WEBNÁRIO TURISMO RESPONSÁVEL NA CHAPADA DO ARARIPE TEM INÍCIO NESTA SEXTA-FEIRA (18)

 


O Webinário Turismo Responsável na Chapada do Araripe term início nesta sexta-feira (18), às 19hs.

O Webinário Turismo Responsável na Chapada do Araripe, acontece entre os dias 18 a 30 de setembro. A conferência de abertura conta com a participação de Professor doutor Alemberg Quindins criador da Fundação Casa Grande com o tema Turismo Responsável na Chapada do Araripe.  

O Webinário Turismo Responsável na Chapada do Araripe tem como objetivo compartilhar de que forma os saberes e fazeres das comunidades tem sido uma importante ferramenta inclusiva desenvolvida pela Fundação Casa Grande vem construindo a identidade cultural do cariri trabalhando a inclusão social e o desenvolvimento econômico através do turismo responsável por meio de construção de hospedagem domiciliares, implantação de pólo gastronômico, fomentação do arranjo produtivo local, regularização de transportes alternativos, criação de operadora turística, promoção de eventos, pesquisa científica e formação acadêmica e idealização de rede de Museus Orgânicos.

A conferência de abertura conta com a participação de Professor doutor Alemberg Quindins criador da Fundação Casa Grande com o tema Turismo Responsável na Chapada do Araripe. 


Data da Conferência de Abertura será dia 18 de Setembro de 2020 às 19h no Facebook da @fundacaocasagrande 

O evento conta com a parceria da Universidade de Coimbra através do Centro de Arqueologia, Artes e Ciências do Patrimônio, Universidade Regional do Cariri - URCA, Geopark Araripe Mundial da Unesco, Sistema Fecomércio e SESC Ceará, Grupo São Geraldo, Iu-á Hotel e Secretaria de Cultura do Governo do Estado do Ceará.

Link para inscrições!

https://docs.google.com/forms/d/1O9j49uezNflaQAoDl07GNzb8dPO7Zear4m5EJMeCiI0/viewform?edit_requested=true

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BOLSONARO DESCONSIDERA PRIMEIRO COLOCADO PARA REITORIA DE 38% DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS

Quando assumiu a Presidência, Jair Bolsonaro (sem partido) deixou claro que não necessariamente seguiria a vontade da comunidade acadêmica na hora de nomear os reitores das universidades federais do Brasil. Um dos casos acontece na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf). Eleitos democraticamente a faculdade é comandada por um Reitor Temporário.

O não respeito pela lista voltou a acontecer ontem quarta-feira (16), na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O nome do professor Carlos André Bulhões Mendes apareceu em publicação do Diário Oficial da União como novo o reitor da instituição, apesar de ter sido apenas o terceiro mais votado na eleição interna.

O caso não é fato isolado. De acordo com levantamento feito pelo (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, desde 2019, Bolsonaro já recebeu 38 listas tríplices – com os candidatos por ordem decrescente de votação – de universidades que tiveram eleições até o momento.

Entre as que chegaram às mãos presidenciais, o martelo foi batido em 26. Dessas, nove não tiveram o nome vencedor respeitado, com a escolha ficando entre o segundo e o terceiro colocado. Em uma, o escolhido nem sequer fazia parte dos indicados pela comunidade acadêmica.

As 12 restantes aguardam parecer do chefe do Executivo. Entre elas, a Universidade de Brasília (UnB), que reelegeu Márcia Abrahão, com 54% dos votos, no fim de agosto. Em entrevista exclusiva à Grande Angular, a reitora afirmou que tem “boa expectativa” em relação à escolha do presidente Jair Bolsonaro. “A comunidade disse, com muita firmeza, o que quer para a UnB. Fomos eleitos em primeiro turno”, falou.

Até Bolsonaro assumir o governo, o primeiro, com mais votos, era tradicionalmente o escolhido. No último ano de Michel Temer, por exemplo, as 11 nomeações divulgadas foram do candidato mais votado.

A recente quebra da prática tem incomodado acadêmicos. “O governo pode decidir, mas, para nós, que mobilizamos estudantes, professores, técnicos, isso sai muito caro. Afinal, nós ensinamos em sala de aula que a democracia é um valor e deve atender o interesse da maioria. Essa liberdade tem que ser minimamente respeitada”, defende o professor da UnB e diretor do Sindicato dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), Erlando da Silva Rêses.

A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) convocou, para esta quinta-feira (17), um ato virtual que tem o intuito de pedir a revisão do orçamento do Ministério da Educação para o próximo ano e “reafirmar a importância de serem conduzidos ao cargo de reitor ou reitora aqueles docentes autonomamente indicados no primeiro lugar pelo colégio eleitoral de suas respectivas universidades, sendo garantido assim um elemento definidor da democracia, que é o respeito à vontade da maioria”, diz o texto.

REITORES PRO TEMPORE: No Brasil, existem oito instituições federais com reitores pró-tempore, designados pelo presidente quando estiverem vagos os cargos ou não houver condições de regularizar a nomeação. (Fonte: Rafaela Lima-Metropoles)


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JORNALISTA SENTOSEENSE REALIZA LANÇAMENTO DO LIVRO "SENTO SÉ: MEMÓRIAS DE UMA CIDADE SUBMERSA'

A Jornalista Adzamara Amaral, lançou nesta quarta-feira (16), o seu primeiro livro, intitulado "Sento Sé: Memórias de uma cidade submersa", no Plenário Vereador José Custódio Pacheco, na Câmara Municipal de Sento Sé. O evento reuniu diversos educadores e pessoas interessadas em conhecer a história do nosso município a partir das memórias dos próprios moradores. 

recebeu e conversou com todos os convidados, assim como autografou muitos exemplares. A obra é fruto do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), em Jornalismo em Multimeios, na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), sendo publicada pela editora Chiado.

No livro, o passado parece tão vivo como outrora. A autora reconstrói a sede da antiga cidade inundada pela barragem de Sobradinho, a partir de referências sobre o espaço – o cais, a antiga igreja, as ruas -; por ritmos mediados pelo tempo – a chegada dos vapores, o plantio, a extração da carnaúba -; e por lembranças da infância e da juventude no cotidiano da antiga cidade.

Ao olhar para a antiga cidade de Sento-Sé, Adzamara Amaral nos coloca em contato com relatos de senhores e senhoras que testemunharam as transformações ocorridas no espaço físico, nas tradições e nos costumes. O livro também compartilha uma saudade de um tempo vivido e as dificuldades de recuperar parte do seu patrimônio material e imaterial.

De acordo com Adzamara, o livro também é uma tentativa de registrar a história e os dados da cidade para as próximas gerações. "Caso não haja uma catalogação dos dados do município, das vivências, a história da cidade poderá se perder. Como as pessoas que guardam estas memórias já estão em idade avançada, também poderá não haver registro para as futuras gerações acerca do deslocamento da população, do cotidiano da cidade nem da cultura popular", reforça.

AUTORA: Adzamara Rejane Palha Amaral é natural de Sento Sé (BA), possui graduação em Jornalismo em Multimeios pela Universidade do Estado da Bahia (2008-2012), graduada em Pedagogia pela Universidade de Pernambuco (1998-2002) e mestrado em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental pela Universidade do Estado da Bahia-UNEB (2018-2019). Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Jornalismo e Editoração, atuando principalmente nos seguintes temas: memória e história oral da imprensa. Tem interesse em pesquisa, docência e Jornalismo.

Onde comprar? O livro está disponível para venda em E-book pela Google Play Livros e Amazon no valor de R$: 9,00.

O livro físico pode ser comprado pelos sites: Amazon, Livraria Cultura e Livraria Martins Fontes no valor de R$:46,00.

O livro físico também está sendo vendido em Sento Sé pelo Blog Sento Sé Notícias. WhatsApp (74) 9 9967 4795. (*Texto: Gabriel Filliph e Adzamara Amaral - Fotos: Leonardo Rodrigues)

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POLUIÇÃO AGRIDE MARGENS DO RIO SÃO FRANCISCO NO BAIRRO ANGARY EM JUAZEIRO BAHIA

A Cena de poluição mais uma vez flagrada pela reportagem do BLOG NEY VITAL, nas margens do Rio São Francisco, no Angari, local que deveria ser um dos pontos de visitação e exemplo de educação ambiental. O que se assiste nas proximidades da estátua do Nego D'agua é poluição. São garrafas plásticas, embalagens plásticas, vidros, metais, tecidos, materiais de pesca, madeira manufaturada, borrachas, isopor, espumas e papel, entre formas de poluição.

Dezenas de pesquisadores alertam que grandiosidade do rio São Francisco sempre despertou no ribeirinho a errônea ideia de que suas águas seriam capazes de absorver tudo o que é descartado em suas águas. Atualmente, o despejo inadequado do resíduo sólido é um dos grandes problemas e mata o Velho Chico. 

Falta educação, solidariedade, respeito para os frequentadores do local: o lixo deve ser recolhido.

Ano passado Técnicos do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) estiveram em Petrolina e em Juazeiro, para medir a quantidade de água do rio São Francisco, neste trecho. O trabalho foi feito a serviço da Agência Nacional de Águas (ANA). Os resultados mostram que o Velho Chico perdeu muita água ao longo dos últimos 30 anos. Situação que preocupa quem depende do rio.

“O rio está mais seco, né? Poluição também, bastante aí… sem chuva, está fraco aí a pescaria. Está difícil, a vida de pescaria está muito difícil”, lamenta o pescador Aluísio Rodrigues da Silva.

O Rio São Francisco é um dos maiores da América do Sul. É um manancial que passa por cinco estados e 521 municípios brasileiros, com nascente no centro-oeste de Minas Gerais. O percurso segue pelos estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, onde desagua no Oceano Atlântico.

O Velho Chico possui área de aproximadamente mais de 2,8 mil quilômetros de extensão. Ao longo dos anos, o rio tem sido vítima da degradação ambiental do homem como desmatamento, assoreamento, poluição e construção de usinas hidrelétricas.


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INSS ANUNCIA QUE NÃO HÁ PREVISÃO DE RETORNO PARA PERÍCIAS MÉDICAS

Depois de mais de cinco meses com as portas das agências fechadas por causa da pandemia, o INSS ainda não tem prazo para normalizar o serviço de perícias médicas. A cena se repete nesta quarta-feira (16) nas agências do INSS. Em muitas cidades, problemas no atendimento. Sem perícia médica, segurados tiveram que voltar para casa.
Um dos serviços públicos mais requisitados durante o período de pandemia tem sido aqueles prestadas pelo INSS. Seja pela crise sanitária que trouxe consigo milhares de doentes e mortos, seja pela queda de renda da população, a busca por benefícios previdenciários cresceu sobremaneira.

Desde segunda (14) o que deveria ter sido o dia da reabertura das agências do INSS depois de meses, foi um pesadelo para dezenas de juazeirenses. A falta de médicos peritos é considerado um desrespeito para quem precisa da prestação de serviço.

A professora de Direito Previdenciário Jane Berwanger disse que não há desculpa para a falta de atendimento no INSS depois de tanto tempo com as agências fechadas: “É realmente um descaso, um desrespeito com essas pessoas, com essa enorme dificuldade. Foram pelo menos cinco vezes que o INSS adiou a abertura das agências com a promessa de que quando abrisse estaria tudo ok. E, de repente, no dia não estava tudo certo."

Ontem a reportagem BLOG NEY VITAL foi conferir o atendimento da Agência do INSS em Juazeiro, Bahia e flagrou a insatisfação e em alguns casos o 'desespero" de trabalhadores que precisam de péricias médicas, e ou consolidar os documentos para aposentadoria e outros serviços para receber salário.

atendimento em Juazeiro só acontece de forma remota e por meio de agendamento. Prevista a reabertura gradual das agências da Previdência Social e o retorno das atividades presenciais do Instituto Nacional do Seguro Social o que se assiste em Juazeiro é o sentimento de frustração e revolta.

Para agendar horário, é necessário acessar Meu INSS (gov.br/meuinss e aplicativo) ou ligar para o telefone 135.

Em todo o Brasil há mais de 750 mil pedidos aguardando perícia, metade deles para a concessão do benefício de prestação continuada, o BPC. Há ainda mais de 900 mil pedidos parados por falta de alguma informação ou documento dos segurados.

Enquanto o serviço não volta ao normal, o Jornal Nacional mostrou ontem que segurados como Janaína da Silva, que precisa reagendar a perícia médica para renovar o benefício, enfrentam a lentidão do telefone 135 e do aplicativo Meu INSS. O governo alega alta procura e diz que o serviço deve se normalizar nos próximos dias.

“Só por agendamento. Mas você entra no Meu INSS e não agenda. Não tem nada com o INSS. Nada. Me mandou agora ligar pra um outro número. 135 também não funciona. Está ocupado 24 horas. Eu ligo de madrugada e está ocupado. Nem trabalha, nem recebe. Como que fica aqui, como que fica a situação da gente?”, questiona Janaína.

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A VERSATILIDADE POÉTICA NA VOZ DE LUIZ GONZAGA PARA ALÉM DO NORDESTE, AMOR E DO SOCIAL

A obra do cantor, compositor e sanfoneiro Luiz Gonzaga já influenciou diretamente três gerações de músicos brasileiros que o colocaram na titularidade de Rei do Baião. Adjetivos à parte, Luiz Gonzaga colocou o Nordeste no cenário principal da MPB moderna e figurou no panteão da cultura brasileira ao lado de Noel Rosa e Tom Jobim.  Gonzaga ganhou novos aliados que regravaram suas canções e homenagens diversas que perpassam pelo seu nascimento a 13 de dezembro como também o aniversário de sua morte em agosto de 1989.

Constantemente, estudado por pesquisadores de música, já foi tema de dissertações e teses acadêmicas inclusive fora do Nordeste. A dimensão da figura do artista atravessa particularidades que vão além da música, da poesia  e dos meios de comunicação. Gonzaga entrou em cena quando o rádio era o veículo do momento, no qual todo artista para ganhar fama e fãs tinha de passar por seus auditórios e mostrar sua arte ao vivo. Fora o rádio, os jornais e revistas, bem antes da TV, davam o tom as estrelas da música. E no rádio ele apareceu para o mundo. Fez programas de auditório e, através dos discos de 78 Rotações e do LP, fez suas canções chegar aos ouvidos de milhares de nordestinos e gente de outras regiões que antes  torciam o nariz para sua arte.

"Lua" foi um apelido ampliado pelo ator Paulo Gracindo(1911-1995) na Rádio Nacional. O cantador e sanfoneiro de Exu reinou em muitos outros territórios, os quais desbravou pessoalmente, ultrapassando as fronteiras, instituindo a língua oficial de cada região e suas manifestações.  Em sua canções, o filho de Januário foi versátil  para além das polifonias criativas que dão suporte a arte de cantar. Falou do amor não correspondido, de traições e de romances que extravasam nas telenovelas. Descreveu as amarguras da seca e as epopéias dos sertanejos. Falou do canto dos pássaros antes e depois das invernadas, das cheias que provocaram destruição em pleno sertão e da saga dos retirantes para os grandes centros.

Gonzaga cantou através dos versos de vários parceiros sobre a territorialidade e as pessoas da Paraíba, Bahia, Ceará, Alagoas, Maranhão e Pernambuco. Cada canção com uma pegada diferente e inovadora. Ressaltou a força de seu povo, suas manifestações culturais e sua culinária principalmente nesse período de festas juninas em que os banquetes vão  do milho cozido ou assado à canjica, pamonha, carne de charque ou de sol. Da cachaça ao quentão.

O sanfoneiro falou de religião sem fanatismo, mas com uma certa poética que percebia desde a infância nas novenas por entre as rezadeiras do Sertão. Cantou com maestria a Ave Maria Sertaneja, onde mais uma vez enfatiza a fé e sofrimento de seu povo:  "Quando batem as seis horas/ De joelhos sobre o chão/ O sertanejo reza a sua oração/ Ave Maria/ Mãe de Deus Jesus/ Nos dê força e coragem/Pra carregar a nossa cruz". O músico católico, por força e educação religiosa dos pais, declarou sua fé no Padre Cícero do Juazeiro, abençoado pelo Papa João Paulo II, com quem teve um encontro que lhe marcou a carreira.  Declamou poesia dos cantadores e cordelistas do Nordeste.

Politizado e antenado sobre as questões do Nordeste, em meio as canções mandou recados aos políticos pedindo barragens para seu povo. O amor esteve presente nas letras pelos vários pontos de vista: saudade, banzo, paixões não correspondidas e  traições.  Lampião, Antônio Conselheiro  e os coroneis do Sertão também entraram nas crônicas das canções. O meio ambiente soou como preocupação em vários momentos. Até as guerras travadas no Sertão foram pontuadas em suas denúncias ( como a briga das famílias Alencar e Saraiva), ocorrida na década de 1970 na sua terra natal que fez o filho ilustre de Exu pedir intervenção ao governo do Estado.

O vaqueiro sempre foi um personagem real lembrado em seu cancioneiro. Um dos fatos mais marcantes envolvendo esse profissional da caatinga nordestina, foi o assassinato de seu primo Raimundo Jacó - ocorrido entre as cidades de Serrita e Exu, em Pernambuco, o que fez Gonzaga compor para os versos de Nelson Barbalho um grito por justiça e reconhecimento: "Bom vaqueiro Nordestino morre sem deixar tostão e o seu nome é esquecido nas quebradas do sertão".  Desde a década de 1970, no mês de julho é celebrada a tradicional Missa do Vaqueiro no Sítio Lajes, com festa e forró que duram três dias.

Ainda nem se falava em canção de protesto que ganhou fôlego durante e depois da era dos festivais do final dos anos 1960, Luiz Gonzaga já fazia seus protestos. Foram muitas letras que denunciavam as armadilhas sociais do país. Vale observar parte dos versos de Vozes da Seca, que compôs com Zé Dantas:  "Seu doutô os nordestino têm muita gratidão/ Pelo auxílio dos sulistas nessa seca do sertão/ Mas doutô uma esmola a um homem que é são/ Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão/ É por isso que pedimos proteção a vosmicê/ Home por nós excluído para as rédeas do poder/ Pois doutô dos vinte estados, temos oito sem chover/ Veja bem, quase a metade do Brasil tá sem comer(...)".

A música se traduz numa mistura de discurso político e manifesto. Uma forma poética de denunciar o descaso e a omissão dos governantes no que se refere ao combate à seca. Mais de meio século depois, “Vozes da Seca” continua sendo uma “tapa de luva” na classe política brasileira, principalmente a nordestina.

O jornalista e crítico de música Luiz Antônio Giron escreveu certa vez : "mestre" não é  só aquele que faz a história perder-se de si mesma", aquele que reinventa o passado. Com seu jeitão simpático e carregado de humor (que nunca o abandonou), fruto de uma coerência difícil  de ser encontrada em artistas de seu porte, mais de uma vez  declarou: "Não sou modesto não. Eu não invento só o baião, mas também o forró, as marchinhas juninas, as coisas que Moraes Moreira canta. Tudo isso se chama arrasta-pé, tudo isso tem Luiz Gonzaga que não dá para calcular (Caderno 2, o Estado de São Paulo, 1989).

Em uma de suas últimas entrevistas da década de 1980, ainda em atividade fazendo shows pelo país Gonzagão declarou:  "Não é preciso que a gente fale em miséria, em morrer de fome. Eu sempre tive o cuidado de evitar essas coisas. É preciso que a gente fale do povo exaltando o seu espírito, contando como ele vive nas horas de lazer, nas festas, nas alegrias e nas tristezas. Quando faço um protesto, chamo a atenção das autoridades para os problemas, para o descaso do poder público, mas quando falo do povo nordestino não posso deixar de dizer que ele é alegre, espirituoso, brincalhão. Eu sempre procurei exaltar o matuto, o caboclo nordestino, pelo seu lado heróico. Nunca usei a miséria desvinculada da alegria".

*Coluna Do Texto ao Texto (Letras e sons) por Emanuel Andrade, jornalista, professor do curso de Jornalismo em Multimeios e Doutorando em Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP). Trabalhou como Repórter no Jornal do Comércio e foi pioneiro no jornalismo cultural na região, ao assinar a coluna de Literatura e Música  para o Gazzeta do São Francisco na década de 1990 e para rádios do Vale do São Francisco. 

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AS CRÔNICAS RADIOFÔNICAS E A MPB NO CAMINHO DE DOM HELDER

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De abril de 1974 a abril de 1983, na Rádio Olinda, emissora da rede católica, o arcebispo Dom Helder Câmara bateu ponto todos os dias da semana, exceto aos domingos, para dialogar com seus ouvintes assíduos do programa  "Um olhar sobre a cidade". Comedido, diante dos microfones, não chegou a externar todas as suas opiniões, temendo que este único espaço midiático que lhe restava também  fosse confiscado pelos censores. Ainda assim,  havia rigorosa censura do SNI e do Dops, que em vários momentos, após o programa, requisitavam cópias em fita cassete das edições para avaliar o conteúdo, ameaçando fechar a emissora, caso não se cumprissem as ordens expressas.

A cada edição, o arcebispo - no papel de comunicador- abria o programa com uma crônica. Sua voz mansa começava a ganhar  repercussão no programa que ia ao ar durante as manhãs, dando seu bom dia com o bordão "Meus queridos amigos". Ao longo dos nove anos ininterruptos de programa, foram 2.549 crônicas produzidas e lidas no ar, a maioria, com temáticas voltadas para injustiças sociais, política, religião, sentimentos e reflexões. Além de servir de material  para a memória do rádio, as crônicas revelam um Dom Helder familiarizado com os fatos da época por meio do noticiário e com a MPB politizada.

Ao longo dos programas, o religioso também abordou temáticas como arte sacra, natureza,  ecologia, poesia, tecnologias, infância e juventude. Composições clássicas da MPB, deram o mote para algumas das crônicas. Ele não  só tocou, como leu parte dos versos e teceu comentários fazendo analogia à realidade das pessoas no cotidiano, sem deixar de exprimir  referências sobre política, injustiças sociais e até mesmo observações poéticas e sentimentais.

ELIS REGINA: Apaixonado por música clássica e brasileira autêntica, Helder tinha bom gosto. Apreciava os compositores e intérpretes da geração que eclodiu nos festivais de música do final dos anos 60, a exemplo de Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Geraldo Vandré, Luiz Gonzaga, além de outros artistas que surgiram nas décadas  seguintes como Zé Geraldo e Osvaldo Montenegro que no esboço de sua arte, também lapidavam o discurso de contestação ao sistema e os problemas sociais. "Se eu perder contato com os artistas, não serei eu", costumava dizer.

Uma das canções emblemáticas dos anos 70 que Helder levou para refletir na intertextualidade do programa foi Maria, Maria (Milton Nascimento/Fernando Brant),  na crônica  "É preciso ter raça". Após os versos finais,  lembrou o Papa João Paulo II quando visitou o Recife, na década de 80: "Quando  João de Deus esteve aqui olhando nossa gente sofrida, disse: sua gente tem pouca ideologia na cabeça, mas tem muita fé no coração! Ter fé e nos transmitir coragem, esperança. e alegria de viver.

crônica Quem não sabe dar,  dialogou com a música "Fica Mal com Deus", de autoria do compositor paraibano Geraldo Vandré, um dos artistas perseguidos pelo regime militar que chegou a ser torturado e exilado após o AI-5. "Os poetas verdadeiros, os autênticos criadores de canção, acabam nos dando a impressão de que os poemas que eles criam e as canções que ele nos ensinam a cantar, acabam sendo um bocado nosso".

Ao final da leitura, mandou um recado no ar para o compositor:  "Geraldo, Deus gosta de quem sabe dar. Quem não sabe se tem desejo sincero de saber dar, esteja certo da ajuda de Deus. Ele chega a perfeição de ensinar a dar do modo belíssimo do ensino de Cristo: dar sem que a mão esquerda saiba o que faz a direita. Fica mal comigo quem não sabe amar? Sei que é tão infeliz quem não sabe amar, que longe de eu ficar mal com quem não sabe amar, entra de cheio nas minhas preces: que Deus que é amor, faça com que todas e todos aprendam a amar"

Na mesma época embalou uma crônica com "Agonia" de Oswaldo Montenegro. "Repare-se de início que o título já é sugestivo: Agonia". E leu os versos da canção.  "A grande agonia é ir morrendo um pouco a cada dia, a grande agonia é mesmo  fazendo de conta  que é festa, dançando e cantando, mesmo tentando contagiar diversos corações com a aparente euforia,  a amargura e o tempo vão deixando a alma vazia. A grande agonia é que mesmo anunciando sem que se perceba, a gente se encontra pra outra folia, é folia para esconder uma invencível agonia".

MEUS QUERIDOS AMIGOS: Chico Buarque foi um dos artistas que despertou o interesse do religioso por suas canções já no final dos anos 60. As canções líricas e de protesto do artista e o engajamento do arcebispo em defesa dos Direito Humanos,  aproximou os dois numa amizade que fez Buarque visitar o religioso em várias de suas turné pelo Nordeste, quando passava por Recife. Em um dos programas de rádio de abril de 1982,  Helder pescou do fundo do baú, a canção Roda Viva, classificada em terceiro lugar no III Festival de Música Popular Brasileira, ocorrido entre setembro e outubro do ano de 1967.

Na crônica, mostrou-se na intimidade ao dialogar com o cantor: "Querido Chico, em tua Roda Viva, que a gente não consegue esquecer, levanta no meio da alta poesia o problema grave e dificílimo do destino", como sugere os versos da canção: Tem dias que a gente se sente/Como quem partiu ou morreu/ A gente estancou de repente/Ou foi o mundo então que cresceu/A gente quer ter voz ativa/No nosso destino mandar(...)./

Diante da expressividade política de Roda Viva,  ele fez o desfecho  observando que "na casa do Pai não há rotina. A gente vê, ouve, vive tudo pela primeira vez".  Segundo a jornalista Tereza  Rozowykiwat,  que organizou o livro  Meus queridos amigos -  As Crônicas de Dom Helder, "havia crônicas que funcionaram como conselhos aos ouvintes quanto a situações do dia a dia, além da análise de sentimentos que podiam  engrandecer ou amesquinhar os indivíduos, bem como ele expressava seu jeito de ser, seus sonhos e sua interpretação da realidade e da natureza".

*Coluna Do Texto ao Texto (Letras e sons) por Emanuel Andrade, jornalista, professor do curso de Jornalismo em Multimeios e Doutor em Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP). Trabalhou como Repórter no Jornal do Comércio e foi pioneiro no jornalismo cultural na região, ao assinar a coluna de Literatura e Música  para o Gazzeta do São Francisco na década de 1990 e para rádios do Vale do São Francisco. 

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