Huberto Cabral, radialista recebe o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Regional do Cariri

O reconhecimento a uma das personalidades históricas do Crato e do Cariri ocorreu na última sexta-feira, 8, com a entrega do Título de Doutor Honoris Causa ao jornalista e cerimonialista, Huberto Cabral, considerado uma ‘enciclopédia viva’ da história regional. Aprovado por unanimidade pelo Conselho Superior da Universidade Regional do Cariri (URCA), a outorga ocorreu em solenidade presidida pelo Reitor da Instituição, José Patrício Pereira Melo.

Durante a cerimônia, Huberto Cabral também recebeu a Comenda Bárbara de Alencar, a maior do Município do Crato, entregue pelo prefeito do Município, José Airton Brasil, além dos diplomas da Câmara Municipal do Crato, Mérito Legislativo e Jornalista João Brígido dos Santos, e a Comenda Irineu Pinheiro, do Instituto Cultural do Cariri – ICC. 

A solenidade contou com a presença de autoridades como o vice-reitor da URCA, Francisco do Ó Lima Júnior, Bispo Diocesano, dom Gilberto Pastana, além do prefeito de Juazeiro do Norte, Arnon Bezerra, familiares, amigos e intelectuais da região, jornalistas e convidados.

O título foi sugerido pelo artista, cantor e escritor Luiz Carlos Salatiel, com reunião do Consuni presidida pelo vice-reitor da URCA. A apresentação do outorgado foi realizada pelo proponente, professor da URCA e historiador, Carlos Rafael.

A abertura e condução da solenidade foi realizada pelo jornalista Antônio Vicelmo, colega de rádio de Cabral, que destacou um pouco da trajetória do comunicador, além historiador e cronista. “O seu trabalho constituiu o resgate das efemérides históricas, políticas e educacionais do Crato e do Cariri”, afirmou.

Huberto Cabral foi lembrado em suas funções, quando esteve à frente da assessoria de comunicação da URCA, prefeitura do Crato e Diocese, entre outras atividades desenvolvidas em grande parte de forma voluntária, sem remuneração, em prol do fortalecimento e divulgação das instituições e do Cariri.

As saudações ao agraciado foram realizadas pelo médico e escritor, José Flávio Vieira, integrante do Instituto Cultural do Cariri. Ele destacou a importância da preservação da história pela universidade, ao citar o relevante trabalho desenvolvido por Huberto Cabral, concedendo o título de doutor a uma das mentes mais privilegiadas nascidas ao sopé da Chapada do Araripe.

Ele pontuou que Cabral foi figura presente nos grandes acontecimentos do Crato, nos últimos 60 anos. “A URCA hoje não reverencia apenas o mais importante repórter de nossa história, o mais importante memorialista, uma testemunha viva da história dos últimos 60 anos, mas oficializou-se um grau de doutor, que já lhe tinha sido outorgado pelos intelectuais e pela população mais humilde deste vale”, disse ele.

O escritor José Flávio utilizou-se do humor refinado em seu discurso, ao destacar, no auge dos 82 anos de vida do homenageado, que o Geopark Araripe acabou de descobrir o fóssil raro de pterossauro, o Humbertossauro Cabralis, destacando a relevância do novo doutor da universidade.

O proponente do título, professor Carlos Rafael, estimulado pela solicitação do artista Luiz Carlos Salatiel, destacou na trajetória profissional, importantes momentos da história do Cariri vivenciados por Huberto Cabral, incluindo a sua relevância para a comunicação do Crato e da região do Cariri, presente na instalação dos meios de comunicação da região, incluindo a primeira rádio dos Diários Associados inaugurada no interior do Estado, a Rádio Araripe do Crato, com a presença do magnata da comunicação brasileira, o paraibano Assis Chateaubriand, dono de um dos maiores conglomerados de veículos de comunicação da história do Brasil.

Ela ainda salientou que o título, ao lado de outras honraras recebidas por Cabral, refletem o brilhantismo de sua história, devotado à causa pública e ao progresso cultural e intelectual de nossa região.

O Reitor Patrício Melo, ao conceder o título de Doutor Honoris Causa em Ciências Humanas a Huberto Cabral, relatou a aprovação por unanimidade em 21 de novembro de 2018, em reconhecimento aos seus importantes serviços prestados à comunidade caririense, ao Estado do Ceará e à URCA, nas áreas da história, comunicação e cidadania.

Ao destacar a surpresa de saber do título e a emoção de estar na solenidade de entrega da honraria, o outorgado agradeceu a proposição do Departamento de História. “Ao tomar conhecimento da honraria, fiquei pensando a razão e a causa desta honra”, disse ele.

O novo doutor da universidade destacou que em toda a sua vida, nunca tinha visto uma formatura tão rápida. “Entrei nesse salão de atos com muita pompa, portando apenas o meu diploma de formado na faculdade de ciências ocultas e letras apagadas da universidade da vida, e vou sair como Doutor Honoris Causa, sem vestibular. Figurando, ainda, na galeria de honra das mais importantes personalidades já agraciadas com a honrosa comenda, considerando assim a maior desta universidade”, afirmou.
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Monitoramento da qualidade de água ao longo do Rio Paraopeba, Afluente do Rio São Francisco será ampliado

O Governo de Minas ampliou o monitoramento da qualidade da água ao longo do Rio Paraopeba. A informação foi divulgada pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), que informou que o controle vai ser feito em áreas mais próximas ao Rio São Francisco. 

Além dos 11 pontos já em operação, mais quatro estações de amostragem foram instaladas. O trabalho esta sendo feito desde o dia seguinte ao desastre na Mina Córrego de Feijão, em 25 de janeiro.

Somados com os quatro novos pontos, já chegam a 24 os locais de monitoramento ao longo do Paraopeba, que continua com a utilização de água bruta proibida no trecho à montante até a cidade de Pompéu, na região Central de Minas. 

De acordo com o instituto, três das novas estações de amostragem foram instaladas dentro do reservatório da Usina Hidrelétrica (UTE) de Três Marias, assim localizadas: em Felixlândia, Abaeté e Três Marias. 

A princípio, a frequência de amostragem foi definida como semanal, na localizada no remanso do reservatório, próximo a Felixlândia, e mensal nas duas últimas estações de amostragem. O quarto ponto está situado antes da UHE Retiro Baixo, no remanso da Usina.

“Existe a possibilidade de que parte do material que estava depositado na Barragem 1 possa alcançar o reservatório de Três Marias, sobretudo as partículas mais finas do rejeito. Entretanto não é possível afirmar se irá chegar e quando isso vai ocorrer. Tudo vai depender da dinâmica de transporte de sedimentos do rio, que varia de acordo com a quantidade e intensidade de chuva, tempo de detenção do reservatório de Retiro Baixo e da granulometria do rejeito”, afirmou, por meio do site do Igam, o diretor de Operações e Eventos Críticos do Igam, Heitor Soares Moreira.Continua depois da publicidade

A coleta e a análise da qualidade da água e de sedimentos no Rio Paraopeba estão sendo feitas pelo Igam desde o dia seguinte ao desastre na Mina Córrego de Feijão. O trabalho tem o objetivo de avaliar o grau de interferência dos rejeitos nos recursos hídricos afetados.

Entre os parâmetros de qualidade da água avaliados pelo Igam diariamente estão a condutividade elétrica, oxigênio dissolvido, pH, temperatura, turbidez, sólidos totais, sólidos dissolvidos totais, sólidos em suspensão totais, bem como os metais: alumínio dissolvido, ferro dissolvido e manganês total. Também foram analisados os seguintes contaminantes: arsênio total, cádmio total, chumbo total, cobre dissolvido, cromo total, mercúrio total, níquel total, zinco total e selênio total. 

A ação do Igam tem a parceria da Companhia de Saneamento do Estado de Minas Gerais (Copasa), Agência Nacional de Águas (ANA) e da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). 
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Os saberes da Caatinga: mulheres sertanejas preservam as práticas de orações, cantos, raízes e garrafadas

Da terra de Padre Cícero à terra de Luiz Gonzaga leva-se menos de uma hora de carro por uma estrada que atravessa a linda Chapada do Araripe e divide o  Ceará de Pernambuco...A pernambucana Exu tem pouco mais de 30 mil habitantes e é bem mais pacata que a cearense Juazeiro do Norte, do Padim Ciço, que já soma mais de 270 mil almas.

Da praça da matriz ao Sítio Baixio do Meio, onde mora a parteira Nazaré, são 17 quilômetros por uma estrada de chão cheia de pedras. “Ô de casa!” Chamamos por Nazaré, e logo ela aparece, emoldurada pela janela da casinha de taipa, com um sorriso tímido no rosto, desconfiada com a visita inesperada.

Sentamos à sombra de um umbuzeiro para conversar. Cabelos grisalhos, miudinha, 63 anos, Maria Nazaré de Jesus conta que já “pegou” 12 meninos. O primeiro, homem feito, já tem de 18 a 20 anos.

*Como você virou parteira?
Minha mãe era parteira e eu via ela conversando. Ela dizia tudo como era, como se cortava o umbigo, como ajeitava a barriga da muié. Ela fez muitos partos, ia pra todo canto, o povo vinha buscar de cavalo, de bicicleta, de tudo. Ela fez os partos das minhas filhas, de cinco delas, só não fez da derradeira porque a mãe morreu antes, quando eu estava com três meses de gravidez. 

Graças a Deus, todos os partos foram normais. Se o menino está atravessado, se está sentado, aí corre logo para um hospital. Eu até posso ir, se me chamarem, pra fazer um chá enquanto arrumam um carro, mas não mexo, não. Também sou curandeira. mas só de ferida de boca, que outras coisa eu não aprendi não.

Nazaré tem dez filhos. Quantos netos? Ela não sabe botar na mente, não. Mas tenho quatro bisnetos. Não sou casada, mas o pai dos meus filhos taí, ela diz apontando uma casa. Não queira saber a minha vivência, que é longa. Já pedi esmola no Bodocó, no Ouricuri, pra criar meus filhos. Eu vendo rosário de coco-catulé, umbu, milho, maxixe, o que tiver. Planto, vou buscar no mato e vendo. Faço uns remédios também. Cozinho jatobá e imburana-de-cheiro, cebola e alho. Acaba com a gripe.

No Sítio São Raimundo, Maria do Socorro Silva Moreira, devota de São João Batista, tinha acabado de voltar do mato com as mãos vazias. Eiiita, a seca matou tudo. Com sete anos de seca, não tem raiz que não morra, até a batata-de-teiú.

A caminho da casa de Dona Socorro, na zona rural de Exu, a gente passa pela histórica igreja de São João Batista do Araripe, que completou 150 anos em junho do ano passado.

A igreja foi construída pelo Barão de Exu como pagamento de uma promessa ao santo. Em 1863, uma epidemia de cólera atingiu o Crato, cidade vizinha, e Gualter Martiniano de Alencar Araripe, o barão, proprietário das fazendas Araripe e Caiçara, fez uma promessa a São João Batista: se a doença poupasse Exu, ele iria à França buscar uma imagem do santo e construiria uma igreja para abrigá-la. 

A bisavó do Rei do Baião se abrigou na Fazenda Caiçara durante a peste de cólera.

Socorro é raizeira e prepara as famosas garrafadas, populares em todo o Nordeste. Não se sabe exatamente a origem das garrafadas, preparadas com raízes e plantas medicinais, mas alguns pesquisadores acreditam que elas possam ser derivadas de formulações feitas pelos jesuítas no século XVI, conhecidas como Triaga Brasilica, à base de vinho, mel e ingredientes secretos. As garrafadas também estão presentes na medicina indígena e nos ritos afro-brasileiros.

O teiú é um lagarto que vive no sertão. Quando picado por cobra, ele busca se curar do veneno mascando uma batata. O tubérculo é usado pelas curandeiras para tratamento de inflamação.

Socorro só busca suas plantas na mata. Não adianta plantar. As plantas que os outros veem não servem pra nada, diz. Elas têm de ser nativas. Tiú, cipó-de-vaqueiro, manjerioba, jurema-branca, jurema-preta.

Curioso, eu penso: a alquimia dos jesuítas também tinha essa dimensão sagrada, secreta. Quem te ensinou a fazer garrafadas?

Ninguém ensina nada a gente, não. A gente já nasce ensinado. Desde pequena eu já tinha visão de fazer remédio. 

*Como você escolhe as raízes?
É intuição que vem da minha cabeça. Quando chego na mata eu converso com as plantas. Olho pra elas, aliso e digo olha, eu tenho tanta dó, mas eu vou pedir a vocês uma casca, uma plantinha só. Eu não estou enricando, não tenho ganância por nada. Eu só quero que uma pessoa fique boa, tem uma pessoa sofrendo tanto, uma doença comprida. Eu posso tirar uma casca? Eu sei que você não é minha, não lhe plantei. Eu prometo que não lhe mato.

AS REZADEIRAS: Uma espada branca de madeira é o principal instrumento da rezadeira no congá. Ela coloca a espada de São Jorge e Santa Bárbara na testa da pessoa. Sempre eu tive visão das coisas, só que eu não entendia o porquê dessa sabedoria que Deus estava me dando. Eu peço ajuda aos guias da mata.

Às terças e quartas-feiras, é dia de reza na casa de Maria Anunciação Barros, a Dona Neta, de 61 anos, na rua Eufrazio de Alencar, no centro de Exu. No congá (altar) de Neta há imagens de São Jerônimo, do Doutor Tarcio, um médico da cidade que morreu nos anos 70, e da Santa Joana Darc, santa padroeira da França e uma das chefes militares da Guerra dos Cem Anos.

Eu não incorporo, eu rezo e peço iluminação. Os guias encostam em mim e me dão poder. Isso aqui é um sofrimento. Pra receber os poderes dos guias da mata, não posso pecar, tenho de ser como uma criança de 10 anos.

No topo da Serra do Arapuá, no município de Carnaubeira da Penha, Pernambuco, a mestre Joaquina, de 97 anos, canta suas toantes, uma das tradições do povo Pankará. Ela já perdeu a conta de quantas crianças nasceram em seus braços (dizem que cerca de 800), inclusive netos e tataranetos.

Eu não sou mestre, eu não sou nada. Sou um viajeiro errante nessa estrada, canta Joaquina, que é a mais idosa detentora dos saberes ancestrais da tradição Pankará. Parteira, rezadeira, benzedeira e raizeira, ela atribui seus feitos aos “encantadores da natureza”. 

Reverenciada pelos quase 4 mil indígenas que vivem naquela serra, ela é conhecida como a “mãe de todos”. Joaquina durante muitos anos foi tachada de feiticeira e macumbeira pelos brancos e obrigada a praticar seus rituais às escondidas. Hoje, muitos vão à serra procurar ajuda da curandeira indígena.

Os médicos nordestinos são os primeiros a reconhecer a importância das parteiras para o Sertão. O obstetra Zé Dantas, parceiro de Luiz Gonzaga, dedicou às comadres uma de suas mais lindas e longas canções. A versão completa de “Samarica parteira”, com dez minutos de duração, foi gravada em 1973 por Luiz Gonzaga.

Capitão Barbino, apavorado com a dô de menino de sua mulher, Juvita, manda seu peão Lula montar na bestinha melada e riscar ligeiro para buscar a parteira. Quando ele já ia riscando, Barbino ainda ameaça: olha, Lula, vou cuspi no chão, hein! Tu tem que vortá antes do cuspe secá!

E lá se vai Lula atrás de Samarica, abrindo cancelas, atravessando lagoas, sapecando a pobre égua, na maior carreira, até chegar à casa da parteira. Samarica, é Lula... Capitão Barbino mandou vê a senhora que Dona Juvita tá com dô de menino.

E risca de volta, com a parteira, à fazenda. Piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic nheeeiim... pá! Piriri tic tic piriri tic tic bluu oi oi bluu oi, uu, uu. Patateco teco teco, patateco teco teco, patateco teco teco.

Samarica chegou, ele grita para o Capitão. Samarica sartou do cavalo véi, cumprimentou o Capitão, entrou prá camarinha, vestiu o vestido verde e amerelo, padrão nacioná, amarrou a cabeça c’um pano e foi dando as instrução: acende um incenso. Boa noite, D. Juvita. A moça reclama da dô. É assim mermo, minha fi’a, aproveite a dô. Chama as muié dessa casa, p’a rezá a oração de São Reimundo, que esse cristão vem ao mundo nesse instante. Capitão Barbino, bote uma faca fria na ponta do dedão do pé dela, bote. Mastigue o fumo, D. Juvita. Aguenta nas oração, muié.

Ai, Samarica, chora Juvita. Se eu soubesse que era assim, eu num tinha casado com o diabo desse véi macho.

Pois é assim merm’ minha fi’a, vosmecê casou com o vein’ pensando que ele num era de nada? Agora cumpra seu dever, minha fi’a. Desde que o mundo é mundo que a muié tem que passar por esse pedacinho.

Nasceu, é menino (choro de criança). E é macho!  Ah, se é menino homem, olha se é? Venha vê os documento dele! E essa voz! Capitão Barbino foi lá detrás da porta, pegou o bacamarte que tava guardado há mais de oito dia, chegou no terreiro, destambocou no oco do mundo, deu um tiro tão danado que lascou o cano. Lascou, Capitão? Lascou, Samarica. É, mas em redor de 7 légua não tem fi’ duma égua que num tenha escutado. Prepare aí a meladinha, ah, prepare a meladinha, que o nome do menino... é Bastião.

* BRUNO BLECHER* - FOTOS: JOSÉ MEDEIROS, DE EXU (PE) Matéria publicada originalmente na edição de março de 2019 da Globo Rural
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Professora da UPE de Petrolina lança livro romance Laurus na quarta (20)


Será lançado no dia 20 de março no espaço “Jardim de Yolanda”, do Campus Petrolina da Universidade de Pernambuco (UPE), a obra Laurus, da escritora e professora Clarissa Loureiro. O livro é um misto entre ficção e biografia familiar da autora. O lançamento será às 19 horas.
Laurus é um romance sobre memória, mitologia e identidade, que envolve temas polêmicos vivenciados pela sua família como aborto, homossexualidade, ditadura e mães solteiras. “São temas contemplados na memórias dos ancestrais, que nós não estamos sabendo viver hoje em dia”, disse.
Segundo Clarissa Loureiro, o foco do livro é a sobrevivência da árvore Loureiro pelo cruzamento do passado com o presente, mas com uma abordagem mítica. “Este é um romance que entra na casa dos meus ancestrais para relembrar as memórias”, declarou a Clarissa.
No lançamento, dia 20 de março, o artista Bruno Urbano fará uma exposição de algumas cenas do livro. Na oportunidade, os professores Vlader Nobre e Simão Pedro também farão uma palestra sobre a autoficção. O lançamento de Laurus será animado pela banda “A Terceira Margem”.
Sobre a autora: Clarissa Loureiro nasceu em Campina Grande, Paraíba. A autora possui Mestrado e Doutorado em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Atualmente atua como professora de Literatura na UPE em Petrolina, dedicando-se aos estudos de memória, identidade, gênero e Semiótica associada à literatura comparada.
Laurus é a terceira obra de Clarissa Loureiro, a primeira em forma de romance. Clarissa lançou em 2010 o livro de contos Mau Hábito e em 2012 a obra Invertidos, ambos narravam histórias que expressam experiências humanas no século XXI.
Fonte: Amanda Franco-jornalista

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Antonio Barros. Viva a Música mais Brasileira

"Chora Nordeste neste baião em homenagem a teu irmão/ Chora comigo Nordeste chora comigo Sertão/ Chora o caboclo que veste roupa de couro gibão... Chora meu olho d'água chora meu pé de algodão. As folhas já estão se orvalhando saudade do nosso irmão Zé Dantas. As saudades são tantas  Por que você partiu...Chora também nosso baião chora por essa cruel separação...No meu canto  na minha voz vai o pranto, o  pranto de todos nós. Chora Nordeste...Saudade de Zé Dantas".

Homenagem a Zé Dantas. É um dos mais belos versos musicados da literatura brasileira. Sensibilidade de quem sabe ser grato e falar de amor fraterno. O autor é o paraibano universal Antonio Barros.

Estes dias tive a suprema alegria/emoção de compartilhar por algumas horas da presença de Antonio Barros. Antonio Barros que eu não conhecia pessoalmente, mas que foi responsável e isto falei pra ele, responsável, pelo cidadão, pesquisador, jornalista que sou atualmente. Imaginei o menino lá da Paraiba que ouvia o ídolo no pé do Rádio.

Vivi 50 anos e o destino me proporcionou este encontro. Na maioria do tempo o ouvi. O brilho das palavras e lembranças faladas cantadas de um Toinho que conviveu e deu vida a centenas de músicas interpretadas por Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Trio Mossoró, Dominguinhos, Ney Matogrosso e quase toas as estrelas da música brasileira.

As músicas de Antonio Barros embalou meu tempo criança através das ondas do Rádio. Adulto me fez pensar sobre o Nordeste e a importância de sua história. Eu ouvi certa vez um locutor dizendo que a música era  autoria de Antonio Barros. Logo fiquei a imaginar de onde viria tamanha grandeza humana para falar dos mistérios mais escondidos do ser humano, das paixões, desencontros, esperanças de uma chuva que está para chegar.

Hoje compreendi com a trajetória do tempo. Antonio Barros é um sopro de Deus, Poder Superior feito de Luz que deu de presente a este pedaço de terra, um Poeta. Poeta Antonio Barros.

Lembro que meu amigo Aderaldo Luciano numa carta endereçada ao cantador Beto Brito, relatou a certeza e vai colocar isso em um livro, "que Deus era um tocador de pife e foi soprando nele, num pife feito de taboca, que deu vida ao Homem com seu sopro fiel".

É por isto que todo dia às 18horas digo em prece: Antonio és um Sopro de Deus...Agradeço por tua existência e a cada letra, ritmo, melodia, harmonia que você alimentou por este Brasil afora. És alegria das Noites de São João, São Pedro e Santo Antonio. És luz. Antonio Barros fogueira luz acesa da grandeza da música que encanta almas e alimentas os seres humanos de Paz.
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NOS CAFUNDÓ DE BODOCÓ A SONORIDADE, O RITMO DA PALAVRA QUE REVELA MUNDOS

Cada arte emociona o ser humano de maneira diferente! Literatura, pintura e escultura nos prendem por um viés racional, já a música nos fisga pelo lado emocional. Ao ouvir música penetramos no mundo das emoções, viajamos sem fronteiras.

Fui a Bodocó, o homem que pesquisa é um lutador. Desbravador. Deve vestir a roupa do destemor e despir os pés para adentrar os caminhos, sentindo o chão que pisa...há anos eu precisava sentir a poeira dos caminhos de Bodocó. 

Bodocó. Desde menino a palavra Bodocó zumbe nos meus ouvidos. Na cidade, o sentimento invadia meus pensamentos, fortalecia a alma de menino jornalista: "Nas quebradas caem as folhas fazendo a decoração. Chora o vento quando passa nas galhas do aveloz. Chora o sapo sem lagoa todos em uma só voz. Chora toda a natureza na esperança, na incerteza de Jesus olhar pra nós...Nos cafundó de Bodocó, de Bodocó, de Bodocó. Nos cafundó de Bodocó, de Bodocó, de Bodocó"...Estes são os versos cantados por Luiz Gonzaga, música de Jurandy da Feira. f

Já Flávio Leandro canta Meu Xodó: "Ai que saudade não posso viver tão só/
Eu volto já, eu vou rever meu Bodocó...Ao som das chuvas de março/Esquentar em teu mormaço meu regaço nas manhãs"... 

Na companhia do amigo Flávio Leandro/Cissa/Emanuel, Jurandy da Feira, Miguel Alves Filho, Franci/Dorinha, no Rancho Febo, tive a felicidade de apreciar a sonoridade da palavra Bodocó.

A cidade é mencionada na canção "Coroné Antônio Bento", que integra o primeiro LP de Tim Maia, de 1970. e que por curiosidade tem na percussão Jackson do Pandeiro. A música conta a história do casamento da filha de um "coronel", que dispensa o sanfoneiro e chama um músico do Rio de Janeiro para animar a festa. A canção é de autoria de Luis Wanderley e João do Vale.

A cidade também consta na música Pau de Arara (Guio de Moraes)..."Quando eu vim do sertão, seu moço, do meu Bodocó, a malota era um saco e o cadeado era um nó, só trazia a coragem e a cara, viajando num pau de arara, eu penei, mas aqui cheguei".

E uma das mais belas ja citadas aqui: Nos Cafundó de Bodocó, de Jurandy da Feira. "Nas caatingas do meu chão se esconde a sorte cega/Não se vê e nem se pega por acaso ou precisão/ Mas eu sei que ela existe pois foi velha companheira do famoso Lampião".

Também ouvi atentamente o relato de Flávio Leandro quando mostrava uma análise, diálogo/pesquisa, a gênese de nossas raízes. Flávio aproxima nossos ancestrais ao termo, a cultura árabe. Lembrei que Elomar, em sua cantiga O Violeiro, canta “Deus fez os homens e os bichos tudo fôrro...”. De forria para fôrro, de fôrro para forró, celebração da liberdade, da quebra do jugo e dos grilhões. 

E  aqui registro, o magistral Emanuel, o Manu, filho de Flávio Leandro/Cissa, na batida do Pandeiro. Ritmo e talento.

Miguel Filho me levou a caminhar na história de Bodocó. Pedra Claranã. Capela São Vicente de Paulo e histórias que envolvem Bodocó e a família de Luiz Gonzaga.

Miguel Filho é o típico sertanejo. Humildade franciscana. Compositor da safra das palavras de qualidade.  Miguel é compositor parceiro de Flávio Leandro, nas músicas Utopia Sertaneja, uma das mais belas da literatura brasileira; e de Fuxico. Miguel tem músicas gravadas também com o Quinteto Violado, Pedras de Atiradeira e Experiências.

E assim a sonoridade Bodocó ganhou ainda mais beleza e sentido. Compreendi que existem palavras que são portas/janelas servem para revelar mundos e situações. Bodocó és encantamento de poesia que flui no mundo moderno e presente. 

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Escola no meio do sertão do RN forma apicultores e transforma região

No sertão de Pau dos Ferros, no Grande do Norte, divisa com o Ceará, uma escola profissionalizante virou marco na paisagem e símbolo de esperança. Lá é ministrado o primeiro – e único – curso de apicultura de um instituto federal do país.

A estrutura é de fazer inveja a muita escola de elite mundo afora. Grande parte da eletricidade que consome é gerada captando luz solar nos telhados. 

O Instituto Federal Rio Grande do Norte (IFRN) tem ainda ar condicionado e aparelhagem completa de data show, com telão e controle remoto para os professores, em todas as salas.

As turmas fazem Ensino Médio completo, incluindo aulas de língua estrangeira. Classes de música também estão na grade de ensino. Mas os estudantes não recebem apenas a educação padrão, aprendem junto uma profissão. Além do curso de apicultura, eles podem escolher o curso de tecnologia de alimentos e de informática.

Dos 1 mil alunos do instituto, 250 cursam apicultura. A seleção é concorrida e, do total de vagas, 50% são reservadas para alunos de escolas públicas.

Segundo a diretora Antonia Francimar da Silva, de cada dez alunos, sete vêm de classes mais populares.

É o caso do João Victor Pires da Silva, filho de agricultores, que acorda às 4h30 e viaja 60 quilômetros todos os dias, de moto e ônibus, para chegar à escola. Também é o caso de José Kelvin de Araújo Silva, filho de um conhecido tapioqueiro da região, José Zildomar Silva, chamado de Zé Tapioca.

A instituição provoca na região uma transformação parecida com a que acontece quando chove na caatinga, quando a vida explode e fica tudo verdinho. Com educação de excelência, a juventude floresce e a cidadania frutifica.

O curso de apicultura vai na vida real das profissões, para que o aluno já possa, se for o caso, ter um ganha pão longo que conclui o Ensino Médio. Por isso, as aulas práticas são intensas.

Em dos experimentos práticos, por exemplo, os estudantes desenvolvem estruturas que simulam ninhos para que os apicultores possam criar as abelhas solitárias, sem ferrão e que não formam enxames, que polinizam com mais eficiência algumas culturas e também têm papel importante na preservação da vegetação nativa da região. Já foram coletadas no instituto cerca de 300 dessas abelhas, de 15 espécies diferentes.

Além de técnicas de produção, propriamente, o curso oferece também uma formação mais científica sobre os chamados aspectos físico-químicos dos derivados da abelha, com muita pesquisa de laboratório. É que só uma análise técnica pode indicar a qualidade do mel.

"Por que ter aulas com todo esse conhecimento de análise? Porque enquanto técnicos eles podem prestar consultoria aos produtores, para já dividir e classificar (o mel)", diz a química e professora do instituto Luciene de Mesquita Carvalho.

Poderão também prestar consultoria para solucionar um desafio que, na caatinga, é maior que em outras regiões do país, a falta de pasto apícola causada pelos longos períodos de estiagem.

Nas classes, os alunos aprendem a produzir o chamado "bife das colmeias". Trata-se de uma pasta feita de albumina, uma proteína presente no ovo, da qual os insetos passam a se alimentar quando não encontram mais néctar nem pólen na vegetação ao redor.

Diferentes tipos de alimentação artificial para as abelhas vêm sendo testadas em laboratório há três anos pelo professor do instituto e biólogo Antonio Abreu.

A educação integrada com formação profissional atraiu novas empresas, novos negócios, novos empregos na região de Paus dos Ferros.

Em um sítio em Marcelino Vieira, os produtores vivem um momento histórico. Fazia seis anos que a caatinga, o semiárido do Alto Oeste do Rio Grande do Norte não via chuva. Com ela, a agricultura voltou e a apicultura também.

Eles acabaram de realizar a primeira safra de mel deste ano: cerca de 10 toneladas, um resultado até bom diante do baque que os enxames sofreram com a longa estiagem.

Dois fatores contribuíram para a reviravolta que estão dando, além do clima: o conhecimento prático do seu Antonio Medeiros, o pioneiro que 30 anos atrás começou a montar apiários na região e, sobretudo, a contribuição do curso do curso que o apicultor Euzir de Queiroz fez. Ele se formou na primeira turma de apicultura do IF, em 2015, e aprimorou várias técnicas para manter e fortalecer os enxames na época que não tem florada.

"Antes eu era criador e com o curso eu adquiri o conhecimento teórico. E hoje vejo isso como fundamental para o crescimento dos meus enxames", avalia Euzir.

E o dinheiro do mel ficou importante na região. "Com ele é que a gente mantém a criação de gado, que compra a ração dos animais, para quem tira leite especialmente. Ele é importante demais para a gente”, diz Antonio.

Mas nem todos os alunos do instituto pretendem abraçar a profissão aprendida ali. Segundo a diretora, pela qualidade do ensino, muita gente procura o curso profissionalizante como plataforma para a universidade.

O José Kelvin, por exemplo, quer ser psicólogo. Há mais de 50 alunos que saíram do IF para fazer medicina e mais de cem fazendo engenharia.

"A qualidade do ensino que é ofertado aqui é que proporciona isso. Ele (o estudante) pode até não ser o apicultor (...) mas ele vira um engenheiro agrônomo, um engenheiro de produção, um médico, um enfermeiro, um advogado".

Porém, boa parte da turma de apicultura sonha em trabalhar com as abelhas, como João Victor.

"Antes de entrar no curso de apicultura, eu não me via como apicultor, eu não sabia, na verdade, a definição de apicultura. Hoje eu posso afirmar que sou apaixonado pela apicultura."

Fonte: Globo Rural/TV Globo
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