PROGRAMA DA RÁDIO BITURY "NA CABANA DO REI" REALIZA EDIÇÃO ESPECIAL PARA HOMENAGEAR 109 ANOS DE LUIZ GONZAGA

Programa da Rádio Bitury “Na Cabana do Rei” realiza edição especial em comemoração ao aniversário de Luiz Gonzaga, em Exu, no sertão do Araripe. Apaixonados pelo Rei do Baião, artistas locais e forrozeiros de todo nordeste se reúnem para participar do festival Viva Gonzagão.

O programa “Na Cabana do Rei”, transmitido há mais de 30 anos pela Rádio Bitury FM, de Belo Jardim, no Agreste, marca presença como atração no Festival Viva Gonzagão, realizado em Exu, terra natal de Luiz Gonzaga, para celebrar a passagem do aniversário do Rei do Baião. Se estivesse vivo, seu Lula, completaria 109 anos no próximo dia 13 de dezembro. O programa será transmitido no sábado, 11 de dezembro, das 10h às 12h, no Parque Aza Branca.

Com a apresentação do radialista Laetson Silva e a participação do radialista Josa Leite, o programa conta com apresentações musicais de forrozeiros de todo nordeste. Vários artistas como Mestre Genário, Chambinho do Acordeón, Flávio Leandro, Joquinha Gonzaga, Targino Gondim e a banda Fulô de Mandacaru, já participaram do programa “Na Cabana do Rei”.

“Ir a Exu todos os anos, no período do Viva Gonzagão, é a emoção de ver um filho nascer. É como recarregar as baterias para o novo ano, espiritualmente e culturalmente. Por mais um ano ‘A Cabana do Rei’ vai ser um sucesso de transmissão. Agradecemos a participação de todos os gonzagueanos e artistas envolvidos no projeto”, congratulou Laetson, que em 2018, recebeu o título de cidadão Exuense pelos serviços prestados na projeção da cultura ‘gonzagueana’ e da cidade, através do programa “Na Cabana do Rei”.

O programa “Na Cabana do Rei” já teve edições itinerantes e esse ano, retorna ao Parque Aza Branca – a fazenda Itamaragi, que pertenceu a Luiz Gonzaga. O lugar histórico conta com a casa que Luiz Gonzaga morou, o hotel que ele construiu, o museu do Gonzagão e o mausoléu, onde estão os restos mortais de Luiz Gonzaga, dona Helena – sua esposa, Januário e dona Santana, pais de Luiz Gonzaga.

A edição desse ano promete inovar. Além das transmissões via rádio, pelas emissoras Bitury FM e Acauã, da cidade de Exu, o encontro será transmitido pela internet, através do canal no YouTube: Na Cabana do Rei e pelo Facebook através da página oficial da Rádio Bitury e da página do Blog Jardim do Agreste e em dezenas de páginas parceiras. 

Esse ano os artistas Joquinha Gonzaga, Maria Lafayette, sobrinho e prima de Luiz Gonzaga, respectivamente, Targino Gondim, Santanna o Cantador, entre outros, se apresentarão no programa, cantando sucessos de Luiz Gonzaga. O forrozeiro Santanna, Chambinho do Acordeon e vários outros artistas gravaram vídeo para divulgar o programa Na Cabana do Rei.(Fonte: Blog Jardim do  Agreste-Genecy Mergulhão)

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POETA JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO LANÇA LIVRO GARATUJAS SELVAGENS NO VALE DO SÃO FRANCISCO

Garatujas Selvagens, novo livro do poeta José Inácio Vieira de Melo, terá a primeira noite de autógrafos  no dia 16 de dezembro, a partir das 19h, no bar e restaurante O Casarão, em pleno coração da Petrolina Antiga.

 No evento, o poeta e jornalista Carlos Laerte abre os trabalhos fazendo uma breve apresentação da obra e do autor. Na sequência, o público confere a musicalidade do cantor e compositor Roberto Possidio e um recital com poetas petrolinenses declamando versos do livro.

Já no dia seguinte, em Juazeiro, quem dará as boas-vindas será o poeta e editor João Gilberto Guimarães. O lançamento em solo baiano começa também às 19h, no bar Acabou Chorare (em frente a antiga quadra da Franvale), com apresentação musical da Banda Erva Doce e saudação dos poetas da terra que vão também recitar poemas de José Inácio. Durante as noites de autógrafos, o poeta visitante vai apresentar o recital “Rabiscos rupestres, a rota do ser”.

Depois de quatro anos da publicação de “Entre a estrada e a estrela” (2017) vem à tona o Garatujas Selvagens, que está composto de 97 poemas divididos em dez seções, espalhados em 172 páginas. Publicada pela Arribaçã Editora (Cajazeiras-PB, 2021), a obra tem uma ligação fundamental com a pintura e a fotografia.

Segundo o autor, “Garatujas Selvagens" é uma celebração da existência, faz uma peregrinação às origens ao mesmo tempo que pensa e funda essas origens na linguagem. "Garatujas Selvagens é um livro de um poeta que tem como maior trunfo a consciência de que ignora quase tudo por ser um quase nada diante da imensidão do Cosmo. É também um livro de chegadas e de partidas, de presenças e de encantamentos, de celebração do outro e de si próprio, enquanto individualidade", define o poeta.

A capa e dez ilustrações internas são do artista plástico Ramiro Bernabó, argentino radicado em Salvador. As fotografias internas são de Ricardo Prado, fotógrafo que registra José Inácio e sua obra desde 2005. 

O livro conta com apresentações das escritoras Ana Miranda e Denise Emmer e da poeta mexicana María Vázquez Valdez, que afirma: “La palabra poética de José Inácio Vieira de Melo tiene la potencia de los elementos naturales. En su voz, la poesía es una crisálida que en el viento se va volviendo mariposa: quienes hemos tenido la fortuna de escucharle, lo sabemos bien. Y esta cualidad se conserva en la palabra escrita, en la poesía contenida em sus libros, que es tallada com la vida misma del poeta.”

O AUTOR: José Inácio Vieira de Melo, alagoano radicado na Bahia, é poeta, jornalista e produtor cultural. Publicou nove livros de poemas, dentre eles "Pedra Só" (2012), "Sete" (2015) e “Entre a estrada e a estrela” (2017). Publicou também as antologias “50 poemas escolhidos pelo autor” (2011) e “O galope de Ulisses” (2014). Participa de várias antologias no Brasil e no exterior.

Coordenador e curador de vários eventos literários, como a Praça de Poesia e Cordel, na 9ª, 10ª e 11ª Bienal do Livro da Bahia (2009, 2011, 2013), em Salvador, o Cabaré Literário, na I Feira Literária Ler Amado, em Ilhéus (2012) e a Flipelô – Festa Literária Internacional do Pelourinho (2017 a 2021), em Salvador, assim como os projetos Poesia na Boca da Noite (2004 a 2007), em Salvador, Travessia das Palavras (2009 e 2010), em Jequié, e Uma Prosa Sobre Versos (2007 a 2017), na cidade de Maracás, no Vale do Jiquiriçá. Dentre os prêmios conquistados, destacam-se o Prêmios O Capital 2005, com o livro “A terceira romaria”, e o Prêmios QUEM 2015, da Revista Quem, da editora Globo, na categoria Literatura – Melhor Autor, com o livro “Sete”. (Folha Pernambuco)

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PROGRAMA DE ARMAZENAMENTO DE ÁGUA NO NORDESTE SOFRE CORTES DO GOVERNO FEDERAL E ATINGE O SEU PIOR RESULTADO

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O governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) desmontou quase na totalidade o programa de distribuição de cisternas para combater os efeitos da seca iniciado em 2003, no governo Lula (PT), e premiado pela ONU em 2017.

 No atual momento, o pouco que sobrou do programa é usado como moeda de troca política no esquema de orçamento secreto montado pelo atual governo. A informação é do jornal Folha de S. Paulo.

O agricultor Joel Santos, de 26 anos, é nascido e criado na comunidade quilombola de Cajá dos Negros, em Batalha, uma das cidades mais castigadas pela desertificação em Alagoas.

Nas últimas décadas, ele viu seus vizinhos serem contemplados por construção de cisternas, através de um programa federal criado em 2003, que já entregou 1,3 milhão de cisternas, uma das maiores necessidades do povo sertanejo por facilitar o armazenamento da água e o enfrentamento dos períodos de seca, no semiárido brasileiro. 

Mas, há quatro anos, Santos diz que as obras cessaram na sua vila, e, por isso, ele precisa sair de casa diariamente com dois baldes atrás de água emprestada dos vizinhos. Em 2021, o governo federal estima entregar 3 mil cisternas, o menor número da história, superando o recorde negativo que já havia sido marcado em 2020.

— E agora está ainda mais difícil, porque as barragens (represas) estão secando. Esse ano está ruim de chuva. A gente só planta no inverno, que é quando chove aqui, mas esse ano choveu muito pouco — explica Joel Santos, que vive da plantação de verduras e cita que só as 10 casas mais recentes da comunidade, que tem cerca de 600 habitantes, ficaram sem as cisternas.

— A última vez que vieram aqui tem quatro anos. Estamos todo esse tempo esperando. A cada dois, três meses vem um carro pipa, que ajuda, e já furaram uns quatro poços, mas só deu água salgada por enquanto.

Em 2003, o Programa Cisternas foi lançado, com 6.603 obras no seu primeiro ano, num patamar que rapidamente se elevou, para 36 mil cisternas construídas em 2004, 71 mil em 2006, até chegar a 149 mil em 2014, o recorde na série.

Desde então, porém, os números vêm caindo, e, no ano passado, pela primeira vez após 2003, a quantidade não ultrapassou os 10 mil. Mas, em 2021, o número sofreu redução ainda mais drástica.

Segundo o Ministério da Cidadania, de janeiro a outubro de 2021, foram entregues 2,7 mil reservatórios, e a expectativa é concluir três mil unidades até o fim do ano, o que significa 64% a menos que os 8.310 de 2021, e 98% a menos que 2014.

Isso se explica pela redução orçamentária que o programa, que faz parte da "subfunção 306: Alimentação e Nutrição" do ministério, vem sofrendo. Até aqui, no ano, só houve R$ 728.739 em pagamentos para esse setor, valor 97% menor que os R$ 30 milhões pagos ano passado, que já havia sido o pior resultado da série histórica, e 99,9% menor que em 2011, quando houve o recorde de R$642 milhões pagos.

— É a desconstrução quase que completa dos investimentos e das estruturas de gestão de política pública para o setor — resume Alexandre Pires, coordenador executivo da Articulação do Semi Árido (ASA), entidade que representa mais de 3.000 associações e movimentos rurais do semi árido e pioneira na luta pelas cisternas.

— O direito à água está dentro da agenda da segurança alimentar e as obras das cisternas reduziram a mortalidade infantil e permitiram dignidade à população, mas, lamentavelmente, o governo Bolsonaro enxerga que o programa é uma política do PT.

Na verdade, é uma política do estado brasileiro, foi uma proposta da sociedade civil que o governo da época acatou. Quando Bolsonaro tenta acabar com o programa para atacar o PT, ele está impedindo que 350 mil famílias, que ainda aguardam por uma cisterna, tenham acesso a essa tecnologia.

Em 2009, o Programa Cisternas recebeu o Prêmio Sementes, da ONU, e, em 2017, o "Future Policy Award" (Política para o Futuro), da World Future Council, em cooperação com a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação. 

As obras são divididas entre cisternas para consumo das famílias, que têm em média capacidade para 16 mil litros, e as unidades para produção agrícola, maiores, de 52 mil litros. Desde 2003, foram erguidas 1.092 milhão da cisterna menor e 202 mil do segundo tipo.

Segundo a ASA, a demanda atual no semiárido é de 343 mil cisternas para consumo humano, o que significa necessidade de investimentos de aproximadamente R$1,2 bilhão; e de 797 mil cisternas para produção, o que custaria cerca de R$12,35 bi.

O Ministério da Cidadania alega que a pandemia e a consequente crise econômica exigiram readequação do orçamento público. Mas os dados mostram que antes mesmo do advindo da Covid-19 os empenhos para as ações no semiárido já haviam sido reduzidos.

O orçamento de 2020, que foi elaborado no fim de 2019, previa gastos de R$71,8 milhões para o Programa de Cisternas, número 92,2% menor que 2012, e 58% menor que em 2018, último ano do governo Temer, que já havia realizado cortes.

Já os pagamentos do ano passado somaram apenas R$22,5 milhões, o menor da série histórica, ou seja, menos de um terço do orçamento previsto foi utilizado.

Pires explica que as entidades tentaram, desde o início do atual governo, o diálogo para melhoria do orçamento. Mas ele lembra que no dia de sua posse, Jair Bolsonaro baixou decreto extinguindo centenas de conselhos, dentre eles, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), órgão com integrantes da sociedade civil que participava da elaboração e proposição de políticas de segurança alimentar, o que ajudava na definição do orçamento para esses tipos de programa.

— Os espaços de contestação de interlocução foram extintos. A ASA tentou dialogar com o governo nos primeiros anos, solicitou audiências com ministros, secretários, mas não tivemos retorno. Então nossa compreensão é de que o Programa de Cisternas foi destruído pelo governo por falta de interesse. Chegamos a ouvir um integrante do governo dizer para que nós fôssemos atrás de emendas com a bancada parlamentar do Nordeste, o que demonstrava que o governo não ia priorizar o programa — afirma Pires, que disse que a ASA não buscou emendas parlamentares por acreditar que o programa é uma obrigação do orçamento público.

Uma das agricultoras que pode dizer que viu a vida melhorar após a obra das duas cisternas na sua casa, uma para consumo, em 2005, e outra para plantação, em 2018, é Analice Andrade, de 40 anos, moradora do sítio Campo Formoso, em Esperança (PB).

— Quando casei a gente não tinha cisterna, e água de beber se pegava em sítios próximos, ou no tanque de pedra (espécie de cisterna comunitária). O dia a dia era muito difícil, mas fui contemplada e há três anos recebemos a cisterna para plantação, o que melhorou a qualidade da nossa alimentação e também minha renda.

Quando chove, dá para guardar água para o ano todo — explica Andrade, que diz que, nesse ano, precisou reduzir as plantações, por causa da falta de chuvas.

— Aqui ainda tem muita gente sem cisterna. Para a gente do semi árido essa é a maior dificuldade. Tem gente que pega de vizinhos ou andam três, quatro quilômetros até os açude e barragens. Mas o mais perto daqui está bem seco.

A seca dos últimos anos no semi árido vêm preocupando especialistas e autoridades. No último dia 19, por exemplo, a Câmara da Agricultura Familiar do Nordeste, que reúne secretários e secretárias estaduais, realizou uma reunião para tratar de medidas emergenciais.


Em uma carta direcionada ao governo federal, a entidade expressou sua "preocupação com o quadro de estiagem que assola grande parte da região, especialmente em razão das perdas econômicas e sociais já observadas", e que registra "com perplexidade a ausência de iniciativas e a indiferença do Governo Federal em relação à ocorrência da atual estiagem e seus efeitos danosos".

A Câmara destacou que, segundo o Monitor de Secas da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, há mais de 600 municípios em situação de calamidade, seca extrema ou moderada, com perda de safra acima de 50% e com demanda generalizada por abastecimento de água na região.

Em setembro, a situação se agravou no Piauí, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia. E "a situação ganha contornos mais graves em função de um expressivo desinvestimento nas principais ações do governo federal", escreveram, na carta, além de lembrarem que os períodos de seca devem se prolongar, nos próximos anos, segundo projeção do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima.

Entre os pleitos emergenciais dos governos estaduais, foram listados:  ampliação de recursos para perfuração de poços; criação de linha de crédito emergencial; aumento da oferta de milho; ampliação da Operação Pipa, que atualmente leva água, através do Exército, para 573 municípios, antecipação do pagamento da Garantia; e retomada dos programas de acesso à água, como o Programa Cisternas, e o Água Doce.


Gerente da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Meiry Sakamoto explica que, neste ano, a ocorrência da La Niña faça com que agricultores tenham expectativa de um próximo período chuvoso, no início do ano que vem, menos seco. O grande problema, diz, é que os reservatórios do semi árido até hoje não se recuperaram da intensa seca vivida entre 2012 e 2016.

Segundo o Portal Hidrológico do Ceará, 71 dos 155 açudes e represas do estado estão com volume inferior a 30%, como por exemplo  Castanhão, o maior do estado, e que está com menos de 10% de sua capacidade de água. No total, o Ceará vive hoje com a capacidade de 22,5% de seus reservatórios.

— Entre 2017 e 2020, o volume de chuvas não foi tão ruim, mas não houve recuperação dos grandes reservatórios. E em 2021 as chuvas ficaram um pouco abaixo da média — afirma Sakamoto, que confirma a tendência de piora no futuro, com as mudanças climáticas, por causa da vulnerabilidade do semi árido. — Temos indicativo de aumento de temperatura, então a região semi árida tende a ficar mais árida. É uma região com muita perda de água por evaporação. Se ficar mais quente, isso vai se agravar.

Procurado, o Ministério da Cidadania disse que a construção civil foi impactada pela retração econômica consequente da pandemia, o que gerou escssez de material e aumento dos preços para obras como as de cisternas. Por isso, o Programa Cisternas  "está atualizando o custo unitário de referência de suas tecnologias sociais e buscando recursos externos para financiar a contratação de mais reservatórios", disse a pasta, que também respondeu não ter recebido qualquer solicitação direta da Câmara Regional de Agricultura Familiar. (O Globo-Lucas Altino) e Folha de S.Paulo

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O MULTI-INSTRUMENTISTA ZÉ PITOCO E OS ACORDES QUE ENCANTAM

Meninos eu vi. Exu Pernambuco 2012. Dominguinhos sabia valorizar um talento musical. José Alves Sobrinho, também conhecido por Zezinho, o Zé Pitoco, 67 anos foi um desses músicos que o mestre Dominguinhos tinha gosto em tê-lo por perto. 

No dia 12 dezembro 2012, durante o centenário de Luiz Gonzaga em Exu, o Brasil, através da transmissão da TV Brasil e as pessoas presentes em Exu, Pernambuco assistiram quando o mestre pediu a Zé Pitoco para tocar uma valsa. No clarinete Zé Pitoco exibiu, Linda Brejeira, ele e Dominguinhos, sanfona e clarinete "calaram a cidade com os acordes mais belos que o sertão brasileiro já escutou até os dias de hoje".

No final foram aplaudidos pelo público. Registrava-se ali um dos momentos mais encantadores da história da música brasileira.

Passados quase 10 anos, Zé Pitoco lançou o seu primeiro CD, Forró do Zé Pitoco, álbum que consagra a importância e a contribuição do  icônico compositor e cantor na música brasileira.

No ano de 2016, Zé Pitoco foi destaque em reportagem do jornalista Carlos Bozo Junior, em reportagem para o Jornal Folha de São Paulo. Confira:

Com grande atuação na cena musical brasileira, Zé Pitoco é um grande representante da música regional nordestina em São Paulo. Transitando sempre com muita maestria entre o clarinete, o saxofone e a zabumba, esse multiinstrumentista e arranjador pernambucano, nascido em Cupira, notável exprime todo o cotidiano de um nordestino que vive na capital paulista.

Criado em meio a sanfoneiros da estirpe de Dominguinhos (1941-2013), Mestre Camarão (1940-2015) e Luiz Gonzaga (1912-1989). O compositor, zabumbeiro, pandeirista, baterista, saxofonista e clarinetista Pitoco recebeu o Música em Letras, em sua casa, na Vila Madalena, São Paulo, para uma entrevista. Nela, o artista contou sobre o duro começo de sua sólida carreira na capital paulista.

CUPIRA: José Alves Sobrinho, 60, o Pitoco, nasceu em Cupira, cidade a 167 quilômetros de Recife, Pernambuco, em uma família de onze filhos. O apelido de Pitoco? Conto depois por merecer um parágrafo à parte. Em Cupira, Pitoco cursou o ginasial e ficou até os 15 anos de idade.  Depois, o jovem foi para Caruaru cursar o científico no colégio Diocesano, onde ganhou uma bolsa de estudos.

Aos oito anos, Pitoco já tocava intuitivamente caixa, zabumba, triângulo e reco-reco na fanfarra da escola.  

"Fazíamos uns dobrados, marchas e aquela coisa toda marcial", disse o instrumentista. Durante a época da Jovem Guarda, com 11 anos, Pitoco ingressou no conjunto "Os Teimosos de Cupira", para tocar bateria. Como era franzino, o instrumento foi montado exclusivamente para ele.

 O bumbo e o surdo eram da banda de música da escola, escorados em madeiras. Chimbal e pedestais não havia, e o prato "tinha que ter um caibro para pendurá-lo em uma corda. Quando tocava nele, o bicho ia para frente e eu tinha que pegar de volta rápido para não perder o tempo da música", contou rindo o baterista, que no conjunto contava com um acordeom, baixo, guitarra e dois cantores. O grupo tocava em um centro cultural de Cupira fazendo bailes e programas de calouros. A paga era uma "bilheteriazinha" dividida entre os músicos. 

Carnaval, tinha que pedir autorização ao pai, pois "pegava de onze às cinco da manhã, e só frevo. Uma pauleira", disse o então único menino da banda formada por homens com mais de 30 anos.

APELIDO: No repertório do conjunto, músicas de Wanderley Cardoso, Roberto Carlos, Ângelo Máximo, Paulo Sérgio, que rivalizava com o rei, e muita música solada dos Incríveis. Uma oportunidade surgiu para se apresentarem na rádio Difusora de Caruaru. Antes do início do programa, acocorado e arrumando a bateria- já era uma Saema completa, com chimbal e tudo mais-, o músico escutou o locutor Irapuan  Barrocas anunciar: "Bem, amigos da rádio Difusora de Caruaru, com vocês, abrindo o programa de hoje, um conjunto da cidade amiga e vizinha, Cupira, mas... espera aí, essa banda não tem baterista?". Nesse momento, o músico levantou a cabeça surgindo por detrás do instrumento e ouviu do mesmo locutor: "Oxente, é esse pitoco?", referindo-se assim ao baterista por sua baixa estatura, aliada à notória magreza. O apelido pegou no ato. "Você não imagina o bullying na escola. Escondido, lá do fundo da classe, os colegas me chamavam por esse apelido. Eu tinha raiva e dizia, filho da p..., Pitoco é a mãe. Aí é que o apelido pegou."

ALUNO DEDICADO: Quando um músico se destacava em Cupira por tocar bem, prestava concurso para ingressar nas bandas da polícia ou do exército. Pitoco foi convidado para ingressar na banda da polícia militar da Bahia, mas não foi. Nessa ocasião, já tocava sax alto e clarinete. 

Primeiro, teve uma requinta (instrumento de tamanho menor que o clarinete, com som mais agudo e sonoridade mais estridente). As músicas, ele tirava de LPs, de ouvido, embora tivesse frequentado algumas aulas gratuitas com um professor de uma cidade vizinha, destacando-se dos outros alunos por sua musicalidade. "O professor vinha para Cupira uma vez por semana, e tomava a lição de cada um dos 30 alunos. Todo mundo errava. Eu já ia com o estudo na ponta da língua e debaixo dos dedos. O homem gostava e me elogiava, mas ele era bem ruim. Acabei aprendendo sozinho mesmo", disse o músico que nessa ocasião estava com 14 anos.

CAMARÃO E OVELHA: Reginaldo Alves Ferreira foi um sanfoneiro muito conhecido pela alcunha de mestre Camarão, dono de uma das melhores bandas de baile do nordeste. Era com a Bandinha do Camarão que o sanfoneiro, amigo de Luiz Gonzaga com quem gravou muito, e contemporâneo de Dominguinhos, excursionava por todas as cidades utilizando uma Kombi e uma Veraneio. "Era o próprio Camarão quem dirigia. Seu Luiz Gonzaga e Dominguinhos também iam fazer os shows dirigindo os próprios carros. Dominguinhos foi chofer de seu Luiz", contou Pitoco.

Aos 16 anos, Pitoco tocava bateria, de quinta a sábado, em uma boate em Caruaru, formando um trio com, pasmem, o cantor Ademir Rodrigues de Araújo, 60, nacionalmente conhecido como Ovelha. De tarde, Pitoco estudava e de noite tocava. No segundo ano do científico, repetiu de ano. O motivo? Em 1972, Pitoco foi convidado para tocar na banda de Camarão pelo próprio. Foram meses viajando para fazer bailes. Isso fez com que o mau aluno virasse um excelente músico. Na banda de Camarão, além da bateria de Pitoco, figuravam um baixo, uma guitarra, o acordeom de Camarão, uma percussão e três sopros, trombone, sax e trompete.

"Era cada arranjo rapaz, tudo cheio de 'convenções' e viradas na bateria. Tocávamos de tudo, samba, choro, frevo, até Beatles em ritmo de forró", disse o músico sobre a Bandinha do Camarão que gravou dois LPs na RCA com o aval e indicação de Luiz Gonzaga, na ocasião responsável por indicar talentos nordestinos para a gravadora.

Quando Pitoco entrou no grupo, toda banda de baile tinha um prefixo que era tocado na abertura dos eventos. O da Bandinha do Camarão era "Misticismo da África ao Brasil" (1971), da banda Veneno, comandada pelo maestro Erlon Chaves (1933-1974). O tema continha mais "convenções" que o Palácio de mesmo nome no Anhembi. 

"Rapaz, Camarão falava para a gente escutar e se virar para tirar a música igualzinha ao disco. Era um pau do caramba. Eu tirava tudinho de ouvido. Virada por virada", contou o músico que tocava com a banda, em clubes, das 23h às quatro da manhã. "Parávamos de tocar à 1h30 para jantar, depois a gente atacava até as quatro da manhã", contou 

Pitoco que com esse ritmo e com esse som viajou para os interiores de Pernambuco, Alagoas, Paraíba, entre outros Estados, dos 16 aos 19 anos. Anos mais tarde, um encontro de sanfoneiros reuniu Sivuca (1930-2006), Dominguinhos, Zé Calixto dos 8 baixos e Camarão, que disse para Dominguinhos: "Rapaz, Zé Pitoco era tão magro quando começou a tocar comigo, que parecia um graveto. Tive que comprar uma bateria adaptada para ele, bem pequenininha", contou Pitoco sobre Camarão que veio a São Paulo e levou para o ainda adolescente baterista um instrumento menor feito na Gope.

PRIMEIRO SAX: O saxofonista da Bandinha do Camarão e do grupo do acordeonista, Los Marines, foi quem vendeu para Pitoco um sax alto. Era o pernambucano Josias Lopes de Lima (1949-2014), que, por chamar todo mundo de Bill, tinha esse apelido.

Também clarinetista e compositor de vários frevos, Bill tocou posteriormente no naipe da Banda Sinfônica de São Bernardo do Campo, ao lado de Naylor Azevedo, o Proveta, e de Cacá Malaquias. "O Bill era excelente. Músico intuitivo sem formação acadêmica nenhuma, que nem eu."

CARTEIRA DA ORDEM DOS MÚSICOS: Com 17 anos, em 1973, Pitoco tirou sua carteira da OMB (Ordem dos Músicos do Brasil), em Caruaru. "Na prova, o único que acertou a virada de uma música de Roberto Carlos fui eu, para você ver o nível dos outros", contou rindo. Pitoco já deixou de pagar a OMB uma ocasião, "mas por conta do SESC tenho que estar em dia", contou o artista, dizendo ser a instituição o único lugar que ainda exige o documento.

SÃO PAULO: Pitoco veio para São Paulo, em 1975, porque o pai, caminhoneiro, deu a ordem. A razão? O moço, com 19 anos, deu de namorar uma viúva com duas filhas, que conheceu tocando com a banda de Camarão em uma vaquejada no sertão de Pernambuco, mas o pai não aprovava, ficou "muito aperreado". Principalmente depois que o músico passou a dividir uma casa com a viúva, Djanete Batista, dez anos mais velha do que ele, em Caruaru, e a engravidou.

A filha de Pitoco, Micheline Alves, 40, jornalista que já trabalhou como diretora de núcleo das revistas Trip e TPM e foi redatora da última temporada do programa "Amor & Sexo", da rede Globo, apresentado por Fernanda Lima, nasceu em Caruaru. Micheline tinha apenas três meses quando o pai de Pitoco o convenceu a deixar a mulher e as filhas em Caruaru. "Até hoje, eu e meus irmãos temos medo de papai. Imagina quando éramos moleques. Ele mandou eu vir para cá, e eu vim. Ele achou que com a separação ficaria tudo certo", disse o músico que veio de caminhão para São Paulo. O motorista que o trouxe de carona era primo de seu pai. Levaram sete dias para chegar. 

"Ele e meu pai carregavam sal do Rio Grande do Norte para Angra dos Reis, e voltavam com sardinha passando por Recife, João Pessoa, Maceió, Caruaru e outras cidades."

O destino São Paulo foi escolhido porque o pai de Pitoco trazia muita mercadoria para a zona cerealista da cidade, como algodão e feijão. "Ele ficava no hotel Gonzaga, no Brás, e conhecia muita gente", contou o músico que foi indicado a um amigo do pai para tocar nos "sambões" de Moema. 

Pitoco foi até Angra dos Reis com o parente motorista, e em Barra Mansa tomou um ônibus para a rodoviária antiga de São Paulo. Chegou e fazia frio. "Um frio, rapaz, que eu achava que ia morrer. Pensei que o Josué tinha uma estrutura, mas ele morava bem mal, no quarto de uma pensão com quatro camas. Tinha um cara do Piauí e outros de nem sei onde. Tudo no mesmo quarto. Era só uma cama para mim e eu pensei, meu pai do céu", disse o músico sobre a humilde pensão que ficava no bairro do Brás, atrás da garagem de ônibus da CMTC.

ROTINA DURA: O frio e o desconforto da pensão eram problemas, mas menores que a saudade que Pitoco sentia das crianças que havia deixado em Caruaru. Era muito apegado a elas. Precisava arrumar logo um emprego para trazê-las. Josué o levou para dar uma canja no Moema Sambão, mas não tinha vaga para baterista.

O dinheiro ganho no carnaval que fez com a banda de Camarão deu para um mês em São Paulo, mas havia acabado. Pitoco encontrou no largo da Concórdia um amigo de sua terra, que estava trabalhando em uma metalúrgica que fornecia chapas de aço para as obras do Metrô. Disse que lá estavam contratando . "Eu, cabra do mato, toda vida fui disposto. Disse para esse meu amigo: 'Oxente, passar fome nessa porra eu não vou, o que é que tem lá para eu fazer?' Ele me levou e o dono da metalúrgica perguntou o que eu fazia. Disse que era músico. 

Perguntou o que eu fazia fora da música, e eu disse nada. Ele me levou para uma sala e mandou me registrar. Comecei como ajudante de prensista. Ajudava a colocar uma chapa de aço na prensa para 'torar' e fazer as peças. Era tudo manual", contou o músico que viu mais de um funcionário perder os dedos decepados pela guilhotina da máquina, distraindo-se ao discutir com outro prensista sobre futebol. 

"Lembro que um dos mestres, seu João, perdeu os dedos na minha frente. Foi para o hospital todo ensanguentado. Quando voltou, os caras, acostumados com acidentes, tiravam sarro dizendo: 'Êita seu João, o senhor não toca pife nem piano, para que tanto dedo?', e caíam todos na risada. Aquilo foi me deixando mal", falou o músico que permaneceu seis meses no emprego.

Pitoco acordava às cinco da manhã para disputar um lugar no chuveiro, antes de sair para trabalhar, ainda incomodado com frio da cidade. "Não sei como eu estou vivo de tanto frio que passei. Ainda tinha um filho da p... que acordava todo dia mais cedo para trabalhar em Diadema, e entrava debaixo do chuveiro e começava a cantar. Os caras mandavam ele parar e começava uma gritaria que ninguém dormia mais: 'Vai tomar no c..., seu filho da...'."

Uma média e um pão com manteiga sustentavam Pitoco, que muitas vezes teve que ajudar a carregar caminhões com as pesadas peças de aço e o corpo coberto de limalha de ferro. Vida dura em um clima frio.

FUTEBOL: Com três meses no emprego, alguém soube que Pitoco quase tinha jogado no time de futebol Central de Caruaru, e espalhou a notícia. Foi convidado a integrar a esquadra da metalúrgica. Era dispensado toda quinta-feira para treinar. O instrumentista jogava futebol de campo, era meia direita, camisa 8. Pitoco participou de campeonatos entre as fábricas do ABC. Chegou a jogar no estádio Primeiro de Maio, em São Bernardo do Campo, conhecido como estádio da Vila Euclides. O músico e metalúrgico chegou a disputar uma partida ao lado de Garrincha (1933-1983). "Foi um jogo daqueles que o Luciano do Vale organizava. O Garrincha estava gordo e inchado, mas ainda corria e era cheio de graças jogando no campo."

A sorte fez um gol na vida de Pitoco no intervalo de uma partida em que seu time perdia de 3×1. Ensebando para não descer ao vestiário e evitar a dura do técnico, Pitoco se aproximou da charanga que tocava na arquibancada do estádio, após ouvir seu apelido sendo berrado. Era Bill, o saxofonista que havia trabalhado com ele na Bandinha do Camarão. Combinaram pelo alambrado de se encontrarem ao término da partida, e assim foi.

DA METALÚRGICA PARA A BANDA: Pitoco e Bill comemoraram o encontro na casa do saxofonista. Bill estava "atacando", registrado, na Banda Sinfônica de São Bernardo do Campo.Orientou o amigo baterista a se inscrever na Lira Musical de Diadema, banda que estava admitindo músicos, pois segundo ele, "um músico como tu não pode se arriscar a perder os dedos cortando chapas de aço", disse Bill.

Juntos foram ao ensaio da banda de Diadema. Apresentado ao maestro como baterista, Pitoco foi informado que estavam admitindo dois clarinetistas, um trompete e o terceiro sax alto. Imediatamente, Bill intercedeu dizendo que, além de bateria, Pitoco tocava sax. Afinal foi ele quem vendeu para Pitoco seu primeiro instrumento, um sax alto.

Na banda de São Bernardo, músicos eram registrados. Na de Diadema, não. Mas era feito um contrato e davam ao músico um emprego na prefeitura, com um cargo qualquer, por um salário mínimo. Pitoco fez o teste tocando a valsa "Branca", de Zequinha de Abreu (1880-1935), e passou. Pediu as contas na metalúrgica, onde recusou uma grana maior e um curso de ferramenteiro gratuito no SENAI, para retomar seu destino de ser músico.

A Lira Musical de Diadema, fundada em 1968 e oficializada em 1974, ensaiava clássicos e frevos das 8h às 12h, todos os dias da semana. Tocava em muitos lugares e participava de vários concursos, amealhando inúmeros títulos e prêmios.

SOM E FUNCIONALISMO PÚBLICO: Pitoco permaneceu como funcionário da prefeitura de Diadema e tocando na banda por dez anos. Sua primeira função foi a de guarda noturno de uma escola. Quando os alunos do período noturno saíam, Pitoco varria todas as salas, arrumava as carteiras e não podia dormir, pois havia uma ronda que o obrigava a permanecer desperto para assinar um papel a cada duas horas. O frio era grande e de doer os ossos para o pernambucano que, desparamentado, usando camisas de chita, não resistia e se enrolava na bandeira de feltro do Brasil que ficava na secretaria da escola.

Às seis da manhã, sem dormir, Pitoco saía da escola e ia direto para a sede da banda ensaiar. Ao meio dia, ia para casa dormir um pouco para, às 18h30, render o guarda do dia na escola e dar continuidade a uma rotina desgastante, mas que preservava seus dedos da mão.

Com dois meses de prefeitura, chamou a mulher e as filhas para morar com ele. No princípio, dividiam um barraco de dois cômodos com outra família. No total, eram dez pessoas vivendo embaixo do mesmo teto, em uma favelinha de São Bernardo, mas felizes por se reencontrarem e por terem aniquilado a iniciativa do pai de Pitoco em separá-los.

Depois de dois anos e meio, Pitoco trocou de função. Passou de guarda noturno a entregador de impostos nos bairros da periferia de Diadema, ganhando um pouquinho mais, além de levar "carreira" de cachorro. "Rapaz, entregava imposto naqueles barracos de Eldorado e proximidades. Batia palmas para ser atendido e quem me recebia muitas vezes eram os cachorros, que corriam atrás de mim, tudo doido para me morder. Aí, era imposto para todo lado, que eu deixava cair da bolsa na fuga", contou rindo o músico.

A mulher arrumou um emprego de cozinheira em um bar no bairro do Ipiranga. Juntando os salários, saíram do barraco da favelinha e alugaram uma casinha na avenida Cupecê, "em uma quebrada". Tocando na banda e entregando impostos, Pitoco ainda achava tempo para jogar futebol no time da Associação dos Funcionários Públicos de Diadema, mas se machucou feio antes de ser levado para jogar no Saad Esporte Clube, clube de futebol de São Caetano do Sul. "Foi quando deixei de jogar bola."

Pitoco mudou de cargo na prefeitura. De entregador de impostos passou a encarregado da contabilidade da merenda escolar, antes de trabalhar no cadastro fiscal. " O cadastro foi o pior trabalho de todos. Ambulantes e mascates muito pobres tinham suas mercadorias apreendidas pelo 'rapa' e se dirigiam para esse setor para reaver o que haviam perdido para os fiscais. Eu ficava com dó e carimbava iberando logo o resgate da mercadoria. Um dia me pegaram fazendo isso e fui transferido", contou o músico que se negava a receber propina e, por essa razão, foi transferido para outra função. Foi para o setor de contabilidade da prefeitura, encarregado pelas ordens de pagamento. "Bicho, se eu fosse safado, estava rico hoje. Os caras pegavam funcionários que já tinham morrido, emitiam o boleto de pagamento e alguém recebia pelo defunto. Recusei a maracutaia e voltei para o setor de merenda escolar."

ESTUDOS: Pitoco terminou o ensino médio em um supletivo que cursou em Diadema, e passou no vestibular de educação artística na faculdade  Marcelo Tupinambá, onde estudou entre 1981 a 1982. Parou por ter adoecido. "Passava muito mal e descobriram que de tanto tomar banho  em açude, quando menino novo, eu estava com ameba. Um médico me deu uns venenos que quase me mataram, mas me recuperei", contou o músico que, mesmo afastado da faculdade, ainda a frequentava ajudando professores com alunos principiantes.

Mais uma vez, a sorte marcou gol na vida do artista. Era 1985 e o músico Antônio Nóbrega estava procurando músicos para compor uma banda e apresentar o espetáculo "Mateus Presepeiro", no Centro Cultural São Paulo. Um dos locais que Nóbrega visitou em busca de músicos foi a faculdade Marcelo Tupinambá, onde deixou seu telefone de contato. Pitoco foi avisado por um professor da instituição, ligou para Nóbrega, marcaram uma reunião e o resto é história. Afinal, são 25 anos tocando juntos e seis CDs de Nóbrega, com a participação de Pitoco, não só tocando, mas também arranjando e compondo.

NÓBREGA, MEXE COM TUDO, MISTURA E MANDA: Pitoco deixou de trabalhar na prefeitura e tocar na Lira de Diadema, em 1985, para se dedicar exclusivamente ao espetáculo montado por Nóbrega. "Tinha um salário quase igual e eu queria tocar."

Na banda arregimentada por Nóbrega para "Mateus Presepeiro", entre outros, além de Pitoco (sax e clarinete), estavam dois Toninhos, o Ferraggutti (acordeom) e o Carrasqueira (Flauta), a base da Mexe com Tudo, banda suingada e famosa que embalou muitos paulistanos, de 1986 a 1992, em locais como o Vento Forte, Bar Avenida e Aeroanta.Com o fim da banda Mexe com Tudo, Pitoco montou outro grupo de sucesso, o Mistura e Manda, sem deixar de acompanhar Nóbrega em seus espetáculos, além de gravar em vários discos de outros artistas e grupos, como o Papo de Anjo e a Orquestra Popular de Câmara, dos quais também participava.

Luciana Batista Alves, 38, outra filha de Pitoco, é cantora. Subiu no palco ao lado de Hermeto Pascoal, Guinga e Paulinho da Viola, entre outros, mas nunca gravou. Hoje, casada com o contrabaixista Guto Wirtti, e mãe de Aurora,1, aguarda o momento certo de se lançar no mercado. É bom torcer por isso, pois além de extremamente musical, Lu Alves puxou o pai e canta muito. "Um dia ainda espero gravar com ela", disse esperançoso o pai da moça, que reconhece seu valor.

FORRÓ-Pitoco gravou muitos discos, entre eles com Chico César, Gilberto Gil, Naná Vasconcelos (1944-2016). Viajou tocando por quase toda a Europa. Shows, só ao lado de Dominguinhos, perdeu a conta. O último show do sanfoneiro, na cidade de Exu, em Pernambuco, em 13 de dezembro de 2012, foi aberto pelo clarinete de Pitoco tocando uma valsa. Canjas, deu até com Luiz Gonzaga, entre milhares. 

No repertório, xote, xaxado, coco, baião, choro e samba para alimentar a alma e balançar a moçada, frequentadores assíduos dos shows do artista. Entre as músicas, "Forró Na Serra do Bode", "Forró das Catacumbas", ambas de Pitoco; além de "Forró no Escuro", e Luiz Gonzaga, e "Tenho Sede", de Gilberto Gil e Dominguinhos. (Folha de S.Paulo 2016)



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A SAGA PARA TORNAR O FORRÓ PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO

"Agora as leis estão reconhecendo a riqueza do forró, mas ele sempre foi nosso patrimônio cultural. E quem decide isso é o povo, nenhuma lei ou decreto.” 

A fala de Leda Alves, estudiosa da cultura popular e ex-Secretária de Cultura do Recife, rememora a resistência da comunidade forrozeira na preservação de um dos mais autênticos gêneros musicais brasileiros e nordestinos.

No próximo dia 13 dezembro, Dia do nascimento de Luiz Gonzaga, Mestre da Sanfona e Dia Nacional do Forró, acontece a solenidade de entrega do título de Matrizes Tradicionais do Forró como Patrimônio Cultural Brasileiro.

Para se alcançar este fato, existe uma história verdade e de muito bom combate, perseverança, liderança coletiva. Joana Alves. São décadas de resistência, fóruns, rodas de conversas, palestras, discussões sobre a profissionalização das matrizes do Forró, debates sobre o registro das matrizes tradicionais do forró.

Com o título de Patrimônio Cultural do Forró é necessário se pode construir propostas para a salvaguarda e cobrar políticas publicas para a economia que movimenta a economia.

Joana Alves é a responsável pelo pedido de reconhecimento como patrimônio cultural imaterial do Brasil surgiu no ano de 2011, em meio a diálogos da Associação Balaio Nordeste com forrozeiros atuantes no Estado da Paraíba que passaram a organizar o Fórum Forró de Raiz. 

O movimento articulado busca a promoção de debates e ações voltadas para a melhoria das condições de cidadania dos artistas que trabalham com o forró em suas diversas denominações.

Joana Alves licenciada em Educação Artística pela UFPB – Universidade Federal da Paraíba com especialidade em artes plásticas, é também artesã, produtora e articuladora cultural. Fundadora e presidente da Associação Cultural Balaio Nordeste (ACBN), instituição cultural sem fins lucrativos, atuou em várias frentes de valorização e promoção da cultura popular à exemplo da criação da Orquestra Sanfônica Balaio Nordeste, da Escola de Música Mestre Dominguinhos, do documentário/DVD do músico Pinto do Acordeon (parceria com o IPHAN), do Fórum de Forró Raiz e do I, II e III Encontro de Foles e Sanfonas da Paraíba., entre outras dezenas de eventos.

Joana Alves é o nome referência e responsável pelo título do Forró ser a partir de dezembro Patrimônio Cultural do Brasil.

Nos últimos 10 anos Joana foi garra, determinação na busca de alertar, valorizar e pelejar para promover o Encontro Nacional para Salvaguarda das Matrizes do Forró como Patrimônio Imaterial Brasileiro (parceria com o IPHAN), Homenagem a Luiz Gonzaga (edições 2012, 2013, 2014 e 2015); Forró Solidário do Balaio Nordeste (edições 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015), Mulheres Pintando o Sete (homenagem a cantora Marinês) e Balaio Nordeste Rumo à França.

Nascida no dia 07 de fevereiro de 1944 em Pirpirituba, Paraíba e mora em João Pessoa. Registrada como Joana Alves da Silva, conta que aos sete anos de idade ouvi pela primeira “Asa Branca” com Luiz Gonzaga. "Foi que me embalei com a cultura nordestina, especialmente o Forró", diz Joana.

“Para que um bem receba o título de Patrimônio Cultural é necessário demonstrar sua relevância para a memória nacional, sua continuidade histórica e de que forma este bem carrega as referências culturais de grupos formadores da sociedade brasileira”, explica o diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI) do Iphan, Tassos Lycurgo. 

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DESERTIFICAÇÃO AVANÇA NA CAATINGA POR CAUSA DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS

A desertificação tem avançado na Caatinga por causa de mudanças climáticas que estão ocorrendo no mundo todo. Nos últimos 36 anos, o bioma, que só existe no Brasil, já perdeu 40% da área de rios e lagoas e 10% da vegetação nativa, segundo um levantamento da rede Mapbiomas.

Em Pernambuco, por exemplo, 123 dos 184 municípios estão correndo o risco de desertificação, segundo um estudo do qual participou o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Iêdo Bezerra Sá.

A caatinga ocupa um décimo do território nacional, quase todo no Nordeste. O seu nome vem do Tupi e significa "Mata Branca", que é a aparência da vegetação durante a seca.

É o pedaço mais quente e seco do país. E também um dos mais vulneráveis às mudanças climáticas.

Nos últimos 50 anos, houve um aumento de até 5% nas temperaturas máximas de algumas regiões do Nordeste, o que tem provocado picos de calor que passam dos 40 graus.

Além do clima, o bioma sofre os efeitos de um conjunto de agressões provocadas pelo homem. Começa com o desmatamento e as queimadas. Piora com a criação desordenada de animais e o cultivo com técnicas erradas.

Tudo isso gera degradação do solo, que fica exposto a secas cada vez mais longas, o que agrava o processo que transforma terras férteis em improdutivas.

"Quando a gente se depara com áreas devastadas, desflorestadas, o que acontece é que a gente perde a capacidade de reter água no solo e de bombear a água do solo para a atmosfera, para que isso ser transformado em nuvens de chuva", explica Francis Lacerda, pesquisadora e climatologista do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA).

Para minimizar os efeitos das mudanças climáticas, soluções para a adaptação do homem ao campo vão surgindo no sertão, unindo a ciência e a sabedoria do povo sertanejo.

No município de Petrolina, em Pernambuco, por exemplo, pesquisadores da Embrapa Semiárido estudam seis variedades do feijão-caupi, também conhecido como feijão-de-corda, para avaliar a resistência à seca.

Os tipos do feijão são cultivados em duas câmaras de crescimento e submetidos a diferentes temperaturas.

Quatro variedades do feijão-caupi que apresentaram maior resistência nas câmaras já foram para o campo, plantadas em duas épocas diferentes do ano. E, com o tempo, a melhor deve se destacar.

"O feijão-caupi é um cultivo de grande importância socioeconômica para o semiárido. Nós temos essa preocupação com a segurança alimentar, com o que vai estar disponível para a nossa população frente a esses cenários futuros", diz a pesquisadora Francislene Angelotti.

PRESERVAÇÃO VEGETAÇÃO NATIVA: Já em Itapetim (PE), um grupo de 19 mulheres, chamado Pajeú, replanta árvores nativas junto às nascentes do lugar onde vivem, desde 2012. Elas recebem o apoio da ONG Centro Sabiá.

Elas produzem as mudas e acompanham o crescimento das plantas, um esforço que já rendeu 10 mil árvores.

"Se a gente não recuperar, futuramente não vai ter. Vai estar escasso. As pessoas das novas gerações não vão conhecer as espécies nativas", diz a agricultora Valéria Pereira.

"Esse trabalho vai contribuir enormemente para que a gente amplie a resiliência dos povos do semiárido para o enfrentamento das mudanças climáticas", diz agrônoma Rivaneide Almeida. (Fonte: Globo Rural)

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EXU: ONG PARQUE AZA BRANCA REALIZA II MUTIRÃO DA LIMPEZA

Membros da Organização Não Governamental Aza Branca, localizada em Exu Pernambuco, realizaram neste domingo (5), mais um mutirão de serviços para limpeza. Entre os dias 10 e 13 de dezembro será realizada a festa dos 109 anos de nascimento de Luiz Gonzaga, o maior mestre da Sanfona, criador do baião, xote e forró.

No local os visitantes além da limpeza vão perceber a restauração das placas. Durante as festividades vários shows vão acontecer no Parque Aza Branca. Regras sanitárias devem ser cumpridas, apresentação do cartão de vacinas e uso de máscaras.

O Parque Aza Branca é um patrimônio cultural do Nordeste Brasileiro. Sua função é preservar o acervo constituído pelo legado de Luiz Gonzaga, Rei do Baião, em Exu, sua terra natal.

Esse legado foi iniciado pelo próprio Luiz Gonzaga que, retornando a Exu, anos 80, teve a idéia de criar esse espaço cultural, dotando-o com objetos pessoais.

O Museu do Gonzagão traz a marca de seu caráter, cultor de raízes e nordestino assumido. Ali deixaria a melhor parte de sua história, marcada por grandes mudanças, pelejas e o sucesso conhecido de todos.

Em 2009, o Parque Aza Branca foi tombado como Patrimônio Histórico e Cultural de Pernambuco pela Fundarpe. Segunda a Fundarpe a legislação estadual de tombamento prevê que tanto a posse quanto a manutenção permanecem sob a responsabilidade de quem possui a propriedade do imóvel e ressalta que o Governo de Pernambuco investe no Festival Viva Gonzagão.

ONG PARQUE AZA BRANCA: A ONG Parque Aza Branca completou no mês de agosto 20 anos de atuação. A ONG foi fundada em Exu com o objetivo de valorizar a vida e obra de Luiz Gonzaga e manter viva a memória do Rei do Baião.

A história conta que em 2001, o cantor e compositor  Gilberto Gil foi até Exu, Pernambuco, com toda a equipe do longa-metragem “Viva São João”, de Andrucha Waddington, para gravar algumas cenas do filme. 

“Temíamos que o parque afundasse. A falta de apoio para política públicas e ações eram evidentes. Aproveitamos a visita de Gilberto Gil e fizemos uma reunião”, lembra, Junior Parente, atual diretor presidente da ONG, ressaltando que o grupo recebeu conselho para criar uma ONG para administrar o parque. 

“Gilberto Gil explicou na época que ao virar uma instituição, teríamos mais possibilidades de pedir apoio do governo ou de empresas”, conta. Naquele mesmo ano, o grupo criou uma organização não-governamental sem fins lucrativos para administrar o Parque Aza Branca.

Dedicação e perseverança são as marcas da ONG PARQUE AZA BRANCA. Inicialmente buscando por alternativas, a professora Clemilce Cardoso Parente viu no site do Ministério da Cultura o projeto Ponto de Cultura.

“Convidei minha amiga professora Ilaíde Carvalho para pensar comigo. Criamos um projeto de três anos com oficinas de música, dança, artesanato e teatro”, conta. A ideia de oficina de música nasceu com o gene do Aza Branca. 

“Luiz Gonzaga presenteava sanfona para todo mundo que tinha interesse. Dizem que ele deu mais de 400 sanfonas. Ele tinha medo que as pessoas perdessem o interesse pelo instrumento e não soubessem mais como tocar”, conta. 

Junior Parente destaca ainda que "cuidar da memória de Luiz Gonzaga é um trabalho diário, reunindo voluntários da ONG e os milhares de fãs, admiradores que todos os anos estão em Exu. É um desafio que precisa ser mantido".

O Parque Aza Branca é o principal ponto turístico de Exu. Ele foi fundado pelo próprio Luiz Gonzaga. A Fazenda onde foi instalada a atração foi comprada por ele no início dos anos 70. Em 1982, o sanfoneiro volta a morar em Exu e elegeu o Parque como moradia definitiva. O parque uma antiga fazenda comprada pelo "Rei do Baião". Ele foi idealizado pelo próprio artista – que, já com a carreira consolidada, quis construir um complexo de atrações para preservar seu nome e sua obra.

No local é possível visitar o Museu do Gonzagão, que abriga o maior acervo material original do músico. Entre os objetos pessoais, há sanfonas, chapéus, sandálias e gibão de couro, discos de ouro e fotografias. Outra atração é a casa onde ele morou, que mantém os móveis originais, e o mausoléu onde Gonzaga está sepultado junto com sua primeira mulher (“dona” Helena), que seu filho Gonzaguinha mandou construir para o casal.

Há ainda uma réplica da casa de reboco onde nasceu o músico e um viveiro de asas-brancas. A grafia do nome do parque acompanha a da canção original, registrada assim para acompanhar o Z de Luiz e de Gonzaga. O parque tem também duas pousadas para hóspedes: Santana, em homenagem à mãe de Gonzagão (a agricultora e dona de casa Ana), e Januário, nome de seu pai, lavrador e sanfoneiro.

Endereço: Rodovia Asa Branca, KM 38, Exu (PE).

Telefone: (87) 3879-1295.

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