19. E temos um governo (federal) com ações que vão de encontro a frentes como educação e cultura. Artista representa pessoas, não à toa boa parte do que faço se relaciona com questões sociais. Sou artista e transformo em música o que penso como cidadão”, complementa ele que entre as boas-novas do seu retorno fez ao lado de Bráulio Tavares a canção “A Hora do Lobo”, traduzindo vivências de um poeta que quando está “rabiscando umas folhas de papel, sabe que a vida é quase nada”, mas (sempre) pode ser reanimada com a potência de um nordestino cantador. (Fonte: Germana Macambira/Folha de Pernambuco)

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