Wilson Seraine lança Cordeis Gonzaguianos na Feira Internacional do Livro do Ceará


Gilmar de Carvalho, Affonso Romano de Sant’Anna, Eliane Brum, Ignácio de Loyola Brandão, Márcia Tiburi, Marina Colasanti, Mary Del Priore e Valter Hugo Mãe estão entre os autores confirmados para a XII Bienal Internacional do Livro do Ceará, que ocorrerá no período de 14 a 23 de abril de 2017, no Centro de Eventos, em Fortaleza. 

No sábado 15, na sala 2 mezanino 1, ás 18hs, o professor universitário, radialista e  escritor Wilson Seraine, lança o livro Cordeis Gonzaguianos. O Sanfoneiro Chambinho do Acordeon fará apresentação no evento.

"A Bienal incorpora as dimensões de cultura, Cidadania,  educação, social e econômica. É um evento de cunho cultural que democratiza o acesso ao livro. De cunho educacional, que forma leitores, que cria ambientes favoráveis para a formação de leitores", destacou o secretário da Cultura  Fabiano dos Santos Piúba.

Referência no calendário do setor editorial nacional, a XII Bienal Internacional do Livro do Ceará é um daqueles encontros de pessoas que constroem no cotidiano um mundo melhor, reinventando a vida por meio da arte, do conhecimento, da palavra. É também um momento de culminância da política nacional de livro, leitura, literatura e bibliotecas, de acordo com as diretrizes de democratização do acesso à cultura e à arte, valorização da produção cearense e diálogo com o Brasil e o mundo.


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O Ídolo Negro, compositor e cantor Evaldo Braga ganha livro

Em 1969, o jovem que passara infância e adolescência na Funabem começou a sua trajetória de grande astro da canção. Até morrer, em 1973, aos 27 anos, num acidente automobilístico, ele gravaria dois LPs e seis compactos: um total de 38 músicas, das quais nada menos que 15 seriam sucessos nacionais.

Canções como “Sorria, sorria”, “A cruz que carrego” e “Tudo fizeram para me derrotar”, pérolas de um romantismo torturado, vingativo e ressentido, fizeram de Evaldo Braga, um ex-cozinheiro e ex-engraxate, o Ídolo Negro do Brasil. Mas, tão repentinamente quanto apareceu, o cantor se foi, e teve a sua passagem pela história da MPB eliminada — uma injustiça que o jornalista e escritor Gonçalo Junior, 49, tenta reverter com “Eu não sou lixo — A trágica vida do cantor Evaldo Braga”, lançamento de estreia da Editora Noir, de André Hernandez.

— Em primeiro lugar, o que me chamou a atenção foi a tragédia. Depois, a brevidade de sua vida. E, por fim, o talento dele, em vários sentidos. O que justifica o livro é que Evaldo Braga foi um fenômeno, um cometa que passou sem deixar rastros — explica Gonçalo, para quem o cantor conseguiu ser bem mais do que um mero imitador de Agnaldo Timóteo (como parte da crítica o classificava). — Ele e Agnaldo usufruíram de uma megaestrutura de gravadora, dos melhores músicos e técnicos. Mas Evaldo tinha uma sofisticação brega, o negócio do Timóteo é a quantidade de versões que gravava. A cada LP dele, das 12 músicas, oito eram versões.

Compositor de boa parte de suas canções (junto de parceiros como Carmen Lúcia — filha do amigo Roberto Muniz e portadora de síndrome de Down — e Pantera — misteriosa presidente do Fã-Clube de Roberto Carlos, que morreu sem que sequer as pessoas próximas soubessem seu nome verdadeiro), Evaldo Braga sempre deixou nas letras pistas de sua história de vida. O autor e intérprete de “Eu não sou lixo” passou anos atormentado pela história, contada a ele, mas nunca confirmada, de que sua mãe era uma prostituta que o teria abandonado, recém-nascido, em uma lixeira. Perto do fim da vida, mais angustiado ainda com a ideia, ele bebia cada vez mais.

— Foi isso que o levou à fama e à morte. Evaldo queria ser conhecido para que a mãe o procurasse e o descobrisse — conta o escritor. — Todas as suas músicas contam historinhas e têm componentes autobiográficos. Elas batem naquilo que todo mundo quer esconder: na frustração, na traição... “Eu não sou lixo” e “Sorria, sorria” são agressivas, uma espécie de punk brega. A letra de “Sorria” é de uma crueldade sem tamanho, uma vingança.

Artista que só recentemente teve um registro em vídeo recuperado (uma aparição no programa do Chacrinha, na TV Tupi, em 1972), Evaldo Braga lutou muito para chegar ao estrelato. Segundo Gonçalo, ele era “um cara hábil”, que aprendeu na Funabem a cozinhar e que depois, mesmo tendo galgado postos em empresas como a Varig e a General Electric, decidiu trabalhar como engraxate só para poder fazer contatos artísticos. E Evaldo ainda foi um dos cantores que, numa época na qual dos negros era esperado que fizessem samba, investiram na soul music e no rock. Tudo isso é contado em “Eu não sou lixo”, livro ainda recheado de perfis de artistas que prosperaram na mesma cena musical que Evaldo Braga.

Fonte: Silvio Essinger-Jornal O Globo
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O sol em sua caminhada vai desfazer-se logo mais às 18 horas

O sol fugidio suspirava arquejando, assassinado pela rotação da Terra, ilusão louca. Em sua falsa caminhada pelo céu, ele, o sol, entra pelas portas, janelas e corpos, vivos e idos, da casa grande e abandona-a ainda a pino, no zênite. Entra mas não sai, visto que, em um segundo turno, entrará novamente, para desfazer-se em sombras logo mais às 18 horas.

Na cidade de Serraria, na Paraíba do Norte, vislumbramos a Baixa Verde. A estrada de barro vermelho e alaranjado, percorrida nos cavalos da motocicleta, é sempre declive, escorregando pelo flanco dos morros, demarcada por cercas de arame farpado em troncos de sabiá. A chuva deixou escrita sua letra em forma de vala curvilínea, sensual e traiçoeira.

Na primeira encruzilhada, a Casa Grande sorri amarelada pelo sol da História Colonial e suas nuanças. O fausto de suas linhas humilha a solitária senzala à frente. Mas seus dias de glória e poder decaíram como um todo, acompanhando os momentos decisivos do brejo. Lembro, com estremecimento, que meu pai comandou essas terras, capataz e feitor.

O engenho está calado e mudo, seus bois de carro perderam-se no canavial da ilusão, seus escravos foram alforriados pela morte, seus senhores obrigaram-se a escalar as paredes escorregadias do desengano. Linda Baixa Verde, bela arquitetura: qual guardião zelará por ti o resto da vida inteira? Enquanto estive em tua presença, ouvi muitos dos teus desabafos, compreendi teu silêncio e reverenciei tua longevidade.

Fonte: Aderaldo Luciano-professor doutor em Ciencia da Literatura
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Caicó: Departamento de História promove Encontro de Saberes-Cordel, História e Educação

O Departamento de História, do Centro de Ensino Superior do Seridó (Ceres), campus Caicó, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), promove o evento Cordel, História e Educação: Encontro de saberes, que ocorre de 23 a 25 de abril, no auditório do Ceres. O evento é destinado a professores e alunos do Centro de Ensino.

O objetivo é reunir pesquisadores e cordelistas que discutam  sobre a importância do cordel como fonte histórica privilegiada e sobre a utilização dessa arte como documento histórico, além de material didático nas escolas e universidades.

Para isso, participarão do evento discentes e docentes de todos os níveis da educação básica e superior visando enumerar estratégias para que o cordel faça parte do material didático e, consequentemente, da construção do pensamento crítico do aluno, evidenciando formas de trabalhar os conteúdos de maneira lúdica e poética.

As inscrições devem ser feitas via Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (Sigaa) até o dia 23 de abril. No Sigaa também está disponível a programação completa do evento.

Fonte: Igor Duarte/Agecom-UFRN
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Luiz Gonzaga e os umbuzeiros

"Umbuzeiro velho
"Veio" amigo quem diria
Que tuas folhas caídas
Tuas galhas ressequidas
Íam me servir um dia/
Foi naquela manhãzinha
Quando o sol nos acordou
Que a nossa felicidade
Machucou tanta saudade
Que me endoideceu de amor/
Indiscreto passarinho solitário cantador descobriu nosso segredo acabou com nosso enredo/ Bateu asas e vou/ Hoje vivo pelo mundo tal o qual o vem-vem assobiando o dia inteiro quando vejo um umbuzeiro me lembro de você  meu bem"...

Luiz Gonzaga, numa composição de João Silva homenageou o pé de Umbu! Ouvindo esta música na madrugada aqui em Petrolina, que mais surgere ser dia, temperatuda 30 graus, me reportei que nessa época de seca, a salvação de muitas famílias no Nordeste é o umbuzeiro - árvore símbolo de resistência da caatinga.

No cenário de vegetação quase sem vida, sem comida, o umbuzeiro exibe fartura.  Nada é mais alegre para os catadores de umbu do que encontrar o chão de um único jeito: forrado de frutas.

O umbuzeiro é a única árvore verde no meio da caatinga arrasada.  O segredo está embaixo da terra. As raízes têm batatas que funcionam como uma caixa d’água.

A água fica dentro da batata. E como são centenas de batatas enterradas, elas vão irrigando a árvore. As pesquisas calculam que um umbuzeiro grande chega a acumular 1.500 litros de água. É por isso que ele atravessa todo o período de seca verde e dando frutos.

Fonte de vitamina C e até de inspiração para os poetas nordestinos. Nesta época o umbu é a salvação.

Mas até o umbuzeiro está sofrendo com a seca extrema. Segundo um estudo da Embrapa, em algumas regiões do Nordeste, como no sertão pernambucano, de cada quatro umbuzeiros, apenas um consegue sobreviver.
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Seu Berto, Fazenda Barão e Faculdade de Agronomia

Eu vi a Morte, a moça Caetana,
com o Manto negro, rubro e amarelo.
Vi o inocente olhar, puro e perverso,
e os dentes de Coral da desumana.
Eu vi o Estrago, o bote, o ardor cruel,
os peitos fascinantes e esquisitos.
Na mão direita, a Cobra cascavel,
e na esquerda a Coral, rubi maldito.
Na fronte, uma coroa e o Gavião.
Nas espáduas, as Asas deslumbrantes
que, rufiando nas pedras do Sertão,
pairavam sobre Urtigas causticantes,
caules de prata, espinhos estrelados
e os cachos do meu Sangue iluminado.

Os versos  acima são de Ariano Suassuna. Sempre que recebo a notícia de um amigo chamado para o "Grande Sertão da Eternidade", me vem ao pensamento.

Hoje recebi a notícia da morte/desencarne/descanso do meu amigo Bartolomeu Venâncio dos Santos, meu amigo "Seu Berto". Lembrei de nossas conversas, lições, também da cachaça, nosso cigarro, sorrisos e rádio de pilha lá na Fazenda Barão.

Divido minha saudade com a viúva Dona Janina, os filhos, César, Sônia, Fátima e Mazarelo. Seu Berto era sogro do sanfoneiro e cantor Flávio Baião.

"Seu Berto" foi aluno da primeira turma de agronomia da Universidade Estadual da Bahia que se formou em 1965. Ao falar da história da Universidade o ex-aluno se emocionava ao lembrar com carinho os momentos vividos em sala de aula, a luta pelo reconhecimento da Instituição e dos colegas então falecidos.

“A Faculdade ela significa tudo para mim. Eu deixava de dormir em casa para estudar com meus amigos à noite. Na época  trabalhava e estudava. Vencemos. A educação nos libertou", contava Seu Berto.

Lembro da alegria dele dizendo que teve a oportunidade de visitar uma exposição de fotos antigas que aconteceu no prédio da Uneb, ao lado do primeiro ônibus da Universidade, conhecido como Belo Antônio pelas turmas de agronomia da década de 1960 e de 1970.

Lembrarei hoje quando os ponteiros anunciarem 18 horas o que diz a Escritura Sagrada: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir".

Boa Viagem meu amigo Seu Berto...Inté qualquer outra hora!
*Ney Vital-jornalista

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Luiz Gonzaga e as curvas da mulher amada

O arquiteto Oscar Niemeyer gostava de falar sobre sua paixão pelo trabalho e pelas obras que construiu pelo país.

Uma das definições mais extraordinárias do amor ao trabalho foi ele dizer que a maior atração era a curva livre e sensual. "A curva que encontro nas montanhas. No curso sinuoso dos sentidos, nas nuvens do céu. No corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo."


"A obra de Gonzaga traz a mulher que cuidava das crianças, na Zona da Mata, no Agreste e no Sertão, da matriarca da família que exercia o mesmo respeito, a mesma mística que o senhor de engenho e proprietário da terra, mas ao mesmo tempo Gonzaga acompanha o desenvolvimento dessa mulher", explica o cantor e compositor Silvério Pessoa.

Animada para a festa e valente para a peleja. Assim é a mulher nordestina de Luiz Gonzaga, refletida em artistas como Terezinha do Acordeon, que fez de tudo para não deixar sua sanfona. "Meu pai achava estranho e o povo achava mais estranho ainda. Só que depois, eu fui fazer o que toda mocinha faz. Namorar, casar, ter sua família. Eu casei com uma pessoa que não gostava de sanfona. Eu tinha uma casa, marido, filhos e faltava alguma coisa. Meu marido não queria nem ouvir falar em sanfona".

Iolanda Dantas, viúva de Zé Dantas, falecida recentemente, contava que conheceu o Rei do Baião quando ainda namorava Zé Dantas. "Ele fazia, escrevia, se apresentava no programa de rádio e Luiz Gonzaga cantava. [...] A primeira música que ele [Zé Dantas] fez para mim foi a 'Fulô ingrata', assim como 'Sabiá', que ele também fez para mim. Luiz Gonzaga diz que 'Cintura fina' também foi para mim".

Discutindo as músicas de Gonzaga sobre as mulheres, 'Paraíba masculina' não podia ficar de fora. Mulheres que conviveram com Luiz Gonzaga e artistas analisam a música e discutem se a música é ou não machista. "Eu acho que se seu Luiz fosse vivo, não ia cantar mais assim não", acredita a cantora e compositora Bia Marinho.

A mulher presente em obras como 'Samarica parteira', que conta as aventuras para buscar a parteira, traz a tona essa figura que tanto marcou a história nordestina. "A música mostra para a gente esse respeito pela mulher parteira, o respeito por sua ancestralidade", acredita a parteira Suely Carvalho.

Figuras como a vaqueira Maria Soneide mostram a força da mulher. "Eu comecei a amansar jegue com papai, ele me mostrava os caminhos no mato", conta Maria. "Eu acho que pareço um pouco com a Karolina com 'K' e um pouco essa mulher guerreira, batalhadora. Ela tem essa coisa da alegria, da festa, que gosta de se divertir", acredita a pesquisadora Leda Alves.

A partir deste conceito analiso o significado da Mulher no universo sempre apaixonante que encontramos nos versos cantados por Luiz Gonzaga. A música de Luiz Gonzaga cantou o Nordeste/Sertão, de todas as formas, fala de sua força para o trabalho e suas lutas, mas também fala da mulher e sua formas sensuais.

Luiz Gonzaga acariciava a sanfona, dialogava com sanfona/mulher amada...Provocava prazer percorrendo o corpo imaginado sem pressa dos 8 aos 120 baixos, dedos leves em cada nota, acorde,/acordes de tal forma que antes do fim da nota, a mulher preferida,  já se encontre em pleno êxtase...

A música "Morena Cor de Canela constitui um roteiro da mulher bonita e sensual, enumerando suas qualidades e independência, culminando num jogo plurissignificativo.

Vejamos: "Olha o jeito dela, morena cor de canela pode morrer de paixão quem olhar nos olhos dela...corpo esculturado, beleza que Deus Criou
Cabelos anelados, boca cor de jambo
ela vai envenenando qualquer homem que lhe ver
sua cintura bem fininha, afinadinha
vai descendo, enlarguecendo
nos quadris, que tentação
as suas pernas torneadas, tão bonitas
pois qualquer homem fica com ela no coração
sai da janela, caminha requebrando
a gente vai olhando, vai ficando na ilusão...
não faz assim comigo não...

É a pura valorização da mulher. Já em "Vem Morena", Luiz Gonzaga na composição de Zé Dantas dispensa comentários:
"Vem, morena, pros meus braços
Vem, morena, vem dançar
Quero ver tu requebrando
Quero ver tu requebrar
Quero ver tu remexendo
No Resfulego” da sanfona
“Inté” que o sol raiar
Esse teu fungado quente
Bem no pé do meu pescoço
Arrepia o corpo da gente
Faz o “véio” ficar moço
E o coração de repente
Bota o sangue em “arvoroço”

Esse teu suor salgado
É gostoso e tem sabor
Pois o teu corpo suado
Com esse cheiro de “fulô”
Tem um gosto temperado
Dos tempero do amor
Vem, morena, pros meus braços"...
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