COVID-19: BAHIA CHEGA A 80% DE OCUPAÇÃO DE LEITOS DE UTI E GOVERNADOR ANUNCIA AMPLIAÇÃO DO TOQUE DE RECOLHER

O governador da Bahia, Rui Costa, afirmou neste domingo (21) que a Bahia alcançou a marca de 80% de ocupação dos leitos de UTI e que, por isso, o toque de recolher em vigor desde sexta-feira (19) será ampliado a partir de segunda-feira (22). A medida prorrogou ainda o toque de recolher até 28 de fevereiro (antes era até 25) e será publicada em edição extra do Diário Oficial.

"Infelizmente, alcançamos a marca de 80% de ocupação dos leitos de UTI na #Bahia e a consequência será a ampliação do horário do toque de recolher. A partir desta segunda, dia 22, a restrição será das 20h às 5h", afirmou.

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JOSÉ FRANCISCO, O ZEZINHO LOCUTOR. *TEXTO ADERALDO LUCIANO

Relutei em escrever aqui sobre a morte do meu padrinho Zezinho Locutor, na última sexta-feira, dia 19. Porque, ao chamá-lo de padrinho, eu seria obrigado a mexer em uma caixa de dores escondidas muito profundamente em terras sob meus pés e que se movem para qualquer lugar por onde vou. Eu seria obrigado a quebrar uma regra de irmandade. Ao mesmo tempo não poderei ficar calado e omitir minha emoção intensa diante desse fato. SÓ POR HOJE e várias pessoas entenderão.

Zezinho foi a primeira pessoa que, diante do meu quadro terrível de mendicância existencial, lá bem longe no passado, me disse que tudo podia ser diferente. Que eu poderia dominar as forças que me sustentavam na escuridão e que a Vida podia ser melhor do que aquela viagem dormente a qual eu me entregava diariamente. Ele me fez apenas um convite. Desesperado, eu aceitei. E, por ele, eu voltei até aqui. Encostei nele, todos os dias, nas minhas crises de abstinência. Recaí várias vezes, mas a mão de Zezinho estava sempre estendida.

Chegara do Recife, pintor de paredes, para embelezar os casarões coloniais de Areia. Trabalhava cantando. Voz gravíssima profunda, quem passava ouvia as velhas canções de Nelson Gonçalves, Trio Irakitan, Altemar Dutra, Orlando Silva, Lupicínio Rodrigues, Cartola e outros da geração de ouro de nossa música popular. Desceu da escada e entrou para o mundo da locução nos serviços de som da cidade. Fundou a difusora areense. Amava o microfone. O rádio era nossa matéria.

Em algum ano desses, fui visitar Areia e participar do Festival de Artes junto com Babilak Bah, artista do som, da performance, amigo das Almas Vivas e dos Orixás. Durante um café da manhã em Zé Nunes, no Beco da Facada, apresentei os dois. Conversamos longamente e diante da história de Zezinho ficamos convencidos e nos empenhamos em construir alguma coisa sobre aquela experiência. Mas Zezinho partiu na sexta-feira. 

Liguei pra Babilak. E choramos juntos. Aquela manhã nunca será esquecida. Zezinho, com seus ensinamentos, libertou-me do desespero. São quase 30 anos de nossa primeira conversa. Tenho que dizer para meus amigos que você, meu querido padrinho, ensinou-me que tudo se resume a viver apenas 24 horas por dia, tomando cuidado a cada segundo e minuto para não desviar o olhar e alimentar o monstro que carrego dentro de mim. Vivo, Zezinho, SÓ POR HOJE. Muito obrigado. Descanse em paz. (Texto: Aderaldo Luciano-professor mestre e doutor em Ciência da Literatura)

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AFONSO CONSELHEIRO, MINHA PEDRA COMPLETA 73 ANOS

Nas margens do lado direito do Rio São Francisco, Juazeiro-Bahia, terra de João Gilberto e Ivete Sangalo, a figura de José Afonso da Cunha Martins não passa despercebido. Trata-se do ator e artesão e os seus inúmeros apelidos: Afonso Conselheiro, Minha Pedra.

Nascido em Patamuté-Bahia em 19 de fevereiro de 1948, Afonso Conselheiro completou 73 anos. Diz que adotou o Rio São Francisco e a cultura gonzagueano como filhos. O ator que vive em Juazeiro desde 1965, diz que um dos momentos mais produtivos de sua vida foi a gravação da novela da Rede Globo "Senhora do Destino". A novela está em exibição "Vale a Pena Ver de Novo" nos finais da tarde e Afonso contracena com atrizes Renata Sorah, Carolina Dickman e Suzana Vieira e o saudoso José Wilker.

"Diante da dificuldade em dar sustento a seus filhos pequenos, a jovem nordestina Maria do Carmo Ferreira da Silva deixa a pequena Belém de São Francisco, no interior de Pernambuco, disposta a encontrar na cidade grande uma forma mais digna de criar seus rebentos. Quando chega ao Rio de Janeiro, a retirante encontra uma cidade à beira do caos. Era dezembro de 1968 e o governo do país decretara o Ato Institucional número cinco, o AI-5. A história da novela parte desse fato", diz Conselheiro.

Afonso todo ano participa da Romaria de Canudos onde encarna as vestes de Antonio Conselheiro. "Não perco este momento de fé e resistência cultural. Antonio Conselheiro era um visionário", finaliza Afonso.

Confira texto de Valternilo Pimentel:

Estamos sempre divulgando gente boa e desta vez, focalizaremos o artesão José Afonso da Cunha Martins, mais conhecido por “Matusalém", apelido que ganhou quando participou da  novela Senhora do Destino. Afonso achava um pouco constrangedor perguntar o nome das pessoas e então passou a chamá-las de "Minha pedra", apelido que também incorporou. Ele também é conhecido como Afonso Conselheiro (devido a sua extensa barba, cabelos compridos e por representar Antônio Conselheiro grande revolucionário de Canudos-Bahia). Afonso é natural de  Patamuté, mais precisamente da Fazenda Boa Esperança, no interior de  Curaçá.

O artesanato é uma técnica manual utilizada para produzir objetos feitos a partir de matéria-prima natural. Normalmente Afonso faz seu artesanato em lata dentro de sua própria casa ou em uma pequena oficina. A partir da Revolução Industrial, que iniciou na Inglaterra, o artesanato foi fortemente desvalorizado, deixou de ser tão importante, já que neste período capitalista o trabalho foi dividido colocando determinadas pessoas para realizarem funções específicas, essas deixaram de participar de todo o processo de fabricação. 

Além disso, os artesãos eram submetidos às péssimas condições de trabalho e baixa remuneração. Hoje, o artesanato voltou a ter prestígio e importância. Continua a buscar elementos naturais para desenvolver suas peças originadas do barro, couro, pedra, folhas e ramos secos entre outros. Em todas as regiões é possível encontrar artesanatos diversificados originados a partir da natureza típica do local e de técnicas específicas.

O artesanato é reconhecido em áreas como bijuterias, bordados, cerâmica, vidro, gesso, mosaicos, pinturas, velas, sabonetes, saches, caixas variadas, reciclagem, metais, brinquedos, arranjos, apliques, além de várias técnicas distintas utilizadas para a fabricação de peças.

"Eu, no entanto, desenvolvi o reaproveitamento de latas de cervejas e refrigerantes para a fabricação de canecas, chapéus, toalhas, camisetas e outras peças que podem ser utilizadas no lar, uso a precisão e traço nas mãos, em cada peça fabricada vejo naquela arte, uma parte do meu corpo que me conduz a felicidade de poder compartilhar com quem adquire o meu produto a um reconhecimento também pelo trabalho realizado, e a busca de mais outras obras, pois a vida do artista precisa de sensibilidade para perceber que muitas vezes a realização de uma pessoa pode estar marcada na peça criada e seus apliques podendo transmitir lembranças e até mesmo conquistando a ingenuidade de uma criança ao ver sua foto plotada na peça. Me sinto gratificado” conclui emocionado.

Antigo morador de Juazeiro na década de 60 e no esplendor da juventude estudou no Colégio Rui Barbosa, Colégio Dom Bosco e Colégio Estadual em Petrolina-Pe. Em 1969 resolve viajar à São Paulo onde trabalha como Operador de Caldeira, na Laborfarma como embalador, foi informante no Instituto de Energia Atômica na USP-Cidade Universitária, ajudante de mecânico na Água Funda. 

Retornando a Juazeiro no ano de 1975, onde trabalhou em banca de revista  de Moailton Lopes e depois numa loja de discos com Moanilton Mesquita Lopes, em Senhor do Bonfim, sendo que um dia montou uma loja de discos de sua propriedade e de seu irmão. Logo depois retorna à Fazenda Boa Esperança onde torna-se criador de ovinos com seu pai. Neste período começa a criar cabelo e barba, sendo convidado por Gildemar Sena para fazer o papel de Antônio Conselheiro nos 100 anos do massacre de Canudos ocorrido em 1997 e, até hoje é o convidado a exercer esta representação de “ Conselheiro” herdando, portanto, o apelido.

Afonso Conselheiro também foi um carnavalesco fervoroso, lembra que em 1960 entusiasmado com o carnaval de rua juntou-se com colegas e faziam a diversão nas ruas e ainda não tinha despertado o carnaval nos clubes. Anos mais tarde, a convite de amigos frequentadores dos clubes Sociais, resolve acompanhá-los tanto na Sociedade Apolo Juazeirense e 28 de Setembro durante à noite e a Sociedade Artífices Juazeirense durante as matinês.

O seu Bloco de Carnaval foi “ Os Pirados” constituído de homens e mulheres que tinham como vestimenta uma mortalha azul com a logomarca de um negro com cabelo Black Power e barba em cor branca, com cerca de 30 componentes alguns com instrumentos de percussão e muito samba. A concentração era no Largo Dois de Julho; recorda-se de algumas pessoas que deram o sustentáculo do Bloco como: Expedito Alves, os irmãos Durval (In Memorian ) Bernadeth de Dona Almerinda, Pinguim, “Seu Lobo”, Pinduca, Josias Gomes, Professor Arimatéia, Carlinhos de “Rachosa”, Zé Mucine, Hildelbrando,Tavares (In memorian ) Carlinhos meu irmão, “Biba”, e toda sua família, enfim nosso bloco era muito unido. Com o decorrer dos anos os jovens tiveram que procurar seu próprio rumo para ter sua independência, culminando com sua dissolução e deixando muitas saudades.

Afonso decide, não participar mais de bloco percussivo e passa brincar seu próprio carnaval. Em 2000, por ter seu visual exótico de Antônio conselheiro, recebe convite do Presidente do Grupo Cultural “Comando Virgulino“, Crisóstomo Lima (Zó),  tornando-se figura de destaque da agremiação. Diz muito feliz “foi um grande orgulho poder interpretar o beato Antonio Conselheiro durante o Carnaval de Juazeiro e em breve voltarei a homenageá-lo. Ele foi um grande homem do sertão" finaliza.

AFONSO ATOR: Sua barba branca e cabelos esvoaçados resultaram no convite para participar da novela Senhora do Destino da Rede Globo. Inicialmente, Afonso integrou oficina de interpretação, fez testes e sendo aprovado, ganha o papel de Matusalém, rendendo-lhe o apelido e o carisma dos fãs espalhados por todo Brasil.

Por: Valterlino Pimentel (Pinguim)

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CRESCE NÚMERO DE ÁREAS DE PRODUÇÃO DE AGRICULTURA ORGÂNICA NO BRASIL

Um estudo do Organis, entidade de promoção do setor de orgânicos no Brasi confirma um crescimento nacional de consumos de produtos orgânicos aproximado de 30% em relação a 2019.

Segundo o diretor da pesquisa Cobi Cruz, mais um dado observado nos últimos meses chama atenção.

 “Em 2020, a região que mais cresceu em número de áreas de produção cadastradas no Ministério da Agricultura foi o Nordeste, com 36% de incremento”, apontou, destacando o investimento de políticas públicas. E são as feirinhas de rua as grandes escoadoras, no momento, desse tipo de mercadoria. “O grande varejo cresceu pouco mais de 5% no ano passado, porque as pessoas começaram a procurar outros canais”, defende. 

Segundo a pesquisa, a compra de produtos orgânicos está relacionada ao frescor dos alimentos, pois grande parte das mercadorias mencionadas pelos entrevistados foram frutas, legumes e verduras. Ela também indicou as feiras e supermercados como os locais preferidos para a compra de produtos orgânicos, porém o consumo se esbarra não só nos preços, mas também na dificuldade de achar esses produtos e ainda a falta de diversidade deles.

O estudo conclui que há o reconhecimento de valor no produto orgânico, independentemente de ser ou não consumidor. Apesar do preço dos produtos ser o maior obstáculo, tanto para os que já consomem orgânicos, passarem a comprar mais, tanto para aqueles que não compram nenhum tipo de orgânicos, 67% dos consumidores e 26% dos não consumidores estão dispostos a aumentar suas compras nos próximos seis meses.

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DUNAS VEM AUMENTANDO EM RODELAS, BAHIA

Resultado de anos de degradação associada às mais diversas intervenções humanas, milhares de quilômetros de vegetação nativa em Rodelas, interior da Bahia, vem sendo engolida pelo avanço das dunas, uma fina camada de areia que se desenvolve principalmente pela ação dos ventos, formando montes ou montanhas de diversas formas e tamanhos.

Com mais de 400 hectares, o local é conhecido como deserto de Surubabel, situado na beira do lago da barragem de Itaparica. De acordo com o artigo “O deserto do Surubabel na Bahia”, publicado pelos autores Arlicélio de Queiroz Paiva, Quintino Reis Araújo, Eduardo Gross e Liovando Marciano da Costa, com o passar dos anos, esse local serviu como área de pastoreio excessivo, principalmente de caprinos, e sofreu um desmatamento acentuado, com a retirada de lenha para atender às necessidades da população.

Atualmente, a área é reivindicada pela comunidade indígena Tuxá como compensação pelo deslocamento do seu território original em 1988 devido à construção da usina hidrelétrica Luiz Gonzaga, também conhecida como Lago de Itaparica, com uma área inundada de 150 quilômetros e superfície de 83.400 hectares dos estados da Bahia e de Pernambuco. 

Os indíos Tuxá ocupavam diversas ilhas e em especial a Ilha da Viúva, no Rio São Francisco, seu território agrícola. A Ilha da Viúva também foi submersa e de acordo com o cacique Anselmo Tuxá até hoje não receberam na totalidade as terras de compensação.

“É uma luta árdua a que temos travado todos estes anos. Sem direito a esta terra a gente sequer pode cuidar para preservar a vegetação; e vamos acompanhando o avanço das dunas que embora forme uma paisagem belíssima, vai enterrando a vegetação nativa”, lamentou o Cacique.

Na Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, aproximadamente 126.336 km² já são áreas desertas ou em fase de desertificação. Um levantamento feito pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite (Lapis), realizado no período de 2013 a 2017, apontou que cerca de 13% do território do Semiárido brasileiro está desertificado.

 “Os impactos provocados pelo processo de desertificação na Caatinga são enormes. Esse fenômeno aumenta o carreamento de sedimentos para dentro da calha principal do rio, trazendo graves efeitos já bem conhecidos ao Velho Chico”, afirma o professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco, Renato Garcia.

De acordo com estudos, as áreas de ocorrência de desertificação no Brasil estão enquadradas, principalmente, no polígono das secas no Nordeste Brasileiro. As regiões de Gilbués (PI), Cabrobó (PE), Irauçuba (CE) e Seridó (RN) foram decretadas como núcleos de desertificação após praticamente atingirem um grau irreversível. 

Em 2007, a Fundação Grupo Esquel Brasil foi designada para exercer a função de agência implementadora do Plano Nacional de Combate à Desertificação (PNCD), prevendo criar o quinto núcleo de combate à desertificação em Rodelas. No entanto até hoje não foi efetivado.

 “Assim como outros povos indígenas, cada um com sua luta, aqui os Tuxá continuam na expectativa pelo direito ao acesso às terras para cultivar. Negar esse direito aos indígenas é negar suas tradições e, por isso, o Comitê tem se empenhado em garantir aos povos o acesso a água para seus múltiplos usos, assim como foi feita a obra que hoje é realidade na comunidade de Serrote dos Campos, onde os Pankarás já tem seu sistema de abastecimento de água financiado pelo CBHSF, funcionando”, completou o coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Julianeli Lima.

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SÃO DOMINGUINHOS DE GARANHUNS UMA BÚSSOLA AUTORIZADA PELO REI DO BAIÃO

POR OCASIÃO DOS 80 ANOS DE DOMINGUINHOS. As mãos de Dominguinhos foram abençoadas para além da música. Sempre prontas para o abraço, na sanfona, no povo, nos amigos, nos que o procuraram. Os sonhos e a busca de cada um sanfoneirinho descem à Terra e nele se encontraram. Foi a confluência para o modelo.

Dominguinhos é o arquétipo, nosso melhor desenhado acabamento. Assim como um livro na estante, a sanfona assentada em um canto não passa de um instrumento. No colo de Nenén foi outra coisa. Era como testemunhar Baco fartando-se de vinho, Comadre Fulozinha em desabalada carreira meio à flora baloiçante, Jesus açoitando os vendilhões, é Buda iluminado e sóbrio, um touro solto na imensidão da caatinga, uma sereia arrebatando marinheiros, foliões soltos na buraqueira do frevo, Sorriso sambando na Sapucaí, o Santíssimo Sacramento no Domingo da Ressurreição, um magote de cigano ao redor da mais antiga fogueira. Dominguinhos, nossa bússola, autorizada pelo Rei. 

Ai, meus amigos, a sanfona é a companheira dos meus "ais". A sanfona é mesmo meu pulmão, meu coração, meu estômago, minhas vísceras. Quando ela se abre, é minha respiração que vai junto. Quando se fecha, é meu suspiro. A sanfona sabe de todas as minhas saudades, revira todas as minhas lembranças, desce ao poço profundo do meu passado e traz-me milhões de presentes.

É, a sanfona é a rainha do meu salão de miudezas. É a lâmpada a clarear meu terreiro, é o sol a festejar os meus dias. Quando chove, a sanfona é meu abrigo. À noite escura, é ela a lua escondida por trás da escuridão. Meus ouvidos são a passarela por onde ela desfila soberana. Minha pele sofre quando a escuta bem baixinho nos agudos suaves. Meus olhos se fecham, enquanto meu peito vibra nas prolongadas notas graves. Me desculpe, Deus, mas meus santos todos tocam sanfona, sem piedade. Tem dois santos no altar-mor de minha catedral: São Luiz Gonzaga do Nascimento e São Dominguinhos de Garanhuns. Essa da foto pertenceu ao segundo, já que o primeiro é Primeiro mesmo. Toca, sanfona sofrida, sanfona querida. (Texto: professor Aderaldo Luciano-mestre e doutor em Ciência da Literatura-UFRJ)

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FAZENDA HUMAYTÁ: MANDACARU FLORANDO É SINAL QUE A CHUVA CHEGA NO SERTÃO

De acordo com a definição do Dicionário Caldas Aulete, mandacaru significa “cacto (Cereus jamacaru) nativo do Brasil, de porte arbóreo, ramificado, com flores grandes que se abrem à noite, típico da caatinga, onde serve de alimento ao gado, e também cultivado como ornamental e por propriedades terapêuticas”.

Na Fazenda Humaytá, localizada em Curaçá, Bahia, o cantor e compositor Luiz do Humaytá,  dedilha o violão e define que o mandacaru florando é poesia dos sertões. "“Mandacaru, quando flora lá na seca é o sinal que a chuva chega no sertão toda menina que enjoa da boneca é sinal que o amor já chegou no coração...assim começa uma das composições de Zé Dantas, Xote das Meninas. Aqui neste pedaço de terra a natureza está nos presenteando com este espetáculo", diz Luiz.

Luiz Gonzaga interpreta o Xote das Meninas que traz na letra a flor do mandacaru o prenuncio da chegada das chuvas no sertão. As flores do mandacaru são exuberantes e possuem a cor branca que se destaca principalmente durante à noite.

Devido a sua resistência à seca nordestina, esta planta se tornou um símbolo de força. O fruto, vermelho, se destaca entre o verde dos ramos e amadurece entre os meses de março a abril. Comestível, é muito apreciado pelo sabor adocicado. De novembro a janeiro apresenta flores brancas, com uma peculiaridade: elas florescem à noite e, logo pela manhã, murcham. Por isso, também é conhecida como flor-da-noite.

“O sinal do mandacaru florado nos traz muitas esperanças e nos alegra. Veja as nuvens como estão cheias. Vamos ter mais chuva. Mandacaru florou e escutamos no rádio que está chovendo no sertão e com a chuva o sertanejo alivia muitas amarguras e comemora uma boa colheita. Como bem disse Patativa do Assaré, “Pra gente aqui sê poeta basta vê um poema em cada galho e um verso em cada flor””, finaliza Luiz do Humaytá.

Em geral, a flora da Caatinga tem características peculiares, apresentando uma estrutura adaptada às condições áridas, por isso são chamadas xerófitas, o que as permite resistir ao clima quente e à pouca quantidade de água. 

São características como: folhas miúdas, cascas grossas, espinhos, raízes e troncos que acumulam água, que são estratégias tanto para evitar a evapotranspiração intensa quanto para possibilitar o armazenamento de água. As espécies conseguem, assim, lidar com os meses de seca, rebrotando completamente após as primeiras chuvas. Por isso, a vegetação da Caatinga tem aspectos bem diferentes durante o período seco e o chuvoso.

Há cerca de 1.000 espécies vegetais no bioma, dentre as quais 318 são endêmicas, e onde se destacam plantas como cactos (mandacaru, xique-xique e facheiro), bromélias e leguminosas (catingueiras, juremas e anjicos). Árvores que armazenam água, como a barriguda e o umbuzeiro, também fazem parte dessa rica flora.

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