CHUVA TRAZ ESPERANÇA PARA O SERTANEJO. EXPECTATIVA É DE MUITA FARTURA NOS PRÓXIMOS MESES

O som da chuva traz consigo muita alegria e, acima de tudo, esperança para o povo sertanejo. Longe da falta de infraestrutura que provoca situações dramáticas nas cidades, o período na zona rural de Juazeiro e Petrolina é de plantio e muita esperança de fartura nos próximos meses.

"O tempo com chuva na zona rural é de muitas bençãos. Como o tempo ajudou, alguns agricultores aproveitaram para começar a plantação com expectativa de mesa farta nos próximos meses", disse o consultor de imóveis Aldizio Barbosa que esteve neste final de semana visitando Afranio, Pernambuco.

Em contato com o BLOG NEY VITAL, agricultores ligados aos movimentos sociais de Juazeiro e Petrolina festejam a chegada das chuvas.

“Temos que aproveitar porque a chuva a gente não sabe até quando vai. Então a gente tem que se apressar pra ver se colhe alguma coisa”, explicou o agricultor José Texeira.

Com o céu nublado, os bezerros nem precisam procurar sombra, descansam na terra fria deixada depois da chuva. “A gente fica muito feliz, porque sabe que tem comida para a gente comer daqui a alguns dias, com fé em Deus”, falou com gratidão a agricultora Maria da Conceição.

E com a chuva dos últimos dias, já da pra notar os benefícios que ela traz. Açude cheio, mandacaru florido e as cachoeiras zoando, qual diz a música cantada por Luiz Gonzaga. (FOTO: Aldizio Barbosa)

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CHAPADA DO ARARIPE: FÓSSEIS DE DINOUSSAUROS SÃO RETIRADOS DO BRASIL DE FORMA ILEGAL

Nessa semana, uma equipe de cientistas chineses divulgou uma descoberta rara e fantástica: um fóssil de embrião de dinossauro ainda dentro do ovo. No Brasil, nós também encontramos fósseis muito bem preservados, das mais variadas espécies. O problema é que muitos outros estão sendo retirados do país de forma ilegal.

O Pterossauro é um cearense voador: um réptil que curtia a região conhecida atualmente como Chapada do Araripe, 110 milhões de anos atrás. Ele era do tipo Anhanguera. Esse nome indígena vem da tradição de paleontólogos brasileiros batizarem as espécies que encontram com termos de tribos locais.

Um dos fósseis brasileiros expostos no museu de Londres é do Anhanguera. Ele ilustra bem que não é de hoje que os fósseis saem sem dificuldade do Brasil.

Ele saiu do Ceará, foi parar em uma loja em Copacabana, depois comprado por um turista, levado para a Inglaterra e doado ao Museu de História Natural de Londres.

Desde 1970 a Unesco determinou que a exportação de um fóssil precisa de um certificado do país de origem.

No Brasil, até 1942, era possível vender ou exportar fósseis. Mas uma lei mudou isso: todo fóssil encontrado em território nacional passou a ser da União e só pode sair do país com uma autorização do governo.

Nos próximos dias, a Polícia Federal vai entregar um inquérito ao Ministério Público Federal em que concluiu que trabalhadores de pedreiras foram o ponto de partida para o tráfico de mais de 200 fósseis apreendidos ano passado na Operação Santana Raptor. De acordo a investigação, os compradores eram professores universitários.

PRISÕES: A Polícia Federal assinou em agosto deste ano um termo de guarda no qual entrega ao Museu Plácido Cidade Nuvens, da Universidade Regional do Cariri (Urca), 237 fósseis contrabandeados por um esquema criminoso de tráfico. As peças de valor histórico-cultural são de origem da Chapada do Araripe e foram alvo da Operação Santana Raptor, realizada em outubro de 2019.

A região, formada pelo municípios de Nova Olinda, Santana do Cariri e até Missão Velha, por exemplo, é uma das três mais ricas do mundo na quantidade de fósseis. Formados há cerca de 110 milhões de anos, eles são vendidos no exterior, conforme órgãos de investigação, por até 150 mil dólares cada um, a depender da sua importância.

A Polícia Federal assinou o termo provisório após determinação da Justiça Federal para que as peças ficassem sob guarda do museu, que realiza pesquisas paleontológicas com os fósseis da região. Todos os materiais foram apreendidos em casas ou escritórios dos alvos da operação, em outubro de 2020.

De acordo com a PF, o inquérito sobre o caso ainda está em conclusão, uma vez que são aguardadas análises periciais em objetos apreendidos na Santana Raptor.

Em outubro do ano passado, a Polícia Federal cumpriu 19 mandados de busca e apreensão, sendo 17 no Ceará e 2 no Rio de Janeiro. Um professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi um dos alvos por suspeita de integrar a organização criminosa.

Investigações do Ministério Público Federal do Ceará (MPF) apontam que o esquema consistia na extração e comercialização ilegal de fósseis por trabalhadores de pedreiras na região, onde dois homens foram presos. Um deles estaria entre os principais negociadores de fósseis entre 2017 e 2020, e o segundo seria o responsável por receber valores do professor da UFRJ para coletar e guardar os fósseis.

Em nota, a UFRJ informou que "todos os fósseis sob a guarda da UFRJ estão legalmente cadastrados e catalogados na instituição e notificados aos órgãos responsáveis". A UFRJ comunicou ainda "que todos os docentes e a própria unidade (Instituto de Geociências) têm documento de autorização para coleta e pesquisa de fósseis na Bacia do Araripe (CE), fornecido pela Agência Nacional de Mineração (ANM)".

As investigações do MPF apontaram a atuação de uma rede de empresários, servidores públicos e atravessadores que negociam fósseis raros da região, com indícios da prática ilícita por parte do professor da UFRJ e de outros pesquisadores nacionais e estrangeiros.

Caso os crimes sejam comprovados, os investigados responderão pelos crimes de organização criminosa, usurpação de bem da União e crimes ambientais, e podem ser condenados a penas de até 16 anos de prisão.

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ADOLESCENTES DESAFIAM PERIGO E MERGULHAM NAS ÁGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO

Dia de chuva. Domingo 26 dezembro. Chove nos sertões. Situação rara em Juazeiro Bahia. Cidade que oferece uma rica variedade de natureza, cultura, arte e culinária, possui rio São Francisco e histórias possíveis de tirar o fôlego. Nadar no Opará, na língua indigena Rio que é Mar, Velho Chico Rio São Francisco reflete um desafio que  precisa de um bom preparo físico para enfrentar as correntezas e os perigos das águas.

Ao caminhar na Orla (2), o olhar jornalístico recai naturalmente sobre os "Meninos do Rio São Francisco" que saltam da pilastra e do pier, localizado  nas proximidades da antiga Companhia de Navegação do São Francisco/Franave, hoje Vila Bossa Nova.

Entre os adolescentes alguns dos saltadores são adultos. Estes saltos e mergulhos de uma altura "que dá medo', aos não praticantes são tão inacreditáveis que inspiraram uma reportagem e fotos que não estavam na pauta. A profundidade do rio São Francico atinge cerca de 15 metros no local dos saltos e mergulhos.

Estes meninos são adolescentes e tem o rio como quintal. Cauê, André e Paulo e amigos mostram capacidade de nadar, destreza e segurança. Um deles conta que nada desde  criança e sente prazer em mergulhar no Rio São Francisco.

Pergunto: Tens medo? 'Não cabe medo aqui só o prazer e a  liberdade', é a resposta.

Existe unanimidade entre eles: para mergulhar e saltar de certa altura há o risco constante e por isto para quem não sabe, são tarefas arriscadas, perigosas. Depois que se aprende, faz-se sempre com concentração e "levando o rio a sério para não ter acidentes".

Outra história é de um deles já ter salvado um homem que estava se afogando. Os meninos que desafiam o Rio São Francisco com mergulhos que chamam a atenção dizem que só deve fazer quem sabe nadar muito bem e tem a garantia pois a correnteza é forte e no local a profundiade do Velho Chico "não perdoa erros".


Os meninos do rio estão numa fila de espera, a sorrir, esperando pela sua vez de saltar, só consigo pensar: porque saltam? É uma tradição, um rito de iniciação, é pelo divertimento em si? Foi sempre assim?

São perguntas sem respostas! 

A beleza natural de rios, como o Velho Chico, esconde riscos que são uma combinação de fatores quase sempre imprevisíveis. Não se recomenda pular no rio sem antes conhecê-lo. Correntezas fortes não perceptíveis também tornam a luta contra as águas impossível.

No contato com a Guarda Civil de Juazeiro, o Comando informou que a instituição não atua nas questões relacionadas ao rio São Francisco e que a prática também acontece na Ponte Presidente Dutra, jurisdição  Federal.

A reportagem não conseguiu contato com a Agência Fluvial da Marinha.

HISTÓRIAS: Tudo indica que as origens da natação se confundem com as origens da Humanidade. Catteau e Garoff, cita em sua obra, que o Homem raramente entrou em contato com a água por medo, freqüentemente por necessidade e ás vezes por prazer.

Já o cancioneiro brasileiro é rico em destacar o rio e os nadadores:

"O menino e Velho Chico viagens mergulham em meus olhos, barrancos, carrancas, paisagens Francisco, Francisco. Tantas águas corridas. Lágrimas escorridas, despedidas. Saudades. Francisco meu santo, a velha canoa. Gaiolas são pássaros. Flutuantes imagens deságuam os instantes. O vento e a vela me levam distante. Adeus velho Chico diz o povo nas margens do Rio Francisco, Francisco. Música composta por Capinam e Roberto Mendes. 

Texto e Fotos Ney Vital

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ELBA RAMALHO E FAGNER CELEBRAM O FORRÓ E LUIZ GONZAGA EM NOVO ÁLBUM

Elba Ramalho e Raimundo Fagner gravaram discos e dividiram o palco com Luiz Gonzaga, a quem sempre tiveram como uma das principais referências. Artistas da mesma geração e de muitas afinidades, a cantora paraibana e o cantor e compositor cearense, em 50 anos de carreira, nunca haviam se juntado em algum trabalho. Esse encontro, porém, ocorreu, recentemente, quando os dois se reuniram num projeto em que prestam tributo ao eterno rei do baião.

Acaba de chegar às plataformas digitais o álbum Festa, com o qual Elba e Fagner além de reverenciar Gonzagão, celebram a decisão do Iphan de declarar o forró como patrimônio imaterial do país. 

Com direção artística do multi-instrumentista Zé Américo, profundo conhecedor do universo musical nordestino, o disco de 12 faixas traz composições que ganharam registro na voz do homenageado — embora nem todas sejam de autoria dele. O álbum marca também o lançamento do selo Bonus Track, braço fonográfico da empresa de entretenimento comandada pelo empresário Luiz Oscar Niemeyer.

Quando Elba surgiu artisticamente, no começo dos anos 1970, como participante do espetáculo A feira, protagonizado pelo grupo pernambucano Quinteto Violado, o repertório de Luiz Gonzaga já lhe era familiar. Fagner, que se projetou nacionalmente, no início da mesma década, após vencer um festival em Brasília, tomou conhecimento da obra do autor de Asa Branca, ainda na infância, em Fortaleza. Já com a carreira consolidada, ambos se aproximaram do artista que se tornou símbolo da música do Nordeste.

O cantor, nascido em Orós, no interior do Ceará, gravou LPs com Luiz Gonzaga em 1984 e 1988 e fez alguns shows com o ídolo; enquanto a cantora originária de Conceição do Piancó lançou os CDs Elba canta Luiz (2002) e Cordas, Gonzaga e Afins (2015). O fato de eles terem conhecimento do vasto acervo do mestre, em vez de facilitar a seleção das 13 canções que deram formato ao Festa, acabou sendo algo difícil. Por isso, precisaram contar com o auxílio de Zé Américo.

Para compor o repertório foram escolhidos clássicos como Danado de bom (Luiz Gonzaga e João Silva), Estrada de Canindé (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira), Vem morena (Luiz Gonzaga e Zé Dantas), O cheiro da Carolina (Luiz Gonzaga e Amorim Roxo) e Baião da Penha (Guio de Moraes e David Nasser), Forró nº 1 (Cecéu), Sanfona sentida (Dominguinhos e Anastácia), Facilita (Luiz Ramalho) e a faixa que dá título ao disco, composta por Gonzaguinha, A Festa.

Gravado nos estúdio Luni Áudio (Recife) e Gigante de Pedra (Rio de Janeiro), o álbum foi masterizado no Zap Studio, contou com a participação de músicos como Zé Américo (teclados e arranjos), Mestrinho (acordeon), Tostão Queiroga (bateria), Marcelo Martins (flauta, piccolo e pife), Fernando Fofão (baixo), Zapa Souza (guitarra) e Durval (percussão). (Fonte: Correio Braziliense)

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JOÃO GILBERTO, UM HOMEM CHAMADO MISTÉRIO

É difícil encontrar na música brasileira um personagem tão transformador, tão revolucionário, tão original como João Gilberto. Um dos maiores influenciadores, inspiradores e criadores do século XX e além.

A celebrada geração de Gil, Caetano, Edu, Chico não existiria sem ele, nem seus filhos e netos musicais. Miles Davis e Bob Dylan eram seus grandes fãs. Eric Clapton ainda é. Mas não só músicos, cineastas, escritores e dramaturgos se influenciaram por seu estilo cool e minimalista.


Um artista tão especial naturalmente só poderia ser um personagem complexo, muito complexo. E misterioso. Gostava da vida reclusa, dedicado à sua arte, como um mestre zen que passa os dias repetindo músicas como mantras. Seu traço fundamental é a delicadeza e a doçura de melodias, palavras e gestos.

Com seu violão e sua voz integrados como um só instrumento, a bossa nova ganhou o mundo. Um raro orgulho nacional nos atuais tempos de vergonhas.

Ele é o tema da esplêndida biografia “Amoroso”, escrita por seu amigo da vida inteira Zuza Homem de Mello, um dos melhores críticos musicais do Brasil e um rigoroso pesquisador que escreve em um estilo fluente e cheio de humor.

Ruy Castro já havia mergulhado no mistério de João Gilberto no clássico “Chega de saudade”, uma biografia da bossa nova que tem nele o seu grande protagonista, lançada em 1990. E Zuza agora completa o serviço, acompanhando a trajetória de João até a sua morte.

A vantagem de Zuza é que, além de baixista de jazz formado nos EUA, ele também era engenheiro de som competente, o que lhe deu condições para aprofundar a análise de João como um fenômeno musical. Tudo em linguagem simples, sem tecnicalidades.

Mas o que interessa é a história de como esse baiano saiu de Juazeiro para o mundo, mudando o rumo da música brasileira e fazendo a bossa nova se tornar uma influência nobre no melhor jazz americano. Ao contrário dos haters, que divulgavam a fake que a bossa nova era uma cópia subdesenvolvida do jazz...

João já mereceu incontáveis obras, ensaios, textos e teses, e até um livro de um alemão que o procura pelo Rio de Janeiro, fala com os seus amigos, mas nunca o acha. A biografia de Zuza o encontra e o revela ao leitor através de inúmeras conversas com ele, entrevistas com muitos que conviveram e trabalharam com ele. E muita pesquisa de jornais, rádios e TVs.

A história de João, além de um personagem fascinante e sedutor, dono de uma musicalidade extrema e de uma inteligência rara, é a história de um Brasil que deu certo contra todas as expectativas, encantando plateias nos melhores palcos do mundo.

João se impôs pela qualidade absoluta, gerada por seu implacável perfeccionismo e sua intransigência a qualquer concessão, e uma percepção aguda de seu papel na música brasileira. Tão rigoroso que, ao longo de toda sua carreira, só lançou doze álbuns. Todos impecáveis.

Lendo o livro e acompanhado no streaming todas as gravações de João, é fácil entender por que ele é um gênio amoroso. (O Globo) João Gilberto - Foto: Adenor Gondin/Governo do Estado da Bahia

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O QUE ESPERAR DE 2022 NA ÁREA AMBIENTAL NO BRASIL

O ano de 2021 foi muito difícil para nosso país, em vários aspectos. Não só pela pandemia da covid-19, mas, principalmente, pela forte degradação econômica, social e política que estamos vivenciando. Na área ambiental, observamos a degradação crescente e acelerada dos biomas brasileiros, além da contaminação das águas, solos e atmosfera. De modo mais geral, é claro o projeto de desmonte de políticas públicas em áreas vitais como educação, ciência, saúde e meio ambiente, e ele segue a todo vapor.

Somente neste ano, tivemos a derrubada de mais de 13 mil km² de florestas na Amazônia, e o Pantanal teve 60% de sua área queimada pelo segundo ano consecutivo, em atividades associadas a crimes ambientais. O agronegócio segue avançando sobre o Cerrado, já que não há a implementação de políticas de uso da terra voltadas à preservação dos nossos ecossistemas. 

O garimpo ilegal continua a poluir com mercúrio nossos rios, afetando a saúde de ribeirinhos, população indígena e de todo o bioma amazônico. E, para completar, os eventos climáticos extremos marcaram o Brasil central e trouxeram insegurança energética e hídrica a grande parte da população.

Não é raro constatar, na mídia nacional e internacional, manchetes e editoriais nos quais o governo do Brasil é duramente criticado e repudiado por destruir políticas públicas, leis e órgãos de proteção ao meio ambiente, asfixiando instituições tradicionais, como o Ibama, ICMBio, Funai e outras. E os resultados destas ações se configuram no avanço dos crimes ambientais e nos ataques aos direitos de povos indígenas e das comunidades tradicionais.

Vale ressaltar que estas políticas de destruição do Estado brasileiro promovidas pelo Poder Executivo receberam apoio do Legislativo e do Judiciário, que desgastaram princípios básicos da proteção ao meio ambiente, resultando em extensas áreas desmatadas e degradadas em todos os biomas e ecossistemas brasileiros. Certamente, os impactos sociais e econômicos serão de longa duração, agravados pelas mudanças ambientais globais. A redução de qualidade do ar, das águas e dos solos foi uma das principais consequências dessas ações (des)coordenadas.

Importante salientar que a COP-26 significou um revés importante neste ano de 2021, no que se refere à questão da governança mundial sobre meio ambiente. A principal razão foi a falta de ações concretas para enfrentar e minimizar os impactos das mudanças climáticas em curso, uma das maiores ameaças à nossa sociedade. 

A COP-26 também frustrou expectativas devido à negação dos países desenvolvidos em ajudar os países pobres a lidar com a emergência climática, a reduzir suas emissões e a se adaptarem. A consequência de todo esse processo é o aumento das desigualdades sociais, e tudo indica que elas serão um forte fator de instabilidade política no futuro próximo.

Apesar de o governo brasileiro ter assinado um compromisso de zerar o desmatamento da Amazônia até 2028, sabemos que as chances de isso acontecer são remotas, afinal, não há qualquer política pública de fortalecimento a instituições-chaves como Ibama, ICMBio, MMA, MCTI e órgão associados, para que esta meta seja atingida. Se realmente houvesse interesse, este estaria contemplado no orçamento de 2022. Ou seja, na prática, não há incremento de recursos para essa finalidade, indicando que a meta era só “para inglês ver”.

Devido à ausência de ações concretas do governo federal, vimos, na COP-26, a atuação subnacional se impor, com a presença de 12 governadores, CEOs de grandes empresas e a participação significativa da sociedade civil. Acredito que esse novo quadro possa ser um importante motor de transformação de nosso país em uma sociedade mais justa e sustentável.

E para 2022, o que esperar? Como teremos o mesmo governo federal, o mesmo Congresso dominado por ruralistas e o mesmo Judiciário, claro que seria ingenuidade pensarmos em mudança estrutural. Há pressões internacionais para reduzir o desmatamento, por parte dos países desenvolvidos, e elas podem ser intensificadas com sanções comerciais em relação à importação de carne, madeira ou soja advindas de regiões desmatadas. Talvez isso possa mobilizar o atual governo brasileiro em relação a suas práticas (inclusive, existe pressão interna dos grandes produtores de carne).

Um dos graves problemas que temos hoje é a forte atuação de redes criminosas na Amazônia, seja pela grilagem de terras públicas ou indígenas, seja pelo avanço da mineração ilegal ou pela atuação de madeireiras ilegais. O fato é que as atividades criminosas passaram a dominar na Amazônia. Para encontrarmos um modelo de desenvolvimento sustentável para a região, o primeiro passo é coibir atividades ilegais de exploração e cumprir o que diz a nossa Constituição.

Para além da Amazônia, nossas questões ambientais atingem também a maior parte de grandes cidades, que continuam a viver com níveis altos de poluição atmosférica, proveniente de emissões veiculares. Por muitos anos, a indústria automobilística impediu a implementação de ações visando à melhoria nos padrões de emissões de poluentes, já em vigor em países desenvolvidos. Embora vislumbremos novos padrões de emissões para veículos a diesel, provenientes das próximas etapas do Proconve (Programa de Controle de Emissões Veiculares), as chamadas L7 e P8, equivalentes ao padrão Euro 6, em vigor na Europa, os impactos da atual frota veicular altamente poluidora durarão décadas, aumentando a mortalidade na população urbana por problemas respiratórios.

Outro problema a ser enfrentado é o uso excessivo e crescente de agrotóxicos pelo agronegócio brasileiro, com número recorde de autorização de produtos proibidos em outros países e largamente utilizados em nosso país. Além de contaminar nossos rios, população e produtos, muitos deles são compostos persistentes no meio ambiente.

Importante realçar que o Brasil tem todas as condições para ser uma potência mundial em sustentabilidade, pelas vantagens estratégicas em vários setores. Nossa matriz energética, por exemplo, poderia se beneficiar em muito do uso em larga escala de energia solar e eólica. Além disso, seria viável implantar uma agricultura de baixas emissões de carbono, zerar o desmatamento e servir de exemplo para nosso planeta.

Não há maneira mais fácil, rápida e barata de reduzir emissões de gases de efeito estufa do que zerar – pra valer e não para inglês ver – o desmatamento da Amazônia. O Brasil já foi um líder na redução de emissões de desmatamento e poderíamos repetir a façanha, se tivéssemos um governo comprometido em defender os interesses da população ao invés de beneficiar e até estimular o agronegócio predatório. Pesquisas de opinião mostram que mais de 80% da população brasileira são contra a destruição de nossos recursos naturais. A implementação de políticas de preservação de nossa biodiversidade é crítica para a região amazônica e demais biomas brasileiros.

Não podemos esquecer que o ano de 2022 será marcado por eleições majoritárias, e muitas das políticas e leis sendo discutidas atualmente no Congresso Nacional dizem respeito ou a “terminar” com o restante da reforma na legislação de proteção ambiental no Brasil, ou a beneficiar grupos econômicos que possam contribuir na campanha eleitoral (e reeleição) do atual governo. Neste quadro, o panorama ambiental para 2022 continua a ser desesperançoso, como em 2021.

A sociedade brasileira vai ter que trabalhar muito para recuperar os danos ao meio ambiente promovidos ao longo dos últimos anos e também para que possamos atingir nossos compromissos com o Acordo de Paris e os ODS da ONU. Claro que muitos dos danos ambientais já feitos são irreversíveis, como a destruição de dezenas de milhares de quilômetros de florestas. Resta-nos torcer para que os debates públicos em 2022 sejam uma nova oportunidade para lembrar e discutir os valores que nos definem como nação digna em um mundo democrático, inclusivo e sustentável.

*Por Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP

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OLHE ALÉM DAS LUZES E LEMBRE-SE DOS POBRES, DIZ PAPA FRANCISCO

Em discurso aos católicos romanos do mundo todo na véspera do Natal, nesta sexta-feira (24), o Papa Francisco disse que as pessoas indiferentes aos pobres ofendem a Deus e pediu a todos que "olhem além das luzes e das decorações" e se lembrem dos mais necessitados.

Vivendo o nono Natal de seu pontificado, o Papa celebrou uma missa solene de vigília na Basílica de São Pedro para cerca de 2 mil pessoas, com participação restrita pela covid-19 a cerca de um quinto do tamanho visto nos anos pré-pandêmicos.

Minutos antes do início da missa de véspera de Natal, a Itália contabilizou seu segundo recorde consecutivo no número diário de casos de covid-19, com 50.599 novas infecções.

Francisco, vestido de branco, fez sua homilia em torno do argumento de que Jesus nasceu sem nada.

"Irmãos e irmãs, diante do presépio, contemplamos o que é central, além de todas as luzes e enfeites, que são lindos. Contemplamos a criança", disse ele na missa celebrada em conjunto com mais de 200 cardeais, bispos e padres. Todos, exceto ele, usavam máscaras.

Francisco, que fez 85 anos na semana passada, disse que o menino Jesus nascido na pobreza deve lembrar às pessoas que servir aos outros é mais importante do que buscar status ou visibilidade social ou passar a vida inteira em busca do sucesso.

"É neles (os pobres) que ele quer ser homenageado", disse Francisco, que faz da defesa dos pobres o ponto central do seu pontificado.

"Nesta noite de amor, tenhamos um só medo: ofender o amor de Deus, ferindo-o ao desprezar os pobres com a nossa indiferença. Jesus os ama ternamente e um dia eles nos receberão no céu", disse.

Ele citou um verso de um poema de Emily Dickinson: "quem não encontrou o céu --aqui embaixo-- falhará nele lá em cima". O papa acrescentou em suas próprias palavras: "Não percamos de vista o céu; cuidemos de Jesus agora, acariciando-o nos necessitados, porque é neles que ele se fará presente".

Dizendo que os trabalhadores --os pastores-- foram os primeiros a ver o menino Jesus em Belém, Francisco disse que o trabalho tem que ter dignidade e lamentou que muitas pessoas morram em acidentes de trabalho em todo o mundo.

"No Dia da Vida, vamos repetir: chega de mortes no local de trabalho! E vamos nos comprometer a garantir isso", disse.

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