COMPOSITOR ONILDO ALMEIDA, 92 ANOS, É VACINADO CONTRA A COVID-19, EM CARUARU PERNAMBUCO

O compositor Onildo Almeida, de 92 anos, foi um dos idosos vacinados na manhã desta quinta-feira (28), em Caruaru, no Agreste de Pernambuco. O artista, que é um dos maiores nomes da cultura brasileira, recebeu a primeira dose da vacina de Oxford-AstraZeneca pelas mãos da neta, a enfermeira Mayara Almeida.

"[Foi a] vacinação mais importante, porque minha própria neta me vacinou. Isso, para mim, é histórico. Tenho que agradecer a Deus pelo prolongamento da minha vida", comemorou Onildo.

A neta do artista já estava à espera do avô para vaciná-lo quando Onildo Almeida chegou ao Espaço Cultural Tancredo Neves ao lado da esposa, Lenita. Após aplicar o imunizante, Mayara não conteve a emoção. "Eu estou me tremendo", brincou.

"Foi um momento tão esperado pela família toda! Agora a gente está aqui, eu estou realizando o meu sonho, ver ele com saúde e vacinado. Não tenho nem palavras... Conseguimos estar aqui vivos para ver isso. É uma emoção especial", falou a enfermeira.

Onildo também ressaltou que é importante se vacinar, como forma de prevenção. "Pior é a doença. Você vacinado, se você for acometido da doença, ela não tem o mesmo efeito. Vim e me preveni, se a doença me pegar, eu estou vacinado", finalizou.

Nascido em Caruaru, no dia 13 de agosto de 1928, o compositor Onildo Almeida orgulha-se em dizer que é filho da Capital do Agreste. Músicas do caruaruense ganharam destaque e já foram tocadas em diversos países, como Inglaterra, Portugal, Espanha, Suécia, Itália, Estados Unidos, Rússia e até a antiga Tchecoslováquia. Sobre essa conquista, Onildo afirma: "Eu ganhei o mundo sem sair de Caruaru".

Filho de José Francisco de Almeida e Flora Camila de Almeida, Onildo teve o apoio dos pais para seguir no caminho da música. Ainda adolescente, o compositor fez parte de grupos musicais locais, mas foi ao ingressar no rádio que ganhou notoriedade.

Ao longo da vida, o artista sempre buscou entoar nos versos de suas composições o nome da cidade natal. Uma das maiores obras dele, se "A Feira de Caruaru", fala desde coisas comuns às mais inusitadas que são vendidas no local até os dias atuais. Na entrada da feira, que é patrimônio cultural imaterial do Brasil desde 2007, há uma estátua em homenagem ao compositor.

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REPORTAGEM ESPECIAL: A ECONOMIA SOLIDÁRIA ESTÁ NA MODA NO TOQUE DO DESENHO E AO SOM DA ZABUMBA

Toque de Zabumba é um empreendimento atendido pelo Cesol-SSF que trabalha com a confecção de roupas exclusivas, com estampas que retratam a cultura e tradição do Sertão Nordestino.

Uma sala de reboco repleta de elementos que remetem o Sertão. No canto da parede, uma mesa antiga de madeira com um violão envelhecido, uma radiola que embalou muitas festas naquele espaço, um chapéu de couro, panelas e moringas de barro, imagens de santos católicos na parede. Em frente a sala de barro, uma réplica do meteorito de Bendegó, encontrado em 1784 na cidade de Canudos. Ao lado da réplica, uma cobertura aconchegante de madeira, decorada com palhas de coqueiros, que convida qualquer pessoa para um cochilo no balanço de uma rede.

É neste cenário simbólico, cheio de beleza e arte que nascem as produções do artista plástico Gildemar Sena Oliveira ou simplesmente Sr. Gil, como é conhecido popularmente em Uauá-BA, localizada no Norte do estado. O artista produz à mão desenhos temáticos do Sertão, que retratam as vivências, a cultura e a tradição regional em camisas de malha e tecido, vestidos, shorts, calças, macaquitos, bolsas e desenhos em papel canson.

Toque de Zabumba Confecções como é conhecido o grupo familiar atendido pelo Centro Público de Economia Solidária Sertão do São Francisco (CESOL-SSF), entidade vinculada à Secretaria do Trabalho Emprego, Renda e Esporte do Estado da Bahia (SETRE), presenteia os clientes do Vale do São Francisco com a tradição de vestir-se com belas artes.

O traço característico dos seus desenhos são marcados pelo bico de pena com tinta nanquim, técnica que surgiu há mais de 4.500 anos na China e que dá sutileza e vida as produções do artista baiano, a partir do uso intenso da cor preta.

"E eu me encontrei no bico de pena. Primeiro trabalhei com grafite e depois fiz algumas coisas em caneta esferográfica e me encontrei no nanquim. O desenho flui mais. O preto se torna colorido. Eu sinto que tem cores no preto", enfatizou Gildemar Sena.

Gildemar Sena encontra inspiração bebendo da fonte do cangaço, na fonte das histórias que cercam Canudos, da Cultura Popular, da flora e fauna da Caatinga. Segundo Gil, a caatinga faz parte do seu ser e a paixão pelo bioma o inspira diariamente para a criação de novas produções. 

"Eu tenho uma paixão muito grande pela caatinga. É como se ela fosse a minha bateria. Se eu passar muito tempo longe dela fico mal. Sinto a necessidade de estar nas caatingas e sentir o mato batendo no meu peito, sentir o vento, o cheiro da vegetação, as cores", justificou o artista plástico.

Gil se descreve como um cabra que vem das barrancas do São Francisco, especificamente da cidade do Juazeiro, no Norte da Bahia.  Músico, poeta e compositor, Gildemar Sena nasceu no dia 29 de julho de 1957 e durante a infância se destacava com os desenhos que produzia.

Na década de 1970, mudou-se para Guaratuba no Paraná onde morou por 4 anos.  Foi aprovado no concurso público da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) para a área administrativa e conciliava a vida de funcionário público federal com o hobbie do desenho, que logo se tornou uma importante fonte de renda para o artista. Como não tinha acesso à televisão no período, passou a desenhar as animações favoritas como Fred Flintstone e o Manda Chuva e sua Turma.

"Eu nunca me afastei da minha arte. Era muito mais forte do que eu desenhar do que ser funcionário público. Estava como servidor para sobreviver", explicou com muitos risos Sr. Gil.

Ao retornar à Bahia, atuou em Uauá na construção de um hospital. A proposta era morar no local por um ano, mas o clima cultural da cidade acolheu o artista de forma intensa e há quarenta anos se estabeleceu e construiu família. Gildemar Sena é casado com a artista e poetisa Maria Perpetua Socorro Peixinho, conhecida como dona Petinha, tem quatro filhos e seis netos.

Em terras baianas, Sr. Gil também bebeu da fonte artística de Manuca Almeida no início da década de 1980, onde teve acesso pela primeira vez, ao trabalho com confecções, onde também passou a desenvolver desenhos de cunho político.

Gildemar Sena é responsável por presentear, com lindas artes, os clientes do semiárido baiano. As peças ricas em detalhes são confeccionadas por três costureiras de Uauá, que fazem uma nova economia acontecer no Sertão.

Toque de Zabumba Confecções tem promovido a geração de renda para as famílias envolvidas no trabalho e tem ganhado clientes em todo o estado com a produção de bolsas, camisas masculinas e femininas, saias, croppeds, macacões, macaquitos costurados em tecido de algodão cru.

O artista faz os desenhos à punho e trabalha com a técnica de aplicação em serigrafia. O segundo processo fica sob a responsabilidade das costureiras, que dão vida as roupas do grupo, a partir do desenho dos modelos e as confecções das roupas.

Cada modelo possui características próprias que marcam a identidade de quem adquire, além de serem peças únicas, produzidas com exclusividade. Algumas delas seguem as tendências da moda, com cores mais claras, decotes e amarrações, calças pantalona e pantacourt, saias godê, midi, evasê, vestidos curtos e longos de alça.

As peças do grupo são ricas em detalhes e carregam elementos simbólicos do Sertão, que marcam a trajetória do sertanejo, a exemplo do candeeiro, do umbuzeiro, do xique-xique, do mandacaru, do sofrê, da ararinha azul, locais que marcaram a história de Uauá e região, além de homenagear pessoas da comunidade que fazem a diferença com o desempenho dos seus trabalhos como as catadeiras de umbu, o sanfoneiro, o zabumbeiro, o tocador de pífano.

O Centro Público de Economia Solidária Sertão do São Francisco foi inaugurado em 2013 em Juazeiro e atende grupos familiares e empreendimentos em dez cidades do território Sertão do São Francisco, entre elas estão Campo Alegre de Lourdes, Canudos, Casa Nova, Curaçá, Juazeiro, Pilão Arcado, Remanso, Sento Sé, Sobradinho e Uauá.

A entidade atua diretamente com 128 grupos da Economia Solidária, alcançando mais de 1.000 famílias, que recebem assistência técnica da equipe, a partir do processo de qualificação dos produtos, análise das embalagens, rotulagens e, principalmente, no apoio à comercialização, por meio da inclusão nos mercados convencionais, feiras e eventos realizados no território.

A equipe técnica atende o grupo Toque de Zabumba Confecções há aproximadamente um ano, com sugestões para a melhoria dos produtos e apoio à comercialização das peças produzidas pelo artista.

"Temos muito a agradecer ao Cesol por esse carinho e essa reciprocidade no decorrer dos atendimentos. Quando a gente liga para os técnicos ou quando eles vem aqui, percebemos uma atenção especial com a gente, além de orientações que tem permitido o crescimento do nosso trabalho", enfatizou o artista plástico Gildemar Sena. (Fonte: Texto e fotos: Comunicação Cesol-SSF-Sheila Feitosa)

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CAÍ NA ESTRADA COM OS NOVOS BAIANOS É O LIVRO DE MEMÓRIAS QUE MOSTRA INTIMIDADE DO COLETIVO MAIS CRIATIVO DA MÚSICA BRASILEIRA

A intimidade do coletivo mais criativo da MPB. Uma frase como essa poderia vir estampada na capa de "Caí na Estrada com os Novos Baianos", envolvente e muito engraçado livro de memórias de Marília Aguiar, que viveu no olho desse furacão hippie desde seu início.

Menina paulistana, estudante de jornalismo, ela se uniu a Paulinho Boca de Cantor no final de 1969, quando a trupe que inicialmente tinha também Pepeu Gomes, Moraes Moreira, Baby Consuelo e Luiz Galvão era só um punhado de baianos divertidos meio perdidos entre São Paulo e o Rio de Janeiro. A banda morou junto até a sua dissolução, em 1979.

"Eu nunca tive intenção de escrever. Faço produção de show, o que exige uma dedicação muito grande", conta a autora. Em 2017, cuidando de uma turnê de Simone e Zélia Duncan, ela arrancava gargalhadas das cantoras com suas histórias com os Novos Baianos.

Zélia insistiu para que ela escrevesse um livro. Não por acaso, a cantora é autora do prefácio. "Só queria contar as histórias, todas reais, como eu contei para elas, sem compromisso."

Antes de estabelecer residência no mítico sítio em Jacarepaguá, em meados dos anos 1970, os Novos Baianos chegaram a ser, literalmente, nômades. Sem dinheiro, compartilhavam as poucas roupas. Comiam e dormiam em casas de amigos. A "tática" era simples e bem cara de pau. Chegavam antes do jantar e iam ficando. Enquanto anoitecia, cada um começava a dormir em um canto, para acordar só pela manhã.

"Ninguém tinha dinheiro e isso não era problema para a gente", conta Marilinha, como era chamada. Em momento algum eles discutiam sobre sua opção de vida. "A gente não conversava sobre isso, não teorizava se era hippie ou não. A gente não teorizava sobre nada."

Os Novos Baianos produziram seus grandes discos na primeira metade dos anos 1970, conquistando críticos e fãs com sua mistura inusitada de ritmos brasileiros e espírito rock and roll. O que surpreende bastante no livro é saber que, mesmo já lançando álbuns no mercado, continuavam vivendo sem dinheiro.

Quando entrava pagamento de algum show, compravam alguma comida (tinham filhos pequenos na comunidade), muita maconha e, sempre, equipamento para o time de futebol. A paixão de todos pela bola é muito conhecida, mas a intensidade da dedicação ao futebol é outra surpresa do livro.

O futebol era mais importante do que a música. Não aceitavam agenda da gravadora no horário vespertino do sagrado joguinho diário. Chegaram a faltar a uma gravação para o Fantástico, na época a maior divulgação nacional almejada pelos artistas, por causa do futebol.

"Quando pintava dinheiro, iam até a lojinha do Nilton Santos comprar material para o time", conta Marília. "Levavam tudo nas turnês. Tinham uma malinha de primeiros-socorros com a inscrição Novos Baianos Futebol Clube. Tinha até massagista, que era um índio argentino que morava com a gente."

A crítica musical dedicou muito tempo a analisar as propostas estéticas da banda contidas em álbuns essenciais na MPB como "Acabou Chorare", de 1972, e "Novos Baianos F. C.", de 1973, mas a autora pode decepcionar especialistas ao contar que os integrantes não discutiam em momento algum os caminhos de sua música.

"Era muito intuitivo. Completamente natural. Eles não conversavam sobre isso, não teorizavam. Moraes já acordava com o violão, antes de escovar os dentes estava tocando. Pepeu sentava junto e eles tocavam, sem conversar. Aí Galvão pegava um papelzinho e escrevia a letra. Estava pronto, sem falação", recorda a autora.

Narrado em ritmo de conversa de amigos, com informalidade e humor, "Caí na Estrada com os Novos Baianos" tem lugar numa biblioteca básica da MPB.

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PROFESSORA DA URCA LANÇA O LIVRO MINGUIRIBA: MEMÓRIA E IDENTIDADE, COM VALORIZAÇÃO DA HISTÓRIA COMUNITÁRIA

Lançado de forma virtual, o livro “Minguiriba: Memória e Identidade”, de Francisca Eugenia Gomes Duarte, professora efetiva do Curso de Letras da Universidade Regional do Cariri – URCA, doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Mestre em Biblioteconomia pela UFCA pesquisa do Mestrado em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Cariri (UFCA).

O trabalho reúne um rico acervo de depoimentos resultado da pesquisa realizada in loco, pela pesquisadora que irá servir de memória da comunidade, num resgate da história de um povo. A autora é filiada aos Grupos de Pesquisa Memória, Arquivo e Patrimônio – MAPA (UFCA) e aos Grupos de Estudo: Discurso Cultura e Identidade – DISCULTI – (URCA) e GRECOM (UFRN).

Além do livro, foi produzido um documentário rico em depoimentos, onde os narradores do Minguiriba compartilham a sua memória e a sua história, antes ignorada pela historiografia oficial, deixando a informação ao alcance de alunos, professores, pesquisadores e público em geral.

No lançamento, a professora apresentou a comunidade Minguiriba e fez um relato sobre o surgimento e desenvolvimento da sua pesquisa, com a participação da professora Ariluci Goes Elliot, dos Cursos de Graduação e do Programa de Pós-Graduação em Biblioteconomia e Coordenadora do grupo de Pesquisa Memória, Acervos e Patrimônio – MAPA/UFCA, e do professor Marcos de França, dos Cursos de Graduação e do Programa de Pós-Graduação em Letras da URCA e Coordenador do grupo de Estudo em Discurso Cultura e Identidades – DISCULTI.

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ESPERANÇA: PESQUISADORES DE CUBA APOSTAM EM CRIAR A PRIMEIRA VACINA DA AMÉRICA LATINA CONTRA A COVID-19

Os pesquisadores cubanos estão empenhados na tarefa de desenvolver a primeira vacina contra o coronavírus concebida e produzida na América Latina.

“Temos a capacidade para fabricar 100 milhões de doses” em 2021 da Soberana 2, o projeto de vacina mais avançado, afirmou o doutor Vicente Vérez, diretor do instituto de vacinas Finlay. “Se tudo correr bem, este ano teremos toda a população vacinada”.

O país é um dos menos afetados da região pela pandemia com  casos registrados e 180 mortes, entre uma população de 11,2 milhões de habitantes.

O objetivo é lançar a campanha de vacinação no primeiro semestre. Para os cubanos, a vacina seria gratuita e não obrigatória. Também seria uma "opção" para os turistas, disse Vérez. Em um país onde um quarto do orçamento é destinado à saúde e os médicos são vistos como heróis, participar dos ensaios se tornou um dever cívico. 

Os cientistas cubanos trabalham em quatro vacinas: Soberana 1 e 2, Abdala (chamada assim por um poema dramático do herói nacional José Martí) e Mambisa (nome das mulheres cubanas durante a luta pela independência no século XIX). 

As três primeiras são administradas com uma injeção e a quarta com um spray nasal. - "30 anos de experiência" Cuba "foi a primeira candidata da América Latina e do Caribe a colocar sua vacina em fase clínica", destaca José Moya, representante local da Organização Mundial da Saúde (OMS), e se diz "otimista". 

O motivo de seu otimismo é porque "Cuba tem mais de 30 anos de experiência em produzir suas próprias vacinas. Quase 80% das vacinas do programa nacional de imunização de Cuba são produzidas no país".

Sob um embargo dos Estados Unidos imposto desde 1962, a ilha teve que buscar seus próprios remédios. Na década de 1980, apostou na biotecnologia, descobrindo a primeira vacina contra o meningococo B, conta Nils Graber, pesquisador de antropologia da saúde da Universidade de Lausanne (Suíça).

A exportação dos serviços médicos - medicamentos, vacinas e equipe médica - é atualmente a principal fonte de renda de Cuba, com 6,3 bilhões de dólares em 2018. Em 2020, a ilha enviou equipes médicas para 40 países para o combate ao coronavírus.

Onze legisladores australianos enviaram carta ao Comitê norueguês para indicar ao prêmio Nobel da Paz o contingente médico cubano “Henry Reeve”. Eles pertencem ao Grupo Parlamentar Austrália – Cuba.

O documento, apresentado pela deputada do Partido Trabalhista Maria Vamyakinou, ressalta o trabalho humanitário dos integrantes das 53 brigadas enviadas a 39 países para ajudar no enfrentamento à Covid-19, em meio a desafios sem precedentes.

Indica que desde sua criação em 2005, o contingente médico cubano especializado em grandes desastres e epidemias tem salvado cerca de 90 mil vidas de danificados por desastres naturais, como o terremoto no Paquistão nesse ano, o surto de cólera no Haiti em 2010, e o de ebola na África Ocidental em 2014.

O texto aponta que é preciso promover a cooperação e solidariedade entre os povos, como via efetiva para resolver os problemas globais.

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MAIS DE 2,5 MIL MORADIAS SÃO CONSTRUÍDAS EM ASSENTAMENTOS DE PERNAMBUCO

O Incra em Pernambuco iniciou, na terceira semana de janeiro, a construção de 2.595 casas em 60 assentamentos da reforma agrária, por meio da aplicação do Crédito Instalação na modalidade Habitacional. Com um investimento de aproximadamente R$ 88 milhões, a autarquia beneficiará famílias em todas as regiões do estado.

As moradias são viabilizadas a partir de acordos de cooperação técnica realizados pelo instituto com entidades representativas dos beneficiários, selecionadas por meio do chamamento público nº 490, publicado em 2 de outubro de 2020.

Cada residência tem área construída de 53 metros quadrados, sendo composta por dois quartos, banheiro, sala, cozinha e área de serviço. O projeto das casas segue o padrão já adotado nas construções realizadas em 2019 e 2020, considerando que Pernambuco e Sergipe foram os estados responsáveis pelos projetos pilotos para a implantação da modalidade Habitacional pelo Incra. Os procedimentos operacionais para a concessão, acompanhamento e fiscalização do crédito foram regulamentados por meio da Instrução Normativa Incra nº 101/2020, que trata de construção e reforma de casas, publicada em 1º de outubro de 2020.

Para Sebastiana Gomes de Aguiar, beneficiária do assentamento Nossa Senhora do Rosário, no município pernambucano de Pesqueira, a aquisição da moradia é uma conquista. “É um sonho de muitos anos ganhar a nossa casa e, graças a Deus, através do Incra a gente hoje pode dizer que é uma comunidade rica em benefício, porque além das casas também acessamos outros créditos para desenvolver a nossa produção”, comemora.

O agricultor José Carlos Florentino dos Santos, do assentamento Pau Ferro II, no mesmo município, também vai receber sua moradia. “O Crédito Habitacional vai ser uma boa, porque estamos em uma casa deteriorada e, com a nova residência, vamos ter uma vida melhor”, declara.

Segundo o superintendente regional do Incra/PE, Thiago Ângelus, a ação representa o resultado do esforço conjunto dos técnicos da autarquia. 

“Logo após o lançamento da instrução normativa, em outubro de 2020, a equipe da regional tratou de dar celeridade ao credenciamento das entidades responsáveis pelo acompanhamento dos projetos. De forma eficiente, conseguimos instruir todos os processos e já estamos com várias frentes de obras abertas para a construção de habitações nos assentamentos. Nosso objetivo é entregar, no primeiro semestre de 2021, mil residências a beneficiários da reforma agrária no Estado de Pernambuco”, destaca.

SERTÃO: Os assentamentos do Sertão serão contemplados com 1.536 habitações, o que corresponde a um investimento de aproximadamente R$ 52 milhões, o que significa um implemento de recurso público na economia da região, com geração de emprego e renda.

O Crédito Habitacional é voltado exclusivamente para a construção de moradias nos assentamentos. O valor é de até R$ 34 mil por família, sendo liberado em duas parcelas de R$ 17 mil cada, observado o cronograma de execução do projeto de construção. O recurso é disponibilizado através de cartão magnético gerado em nome do beneficiário.

Para ter direito ao recurso, a família assentada deve constar na Relação de Beneficiários (RB) do Sistema de Informações de Projetos de Reforma Agrária (Sipra) e não ter recebido anteriormente o Crédito Instalação nas modalidades Habitação, Aquisição de Materiais de Construção e Recuperação/ Materiais de Construção, em valor igual ou superior ao montante de R$ 10 mil, entre outros requisitos.

O beneficiário terá prazo de três anos, a contar da data de liberação do crédito, para sua quitação, em parcela única, com juros anuais de 0,5% e desconto de 96% do saldo devedor. Em caso de inadimplência, o valor integral será acrescido de juros e multa. (Ascom Incra PE)

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CHAPADA DO ARARIPE PODE SER RECONHECIDA COMO PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE

"A gente sempre acreditou e eu digo que o Cariri é um estado de espírito onde o vento sopra com saudade do mar. Essa frase, quando diz o estado de espírito, o estado é o território, o espírito é a cultura, e o vento que sopra com saudade do mar é, trazendo toda uma antiguidade paleontológica e geológica, que o mar já esteve aqui. Exemplo o Rio São Francisco já esteve aqui. Então, essa é a nossa força". (Alemberg Quindins)

Luiz Gonzaga cantou, Patativa do Assaré poetizou e Padre Cícero doutrinou. Todos eles e muitos outros que vieram antes de Alemberg Quindins usaram expressões diferentes para alcançar, talvez, o mesmo propósito evocado hoje pelo cratense: o reconhecimento da Chapada do Araripe, que inclui Ceará, Pernambuco e Piauí, como Patrimônio da Humanidade. 

"Eu sou mais um que fala. E tive a sorte de ter pessoas à frente de uma instituição que tem condições, que é a Fecomércio, de me ouvir, de acreditar em mim", enfatiza o idealizador da Fundação Casa Grande.

A afirmação veio acompanhada da realização de um Seminário Internacional em três cidades do Cariri cearense - Juazeiro do Norte, Crato e Nova Olinda, ano passado. Participaram representantes de instituições federais e pesquisadores com trabalhos conceituados dentro e fora do País. Eles traçaram metas a serem atingidas a curto, médio e longo prazos para a concretização do objetivo.

Uma pergunta inquietante, feita pela chefe de Divisão de Reconhecimento Internacional de Bens Patrimoniais do Iphan, Candice Ballester, norteou as atividades: afinal, por que ser Patrimônio da Humanidade?

E foram os próprios atores sociais os convidados a respondê-la, formalmente, em discursos, ou nas dinâmicas de apresentações artísticas e inaugurações de três museus orgânicos nos municípios anfitriões do Seminário. A questão principal, como bem explicou Candice, é que o título, antes de ser algo que vem de fora, nasce como uma provocação interna de quem o deseja. Por isso mesmo, precisa ser devidamente compreendido pelos homens e mulheres da Chapada, protagonistas dessa construção.

"Não se trata de uma faixa de miss. É um compromisso internacional de conservação e preservação desse patrimônio, e isso exige muito mais que um dossiê", diz.

As respostas que deram sequência a esse questionamento foram dignas da diversidade natural, cultural e paleontológica, única frente às outras candidaturas, como mais tarde viria a salientar a própria Candice. "Nós já somos Patrimônio da Humanidade", bradariam todos em convergência, transformando o seminário numa reafirmação da identidade regional.

Mais do que um acordo do povo, este reconhecimento foi sugerido por Alemberg Quindins como um compromisso com a história da terra. "A Chapada, durante todo o movimento do planeta, manteve-se perene e sendo um ponto de destaque onde está. O Rio São Francisco já foi aqui, e mudou o curso quando ela foi soerguida. Nós temos registros dos animas mais longínquos. Há 3.300 anos A.C., o homem já estava em torno da Chapada, fazendo cerâmica, dançando, fazendo pintura rupestre, com toda uma formação cultural já organizada. Então, temos aqui um tesouro vivo".

E a vontade do próprio Alemberg de contar isso para o mundo surgiu ainda na infância, quando ele "ouvia" e "se via" nas lendas sobre a região contadas por uma mulher indígena do Cariri; e também anos depois, já com a companheira, a arqueóloga Rosiane Limaverde (1964-2017), ao deparar-se com o desconhecimento das pessoas sobre a importância histórica daquele platô. "Um dia, eu olhei para a Chapada e tive uma intuição: ou aqui já aconteceu uma coisa muito grande ou está para acontecer". E por que não os dois?

"A gente sempre acreditou e eu digo que o Cariri é um estado de espírito onde o vento sopra com saudade do mar. Essa frase, quando diz o estado de espírito, o estado é o território, o espírito é a cultura, e o vento que sopra com saudade do mar é, trazendo toda uma antiguidade paleontológica e geológica, que o mar já esteve aqui. Então, essa é a nossa força".

Foi essa reflexão que levou o gestor, no fim de 2017, a Portugal e Marrocos a fim de entender a dinâmica da candidatura a Patrimônio e de gestar o Seminário ao lado de parceiros como a professora Maria da Conceição Lopes, diretora nacional do Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Patrimônio da Universidade de Coimbra e uma das principais vozes a favor desse reconhecimento mundial.

O processo que pode culminar no título almejado, porém, não escapa das burocracias das instituições, e esbarra numa série de fatores detalhados nas falas de Candice Ballester e do representante do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), Júlio Sampaio. Com autenticidade, integridade e universalidade garantidas, a Chapada do Araripe deixa a desejar em outros aspectos dentro dos parâmetros internacionais.

O primeiro deles é a falta de reconhecimento no próprio País. O único bem imaterial da Região registrado junto ao Iphan, por exemplo, é a Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio de Barbalha, cuja candidatura levou cinco anos para ser aprovada, entre 2010 e 2015. "Convencionou-se nacionalmente que a gente só apresenta um bem ao reconhecimento internacional quando ele já é reconhecido nacionalmente", explica Candice. Esse é um dos entraves a serem resolvidos, inclusive no âmbito estadual.

A principal vantagem se dá com o título do Geopark Araripe como o primeiro parque geológico das Américas reconhecido pela Unesco. Essa chancela internacional eleva as possibilidades da candidatura, mas há muito a caminhar. Inclusive para incluir a Chapada na lista indicativa do Iphan, que só costuma ser revista a cada dez anos. A última revisão foi em 2015.

"É preciso primeiro apresentar ao Iphan uma solicitação, reunindo informações e argumentações técnicas, para que a gente possa rever a inclusão da candidatura da Chapada e região do Cariri, que ela componha a lista indicativa brasileira porque se não estiver nessa lista e aprovada previamente para constituir uma candidatura com a Unesco, a gente não existe, não tem nem como iniciar nenhum procedimento", pontua Candice.

O Secretário Estadual da Cultura, Fabiano Piúba, também sinalizou o apoio do Governo do Estado. "Comprometemo-nos com uma parte do orçamento da LOA 2020 e do Plano Plurianual 2020-2023 para viabilizar a elaboração do dossiê, estabelecendo as articulações institucionais com os governos de Pernambuco e Piauí, instaurando as articulações com as prefeituras municipais, promovendo mesas de trabalhos com especialistas e viabilizando a aprovação do registro do Cariri como patrimônio pelo Conselho Estadual do Patrimônio Cultural. O fato é que o governador Camilo Santana, que é um homem do Cariri, está muito animado e vai se envolver pessoalmente com esse projeto".

PADRE CÍCERO: "Qual Padre Cícero vamos colocar no dossiê? O renegado pelo Crato ou o reverenciado por Juazeiro?", perguntou um dos participantes do Seminário Internacional Patrimônio da Humanidade Chapada do Araripe após mesa dedicada ao "Padim" no imaginário simbólico do Cariri. A ele, Alemberg Quindins, idealizador do movimento, respondeu: "Só existe um Padre Cícero e o Crato está dentro dele".

O sacerdote cratense e fundador da vizinha Juazeiro do Norte, que obteve prestígio e influência sobre a vida social, política e religiosa da região foi reconhecido pelos presentes como personagem histórico "absolutamente inserido na candidatura da Chapada do Araripe como Patrimônio Mundial.

"Padre Cícero foi o grande cacique, o último dos caciques Cariri, e ele resgatou todas as migrações para a região da Chapada, usando a estrutura da Igreja. Até um dia em que a Igreja desconfiou e expulsou ele, porque notaram que não era um apóstolo de Roma, mas o apóstolo de um povo", diz Quindins. A força que essa imagem evoca, mesmo 87 anos depois de sua morte, sem dúvidas, será motriz.

*A repórter Roberta Souza viajou ao Cariri a convite do Sesc-CE 

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