UFCA RECEBE ACERVO DO POETA PEDRO BANDEIRA DOADO PELA FAMÍLIA

O curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Cariri (UFCA) realizou na última terça-feira, dia 9 de maio de 2023, uma cerimônia para recepção de acervo doado pela família do poeta paraibano, radicado no Cariri, Pedro Bandeira. A cerimônia, realizada no Miniauditório Bárbara de Alencar, campus Juazeiro do Norte, contou com a presença do reitor, Ricardo Ness, e com a de outras autoridades universitárias e municipais.

“Príncipe dos poetas populares”, Pedro Bandeira foi repentista, cantador de viola, filósofo, teólogo, escritor, radialista e apresentador de TV – elogiado publicamente por grandes nomes nacionais, como Câmara Cascudo, Jorge Amado e Carlos Drummond de Andrade. Nascido em São José de Piranhas, na Paraíba, Pedro recebeu, em 2018, o título de Tesouro Vivo do Estado do Ceará, pela obra robusta, escrita desde criança, com incontáveis músicas e versos. Apresentou-se por todo o Brasil e também no exterior, recebendo diversos prêmios, diplomas, homenagens e comendas. 

 “Não é um arquivo só de Pedro Bandeira, é um arquivo da poesia, do repente de viola de todo o Brasil”, relatou Íria Bandeira, filha do poeta. Ela complementa afirmando que seu pai era reconhecido entre os poetas por tê-los ensinado a vender seus trabalhos. Além de Íria, outros dois membros da família de Pedro se fizeram presentes durante o evento: sua filha, Analica, e seu neto, Pedro Ian.  Antes e após a doação, os cantadores Jonas Bezerra e Chico Alves apresentaram canções autorais e cantaram repentes, ao som de violas. 

 No total, a UFCA recebeu, até o dia da cerimônia, 9 caixas, contendo cordéis, quadros com fotografias, livros, discos e troféus de Pedro Bandeira. Todas as doações, que são de diferentes épocas e fases da vida do artista, passarão por tratamento de higienização e por ações de preservação preventiva.  

Ao contar sobre a vida do pai, Íria Bandeira emocionou-se em diversos momentos e relembrou manias de Pedro, como a de dormir com diversos livros e cadernos embaixo de sua rede: “Às vezes, ele acordava de madrugada com algum verso em mente e já o transcrevia. Ele só dormia de rede. Se vocês quiserem essa rede, a gente doa essa rede também”, brincou Íria. Apesar da brincadeira, a família se colocou à disposição da Universidade para doar ainda mais itens, futuramente. 

Emocionado, Ricardo Ness comentou sobre a importância do acervo doado pela família de Pedro e de outros acervos já incorporados à Universidade. Conforme o reitor, a ideia é que a UFCA crie um Museu para expor todos os itens recebidos, mas, para isso, a instituição precisa de um espaço adequado, o que ainda não se materializou na Universidade. 

Também presente na cerimônia, a professora do curso de Biblioteconomia da UFCA, Francisca Pereira dos Santos, conhecida como Fanka Santos, reforçou a necessidade de se criar um espaço para exposição de itens já mantidos pelo Laboratório de Ciência da Informação e Memória (Lacim), responsável pela guarda do acervo doado pela família de Pedro Bandeira: “A gente precisa de estantes”, frisou a docente, provocando risos na plateia. Professora Fanka (de pé), da UFCA, durante doação de acervo de Pedro Bandeira à Universidade. Foto: Paulo Rossi – Dcom/UFCA Laboratório de Ciência da Informação e Memória O Laboratório de Ciência da Informação e Memória, vinculado ao curso de Biblioteconomia da UFCA, surgiu em 2009 como um espaço tanto de memória quanto de práticas de ensino e pesquisa para o curso. 

 Vice-Coordenadora do curso de Biblioteconomia e tutora do Lacim, a professora da UFCA Vitória Gomes afirma que a doação do acervo de Pedro Bandeira não só é importante para o curso de Biblioteconomia, como também é “importante para a cultura brasileira” como um todo: “Ele [o acervo] é um patrimônio que nós temos e que agora a UFCA tem a missão de salvaguardar e proteger”, finaliza.

Em breve, o acervo de Pedro Bandeira estará disponível para consulta pela comunidade acadêmica da UFCA e também por parte dos públicos externos. Para ter acesso às obras e aos itens sob a guarda do Lacim/UFCA, basta agendar uma visita, pelo perfil do Laboratório no Instagram ou pelo e-mail lacim.ccsa@ufca.edu.br.  Serviço Curso de Biblioteconomia – UFCA Laboratório de Ciência da Informação e Memória lacim.ccsa@ufca.edu.br

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POLICIA FEDERAL CUMPRE MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO NA USINA NUCLEAR ANGRA 1

A Polícia Federal cumpriu um mandado de busca e apreensão na manhã desta quinta-feira (11) na Usina Nuclear Angra 1, em Angra dos Reis (RJ).

Segundo a PF, a medida judicial está relacionada aos dois inquéritos policiais que investigam o vazamento de água contaminada com resíduos nucleares ocorrido em 16 de setembro de 2022.

Na ocasião, a Eletronuclear deixou de avisar a autoridades responsáveis sobre um vazamento de material radioativo no mar da Baía de Itaorna.

As investigações apuram supostas condutas omissas na comunicação dos eventos na usina e possíveis crimes ambientais.

Procurada pelo g1, a Eletronuclear disse que "o incidente foi encerrado, suas causas estão sanadas e não existem áreas impróprias nem risco de agravamento da situação". Afirmou também que "nenhuma norma foi infringida pela empresa, que sempre atuou com total comprometimento e respeito ao meio ambiente". Veja na íntegra:

"A Eletronuclear confirma a presença da Polícia Federal (PF) na Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), em Angra dos Reis, na manhã desta quinta-feira (11). A ação faz parte das investigações sobre o incidente na usina Angra 1, ocorrido em setembro do ano passado.

É importante ressaltar que todas as informações e detalhes solicitados continuarão sendo fornecidos às autoridades, reforçando o compromisso da empresa com a segurança e bem-estar de todos.

A empresa reitera que o incidente foi encerrado, suas causas estão sanadas e não existem áreas impróprias nem risco de agravamento da situação. Além disso, o evento não ocasionou nenhum tipo de prejuízo às pessoas ou ao meio ambiente, conclusão referendada pelos próprios órgãos licenciadores (Ibama e Cnen). Nenhuma norma foi infringida pela empresa, que sempre atuou com total comprometimento e respeito ao meio ambiente.

Nesse sentido, a Eletronuclear permanecerá à disposição dos órgãos competentes para todos os esclarecimentos necessários sobre o incidente. "

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JORNALISTA CHICO JOSÉ PARTICIPA PALESTRA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI

O curso de Jornalismo da Universidade Federal do Cariri (UFCA), em comemoração ao Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (3 de maio), realizará uma aula aberta sobre os desafios da profissão, com o jornalista cratense Francisco José. 

O evento, gratuito e presencial, ocorrerá no dia 11 de maio, às 19h, no auditório do campus Juazeiro do Norte. Na ocasião também haverá o lançamento da sétima edição da Semana de Jornalismo do Cariri. 

Chico José ganhou destaque nacional com as reportagens especiais para o programa Globo Repórter

Na aula, além da explanação de Chico José, os participantes poderão compreender como ocorre, na prática, uma coletiva de imprensa. A entrevista coletiva será conduzida pelos estudantes que atualmente compõem a equipe da Agência Cariri, formada por estudantes do Laboratório de Assessoria de Imprensa, sob a supervisão do professor do curso de Jornalismo da UFCA, Edwin Carvalho. 

Os jornalistas profissionais e o público em geral também poderão fazer perguntas ao convidado. Francisco José  Primeiro jornalista nordestino a apresentar o Jornal Nacional, Chico José trabalhou durante 46 anos na TV Globo, atuando por mais de três décadas como repórter especial no Globo Repórter. Fez cobertura de quatro Copas do Mundo, duas Olimpíadas e foi enviado especial da Guerra das Malvinas.  

O jornalista conta no seu currículo, além de diversas reportagens, com uma indicação ao Emmy, o mais importante prêmio da televisão mundial. Projeto Aulas Abertas O evento faz parte do projeto Aulas Abertas, criado em 2021, pela Agência Cariri.

A programação alusiva ao Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, data instituída pela Organização das Nações Unidas, incluirá, além da aula, o lançamento da sétima edição da Semana de Jornalismo do Cariri, que ocorrerá entre os dias 2 e 6 de outubro. 

Na oportunidade, o tema do evento também será divulgado.  Haverá ainda o lançamento da nona edição da Revista Caracteres, produzida pelos estudantes do Laboratório de Jornalismo Impresso do curso de Jornalismo da UFCA. Serviço Agência Cariri (Agência de notícias do curso de Jornalismo da UFCA) agenciacariri.iisca@ufca.edu.br

Fonte: https://ufca.edu.br

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RITA LEE, RAINHA DO ROCK BRASILEIRO, MORRE AOS 75 ANOS

Rita Lee, uma das maiores cantoras e compositoras da história da música brasileira, morreu nesta segunda-feira (8), aos 75 anos. Ela foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2021 e vinha fazendo tratamentos contra a doença.

A família da cantora divulgou um comunicado nas redes sociais dela: "Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua residência, em São Paulo, capital, no final da noite de ontem, cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou". O velório será aberto ao público, no Planetário do Parque Ibirapuera, na quarta-feira (10), das 10h às 17h.

Rita ajudou a incorporar a revolução do rock à explosão criativa do tropicalismo, formou a banda brasileira de rock mais cultuada no mundo, os Mutantes, e criou canções na carreira solo com enorme apelo popular sem perder a liberdade e a irreverência.

Sempre moderna, Rita foi referência de criatividade e independência feminina durante os quase 60 anos de carreira. O título de “rainha do rock brasileiro” veio quase naturalmente, mas ela achava “cafona” - preferia “padroeira da liberdade”.

Rita Lee Jones nasceu em São Paulo, em 31 de dezembro de 1947. O pai, Charles Jones, era dentista e filho de imigrantes dos EUA. A mãe, a italiana Romilda Padula, era pianista, e incentivou a filha a estudar o instrumento e a cantar com as irmãs. 

Aos 16 anos, Rita integrou um trio vocal feminino, as Teenage Singers, e fez apresentações amadoras em festas de escolas. O cantor e produtor Tony Campello descobriu as cantoras e as chamou para participar de gravações como backing vocals.

Os Mutantes-Em 1964 ela entrou em um grupo de rock chamado Six Sided Rockers que, depois de algumas mudanças de formações e de nomes, deu origem aos Mutantes em 1966.O grupo foi formado inicialmente por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. 

Eles foram fundamentais no tropicalismo, ao unir a psicodelia aos ritmos locais, e se tornaram o grupo brasileiro com maior reconhecimento entre músicos de rock do mundo, idolatrados por Kurt Cobain, David Byrne, Jack White, Beck e outros.

O trio acompanhou Gilberto Gil em “Domingo no parque” no 3º Festival de Música Popular Brasileira da Record, em 1967, e Caetano Veloso em “É proibido proibir” no 3º Festival Internacional da Canção, da Globo em 1968, dois marcos da tropicália.

Os Mutantes também participaram do álbum “Tropicália ou Panis et Circensis”, de 1968, a gravação fundamental do movimento. 

Ela fez parte dos Mutantes no período mais relevante e criativo da banda, de 1966 a 1972. Gravou “Os Mutantes” (68), “Mutantes” (69), “A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado” (70), “Jardim Elétrico” (71) e “Mutantes e Seus Cometas no País dos Bauretz” (72).

O fim do relacionamento com Arnaldo Baptista coincidiu com a saída dela dos Mutantes. O primeiro álbum solo foi “Build up”, ainda antes de deixar a banda, em 1970. Ela também lançou “Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida”, em 1972, ainda gravado com o grupo.

A carreira pós-Mutantes tomou forma com o grupo Tutti Frutti, no qual ela gravou cinco álbuns, com destaque para “Fruto proibido”, de 1975, que tinha a música “Agora só falta você”.

A partir de 1979, ela começou a trabalhar em parceria com o marido Roberto de Carvalho, e se firmou de vez na carreira solo. Ela escreveu e gravou canções de pop-rock com grande sucesso.

Um dos álbuns mais bem sucedidos foi “Rita Lee”, de 1979, com “Mania de Você”, “Chega mais” e “Doce Vampiro”. No disco de mesmo título do ano seguinte, ela segue na direção mais pop e faz ainda mais sucesso com “Lança perfume” e “Baila comigo”. 

Ela era uma roqueira popular antes e depois de o gênero se tornar um fenômeno comercial no Brasil em meados dos anos 80. Entre os álbuns de destaque estiveram “Saúde” (1981) e “Rita e Roberto” (1985), com o qual os dois subiram ao palco do primeiro Rock in Rio. 

Entre 1991 ela começou um período de quatro anos separada de Roberto de Carvalho. O retorno foi em 1995, na turnê do álbum “A marca da Zorra”, quando ela também abriu os shows dos Rolling Stones no Brasil. No ano seguinte, eles se casaram no civil após 20 anos juntos. 

Em 1996, ela caiu da varanda do seu sítio, sob efeito de remédios, e quebrou o recôndito maxilar. Rita começou a tentar largar o álcool e as drogas, mas disse ao “Fantástico” que só conseguiu fazer isso em janeiro de 2006. 

Em 2001, RIta Lee ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa com “3001”. Ela ainda teria mais cinco indicações ao prêmio, e receberia em 2022 o prêmio de Excelência Musical pelo conjunto da obra.

Em 2012, ela anunciou que deixaria de fazer shows por causa da fragilidade física. “Me aposento dos shows, mas da música nunca”, ela escreveu no Twitter. 

Em 28 de janeiro daquele ano, no Festival de Verão de Sergipe, ela fez o show anunciado como último da carreira, quando ela discutiu com um policial. Ela foi acusada de desacato à autoridade, levada à delegacia e liberada em seguida. 

Rita Lee realmente nunca mais fez uma turnê. Mas ainda fez um show no Distrito Federal no fim de 2012, em que abaixou a calça para o público, e cantou no aniversário de São Paulo em 2013, ovacionada pelo público de sua cidade.

Seu último álbum de canções inéditas em estúdio saiu em abril de 2012. “Reza” era, então, seu primeiro trabalho de inéditas em nove anos. A faixa-título foi a música de trabalho, definida por ela como “reza de proteção de invejas, raivas e pragas”.

Ao todo foram 40 álbuns, sendo 6 dos Mutantes, 34 na carreira solo.

Em 2016, ela lançou “Rita Lee: uma autobiografia”. Uma das revelações do livro foi que ela foi abusada sexualmente aos seis anos de idade por um técnico que foi consertar uma máquina de costura de sua mãe em casa.

No livro, um sucesso de vendas, ela também falou com sinceridade sobre episódios da carreira, como quando foi expulsa dos Mutantes em 1972, e da vida pessoal, como a luta contra o alcoolismo.

Além da autobiografia, Rita Lee tem uma longa trajetória como escritora. A série “Dr. Alex” é de 1983, mas foi relançada em 2019 e 2020 e tem foco na luta pela causa animal e ambiental da cantora. Em março de 2023, ela anunciou "Outra Autobiografia", que está em pré-venda.

Ela também escreveu “Amiga Ursa: Uma história triste, mas com final feliz” na literatura infantil. “FavoRita”, “Dropz”, “Storynhas” e “Rita Lírica” são outros livros escritos pela cantora.

Na TV, Rita participou das novelas “Top Model”, “Malu Mulher”, “Vamp” e “Celebridade” em participações especiais.

Diagnóstico de câncer-Em maio de 2021, Rita Lee foi diagnosticada com câncer de pulmão. Ela seguiu tratamentos de imunoterapia e radioterapia.

Quatro meses depois, ela lançou o último single da carreira, “Changes”, em parceria com o marido Roberto de Carvalho e o produtor Gui Boratto.

Em abril de 2022, seu filho Beto Lee escreveu que ela estava curada do câncer.

Nos últimos anos, ela viveu em um sítio no interior de São Paulo com a família. Ela deixa três filhos: Roberto, João e Antônio.

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MANOEL GERALDO: UM TOCADOR AUTÊNTICO DE SANFONA DOS 8 AOS 120 BAIXOS

“A verdadeira sanfona é aquele instrumento menor, de oito baixos, onde abrindo o fole é uma nota e fechando é outra, ensinada de pai para filho, conhecido no interior do nordeste como pé-de-bode ou concertina, e no sul como gaita-ponto”. (Oswaldinho do Acordeon)

A definição acima é compreendida pelo sanfoneiro Manuel Geraldo, pai do músico percussionista Paulo Henrique (PH Lucas). A familia perdeu recentemente seu Pedro Rodrigues, que viveu 101 anos. A partida de seu Pedro representa que o mundo da sanfona de 8 baixos fica cada vez mais sem ícones que possam ensinar aos mais jovens e manter a tradição da cultura de tocar 8 Baixos.

Com a morte de seu Pedro, Manuel Geraldo, mantem a puxada da sanfona de 8 baixos. Manuel Geraldo é um dos poucos sanfoneiros que toca sanfona de 8 baixos e também a de 120 baixos.

Na atualidade são poucos os sanfoneiros de 8 Baixos que continuam mantendo a sonoridade considerada uma arte. O músico e neto PH Lucas, disse que o avô "era pura alegria e amante da música e da sanfona de 8 Baixos",

Manuel Geraldo, e considerado um dos mais talentosos da região, toca sanfona de 8 e de 120 baixos, um dos poucos sanfoneiros que possui este conhecimento.

"Meu pai, Pedro Rodrigues partiu. Cumpriu a missão na terra. Deixou uma história de determinação", disse Manuel Geraldo.

"Quem sabe tocar sanfona de oito baixos hoje está ficando velho, morrendo. É preciso renovar, buscar novos talentos, para a tradição não morrer". Essa é preocupação do sanfoneiro paraibano Luizinho Calixto, que há mais de 20 anos inicia crianças no instrumento, famoso nas mãos de Januário, pai de Luiz Gonzaga. O músico desenvolveu uma didática para facilitar o ensino, que carece de professores em todo o Nordeste. Em 2012, ano do centenários de Luiz Gonzaga, Luizinho Calixto realizou uma oficina para alunos de Exu Pernambuco que receberam o certificado de que aprenderam os primeiros passos na "pé de bode".

A sanfona de oito baixos é dividida em baixo, fole e teclado com 21 teclas. Cada tecla faz um som diferente quando o fole abre e fecha, ou seja, são 42 sons ao todo. As teclas do baixo têm que ser tocadas na hora certa, em harmonia com as do teclado. "A sanfona de oito baixos veio da Europa com uma afinação diatônica. Quando chegou aqui no Nordeste, alguém transportou, não se sabe o porquê nem baseado em quê, a afinação para o dó-ré, que é única no mundo todo", explicou Luizinho Calixto.

Esta falta de informação sobre a sanfona de oito baixos foi um desafio que o músico teve que vencer para poder elaborar a oficina de iniciação. "Diziam que só tocava quem tinha dom ou um parente na família para ensinar. Mas criei um sistema onde cada tecla é um número. Se a tecla está pintada de vermelho, é para fechar. De azul, para abrir. Assim, os meninos olham e pronto, já saem praticando sozinhos", disse. 

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O FORRÓ É PARA QUALQUER ÉPOCA MAS TEM PERDIDO ESPAÇO, NÃO É VALORIZADO COMO DEVERIA SER EM FESTA COMO O SÃO JOÃO, DIZ MACIEL MELO

Poeta e cantador quando cisma de melodiar um fato e dar letra a um causo "qualquer", não há impedimento que o remova da ideia. "Todo show que eu faço, tem uma galega perto do palco".

Justificativa razoável o suficiente para criar um xote e chamá-lo de "Xote da Galega" e, assim, celebrar galegas forrozeiras e apreciadoras de um dos nomes mais atuantes em prol da cultura nordestina, o cantor, compositor, poeta e escritor Maciel Melo, 61. 

Foi ele quem deu voz à composição de Glauber Martins, lançada no último mês de março e, por óbvio, em plena circulação às vésperas dos festejos juninos que já pairam na Região e, especificamente, Pernambuco afora.

DO SERTÃO PARA O MUNDO-De Iguaracy, cidade do Sertão pernambucano, distante pouco mais de 350 Km do Recife, Maciel segue ileso aos costumes e progressos (?) da "cidade grande".

Em visita à Folha de Pernambuco para uma prosa - e das boas - foi de sandália e o típico chapéu que o identifica sombreando os óculos, outro dos seus acessórios inconfundíveis, que ele deu as caras, atestando também pelo sotaque o quanto suas andanças ao longo de pouco mais de 40 anos de carreira Brasil e mundo afora, e pelo menos 400 composições, não lhe tiraram a essência de sertanejo estilo "caba da peste", admirador de Gonzaga e defensor do forró em toda sua legitimidade. 

"O forró é para qualquer tempo e palco, mas tem perdido espaço, não é valorizado, não é protagonista como deveria ser em festa como o São João. Acho que cabe todo mundo, todos os ritmos em todo lugar, mas precisamos de mais atenção", ressalta o "Caboclo Sonhador", em conversa que, claro, desaguou para o resfolego da sanfona dos festejos juninos.

"Estarei no São João da Roça em Caruaru, no próximo dia 19, lá em Terra Vermelha, e estou muito feliz por isso, pelo forró que vai chegar por lá, em um polo descentralizado", comentou Maciel que, além da "Capital do Forró", estará no dia seguinte, 20 de maio, em Serra Negra (Bezerros). Da agenda também constam passagens pelo Bairro do Recife e Zona Sul, entre outras programações.

Embora seja nos festejos de junho levados pelas batidas das zabumbas que ele se sinta "em casa" - época em que a essência do nordestino aflora em manifestações culturais e 'gonzaguianas' - como compositor e artista diverso que é, integrando o rol das referências da Música Popular Brasileira, Maciel Melo segue em meio a parcerias que lhe são o tanto quanto caras. Seu enlace com o renomado Renato Teixeira é um exemplo. 

"O instante mais sublime de minha vida foi cantar com Renato Teixeira”, confessa ele, depois de declamar o Recife em versos musicados por ele e por Teixeira, em "Recife Eu e Você", música gravada por ambos, disponível nas plataformas digitais. 

"Ele me ligou dizendo que queria celebrar a Cidade em uma canção comigo". E assim se fez, em letra que passeia pela Livro 7 e pelo "homem de azul que ensina a pensar", remetendo ao saudoso Tarcísio Pereira. Alceu, Ariano Suassuna, João Cabral de Melo Neto, as pontes e manguezais também estão incorporados nos versos.

Fagner, Zé Ramalho, Elba, Vital Farias, Dominguinhos, Xangai e Flávio José são outros nomes que dividiram palcos e discos com Maciel e/ou emprestaram a voz a composições assinadas por ele, que desde "Desafio das Léguas" (1989), o primeiro disco, até os dias atuais e os que ainda virão, tem fincado os seus cantos, causos e poesias no solar repertório da música nordestina (e brasileira).

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OS PERIGOS DAS FALÁCIAS ECOLÓGICAS

Um dos maiores desafios das ciências têm sido os estudos que buscam compreender como os indivíduos se comportam e até que ponto determinadas características de um grupo influenciam seu comportamento. Existe uma longa literatura que enfatiza a importância de evitarmos tirar conclusões sobre indivíduos com base em dados que se referem a um determinado grupo de pessoas ou dados agregados, e também evitar o erro inverso: usar a informação de indivíduos para generalizar o comportamento de um grupo. Em ambos os casos cometemos um erro que chamamos de falácia ecológica.

É especialmente difícil evitar as falácias ecológicas porque os dados agregados são baseados em dados coletados de indivíduos e por isso, muitas vezes, pensamos que temos informações suficientes para chegar a determinadas conclusões. Um exemplo recorrente deste erro pode ser observado em estudos realizados nos períodos eleitorais. 

Frequentemente, mapas são utilizados para generalizar padrões que supostamente existem entre as intenções de voto e renda dos eleitores. Nesses mapas, dados sobre a renda média e a porcentagem de votos em cada município do País são utilizados para afirmar que as localidades com renda média mais alta tendem a votar contra partidos progressistas. A conclusão implícita é que níveis de renda mais altos levam os indivíduos a ter uma maior probabilidade de não votar nos candidatos progressistas. 

Porém, ao chegarmos a esta conclusão levamos o leitor a uma falácia ecológica porque generalizamos a relação entre renda e padrões de votação como se fosse válida para todos os indivíduos dentro dessa localidade. Na realidade, a relação entre renda e padrões de votação pode ser diferente para subgrupos de indivíduos dentro de cada município.

Esse problema, entretanto, não se limita às conclusões equivocadas acerca da relação entre comportamento eleitoral e renda. Dados sobre comportamento eleitoral são comumente utilizados para afirmar que os indivíduos em determinadas regiões têm maior probabilidade de adotar comportamentos específicos. Durante a pandemia da covid-19, por exemplo, vários artigos foram escritos nos quais afirmou-se haver uma correlação entre os votos para Bolsonaro em 2018 e a mortalidade causada pelo vírus. 

Em um artigo recentemente publicado no Brazilian Political Science Review, procuramos explicar os problemas metodológicos destas pesquisas e por que devemos desconfiar da conclusão de que existe uma correlação direta entre ideologia conservadora e mortalidade na pandemia. Explicamos que, ao não considerar potenciais variáveis de confusão, como fatores demográficos, e omitir outros fatores, como a adesão às medidas de distanciamento físico, tais artigos identificam uma correlação espúria entre voto e mortalidade.

Dado o aumento de partidos radicais e extremistas em processos eleitorais no Brasil e em outros países, existe uma preocupação crescente em estudar como eleitores que participam de eleições democráticas livres e justas podem apoiar partidos antidemocráticos. Esta preocupação se fundamenta na experiência histórica do Partido Nazista, que chegou ao poder após ter conseguido 31,1% dos votos em 1932, sendo que o mesmo partido somente tinha obtido menos de 3% dos votos na eleição de 1924, durante a transição de um sistema monárquico para uma democracia representativa parlamentarista, historicamente conhecida como a República de Weimar.

Um argumento frequente é que isto foi possível devido ao apoio que os nazistas ganharam dos grupos mais afetados pela desastrosa depressão econômica. Esse tipo de argumento é desmentido por King, Rosen, Tanner e Wagner (2008), quando concluem que a existência de uma correlação positiva entre maior pobreza e a vitória do Partido Nazista nas urnas não se comprova, uma vez que são levadas em conta a religião e as diferenças entre os indivíduos pobres que trabalham e que não estão empregados. Com métodos que procuram superar o viés produzido por falácias ecológicas, os autores mostram que os desempregados não apoiaram o Partido Nazista, mas sim houve um apoio desproporcional entre os trabalhadores pobres, sobretudo em distritos protestantes.

Em outras palavras, os autores mostram que, para evitar a falácia ecológica, existem técnicas e métodos que podemos empregar para estudar a relação entre renda/classe social e voto. Entre elas podemos mencionar desenhos que consideram diferenças importantes entre grupos. No caso da República de Weimar, o Partido Nazista não adotou programas que apelavam para aqueles que estavam desempregados ou em alto risco de ficarem desempregados, e sim para aqueles eleitores que foram prejudicados pela economia, mas correram pouco risco de desemprego – como lojistas e profissionais autônomos -, grupos que deram o apoio desproporcional aos nazistas.

Os estudos ecológicos nos permitem realizar comparações entre regiões e entender tendências nessas localidades em diferentes períodos. São úteis para avaliar a eficácia de uma determinada intervenção, testar a plausibilidade de hipóteses e gerar novas possíveis correlações, mas nada pode ser afirmado sobre os indivíduos sem dados sobre os mesmos. Na medida em que os cientistas produzem estudos que procuram evitar falácias ecológicas com dados populacionais, também compreendemos a importância de estudar os mesmos processos no nível dos indivíduos. Esses desenhos oferecem diferentes olhares que muitas vezes se complementam.

Por Lorena Barberia, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP

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