ROLANDO BOLDRIM, OS SERTÕES, A VIOLA E DEUS

O cantor, compositor e apresentador Rolando Boldrin – que morreu no dia 9 passado, aos 86 anos – foi uma forte inspiração para a criação, em 2004, do curso de graduação em Viola Caipira oferecido pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP. 

“Nós sempre acompanhamos o trabalho de divulgação da cultura caipira do Boldrin, e isso teve influência direta quando decidimos organizar o curso”, afirma o professor Rubens Russomanno Ricciardi, do Departamento de Música da FFCLRP.

Para Ricciardi, a atuação de Rolando Boldrin como apresentador de programas de televisão representou uma “renascença” da viola caipira no Brasil. 

Em programas como Som Brasil, transmitido pela Rede Globo de Televisão de 1981 a 1984, e Senhor Brasil, no ar desde 2005 até sua morte, Boldrin recebeu os mais diferentes artistas ligados à cultura caipira, de todas as regiões do País, ampliando a visibilidade dessa cultura. “Ele foi um dos protagonistas desse movimento e sempre nos influenciou muito”, destaca Ricciardi. 

O professor ressalta, porém, que o curso de Viola Caipira da FFCLRP é muito diferente do que o apresentador fazia. “Boldrin se preocupava em preservar uma cultura, era um conservador. Nós, na Universidade, vamos muito além da mera divulgação e preservação”, diz Ricciardi. “Nós integramos a viola caipira na orquestra, fazemos um trabalho experimental. Boldrin não era experimental”, acrescenta o professor, que é o maestro titular da USP Filarmônica, orquestra ligada à FFCLRP.

Mesmo não sendo experimental, Boldrin tinha originalidade. O compositor José Gustavo Julião de Camargo, maestro assistente da USP Filarmônica e apresentador do programa Revoredo, da Rádio USP – dedicado à viola caipira instrumental -, destaca a qualidade do cancioneiro de Rolando Boldrin, autor de 20 canções que abordam principalmente o ambiente campestre, a vida simples e o interior brasileiro. Entre essas canções estão Coração de Violeiro, Seresta, Minha Viola e Vide Vida Marvada, seu grande sucesso. “Não é um cancioneiro extenso, mas é de uma qualidade tremenda”, avalia Camargo. “As suas canções têm melodias que são quase faladas, diferentes das músicas típicas do interior, que são mais melódicas, mais cantadas.”

Nascido em 22 de outubro de 1936 na cidade de São Joaquim da Barra, no interior paulista, Rolando Boldrin começou sua carreira artística como ator. Entre 1960 e 1980, ele trabalhou em 37 novelas transmitidas pelas emissoras de televisão Record, Tupi, Excelsior e Bandeirantes, atuando ao lado de atores como Laura Cardoso, Irene Ravache e Lima Duarte. No cinema, teve participação em cinco filmes – dos quais o último foi O Filme da Minha Vida, de 2017, dirigido por Selton Mello. Entre 1963 e 2019, lançou 56 discos e CDs. Além de Som Brasil e Senhor Brasil, apresentou os programas Estação Brasil, na TV Gazeta (1995 e 1996), Empório Brasil, no SBT (1989-1990), e Empório Brasileiro, na Rede Bandeirantes (1984-1986).

Jornal da USP Texto: Roberto C. G. Castro

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