VALDI GERALDO NESSA ESTRADA DA VIDA, VIVA LUIZ GONZAGA 108 ANOS

 

Valdi Geraldo Teixeira. Sempre é bom lembrar: o grande balaio musical de Luiz Gonzaga tem um exuense. A cada viagem que fazia pela região Nordeste Luiz Gonzaga "descobria", encontrava um compositor.

Em Caruaru: Onildo Almeida. Rio Grande do Norte, o Janduhy Finizola. Paraíba, José Marcolino, Antonio Barros; em Pesqueira, Nelson Valença. Campina Grande, Rosil Cavalcanti. No Rio de Janeiro encontrou o parceiro Humberto Teixeira, nascido em Iguatu, Ceará. José Clementino, em Varzea Alegre. João Silva, Arcoverde, Zé Dantas, em Pernambuco, para citar alguns destes poetas parceiros que deram Luz ao obra e vida do Rei do Baião.

E pertinho dele, ali na curva da Chapada do Araripe, em Exu, na sua terra, Valdi Geraldo, o Neguinho do Forró. Músico, compositor de quem Luiz Gonzaga gravou a música "Nessa Estrada da Vida" em 1984 no disco (LP), Danado de Bom. Neguinho do Forró é um desses talentosos compositores que contribuen com o reinado de Luiz Gonzaga. 

Valdi é compositor do sucesso da música Nessa Estrada Vida, em parceria com Aparecido José. A história conta que ao ouvir a música Luiz Gonzaga teve paixão de primeira. Tarimbado, o Lua, sabia quando estava diante de uma riqueza musical, viu que melodia, ritmo e harmonia são frutos do seu Reinado. Gravou. Hoje "Nessa Estrada da Vida" é uma das músicas mais interpretadas no cancioneiro brasileiro. Recebeu regravações de Dominguinhos, Jorge de Altinho, Waldonis, fiéis seguidores e discípulos do Rei do Baião.

Detalhe: o disco "Danado de bom" vendeu mais de um Milhão de cópias, contou com a participação de Elba Ramalho na faixa "Sanfoninha choradeira" (João Silva) e Luiz Gonzaga ganha o Disco de Ouro considerado no mundo musical um dos mais belos trabalhos de um artista brasileiro.

Com a morte de Luiz Gonzaga, em agosto de 1989, foi também em Valdi Geraldo que o Gonzaguinha, o poeta da resistência, que por centenas de vezes caminhou nas estradas, visitando lugares e construindo sonhos no pé da serra do Araripe pensando em concretizar o projeto do Parque Asa Branca, Museu Gonzagão. 

Desde 1999, quando conheci, Valdi Geraldo em Exu, tenho o maior respeito e admiração por este artista. Homem de Bem. Alma de cantador. Ele, não vive comercialmente da música. É funcionário do Ministério da Saúde. Em 2012 lançou um CD, Alegria e Beleza do Sertão, uma das composições mais belas da música brasileira, que se junta a larva criativa do poeta. Valdi Geraldo cultiva a simplicidade, ou seja, sabe tratar o povo, que tanto Luiz Gonzaga pedia para não esquecer, e valorizar o seu pedaço de terra se fazendo universal.

Valdi Geraldo está marcado para a eternidade e o Brasil poderia ainda em Vida ser mais grato pela trajetória desse cantor e compositor. Caruaru, Pernambuco, através do pesquisador Luiz Ferreira souberam valorizar o artista e ele, em 2014, recebeu o título troféu Orgulho de Caruaru.

Luiz Gonzaga é citado por todos os compositores como um mestre na arte de sanfonizar as canções. "Sanfonizar" é um termo criado pelo próprio Luiz Gonzaga. O pesquisador José Teles, afirma que a maioria dos seus parceiros de Luiz Gonzaga não escondem que cederam parceria para o Rei do Baião, porém, geralmente, suavizam a revelação com um argumento: ninguém interpretaria a composição igual a ele. Ou ressaltam o talento de Gonzagão para “sanfonizar” as composições – ou seja, como usava seus dons de arranjador para enriquecê-las.

Nessa Estrada da Vida segue o poeta compositor Valdi Geraldo, o Neguinho do Forró.

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BARRAGEM DE SOBRADINHO VAI ELEVAR VAZÃO NESTE SÁBADO (12)

Diante da necessidade de manutenção do nível do reservatório de Itaparica (BA) num mínimo de 30% de seu volume útil, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) vai praticar, a partir deste sábado (12), aumento gradativo da vazão de Sobradinho, passando dos atuais 1.100 m³/s até chegar a 2.300 m³/s na terça-feira, dia 15. Essa defluência média diária irá permanecer até nova avaliação.

Atualmente, o reservatório de Itaparica encontra-se com 58,58% de seu volume, com tendência de queda, o que faz necessário aumentar a vazão no reservatório de Sobradinho.

A vazão da Usina de Xingó, por sua vez, terá média mensal de 2.750 m³/s, conforme procedimento de otimização energética, envolvendo diversas regiões do país, coordenado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

A Chesf alerta para a importância da não ocupação das áreas ribeirinhas situadas na calha principal do Rio São Francisco, visto que, em situação de emergência, as Usinas de Sobradinho e Xingó poderiam praticar vazões na ordem de 4.200 m³/s e 3.000 m³/s, respectivamente.


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SANFONEIRA CHIQUINHA GONZAGA COMPLETARIA SE VIVA FOSSE 95 ANOS NESTA SEXTA-FEIRA 11

Primeira mulher de que se tem conhecimento a tocar uma sanfona de oito baixos nos anos 50 foi a  cantora e compositora Chiquinha Gonzaga, irmã do Rei do Baião.

Chiquinha Gonzaga, irmã do Rei do Baião Luiz Gonzaga nasceu no dia 11 de dezembro de 1925. Nesta sexta-feira, 11, se fosse viva a estaria completando 95 anos. Chiquinha costumava dizer em vida: "É preciso manter a tradição de meu pai Januário, o  maior sanfoneiro de oito baixos que o Nordeste já teve". Generoso, disposto a arrumar trabalho para a família inteira, Luiz Gonzaga criou o grupo Os Sete Gonzagas, formado por ele, o pai e mais cinco irmãos, incluindo, mesmo sob os protestos de dona Santana.

A cantora e compositora Francisca Januária dos Santos, Chiquinha Gonzaga, "partiu para o Sertão da Eternidade, aos 85 anos, no ano de 2011, era a caçula dos irmãos de Luiz Gonzaga. 

Em vida sua história foi marcada por desafios. Chiquinha enfrentou o machismo da sociedade. Irmã de Luiz Gonzaga, também seria vítima do mesmo tipo de preconceito ao arriscar as primeiras notas na sanfona de  oito baixos do pai, mestre Januário. Proibida de tocar pela mãe, Dona Santana, Chiquinha só aos 74 anos gravou um disco inteiro dedicado a sanfona de 8 Baixos. Méritos de Gilberto Gil que bancou a idéia, produziu o CD e encorajou sua volta aos palcos.

Chiquinha e o compositor baiano ficaram amigos durante as filmagens, de "Viva São João!", documentário dirigido por Andrucha Waddington. No filme, um entusiasmado relato das festas juninas em 19 cidades do Nordeste, os dois visitam Exu, cidade da família Gonzaga, e relembram histórias do rei do baião e do sertão pernambucano. Na oportunidade Gilberto Gil prometeu que iria ajudar Chiquinha a voltar a gravar.

Devoto do baião, Gil já tinha feito o mesmo agrado ao irmão mais velho de Chiquinha, mergulhado no ostracismo no fim da década de 60, depois do  surgimento da bossa nova e da jovem guarda. O compositor baiano gravou "17 Légua e Meia", antigo sucesso de Gonzagão, no álbum "Gilberto Gil" - que contém "Cérebro Eletrônico"-, em 1969. Outro tropicalista, Caetano Veloso  (exilado em Londres), repetiria a homenagem dois anos mais tarde, numa histórica regravação de "Asa Branca".

O álbum "Pronde Tu Vai, Luiz?", lançado de forma independente, conta com a participação de Gilberto Gil na faixa-título, originalmente gravada por Gonzagão em 1954, num dueto com a irmã. Há outros convidados ilustres, como o tocador de gaita e acordeonista gaúcho Renato Borghetti, mas quem brilha mesmo é Chiquinha.

Chiquinha Gonzaga participou com a família, do show de lançamento da TV Tupi e gravou cinco LPs (Filha de Januário, em 1973; Xodó na Rede, em 76; Penerou Xerém, em 78; Chiquinha Gonzaga e Severino Januário e Forró com Malícia, ambos em 80). Em 2002 gravou o CD Pronde tu vai, Lui?, com participação de Gilberto Gil. Estrela em programas de rádio, apresentou-se em Nova York e, de tão bem que dançava o forró, ficou conhecida como pé de ouro.

Chiquinha nas suas conversas contava que esperava os pais partirem para o trabalho na roça para que ela pudesse pegar a sanfona num canto do quarto de Seu  Januário. A farra durava pouco. Quase sempre era pega em flagrante pela mãe. "Larga isso, menina! Isso é coisa pra homem!", censurava Dona Santana.

A emancipação só veio em 1949, quando Luiz Gonzaga, já desfrutando da fama de sanfoneiro no Rio de Janeiro, como autor de "Baião", "Asa Branca" e "Juazeiro", comprou um caminhão e mandou buscar a família em Exu (Gonzagão queria que os parentes viajassem de avião, mas Seu Januário, indignado - ou com medo-, disse que não era urubu para andar pelos céus).

Tanto Seu Januário como Dona Santana, enraizados em Pernambucano, nunca pensaram em deixar o Estado. Achavam, aliás, que o Sul do país não era lugar para o "menino" Luiz se aventurar.

Mudaram de idéia e foram para o Rio de Janeiro. A viagem para o Rio de Janeiro durou  vários dias ("tinha até fogão dentro do caminhão", lembrava Chiquinha), mas  valeu a pena, principalmente para a jovem cantora.

A popularidade do irmão explodiu na década de 50 e Chiquinha, mesmo sem tocar sanfona, passou a cantar forró em pequenas casas noturnas do Rio. No embalo do irmão gravou cinco LPs e estrelou programas de rádio. 

Chiquinha sempre lembrava de histórias curiosas dessa fase. Como chegou a desfrutar  de um relativo sucesso, algumas pessoas passaram a confundi-la com a musicista carioca de mesmo nome, morta 20 anos antes, em 1935. "Eu achava que esse tipo de confusão nunca aconteceria. Mas ficava assustava quando pediam para eu cantar 'Ô Abre-Alas' (marcha carnavalesca de estrondoso sucesso, composta em 1899)", recorda-se Chiquinha.

Gonzagão, principal incentivador da irmã e seu padrinho musical, tratou de desfazer a confusão. Passou a apresentá-la aos donos de casas noturnas e empresários como "Chiquinha Gonzaga, a Cantadora de Forró". Ela lembra que, mesmo assim, sempre havia alguém que estranhava a ausência do piano clássico no palco.

"É preciso manter a tradição de meu pai Januário, o maior sanfoneiro que o Nordeste já teve", dizia Chiquinha, cantarolando "Respeita Januário", um dos grande sucessos de Gonzagão: 'Luiz, respeita Januário/ Luiz, respeita Januário/ Luiz, tu pode ser famoso mas teu pai é mais tinhoso/ E com ele ninguém vai, Luiz/ Respeita os oito baixo do teu pai/ Respeita os oito baixo do teu pai." 

"Chegou a hora de respeitar os oito baixos da irmã de Luiz Gonzaga, o eterno Gonzagão", brincava a cantora." 

Fonte: Tom Cardoso-Valor Econômico

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LIVRO DE RENATO PHAELANTE MOSTRA RELAÇÃO DA POESIA E DA MÚSICA DE LUIZ GONZAGA E SEUS PARCEIROS COM O NORDESTE

 

O livro Luiz Gonzaga: baião, forró e seca, do pesquisador, escritor, ator e radialista Renato Phaelante tem como objetivo mostrar a relação da poesia e da música de Luiz Gonzaga e seus parceiros com sua terra, sua gente, seus costumes e tradições, em um Nordeste às vezes sofrido, às vezes alegre, cheio de surpresas e de superstições. Mas, sobretudo, de um povo forte, apaixonado e crente na capacidade e no talento de seu povo.

Ao mesmo tempo, segundo Renato Phaelante, autor da obra, o livro tenta mostrar a influência de Luiz Gonzaga e sua música nas gerações que se sucedem até hoje pelo Brasil afora.

Fundador e coordenador da Fonoteca da Fundação Joaquim Nabuco durante trinta anos, Renato Phaelante é um recifense apaixonado pela cultura brasileira. Desde criança aguçava os sentidos, os sabores, às artes visuais, às músicas e às ricas histórias que flutuam nos rios da memória na cidade mauricéia.

Há quase 40 anos comandando o programa Memória de Nossa Gente, na Rádio Universitária FM, Renato Phaelante vem há mais de meio século pesquisando, refletindo e colecionando um vasto acervo sobre músicos e compositores de Pernambuco, que vão do carnaval ao baião.

Entre outros livros publicou MPB compositores Pernambucanos - Coletânea bio-musico-fonográfica - 100 anos de história, uma enciclopédia sobre 203 musicistas de Pernambuco, um trabalho de fôlego e de grande importância para a fonografia brasileira.

No entender do poeta e escritor José Mauro de Alencar, coordenador do Memorial Luiz Gonzaga, da Fundação de Cultura da Prefeitura do Recife e autor da apresentação deste livro, nesta obra intitulada de Luiz Gonzaga: baião, forró e seca, Renato Phaelante se debruça sobre “o que considero o grande artista brasileiro. 

Luiz Gonzaga foi trabalhador da música, viveu 76 anos, deixou uma vasta obra, que refletiu e cantou a cultura do Brasil continental. Luiz Gonzaga, com vários parceiros, recriou a música nordestina, coletando de cada folguedo e de cada matriz cultural, uma pedra para construir a estrada de sua trajetória, andando por esse país, levando os vários sentimentos do povo brasileiro. Este livro reporta com propriedade o princípio da trajetória que os artistas brasileiros percorriam nas migrações para a antiga capital do País - Rio de Janeiro, com o nascimento da Era do Rádio”.

O livro retrata ainda a complexa e heroica história de Luiz Gonzaga, o menestrel da música nordestina, que agregou muitos artistas e compositores, reproduziu sons, criou ritmos, absolveu e usou a arte visual do seu povo, inventou o arquétipo pluri-simbiótico de cangaceiro, vaqueiro e cantador, numa só pessoa, resultante de uma das mais belas narrativas brasileiras.

Para José Mauro de Alencar, ler este trabalho é como sintonizar o rádio e ouvir a voz de Renato Phaelante, contando a saga do rei do baião, tão rica de detalhes, com linguagem poética, visão sociólogica, remontada por um pesquisador apaixonado pelo rádio, pelo frevo, pela arte dos violeiros repentistas e pela cultura popular.

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FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO FESTEJA OS 108 ANOS DE LUIZ GONZAGA NO DOMINGO (13)

Para marcar a data em que Luiz Gonzaga celebraria 108 anos, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) realizará, no dia 13 de dezembro, a live Luar do Gonzação. 

A festa virtual contará com a participação do forrozeiro Alcymar Monteiro, e um bate-papo com o radialista Renato Phaelante, autor do livro Luiz Gonzaga: baião, forró e seca (Bagaço, 2017). A transmissão será a partir das 19h, no canal da Fundaj no YouTube.

"Homenagear Luiz Gonzaga é homenagear também ao Homem do Nordeste. Portanto, uma missão desta Casa, comprometida com o reconhecimento, preservação e difusão da identidade da região que é um celeiro cultural do País”, destacou o presidente da Fundaj, Antônio Campos. “Será um momento para todos os brasileiros", celebra. Pernambucano de Exu, no Sertão do São Francisco, o Rei do Baião registrou as histórias de sua gente, os costumes e tradições da região brasileira vítima da escassez de água e recursos, mas rica em sabedoria e valores.

Compadre do homenageado, Alcymar Monteiro o reconhece também como padrinho. Com ele gravou o pout-pourri Cantiga de Vem-Vem / Roendo Unha para o álbum Forroteria (RGE, 1986) — com o qual alcançou a marca de 500 mil cópias — e, mais tarde, o xote Cor de Canela (1988).

 “Foi aí que eu tive a certeza que estaria entrando na música brasileira pela porta da frente”, afirma o artista. Para a homenagem, ele promete clássicos do cancioneiro nordestino. Pagode Russo, Vida de Viajante e A Morte do Vaqueiro não ficarão de fora. “Nós vamos fazer uma viagem para os ontens, hojes e amanhãs de Luiz Gonzaga.”

Programação:19h - Abertura - Antônio Campos, presidente da Fundação Joaquim Nabuco

19h10 - Mario Helio, diretor de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), da Fundaj

19h20 - "Luiz Gonzaga: baião, forró e seca", por Renato Phaelante. Autor do livro lançado em 2017 sobre o Rei do Baião, fundador e coordenador da Fonoteca da Fundação Joaquim Nabuco durante 30 anos, Renato Phaelante é um recifense apaixonado pela cultura pernambucana.

20h - "Tributo a Luiz Gonzaga", por Alcymar Monteiro. Com repertório especial, que traduz a valorização dos ritmos nordestinos, o artista fará a apresentação musical intercalada com histórias que compartilhou com seu amigo e compadre Luiz Gonzaga.



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ANIVERSÁRIO DE LUIZ GONZAGA SERÁ FESTEJADO EM LIVE COM TARGINO GONDIM

Para marcar os 108 anos de saudade do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, o cantor e sanfoneiro Targino Gondim, promove parte da programação online com a realização de uma Live Show para refletir sobre a importância do artista para a música brasileira. 

Este ano o cantor, compositor e O sanfoneiro Targino Gondim  concorreu ao Grammy Latino, o Oscar da Música, com o meu EP Targino Sem Limites. No domingo,13 de dezembro é do Dia do Nascimento de Luiz Gonzaga e Dia Nacional do Forró. Para comemorar a data Targino Gongin em formato virtual vai puxar a sanfona e soltar a voz, no Show Canções de Luiz às 14hs no canal YouTube.Com/TarginoGondimOficial.

Se vivo fosse Luiz Gonzaga completaria neste domingo (13), os seus 108 anos de nascimento. 

Targino foi destaque no Jornal Folha de São Paulo, um dos mais lidos da América Latina. Pernambucano de Salgueiro e criado em Juazeiro, na Bahia, o cantor e sanfoneiro Targino Gondim em texto do jornalista Thales de Menezes tevo o destaca a ousadia e empreendedorismo de Targino Gondim. Com 28 discos gravados, seu melhor cartão de visitas talvez seja a autoria do maior sucesso gravaodo na voz de Gilberto Gil, Esperando na Janela (Targino Gondim, Manuca e Raimundinho do Acordeon), além de sua música que Targino Gondim impressiona, como impreendedor.

Este ano devido a pandemia todos os eventos que seriam realizados na Praça Central de Exu, Parque Asa Branca e Fazenda Araripe foram cancelados.

Uma Missa será celebrada no domingo na Igreja Matriz.

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CLARICE LISPECTOR 100 ANOS: AUTORA REVOLUCIONOU LINGUAGEM E INSPIROU REFLEXÕES

"Eu tinha medo de falar. Eu não me enxergava". Não saber ler ou escrever fez com que Eudenice Moura Augusto buscasse o silêncio. Tinha vergonha de não conhecer as palavras, de pedir ajuda, de "ser livre". Tudo aconteceu muito rápido. Quando criança, trabalhava na roça com os pais. Aos 12, ajudava a família a plantar e a colher arroz, feijão e milho. 

Eudenice nasceu em Corrente, cidade sertaneja do sul do Piauí. Mudou com a família para Tocantins e depois para o Distrito Federal. Aos 18, foi trabalhar como doméstica. Hoje, mesmo aposentada, sustenta a casa com diárias para lavar, passar e cozinhar. Ela lembra que, aos 20, estava casada. Depois, vieram os três filhos. E estudar não era prioridade.

"Queria conversar com as pessoas, mas não sabia. Nem decifrar o letreiro do ônibus, entender os avisos no mercado ou ler um livro". Eudenice é de verdade, de nosso tempo, mas poderia ser história de Clarice Lispector, uma das principais escritoras do século 20, nascida há exatos 100 anos. Tal qual Macabéa, personagem imortal de A hora da estrela (1977), obra consagrada da autora, ela se sentia presa e abandonada.

 "A história de Macabéa se resume à sobrevivência quase inumana, pois, para tudo o que se sente e deseja, não dispõe de palavras para expressar", descreveu a professora Clarisse Fukelman, na apresentação da 23ª edição do livro.

Mas na história de Eudenice, o destino é diferente da ficção de Macabéa. A liberdade da empregada doméstica surgiu ao conhecer, em São Sebastião (DF) um projeto social de alfabetização. Os cadernos passaram a ser grandes amigos. Mora no que chama de um "barraco" na periferia e trabalha em uma "casa grande" no Lago Sul (zona nobre de Brasília). Mesmo assim, o mundo mudou para ela. "Gostei muito de aprender as palavras. Consigo agora falar com os meus patrões. Nunca achei que saberia falar ou escrever sambódromo ou tamarindo ou vassoura".  Ela terminou o ensino médio e agora sonha fazer faculdade.

A simetria das emoções que permeiam a história real de Eudenice com a história inventada de Macabéa reforça a capacidade da escritora, que nasceu na Ucrânia e mudou-se para o Brasil com 12 anos, fugida da guerra naquele país, de colocar no papel sentimentos universais. Clarice, segundo os estudiosos e críticos, descortinou, ao assumir a imprecisão das palavras, temas ligados ao feminino e tantas questões existenciais que nem sempre dá para expressar.

"Algo marcante na obra da autora é como a linguagem que ela emprega diz e não diz. Como a linguagem falta e falha. Isso aparece em toda obra de Clarice Lispector. O grande tema dela é a palavra", afirmou em entrevista à Agência Brasil, a professora de literatura Regina Pontieri, da Universidade de São Paulo (USP). Ela se dedica a pesquisar a autora há mais de três décadas. "A gente pode dizer que as grandes obras da literatura têm em comum a densidade. São obras com múltiplas camadas de sentido. Cada leitor vê de um jeito. Cada época revisita o autor e adequa às suas necessidades e à leitura de mundo feita naquele momento. A partir das expectativas dos leitores, é possível encontrar outras ressonâncias", explica.

Regina Pontieri destaca que, após Clarice Lispector publicar Perto do Coração Selvagem (1943), primeiro trabalho dela, críticos ficaram surpresos com a escrita daquela autora até então desconhecida. Em janeiro de 1944, Sérgio Milliet escreveu que a obra era surpreendente, sóbria e penetrante. "Raramente tem o crítico a alegria da descoberta. Por desta feita fiz uma que me enche de satisfação", escreveu o crítico à época.

Álvaro Lins estranhou a linguagem e a organização, mas ressaltou qualidades no trabalho. "Não tenho receio de afirmar, todavia que o livro da Sra. Clarice Lispector é a primeira experiência definida que se faz no Brasil do moderno romance lírico, do romance que se acha dentro da tradição de um Joyce ou de uma Virgínia Woolf".

Antonio Candido também viu semelhança com os autores estrangeiros e elogiou a novidade. "Em relação a Perto do Coração Selvagem, permanece o fato de que, dentro de nossa literatura, é uma performance da melhor qualidade. A autora - ao que parece uma jovem estreante - colocou seriamente o problema do estilo e da expressão", publicou Candido em julho de 1944.  

APAIXONANTE E DIFÍCIL: Os críticos explicavam que a técnica não determina a originalidade de uma obra. "Há alguns pontos de contato com James Joyce (escritor irlandês nascido em 1882 e falecido em 1941) e com Virgínia Woolf (britânica, que também viveu entre 1882 e 1941). Mas bastou a crítica ter uma visão maior para perecer que Clarice não era uma versão brasileira desses autores. Inclusive, seria uma relação de subalternidade pensar assim", argumenta Regina Pontieri. A fama de uma escritora hermética e difícil percorreu a carreira de Clarice. E, como toda escritora referência na literatura mundial, suas obras causam incômodo.

"Ela é apaixonante e difícil. Algumas obras da Clarice são mais lidas. Há uma série de obras que colocam dificuldades para os leitores. Na minha pesquisa, me dediquei a uma das obras mais difíceis, A cidade sitiada (1949). É um tipo de dificuldade extremamente apaixonante. Acho que a Clarice causa realmente isso. É o oposto da indiferença". O resultado desta pesquisa de Regina é o livro Uma Poética do Olhar. 

A professora explica que o olhar empregado por Clarice não é o de sobrevoo, de um sujeito que vê o mundo de longe. "Clarice constrói um olhar demorado, agudo, insistente. Olhar tão fixo que ela come com os olhos. O que a Clarice faz é comer com os olhos. Ela olha com a boca. Assim ela opera a integração entre sujeito e objeto, entre corpo e espírito". 

Uma característica na narração de Clarice é o de estranhamento diante de acontecimentos do mundo. "Os grandes escritores têm dificuldades de encontrar leitores em sua época. O que faz a originalidade é reconstruir de uma forma nova. As pessoas têm resistência com o que é novo. O estranhamento é o que faz uma obra. Ela está apresentando um novo modo de olhar o mundo. Alguns leitores vão ficar instigados. Outros não". Isso explicaria, portanto, o fato de que, com o passar do tempo, algumas obras, que eram consideradas muito difíceis, passam a ter maior inteligibilidade.

Para Regina Pontieri, não existem bandeiras evidentes na obra de Clarice. "De fato, os temas femininos e as várias situações de mulheres, as dificuldades vividas se encontram muito presentes desde o primeiro romance. Ela encena situações que são da vida de mulheres, em alguns casos, que experimentam uma vida como cidadã de segunda categoria". Para além do fato de tratar de temas femininos, a pesquisadora explica que há uma dimensão metafísica que aborda temas integradamente.

TEMP0 DE MORANGOS: As obras da autora despertam paixão especial, no entender de Regina Pontieri, porque trata de questões existenciais. "Ela envolve a escrita com paixão. Os leitores quase afundam na cadeira a tal ponto que ela cativa.

 O leitor se sente Clarice Lispector". Para quem quer começar a esmiuçar a obra da autora, a sugestão é começar pelos contos, como em Laços de Família. "Clarice é eterna como todos os grandes escritores. Sempre nos desperta. Este é um momento que a gente deveria reler. Não só ficar na internet. A literatura nos desafia. Quando a gente se pergunta, é porque estamos vivos". A autora desafia a viver, respirar, pensar, aproveitar cada instante. Ou, em outras palavras possíveis, o encerramento de A Hora da Estrela é um exemplo da lembrança para viver o dia, o tempo, a estação:  "Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos. Sim".

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