Nas memórias do tempo, de todas as memórias da infância, a que me é mais grata é a do meu rio, o São Francisco, a transbordar e desbordar as águas barrentas pra deixar nas vazantes a terra enriquecida para os ribeirinhos.
A moldura sentimental e telúrica
que não é apenas evocativa
pois jamais disse adeus a minha terra
se completa com a visão das barcas a vela
subindo a correnteza e vencendo a calmaria
com a força dos peitos rijos dos remeiros.
São os remeiros dos peitos sangrentos
remeiros sofridos
calejados na adversidade
o ânimo forte e a alma em festa
nas canções que acompanham o impulso dos remos
e nos gritos de desafio à passagem dos vapores.
O menino beiradeiro,
que chega às alturas da direção de um grande Estado e de um povo,
tem a sua frente o mesmo quadro.
Se os bons ventos nos faltarem
estarei na proa para acertar a cadência das remadas.
Remando ou varejando
não importa sangre o peito:saberemos lutar.
A luta dos remeiros, como a nossa,
é o embate dos que não perderam a fé
dos que têm esperança
dos que firmam os pés molhados nas coxias
de olhos voltados sempre para a frente.
O peito rijo que se abre em calos
se enrijece na certeza de que a união nos fará fortes
no vislumbre de novos horizontes que juntos buscaremos.
Rio acima contra a correnteza
e a alma cheia de esperança.
(Fonte: Nilo Coelho-ex Governador de Pernambuco)
0 comentários:
Postar um comentário