"DOMINGUINHOS MUDOU O MEU ENTENDIMENTO SOBRE A MÚSICA", DIZ VIOLONISTA E COMPOSITOR GAÚCHO YAMANDU COSTA

“A oportunidade que tive de trabalhar com Dominguinhos mudou meu entendimento sobre a música. Foi uma coisa sem comparação a maneira como ele me ensinou coisas, da forma mais pura possível: tocando. Nunca me falou nada, nunca me deu um conselho. O Brasil não se dá conta da sorte que tivemos de Dominguinhos ter nascido no nosso País, um instrumentista sem igual.”

Essa declaração foi feita pelo violonista e compositor gaúcho Yamandu Costa no programa Vira e Mexe, da Rádio USP (93,7 MHz), no dia 13 de fevereiro.  O programa apresentou o segundo dos quatro episódios de série especial que comemora os 80 anos do cantor, compositor e instrumentista pernambucano Dominguinhos, que nasceu em 12 de fevereiro de 1941, em Garanhuns (PE), e morreu em São Paulo em 23 de julho de 2013, aos 72 anos.

O cantor Chico Cesar disse que Dominguinhos é uma espécie de Santo, representante da Deusa Música na terra e que agora flui no Eter.

O cantor e sanfoneiro Mestrinho declarou que Dominguinhos era iluminado e importante para a cultura brasileira. "Dominguinhos urbanizou o forró sem perder a essência de Luiz Gonzaga. Revolucionou a música e criou um jeito de tocar até hoje única. Dominguinhos era de uma bondade imensa. Um ser humano de uma grandeza de alma pura. É a minha maior inspiração. A obra de Dominguinhos é eternizada como a de Bethoven, Bach. Dominguinhos é genial".

O Programa Vira e Mexe vai ao ar pela Rádio USP (93,7 MHz) sempre aos sábados, às 11 horas, com reapresentação à 0 hora de segunda-feira, inclusive via internet, através do site da emissora. Às segundas-feiras ele é publicado no Jornal da USP. O programa é produzido por Paulinho Rosa (edição) e Dagoberto Alves (sonoplastia). A apresentação é de Paulinho Rosa.

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DOMINGUINHOS MUITO ALÉM DO BAIÃO. UM MÚSICO GENIAL

 

“Acaba tudo em baião”, sintetizou o coautor do hit forrozeiro Isso aqui tá bom demais (parceria com Nando Cordel, de 1985) em fala reproduzida no documentário Dominguinhos (2014), dirigido por Eduardo Nazarian, Joaquim Castro e Mariana Aydar para dar a devida dimensão ao legado de Seu Domingos, o imortal sanfoneiro, compositor e cantor conhecido popularmente como Dominguinhos – artista que faria 80 anos nesta sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021.

Nem tudo acabou no molde do baião apresentado ao Brasil por Luiz Gonzaga em 1946. Basta inventariar a obra do artista para concluir que é redutor caracterizar Dominguinhos somente como o herdeiro de Gonzaga.

Por ter sido de lá, de Garanhuns (PE), cidade do interior de Pernambuco, o sanfoneiro sempre ouviu o chamado sertanejo dos baiões, xotes e toadas que compõem a parcela mais conhecida da obra autoral do compositor.

Contudo, Dominguinhos expandiu o legado do proclamado Rei do baião, tanto no toque inventivo da sanfona como na composição de boleros, choros, fados e valsas. Em Baião violado (1976), tema instrumental de autoria do artista, o músico mostrou como se tocava o baião com a influência do jazz, em mais uma prova de que o universo musical de Dominguinhos sempre extrapolou as fronteiras da nação nordestina.

Por tudo isso, e também pelos 80 anos, Dominguinhos está sendo celebrado de 12 a 15 de fevereiro com a sétima edição do festival Dominguinhos através, organizado pelo músico sergipano Lucas Campelo.

O tributo pelos 80 anos se estende a outro evento programado para a semana vindoura. Na próxima sexta-feira, 19 de fevereiro, Dominguinhos também será homenageado na abertura da terceira (virtual) edição do festival Toca.

Orquestrados sob a direção musical de Marcelo Caldi, três shows inéditos em torno da obra de Dominguinhos – Instrumental sanfônico (com a Orquestra Sanfônica, de Caldi), As canções de Domingos (com Durval Pereira, Beto Lemos e Marfa Kourakina e participação de Marcelo Mimoso e Juliana Linhares) e Pé de serra (com adesões de Lucy Alves e do mesmo Marcelo Mimoso) – serão transmitidos ao vivo, diretamente do palco do Teatro Riachuelo, no Rio de Janeiro, estado para onde o sertanejo Domingos migrou em 1954.

Dez anos depois, em 1964, ele lançou o primeiro álbum, Fim de festa. A festa ficaria cada vez mais animada – sobretudo a partir da década de 1970 – e iria durar até 2013, quando Dominguinhos saiu de cena, aos 72 anos, vítima de problemas cardíacos e respiratórios agravados por câncer de pulmão.

Dos seis anos (idade em que aprendeu a tocar sanfona com o pai para se apresentar em feiras e praças como integrante do trio familiar Os três pinguins) até os 72 anos, Dominguinhos construiu obra eternizada em grandes vozes do Brasil.

Seguidores de estrelas da MPB sabem que é impossível ouvir a canção Contrato de separação (Dominguinhos e Anastácia, 1979) sem dissociá-la do canto de Nana Caymmi. Ou escutar o xote Eu só quero um xodó (Dominguinhos e Anastácia, 1973) sem pensar no canto de Gilberto Gil, de quem Dominguinhos virou parceiro quando Gil pôs letra na melodia de Lamento sertanejo (1973), tema originalmente instrumental.

Se Elba Ramalho imortalizou De volta pro aconchego (Dominguinhos e Nando Cordel, 1985), Maria Bethânia caiu nos braços da paz e do povo ao gravar Gostoso demais (Dominguinhos e Nando Cordel, 1986).

Parceiro de Chico Buarque (em Tantas palavras e Xote de navegação, músicas lançadas em 1984 e 1998, respectivamente) e de Djavan (em Retrato da vida, composição de 1998), Dominguinhos construiu obra fonográfica que merece mais atenção de quem acredita que o legado do artista está concentrado nos sucessos e discos mais populares.

O forró de Dominguinhos (1975), Domingo menino Dominguinhos (1976), Oi, lá vou eu (1977), Ó Xente! Dominguinhos (1978) e Após tá certo (1979) – álbuns gravados pelo artista na Philips, no rastro da popularidade nacional obtida a partir de 1973 – são exemplos de como Dominguinhos soube ir além de Luiz Gonzaga sem jamais ter renegado as lições do mestre que lhe estendera a mão no início difícil da trajetória artística no Rio de Janeiro.

Nem sempre acabou tudo em baião à moda de Luiz Gonzaga e, na certa por isso mesmo, Seu Domingos está eternizado no panteão da música brasileira como compositor e instrumentista de identidade própria.

*Mauro Ferreira-Jornalista carioca que escreve sobre música desde 1987, com passagens em 'O Globo' e 'Bizz'. Faz um guia para todas as tribos

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MUTIRÃO RECOLHE LIXO E ALERTA PARA PRESERVAÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO

Uma ação realizada às margens do Rio São Francisco, na manhã do último sábado (13), recolheu duas toneladas de lixo entre as cidades de Juazeiro/BA e Petrolina/PE.

O mutirão 'Combate ao lixo no rio', promovido pela Marinha do Brasil através da Capitania Fluvial de Juazeiro – CFJ, em parceria com a Agrovale e a Agência Municipal de Meio Ambiente de Petrolina (AMMA), começou bem cedo com um grupo de voluntários recolhendo e identificando os resíduos sólidos.

De acordo com o capitão dos Portos de Juazeiro e capitão de Corveta (AA), Luís Filipe Melo da Mata, as ações realizadas neste sábado acontecem em todo o Brasil como parte da operação 'Verão 2020/2021 Todos por uma Navegação Segura' e aqui visam evidenciar a importância de manter o rio limpo e vivo. "A Agrovale, contribui efetivamente nessa causa importante, com a doação de materiais para melhorar a implementação da coleta seletiva e combater o lixo no rio", ressaltou.

A coordenadora de Meio Ambiente da Agrovale, Thaisi Tavares, destacou a importância do Mutirão, enfatizando que ações como essa, proporcionam uma maior conscientização da população em preservar os recursos naturais. "O Rio é o nosso maior patrimônio. Temos que mantê-lo vivo e vigoroso.Espero que outras pessoas também se sintam convidadas a participar de ações tão necessárias", pontuou.

Um dos voluntários do Mutirão, o trabalhador rural Iuri França Santos, também falou da importância da ação, lembrando que a vida do rio é um compromisso de todos." É bastante gratificante combater a sujeira e o descaso para com a natureza. Devemos preservar a vida para as futuras gerações. Viva o Rio São Francisco", concluiu. (Fonte: CLAS Comunicação & Marketing)

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INSTITUTO CULTURAL RAIZES DARÁ INÍCIO AO PROJETO KARIBANTU

O Instituto Cultural Raízes, dará início no próximo dia 21 de fevereiro de 2021 ao Projeto KARIBANTU, que dialogará com as experiências históricas desenvolvidas pelo povos negros e indígenas de Pernambuco (em especial da região do sertão), suas histórias de resistência, desde os tempos em que teve início a chamada colonização e consequentemente a escravização dos povos originários e dos africanos.

A junção das tradições culturais e espirituais dos povos africanos para cá trazidos, de origem Bantu, com os povos originários (hoje chamados de indígenas) do tronco da Nação Kariri (também chamados de Tapuios ou Tapuias), deu origem a formação de uma sociedade baseada nos aspectos e valores ancestrais, ainda presentes nos dias de hoje, em que pese os ataques e violências sofridos, o racismo e preconceito de que são vítimas e a onda devastadora do modo de vida consumista e individualista, além da negação da importância das raízes culturais, que impera em nossa sociedade.

O Projeto KARIBANTU, tem como objetivo principal, concluir e publicar a pesquisa e vivência já desenvolvida ao longo dos últimos 11 anos, pelo Instituto Cultural Raízes, sobre o processo de resistência humana e cultural dos povos originários e negros no interior de Pernambuco.

Já em relação aos Objetivos Específicos, merece destaque os seguintes aspectos:

– Aprofundar as relações ancestrais desenvolvidas entre os povos, fortalecendo os laços existentes, na perspectiva de recompor formas organizativas e comunitárias, baseadas em valores éticos e humanos, contidos nas experiências históricas dos mesmos;

- Potencializar as ações desenvolvidas pelos originários/tradicionais (indígenas e quilombolas), quanto à valorização de suas tradições e saberes históricos, a partir da oralidade (forma tradicional de linguagem dos povos) e também da escrita e da documentação em audiovisual;

– Fortalecer as organizações sociais e comunitárias de ambos os povos, a partir do potencial histórico e atual, expressado nas artes, na cultura e nas tradições;

- Promover o intercâmbio e a troca de experiências entre os Povos, fortalecendo os laços de irmandade e união entre os mesmos;

- Contribuir para a consolidação do processo de autoafirmação dos povos.

Para conhecer melhor o Projeto KARIBANTU e acompanhar suas ações, lhes convidamos a acessar as redes sociais do Projeto. BLOG, INSTAGRAM, PÁGINA NO FACEBOOK, GRUPO NO FACEBOOK, YOUTUBE.

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LIVE SHOW COMEMORA 80 ANOS DO POETA E COMPOSITOR JOSÉ CARLOS CAPINAN

Autor de clássicos como Ponteio, com Edu Lobo, que venceu o III Festival da Música Popular Brasileira, da TV Record, em 1967; Soy Loco por Ti América, com Gilberto Gil, incluído no clássico disco manifesto Tropicália ou Panis et Circencis, e Papel Marchê, com João Bosco, entre tantas outras canções que marcaram a MPB, o poeta, compositor e médico José Carlos Capinan comemora dia 19 de fevereiro 80 anos.

O músico e compositor baiano José Carlos Capinan será homenageado na próxima sexta-feira (19), às 19h com uma live-show que reunirá arte, conversa e música. Estão confirmadas as presenças dos artistas Jards Macalé, Roberto Mendes e Gereba.

O evento online “Palco Aberto Boca de Brasa” será transmitido no perfil do Muncab no Youtube e contará com a apresentação do jornalista Leonardo Lichote, especialista na área músical. Na ocasião, também será realizado o lançamento da edição do Caderno de Músicas - revista mensal focada em MPB e uma minissérie onde Capinam narra o surgimento das principais canções dele.

O evento é realizado pelo Muncab (Museu Nacional da Cultura Afro-brasileira), a Amafro, o Espaço Cultural Boca de Brasa, da Prefeitura de Salvador, e conta com co-realização da Nubas e da Estandarte Produções e apoio do Caderno de Música.

Confira texto da jornalista Eliete Negreiros, Revista Piauí:

Algumas músicas causam tal impacto na vida da gente que se tornam um marco. Talvez pela capacidade que têm de expressar, de modo poético, o espírito de uma época, ou o alumbramento de um instante, ou alguma verdade que estava ali, dispersa. Quase como uma magia, muitas canções são, assim, a expressão de uma infinidade de sentimentos, emoções, impulsos, pensamentos, uma iluminação interior, ordem sutil no caos que se move dentro da gente.

José Carlos Capinan, quando compôs Movimento dos barcos, deu voz a uma geração, ao estado de espírito de uma época, que assumia a mudança e a transformação como filosofa de vida. E era a minha geração. Ansiávamos por mudanças na estrutura familiar, na sociedade, no modo de ser e de estar no mundo. Queríamos abrir a boca e falar daquilo que se passava conosco, quebrar a casca da aparência que estava sufocando a exuberância, da nossa juventude. Queríamos um mundo mais fraterno, mais justo. Tanta miséria, tanta desigualdade, tanta opressão. Haveria de ter um outro modo de mundo e de ser da gente… Anos 70.

Fizemos dos amigos nossa família. Misturamos política e existencialismo e vivemos todos os conflitos que disso resultou. Queríamos abraçar o movimento, passar junto com o tempo – as coisas passando eu quero / passar com elas, eu quero / e não deixar nada mais do que as cinzas de um cigarro / e a marca de um abraço no seu corpo não. Transitoriedade, transformação, impermanência, descoberta de si, do outro, do mundo, mudança de costumes. Antropofagicamente, nos apropriamos do lema da revolução francesa: liberdade, igualdade, fraternidade, sob um outro ângulo, sob o sol dos trópicos, terra brasilis.  Não sou eu quem vai ficar no porto chorando, não / lamentando o eterno movimento / movimento dos barcos, movimento.

Como cantei e toquei esta canção, incontáveis vezes. Por um tempo foi minha voz, a voz do meu ser, foi o meu hino, ou melhor, foi meu mantra. Chegava em casa, pegava o violão e ficava cantando. Uma oração. E também como a escutei…  Bethânia, Macalé. Jards Macalé e Capinan.  Nosso poeta Capinan e sua sabedoria. E eu também não queria ficar no porto chorando, não, lamentando o eterno movimento, movimento dos barcos, movimento. Queria celebrar a passagem dos dias e das horas, as coisas passando, eu quero / passar com elas, eu quero...

A poética de Capinan é multifacetada, tanto na temática quanto na forma. Há canções com temas regionais, que falam do Nordeste, como Ponteio, Viola Fora de Moda, com influência da literatura de cordel – Disso eu me encarrego / Moda de viola / Não dá luz a cego, ah, ah, e outras de um lirismo puro de estórias encantadas que lembram as brincadeiras da infância no sertão, como Cirandeiro  – Ó cirandeiro, ó cirandeiro, ó, a pedra do seu anel / brilha mais do que o sol.

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DIA MUNDIAL DO RÁDIO É COMEMORADO NESTE SÁBADO (13)

Em todo país, circulam ondas eletromagnéticas que transmitem informações importantes para a garantia de direitos e para a democracia. Tais ondas podem ser decodificadas por pequenas caixas que podem funcionar apenas com pilhas. De tão relevantes, essas caixas têm, a elas, um dia que foi mundialmente reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco): o Dia Mundial do Rádio, comemorado neste sábado, 13 de fevereiro.

O potencial comunicativo do rádio já foi comprovado em vários momentos ao longo da história. Em um deles, ocorrido em outubro de 1938, milhares de norte-americanos entraram em pânico ao ouvirem, na rádio CBS, o ator Orson Welles alertando sobre uma suposta invasão de marcianos.

Tratava-se apenas de um programa de teleteatro, uma versão radiofônica do livro A Guerra dos Mundos, de H.G Wells. Ao se dar conta do alvoroço entre a população, a emissora teve de interromper o programa para esclarecer o fato aos ouvintes que não haviam assistido a parte inicial da transmissão.

“O rádio é, sem dúvida, o mais democrático de todos os meios de comunicação. Para desfrutar dele, não há necessidade de pagar internet, nem de ter energia elétrica. Basta ter pilha ou uma bateria”, argumenta o jornalista Valter Lima, âncora, desde 1986, de um dos programas radiofônicos mais longevos do Brasil: o Revista Brasil, da Rádio Nacional, veículo da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

O aspecto democrático que compõe a essência do rádio é também corroborado pela Unesco que instituiu nesta data, 13 de fevereiro, como o Dia Mundial do Rádio.

“A estratégia da Unesco é a de fortalecer o rádio, que é o veículo mais essencial, principalmente nos muitos países onde, seja por conflitos, catástrofes ou por falta de estrutura, não há internet nem energia elétrica acessível para a população. Nesses casos é o rádio que consegue localizar e salvar vidas, justamente por conta da possibilidade de depender apenas de pilha para ser usado”, disse à Agência Brasil o coordenador de comunicação e informação da Unesco no Brasil, Adauto Cândido Soares.

Adauto Soares acrescenta que o interesse da Unesco em trabalhar neste campo da comunicação está relacionado à visão de que o acesso à informação é parte integrante do direito à comunicação. “Até porque, sabemos, quando um país tem sua democracia atacada, é o direito à comunicação o primeiro a ser silenciado.”

Segundo o coordenador da Unesco, que desenvolve também um trabalho de denúncia de violações de direitos humanos contra jornalistas, os radialistas são as maiores vítimas desse e de outros tipos de violação.

“De um total de 56 jornalistas assassinados em todo o mundo em 2019, 34% atuavam no rádio; 25% em TV; 21% em mídia online; 13% em mídia impressa e 7% em plataformas mistas. Desse total, três mortes ocorreram no Brasil”, disse, citando números do levantamento Protect Journalists, Protect the Truth, publicado pela Unesco em 2020.

A criatividade é uma das características que sempre acompanharam o rádio. Com a chegada de novas tecnologias, em especial, as ligadas à tecnologia da informação, o rádio manteve seu aspecto inovador e continua a se reinventar.

Presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Flávio Lara Resende lembra que muito se falou sobre a morte do rádio, com a chegada da TV. “Foi quando o rádio perdeu espaço. Mas não perdeu importância”, disse.

“Se perdeu alguma importância após a chegada da TV, depois voltou a ganhar [importância] quando apareceram novas plataformas, e ele se reinventou, apresentando programações segmentadas, canais específicos de jornalismo herdados, influenciados e influenciadores da TV”, disse o presidente da Abert.

“Hoje, com a internet, ouve-se a notícia radiofônica e vê-se os jornalistas que fazem a notícia. O rádio continua a ter grande importância e está aumentando cada vez mais, reinventando-se diariamente”, acrescentou.

Diante da necessidade de se reinventar constantemente, a Rádio Nacional lançou recentemente (no dia 10 de fevereiro, em meio às celebrações pelo Dia Mundial do Rádio) seu perfil na plataforma Spotify no qual o público pode ouvir – onde e quando quiser – “o melhor da música brasileira”. Para acessar o serviço, basta acessar as playlists “É Nacional no Spotify”.

O Brasil registra 5,1 mil rádios comerciais, 700 educativas, 458 rádios públicas e 4,6 mil comunitárias, segundo o Ministério das Comunicações.

De acordo com o Ministério das Comunicações há, no Brasil, cerca de 5,1 mil rádios comerciais (3.499 na banda FM; e 1325 nas bandas AM, entre ondas médias, curtas e tropicais). Há, ainda, cerca de 700 rádios educativas; 458 rádios públicas; e 4.634 rádios comunitárias.

Na pesquisa Inside Radio, na qual são apresentados aspectos relativos a comportamento e hábitos de ouvintes de rádio, a Kantar Ibope Media constatou que o rádio é ouvido por 78% da população nas 13 regiões metropolitanas pesquisadas. Além disso, três a cada cinco ouvintes escutam rádio todos os dias. E, em média, cada ouvinte passa cerca de 4h41m por dia ouvindo rádio.

O levantamento avalia também questões relativas à adaptação do rádio à web, bem como novas formas de consumo de áudio, como podcasts e conteúdo on demand.

De acordo com a pesquisa, 81% dos ouvintes escutam rádio por meio de rádio comum; 23% pelo celular; 3% pelo computador; e 4% por meio de outros equipamentos, como tablets.

O crescimento que vem sendo observado na audiência via web demonstra, segundo a Kantar, “a grande capacidade de adaptação do rádio”. Segundo a pesquisa, 9% da população que vive nas 13 regiões metropolitanas pesquisadas ouviram rádio web nos últimos dias. O percentual é 38% maior do que o registrado no mesmo período de 2019.

Em um ano (entre 2019 e 2020), o tempo médio diário dedicado ao rádio via web aumentou em 15 minutos, passando de 2h40 para 2h55, diz a pesquisa. Além disso, 16% dos ouvintes pesquisados escutam rádio enquanto acessam a internet.

Os podcasts também têm ganhado popularidade. Entre os ouvintes de rádio que acessaram a internet durante a pandemia, 24% ouviram podcasts; 10% aumentaram o uso de podcasts; e 7% ouviram um podcast pela primeira vez.

As chamadas lives também registraram aumento de audiência durante a pandemia, com 75% dos entrevistados dizendo ter começado a assistir lives de shows a partir do início das medidas de isolamento social impostas pela pandemia de covid-19. Ainda segundo o levantamento da Kantar, 75% dos ouvintes de rádio disseram ouvir rádio "com a mesma intensidade, ou até mais", após as medidas e 17% disseram ouvir "muito mais" rádio após o isolamento.

A associação do rádio com novas tecnologias, no entanto, deve ser vista com cautela, para não acabar inviabilizando o formato tradicional desse tão importante veículo. “Emissoras de rádio hoje são em rede, mas a do interior, com outra realidade, não tem essa capacidade de recurso para investimento, como as grandes redes estão fazendo, em especial, quando transformam rádio em uma nova espécie de televisão”, alerta o jornalista Valter Lima.

Segundo ele, ao condicionar o rádio à necessidade de contratação de serviços como o de internet, perde-se exatamente o aspecto democrático que esse veículo sempre teve. “Uma coisa que achatou o desenvolvimento do rádio, infelizmente, foi o fato de ele estar nas mãos de grupos poderosos que possuem também emissoras de televisão [e, em alguns casos, vendem também serviços de internet]. Isso causa um grande desequilíbrio porque, enquanto as TVs estão com equipamentos cada vez mais modernos, há, no interior do Brasil, muitas rádios ainda operando com equipamentos que já até deixaram de ser fabricados”, acrescenta.

RÁDIOS COMUNITÁRIAS: O radialista destaca também o importante papel que as emissoras de rádio comunitárias têm para as regiões “ainda que pequenas” às quais prestam o serviço. Segundo ele, pela proximidade que têm com suas comunidades, essas rádios estão muito mais “antenadas”, com as necessidades locais, do que os grandes grupos de radiodifusão.

Entre os muitos desafios das rádios comunitárias, Valter Lima destaca a necessidade de elas saírem das amarras burocráticas impostas pela legislação.

“É por causa disso que essas rádios, com serviços tão importantes para suas comunidades, não conseguem ir além daquele pedaço tão pequeno. Há também as dificuldades para conseguirem lucros mínimos, de forma a poderem investir e evoluir”, disse o jornalista.

Valter Lima lembra que toda emissora de rádio precisa de ouvintes, e que, para alcançá-los, sempre teve de recorrer a programas inteligentes, criativos e, sobretudo, participativos.

“O conceito de rádio não é o de ser apenas uma caixinha para ser ouvida quando ligada. Rádio precisa ter participação. Precisa ser um espaço para o público dar a sua opinião aos chamados ‘formadores de opinião’. A TV até dá algum espaço para isso, mas nada se compara ao rádio.”

Lara Resende, da Abert, também vê, na interatividade do rádio, um de seus grandes méritos. “A fidelização do ouvinte de rádio é muito interessante porque ele passa a achar que faz parte do programa. Hoje, inúmeras plataformas permitem comentários. Com isso, o rádio ficou ainda mais participativo”, disse.

Um outro aspecto acompanhou o rádio ao longo de sua história: a rapidez com que a notícia é dada, quase que simultaneamente ao fato noticiado. Anos depois, com a ajuda de equipamentos tecnológicos como celulares e internet móvel, outros veículos ganharam velocidade e deram a esse novo tipo de jornalismo veloz o nome de tempo real.

“O rádio sempre foi e continua sendo o primeiro a dar a notícia. O furo é sempre do rádio. Essa é a nossa rotina. Enquanto o outro veículo está digitando texto ou preparando a transmissão nós já estamos no ar usando apenas um aparelho telefônico”, explica Valter Lima.

“Antes do advento do celular, a notícia era dada por meio dos famosos orelhões. Os repórteres andavam com umas 20 fichas no bolso e um cadeado. Sim, um cadeado para travar o telefone, de forma a inviabilizar seu uso pelo concorrente”, lembra o radialista.

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MÚSICO JOÃO NETO, O GUITARRISTA QUE ACOMPANHAVA O SANFONEIRO DOMINGUINHOS

Dominguinhos gostava de andar devagar de qualquer forma. Com medo de avião, ele jamais voltou a pegar o transporte aéreo desde o final dos anos de 1970. Para cumprir a agenda de shows, dirigia o próprio carro – independente da distância, acompanhado de algum músico ou produtor do lado. Nesta sexta (12), o sanfoneiro, falecido em 2013, completaria 80 anos de idade.   

Quem conta a vida do sanfoneiro pela estrada é João Netto, seu ‘quase’ conterrâneo. Nascido em Buíque (PE), o guitarrista se mudou cedo para Garanhuns (PE) – onde Dominguinhos nasceu. Antes de parar de voar, o sanfoneiro chegou a tocar na Europa. Depois, passou a montar sua agenda no período de São João, por exemplo, subindo de carro pelo Espírito Santo, Bahia, até chegar em Pernambuco e aqui pelo Ceará. 

A maioria dos músicos da banda de apoio viajava sempre, para fazer os shows, de avião. Dominguinhos chegava até 4, 5 dias depois, a depender do destino – e foi João Netto quem lhe acompanhou várias vezes. “Ele ainda andava a 80, 90 km/h. Acho que isso era ruim até pro carro (risos). E parava no posto. Quando eu pegava o volante, ele tomava os comprimidos dele e dormia, mas nunca deixava eu passar de 100 (km/h). ‘João, tá correndo demais, pode não’”, lembra o guitarrista. 

João observa que a convivência selou a amizade com o sanfoneiro – para além do compromisso profissional. “A gente conversava de tudo, ficou amigão de segredos e tudo mais. Era muito bom”, elogia o músico.    

Bem antes da parceria pela estrada, o primeiro contato entre João Netto e Dominguinhos foi confuso. O guitarrista tocava, na década de 1990, com Nando Cordel (PE). O sanfoneiro escutou a guitarra da banda de Cordel em uma gravação de fita K7 e perguntou quem era. 

Já em São Paulo, João Netto foi tocar com Dominguinhos, pela primeira vez, em um festival em Campos do Jordão (SP).

João Netto recapitula que tocou com Dominguinhos até o último show, em homenagem a Luiz Gonzaga em Exu (PE) - dia 13 de dezembro de 2012. “Foi o último dia que vi Seu Domingos”, sinaliza. O guitarrista conta que, nessa fase, o sanfoneiro precisava tratar uma série de problemas de saúde, mas conseguia manter o bom humor e a disposição renovada com os palcos.  

“Ele tinha diabetes, teve câncer, fazia tratamento alternativo com uma doutora japonesa. Mas ele aguentou muito tempo, a música transforma. A pessoa tá doente, sobe no palco e a música dá uma energia maior. Comigo acontece, com ele não seria diferente”, reflete João.  

Grato pela vivência ao lado do sanfoneiro, João Netto diz como Dominguinhos era espirituoso e abriu várias portas para a carreira musical do guitarrista. Em 2017, ele, Marcelo Melo (Quinteto Violado), Sérgio Andrade (Banda de Pau e Corda) e Gennaro (Trio Nordestino) formaram o quarteto Cantoria Agreste e fizeram shows - incluindo Fortaleza - dedicados ao repertório do sanfoneiro. O projeto está parado, mas “pode voltar”, prevê o músico.  

"Com ele, cheguei próximo de pessoas que nem imaginava, como (Gilberto) Gil, Elba Ramalho, Ivete Sangalo, João Bosco. Ele e Belchior foram duas pessoas que entraram na minha vida e agradeço a Deus por ter conhecido. Foi muito bom mesmo. Tenho Dominguinhos no meu coração pelo resto da vida. A obra dele é eterna e está aí para tanta gente nova”, celebra João. (Fonte: Diário do Nordeste)


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